Cristine Bonfim - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - Fiocruz
Cristine Bonfim - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - Fiocruz
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Fundação Oswaldo Cruz<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />
Curso <strong>de</strong> Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública<br />
Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública<br />
<strong>Cristine</strong> Vieira do <strong>Bonfim</strong><br />
FILARIOSE BANCROFTIANA: ANÁLISE ESPACIAL<br />
DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE<br />
JABOATÃO DOS GUARARAPES<br />
Recife<br />
2009<br />
2009
CRISTINE VIEIRA DO BONFIM<br />
FILARIOSE BANCROFTIANA: ANÁLISE ESPACIAL<br />
DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE<br />
JABOATÃO DOS GUARARAPES<br />
Orientadores<br />
Profª. Dra. Zulma Me<strong>de</strong>iros<br />
Prof. Dr. José Luiz Portugal<br />
Recife<br />
2009<br />
Tese apresentada ao Curso <strong>de</strong><br />
Doutorado em Saú<strong>de</strong> Publica do<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />
<strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz<br />
para obtenção do grau <strong>de</strong> doutor em<br />
Ciências.
Catalogação na fonte: Biblioteca do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />
B713f<br />
<strong>Bonfim</strong>, <strong>Cristine</strong> Vieira do.<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais no município <strong>de</strong> Jaboatão dos<br />
Guararapes / <strong>Cristine</strong> Vieira do <strong>Bonfim</strong>. – Recife: C. V.<br />
do <strong>Bonfim</strong>, 2009.<br />
130 f. : il., graf., mapas.<br />
Tese (Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública) — <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo<br />
Cruz, 2009.<br />
Orientadores: Zulma Me<strong>de</strong>iros, José Luiz Portugal.<br />
1. Filariose. 2. Desigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. 3. Indicador <strong>de</strong><br />
risco. 4. Áreas <strong>de</strong> pobreza. 5. Distribuição espacial. I.<br />
Me<strong>de</strong>iros, Zulma Maria <strong>de</strong>. II.Portugal, José Luiz. III.<br />
Título.<br />
CDU 616.995.132.
CRISTINE VIEIRA DO BONFIM<br />
FILARIOSE BANCROFTIANA: ANÁLISE ESPACIAL<br />
DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE<br />
JABOATÃO DOS GUARARAPES<br />
Aprovada em 01/06/2009<br />
BANCA EXAMINADORA<br />
Professora Dra. Mônica Maria Ozório<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />
Professor Dr. Demócrito <strong>de</strong> Barros Miranda Filho<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco<br />
Professora Dra. Zulma Me<strong>de</strong>iros<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />
Professora Dra. Maria Cynthia Braga<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />
Professora Dra. Idê Gomes Dantas Gurgel<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />
Suplentes<br />
Tese apresentada ao Curso <strong>de</strong><br />
Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública do<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />
<strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo<br />
Cruz para obtenção do grau <strong>de</strong><br />
doutor em Ciências.<br />
Professora Dra. Maria José Bezerra Guimarães<br />
Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco<br />
Professor Dr. Fábio Lopes <strong>de</strong> Melo<br />
<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>
À Dinilson, pela forma especial com que tem me ajudado a contruir a vida.<br />
À minha avó, Severina, pelo carinho com que sempre esteve ao meu lado.<br />
À H. e R., meus anjos-da-guarda.
À Fábio José Delgado Lessa (In memorian), pela<br />
competência, pela serieda<strong>de</strong>, pela <strong>de</strong>dicação e<br />
compromisso com a produção científica/acadêmica e<br />
pela disponibilida<strong>de</strong> em compartilhar seus conhecimentos<br />
conosco, exemplo a ser seguido durante toda minha<br />
carreira profissional.
AGRADECIMENTOS<br />
À minha orientadora e amiga, Dra. Zulma Me<strong>de</strong>iros por todo apoio, <strong>de</strong>dicação<br />
e incentivo para a realização <strong>de</strong>sse trabalho.<br />
À Dinilson Pedroza Júnior, que sempre motivou meu crescimento profissional<br />
e pelas sensatas sugestões feitas ao trabalho.<br />
À Maria José Evangelista Netto e Ana Maria Aguiar-Santos, pelas leituras e<br />
sugestões e, sobretudo, pelo estímulo para realizar o trabalho.<br />
estudo.<br />
Ao Dr. José Luiz Portugal, pela valiosa contribuição para a realização <strong>de</strong>sse<br />
Ao João Quaresma, pela importante participação no trabalho <strong>de</strong> campo e pela<br />
incansável e criteriosa busca dos casos positivos na etapa do georreferenciamento.<br />
À Conceição Oliveira, Ayla Alves e José Costa, pela contribuição no inquérito<br />
epi<strong>de</strong>miológico.<br />
À Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, pelo apoio logístico<br />
durante a execução do inquérito epi<strong>de</strong>miológico.<br />
Aos agentes da Filariose da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos<br />
Guararapes, pelo <strong>de</strong>dicado trabalho durante a execução do inquérito epi<strong>de</strong>miológico.<br />
Ao Departamento <strong>de</strong> Parasitologia do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />
<strong>Magalhães</strong>, pela qualida<strong>de</strong> técnica e pelo apoio oferecido durante a realização do<br />
curso.<br />
À Fundação Joaquim Nabuco, em especial à Dra. Isolda Belo da Fonte, pela<br />
compreensão e incentivo necessários à conclusão do trabalho.<br />
Aos amigos da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Recife, em especial, ao Distrito<br />
Sanitário IV, pelo estímulo e encorajamento para realização do curso.<br />
Ao corpo docente e funcional do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, pela<br />
atenção e proficiência no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas atribuições.<br />
À Dra. Cynthia Braga, que, com toda atenção, dispôs <strong>de</strong> seu tempo para ser<br />
parecerista do estudo.<br />
no estudo.<br />
À população do município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, por sua participação<br />
Aos amigos do curso <strong>de</strong> Doutorado: Betise, Carmelita, Débora, Daniela,<br />
Denise, Karina, Gisele, Henrique, Jória, Milena, Sidney e Tereza, pela relação <strong>de</strong><br />
companheirismo construída ao longo <strong>de</strong>sses quatro anos.
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização<br />
<strong>de</strong>ste trabalho.
Favela. João Werner. Dezembro <strong>de</strong> 2002.<br />
O eesspaçço <strong>de</strong>epeen<strong>de</strong>e dass rreel laççõeess ssocci iai iss parra<br />
cconffeerri irr-l lhee a ssua eexxi issttêêncci ia ssocci ial l. .<br />
((Mi il ltton Santtoss))<br />
See a ssaú<strong>de</strong>e públ li icca <strong>de</strong>esseejja prreesseerrvvarr ee prromovveerr<br />
a vvi ida,, <strong>de</strong>evvee ccomprreeeen<strong>de</strong>err o papeel l do tteerrrri ittórri io<br />
ccomo cconfforrmaçção <strong>de</strong>e ambi ieentteess quee prrotteegeem<br />
ou ameeaççam a vvi ida. .<br />
((Paul lo Chagasstteel ll leess Sabrrozza))
BONFIM, <strong>Cristine</strong> Vieira do. Filariose bancroftiana: análise espacial das<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes. 2009. Tese<br />
(Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública) – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação<br />
Oswaldo Cruz, Recife, 2009.<br />
RESUMO<br />
A filariose linfática é uma das principais doenças tropicais negligenciadas. Trata-se<br />
<strong>de</strong> uma doença intimamente associada à pobreza, ao saneamento ina<strong>de</strong>quado e ao<br />
sub<strong>de</strong>senvolvimento. No Brasil, sua transmissão está limitada à Região<br />
Metropolitana do Recife, estado <strong>de</strong> Pernambuco. A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas<br />
estratégias <strong>de</strong> controle fez com que a filariose fosse consi<strong>de</strong>rada como uma doença<br />
infecciosa potencialmente erradicável. O objetivo <strong>de</strong>sta tese é analisar a relação<br />
entre a prevalência da filariose bancroftiana e os <strong>de</strong>terminantes socioambientais em<br />
espaços intra-urbanos no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes - PE, Brasil. Para<br />
tanto, foi realizada, inicialmente, uma revisão bibliográfica sobre a categoria espaço,<br />
ressaltando as implicações da organização social do espaço para a saú<strong>de</strong> da<br />
população e <strong>de</strong> sua aplicação no cotidiano dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Essa<br />
compreensão <strong>de</strong> espaço irá embasar as <strong>de</strong>mais análises feitas no trabalho. No<br />
estudo ecológico, utilizaram-se variáveis socioeconômicas e ambientais obtidas do<br />
Censo Demográfico 2000 e <strong>de</strong> um inquérito parasitológico realizado para avaliar a<br />
situação epi<strong>de</strong>miológica da filariose naquele município. Foram construídos<br />
indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida, formulados por dois métodos: formação <strong>de</strong> escores<br />
(indicador <strong>de</strong> risco socioambiental) e análise fatorial por componentes principais<br />
(indicador <strong>de</strong> carência social). Para i<strong>de</strong>ntificar os aglomerados espaciais <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />
microfilaremia, foi empregado o estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel. Os resultados do<br />
inquérito parasitológico caracterizam a en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> da filariose no município, com<br />
o encontro <strong>de</strong> casos em todas as faixas etárias, especialmente entre os mais jovens;<br />
manifestações clínicas e taxas <strong>de</strong> prevalência consi<strong>de</strong>radas altas. Os indicadores<br />
confirmaram a associação entre condições sociais e ambientais precárias e<br />
elevadas taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial. O uso da análise espacial<br />
(estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel) permitiu localizar com precisão os casos <strong>de</strong><br />
filariose e esclarecer que a distribuição não ocorre <strong>de</strong> forma aleatória no espaço<br />
urbano do município. Há uma concentração <strong>de</strong> casos nas áreas consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong><br />
alto risco pelos indicadores. Essa i<strong>de</strong>ntificação contribui para o reconhecimento <strong>de</strong><br />
áreas <strong>de</strong> transmissão e, conseqüentemente, para o planejamento, o monitoramento<br />
e vigilância das ações <strong>de</strong> eliminação da filariose linfática.<br />
Palavras chaves: Filariose. Desigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. Indicador <strong>de</strong> risco. Áreas <strong>de</strong><br />
pobreza. Distribuição espacial.
BONFIM, <strong>Cristine</strong> Vieira do. Bancroftian filariasis: spatial analysis of social<br />
inequalities in the municipality of Jaboatão dos Guararapes. 2009. Tese<br />
(Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública) – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação<br />
Oswaldo Cruz, Recife, 2009.<br />
ABSTRACT<br />
Lymphatic filariasis is one of the principal neglected tropical diseases. It is closely<br />
associated with poverty, ina<strong>de</strong>quate sanitation and un<strong>de</strong>r<strong>de</strong>velopment. In Brazil, its<br />
transmission is limited to the Metropolitan Region of Recife, in the State of<br />
Pernambuco. The availability of new control strategies has ma<strong>de</strong> it possible to<br />
consi<strong>de</strong>r filariasis to be a potentially eradicable infectious disease. The aim of this<br />
thesis was to analyze the relationship between the prevalence of Bancroftian<br />
filariasis and the socioenvironmental <strong>de</strong>terminants within urban spaces in the<br />
municipality of Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brazil. For this, an initial<br />
bibliographic review on spatial categories was conducted, with emphasis on the<br />
implications of the social organization of such spaces for the population’s health and<br />
their day-to-day application within healthcare services. This un<strong>de</strong>rstanding of such<br />
spaces would form the basis of the subsequent analyses performed for this study. An<br />
ecological analysis was conducted using socioeconomic and environmental variables<br />
obtained from the 2000 <strong>de</strong>mographic census and from a parasitological survey that<br />
was carried out to assess the epi<strong>de</strong>miological situation of filariasis in that<br />
municipality. Living Indicators of living conditions were constructed, formulated by<br />
two methods: score formation (socioenvironmental risk indicator) and principal<br />
component factor analysis (social <strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x). To i<strong>de</strong>ntify spatial clusters of<br />
microfilaremia cases, the kernel severity estimator was used. The results from the<br />
parasitological survey characterized filariasis as en<strong>de</strong>mic in the municipality, with<br />
findings of cases in all age groups and especially among the youngest individuals,<br />
clinical manifestations and prevalence rates that were consi<strong>de</strong>red high. The<br />
indicators confirmed that there was an association between precarious<br />
socioenvironmental conditions and high prevalence rates of filarial infection. The use<br />
of spatial analysis (kernel intensity estimator) ma<strong>de</strong> it possible to precisely locate the<br />
filariasis cases and ma<strong>de</strong> it clear that their distribution within the urban space of the<br />
municipality was not random. The cases were concentrated in the areas that were<br />
consi<strong>de</strong>red to present high risk according to the indicators. I<strong>de</strong>ntifying this contributed<br />
towards recognizing transmission areas and consequently towards planning,<br />
monitoring and surveillance of actions for eliminating lymphatic filariasis.<br />
keywords: Filariasis. Health Inequalities. Risk In<strong>de</strong>x. Poverty Areas. Resi<strong>de</strong>nce<br />
Characteristics.
1 INTRODUÇÃO 12<br />
1.1 Epi<strong>de</strong>miologia e Distribuição Espacial da Filariose Linfática<br />
Bancroftiana<br />
13<br />
1.2 Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose no Brasil 21<br />
1.3 Organização espacial e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> 25<br />
1.4 Filariose Linfática e organização espacial: interação entre fatores<br />
sociais e ambientais<br />
35<br />
1.5 Justificativa 41<br />
1.6 Hipótese 42<br />
2 OBJETIVOS 43<br />
2.1 Objetivo geral 44<br />
2.2 Objetivos Específicos 44<br />
3 ARTIGOS 45<br />
3.1 Epi<strong>de</strong>miologia e geografia: dos primórdios ao geoprocessamento 46<br />
3.2 The epi<strong>de</strong>miological <strong>de</strong>limitation of lymphatic filariasis in an<br />
en<strong>de</strong>mic area of Brazil, 41 years after the first recor<strong>de</strong>d case<br />
57<br />
3.3 A socioenvironmental composite in<strong>de</strong>x as a tool for i<strong>de</strong>ntifying<br />
urban areas at risk of Lymphatic filariasis<br />
69<br />
3.4 Social <strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x and lymphatic filariasis: a tool for<br />
mapping urban areas at risk in northeastern Brazil<br />
78<br />
3.5 Comparação <strong>de</strong> ferramentas epi<strong>de</strong>miológicas para a 86<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose linfática<br />
4 DISCUSSÃO 107<br />
5 CONCLUSÃO 113<br />
REFERÊNCIAS 115<br />
ANEXO 129<br />
Anexo A – Parecer do Comitê <strong>de</strong> Ética
1 INTRODUÇÃO<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
1.1Epi<strong>de</strong>miologia e Distribuição Espacial da Filariose Linfática Bancroftiana no<br />
Mundo<br />
A filariose linfática é uma doença produzida por helmintos da classe<br />
Nematoda das espécies Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori. Desses<br />
três nematói<strong>de</strong>s, a W. bancrofti é responsável por mais <strong>de</strong> 90% dos casos <strong>de</strong><br />
infecção filarial no mundo (MICHAEL; BUNDY, 1997, MICHAEL; BUNDY;<br />
GRENFELL, 1996). Nas Américas, apenas a primeira <strong>de</strong>ssas espécies tem<br />
relevância médica (REY, 1991). Destaca-se como um importante problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
no mundo <strong>de</strong>vido aos seus aspectos clínicos, à ampla distribuição geográfica e às<br />
perdas sociais, físicas e econômicas que acarreta (OTTESEN, 2006).<br />
Apresenta um diversificado espectro <strong>de</strong> manifestações clínicas, com sinais e<br />
sintomas que variam <strong>de</strong> acordo com a resposta imunológica do hospe<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>finitivo<br />
e do estádio do verme adulto envolvido na infecção filarial (DREYER; COUTINHO;<br />
ALBUQUERQUE, 1989, DREYER; NORÕES, 1997a,b). Ocorrem apresentações<br />
crônicas (hidrocele, linfe<strong>de</strong>ma, quilúria e mais raramente eosinofilia pulmonar<br />
tropical - EPT), agudas (linfa<strong>de</strong>nite, linfangite, <strong>de</strong>ntre outras) e assintomáticas<br />
(ADDIS; BRADY, 2007). Estima-se que <strong>de</strong> 15 a 20% dos indivíduos infectados<br />
possam evoluir para doença filarial (DREYER; NORÕES, 1997a).<br />
Reconhecida como a principal causa <strong>de</strong> sofrimento clínico e incapacida<strong>de</strong> na<br />
população mundial, a filariose representa uma pesada carga social e econômica<br />
tanto para os indivíduos como para a socieda<strong>de</strong> (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE<br />
SAÚDE, 2007). A doença, em sua forma crônica, é incapacitante e estigmatizante,<br />
acarretando contun<strong>de</strong>ntes conseqüências sociais, econômicas e psicológicas, tanto<br />
para os indivíduos afetados quanto para as populações, <strong>de</strong> uma maneira geral<br />
(ADDIS; BRADY, 2007, ESTAMBALE et al., 1994, GYAPONG; MAGNSSEN; BINKA,<br />
1994, MOHAMMED et al., 2006, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1994; 2004<br />
RAMAIAH et al., 2000, SHERCHAND et al. 2003). Estimam-se em um bilhão <strong>de</strong><br />
13
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
dólares anuais os prejuízos na produtivida<strong>de</strong> das famílias afetadas pela doença<br />
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).<br />
Segundo a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), 40 milhões <strong>de</strong> pessoas no<br />
mundo apresentam formas crônicas da doença. Quase 25 milhões <strong>de</strong> homens<br />
sofrem <strong>de</strong> patologia genital (mais comumente hidrocele); aproximadamente 15<br />
milhões <strong>de</strong> pessoas (a maioria <strong>de</strong>las mulheres) têm linfe<strong>de</strong>ma ou elefantíase nos<br />
membros inferiores (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2007).<br />
A transmissão da filariose apresenta como características marcantes do seu<br />
ciclo evolutivo a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um estádio <strong>de</strong> maturação realizado em um<br />
inseto artrópo<strong>de</strong> hematófago (hospe<strong>de</strong>iro intermediário) e também um período <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento com ativida<strong>de</strong> reprodutora no hospe<strong>de</strong>iro vertebrado (presença <strong>de</strong><br />
vermes adultos nos vasos linfáticos e microfilárias na circulação sangüínea).<br />
Tratando-se da W. bancrofti, o único hospe<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>finitivo é o homem (DREYER,<br />
1994, NAPIER, 1944, REY, 1991).<br />
Nas regiões on<strong>de</strong> o Culex quinquefasciatus é o principal transmissor, as<br />
microfilárias tem periodicida<strong>de</strong> noturna. Tal fato po<strong>de</strong> estar relacionado com o<br />
horário <strong>de</strong> hematofagia do vetor (EDESON; HAWKING; SYMES, 1957, HAWKING;<br />
THURSTON, 1951, NAPIER, 1944). Especificamente na Região Metropolitana do<br />
Recife (RMR), o C. quinquefasciatus é o vetor implicado na transmissão da<br />
parasitose (RACHOU, 1956) e a periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microfilaremia ocorre entre<br />
23h00min até 01h00min (DREYER; MEDEIROS, 1990, RACHOU, 1956). Este inseto<br />
constitui-se como o principal vetor da filariose bancroftiana em áreas urbanas ou<br />
semi-urbanas das regiões tropicais, respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong> 50% da transmissão<br />
mundial (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1992).<br />
O C. quinquefasciatus, principal transmissor da filariose bancroftiana, é um<br />
mosquito perfeitamente adaptado às áreas urbanas e semi-urbanas, cujo habitat<br />
preferencial são as áreas on<strong>de</strong> exista acúmulo <strong>de</strong> água com alto teor <strong>de</strong> matéria<br />
orgânica, isto é, locais em que as condições sanitárias sejam precárias e o<br />
saneamento ambiental ina<strong>de</strong>quado (ALBUQUERQUE, 1993, MOTT et al., 1990,<br />
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1988; 1992; 1994).<br />
O crescimento urbano rápido e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado que vem ocorrendo na maioria<br />
dos países, principalmente nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos, provocou fortes impactos<br />
14
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
nas condições ambientais e sociais das cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido à migração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
segmentos populacionais das áreas rurais para as urbanas, os quais fixaram<br />
residência nas periferias, em áreas insalubres <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> infra-<br />
estrutura a<strong>de</strong>quado (RILEY et al., 2007). Nesse contexto, são produzidas as<br />
condições propícias para a expansão e a persistência <strong>de</strong> diversas en<strong>de</strong>mias, em<br />
especial as doenças infecciosas e parasitárias (DIPs) (SABROZA; KAWA; CAMPOS,<br />
1999).<br />
Em 1993, a Força Tarefa Internacional para Erradicação <strong>de</strong> Doenças elegeu a<br />
filariose linfática como uma das seis doenças infecciosas erradicáveis ou<br />
potencialmente erradicáveis (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND<br />
PREVENTION, 1993). Em 1997, a Assembléia da OMS, consi<strong>de</strong>rando a<br />
disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas técnicas <strong>de</strong> diagnóstico e a estratégia <strong>de</strong> tratamento em<br />
massa adotou a resolução 50.29, a qual iniciou um programa global para a<br />
eliminação da filariose como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública até o ano <strong>de</strong> 2020<br />
(OTTESEN et al., 1997).<br />
Das (2005) afirma, que embora, no início esta pareça ser uma tarefa<br />
intimidante, existem razões <strong>de</strong> otimismo, que incluem: (a) plausibilida<strong>de</strong> biológica,<br />
(b) prece<strong>de</strong>ntes históricos <strong>de</strong> eliminação, (c) avanços tecnológicos em diagnóstico e<br />
drogas antifilarial eficazes, e (d) vonta<strong>de</strong> política e compromisso.<br />
A OMS <strong>de</strong>senvolveu uma estratégia global baseada em dois componentes<br />
básicos: o primeiro consiste em interromper a transmissão da infecção e o segundo,<br />
em controlar a morbida<strong>de</strong> (MOLYNEUX, 2003, MOLYNEUX; ZAGARIA, 2002,<br />
OTTESEN, 2000). O primeiro componente propõe a implementação anual <strong>de</strong><br />
medidas primárias, através do tratamento em massa <strong>de</strong> toda população <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />
risco, visando, então, reduzir a carga <strong>de</strong> infecção filarial e conseqüentemente a<br />
transmissão (OTTESEN et al. 1997). Com essa estratégia, preten<strong>de</strong>-se prevenir a<br />
ocorrência <strong>de</strong> novas infecções e novos casos da doença. O segundo componente é<br />
constituído pelas prevenções secundária ou terciária, quais sejam: medidas<br />
aplicadas às manifestações agudas e prevenção das formas crônicas entre aqueles<br />
indivíduos já afetados (ADDIS, 2005).<br />
Com os tratamentos anuais, preten<strong>de</strong>-se interromper o ciclo da transmissão<br />
entre mosquitos e seres humanos, evitando-se, assim, futuras ocorrências. Logo,<br />
interromper a transmissão é a estratégia essencial adotada pela OMS. Deve-se<br />
15
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
tratar a população total em risco por um período <strong>de</strong> tempo suficiente para assegurar<br />
que os níveis <strong>de</strong> microfilaremia no sangue permanecem abaixo daqueles<br />
necessários à manutenção da transmissão (ADDIS, 2005). Estima-se que a<br />
transmissão da filariose linfática diminua progressivamente (50%, 25%, 12%, 6% e<br />
0%), após cada um dos cinco anos <strong>de</strong> tratamento (OTTESEN et al. 2008).<br />
Hoje, admitisse que aproximadamente 1,3 bilhão <strong>de</strong> pessoas residam em<br />
áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose bancroftiana (quase 18% da população mundial). Avalia-<br />
se a infecção filarial ocorra em cerca <strong>de</strong> 10% das pessoas resi<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong><br />
risco (OTTESEN et al., 2008). Cerca <strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> pessoas já se encontram<br />
infectadas. Consi<strong>de</strong>ra-se 83 países como endêmicos, muitos dos quais estão entre<br />
os mais pobres do mundo (Figura 1) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />
A distribuição proporcional da população resi<strong>de</strong>nte em áreas endêmicas<br />
indica uma maior concentração na Região Su<strong>de</strong>ste da Ásia (65%); na África<br />
localizam-se 30%; e os 5% restante estão espalhados pelos <strong>de</strong>mais continentes,<br />
com exceção da Europa (Figura 1). Entre os países <strong>de</strong> maior en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong>,<br />
encontram-se Bangla<strong>de</strong>sh, República Democrática do Congo, Índia, Indonésia,<br />
Madagascar, Nigéria e Filipinas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />
16
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Figura 1 - Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose Linfática no mundo, 2006<br />
Fonte: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2007)<br />
Na Região Su<strong>de</strong>ste da Ásia, nove dos onze países são consi<strong>de</strong>rados<br />
endêmicos (Figura 1). Cerca <strong>de</strong> 851 milhões <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>m em áreas <strong>de</strong> risco<br />
para bancroftose. Na Índia, 450 milhões <strong>de</strong> pessoas vivem em áreas <strong>de</strong> risco; em<br />
seguida, surge Bangla<strong>de</strong>sh com 49,9 milhões distribuídos por 32 distritos. O Nepal<br />
apresenta 13,9 milhões, Sri Lanka soma 9,8 milhões, e as Ilhas Maldivas (oito das<br />
200 Ilhas são endêmicas) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004; 2006).<br />
Calcula-se que, no continente africano, 394 milhões <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>m em<br />
áreas endêmicas (representando 30% da população global sob risco); <strong>de</strong>stas, 43<br />
milhões estão infectadas, 4,6 milhões apresentam linfe<strong>de</strong>ma e seis milhões,<br />
hidrocele (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004; 2006).<br />
Os países do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal estão divididos em dois grupos: o primeiro é<br />
composto por oito países (Brunei, República Democrática Popular do Laos,<br />
Camboja, Filipinas, China, Malásia, República da Coréia e Vietnã). Neste grupo, as<br />
Filipinas se <strong>de</strong>stacam, pois, em 39 dos seus distritos, 21 milhões <strong>de</strong> pessoas,<br />
resi<strong>de</strong>m em áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose. Na China, relata-se a eliminação da filariose,<br />
após mais <strong>de</strong> 10 anos sem o aparecimento <strong>de</strong> novos casos (OTTESEN, 2006). O<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
segundo grupo é composto por 17 ilhas do Pacífico nas quais se supõe que oito<br />
milhões <strong>de</strong> pessoas habitam áreas <strong>de</strong> risco para filariose (ORGANIZAÇÃO<br />
MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />
No Mediterrâneo Oriental, três países são consi<strong>de</strong>rados endêmicos (Egito,<br />
Sudão e Iêmen), com cerca <strong>de</strong> 14 milhões <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong> risco<br />
(Figura 1) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). No Egito, há fortes<br />
evidências <strong>de</strong> que, após cinco anos <strong>de</strong> tratamento em massa com albendazol e<br />
dietilcarbamazina, a transmissão da filariose linfática tenha sido eliminada nas áreas<br />
mais endêmicas (RAMZY et al., 2006). No Sudão e no Iêmen, coexiste a<br />
transmissão simultânea da onchocerca e da bancroftose. Em Djibouti, Omã,<br />
Paquistão, Somália, e Arábia Saudita, a transmissão da filariose linfática é incerta,<br />
embora casos clínicos tenham sido relatos em quase todos esses países, excluindo-<br />
se Djibouti (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).<br />
No continente americano, estima-se que 8 milhões <strong>de</strong> pessoas vivam em<br />
áreas <strong>de</strong> risco (1% da carga global). Um total <strong>de</strong> sete países está incluído na lista <strong>de</strong><br />
endêmicos. Desses, três não apresentaram nenhum foco ativo <strong>de</strong> transmissão<br />
(Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago). Outros quatro países (Haiti, República<br />
Dominicana, Brasil e Guiana) informam a transmissão ativa (Figura 2)<br />
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). De acordo com Lammie et al.<br />
(2007), a filariose está concentrada nesses quatro países, nas áreas mais pobres; e<br />
parece ser um problema crescente nas favelas urbanas. Em adição, os programas<br />
<strong>de</strong> eliminação da filariose linfática não cobrem o total das populações em risco.<br />
O Haiti é o país <strong>de</strong> maior concentração <strong>de</strong> infecção filarial nas Américas.<br />
Estima-se que a população em risco seja <strong>de</strong> seis milhões, isto é, mais <strong>de</strong> 80% da<br />
população total daquele país e quase 70% da população total em risco nas<br />
Américas. Calcula-se em cerca <strong>de</strong> 560 mil o número <strong>de</strong> pessoas infectadas<br />
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). Em seguida, tem-se a República<br />
Dominicana, com 740 mil pessoas residindo em áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose linfática e<br />
aproximadamente 50 mil casos <strong>de</strong> infecção (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE,<br />
2006). A Guiana tem a maior proporção (630 mil) <strong>de</strong> indivíduos em risco nas<br />
Américas, o que representa 90% da população nacional, estima-se em 50 mil o<br />
número aproximado <strong>de</strong> pessoas infectadas. A situação epi<strong>de</strong>miológica da filariose<br />
no Brasil será discutida em seção posterior.<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Figura 2 - Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose Linfática nas Américas, 2006<br />
Fonte: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2007)<br />
Recente avaliação dos oito primeiros anos <strong>de</strong> operação do Programa Global<br />
<strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática (GPELF) consi<strong>de</strong>ra que o programa apresentou<br />
a mais rápida expansão, em relação à administração <strong>de</strong> medicamentos, já vista na<br />
história da saú<strong>de</strong> pública. Até o final <strong>de</strong> 2007, 1,9 bilhões <strong>de</strong> tratamentos com<br />
drogas anti-filariais (albendazol, ivermectina e dietilcarbamazina) foram fornecidos<br />
em, aproximadamente, 570 milhões <strong>de</strong> indivíduos que vivem em 48 dos 83 países<br />
endêmicos. Ressalte-se que mais <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong>sses países estão realizando<br />
tratamento em massa anualmente (Figura 3). Além disso, estima-se que 6,6 milhões<br />
<strong>de</strong> recém-nascidos tenham sido protegidos por meio do tratamento coletivo e que<br />
9,5 milhões <strong>de</strong> indivíduos previamente infectados não evoluíram para a doença<br />
filarial, isto significa seis milhões <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> hidrocele ou 3,5 milhões <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />
linfe<strong>de</strong>ma evitados (OTTESEN et al., 2008).<br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Figura 3 – Países endêmicos em Filariose Linfática com tratamento em massa, 2006<br />
Fonte: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2007)<br />
Molyneux (2009) acrescenta que o GPELF é um componente essencial do<br />
movimento global contras as doenças tropicais negligenciadas. Reconhece-se que<br />
são poucos os programas sobre os quais é possível afirmar terem atingido mais <strong>de</strong><br />
meio bilhão <strong>de</strong> pessoas por ano. Vários países (Egito, Sri Lanka, Vanuatu e<br />
Zanzibar) que iniciaram programas <strong>de</strong> eliminação em 2000 começaram uma<br />
avaliação <strong>de</strong>talhada para verificar a interrupção da transmissão em seus territórios.<br />
Outros dois países (China e Coréia do Sul) anunciaram a eliminação da filariose<br />
linfática (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2008).<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
1.2 Epi<strong>de</strong>miologia e Distribuição Espacial da Filariose Linfática Bancroftiana no<br />
Brasil<br />
No Brasil, até a década <strong>de</strong> 1950, as informações disponíveis sobre a<br />
prevalência e a distribuição espacial da filariose eram provenientes <strong>de</strong> inquéritos<br />
hemoscópicos isolados (FRANCO; LIMA, 1967). A partir da criação da Campanha<br />
contra a Filariose Linfática, pelo Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong>, foram efetuados<br />
vários inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos em 538 localida<strong>de</strong>s (1951 a 1958) (FRANCO;<br />
LIMA, 1967, RACHOU, 1957; 1960, RACHOU et al., 1956).<br />
Esses inquéritos contribuíram para i<strong>de</strong>ntificar portadores <strong>de</strong> microfilaremia em<br />
89 (16,5%) localida<strong>de</strong>s. No entanto, em apenas 11 <strong>de</strong>ssas ficou comprovada a<br />
transmissão ativa, através do encontro simultâneo <strong>de</strong> mosquitos com larvas<br />
infectadas e indivíduos parasitados. As localida<strong>de</strong>s e suas respectivas taxas <strong>de</strong><br />
prevalência foram: Manaus/AM (0,2%); Belém/PA (9,8%); São Luís/MA (0,6%);<br />
Recife/PE (6,9%); Maceió/AL (0,3%); Salvador/BA (0,4%); Castro Alves/BA (5,9%);<br />
Florianópolis/SC (1,4%); Ponta Grossa/SC (14,5%); Barra <strong>de</strong> Laguna/SC (9,4%) e<br />
Porto Alegre/RS (0,1%) (FRANCO; LIMA, 1967, RACHOU, 1957; 1960, RACHOU et<br />
al., 1956).<br />
Dentre os focos observados, <strong>de</strong>stacaram-se, em grau maior <strong>de</strong> importância<br />
médico-sanitária, os <strong>de</strong> Belém (9,8%) e Recife (6,9%), estimando-se em cerca <strong>de</strong><br />
50.000 e 80.000, respectivamente, o número <strong>de</strong> portadores da parasitose<br />
(RACHOU, 1960). Os resultados dos inquéritos suscitaram medidas <strong>de</strong> intervenção.<br />
A estratégia tradicionalmente adotada consistiu na pesquisa, no tratamento seletivo<br />
dos indivíduos infectados e no controle do vetor com inseticidas (BRAGA;<br />
ALBUQUERQUE; MORAIS, 2004, FRANCO; LIMA, 1967, MACIEL et al., 1999,<br />
MEDEIROS et al., 2003).<br />
Na década <strong>de</strong> 1980, o Ministério da Saú<strong>de</strong>, analisando os dados da<br />
Campanha <strong>de</strong> Combate à Filariose, no período <strong>de</strong> 1979 a 1984, apontou para uma<br />
redução no número <strong>de</strong> áreas que apresentavam transmissão ativa <strong>de</strong> filariose, fato<br />
confirmado pela diminuição do rol <strong>de</strong> pacientes com manifestações crônicas e pelo<br />
<strong>de</strong>créscimo no índice <strong>de</strong> lâminas positivas (BRASIL, 1985).<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Em 1985, após as campanhas e durante os programas especiais, a en<strong>de</strong>mia<br />
foi consi<strong>de</strong>rada restrita apenas às duas áreas <strong>de</strong> maior importância médico-sanitária:<br />
Recife (PE) e Belém (PA). Embora essas capitais permanecessem como focos<br />
ativos <strong>de</strong> transmissão, também se observou um <strong>de</strong>clínio nas suas taxas <strong>de</strong><br />
prevalência: Recife, que no inquérito inicial, apresentou índice <strong>de</strong> 6,9% <strong>de</strong>cresceu<br />
para 1,5% e Belém passou <strong>de</strong> 8,5% para 0,3% (BRASIL, 1985).<br />
Entretanto, estudos realizados no Recife indicaram que a redução verificada<br />
pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> na taxa média <strong>de</strong> prevalência da cida<strong>de</strong> não se mantinha<br />
quando se analisava separadamente cada bairro. Em alguns bairros <strong>de</strong> baixo nível<br />
socioeconômico, foram encontradas taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> até 15%. Além disso, a<br />
parasitose que, historicamente, estava restrita apenas à cida<strong>de</strong> o Recife, teve a<br />
transmissão ativa comprovada em dois outros municípios da RMR Olinda e<br />
Jaboatão dos Guararapes (MACIEL et al., 1994, MEDEIROS et al., 1992, MORAIS,<br />
1982).<br />
No Brasil, a partir da proposta da OMS, a plenária do Conselho Nacional <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> homologou a resolução CNS nº 190, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1996, iniciando o<br />
Programa Nacional <strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática (PNEFL) (BRASIL, 1997).<br />
Esse plano tem por finalida<strong>de</strong> a eliminação da filariose linfática no território<br />
brasileiro. Busca-se, especificamente, interromper a transmissão da filariose nos<br />
focos endêmicos, através da quimioterapia e do controle do vetor, esgotar as fontes<br />
<strong>de</strong> infecção e prover assistência integral aos portadores (BRASIL, 2007).<br />
De acordo com a sua metodologia <strong>de</strong> trabalho, o PNEFL propôs a reavaliação<br />
epi<strong>de</strong>miológica dos focos ativos e dos consi<strong>de</strong>rados extintos, através da realização<br />
<strong>de</strong> inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos (Figura 4) (BRASIL, 2007).<br />
Me<strong>de</strong>iros et al. (1999) examinaram 23.773 soldados do Exército Brasileiro,<br />
oriundos <strong>de</strong> várias municípios da RMR-PE, revelando a existência <strong>de</strong> casos<br />
autóctones <strong>de</strong> filariose linfática em sete <strong>de</strong>sses municípios: três reconhecidamente<br />
endêmicos (Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Recife) e quatro <strong>de</strong> en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong><br />
recente (Paulista, Abreu e Lima, Cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, Camaragibe).<br />
Atualmente, no Brasil, o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> infecção filarial é estimado em<br />
49.000, com cerca <strong>de</strong> 1,5 milhão <strong>de</strong> pessoas residindo em área <strong>de</strong> risco (BRASIL,<br />
2000). A transmissão ativa da filariose ocorre no estado <strong>de</strong> Pernambuco,<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
especificamente na RMR (Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista). Na<br />
cida<strong>de</strong> Maceió (AL), consi<strong>de</strong>ra-se que, a transmissão encontra-se em pré-eliminação<br />
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />
No foco histórico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém (PA), a filariose linfática foi consi<strong>de</strong>rada<br />
eliminada, continuando a ser mantida a vigilância epi<strong>de</strong>miológica (Figura 2)<br />
(FREITAS et al., 2008). A interrupção da transmissão em Belém po<strong>de</strong> ser creditada<br />
a um conjunto <strong>de</strong> fatores, tais como: a existência <strong>de</strong> um sólido programa <strong>de</strong> combate<br />
à doença, mantido durante décadas; as melhorias das condições ambientais; o fato<br />
<strong>de</strong> que as ações <strong>de</strong> combate à doença se beneficiaram das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle<br />
<strong>de</strong> vetores relacionadas às outras en<strong>de</strong>mias (FREITAS et al., 2008).<br />
Figura 4 – Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose no Brasil, 2006<br />
Fonte: CGDT/DEVEP/SVS, 2007.<br />
Na RMR (PE), consi<strong>de</strong>rando o <strong>de</strong>sconhecimento da extensão da en<strong>de</strong>mia, foram<br />
realizados vários inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos nos municípios da região no final da<br />
década <strong>de</strong> 1990 e inicio dos anos 2000. Os resultados dos recentes inquéritos<br />
realizados são discutidos a seguir. Na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, foram examinadas 7.553<br />
pessoas, i<strong>de</strong>ntificando-se 13 casos positivos, sendo cinco autóctones. No município<br />
<strong>de</strong> Camaragibe, das 1.554 pessoas pesquisadas, dois eram microfilarêmicos. No<br />
Cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, 7.650 pessoas foram examinadas: seis casos positivos,<br />
sendo um autóctone (MEDEIROS et al., 2006). No município <strong>de</strong> Moreno, 2.513<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
exames foram realizados, <strong>de</strong>tectando-se dois casos positivos, porém, nenhum era<br />
autóctone (MEDEIROS et al. 2004).<br />
No Recife, segundo uma metodologia <strong>de</strong> amostragem estratificada, foram<br />
encontradas taxas <strong>de</strong> prevalência que variaram <strong>de</strong> 0,1% a 3,0%. No município <strong>de</strong><br />
Olinda, a prevalência da bancroftose foi <strong>de</strong> 1,3% (BRAGA et al., 2001). A Secretaria<br />
<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> olin<strong>de</strong>nse realizou também uma busca passiva, na qual os bairros <strong>de</strong><br />
maior positivida<strong>de</strong> foram: Águas Compridas (3,50%), Alto Nova Olinda (3,88%), Alto<br />
da Conquista (3,62%) e Azeitona (4,30%) (BRASIL, 2000).<br />
Em Jaboatão dos Guararapes, foi realizado um inquérito epi<strong>de</strong>miológico<br />
através do qual foram examinadas 23.673 pessoas, i<strong>de</strong>ntificando-se 323 casos <strong>de</strong><br />
microfilaremia (1,4%) (BONFIM et al., 2009). No distrito <strong>de</strong> Cavaleiro, foram<br />
pesquisados 9.520 resi<strong>de</strong>ntes dos 22 bairros, <strong>de</strong>tectando-se 214 microfilarêmicos<br />
(2,2%). Nos bairros investigados as taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial variam<br />
<strong>de</strong> zero a 11,1%. A análise dos resultados por setores censitários, unida<strong>de</strong><br />
geográfica para realização dos censos <strong>de</strong>mográficos, i<strong>de</strong>ntificou taxas <strong>de</strong><br />
prevalência <strong>de</strong> até 14% (BONFIM et al., 2003). No distrito <strong>de</strong> Jaboatão, foram<br />
pesquisadas 4.365 pessoas, i<strong>de</strong>ntificando-se 33 microfilarêmicos (0,8%), sendo 12<br />
autóctones (MEDEIROS et al. 2008).<br />
Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>, em 2005, para a RMR, foram coletados<br />
exames nos municípios <strong>de</strong> Olinda, Recife, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. Os<br />
resultados <strong>de</strong>ssa coleta são <strong>de</strong>scritos a seguir: Olinda apresentou taxa <strong>de</strong><br />
prevalência <strong>de</strong> 0,93% (117/12.626), Recife, 0,53% (452/85.096); Paulista, 0,09%<br />
(16/17.448) e Jaboatão dos Guararapes, 0,26% (117/45.645) (BRASIL, 2007).<br />
O tratamento em massa, em 2005, ficou restrito às áreas <strong>de</strong> pequenos focos,<br />
embora a população conjunta do Recife e Olinda fosse superior a 1,9 milhões <strong>de</strong><br />
pessoas. Se, em 2003, o tratamento com dietilcarbamazina em massa alcançou 18<br />
mil pessoas, em 2005 os números subiram para 55 mil pessoas. Isto significa uma<br />
cobertura <strong>de</strong> aproximadamente 87% dos 63.800 indivíduos que resi<strong>de</strong>m em áreas<br />
<strong>de</strong> risco (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />
Transcorridos mais <strong>de</strong> 50 anos da realização dos primeiros inquéritos para<br />
filariose, a doença constitui-se num permanente problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<br />
necessitando <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> controle e atenção dos administradores e planejadores<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com efeito, a filariose bancroftiana permanece endêmica na região e em<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
expansão, pois em municípios até pouco tempo consi<strong>de</strong>rados como in<strong>de</strong>nes, foi<br />
comprovada a existência <strong>de</strong> casos autóctones da infecção. Quando se analisa a<br />
distribuição da infecção por unida<strong>de</strong>s menores, como bairros, observam-se altas<br />
taxas <strong>de</strong> prevalência (<strong>de</strong> até 15%), resultado similar ao encontrado na década <strong>de</strong><br />
1950, por ocasião da realização dos primeiros inquéritos na região (BONFIM et al.,<br />
2003, MACIEL et al., 1994, 1996, MEDEIROS et al., 1999).<br />
1.3 Organização espacial e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong><br />
As transformações apresentadas na socieda<strong>de</strong> urbano-industrial têm revelado<br />
a complexida<strong>de</strong> do processo saú<strong>de</strong>-doença. O processo <strong>de</strong> produção e reprodução<br />
social na socieda<strong>de</strong> capitalista gera grupos sociais diferenciados, sob o ponto <strong>de</strong><br />
vista das relações econômico-sociais. Essa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> reflete-se nas<br />
condições <strong>de</strong> sobrevivência (BABONES, 2008, CASTELLANOS, 1990, VILLAR,<br />
2007). Dito <strong>de</strong> outra forma, as condições <strong>de</strong> vida expressam as condições materiais<br />
<strong>de</strong> sobrevivência e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, sobretudo, da inserção <strong>de</strong> cada grupo na estrutura <strong>de</strong><br />
produção (PAIM, 1997).<br />
Consi<strong>de</strong>ra-se que os fatores <strong>de</strong>terminantes do processo saú<strong>de</strong>-doença estão<br />
intimamente relacionados com a forma <strong>de</strong> organização da existência concreta das<br />
pessoas, isto é, com sua condição <strong>de</strong> moradia, trabalho, educação, renda, nutrição,<br />
saneamento e assistência à saú<strong>de</strong> (CASTELLANOS, 1990, PAIM, 1997). Logo, o<br />
processo <strong>de</strong> aferição do risco <strong>de</strong> adoecer e morrer distribuído pelos diferentes<br />
segmentos da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ter seu arcabouço ligado às condições <strong>de</strong> vida da<br />
população (MINAYO, 2000).<br />
Na mesma linha argumentativa, Barata (2006) assevera que as<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais na área da saú<strong>de</strong> são resultantes das diferenças produzidas<br />
pelas formas <strong>de</strong> inserção social dos indivíduos nas socieda<strong>de</strong>s e encontra-se<br />
relacionada com a forma <strong>de</strong> divisão social da riqueza.<br />
Um mo<strong>de</strong>lo explicativo sobre os diferenciais em saú<strong>de</strong> segundo a<br />
estratificação social proposta por Di<strong>de</strong>richsen, Evans e Whitehead (2001), procura<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
mostrar que a posição social ocupada pelos indivíduos resulta em diferenças nos<br />
riscos <strong>de</strong> exposição e vulnerabilida<strong>de</strong> à doença, e nas conseqüências física e social<br />
estando o indivíduo acometido pela doença. De forma similar, Alves (2006) verificou<br />
que áreas com as condições socioeconômicas mais <strong>de</strong>sfavoráveis (vulnerabilida<strong>de</strong><br />
social) também apresentam uma maior vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental 1.<br />
A associação entre a situação socioeconômica e o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> já está<br />
bem estabelecida na literatura científica (ADLER, 1993, BACKLUND; SORLIE;<br />
JOHNSON, 1996, BELL; SCHUURMAN; HAYES, 2007, BERNARD et al., 2007,<br />
BRAVEMAN, 2006, DUNCAN, 1996, MARMOT; KOGENIVA; ELSTON, 1987)<br />
Wermuth (2003) estima que 56% do estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser explicados pelas<br />
variáveis sociais e ecológicas e somente 4% pelos agentes biológicos. De forma<br />
semelhante, González e Pérez (2007) reconhecem que os fatores sociais em<br />
interação com as variáveis comportamentais e ecológicas são responsáveis pelo<br />
maior impacto na saú<strong>de</strong> da população.<br />
Link e Phelan (1996) observam que o estudo da associação entre a pobreza e<br />
doença não é um fenômeno recente. Há mais <strong>de</strong> 50 anos, esse tema vem sendo<br />
abordado nos artigos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. Para os autores, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em<br />
saú<strong>de</strong> existirão enquanto persistirem as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e, quanto maior<br />
forem às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, maiores serão as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. Silva et<br />
al. (2008) ressaltam que a privação social relativa (mais do que a absoluta) está<br />
associada a uma pior saú<strong>de</strong> e quanto maior as disparida<strong>de</strong>s sociais em qualquer<br />
população, maiores são elas também na saú<strong>de</strong>.<br />
É conveniente distinguir <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniqüida<strong>de</strong>. De acordo com<br />
Castellanos (1997), nem toda diferença na situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />
iniqüida<strong>de</strong> social, porém toda diferença, ou <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> redutível, relacionada com<br />
as condições heterogêneas <strong>de</strong> vida, indubitavelmente, caracteriza iniqüida<strong>de</strong>.<br />
Definem-se <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> como diferenças sistemáticas na situação <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> entre os diferentes grupos sociais. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s ocorrem quando grupos<br />
diferentes <strong>de</strong>finidos pelas suas características sociais (renda, educação, entre<br />
outros) e <strong>de</strong>mográficas (etnia) têm diferenças no acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou<br />
1 No estudo <strong>de</strong> Alves (2006, p. 43) vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental está sendo <strong>de</strong>finida como “a coexistência ou<br />
sobreposição espacial entre grupos populacionais muito pobres e com alta privação (vulnerabilida<strong>de</strong> social) e<br />
áreas <strong>de</strong> risco ou <strong>de</strong>gradação ambiental (vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental)”. Como proxy <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental<br />
foram utilizadas as variáveis proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos d’água e à cobertura <strong>de</strong> esgoto.<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
apresentam diferenças nas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (CENTRE FOR HEALTH EQUITY,<br />
TRAINING, RESEARCH AND EVALUATION, 2000). As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong><br />
apresentam três características básicas: são sistemáticas, socialmente produzidas<br />
(portanto, passíveis <strong>de</strong> serem alteradas) e injustas (WHITEHEAD; DAHLGREN;<br />
2006).<br />
As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s repercutem no acesso aos serviços e reforçam as<br />
condições <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados grupos sociais em relação a algumas<br />
doenças (FLEURY, 2007). Também originam diferenças no perfil epi<strong>de</strong>miológico e<br />
nas condições ambientais <strong>de</strong> certos segmentos populacionais (BARCELLOS, 2008).<br />
Os reflexos das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais nas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população<br />
têm sido estudados por meio dos <strong>de</strong>nominados “estudos ecológicos” (BARCELLOS<br />
et al., 2002). Os estudos ecológicos utilizam dados agregados e concentram-se na<br />
comparação <strong>de</strong> grupos e não <strong>de</strong> indivíduos (MORGENSTERN, 1995, WAKEFIELD,<br />
2008).<br />
Em um estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho ecológico, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise é o grupo. Esses<br />
<strong>de</strong>senhos po<strong>de</strong>m ser classificados em duas dimensões, conforme o método<br />
empregado. As modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudo são, então, <strong>de</strong> mensuração da exposição e<br />
<strong>de</strong> agrupamento. Com relação à primeira dimensão, um <strong>de</strong>senho ecológico é<br />
chamado <strong>de</strong> exploratório, se o fenômeno <strong>de</strong> interesse é medido. É analítico se o<br />
fenômeno <strong>de</strong> interesse, tendo sido <strong>de</strong>vidamente mensurado, é abordado com ajuda<br />
<strong>de</strong> procedimento analítico. A outra dimensão do estudo ecológico é o agrupamento.<br />
Este agrupamento tanto po<strong>de</strong> ser do ponto <strong>de</strong> vista temporal ou espacial, ou ainda<br />
uma mistura <strong>de</strong> ambos (MORGENSTERN, 1995).<br />
Por outro lado, o uso dos grupos e não dos indivíduos como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
análise nos estudos ecológicos geram criticas quanto às generalizações dos<br />
resultados. Consi<strong>de</strong>ra-se que a principal limitação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> estudo é a<br />
<strong>de</strong>nominada falácia ecológica, que ocorreria ao se extrapolarem os resultados do<br />
nível ecológico para o individual (SUSSER, 1994). Carvalho et al. (2007) afirmam<br />
que também serão produzidas inferências enviesadas ao se extrapolarem os<br />
resultados do nível individual para o ecológico (falácia atomística).<br />
Santos e Barcellos (2008) afirmam que os estudos ecológicos são profícuos<br />
para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> aglomeração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> doenças e na busca <strong>de</strong> fatores<br />
27
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
explicativos para esse excesso <strong>de</strong> casos; além <strong>de</strong> possibilitarem a formulação <strong>de</strong><br />
hipóteses e o teste das mesmas.<br />
Por meio dos estudos ecológicos, tem se buscado analisar a correlação entre<br />
os indicadores epi<strong>de</strong>miológicos e socioeconômicos, i<strong>de</strong>ntificando grupos<br />
populacionais <strong>de</strong> maior risco <strong>de</strong> adoecer ou morrer por <strong>de</strong>terminados agravos<br />
(BARCELLOS et al., 2002, BRAGA et al., 2001, BONFIM et al., 2009, CHIESA;<br />
WESTPHAL; KASHIWAGI, 2002, GUIMARÃES, et al., 2003, LACERDA; CALVO;<br />
FREITAS, 2002).<br />
Nesse sentido, tem-se explorado nos estudos ecológicos, o aprofundamento<br />
do espaço como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise que po<strong>de</strong> oferecer muitas explicações (COSTA;<br />
TEIXEIRA, 1999), partindo-se do princípio <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> ocupação e<br />
modificação do espaço pelo homem faz parte dos <strong>de</strong>terminantes das condições <strong>de</strong><br />
vida e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das populações (AKERMAN et al., 1994, BRAGA et al., 2001,<br />
CASTELLANOS, 1998, CHIESA; WESTPHAL; KASHIWAGI, 2002, GUIMARÃES, et<br />
al., 2003).<br />
Souza et al. (2005) acrescentam que a abordagem ecológica dá uma<br />
importante contribuição à compreensão da situação coletiva <strong>de</strong> risco ao consi<strong>de</strong>rar o<br />
espaço como fator <strong>de</strong> estratificação da população. Isso proporciona a localização<br />
espacial da doença e auxilia os serviços <strong>de</strong> vigilância na i<strong>de</strong>ntificação das causas<br />
das diferenças na ocorrência e na distribuição das doenças entre os diversos<br />
segmentos populacionais.<br />
Ximenes et al. (1999, p.54), analisando a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
vigilância <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias em áreas urbanas, orientado por uma análise <strong>de</strong> situações<br />
<strong>de</strong> risco e por indicadores epi<strong>de</strong>miológicos espaciais apresentam três pressupostos<br />
que balizam o mo<strong>de</strong>lo:<br />
a) o conceito <strong>de</strong> vigilância da saú<strong>de</strong>, que transcen<strong>de</strong> a clássica noção <strong>de</strong><br />
vigilância no nível do indivíduo doente ou <strong>de</strong> seus comunicantes, para<br />
priorizar a vigilância do espaço/população <strong>de</strong> ocorrência da doença. Nesse<br />
contexto, um indicador composto que sintetize as condições <strong>de</strong> vida foi<br />
construído para i<strong>de</strong>ntificar áreas críticas intra-urbanas;<br />
b) a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> diferentes níveis <strong>de</strong> en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> sinalizadas<br />
pelos indicadores <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>, as quais, superpostas aos bolsões sociais<br />
<strong>de</strong> carência, localizam espacialmente os grupos sociais para intervenções e<br />
monitoramento seletivos <strong>de</strong> múltiplos agravos e<br />
c) a crescente transferência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do planejamento e<br />
execução das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias para os municípios,<br />
correspon<strong>de</strong>ndo à política oficial do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) <strong>de</strong><br />
repasse <strong>de</strong> financiamento, vinculado à análise epi<strong>de</strong>miológica local (Norma<br />
Operacional Básica).<br />
28
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Os estudos das medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> em saú<strong>de</strong>, cujo referencial são as<br />
áreas geográficas, <strong>de</strong>monstraram sua utilida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>tectar, mensurar e monitorar<br />
as diferenças existentes nas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos grupos populacionais<br />
(DOMÍNGUEZ-BERJÓN; BORREL 2005). Nestes estudos, são utilizadas<br />
informações sobre a ocupação, a educação, a renda, a raça/cor, ou seja,<br />
informações que representem o nível socioeconômico (DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al.,<br />
2008).<br />
Werneck e Costa (2005) afirmam que o uso das informações<br />
socioeconômicas nos estudos epi<strong>de</strong>miológicos é essencial para evi<strong>de</strong>nciar as<br />
relações entre estrato social, emprego, educação, renda e eventos ligados à saú<strong>de</strong>.<br />
Logo, o processo <strong>de</strong> aferição do risco <strong>de</strong> adoecer e morrer, distribuído pelos<br />
diferentes segmentos da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ter seu arcabouço ligado às condições <strong>de</strong><br />
vida da população.<br />
A utilização dos índices compostos para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas geográficas <strong>de</strong><br />
acordo com o nível <strong>de</strong> carência teve início na década <strong>de</strong> 1980 e tem como principais<br />
referências os índices <strong>de</strong> Carstairs, Townsend e Jarman (SÁNCHEZ-CANTALEJO;<br />
OCANA-RIOLA; FERNÁNDEZ-AJURIA, 2008). O índice <strong>de</strong> Carstairs é feito através<br />
da soma padronizada das variáveis (% <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, % <strong>de</strong> domicílios com mais<br />
<strong>de</strong> uma pessoa por dormitório, % <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> baixa classe social e % <strong>de</strong><br />
domicílios sem acesso a um veículo) (CARSTAIRS; MORRIS 1991). O índice <strong>de</strong><br />
Townsend utiliza a transformação logarítmica das variáveis, fazendo a substituição<br />
da variável classe social pela proporção <strong>de</strong> domicílios não ocupados pelos seus<br />
proprietários (TOWNSEND, 1987). Por fim o índice <strong>de</strong> Jarman é o mais complexo<br />
dos três, pois utiliza um maior número <strong>de</strong> variáveis, transformação logarítmica,<br />
normalização e pon<strong>de</strong>ração das variáveis (JARMAN, 1983).<br />
Nas últimas décadas, vários estudos i<strong>de</strong>ntificaram, na construção dos índices<br />
compostos <strong>de</strong> carência social, uma alternativa metodológica capaz <strong>de</strong> explicitar os<br />
diferenciais intra-urbanos, através da mensuração das condições <strong>de</strong> vida<br />
(AKERMAN; CAMPANARIO; MAIA, 1996, BONFIM et al., 2009, BORROTO;<br />
MARTINEZ-PIEDRA, 2000, CARVALHO; CURZ; NOBRE, 1997, CHIESA;<br />
WESTPHAL; AKERMAN, 2008). Esses índices são apontados como uma forma <strong>de</strong><br />
superar a visão limitada <strong>de</strong> pobreza como relacionada somente com renda (LUIZ et<br />
al., 2009).<br />
29
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Os índices compostos agrupam vários indicadores ou estatísticas, compilados<br />
em um único índice, com base em algum mo<strong>de</strong>lo subjacente. I<strong>de</strong>almente, um índice<br />
composto <strong>de</strong>ve mensurar um conceito multidimensional, tal como: pobreza,<br />
sustentabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvimento humano (UNITED NATIONS DEVELOPMENT<br />
PROGRAMME, 2007). O conceito <strong>de</strong> privação social 2 é frequentemente utilizado<br />
para referir-se à carência econômica ou social em uma <strong>de</strong>terminada área geográfica<br />
(DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2008). Especificamente, na área da saú<strong>de</strong>, esse<br />
conceito diz respeito à forma como as condições econômicas afetam a condição <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> dos habitantes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada área geográfica (SÁNCHEZ-<br />
CANTALEJO; OCANA-RIOLA; FERNÁNDEZ-AJURIA, 2008).<br />
A carência social po<strong>de</strong> ser entendida sob dois aspectos: material e social. No<br />
aspecto material, a carência é <strong>de</strong>finida como a falta relativa <strong>de</strong> bens, serviços ou<br />
recursos, amplamente disponíveis na socieda<strong>de</strong>. Já no aspecto social, a carência se<br />
refere às pessoas socialmente isoladas <strong>de</strong>vido à classe social, raça/cor, sexo, ida<strong>de</strong><br />
ou outra forma <strong>de</strong> divisão social (DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2001). Neste estudo<br />
a carência social será abordada segundo o aspecto material.<br />
A utilização dos índices compostos <strong>de</strong> carência social pressupõe a existência<br />
<strong>de</strong> interação entre os vários elementos que <strong>de</strong>terminam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma<br />
população (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2007). Por<br />
conseguinte, o ponto nuclear é i<strong>de</strong>ntificar por que certos efeitos inci<strong>de</strong>m mais em<br />
alguns grupos populacionais do que em outros; com isso, procura-se apontar os<br />
<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>ssa relação com as características <strong>de</strong>sses grupos, possibilitando o<br />
direcionamento <strong>de</strong> medidas preventivas.<br />
Atualmente, vários trabalhos são <strong>de</strong>senvolvidos utilizando os indicadores <strong>de</strong><br />
carência social, elaborados por diversos métodos e tendo por fonte informações, na<br />
maioria das vezes, os recenseamentos nacionais. Esses trabalhos <strong>de</strong>monstraram a<br />
associação das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s com os eventos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (BRAGA et al., 2001,<br />
BONFIM et al., 2009, CHIESA et al., 2008, DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2008,<br />
FUKUDA; NAKAMURA; TAKANO, 2007, GUIMARÃES et al., 2003, SOUZA et al.,<br />
2005, HAVARD et al., 2008).<br />
2 Neste estudo, carência social é utilizada como sinônimo <strong>de</strong> privação social.<br />
30
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Uma vertente complementar <strong>de</strong> investigação é formada pelos indicadores<br />
socioambientais, cujo principal objetivo é i<strong>de</strong>ntificar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e interpretar,<br />
<strong>de</strong> forma sintética as dimensões sociais e ambientais (BARCELLOS, 2008; SOUZA,<br />
2006). O mo<strong>de</strong>lo explicativo subjacente ao indicador consiste em assinalar as<br />
relações entre as dinâmicas econômicas e sociais, com relação ao ambiente e à<br />
saú<strong>de</strong> da população (CARNEIRO et al., 2006). O ponto principal <strong>de</strong>sses indicadores<br />
é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar condições socioambientais adversas que propiciem<br />
riscos à saú<strong>de</strong> (BARCELLOS et al., 2002).<br />
Nesse sentido, a associação <strong>de</strong>sses indicadores com as configurações<br />
territoriais são um dos principais elementos dos estudos epi<strong>de</strong>miológicos, que<br />
utilizam os indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida para <strong>de</strong>screver e analisar as<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> (BARCELLOS et al. 2002).<br />
No âmbito da saú<strong>de</strong> pública e da epi<strong>de</strong>miologia, especialmente no estudo das<br />
doenças endêmicas e epidêmicas, tem recorrido à categoria analítica espaço social<br />
para o estudo das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na saú<strong>de</strong> (SILVA, 2000). Analisa-se a distribuição<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas doenças como resultantes da organização social do território e da<br />
população (GONDIM, 2008).<br />
Des<strong>de</strong> o inicio da década <strong>de</strong> 1990, tem-se observado uma consi<strong>de</strong>rável<br />
expansão <strong>de</strong> trabalhos científicos sobre o papel dos fatores contextuais na produção<br />
<strong>de</strong> doenças. O espaço é uma categoria relevante para o entendimento das<br />
diferenças na saú<strong>de</strong>, pois constitui e contém as relações sociais e os recursos<br />
físicos (TUNSTALL; SHAW; DORLING, 2004).<br />
Barcellos (2008) refere que a recuperação do interesse pelo espaço<br />
geográfico, tanto para o estudo da distribuição espacial dos agravos à saú<strong>de</strong> quanto<br />
para o aperfeiçoamento dos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser creditada a um conjunto<br />
<strong>de</strong> fatores, com <strong>de</strong>staque para: o processo <strong>de</strong> renovação da epi<strong>de</strong>miologia, que vem<br />
buscando caracterizar os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> através dos <strong>de</strong>terminantes sociais e<br />
ambientais; o <strong>de</strong>senvolvimento do paradigma da promoção da saú<strong>de</strong>, que consi<strong>de</strong>ra<br />
o território como estratégia <strong>de</strong> ação e por fim a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regionalização dos<br />
serviços e ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Dolfus (1991) conceitua o espaço geográfico como o esteio <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />
relações, estando algumas <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>terminadas pelo meio físico e outras pela<br />
própria socieda<strong>de</strong>, que é responsável pela organização do espacial. Por<br />
31
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
conseguinte, o espaço geográfico é mutável e sua aparência visível <strong>de</strong>nomina-se<br />
paisagem.<br />
Massey (2008) afirma que o espaço constitui a dimensão do social e sugere<br />
três proposições básicas para a sua compreensão: a) o espaço como produto das<br />
inter-relações, isto é, constituído através <strong>de</strong> interações; b) o espaço como a esfera<br />
da possibilida<strong>de</strong> da multiplicida<strong>de</strong>, da pluralida<strong>de</strong> e c) o espaço está sempre em<br />
construção, nunca está acabado.<br />
No Brasil, a geografia crítica <strong>de</strong> Milton Santos constitui uma das principais<br />
bases teóricas na elaboração dos estudos sobre espaço e o processo saú<strong>de</strong>-doença<br />
(BONFIM; MEDEIROS, 2008, CZERESNIA; RIBEIRO, 2000). Santos (1994)<br />
consi<strong>de</strong>ra o espaço geográfico como produto das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e reflexo da<br />
organização social, econômica e política. Nesse sentido, o espaço é um conjunto <strong>de</strong><br />
formas representativas das relações sociais do passado e do presente. Defen<strong>de</strong>-se<br />
que o espaço é um fato social e uma instância da socieda<strong>de</strong> e não po<strong>de</strong> ser<br />
interpretado fora das relações sociais que o <strong>de</strong>finem (SANTOS, 2004).<br />
Destarte, o espaço geográfico (sinônimo <strong>de</strong> território usado) é uma categoria<br />
indispensável para a compreensão do funcionamento do mundo na atualida<strong>de</strong><br />
(SANTOS, 1994). Assim, o território é uma categoria integradora e atuaria como<br />
mediador entre o mundo e a socieda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong>sempenhar um papel especial no<br />
planejamento da gestão setorial e intersetorial (MARQUES, 2005).<br />
Não se <strong>de</strong>ve, contudo, confundir espaço com território. A diferença mais<br />
marcante consiste no fato <strong>de</strong> que o espaço não faz referências a limites, ao passo<br />
que ao se pensar em território emerge <strong>de</strong> imediato a idéia <strong>de</strong> limites. Reconhece-se<br />
o território como resultado da acumulação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns<br />
históricas, ambientais e sociais, que são promotoras das condições singulares para<br />
a produção <strong>de</strong> doenças (BARCELLOS et al. 2002).<br />
A concepção <strong>de</strong> espaço geográfico como uma construção social, tal como<br />
proposto por Milton Santos, foi incorporada aos estudos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (ROJAS;<br />
BARCELLOS, 2003). Monken et al. (2008) afirmam que a adoção <strong>de</strong>ssa concepção<br />
<strong>de</strong> espaço geográfico pela saú<strong>de</strong> pública assenta-se no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> transformação<br />
social e na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar os efeitos danosos que as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />
sociais exercem sobre a saú<strong>de</strong> das populações.<br />
32
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Especificamente no Brasil, a forte influência da obra <strong>de</strong> Milton Santos po<strong>de</strong><br />
ser observada através da abordagem da distribuição das doenças endêmicas e<br />
epidêmicas como resultado da organização social do espaço (ROJAS;<br />
BARCELLOS, 2003). Segundo Sabroza (1991, p.12), “o espaço socialmente<br />
organizado, integrado e profundamente <strong>de</strong>sigual, não apenas possibilita, mas<br />
<strong>de</strong>termina a ocorrência <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias e sua distribuição”.<br />
Nas palavras <strong>de</strong> Silva (1997, p.590):<br />
O espaço é o cenário on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolvem as interações entre os<br />
diferentes segmentos das socieda<strong>de</strong>s humanas e entre estas e a natureza.<br />
As doenças surgem ou, pelo menos, são modificadas por estas interações.<br />
Compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> organização do espaço pelas socieda<strong>de</strong>s<br />
humanas em diferentes momentos e lugares é uma forma particular <strong>de</strong><br />
enten<strong>de</strong>r as estas socieda<strong>de</strong>s. Para a epi<strong>de</strong>miologia, a compreensão do<br />
processo <strong>de</strong> organização do espaço permite enten<strong>de</strong>r o papel do natural na<br />
gênese e distribuição das doenças.<br />
Para Barcellos (2008, p.48) as condições <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e ambiente<br />
formam uma “tría<strong>de</strong> indissociável <strong>de</strong> fatores com múltiplas e complexas interações”.<br />
Dessa forma, o território funciona como mediador entre esses fatores e as relações<br />
entre os grupos sociais.<br />
Outro aspecto relevante a ser consi<strong>de</strong>rado é que a distribuição dos grupos<br />
sociais no território não se dá <strong>de</strong> forma aleatória. Ela é influenciada por vários<br />
fatores, tais como: o espaço físico, o eixo <strong>de</strong> transportes e os processos<br />
macrossociais que se associam às dinâmicas históricas e econômicas, além das<br />
ações <strong>de</strong> vários atores sociais e instituições, com <strong>de</strong>staque para o Estado e suas<br />
ativida<strong>de</strong>s regulatórias e <strong>de</strong> intervenção social (MARQUES, 2005). A<strong>de</strong>mais, há uma<br />
superposição <strong>de</strong> carências nos espaços urbanos, com graus variados <strong>de</strong><br />
heterogeneida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> carências (MARQUES, 2005).<br />
Recentemente, os estudos epi<strong>de</strong>miológicos vêm incorporando as técnicas <strong>de</strong><br />
geoprocessamento às análises sobre associação dos eventos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com os<br />
indicadores socioeconômicos e ambientais (RICKETTS, 2003). Em geral, esses<br />
indicadores têm como referência unida<strong>de</strong>s espaciais, o que possibilita a constituição<br />
do geoprocessamento em uma importante ferramenta para auxiliar na organização e<br />
na análise dos dados (BARCELLOS, 2008).<br />
O geoprocessamento é a ferramenta que permite a realização <strong>de</strong> análises<br />
espaciais e consiste em um sistema abrangente que reúne diversas tecnologias <strong>de</strong><br />
33
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
tratamento, manipulação e armazenamento <strong>de</strong> dados geográficos, através <strong>de</strong><br />
programas computacionais (SANTOS; PINA; CARVALHO, 2000). Medronho e<br />
Werneck (2009, p.495) <strong>de</strong>finem geoprocessamento como o “conjunto <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><br />
coleta, tratamento e exibição <strong>de</strong> informações em um <strong>de</strong>terminado espaço<br />
geográfico”.<br />
Entre os sistemas que utilizam as técnicas <strong>de</strong> geoprocessamento, os<br />
Sistemas <strong>de</strong> Informação Geográfica (SIG) ou Geographic Information Systems (GIS)<br />
vêm-se <strong>de</strong>stacando no campo da saú<strong>de</strong> pública, por analisarem as relações entre os<br />
fatores patológicos e os seus ambientes geográficos (CROMLEY, 2003). Por<br />
<strong>de</strong>finição, o SIG constitui um conjunto organizado <strong>de</strong> tecnologia computacional<br />
(hardware, software, dados geográficos e não geográficos em formato digital),<br />
projetado para a captura, armazenamento, recuperação, manipulação, visualização<br />
e análise <strong>de</strong> dados geograficamente referenciados, cujo objetivo é apoiar a tomada<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, para a solução dos problemas que surgem em um <strong>de</strong>terminado espaço<br />
geográfico (MARTÍNEZ-PIEDRA et al., 2004).<br />
Segundo Medronho e Werneck (2009), os SIG na saú<strong>de</strong> coletiva apareceram<br />
com a função <strong>de</strong> aperfeiçoar a <strong>de</strong>scrição e análise espacial <strong>de</strong> doenças em gran<strong>de</strong>s<br />
conjuntos <strong>de</strong> dados geograficamente referenciados. Po<strong>de</strong>m ser utilizados para<br />
<strong>de</strong>finir a magnitu<strong>de</strong> e a distribuição dos eventos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e seus fatores<br />
<strong>de</strong>terminantes; i<strong>de</strong>ntificar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> e os grupos populacionais que<br />
apresentam um maior risco <strong>de</strong> adoecer e morrer; estratificar epi<strong>de</strong>miologicamente os<br />
grupos populacionais mais vulneráveis e <strong>de</strong>terminar priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />
direcionar as intervenções, além <strong>de</strong> auxiliar no planejamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
que possuam maior eficácia e equida<strong>de</strong> (MARTÍNEZ-PIEDRA et al., 2004).<br />
Uma vertente que vem se <strong>de</strong>stacando na epi<strong>de</strong>miologia são os estudos que<br />
utilizam informações geograficamente referenciadas para analisar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />
socioespaciais em saú<strong>de</strong>. Vários estudos têm <strong>de</strong>monstrado as relações entre os<br />
processos <strong>de</strong> organização espacial e os diferenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na mortalida<strong>de</strong><br />
(CANO-SERRAL et al., 2009, DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2005, GUIMARÃES et<br />
al., 2003, SANTOS et al., 2008, TEIXEIRA et al., 2002, VILELLA; BONFIM;<br />
MEDEIROS, 2008), na violência urbana (LIMA et al., 2005, SANTOS; BARCELLOS;<br />
CARVALHO, 2006), no acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (OLIVEIRA; TRAVASSOS;<br />
CARVALHO, 2004, TELLO et al., 2005), nas doenças endêmicas (BRAGA et al.,<br />
34
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
2001, SOUZA et al., 2005), e, em algumas ocasiões, são capazes <strong>de</strong> verificar e<br />
predizer a ocorrência <strong>de</strong>sses agravos no território.<br />
Especificamente para a filariose linfática, o mapeamento para a <strong>de</strong>limitação<br />
<strong>de</strong> áreas endêmicas é consi<strong>de</strong>rado como pré-requisito para o planejamento das<br />
intervenções nos programas <strong>de</strong> eliminação da en<strong>de</strong>mia (GYAPONG et al. 2002,<br />
HASSAN et al. 1998a,b, SABESAN; PALANIYANDI; DAS, 2000, SHERCHAND et al.<br />
2003, SRIVIDYA et al. 2002).<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a filariose é <strong>de</strong>terminada pelos fatores sociais e<br />
ambientais, o que torna possível o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo para <strong>de</strong>limitação<br />
espacial <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco através da construção <strong>de</strong> indicadores sintéticos <strong>de</strong> risco<br />
socioambiental, o Ministério da Saú<strong>de</strong> do Brasil, propõe esta como uma das<br />
principais estratégias para o programa nacional <strong>de</strong> eliminação (BRASIL,1997).<br />
1.4 Filariose Linfática e organização espacial: interação entre fatores sociais e<br />
ambientais<br />
As agências internacionais da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>signaram um grupo <strong>de</strong> 13 infecções<br />
tropicais como doenças tropicais negligenciadas (Neglected Tropical Diseases –<br />
NDTs). Essas doenças estão entre os principais problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> enfrentados<br />
pelas populações mais pobres do mundo. A maioria <strong>de</strong>ssas doenças causa<br />
incapacida<strong>de</strong>s severas e permanentes, além <strong>de</strong> uma elevada taxa <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>,<br />
porém raramente causam morte. Por apresentarem baixa taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, não<br />
receberam a atenção necessária nem a <strong>de</strong>vida priorida<strong>de</strong> no passado. Entretanto,<br />
essas doenças comprometem seriamente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos indivíduos<br />
afetados, <strong>de</strong> suas famílias e comunida<strong>de</strong>s, causando perda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e o<br />
agravamento da pobreza (HOTEZ et al., 2007).<br />
A filariose linfática integra o grupo <strong>de</strong>ssas doenças negligenciadas (PERERA et<br />
al., 2007). Ocorre predominantemente nas áreas <strong>de</strong> baixo nível socioeconômico, on<strong>de</strong><br />
a estrutura <strong>de</strong> saneamento ambiental é ina<strong>de</strong>quada e as condições <strong>de</strong> moradia são<br />
35
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
precárias, favorecendo a transmissão do parasito. Acomete indivíduos <strong>de</strong> todas as<br />
ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> ambos os sexos (ALBUQUERQUE, 1993, MOTT et al, 1990, STREIT;<br />
LAFONTANT, 2008).<br />
Durrheim et al. (2004) afirmam que a filariose linfática é <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> menor<br />
atenção do que outras doenças infecciosas (tuberculose, malária e AIDS) por não<br />
representar causa direta <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>. Contudo, ressaltam os autores, a filariose<br />
linfática existe em um contexto <strong>de</strong> pobreza e as suas manifestações clínicas, com<br />
danos linfáticos e seqüelas muitas vezes irreversíveis, contribuem significativamente<br />
para tornar mais crítica a condição <strong>de</strong> pobreza dos indivíduos afetados e <strong>de</strong> seus<br />
familiares.<br />
O entendimento geral é <strong>de</strong> que a filariose linfática impõe um ônus<br />
socioeconômico aos indivíduos infectados, seus familiares e as comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong><br />
resi<strong>de</strong>m. A produtivida<strong>de</strong> econômica <strong>de</strong>sses indivíduos é reduzida <strong>de</strong>vido às<br />
manifestações <strong>de</strong>ssa doença (agudas e crônicas) (HADDIX; KESTLER, 2000). Além<br />
das questões socioeconômicas, também <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados os problemas<br />
psicológicos <strong>de</strong>correntes do estigma social (RAMAIAH et al., 2000). Streit e<br />
Lafontant (2008) consi<strong>de</strong>ram que a relação entre a filariose e a pobreza é forte,<br />
bidirecional e complexa: ao mesmo tempo em que é causada pela pobreza, a<br />
doença também contribui para a persistência <strong>de</strong>ssa condição.<br />
A relação entre filariose linfática e pobreza po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciada no estudo<br />
realizado por Durrheim et al. (2004): dos 175 países para os quais se dispunha <strong>de</strong><br />
informações sobre a renda per capita, 73% (47/64) eram endêmicos. De forma<br />
similar, 94% (30/32) dos países <strong>de</strong> baixo Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Sabesan et al. (2006) afirmam que a transmissão da filariose linfática,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das variáveis geo-ambientais (fisiográficas e climáticas) em um nível <strong>de</strong><br />
macro<strong>de</strong>terminantes. Os fatores fisiográficos contribuem com a proliferação do vetor;<br />
os fatores climáticos influenciam diretamente o período <strong>de</strong> incubação e as condições<br />
<strong>de</strong> sobrevivência do vetor. Quando as condições ambientais são favoráveis, o<br />
homem (fator <strong>de</strong>mográfico) torna-se um dos fatores <strong>de</strong>terminantes para a ocorrência<br />
da filariose no nível micro.<br />
O peso dos fatores ambientais é fortemente associado aos fatores biológicos<br />
ligados ao parasito, ao vetor e aos fatores socioeconômicos que incluem os padrões<br />
<strong>de</strong> migração, o acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> locais e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses, o<br />
emprego <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> proteção individual. Nas zonas urbanas das cida<strong>de</strong>s, os<br />
criadouros artificiais do vetor são resultantes da ausência ou da condição <strong>de</strong>ficitária<br />
do sistema <strong>de</strong> saneamento ambiental. A qualida<strong>de</strong> dos locais <strong>de</strong> moradia, da gestão<br />
das águas residuais, o acesso à água potável e a melhoria do saneamento<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da situação socioeconômica da população (ERLANGER et al., 2005).<br />
Estima-se que 40% da população mundial (2,4 bilhões) não têm acesso ao<br />
saneamento básico. Na América Latina e no Caribe apenas 14% das águas<br />
residuais são tratadas. Tais situações contribuem para multiplicar os criadouros do<br />
vetor (SMITH, 2002). Particularmente sobre o Brasil, cerca <strong>de</strong> 70% da população<br />
urbana dispõem <strong>de</strong> esgotamento sanitário e 83% são abastecidas <strong>de</strong> água pela re<strong>de</strong><br />
geral, porém existem significativas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s inter e intra-regionais. Na região<br />
Nor<strong>de</strong>ste do país, apenas 44% da população é contemplada pela re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong><br />
esgotamento sanitário e 72% pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água (INSTITUTO<br />
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2001).<br />
Alguns estudos <strong>de</strong>monstraram que o processo <strong>de</strong> urbanização rápido e<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado é um importante fator na mudança da dinâmica da transmissão das<br />
doenças transmitidas por vetores (ALBUQUERQUE, 1993, ELLIS; WILCOX, 2009,<br />
HARB et al., 1993, KNUDSEN; SLOOFF, 1992, MOTT et al., 1990). Nos países em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, o rápido crescimento populacional urbano, conjugado à migração<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s contingentes populacionais das áreas rurais para as urbanas, resultou<br />
em espaços <strong>de</strong>nsamente habitados na periferia das cida<strong>de</strong>s (favelas e cortiços),<br />
on<strong>de</strong> os serviços <strong>de</strong> saneamento (abastecimento <strong>de</strong> água, coleta <strong>de</strong> lixo e<br />
37
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
esgotamento sanitário) ina<strong>de</strong>quados combinam-se para criar os habitats favoráveis<br />
para a proliferação <strong>de</strong> vetores (KNUDSEN; SLOOFF, 1992).<br />
Atualmente estima-se que um bilhão <strong>de</strong> pessoas no mundo resi<strong>de</strong> em áreas<br />
<strong>de</strong> favelas (RILEY et al. 2007). Operacionalmente, <strong>de</strong>fini-se favela como um<br />
assentamento humano que engloba algumas características, tais como: o acesso<br />
ina<strong>de</strong>quado à água potável; acesso ina<strong>de</strong>quado ao saneamento e outros serviços <strong>de</strong><br />
infra-estrutura; fraca qualida<strong>de</strong> estrutural das habitações; superlotação e precário<br />
estado resi<strong>de</strong>ncial. Essas características <strong>de</strong>screvem 43% do conjunto urbano em<br />
todos os países e 78% da população urbana dos países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />
(RILEY et al. 2007). Logo, em alguns países em <strong>de</strong>senvolvimento, as favelas já se<br />
tornaram a norma dos assentamentos humanos em áreas urbanas.<br />
De acordo com McMichael (2000), nos últimos dois séculos, a proporção da<br />
população mundial que residia nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s passou <strong>de</strong> 5% para 50% e<br />
estima-se, que até 2030, cerca <strong>de</strong> 2/3 da população mundial residirão nas áreas<br />
urbanas. Para o autor, as cida<strong>de</strong>s são fontes <strong>de</strong> pobreza, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> e<br />
ambientais. As populações das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s dos países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />
estão expostas a vários riscos ambientais que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> contrair doenças infecto-<br />
parasitárias até os riscos físicos e químicos resultantes das ativida<strong>de</strong>s industriais.<br />
Processo semelhante <strong>de</strong> urbanização po<strong>de</strong> ser observado no Brasil. Na<br />
década <strong>de</strong> 1960, a maioria da população brasileira (55%) residia nas áreas rurais, já<br />
no ano 2000, 81% da população já residia nas áreas urbanas. Contudo, a oferta <strong>de</strong><br />
serviços <strong>de</strong> infra-estrutura urbana não acompanhou o acelerado processo <strong>de</strong><br />
urbanização do país (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,<br />
2001).<br />
No Brasil, aproximadamente 40 milhões <strong>de</strong> pessoas vivem com menos <strong>de</strong><br />
dois dólares por dia, e a maior parte <strong>de</strong>ssa população encontra-se infectada com<br />
uma ou mais doenças tropicais negligenciadas (HOTEZ, 2008). Além disso, o país<br />
se caracteriza como uma socieda<strong>de</strong> extremamente <strong>de</strong>sigual, fato contatado pelo<br />
índice <strong>de</strong> Gini, 3 <strong>de</strong> 0,59, que representa uma das maiores disparida<strong>de</strong>s entre ricos e<br />
pobres do mundo (WORLD BANK, 2004). Hotez (2008), estudando o problema das<br />
doenças negligenciadas no Brasil, consi<strong>de</strong>ra que o encargo social<br />
3 Indicador que me<strong>de</strong> a concentração da riqueza entre os indivíduos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>.<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
surpreen<strong>de</strong>ntemente alto gerado por essas doenças no país é uma comprovação<br />
das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />
O processo <strong>de</strong> urbanização acelerado e não planejado ocorrido no Brasil nas<br />
últimas décadas, associado à pobreza <strong>de</strong> parcela significativa da população e às<br />
precárias condições ambientais (saneamento básico <strong>de</strong>ficitário ou ausente,<br />
abastecimento <strong>de</strong> água insuficiente, moradias ina<strong>de</strong>quadas), contribuiu para a<br />
persistência e o agravamento <strong>de</strong> certas doenças, em especial as infecto-parasitárias<br />
(SABROZA; KAWA; CAMPOS, 1999).<br />
Nesse contexto é que <strong>de</strong>ve ser compreendida a caracterização da filariose<br />
linfática como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública na Região Metropolitana do Recife,<br />
único foco <strong>de</strong> transmissão ativa da parasitose no país. Morais (1982) <strong>de</strong>monstrou<br />
que a filariose estava focalmente distribuida na cida<strong>de</strong> do Recife. Albuquerque<br />
(1993), ao estudar a prevalência da filariose no Recife (PE), aponta como<br />
importantes fatores para a manutenção da transmissão: o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado<br />
da cida<strong>de</strong>, o aumento significativo do número <strong>de</strong> aglomerados subnormais (favelas)<br />
e as precárias condições <strong>de</strong> saneamento ambiental. As condições favoráveis para a<br />
proliferação do mosquito vetor (C. quinquefasciatus) da filariose e,<br />
conseqüentemente, para a manutenção da en<strong>de</strong>mia na região, po<strong>de</strong>m ser<br />
creditadas, em gran<strong>de</strong> parte, às habitações ina<strong>de</strong>quadas nas áreas com altas<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s populacionais (favelas) on<strong>de</strong> o sistema <strong>de</strong> saneamento ambiental é<br />
precário.<br />
Consi<strong>de</strong>rando as relações entre a en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> da filariose e a organização<br />
social do espaço urbano, Albuquerque e Morais (1997) propõem um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
intervenção para o controle da filariose linfática. Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>tectar<br />
situações coletivas <strong>de</strong> risco por meio da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> micro-áreas <strong>de</strong> risco. Para<br />
a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ssas áreas <strong>de</strong> risco, seriam utilizados os índices compostos <strong>de</strong><br />
carência social, constituídos por variáveis sociais, econômicos, ambientais e <strong>de</strong><br />
infra-estrutura urbana.<br />
Braga et al. (2001) <strong>de</strong> forma complementar ao mo<strong>de</strong>lo proposto por<br />
Albuqueque e Morais (1997) <strong>de</strong>senvolvem um estudo no município <strong>de</strong> Olinda (PE).<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> avaliar a utilização <strong>de</strong> um indicador socioambiental, construído<br />
através da metodologia <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> escores, para estratificação do espaço<br />
urbano, <strong>de</strong>finindo estratos populacionais <strong>de</strong> risco. Os resultados do estudo<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
<strong>de</strong>monstraram a sensibilida<strong>de</strong> do indicador ao predizer o local <strong>de</strong> ocorrência da<br />
maioria dos casos <strong>de</strong> infecção filarial. Além disso, a distribuição dos casos<br />
evi<strong>de</strong>nciou a agregação espacial.<br />
Boyd et al. (2005) evi<strong>de</strong>nciaram a relevância do tratamento a ser dado ao<br />
componente espacial na mo<strong>de</strong>lagem sobre filariose. Em especial, os autores<br />
ressaltam que o mo<strong>de</strong>lo mais a<strong>de</strong>quado, entre os discutidos em seu trabalho é<br />
aquele que usa o resíduo da correlação espacial. O trabalho discute a melhor forma<br />
<strong>de</strong> situar o problema da filariose no Haiti, visando um planejamento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong><br />
ações.<br />
Na India, sabesan et al. (2006) consi<strong>de</strong>rando o papel dos fatores geo-<br />
ambientais (altitu<strong>de</strong>, temperatura, humida<strong>de</strong> relativa do ar, precipitação pluviométrica<br />
e tipo <strong>de</strong> solo) <strong>de</strong>senvolveram um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> risco para transmissão da filariose. Por<br />
meio da análise multivariada elaboram um indicador <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão da<br />
filariose linfática. Para estratificação do espaço em níveis <strong>de</strong> risco potencial, foi<br />
elaborando um mapa usando o SIG. Os autores concluíram que o mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong>senvolvido po<strong>de</strong>ria ser empregado para a <strong>de</strong>limitação espacial da filariose em<br />
uma escala macro, sobretudo para i<strong>de</strong>ntificar áreas <strong>de</strong> “não-risco”. O fato <strong>de</strong> a<br />
transmissão da filariose ser amplamente <strong>de</strong>terminada pelos fatores geoambientais<br />
possibilita a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>finidas a partir <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>terminantes.<br />
Srividya et al. (2002) investigaram a estrutura espacial da filariose<br />
bancroftiana usando métodos geoestatísticos, em uma região endêmica no sul da<br />
Índia e constataram o método é uma po<strong>de</strong>rosa ferramenta para a realização da<br />
investigação empírica e análise da distribuição espcial. No entanto, a aplicação bem<br />
su<strong>de</strong>cida do método <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da compreensão das escalas geográficas e<br />
recomenda cautela na aplicação <strong>de</strong> planos uniformes <strong>de</strong> amostragem nas diversas<br />
regiões endêmicas, para investigar o padrão espacial da filariose.<br />
É inegável a importância da análise espacial no planejamento do controle e<br />
da eliminação da filariose linfática. Na África (GYAPONG et al. 2002, GYAPONG;<br />
REMME, 2001, LINDSAY; THOMAS, 2000) e na Índia (SABESAN et al. 2006,<br />
SRIVIDYA, 2002) utilizaram a análise espacial para estimar a distribuição geográfica<br />
da filariose e i<strong>de</strong>ntificar áreas com risco <strong>de</strong> transmissão.<br />
Nesta perspectiva, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é verificar a associação entre a<br />
prevalência da filariose bancroftiana e os fatores socioambientais, i<strong>de</strong>ntificando<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
áreas com risco <strong>de</strong> transmissão em espaços intra-urbanos no município <strong>de</strong> Jaboatão<br />
dos Guararapes (PE).<br />
1.5 Justificativa<br />
O trabalho justifica-se pelos seguintes argumentos:<br />
A filariose linfática, causada pela Wuchereria bancrofti, é uma doença<br />
parasitária com transmissão preferencialmente urbana e em áreas on<strong>de</strong> as<br />
condições <strong>de</strong> saneamento ambiental são precárias ou <strong>de</strong>ficitárias. Portanto, está<br />
intimamente relacionada com os fatores socioeconômicos e ambientais. Assim, um<br />
mo<strong>de</strong>lo explicativo para a permanência da filariose no município <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar a<br />
complexida<strong>de</strong> dos fenômenos sociais e a sua relação com o ciclo infeccioso da<br />
bancroftose.<br />
A construção <strong>de</strong> um indicador <strong>de</strong> carência social po<strong>de</strong>rá permitir o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo capaz <strong>de</strong> caracterizar essa associação e i<strong>de</strong>ntificar<br />
espacialmente áreas <strong>de</strong> maior risco, alvos prioritários para intervenção do po<strong>de</strong>r<br />
público.<br />
O indicador proposto neste trabalho significa uma mudança na abordagem<br />
clássica adotada pelo programa <strong>de</strong> controle da filariose, baseado no risco individual,<br />
para uma abordagem direcionada para a situação coletiva <strong>de</strong> risco. A idéia é<br />
contribuir para a implementação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica <strong>de</strong> base<br />
territorial, o qual integra as informações sobre a condição <strong>de</strong> vida da população e a<br />
ocorrência da en<strong>de</strong>mia.<br />
À medida que as políticas públicas, <strong>de</strong> um modo geral, e as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<br />
em particular, são mais eficazes quando conseguem atingir, <strong>de</strong> fato, a população<br />
necessitada. Este atendimento eficaz é possibilitado pela <strong>de</strong>limitação geográfica das<br />
áreas carentes. Daí a importância <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica <strong>de</strong><br />
base territorial o qual integra as informações sobre condições <strong>de</strong> vida da população<br />
e a ocorrência da en<strong>de</strong>mia.<br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Um sistema <strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong>ve expressar a diversida<strong>de</strong> do risco <strong>de</strong><br />
transmissão da filariose e a sua relação com as condições <strong>de</strong> vida da população.<br />
Com este intuito, neste trabalho, diferentes abordagens <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />
indicadores serão adotadas. Este trabalho preten<strong>de</strong> contribuir para elaboração <strong>de</strong><br />
um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção que associa o ambiente no qual a comunida<strong>de</strong> está<br />
inserida às suas carências. Isto o torna útil para o planejamento das ações <strong>de</strong><br />
controle da filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, inserindo-o no<br />
programa do Ministério da Saú<strong>de</strong> que tem por meta controlar e erradicar a doença<br />
no País.<br />
1.6 Hipótese<br />
O Indicador <strong>de</strong> Carência Social é um mo<strong>de</strong>lo capaz <strong>de</strong> associar a filariose<br />
linfática e os fatores socioambientais e i<strong>de</strong>ntificar áreas com risco <strong>de</strong> transmissão em<br />
espaços intra-urbanos do município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes (PE).<br />
42
2 OBJETIVOS<br />
2.1 Objetivo Geral<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Verificar a associação entre a prevalência da filariose bancroftiana e os fatores<br />
socioambientais, i<strong>de</strong>ntificando áreas com risco <strong>de</strong> transmissão em espaços intra-<br />
urbanos no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes (PE).<br />
2.2 Objetivos específicos<br />
a) Descrever a ocorrência e a distribuição da microfilaremia no município <strong>de</strong><br />
Jaboatão dos Guararapes;<br />
b) I<strong>de</strong>ntificar, mediante a construção <strong>de</strong> indicadores compostos, áreas com padrões<br />
homogêneos <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida;<br />
c) Analisar a distribuição espacial dos casos <strong>de</strong> filariose no município, apresentando<br />
a concentração geográfica da doença;<br />
d) Classificar e comparar as áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão da filariose segundo os<br />
indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida.<br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
3.1 Epi<strong>de</strong>miologia e geografia: dos primórdios ao geoprocessamento <br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> 1<br />
Zulma Me<strong>de</strong>iros 2<br />
1 Doutoranda em Saú<strong>de</strong> Pública do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />
(CPqAM). Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Pesquisadora da Diretoria <strong>de</strong><br />
<strong>Pesquisas</strong> Sociais (DIPES). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC).<br />
2 Pesquisadora Adjunta do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong> (CPqAM).<br />
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Professora do Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />
(ICB). Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco (UPE).<br />
Correspondência: <strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> (cristine.bonfim@fundaj.gov.br)<br />
Artigo publicado na Revista Espaço para Saú<strong>de</strong>, Londrina, v. 10, n. 1, p. 53-62, 2008.<br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
3.2 The epi<strong>de</strong>miological <strong>de</strong>limitation of lymphatic filariasis in an en<strong>de</strong>mic area of<br />
Brazil, 41 years after the first recor<strong>de</strong>d case<br />
Zulma Me<strong>de</strong>iros 1,2<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> 1,3<br />
Ayla Alves 4<br />
Conceição Oliveira 5<br />
Maria José Evangelista Netto 1<br />
Ana Maria Aguiar-Santos 1<br />
1 Departamento <strong>de</strong> Parasitologia, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong> –<br />
Fundação Oswaldo Cruz.<br />
2 Departamento <strong>de</strong> Patologia, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Pernambuco.<br />
3 Diretoria <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> Sociais, Fundação Joaquim Nabuco.<br />
4 Faculda<strong>de</strong> do Agreste <strong>de</strong> Pernambuco, Associação Caruaruense <strong>de</strong> Ensino<br />
Superior.<br />
5 Diretoria <strong>de</strong> Vigilância e Saú<strong>de</strong>, Prefeitura do Recife.<br />
Correspondência: Zulma Me<strong>de</strong>iros. Departamento <strong>de</strong> Parasitologia, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong> – Fundação Oswaldo Cruz. Av. Moraes Rego, s/n,<br />
Cida<strong>de</strong> Universitária. CEP 50670-420, Recife (PE), Brasil.<br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
3.3 A socioenvironmental composite in<strong>de</strong>x as a tool for i<strong>de</strong>ntifying urban areas at risk<br />
of Lymphatic filariasis 4<br />
1, 2<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Maria José Evangelista Netto 2<br />
Dinilson Pedroza Jr. 3,4<br />
José Luiz Portugal 5<br />
Zulma Me<strong>de</strong>iros 2,6<br />
1 Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Educação, Recife, Brazil.<br />
2 <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, Brazil.<br />
3 Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, Recife, Brazil.<br />
4 Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />
5 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />
6 Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />
Address for correspon<strong>de</strong>nce: <strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong>, Diretoria <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> Sociais.<br />
Fundação Joaquim Nabuco. Rua Dois Irmãos, 92 - Ed. Anexo Anízio Teixeira.<br />
Apipucos, Recife, Pernambuco, Brazil. CEP: 52071-440. Tel.: 55 81 30736576; Fax<br />
55 81 30736509; E-mail: cristine.bonfim@fundaj.gov.br<br />
4 Artigo publicado na Revista Tropical Medicine and International Health, Oxford, v. 14, n. 8, p. 877-<br />
884, 2009.<br />
69
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
3.4 Social <strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x and lymphatic filariasis: a tool for mapping urban areas<br />
at risk in northeastern Brazil 5<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> a,b*<br />
Ana Maria Aguiar-Santos a<br />
Dinilson Pedroza Jr. c,d<br />
Ta<strong>de</strong>u Rodrigues Costa e<br />
José Luiz Portugal f<br />
Zulma Me<strong>de</strong>iros a,g<br />
a <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz.<br />
Av. Professor Moraes Rego, s/n, Cida<strong>de</strong> Universitária, Recife, 50.670-420, PE,<br />
Brazil.<br />
b Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Educação, Recife, Brazil.<br />
Rua Dois Irmãos, 92, Apipucos, Recife, 52071-440, PE, Brazil.<br />
c Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, Recife, Brazil.<br />
Praça João Gonçalves <strong>de</strong> Souza, Sn, Recife, PE, Brazil.<br />
d Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />
Rua do Príncipe Sn, bloco G, 5 andar, DEA, Recife, PE, Brazil.<br />
e<br />
Departamento <strong>de</strong> Estatística e Informática, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />
Pernambuco, Recife, Brazil.<br />
Avenida D. Manoel <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, s/n, Dois Irmãos, Recife, 52.171-900, PE, Brazil.<br />
f Departamento <strong>de</strong> Engenharia Cartográfica. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco.<br />
Avenida Acadêmico Hélio Ramos, s/n, 2º andar, DECart, Cida<strong>de</strong> Universitária,<br />
Recife, 50740-530, PE, Brazil.<br />
g Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco.<br />
Rua Arnóbio Marques, 310, Santo. Amaro, Campus Universitário, Recife, 50.100-<br />
130, PE, Brazil.<br />
* Corresponding author: Rua Dois Irmãos, 92 - Ed. Anexo Anízio Teixeira. Apipucos,<br />
Recife, Pernambuco. Brazil. CEP: 52071-440. E-mail address:<br />
cristine.bonfim@fundaj.gov.br (C. <strong>Bonfim</strong>) Tel.: +55 81 3073 6576; fax: +55 81 3073<br />
6509<br />
5 Artigo publicado na Revista International Health, v.1, p. 78-84.<br />
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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
3.5 COMPARAÇÃO DE FERRAMENTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA A<br />
IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO DE FILARIOSE LINFÁTICA *<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> 1,2<br />
Dinilson Pedroza Jr. 3<br />
José Luiz Portugal 4<br />
Fábio Alencar 5<br />
Ayla Alves 6<br />
Zulma Me<strong>de</strong>iros 1,7<br />
1 Laboratório <strong>de</strong> Doenças Transmissíveis, Departamento <strong>de</strong> Parasitologia, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz, Pernambuco, Brasil.<br />
2 Diretoria <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> Sociais, Fundação Joaquim Nabuco, Pernambuco Brasil.<br />
3 Departamento <strong>de</strong> Economia, Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco, Pernambuco,<br />
Brasil.<br />
4 Departamento <strong>de</strong> Engenharia Cartográfica, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, Pernambuco,<br />
Brasil.<br />
5 Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil.<br />
6 Associação Caruaruense <strong>de</strong> Ensino Superior, Pernambuco, Brasil.<br />
7 Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, Pernambuco,<br />
Brasil.<br />
86
Resumo<br />
Antece<strong>de</strong>ntes<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
No Brasil, o Programa <strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática apresenta a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
indicadores sintéticos <strong>de</strong> risco, a partir da estratificação do espaço urbano, como<br />
uma <strong>de</strong> suas principais estratégias. Outro componente importante para o<br />
planejamento das ações <strong>de</strong> controle e eliminação da filariose é o mapeamento<br />
<strong>de</strong>talhado da distribuição espacial da infecção. O objetivo do estudo é a comparar as<br />
ferramentas epi<strong>de</strong>miológicas para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão<br />
<strong>de</strong> filariose.<br />
Metodologia e Principais resultados<br />
Um estudo ecológico foi realizado no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, região<br />
Nor<strong>de</strong>ste do Brasil. A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise foi o setor censitário (SC). O estudo foi<br />
conduzido em três etapas: a primeira consistiu na análise dos dados <strong>de</strong> um inquérito<br />
epi<strong>de</strong>miológico; na segunda, proce<strong>de</strong>u-se à construção <strong>de</strong> dois indicadores <strong>de</strong><br />
condição <strong>de</strong> vida e analisou-se a relação <strong>de</strong>sses indicadores com as taxas <strong>de</strong><br />
prevalência <strong>de</strong> microfilaremia. Na terceira, os casos positivos foram<br />
georreferenciados com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma concentração espacial pelo<br />
estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel. Foram calculados dois indicadores compostos <strong>de</strong><br />
condição <strong>de</strong> vida: formação <strong>de</strong> escores (indicador <strong>de</strong> risco socioambiental) e análise<br />
fatorial por componentes principais (indicador <strong>de</strong> carência social). Esses indicadores<br />
permitiram agrupar os SC em três estratos <strong>de</strong> risco: baixo, médio e alto. Dos 23.673<br />
indivíduos examinados, i<strong>de</strong>ntificaram-se 323 microfilarêmicos (1,4%). Nos dois<br />
indicadores, observou-se maior prevalência nos estratos <strong>de</strong> alto risco, associação<br />
esta confirmada pelo estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel.<br />
Conclusões<br />
A classificação dos SC por estratos <strong>de</strong> risco apontou a relevância dos fatores<br />
socioeconômicos e ambientais na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas prioritárias para a<br />
intervenção dos serviços <strong>de</strong> vigilância e do planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> controle da<br />
filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes. A análise espacial também se<br />
revelou como uma importante ferramenta a ser utilizada na construção do sistema<br />
<strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong> base territorial.<br />
87
Introdução<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
A relação entre a pobreza e a filariose linfática é forte, bidirecional e complexa<br />
[1]. É uma doença parasitária cuja transmissão, caracteristicamente urbana, ocorre<br />
em áreas on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> saneamento ambiental são precárias ou <strong>de</strong>ficitárias,<br />
ou seja, fortemente relacionada com os fatores socioeconômicos e ambientais [2]-<br />
[4].<br />
Atualmente a filariose linfática é endêmica em 83 países, com mais <strong>de</strong> 1.2<br />
bilhões <strong>de</strong> pessoas residindo em áreas <strong>de</strong> risco e cerca <strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> pessoas<br />
já estão infectadas [5]. No Brasil, estima-se o número <strong>de</strong> infectados em 49 mil.<br />
Consi<strong>de</strong>rada como uma doença potencialmente erradicável [6], a sua eliminação<br />
constitui um objetivo prioritário para a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> [7]. Des<strong>de</strong><br />
1998, o Programa Global <strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática (PGEFL) tem<br />
orientado sua eliminação até 2020.<br />
A construção dos índices compostos <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida constitui uma<br />
alternativa metodológica capaz <strong>de</strong> explicitar os diferenciais intra-urbanos, através da<br />
mensuração das condições <strong>de</strong> vida [8]-[12]. Os índices compostos agrupam vários<br />
indicadores ou estatísticas, compilados em um único índice, com base em algum<br />
mo<strong>de</strong>lo subjacente. Esses índices <strong>de</strong>vem ser capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar condições <strong>de</strong><br />
risco advindas <strong>de</strong> circunstâncias sociais e ambientais adversas no interior das<br />
comunida<strong>de</strong>s, relacionando-as com unida<strong>de</strong>s espaciais <strong>de</strong>finidas (municípios,<br />
bairros, setores censitários, logradouros, entre outros) [13]-[19].<br />
Outro componente importante para o planejamento das ações <strong>de</strong> controle e<br />
eliminação da filariose linfática é o mapeamento <strong>de</strong>talhado da distribuição espacial<br />
da infecção [20], [21]. As técnicas <strong>de</strong> análise espacial vêm sendo empregadas nos<br />
estudos epi<strong>de</strong>miológicos como um método que permite a integração <strong>de</strong> informações<br />
socioeconômicas, ambientais e <strong>de</strong>mográficas com a localização espacial das<br />
doenças [22]-[24]. Na África [20], [25], [26] e na Índia [26], [27] foi utilizada a análise<br />
espacial para estimar a distribuição geográfica da filariose e i<strong>de</strong>ntificar áreas com<br />
risco <strong>de</strong> transmissão.<br />
Neste sentido, o objetivo do estudo é comparar a capacida<strong>de</strong> do indicador <strong>de</strong><br />
carência social com o socioambiental e as técnicas <strong>de</strong> análise espacial na <strong>de</strong>tecção<br />
88
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
<strong>de</strong> áreas geográficas <strong>de</strong> maior risco transmissão <strong>de</strong> filariose linfática. Com isso,<br />
preten<strong>de</strong>-se a estabelecer a estratificação do espaço urbano como um dos critérios<br />
para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> áreas prioritária para o PGEFL.<br />
Material e métodos<br />
Área <strong>de</strong> estudo<br />
A área <strong>de</strong> estudo é o município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, situado na<br />
região metropolitana do estado <strong>de</strong> Pernambuco, Brasil. Esse município apresenta<br />
uma extensão territorial <strong>de</strong> 256.073 km 2 , composta por 27 bairros, subdivididos em<br />
492 setores censitários (SC). Observou-se a ausência <strong>de</strong> informações em oito SC,<br />
que foram excluídos do estudo. A população resi<strong>de</strong>nte era <strong>de</strong> 581.556 habitantes<br />
(98% em área urbana) segundo o último censo realizado [28].<br />
Desenho <strong>de</strong> estudo e fonte <strong>de</strong> informação<br />
Trata-se <strong>de</strong> um estudo ecológico [29] <strong>de</strong> base populacional, cuja unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
análise espacial foi constituída pelos SC. Define-se SC como unida<strong>de</strong> territorial<br />
estabelecida com base nos critérios operacionais para o trabalho <strong>de</strong> campo do<br />
Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), composto por cerca <strong>de</strong> 300<br />
domicílios em áreas urbanas. O SC é a menor unida<strong>de</strong> espacial para a qual se<br />
dispõe <strong>de</strong> informações socioeconômicas com atualização periódica e máxima<br />
<strong>de</strong>sagregação geográfica que o censo permite [17], [30].<br />
O estudo foi conduzido em três fases: a primeira consistiu na análise dos<br />
dados do inquérito epi<strong>de</strong>miológico; na segunda fase, proce<strong>de</strong>u-se à construção dos<br />
indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida e analisou-se a relação <strong>de</strong>sses indicadores com as<br />
taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial e, na terceira, os casos positivos <strong>de</strong> infecção<br />
filarial foram georreferenciados com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma concentração<br />
espacial.<br />
89
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
Fases da investigação<br />
Fase 1 - Inquérito parasitológico<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Os dados sobre os casos <strong>de</strong> infecção filarial tiveram como fonte o inquérito<br />
epi<strong>de</strong>miológico realizado, em parceria, pelo <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>,<br />
unida<strong>de</strong> da Fundação Oswaldo Cruz e pela Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos<br />
Guararapes entre os anos <strong>de</strong> 2000 e 2002 [31]. Foram examinadas, pelo método da<br />
gota espessa não mensurada, amostras <strong>de</strong> sangue, coletadas entre 23h00min e<br />
01h00min, <strong>de</strong> 23.673 indivíduos resi<strong>de</strong>ntes em todos os bairros do município <strong>de</strong><br />
Jaboatão dos Guararapes. Todos os casos positivos i<strong>de</strong>ntificados no inquérito foram<br />
tratados conforme preconizado pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. O projeto <strong>de</strong><br />
pesquisa foi aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />
<strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz (CAEE. 0034.0.095.000-07).<br />
Fase 2 - Construção dos indicadores <strong>de</strong> carência social<br />
2.1 Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental (IRS)<br />
Para a construção <strong>de</strong>sse indicador foram utilizadas variáveis sobre as<br />
condições ambientais e sociais provenientes do recenseamento nacional da<br />
população, realizado pelo IBGE, no ano <strong>de</strong> 2000: proporção <strong>de</strong> domicílios<br />
particulares permanentes com abastecimento <strong>de</strong> água ina<strong>de</strong>quado; proporção <strong>de</strong><br />
domicílios particulares permanentes com coleta <strong>de</strong> lixo ina<strong>de</strong>quada; proporção <strong>de</strong><br />
domicílios particulares permanentes com esgotamento sanitário ina<strong>de</strong>quado;<br />
proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com responsáveis sem instrução<br />
e proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com responsáveis sem<br />
rendimentos. Essas variáveis, agregadas por SC, foram computadas em valores<br />
absolutos para, em seguida, se extraírem os percentuais <strong>de</strong> ocorrência. Os escores,<br />
como medidas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento dos SC, foram elaborados a partir <strong>de</strong>ssas<br />
ocorrências, conforme metodologia <strong>de</strong>scrita por <strong>Bonfim</strong> et al. [31]. O IRS <strong>de</strong>ve ser<br />
interpretado da seguinte maneira: os maiores valores – em porcentagem – indicam<br />
que o SC apresenta um maior <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> ocorrência da filariose. Os SC foram<br />
agrupados por tercil em estratos <strong>de</strong> risco: baixo, médio e alto.<br />
90
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
2.2 Construção do indicador <strong>de</strong> carência social (ICS)<br />
Inicialmente para a construção do ICS foi feita a seleção dos indicadores que<br />
refletissem os diferenciais intra-urbanos e que estivessem relacionadas com a<br />
condição <strong>de</strong> vida da população e com a transmissão da filariose [2], [31], [32] quais<br />
sejam: abastecimento <strong>de</strong> água (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes<br />
com abastecimento <strong>de</strong> água ina<strong>de</strong>quado); esgotamento sanitário (proporção <strong>de</strong><br />
domicílios particulares permanentes com esgotamento sanitário ina<strong>de</strong>quado); coleta<br />
<strong>de</strong> lixo (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com coleta <strong>de</strong> lixo<br />
ina<strong>de</strong>quada); renda (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com<br />
responsáveis cuja renda era <strong>de</strong> meio a um salário mínimo); escolarida<strong>de</strong> (proporção<br />
<strong>de</strong> domicílios particulares permanentes cujos responsáveis tinham até um ano <strong>de</strong><br />
escolarida<strong>de</strong>); aglomeração (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com<br />
10 ou mais moradores); domicílios alugados (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares<br />
permanentes alugados) e população sem escolarida<strong>de</strong> (proporção da população <strong>de</strong><br />
10 a 14 anos sem escolarida<strong>de</strong>).<br />
O ICS social foi formulado utilizando-se o método <strong>de</strong> análise fatorial por<br />
componentes principais (ACP), cujo processamento foi realizado pelo programa<br />
Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 15.0. Esse método é<br />
utilizado freqüentemente para variáveis contínuas e tem como objetivo explicar,<br />
tanto quanto possível, a variação total em um conjunto <strong>de</strong> dados através <strong>de</strong> um<br />
pequeno número <strong>de</strong> fatores, conhecidos como componentes principais. Cada<br />
componente principal, <strong>de</strong>nominado fator, consiste <strong>de</strong> uma combinação linear das<br />
variáveis. As relações entre cada variável original e os novos fatores são medidas<br />
pelas cargas fatoriais nos componentes. Uma vez que as cargas fatoriais são<br />
coeficientes <strong>de</strong> correlação, as cargas variam entre -1 e 1, e quanto maior o seu valor<br />
absoluto, maior é a representativida<strong>de</strong> da variável original no eixo composto.<br />
As condições necessárias para a aplicação da análise fatorial foram<br />
verificadas por meio dos testes Bartlett’s sphericity e do Kaiser-Mayer-Olkin (KMO).<br />
Para avaliar o número <strong>de</strong> fatores a serem extraídos foi utilizado Screen plot (gráfico<br />
da variância pelo número <strong>de</strong> componentes), on<strong>de</strong> os pontos no maior <strong>de</strong>clive<br />
indicam o número apropriado <strong>de</strong> componentes a reter. A fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> dos fatores<br />
foi avaliada utilizando o alfa <strong>de</strong> Cronbach (Cronbach’s coefficient alpha),<br />
consi<strong>de</strong>rando aceitável um índice ≥0,50.<br />
91
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Do conjunto <strong>de</strong> fatores extraídos, utilizou-se, para composição do ICS o que<br />
apresentou autovalor maior que um. Os valores do indicador foram calculados por<br />
meio <strong>de</strong> regressão. Com base nesse indicador, os SC foram agrupados quanto à<br />
carência social. Para estabelecer os pontos <strong>de</strong> corte para a estratificação dos SC,<br />
utilizou-se o método estatístico <strong>de</strong> classificação não hierárquica K-means clustering,<br />
tomando K=3 para i<strong>de</strong>ntificar três agrupamentos. O K-means é um método clássico<br />
<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> clusters, em que os clusters são constituídos <strong>de</strong> forma a aperfeiçoar<br />
um <strong>de</strong>terminado critério (função <strong>de</strong> semelhança). Assim, este método recebe como<br />
input o parâmetro k e proce<strong>de</strong> à partição <strong>de</strong> n objetos em k grupos, <strong>de</strong> forma a<br />
garantir elevada semelhança intra-cluster e uma elevada diferença inter-cluster.<br />
O primeiro estrato foi composto pelos SC <strong>de</strong> baixa carência social. No<br />
segundo estrato, estão os SC com uma situação intermediária, e o terceiro é<br />
constituído pelos SC <strong>de</strong> alta carência social.<br />
Como recurso para analisar a relação do IRS e do ICS com a prevalência <strong>de</strong><br />
infecção filarial, adotou-se o cálculo da sobremorbida<strong>de</strong> (excesso <strong>de</strong> casos) e razão<br />
das taxas. Para tanto, utilizou-se o estrato <strong>de</strong> melhor condição social (estrato I),<br />
consi<strong>de</strong>rado como <strong>de</strong> baixo risco em ambos os indicadores, como <strong>de</strong> referência para<br />
a comparação entre a condição <strong>de</strong> vida e a filariose no município.<br />
Fase 3 - Análise espacial<br />
O equivalente a 95,36% (308/323) dos casos positivos <strong>de</strong> filariose,<br />
i<strong>de</strong>ntificados no inquérito parasitológico, foram georreferenciados na forma pontual,<br />
empregando-se rastreador <strong>de</strong> navegação GPS (Global Positioning Systems) e<br />
tomando-se por referência a residência dos infectados.<br />
A partir da amostra pontual dos casos, implementou-se o estimador kernel.<br />
Esse estimador é obtido por um mo<strong>de</strong>lo matemático que tem como parâmetros <strong>de</strong><br />
entrada o número <strong>de</strong> pontos e respectivas posições geográficas, um grau <strong>de</strong><br />
suavização da superfície <strong>de</strong> saída e uma largura <strong>de</strong> banda ou raio <strong>de</strong> busca. O<br />
parâmetro <strong>de</strong> saída é materializado por uma superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> suavizada,<br />
capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar aglomerados espaciais, ou seja, posições <strong>de</strong> maior ou menor<br />
ocorrência <strong>de</strong> pontos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área [33].<br />
92
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Neste estudo, empregou-se um grau <strong>de</strong> suavização <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />
(kernel quadrático) e uma largura <strong>de</strong> banda <strong>de</strong> 5.000 metros. Essa largura<br />
correspon<strong>de</strong> a um quarto da menor dimensão do retângulo circunscrito no polígono<br />
que <strong>de</strong>fine o município, conforme sugerido por Bailey [33].<br />
A superfície suavizada foi estratificada em tercis, nos quais cada intervalo<br />
contém o mesmo número <strong>de</strong> ocorrências. Assim, o intervalo com maiores valores foi<br />
consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> alto risco por apresentar maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
área; o intervalo com menores valores, como <strong>de</strong> baixo risco por apresentar menor<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área; e o intervalo <strong>de</strong> valores intermediários,<br />
como o <strong>de</strong> médio risco.<br />
A superfície foi visualizada sob a forma <strong>de</strong> mapa, associando-se a cada<br />
estrato um <strong>de</strong>terminado tom <strong>de</strong> cinza: o mais escuro correspon<strong>de</strong>u à alta<br />
intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos e o mais claro correspon<strong>de</strong>u à baixa intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos.<br />
Resultados<br />
Fase 1 Inquérito parasitológico<br />
Para participação no inquérito parasitológico, foram cadastradas 28.612<br />
pessoas <strong>de</strong> ambos os sexos com ida<strong>de</strong>s entre 1 e 99 anos. Dessas, 23.673 foram<br />
examinados, i<strong>de</strong>ntificando-se 323 microfilarêmicos (1,4%). Entre os SC as taxas <strong>de</strong><br />
prevalência variaram <strong>de</strong> 0 a 25%.<br />
Fase 2 - Construção dos indicadores <strong>de</strong> carência social<br />
2.1 Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental (IRS)<br />
Os estratos <strong>de</strong> risco por SC foram or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> acordo com o ranking do IRS<br />
calculado, conforme disposto na Figura (1A). As taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção<br />
filarial para cada um dos estratos do IRS, indicam diferentes riscos <strong>de</strong> transmissão<br />
no município (Tabela 2). O estrato <strong>de</strong> alto risco (I) apresentou um risco <strong>de</strong> 4,58<br />
(3,02-6,99) maior que o estrato <strong>de</strong> baixo risco (III), revelando um excesso <strong>de</strong> 125<br />
casos (Tabela 2). Utilizando-se a taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial do estrato<br />
<strong>de</strong> baixo risco (I) como referência para o município, i<strong>de</strong>ntificou-se uma razão <strong>de</strong><br />
taxas <strong>de</strong> 2,83 e um excesso <strong>de</strong> 209 casos (Tabela 1). Para o IRS, também verificou-<br />
93
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
se que a taxa <strong>de</strong> prevalência mais elevada (93,14 por 100 mil habitantes)<br />
encontrava-se no estrato consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> alto risco pelo IRS (Tabela 1). Nesse<br />
estrato também foi <strong>de</strong>tectada a maior proporção <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> infecção filarial<br />
(49,54%).<br />
2.2 Indicador <strong>de</strong> Carência Social (ICS)<br />
O teste Bartlett’s sphericity e o KMO <strong>de</strong>monstraram a a<strong>de</strong>quação da análise<br />
fatorial realizada (Tabela 3). O eigenvalues > 1,5 e o gráfico Scree Plot, utilizados<br />
para avaliar o número <strong>de</strong> fatores a serem extraídos, indicaram a existência <strong>de</strong> três<br />
fatores que, em conjunto, explicaram 68,82% da variância total. O primeiro fator<br />
explicou 43,03% da variância total dos oito indicadores iniciais e constitui o indicador<br />
<strong>de</strong> carência social (ICS). A análise da consistência interna dos itens que compõem<br />
este fator foi feita por meio do alfa <strong>de</strong> Cronbach, que revelou um índice <strong>de</strong><br />
fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,7. Examinando-se as cargas fatoriais do primeiro fator, as<br />
variáveis renda, esgotamento sanitário ina<strong>de</strong>quado, escolarida<strong>de</strong> e coleta <strong>de</strong> lixo<br />
ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>stacam-se como as mais correlacionadas com este fator, por<br />
apresentarem coeficiente <strong>de</strong> correlação acima <strong>de</strong> 70% (Tabela 3).<br />
A Figura 1 (B) apresenta a estratificação do espaço segundo a carência social<br />
do ICS por SC. Em relação à análise das taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial,<br />
segundo os estratos <strong>de</strong> risco do ICS, observou-se uma taxa média <strong>de</strong> 57,45 (por 100<br />
mil habitantes) para o município (Tabela 1). Por sua vez, a taxa <strong>de</strong> prevalência mais<br />
elevada (73,69 por 100.000 habitantes) foi i<strong>de</strong>ntificada no estrato <strong>de</strong> alta carência<br />
social e esse estrato também concentrou a maior proporção <strong>de</strong> casos (50,46%)<br />
(Tabela 1).<br />
Quando se comparou a taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial (por 100 mil<br />
habitantes) do estrato I com as taxas dos estratos II, III e do município encontrou-se<br />
uma razão <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> 3,45 (estrato II/I), 3,62 (estrato III/I) e <strong>de</strong> 2,85 para o<br />
município/I (Tabela 2). Ao assumir a taxa <strong>de</strong> prevalência do estrato I como referência<br />
para o município, i<strong>de</strong>ntificou-se uma taxa <strong>de</strong> sobremorbida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (154,8%),<br />
equivalendo a um excesso <strong>de</strong> 125 casos da infecção (Tabela 1).<br />
94
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
Fase 3 - Análise espacial<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
A distribuição <strong>de</strong>sigual dos casos <strong>de</strong> infecção filarial no espaço urbano do<br />
município po<strong>de</strong> ser notada na Figura 1 (C e D). Pelo estimador Kernel i<strong>de</strong>ntificaram<br />
áreas com maior intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos (Curado, Cavaleiro, Floriano, Socorro, Zumbi,<br />
Sucupira, Jardim Jordão e Guararapes) e com menor intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos<br />
(Manassu, Vargem Fria e Bulhões) (Figura C e D). Examinando-se a estratificação<br />
dos SC segundo o IRS, observou-se uma concordância <strong>de</strong> 79,75% (130/163) entre<br />
os SC que compõem o estrato <strong>de</strong> alto risco (III) e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos pelo<br />
estimador Kernel. Para o baixo (I) e o médio (II) risco a concordância foi <strong>de</strong> 17,72%<br />
(57/161) e 35,40% (28/158) respectivamente. Po<strong>de</strong>-se observar uma concordância<br />
<strong>de</strong> 87,68% (121/138) entre os SC apontados como <strong>de</strong> alto risco (III) pelo ICS e pelo<br />
estimador Kernel. Para o estrato <strong>de</strong> baixo risco (I) a concordância foi <strong>de</strong> 20,59%<br />
(28/136) e para o estrato <strong>de</strong> médio risco (II) a concordância foi <strong>de</strong> 40,87% (85/208).<br />
Discussão<br />
Seguramente, para a maioria das doenças transmissíveis, sobretudo, as<br />
infecto-parasitárias, as condições econômicas, habitacionais, <strong>de</strong> saneamento<br />
ambiental, atuam fortemente como fatores <strong>de</strong>terminantes [34]-[36]. Portanto, a<br />
análise dos riscos e do padrão <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>ssas doenças exige um mo<strong>de</strong>lo que<br />
compreenda as conexões entre os processos socioambientais e o espaço geográfico<br />
on<strong>de</strong> elas se manifestam [37], [38]. Esse é o enfoque adotado pelos <strong>de</strong>nominados<br />
estudos ecológicos, os quais utilizam áreas geográficas como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise<br />
[39]. Por compreen<strong>de</strong>r que seriam os mais a<strong>de</strong>quados para i<strong>de</strong>ntificar os diferenciais<br />
<strong>de</strong> risco da filariose e os fatores explicativos, esse enfoque ecológico foi o adotado<br />
neste estudo.<br />
A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise adotada aqui foi o SC, a qual possibilitou a estratificação<br />
do espaço urbano e propiciou uma visão geral da situação coletiva <strong>de</strong> risco que<br />
po<strong>de</strong>m explicar os diferenciais na ocorrência da filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão<br />
dos Guararapes. Algumas investigações observaram que, quanto menor é a área <strong>de</strong><br />
referência, maior é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a população seja mais homogênea e se<br />
<strong>de</strong>tectem mais a<strong>de</strong>quadamente os diferenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> [11], [40]-[42].<br />
95
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Já na construção dos indicadores, foram empregadas variáveis sociais e<br />
ambientais relacionadas com as condições <strong>de</strong> vida da população e com a<br />
transmissão da doença [2], [31], [32]. Os estratos <strong>de</strong> riscos foram elaborados a partir<br />
<strong>de</strong> dois indicadores compostos: indicador <strong>de</strong> risco socioambiental<br />
(socioenvironmental composite risk indicator) e o indicador <strong>de</strong> carência social (social<br />
<strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x) utilizando dois métodos (formação <strong>de</strong> escores e análise fatorial,<br />
respectivamente). A análise foi incrementada com a aplicação do estimador <strong>de</strong><br />
intensida<strong>de</strong> Kernel para a i<strong>de</strong>ntificação dos aglomerados espaciais.<br />
De modo geral, observou-se nos resultados que a piora das condições sociais<br />
e ambientais estavam associadas ao aumento da taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção<br />
filarial. Além disso, os estratos <strong>de</strong> melhor condição social concentravam a menor<br />
proporção <strong>de</strong> casos. Reconhecidamente, as camadas mais pobres da população<br />
ten<strong>de</strong>m a apresentar maior risco <strong>de</strong> adoecer e morrer do que as camadas<br />
socialmente privilegiadas [43]-[47].<br />
O Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental se caracteriza como um método simples,<br />
fácil e <strong>de</strong> baixo custo para ser aplicado pelo programa <strong>de</strong> eliminação da filariose em<br />
áreas urbanas [31]. Esse indicador <strong>de</strong>monstrou sensibilida<strong>de</strong> para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
áreas <strong>de</strong> alto risco para ocorrência da filariose. Houve uma concordância <strong>de</strong> 79,75%<br />
do estrato <strong>de</strong> alto risco com as áreas <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos i<strong>de</strong>ntificadas pelo<br />
estimador Kernel.<br />
Braga et al. [2] avaliando a utilização <strong>de</strong> um indicador sintético <strong>de</strong> risco no<br />
município <strong>de</strong> Olinda, estado <strong>de</strong> Pernambuco, apontou a eficiência do método para a<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas prioritárias. Para os autores, a sensibilida<strong>de</strong> do indicador em<br />
predizer o local <strong>de</strong> ocorrência da maioria dos casos <strong>de</strong> filariose embasa o seu<br />
emprego nas intervenções <strong>de</strong> controle da en<strong>de</strong>mia. No presente estudo, o indicador<br />
socioambiental <strong>de</strong>monstrou que 49,54% dos casos <strong>de</strong> microfilaremia situavam-se no<br />
estrato <strong>de</strong> pior condição social, representando um risco <strong>de</strong> 4,58 vezes maior para<br />
esse estrato quando comparado com o <strong>de</strong> melhor condição socioambiental.<br />
Por sua vez, o indicador <strong>de</strong> carência social construído pelo método <strong>de</strong> análise<br />
fatorial por componentes principais explicou 68,82% da variância total e o primeiro<br />
fator explicou 43,03% da variância total. Nos resultados <strong>de</strong>sse indicador observou-se<br />
que o aumento da carência social por estrato <strong>de</strong> risco, também representou um<br />
aumento na taxa <strong>de</strong> prevalência. A análise da estratificação dos SC em comparação<br />
96
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
com o estimador Kernel <strong>de</strong>monstrou uma concordância <strong>de</strong> 87,68% das áreas <strong>de</strong> alta<br />
carência social com a concentração espacial <strong>de</strong> casos. Tal fato revela a<br />
potencialida<strong>de</strong> do indicador para apontar áreas prioritárias para a intervenção do<br />
programa <strong>de</strong> controle/eliminação da filariose.<br />
Os indicadores <strong>de</strong> risco constituem um instrumento prático para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
áreas mais vulneráveis que necessitam <strong>de</strong> maior priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações e recursos<br />
[12], [18], [19]. Ximenes et al. [30], discutindo a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
vigilância <strong>de</strong> doenças endêmicas em áreas urbanas fundamentado na construção <strong>de</strong><br />
um indicador sintético <strong>de</strong> risco, constataram que o indicador é uma ferramenta<br />
profícua para o planejamento e o gerenciamento das ações <strong>de</strong> controle. De forma<br />
similar, Souza et al. [48], analisando a ocorrência da tuberculose e as variáveis<br />
<strong>de</strong>finidoras <strong>de</strong> situação coletiva <strong>de</strong> risco, propõem um sistema <strong>de</strong> vigilância com<br />
base territorial, em contraposição à vigilância baseada no risco individual.<br />
Briggs [49] consi<strong>de</strong>ra um <strong>de</strong>safio o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> bons indicadores. O<br />
autor afirma que, para ser eficaz o indicador <strong>de</strong>ve preencher alguns critérios, tais<br />
como: reprodutibilida<strong>de</strong> científica (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser reproduzido e testado);<br />
simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaboração; sensibilida<strong>de</strong> para i<strong>de</strong>ntificar mudanças no evento em<br />
estudo; acessibilida<strong>de</strong> e baixo custo para elaboração e aplicação. Decerto os<br />
indicadores elaborados nesse estudo aten<strong>de</strong>m esses critérios, pois apresentaram<br />
sensibilida<strong>de</strong> na i<strong>de</strong>ntificação dos diferenciais intra-urbanos, são perfeitamente<br />
capazes <strong>de</strong> serem reproduzidos pelos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e apresentam um custo<br />
reduzido para aplicação pelos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Em ambos indicadores verificou-se que as maiores taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong><br />
infecção filarial situavam-se no estrato <strong>de</strong> alto risco. Também se observou uma<br />
significativa concordância entre os estratos <strong>de</strong> alto risco <strong>de</strong>signados pelos dois<br />
indicadores com a maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos segundo o estimador Kernel.<br />
O estudo, recorrendo à classificação por SC dos estratos <strong>de</strong> risco, aponta a<br />
relevância dos fatores socioeconômicos e ambientais na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas<br />
prioritárias para a intervenção dos serviços <strong>de</strong> vigilância e do planejamento <strong>de</strong> ações<br />
<strong>de</strong> controle da filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes. Por sua vez, a<br />
análise espacial também se revelou como uma importante ferramenta a ser utilizada<br />
na construção do sistema <strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong> base territorial.<br />
97
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Agra<strong>de</strong>cimentos: Ao Sr. João Quaresma, pelo incansável e minuncioso trabalho<br />
realizado no georreferenciamento dos casos <strong>de</strong> infecção filarial.<br />
98
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102
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Tabela 1 Indicadores <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> por filariose linfática segundo estratos <strong>de</strong> risco<br />
do ICS e do IRS, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil<br />
Indicador Socioambiental (IRS)<br />
Estrato Baixo (I) Médio (II) Alto (III) Jaboatão<br />
Positivos 28 135 160 323<br />
Negativos 7265 8183 7902 23350<br />
Examinados 7293 8318 8062 23673<br />
Taxa <strong>de</strong> prevalência 20,33 53,42 93,14 57,45<br />
Proporção <strong>de</strong> casos 8,67 41,80 49,54 100,00<br />
População 137741 252710 171780 562231<br />
Número <strong>de</strong> casos esperados 28 51 35 114<br />
Sobremorbida<strong>de</strong> abslouta 0 84 125 209<br />
Sobremorbida<strong>de</strong> relativa - 161,4 127,9 154,8<br />
Índice <strong>de</strong> Carência Social (ICS)<br />
Estrato Baixa (I) Média (II) Alta (III) Jaboatão<br />
Positivos 31 129 163 323<br />
Negativos 5918 10774 6658 23350<br />
Examinados 5949 10903 6821 23673<br />
Taxa <strong>de</strong> prevalência* 20,05 69,20 73,69 57,45<br />
Proporção <strong>de</strong> casos 9,60 39,94 50,46 100,00<br />
População 154608 186422 221201 562231<br />
Número <strong>de</strong> casos esperados 31 37 44 113<br />
Sobremorbida<strong>de</strong> abslouta 0 92 119 210<br />
Sobremorbida<strong>de</strong> relativa - 140,8 137,4 153,6<br />
* Taxa <strong>de</strong> prevalência por 100 mil habitantes<br />
103
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Tabela 2 Razão das taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial segundo os estratos <strong>de</strong><br />
risco do ICS e do IRS, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil<br />
Indicador <strong>de</strong> Risco Socioambiental (IRS)<br />
Prevalência<br />
Estrato<br />
RT IC 95% 2 p-valor<br />
II/I 2,62 1,72-4,04 22,59 0,00<br />
III/I 4,58 3,02-6,99 66,5 0,00<br />
Jaboatão/I 2,83 1,89-4,29 29,66 0,00<br />
Indicador <strong>de</strong> Carência Social (ICS)<br />
II/I 3,45 2.30-5,21 42,45 0,00<br />
III/I 3,62 2,43-5,42 48,3 0,00<br />
Jaboatão/I<br />
RT= razão <strong>de</strong> taxas<br />
2,85 1,94-419 33,15 0,00<br />
IC = Intervalo <strong>de</strong> confiança<br />
104
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Tabela 3 Resultados da Análise fatorial por componentes principais<br />
Bartlett’s<br />
Sphericity<br />
Condições <strong>de</strong> aplicação Matriz componentes principais<br />
gl = graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />
KMO = Kaiser-Mayer-Olkin<br />
Taxa <strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>quação Indicadores<br />
Fator<br />
1<br />
Fator<br />
2<br />
Fator<br />
3<br />
2 gl p-valor KMO Renda 0,86 0,17 0,05<br />
1162,417068 28
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Figura 1 (A) Distribuição dos estratos <strong>de</strong> risco por setor censitário segundo o IRS.<br />
(B) Distribuição dos estratos <strong>de</strong> risco por setor censitário segundo o ICS. (C)<br />
Distribuição dos estratos <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos segundo a estimativa <strong>de</strong> Kernel. (D)<br />
Distribuição pontual dos casos <strong>de</strong> filariose em sobreposição a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos<br />
com base na estimativa <strong>de</strong> Kernel. Município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes,<br />
Pernambuco, Brasil.<br />
106
4 DISCUSSÃO<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
Os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não se distribuem ao acaso, estão relacionados com<br />
os atributos individuais, com a localização geográfica, com o nível socioeconômico e<br />
educacional (BERNARD et al., 2007, BELL; SCHUURMAN; HAYES, 2007). A<br />
distribuição das doenças está associada à posição social, que por sua vez <strong>de</strong>fine as<br />
condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho dos indivíduos e grupos sociais e provocam<br />
diferenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (WHITEHEAD; DAHLGREN, 2006).<br />
O aumento ou a persistência das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r as relações entre o ambiente urbano e as condições <strong>de</strong> vida da<br />
população, especialmente, dos seguimentos socialmente mais <strong>de</strong>sfavorecidos, fez<br />
com que se buscasse na Geografia Crítica uma nova interpretação para a categoria<br />
espaço (ROJAS, 1998). Muito além do aspecto meramente físico, o espaço será<br />
consi<strong>de</strong>rado pela epi<strong>de</strong>miologia como um recurso teórico e como uma importante<br />
ferramenta para a compreensão da dinâmica do processo saú<strong>de</strong>-doença (ROJAS,<br />
2008, COSTA; TEIXEIRA, 1999). Logo, o espaço/território é entendido como uma<br />
dimensão constitutiva da situação social em que se encontram os diversos grupos<br />
populacionais no espaço urbano, sobretudo os <strong>de</strong> maior carência social. Esse é o<br />
entendimento <strong>de</strong> espaço apresentado na revisão <strong>de</strong> literatura feita no Artigo 1.<br />
Nesse Artigo a categoria espaço é um importante instrumental a ser utilizado nas<br />
análises, no planejamento e nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Para Akerman et al. (1994), a distribuição da população no espaço urbano<br />
das cida<strong>de</strong>s segue um padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, localizando-se na periferia os<br />
bolsões <strong>de</strong> pobreza e as piores condições <strong>de</strong> infra-estrutura. Nesse contexto, é que<br />
são produzidas as condições propícias para a expansão e a persistência <strong>de</strong> diversas<br />
doenças, sobretudo as infecto-parasitárias, intimamente relacionadas com as<br />
condições <strong>de</strong> vida da população (SABROZA; KAWA; CAMPOS; 1999). A filariose<br />
linfática é uma <strong>de</strong>ssas doenças da “pobreza”, cujo padrão <strong>de</strong> ocorrência está<br />
associado às precárias condições socioambientais (ALBUQURQUE, 1993, STREIT;<br />
LAFONTANT, 2008).<br />
108
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
A filariose linfática é uma das principais doenças tropicais negligenciadas,<br />
ocorre predominantemente nas áreas <strong>de</strong> baixo nível socioeconômico, on<strong>de</strong> a<br />
estrutura <strong>de</strong> saneamento ambiental é ina<strong>de</strong>quada e as condições <strong>de</strong> moradia são<br />
precárias, favorecendo a transmissão do parasito. Acomete indivíduos <strong>de</strong> todas as<br />
ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> ambos os sexos (MOTT et al, 1990, ALBUQUERQUE, 1993, ERLANGER<br />
et al., 2005, PERERA et al., 2007).<br />
No distrito <strong>de</strong> Jaboatão (Artigo 2), conforme os resultados do primeiro<br />
inquérito epi<strong>de</strong>miológico realizado na década <strong>de</strong> 1950 todos os casos positivos<br />
i<strong>de</strong>ntificados eram provenientes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife. Na época, a doença não foi<br />
consi<strong>de</strong>rada como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e a vigilância não foi exercida<br />
suficientemente (DOBBIN Jr; CRUZ, 1967). Após 41 anos da realização <strong>de</strong>sse<br />
inquérito, verificou-se que o bairro (Socorro) a apresentar a maior taxa <strong>de</strong><br />
prevalência e as condições mais precárias <strong>de</strong> saneamento ambiental foi o mesmo<br />
on<strong>de</strong> foram localizados os casos alóctones no passado.<br />
Além disso, os resultados <strong>de</strong>sse inquérito epi<strong>de</strong>miológico são bastante<br />
significativos em caracterizar a en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> da filariose: com o encontro <strong>de</strong> casos<br />
em todas as faixas etárias, especialmente entre os mais jovens (DUNYO et al.,<br />
1996). Outro indicativo <strong>de</strong> en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> é a positivida<strong>de</strong> encontrada em mais <strong>de</strong><br />
80% dos bairros do distrito <strong>de</strong> Jaboatão (Artigo 2). Esta en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> é, sobretudo,<br />
resultado das condições <strong>de</strong> vida precárias da população.<br />
A cobertura <strong>de</strong>ficitária do sistema <strong>de</strong> esgotamento sanitário do município <strong>de</strong><br />
Jaboatão dos Guararapes é retratada pela presença <strong>de</strong> fossas sépticas<br />
rudimentares e valas; além dos <strong>de</strong>jetos lançados a céu aberto, que favorecem<br />
significativamente a proliferação do mosquito vetor. Tal precarieda<strong>de</strong> configura um<br />
espaço social e ambientalmente <strong>de</strong>finido favorável à prevalência da doença. Esta é<br />
uma paisagem que não <strong>de</strong>ve ser menosprezada em um estudo sobre os<br />
condicionantes da doença naquele município.<br />
Uma análise abrangente e consistente sobre os condicionantes da<br />
prevalência <strong>de</strong> microfilaremia <strong>de</strong>ve enfatizar, por conseguinte, a categoria espaço. A<br />
utilização do espaço geográfico como categoria analítica <strong>de</strong>staca o papel dos<br />
<strong>de</strong>terminantes sociais e ambientais que atuam sobre a saú<strong>de</strong> das populações. A<br />
distribuição da doença entre os diversos grupos sociais é melhor aproximada pelo<br />
recurso à categoria espaço. Uma análise que tem por objetivo precisar a prevalência<br />
109
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
da doença no espaço, espaço esse socialmente caracterizado; é um instrumento útil<br />
ao planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> prevenção e controle <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias e agravos à saú<strong>de</strong><br />
da população (KRIEGER, 2003, CROMLEY, 2003).<br />
Contudo, a associação analítica entre o espaço e a prevalência da<br />
microfilaremia <strong>de</strong>ve ser efetuada utilizando-se os indicadores <strong>de</strong> risco ou <strong>de</strong><br />
condição <strong>de</strong> vida. Uma das mais importantes questões para o diagnóstico da<br />
situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na atualida<strong>de</strong>, consiste no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> índices que<br />
sejam capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar condições <strong>de</strong> risco advindas <strong>de</strong> circunstâncias sociais e<br />
ambientais adversas no interior das comunida<strong>de</strong>s, relacionando-as a unida<strong>de</strong>s<br />
espaciais <strong>de</strong>finidas, tais como: municípios, bairros, setores censitários, logradouros,<br />
entre outros (BERNARD et al., 2007, BARCELLOS et al., 2002, AKERMAN;<br />
CAMPANARIO; MAIA, 1996, CHIESA; WESTPHAL; AKERMAN, 2008, GUIMARÃES<br />
et al., 2003, NIGGEBRUGGE et al., 2005, HAVARD et al., 2007, DOMÍNGUEZ-<br />
BERJÓN et al. 2008).<br />
O Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental é caracterizado como um método<br />
simples, fácil e <strong>de</strong> baixo custo para ser aplicado pelo programa <strong>de</strong> eliminação da<br />
filariose em áreas urbanas (Artigo 3). Sua metodologia <strong>de</strong> construção consiste na<br />
padronização <strong>de</strong> variáveis originais, que passam a ser apresentadas como<br />
proporção da unida<strong>de</strong>. A padronização é obtida pelo <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> cada variável em<br />
relação à média. A composição do indicador é feita pela média aritmética das<br />
variáveis padronizadas. A vantagem <strong>de</strong>sse método está em sua simplicida<strong>de</strong>. A<br />
<strong>de</strong>svantagem está no peso uniforme atribuído a cada variável do indicador.<br />
Aplicando o conceito <strong>de</strong> indicador <strong>de</strong> risco ambiental ao município <strong>de</strong><br />
Jaboatão dos Guararapes (Artigo 3), constatou-se que 73% dos casos <strong>de</strong><br />
microfilaremia estavam na área <strong>de</strong> alto risco, ou seja, <strong>de</strong> pior condição<br />
socioambiental. Isto significa que há um risco 4,86 vezes maior <strong>de</strong> ocorrerem casos<br />
<strong>de</strong> filariose nessa área do que na <strong>de</strong> baixo risco. Tal fato <strong>de</strong>monstra a sensibilida<strong>de</strong><br />
do indicador para <strong>de</strong>tectar os locais com maior risco <strong>de</strong> transmissão. A<br />
caracterização <strong>de</strong>ssas áreas configura o indicador como uma ferramenta que po<strong>de</strong><br />
ser empregada nos programas <strong>de</strong> controle da filariose.<br />
Recorrendo a procedimentos estatísticos mais sofisticados, tais como análise<br />
fatorial por componentes principais, foi possível elaborar um social <strong>de</strong>privation ín<strong>de</strong>x<br />
(Artigo 4). Conforme essa técnica, a composição do indicador obe<strong>de</strong>ce ao padrão <strong>de</strong><br />
110
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada variável. Os fatores que comporão o indicador são obtidos<br />
através da combinação linear das variáveis. Os pesos empregados são aqueles<br />
fornecidos pela aplicação do método estatístico, estando ausente, portanto, a<br />
sugestão subjetiva, implícita no método anterior.<br />
Na análise das variáveis socioambientais (Artigo 4) observou-se que em<br />
65,42% dos bairros, o esgotamento sanitário era ina<strong>de</strong>quado. Além disso, as<br />
variáveis coleta <strong>de</strong> lixo ina<strong>de</strong>quada e abastecimento <strong>de</strong> água ina<strong>de</strong>quado estavam<br />
fortemente correlacionadas. Os indicadores relacionados ao saneamento ambiental<br />
em conjunto com a aglomeração no domicílio e a forma <strong>de</strong> ocupação explicaram<br />
52,95% da variância total e constituíram o social <strong>de</strong>privation ín<strong>de</strong>x. Isso atesta a<br />
importância dos fatores ambientais na transmissão da filariose linfática. As variáveis<br />
<strong>de</strong> renda e escolarida<strong>de</strong> constituíram um segundo fator que explicou 27,66% da<br />
variância total, reforçando a relevância dos fatores sociais e ambientais na<br />
transmissão da filariose linfática.<br />
Por sua vez, o mo<strong>de</strong>lo linear generalizado (Artigo 4), com função <strong>de</strong> ligação<br />
logística <strong>de</strong>monstrou que a presença <strong>de</strong> 10 ou mais moradores no domicílio<br />
(aglomeração) foi o indicador que mais contribuiu com o aumento da taxa <strong>de</strong><br />
prevalência (5,53%). Os indicadores <strong>de</strong> aglomeração e forma <strong>de</strong> ocupação do<br />
domicílio estavam fortemente correlacionados. Esses achados corroboram as<br />
conclusões <strong>de</strong> Baruah e Rai (2000) ao afirmarem que a precarieda<strong>de</strong> das<br />
construções favorecia a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> vetorial e aumentava a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
transmissão no interior das habitações.<br />
Com relação à unida<strong>de</strong> geográfica <strong>de</strong> análise, adotou-se o SC (Artigos 3 e 5),<br />
por ser a unida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação permitida pelo censo. Acrescente-se a<br />
isso o fato <strong>de</strong> que as áreas menores são mais homogêneas internamente (CANO-<br />
SERRAL et al., 2009). Segundo Castellanos (1990) nos estudos sobre condições <strong>de</strong><br />
vida, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise é o espaço-população que <strong>de</strong>ve ser o mais homogênea<br />
possível no seu interior. Para a análise <strong>de</strong> carência social utilizando-se a análise<br />
fatorial por componentes principais, o bairro representou uma importante unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
agregação, pois possibilitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> diferenciais nas condições <strong>de</strong> vida da<br />
população, além <strong>de</strong> ser uma unida<strong>de</strong> reconhecida tanto pela população quanto pelas<br />
autorida<strong>de</strong>s da administração pública (Artigo 4).<br />
111
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
A utilização das técnicas <strong>de</strong> geoprocessamento (Artigo 5) possibilitam a<br />
sobreposição <strong>de</strong> informações sociais, ambientais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> auxiliando na<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas e grupos prioritários para o planejamento <strong>de</strong> ações pelo po<strong>de</strong>r<br />
público, tornando a análise social mais rica (GOLDSTEIN; BARCELLOS, 2008).<br />
A análise espacial caracteriza-se por mensurar relações sociais, ambientais e<br />
geográficas sob o prisma da localização geográfica (CÂMARA et al., 2002). Do<br />
mesmo modo, a análise espacial em saú<strong>de</strong> reporta-se ao emprego <strong>de</strong> métodos<br />
quantitativos nos estudos, cujo objeto é geograficamente <strong>de</strong>finido. Com a utilização<br />
da análise espacial, objetiva-se: i<strong>de</strong>ntificar padrões espaciais da morbida<strong>de</strong> ou da<br />
mortalida<strong>de</strong> e quais os fatores associados; <strong>de</strong>screver os processos <strong>de</strong> difusão das<br />
doenças e produzir informações sobre a sua etiologia e, conseqüentemente,<br />
contribuir para o seu controle (MEDRONHO; WERNECK, 2009). Para Barcellos et al.<br />
(2002), a análise espacial tem por mérito contribuir para a compreensão dos<br />
processos socioambientais, uma vez que recupera o contexto no qual os eventos <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> ocorrem. Isto, sob a perspectiva que vai além da individual, numa perspectiva<br />
do coletivo.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> técnicas e métodos <strong>de</strong> diagnóstico coletivos que<br />
tenham potencialida<strong>de</strong> para i<strong>de</strong>ntificar grupos ou áreas <strong>de</strong> risco no interior das<br />
comunida<strong>de</strong>s, e que possam ser utilizados no planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> prevenção<br />
e controle <strong>de</strong> doenças e agravos à saú<strong>de</strong> da população constitui um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />
para os epi<strong>de</strong>miologistas e planejadores da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (BARCELLOS et al.,<br />
2002, AKERMAN et al., 1994, AKERMAN, 1997, 2000, AKERMAN; BOUSQUAT,<br />
1999, SOUZA et al., 2000, BRAGA et al., 2001, GUIMARÃES, et al., 2003<br />
LACERDA; CALVO; FREITAS, 2002, CHIESA; WESTPHAL; KASHIWAGI, 2002,<br />
MONKEN, BARCELLOS, 2005).<br />
112
5 CONCLUSÃO<br />
Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />
<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />
a) A construção <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> risco feita pelo estudo propõe uma mudança na<br />
abordagem tradicionalmente adotada pelo programa <strong>de</strong> controle da en<strong>de</strong>mia,<br />
baseado no risco individual, para uma abordagem <strong>de</strong> base populacional, centrada<br />
no risco coletivo.<br />
b) O uso das técnicas <strong>de</strong> geoprocessamento e <strong>de</strong> análise espacial (estimador <strong>de</strong><br />
intensida<strong>de</strong> Kernel) permitiu localizar com precisão os casos <strong>de</strong> filariose e<br />
<strong>de</strong>monstraram que a distribuição não ocorre <strong>de</strong> forma aleatória no espaço urbano<br />
do município (Artigo 5). Há uma concentração <strong>de</strong> casos nas áreas apontadas<br />
como <strong>de</strong> alto risco, pelos indicadores (Artigo 5). Essa i<strong>de</strong>ntificação contribui<br />
sobremaneira para o reconhecimento <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> transmissão no espaço urbano<br />
do município. O mapeamento da distribuição dos casos <strong>de</strong> infecção e <strong>de</strong> doença<br />
é consi<strong>de</strong>rado essencial para a implantação das ações e constitui uma etapa do<br />
diagnóstico da situação epi<strong>de</strong>miológica da filariose.<br />
c) A caracterização das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais i<strong>de</strong>ntificadas no estudo possibilita não<br />
apenas o direcionamento mais preciso das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas também<br />
favorecem a intersetorialida<strong>de</strong> das ações. De fato, a precisa i<strong>de</strong>ntificação das<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s socioespaciais contribuirá para que as políticas públicas enfrentem<br />
<strong>de</strong> forma mais eficaz a questão da pobreza urbana.<br />
d) As políticas públicas, <strong>de</strong> um modo geral, e as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, em particular, são<br />
mais eficazes na solução <strong>de</strong> problemas sociais quando conseguem atingir, <strong>de</strong><br />
fato, a população necessitada. Tal objetivo é facilitado satisfatoriamente quando<br />
há a <strong>de</strong>limitação geográfica das áreas, como feito no estudo. Daí a importância <strong>de</strong><br />
um método que consi<strong>de</strong>re a dimensão territorial como uma das diretrizes do<br />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, contribuindo, <strong>de</strong>ssa forma, para o planejamento, o<br />
monitoramento e vigilância das ações <strong>de</strong> eliminação da filariose linfática.<br />
114
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