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Há uma inércia muito grande dos
políticos e dos agentes turísticos locais.
Não percebo como é que Monte
Real, cujo turismo é bastante
prejudicado pelo problema, nunca
tentou uma aproximação à comissão.
Só iria tirar dividendos se se
juntasse a nós nesta pressão. Falo
de Monte Real, mas também posso
incluir Marinha Grande e Vieira
de Leiria. Vamos tentar trazer para
a nossa causa outras forças da sociedade,
nomeadamente do turismo.
As praias da Vieira e de São Pedro
de Moel e aquelas que ficam
entre São Pedro e Nazaré sofrem
com as descargas. Gosto particularmente
da Vieira, onde passei
muitas férias, mas, pelo conhecimento
que tenho do problema,
não me atrevo a molhar os pés naquela
praia. Já houve situações
em que as descargas violentas na
ribeira tiveram efeitos visíveis na
praia, mas faltou coragem às entidades
para a interditar a banhos. Já
houve análises à água da ribeira
com valores perigosos, comunica-
dos à câmara, que os ignorou.
Quem é o principal responsável
pelo arrastar do problema?
Sem dúvida, o poder político, quer
o Governo quer os sucessivos presidentes
de câmara. Uma posição
de força da câmara obrigaria as entidades
policiais a uma actuação
diferente. A autarquia devia também
fazer uma pressão maior junto
do poder central. Por outro
lado, os ministros e os secretários
de Estado não podem andar sucessivamente
a atribuir responsabilidades
aos anteriores. Se o
processo está assim tão complicado,
que se comece do zero. O arrastar
do problema deve-se também
à incompetência das entidades
envolvidas, com sucessivos falhanços.
Que interesses estão por detrás
dos sucessivos entraves criados
ao processo de despoluição?
Os vários organismos envolvidos
nesta questão (Ambilis, Recilis,
Associação de Suinicultores e produtores
de carne e de rações) es-
tão todos interligados. Há pessoas
com responsabilidades nos
vários sectores, o que é prejudicial
ao processo. Criou-se um circulo
fechado, que vai empurrando as
situações de um lado ou para o outro,
dispersando as responsabilidades.
É preciso mudar os protagonistas
e que apareça gente com
novas ideias e mentalidades. Caso
contrário, os actuais 'actores' do
sector vão tentar arrastar o processo
o tempo que for possível.
A ministra do Ambiente, que foi
deputada eleita por Leiria, tem
afirmado que há a “intenção
clara” da tutela em resolver de
vez o problema dos efluentes
suinícolas. Acredita nisso?
Não acredito, porque essas promessas
já foram feitas muitas vezes.
No passado houve anúncio de
medidas, de projectos e de parcerias
que não deram em nada.
Gastou-se muito dinheiro em estudos
e projectos sem quaisquer
resultados. Desapareceu dinheiro.
Este era um caso de polícia, mas,
Jornal de Leiria 24 de Janeiro de 2013 11
RICARDO GRAÇA
provavelmente, aconteceria como
noutros casos em que as investigações
não chegam a conclusão
nenhuma. A ETES prevista custará
cerca de 17 milhões de euros e
a ministra anunciou a disponibilidade
de fundos comunitários
para suportar dez milhões. O restante
tem de ser, obrigatoriamente,
suportado pelos suinicultores.
É o único sector que conheço
que, apesar de não cumprir
com os requisitos, continua a funcionar.
Em muitos casos, as suiniculturafuncionam
em instalações
ilegais, sem licenciamento
nem condições físicas para os animais
nem de tratamento dos
efluentes.
Está desiludido com a ministra do
Ambiente?
Cheguei a acreditar que a ministra,
conhecedora do problema,
pudesse contribuir para a sua resolução.
Mas, está a ser uma decepção,
deixando arrastar a situação
e anunciando medidas que
não irão resultar.
Tempos de juventude
“Fui felicíssimo
na ribeira”
❚ Acredita que vai voltar a pescar na
Ribeira dos Milagres como nos seus
tempos de juventude?
Nunca devemos dizer nunca. Em Viseu,
existe um rio que, há cerca de 15
anos, estava completamente poluído
e sem vida e que hoje tem trutas. Tenho
poucas esperanças que essa regeneração
venha a acontecer na Ribeira
dos Milagres. O meu filho, que tem 12
anos, às vezes pergunta-me se um dia
poderá tomar banho na ribeira como
eu fiz. Uma das coisas que mais prazer
me dava seria que ele pudesse disfrutar
da ribeira como eu e os meus amigos
disfrutámos quando tínhamos a
sua idade. Fui felicíssimo na ribeira.
Pescávamos, tomávamos banho e fazíamos
petiscos com os peixes que apanhávamos.
Há cerca de 40 ou 45 anos
bebi água da ribeira. Gostava que o
meu filho um dia pudesse fazer o
mesmo, mas começo ficar descrente.
Face às posições que tem tomado alguma
vez temeu pela sua segurança?
O meu envolvimento nesta luta têm-
-me trazido algumas inimizades e já
recebi chamadas telefónicas, que
chamo de 'manhosas'. Deixei de atender
chamadas de números privados.
Já disse publicamente que, se alguma
coisa de anormal me acontecer, deverão
começar as investigações por algumas
empresas relacionadas com a
questão da poluição da ribeira. Posso
perceber que, em desespero de
causa, algumas pessoas me atribuam
responsabilidades por coisas menos
boas que lhes aconteçam. Mas, se isso
acontece, é porque são incumpridores.
Espero que respeitem a minha família.
Se alguma coisa de mal lhe
acontecer levarei até ao último minuto
da minha vida para identificar
e responsabilizar os culpados.
Em destaque
Se alguma coisa
de anormal me
acontecer,
deverão começar
as investigações
por algumas
empresas
relacionadas
com a questão
da poluição da
ribeira