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Cristine Bonfim - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - Fiocruz

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Fundação Oswaldo Cruz<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />

Curso <strong>de</strong> Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública<br />

Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública<br />

<strong>Cristine</strong> Vieira do <strong>Bonfim</strong><br />

FILARIOSE BANCROFTIANA: ANÁLISE ESPACIAL<br />

DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE<br />

JABOATÃO DOS GUARARAPES<br />

Recife<br />

2009<br />

2009


CRISTINE VIEIRA DO BONFIM<br />

FILARIOSE BANCROFTIANA: ANÁLISE ESPACIAL<br />

DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE<br />

JABOATÃO DOS GUARARAPES<br />

Orientadores<br />

Profª. Dra. Zulma Me<strong>de</strong>iros<br />

Prof. Dr. José Luiz Portugal<br />

Recife<br />

2009<br />

Tese apresentada ao Curso <strong>de</strong><br />

Doutorado em Saú<strong>de</strong> Publica do<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />

<strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz<br />

para obtenção do grau <strong>de</strong> doutor em<br />

Ciências.


Catalogação na fonte: Biblioteca do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />

B713f<br />

<strong>Bonfim</strong>, <strong>Cristine</strong> Vieira do.<br />

Filariose bancroftiana: análise espacial das<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais no município <strong>de</strong> Jaboatão dos<br />

Guararapes / <strong>Cristine</strong> Vieira do <strong>Bonfim</strong>. – Recife: C. V.<br />

do <strong>Bonfim</strong>, 2009.<br />

130 f. : il., graf., mapas.<br />

Tese (Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública) — <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo<br />

Cruz, 2009.<br />

Orientadores: Zulma Me<strong>de</strong>iros, José Luiz Portugal.<br />

1. Filariose. 2. Desigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. 3. Indicador <strong>de</strong><br />

risco. 4. Áreas <strong>de</strong> pobreza. 5. Distribuição espacial. I.<br />

Me<strong>de</strong>iros, Zulma Maria <strong>de</strong>. II.Portugal, José Luiz. III.<br />

Título.<br />

CDU 616.995.132.


CRISTINE VIEIRA DO BONFIM<br />

FILARIOSE BANCROFTIANA: ANÁLISE ESPACIAL<br />

DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO MUNICÍPIO DE<br />

JABOATÃO DOS GUARARAPES<br />

Aprovada em 01/06/2009<br />

BANCA EXAMINADORA<br />

Professora Dra. Mônica Maria Ozório<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />

Professor Dr. Demócrito <strong>de</strong> Barros Miranda Filho<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco<br />

Professora Dra. Zulma Me<strong>de</strong>iros<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />

Professora Dra. Maria Cynthia Braga<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />

Professora Dra. Idê Gomes Dantas Gurgel<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />

Suplentes<br />

Tese apresentada ao Curso <strong>de</strong><br />

Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública do<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />

<strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo<br />

Cruz para obtenção do grau <strong>de</strong><br />

doutor em Ciências.<br />

Professora Dra. Maria José Bezerra Guimarães<br />

Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco<br />

Professor Dr. Fábio Lopes <strong>de</strong> Melo<br />

<strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>


À Dinilson, pela forma especial com que tem me ajudado a contruir a vida.<br />

À minha avó, Severina, pelo carinho com que sempre esteve ao meu lado.<br />

À H. e R., meus anjos-da-guarda.


À Fábio José Delgado Lessa (In memorian), pela<br />

competência, pela serieda<strong>de</strong>, pela <strong>de</strong>dicação e<br />

compromisso com a produção científica/acadêmica e<br />

pela disponibilida<strong>de</strong> em compartilhar seus conhecimentos<br />

conosco, exemplo a ser seguido durante toda minha<br />

carreira profissional.


AGRADECIMENTOS<br />

À minha orientadora e amiga, Dra. Zulma Me<strong>de</strong>iros por todo apoio, <strong>de</strong>dicação<br />

e incentivo para a realização <strong>de</strong>sse trabalho.<br />

À Dinilson Pedroza Júnior, que sempre motivou meu crescimento profissional<br />

e pelas sensatas sugestões feitas ao trabalho.<br />

À Maria José Evangelista Netto e Ana Maria Aguiar-Santos, pelas leituras e<br />

sugestões e, sobretudo, pelo estímulo para realizar o trabalho.<br />

estudo.<br />

Ao Dr. José Luiz Portugal, pela valiosa contribuição para a realização <strong>de</strong>sse<br />

Ao João Quaresma, pela importante participação no trabalho <strong>de</strong> campo e pela<br />

incansável e criteriosa busca dos casos positivos na etapa do georreferenciamento.<br />

À Conceição Oliveira, Ayla Alves e José Costa, pela contribuição no inquérito<br />

epi<strong>de</strong>miológico.<br />

À Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, pelo apoio logístico<br />

durante a execução do inquérito epi<strong>de</strong>miológico.<br />

Aos agentes da Filariose da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos<br />

Guararapes, pelo <strong>de</strong>dicado trabalho durante a execução do inquérito epi<strong>de</strong>miológico.<br />

Ao Departamento <strong>de</strong> Parasitologia do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />

<strong>Magalhães</strong>, pela qualida<strong>de</strong> técnica e pelo apoio oferecido durante a realização do<br />

curso.<br />

À Fundação Joaquim Nabuco, em especial à Dra. Isolda Belo da Fonte, pela<br />

compreensão e incentivo necessários à conclusão do trabalho.<br />

Aos amigos da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Recife, em especial, ao Distrito<br />

Sanitário IV, pelo estímulo e encorajamento para realização do curso.<br />

Ao corpo docente e funcional do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, pela<br />

atenção e proficiência no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas atribuições.<br />

À Dra. Cynthia Braga, que, com toda atenção, dispôs <strong>de</strong> seu tempo para ser<br />

parecerista do estudo.<br />

no estudo.<br />

À população do município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, por sua participação<br />

Aos amigos do curso <strong>de</strong> Doutorado: Betise, Carmelita, Débora, Daniela,<br />

Denise, Karina, Gisele, Henrique, Jória, Milena, Sidney e Tereza, pela relação <strong>de</strong><br />

companheirismo construída ao longo <strong>de</strong>sses quatro anos.


Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.


Favela. João Werner. Dezembro <strong>de</strong> 2002.<br />

O eesspaçço <strong>de</strong>epeen<strong>de</strong>e dass rreel laççõeess ssocci iai iss parra<br />

cconffeerri irr-l lhee a ssua eexxi issttêêncci ia ssocci ial l. .<br />

((Mi il ltton Santtoss))<br />

See a ssaú<strong>de</strong>e públ li icca <strong>de</strong>esseejja prreesseerrvvarr ee prromovveerr<br />

a vvi ida,, <strong>de</strong>evvee ccomprreeeen<strong>de</strong>err o papeel l do tteerrrri ittórri io<br />

ccomo cconfforrmaçção <strong>de</strong>e ambi ieentteess quee prrotteegeem<br />

ou ameeaççam a vvi ida. .<br />

((Paul lo Chagasstteel ll leess Sabrrozza))


BONFIM, <strong>Cristine</strong> Vieira do. Filariose bancroftiana: análise espacial das<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes. 2009. Tese<br />

(Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública) – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação<br />

Oswaldo Cruz, Recife, 2009.<br />

RESUMO<br />

A filariose linfática é uma das principais doenças tropicais negligenciadas. Trata-se<br />

<strong>de</strong> uma doença intimamente associada à pobreza, ao saneamento ina<strong>de</strong>quado e ao<br />

sub<strong>de</strong>senvolvimento. No Brasil, sua transmissão está limitada à Região<br />

Metropolitana do Recife, estado <strong>de</strong> Pernambuco. A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas<br />

estratégias <strong>de</strong> controle fez com que a filariose fosse consi<strong>de</strong>rada como uma doença<br />

infecciosa potencialmente erradicável. O objetivo <strong>de</strong>sta tese é analisar a relação<br />

entre a prevalência da filariose bancroftiana e os <strong>de</strong>terminantes socioambientais em<br />

espaços intra-urbanos no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes - PE, Brasil. Para<br />

tanto, foi realizada, inicialmente, uma revisão bibliográfica sobre a categoria espaço,<br />

ressaltando as implicações da organização social do espaço para a saú<strong>de</strong> da<br />

população e <strong>de</strong> sua aplicação no cotidiano dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Essa<br />

compreensão <strong>de</strong> espaço irá embasar as <strong>de</strong>mais análises feitas no trabalho. No<br />

estudo ecológico, utilizaram-se variáveis socioeconômicas e ambientais obtidas do<br />

Censo Demográfico 2000 e <strong>de</strong> um inquérito parasitológico realizado para avaliar a<br />

situação epi<strong>de</strong>miológica da filariose naquele município. Foram construídos<br />

indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida, formulados por dois métodos: formação <strong>de</strong> escores<br />

(indicador <strong>de</strong> risco socioambiental) e análise fatorial por componentes principais<br />

(indicador <strong>de</strong> carência social). Para i<strong>de</strong>ntificar os aglomerados espaciais <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />

microfilaremia, foi empregado o estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel. Os resultados do<br />

inquérito parasitológico caracterizam a en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> da filariose no município, com<br />

o encontro <strong>de</strong> casos em todas as faixas etárias, especialmente entre os mais jovens;<br />

manifestações clínicas e taxas <strong>de</strong> prevalência consi<strong>de</strong>radas altas. Os indicadores<br />

confirmaram a associação entre condições sociais e ambientais precárias e<br />

elevadas taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial. O uso da análise espacial<br />

(estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel) permitiu localizar com precisão os casos <strong>de</strong><br />

filariose e esclarecer que a distribuição não ocorre <strong>de</strong> forma aleatória no espaço<br />

urbano do município. Há uma concentração <strong>de</strong> casos nas áreas consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong><br />

alto risco pelos indicadores. Essa i<strong>de</strong>ntificação contribui para o reconhecimento <strong>de</strong><br />

áreas <strong>de</strong> transmissão e, conseqüentemente, para o planejamento, o monitoramento<br />

e vigilância das ações <strong>de</strong> eliminação da filariose linfática.<br />

Palavras chaves: Filariose. Desigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. Indicador <strong>de</strong> risco. Áreas <strong>de</strong><br />

pobreza. Distribuição espacial.


BONFIM, <strong>Cristine</strong> Vieira do. Bancroftian filariasis: spatial analysis of social<br />

inequalities in the municipality of Jaboatão dos Guararapes. 2009. Tese<br />

(Doutorado em Saú<strong>de</strong> Pública) – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação<br />

Oswaldo Cruz, Recife, 2009.<br />

ABSTRACT<br />

Lymphatic filariasis is one of the principal neglected tropical diseases. It is closely<br />

associated with poverty, ina<strong>de</strong>quate sanitation and un<strong>de</strong>r<strong>de</strong>velopment. In Brazil, its<br />

transmission is limited to the Metropolitan Region of Recife, in the State of<br />

Pernambuco. The availability of new control strategies has ma<strong>de</strong> it possible to<br />

consi<strong>de</strong>r filariasis to be a potentially eradicable infectious disease. The aim of this<br />

thesis was to analyze the relationship between the prevalence of Bancroftian<br />

filariasis and the socioenvironmental <strong>de</strong>terminants within urban spaces in the<br />

municipality of Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brazil. For this, an initial<br />

bibliographic review on spatial categories was conducted, with emphasis on the<br />

implications of the social organization of such spaces for the population’s health and<br />

their day-to-day application within healthcare services. This un<strong>de</strong>rstanding of such<br />

spaces would form the basis of the subsequent analyses performed for this study. An<br />

ecological analysis was conducted using socioeconomic and environmental variables<br />

obtained from the 2000 <strong>de</strong>mographic census and from a parasitological survey that<br />

was carried out to assess the epi<strong>de</strong>miological situation of filariasis in that<br />

municipality. Living Indicators of living conditions were constructed, formulated by<br />

two methods: score formation (socioenvironmental risk indicator) and principal<br />

component factor analysis (social <strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x). To i<strong>de</strong>ntify spatial clusters of<br />

microfilaremia cases, the kernel severity estimator was used. The results from the<br />

parasitological survey characterized filariasis as en<strong>de</strong>mic in the municipality, with<br />

findings of cases in all age groups and especially among the youngest individuals,<br />

clinical manifestations and prevalence rates that were consi<strong>de</strong>red high. The<br />

indicators confirmed that there was an association between precarious<br />

socioenvironmental conditions and high prevalence rates of filarial infection. The use<br />

of spatial analysis (kernel intensity estimator) ma<strong>de</strong> it possible to precisely locate the<br />

filariasis cases and ma<strong>de</strong> it clear that their distribution within the urban space of the<br />

municipality was not random. The cases were concentrated in the areas that were<br />

consi<strong>de</strong>red to present high risk according to the indicators. I<strong>de</strong>ntifying this contributed<br />

towards recognizing transmission areas and consequently towards planning,<br />

monitoring and surveillance of actions for eliminating lymphatic filariasis.<br />

keywords: Filariasis. Health Inequalities. Risk In<strong>de</strong>x. Poverty Areas. Resi<strong>de</strong>nce<br />

Characteristics.


1 INTRODUÇÃO 12<br />

1.1 Epi<strong>de</strong>miologia e Distribuição Espacial da Filariose Linfática<br />

Bancroftiana<br />

13<br />

1.2 Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose no Brasil 21<br />

1.3 Organização espacial e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> 25<br />

1.4 Filariose Linfática e organização espacial: interação entre fatores<br />

sociais e ambientais<br />

35<br />

1.5 Justificativa 41<br />

1.6 Hipótese 42<br />

2 OBJETIVOS 43<br />

2.1 Objetivo geral 44<br />

2.2 Objetivos Específicos 44<br />

3 ARTIGOS 45<br />

3.1 Epi<strong>de</strong>miologia e geografia: dos primórdios ao geoprocessamento 46<br />

3.2 The epi<strong>de</strong>miological <strong>de</strong>limitation of lymphatic filariasis in an<br />

en<strong>de</strong>mic area of Brazil, 41 years after the first recor<strong>de</strong>d case<br />

57<br />

3.3 A socioenvironmental composite in<strong>de</strong>x as a tool for i<strong>de</strong>ntifying<br />

urban areas at risk of Lymphatic filariasis<br />

69<br />

3.4 Social <strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x and lymphatic filariasis: a tool for<br />

mapping urban areas at risk in northeastern Brazil<br />

78<br />

3.5 Comparação <strong>de</strong> ferramentas epi<strong>de</strong>miológicas para a 86<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose linfática<br />

4 DISCUSSÃO 107<br />

5 CONCLUSÃO 113<br />

REFERÊNCIAS 115<br />

ANEXO 129<br />

Anexo A – Parecer do Comitê <strong>de</strong> Ética


1 INTRODUÇÃO<br />

Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

1.1Epi<strong>de</strong>miologia e Distribuição Espacial da Filariose Linfática Bancroftiana no<br />

Mundo<br />

A filariose linfática é uma doença produzida por helmintos da classe<br />

Nematoda das espécies Wuchereria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori. Desses<br />

três nematói<strong>de</strong>s, a W. bancrofti é responsável por mais <strong>de</strong> 90% dos casos <strong>de</strong><br />

infecção filarial no mundo (MICHAEL; BUNDY, 1997, MICHAEL; BUNDY;<br />

GRENFELL, 1996). Nas Américas, apenas a primeira <strong>de</strong>ssas espécies tem<br />

relevância médica (REY, 1991). Destaca-se como um importante problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

no mundo <strong>de</strong>vido aos seus aspectos clínicos, à ampla distribuição geográfica e às<br />

perdas sociais, físicas e econômicas que acarreta (OTTESEN, 2006).<br />

Apresenta um diversificado espectro <strong>de</strong> manifestações clínicas, com sinais e<br />

sintomas que variam <strong>de</strong> acordo com a resposta imunológica do hospe<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>finitivo<br />

e do estádio do verme adulto envolvido na infecção filarial (DREYER; COUTINHO;<br />

ALBUQUERQUE, 1989, DREYER; NORÕES, 1997a,b). Ocorrem apresentações<br />

crônicas (hidrocele, linfe<strong>de</strong>ma, quilúria e mais raramente eosinofilia pulmonar<br />

tropical - EPT), agudas (linfa<strong>de</strong>nite, linfangite, <strong>de</strong>ntre outras) e assintomáticas<br />

(ADDIS; BRADY, 2007). Estima-se que <strong>de</strong> 15 a 20% dos indivíduos infectados<br />

possam evoluir para doença filarial (DREYER; NORÕES, 1997a).<br />

Reconhecida como a principal causa <strong>de</strong> sofrimento clínico e incapacida<strong>de</strong> na<br />

população mundial, a filariose representa uma pesada carga social e econômica<br />

tanto para os indivíduos como para a socieda<strong>de</strong> (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE<br />

SAÚDE, 2007). A doença, em sua forma crônica, é incapacitante e estigmatizante,<br />

acarretando contun<strong>de</strong>ntes conseqüências sociais, econômicas e psicológicas, tanto<br />

para os indivíduos afetados quanto para as populações, <strong>de</strong> uma maneira geral<br />

(ADDIS; BRADY, 2007, ESTAMBALE et al., 1994, GYAPONG; MAGNSSEN; BINKA,<br />

1994, MOHAMMED et al., 2006, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1994; 2004<br />

RAMAIAH et al., 2000, SHERCHAND et al. 2003). Estimam-se em um bilhão <strong>de</strong><br />

13


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

dólares anuais os prejuízos na produtivida<strong>de</strong> das famílias afetadas pela doença<br />

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).<br />

Segundo a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), 40 milhões <strong>de</strong> pessoas no<br />

mundo apresentam formas crônicas da doença. Quase 25 milhões <strong>de</strong> homens<br />

sofrem <strong>de</strong> patologia genital (mais comumente hidrocele); aproximadamente 15<br />

milhões <strong>de</strong> pessoas (a maioria <strong>de</strong>las mulheres) têm linfe<strong>de</strong>ma ou elefantíase nos<br />

membros inferiores (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2007).<br />

A transmissão da filariose apresenta como características marcantes do seu<br />

ciclo evolutivo a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um estádio <strong>de</strong> maturação realizado em um<br />

inseto artrópo<strong>de</strong> hematófago (hospe<strong>de</strong>iro intermediário) e também um período <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento com ativida<strong>de</strong> reprodutora no hospe<strong>de</strong>iro vertebrado (presença <strong>de</strong><br />

vermes adultos nos vasos linfáticos e microfilárias na circulação sangüínea).<br />

Tratando-se da W. bancrofti, o único hospe<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>finitivo é o homem (DREYER,<br />

1994, NAPIER, 1944, REY, 1991).<br />

Nas regiões on<strong>de</strong> o Culex quinquefasciatus é o principal transmissor, as<br />

microfilárias tem periodicida<strong>de</strong> noturna. Tal fato po<strong>de</strong> estar relacionado com o<br />

horário <strong>de</strong> hematofagia do vetor (EDESON; HAWKING; SYMES, 1957, HAWKING;<br />

THURSTON, 1951, NAPIER, 1944). Especificamente na Região Metropolitana do<br />

Recife (RMR), o C. quinquefasciatus é o vetor implicado na transmissão da<br />

parasitose (RACHOU, 1956) e a periodicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microfilaremia ocorre entre<br />

23h00min até 01h00min (DREYER; MEDEIROS, 1990, RACHOU, 1956). Este inseto<br />

constitui-se como o principal vetor da filariose bancroftiana em áreas urbanas ou<br />

semi-urbanas das regiões tropicais, respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong> 50% da transmissão<br />

mundial (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1992).<br />

O C. quinquefasciatus, principal transmissor da filariose bancroftiana, é um<br />

mosquito perfeitamente adaptado às áreas urbanas e semi-urbanas, cujo habitat<br />

preferencial são as áreas on<strong>de</strong> exista acúmulo <strong>de</strong> água com alto teor <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica, isto é, locais em que as condições sanitárias sejam precárias e o<br />

saneamento ambiental ina<strong>de</strong>quado (ALBUQUERQUE, 1993, MOTT et al., 1990,<br />

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1988; 1992; 1994).<br />

O crescimento urbano rápido e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado que vem ocorrendo na maioria<br />

dos países, principalmente nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos, provocou fortes impactos<br />

14


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

nas condições ambientais e sociais das cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido à migração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

segmentos populacionais das áreas rurais para as urbanas, os quais fixaram<br />

residência nas periferias, em áreas insalubres <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> infra-<br />

estrutura a<strong>de</strong>quado (RILEY et al., 2007). Nesse contexto, são produzidas as<br />

condições propícias para a expansão e a persistência <strong>de</strong> diversas en<strong>de</strong>mias, em<br />

especial as doenças infecciosas e parasitárias (DIPs) (SABROZA; KAWA; CAMPOS,<br />

1999).<br />

Em 1993, a Força Tarefa Internacional para Erradicação <strong>de</strong> Doenças elegeu a<br />

filariose linfática como uma das seis doenças infecciosas erradicáveis ou<br />

potencialmente erradicáveis (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND<br />

PREVENTION, 1993). Em 1997, a Assembléia da OMS, consi<strong>de</strong>rando a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas técnicas <strong>de</strong> diagnóstico e a estratégia <strong>de</strong> tratamento em<br />

massa adotou a resolução 50.29, a qual iniciou um programa global para a<br />

eliminação da filariose como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública até o ano <strong>de</strong> 2020<br />

(OTTESEN et al., 1997).<br />

Das (2005) afirma, que embora, no início esta pareça ser uma tarefa<br />

intimidante, existem razões <strong>de</strong> otimismo, que incluem: (a) plausibilida<strong>de</strong> biológica,<br />

(b) prece<strong>de</strong>ntes históricos <strong>de</strong> eliminação, (c) avanços tecnológicos em diagnóstico e<br />

drogas antifilarial eficazes, e (d) vonta<strong>de</strong> política e compromisso.<br />

A OMS <strong>de</strong>senvolveu uma estratégia global baseada em dois componentes<br />

básicos: o primeiro consiste em interromper a transmissão da infecção e o segundo,<br />

em controlar a morbida<strong>de</strong> (MOLYNEUX, 2003, MOLYNEUX; ZAGARIA, 2002,<br />

OTTESEN, 2000). O primeiro componente propõe a implementação anual <strong>de</strong><br />

medidas primárias, através do tratamento em massa <strong>de</strong> toda população <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

risco, visando, então, reduzir a carga <strong>de</strong> infecção filarial e conseqüentemente a<br />

transmissão (OTTESEN et al. 1997). Com essa estratégia, preten<strong>de</strong>-se prevenir a<br />

ocorrência <strong>de</strong> novas infecções e novos casos da doença. O segundo componente é<br />

constituído pelas prevenções secundária ou terciária, quais sejam: medidas<br />

aplicadas às manifestações agudas e prevenção das formas crônicas entre aqueles<br />

indivíduos já afetados (ADDIS, 2005).<br />

Com os tratamentos anuais, preten<strong>de</strong>-se interromper o ciclo da transmissão<br />

entre mosquitos e seres humanos, evitando-se, assim, futuras ocorrências. Logo,<br />

interromper a transmissão é a estratégia essencial adotada pela OMS. Deve-se<br />

15


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

tratar a população total em risco por um período <strong>de</strong> tempo suficiente para assegurar<br />

que os níveis <strong>de</strong> microfilaremia no sangue permanecem abaixo daqueles<br />

necessários à manutenção da transmissão (ADDIS, 2005). Estima-se que a<br />

transmissão da filariose linfática diminua progressivamente (50%, 25%, 12%, 6% e<br />

0%), após cada um dos cinco anos <strong>de</strong> tratamento (OTTESEN et al. 2008).<br />

Hoje, admitisse que aproximadamente 1,3 bilhão <strong>de</strong> pessoas residam em<br />

áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose bancroftiana (quase 18% da população mundial). Avalia-<br />

se a infecção filarial ocorra em cerca <strong>de</strong> 10% das pessoas resi<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong><br />

risco (OTTESEN et al., 2008). Cerca <strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> pessoas já se encontram<br />

infectadas. Consi<strong>de</strong>ra-se 83 países como endêmicos, muitos dos quais estão entre<br />

os mais pobres do mundo (Figura 1) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />

A distribuição proporcional da população resi<strong>de</strong>nte em áreas endêmicas<br />

indica uma maior concentração na Região Su<strong>de</strong>ste da Ásia (65%); na África<br />

localizam-se 30%; e os 5% restante estão espalhados pelos <strong>de</strong>mais continentes,<br />

com exceção da Europa (Figura 1). Entre os países <strong>de</strong> maior en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong>,<br />

encontram-se Bangla<strong>de</strong>sh, República Democrática do Congo, Índia, Indonésia,<br />

Madagascar, Nigéria e Filipinas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />

16


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Figura 1 - Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose Linfática no mundo, 2006<br />

Fonte: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2007)<br />

Na Região Su<strong>de</strong>ste da Ásia, nove dos onze países são consi<strong>de</strong>rados<br />

endêmicos (Figura 1). Cerca <strong>de</strong> 851 milhões <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>m em áreas <strong>de</strong> risco<br />

para bancroftose. Na Índia, 450 milhões <strong>de</strong> pessoas vivem em áreas <strong>de</strong> risco; em<br />

seguida, surge Bangla<strong>de</strong>sh com 49,9 milhões distribuídos por 32 distritos. O Nepal<br />

apresenta 13,9 milhões, Sri Lanka soma 9,8 milhões, e as Ilhas Maldivas (oito das<br />

200 Ilhas são endêmicas) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004; 2006).<br />

Calcula-se que, no continente africano, 394 milhões <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>m em<br />

áreas endêmicas (representando 30% da população global sob risco); <strong>de</strong>stas, 43<br />

milhões estão infectadas, 4,6 milhões apresentam linfe<strong>de</strong>ma e seis milhões,<br />

hidrocele (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004; 2006).<br />

Os países do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal estão divididos em dois grupos: o primeiro é<br />

composto por oito países (Brunei, República Democrática Popular do Laos,<br />

Camboja, Filipinas, China, Malásia, República da Coréia e Vietnã). Neste grupo, as<br />

Filipinas se <strong>de</strong>stacam, pois, em 39 dos seus distritos, 21 milhões <strong>de</strong> pessoas,<br />

resi<strong>de</strong>m em áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose. Na China, relata-se a eliminação da filariose,<br />

após mais <strong>de</strong> 10 anos sem o aparecimento <strong>de</strong> novos casos (OTTESEN, 2006). O<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

segundo grupo é composto por 17 ilhas do Pacífico nas quais se supõe que oito<br />

milhões <strong>de</strong> pessoas habitam áreas <strong>de</strong> risco para filariose (ORGANIZAÇÃO<br />

MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />

No Mediterrâneo Oriental, três países são consi<strong>de</strong>rados endêmicos (Egito,<br />

Sudão e Iêmen), com cerca <strong>de</strong> 14 milhões <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong> risco<br />

(Figura 1) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). No Egito, há fortes<br />

evidências <strong>de</strong> que, após cinco anos <strong>de</strong> tratamento em massa com albendazol e<br />

dietilcarbamazina, a transmissão da filariose linfática tenha sido eliminada nas áreas<br />

mais endêmicas (RAMZY et al., 2006). No Sudão e no Iêmen, coexiste a<br />

transmissão simultânea da onchocerca e da bancroftose. Em Djibouti, Omã,<br />

Paquistão, Somália, e Arábia Saudita, a transmissão da filariose linfática é incerta,<br />

embora casos clínicos tenham sido relatos em quase todos esses países, excluindo-<br />

se Djibouti (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).<br />

No continente americano, estima-se que 8 milhões <strong>de</strong> pessoas vivam em<br />

áreas <strong>de</strong> risco (1% da carga global). Um total <strong>de</strong> sete países está incluído na lista <strong>de</strong><br />

endêmicos. Desses, três não apresentaram nenhum foco ativo <strong>de</strong> transmissão<br />

(Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago). Outros quatro países (Haiti, República<br />

Dominicana, Brasil e Guiana) informam a transmissão ativa (Figura 2)<br />

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). De acordo com Lammie et al.<br />

(2007), a filariose está concentrada nesses quatro países, nas áreas mais pobres; e<br />

parece ser um problema crescente nas favelas urbanas. Em adição, os programas<br />

<strong>de</strong> eliminação da filariose linfática não cobrem o total das populações em risco.<br />

O Haiti é o país <strong>de</strong> maior concentração <strong>de</strong> infecção filarial nas Américas.<br />

Estima-se que a população em risco seja <strong>de</strong> seis milhões, isto é, mais <strong>de</strong> 80% da<br />

população total daquele país e quase 70% da população total em risco nas<br />

Américas. Calcula-se em cerca <strong>de</strong> 560 mil o número <strong>de</strong> pessoas infectadas<br />

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006). Em seguida, tem-se a República<br />

Dominicana, com 740 mil pessoas residindo em áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> filariose linfática e<br />

aproximadamente 50 mil casos <strong>de</strong> infecção (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE,<br />

2006). A Guiana tem a maior proporção (630 mil) <strong>de</strong> indivíduos em risco nas<br />

Américas, o que representa 90% da população nacional, estima-se em 50 mil o<br />

número aproximado <strong>de</strong> pessoas infectadas. A situação epi<strong>de</strong>miológica da filariose<br />

no Brasil será discutida em seção posterior.<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Figura 2 - Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose Linfática nas Américas, 2006<br />

Fonte: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2007)<br />

Recente avaliação dos oito primeiros anos <strong>de</strong> operação do Programa Global<br />

<strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática (GPELF) consi<strong>de</strong>ra que o programa apresentou<br />

a mais rápida expansão, em relação à administração <strong>de</strong> medicamentos, já vista na<br />

história da saú<strong>de</strong> pública. Até o final <strong>de</strong> 2007, 1,9 bilhões <strong>de</strong> tratamentos com<br />

drogas anti-filariais (albendazol, ivermectina e dietilcarbamazina) foram fornecidos<br />

em, aproximadamente, 570 milhões <strong>de</strong> indivíduos que vivem em 48 dos 83 países<br />

endêmicos. Ressalte-se que mais <strong>de</strong> 50% <strong>de</strong>sses países estão realizando<br />

tratamento em massa anualmente (Figura 3). Além disso, estima-se que 6,6 milhões<br />

<strong>de</strong> recém-nascidos tenham sido protegidos por meio do tratamento coletivo e que<br />

9,5 milhões <strong>de</strong> indivíduos previamente infectados não evoluíram para a doença<br />

filarial, isto significa seis milhões <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> hidrocele ou 3,5 milhões <strong>de</strong> casos <strong>de</strong><br />

linfe<strong>de</strong>ma evitados (OTTESEN et al., 2008).<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Figura 3 – Países endêmicos em Filariose Linfática com tratamento em massa, 2006<br />

Fonte: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2007)<br />

Molyneux (2009) acrescenta que o GPELF é um componente essencial do<br />

movimento global contras as doenças tropicais negligenciadas. Reconhece-se que<br />

são poucos os programas sobre os quais é possível afirmar terem atingido mais <strong>de</strong><br />

meio bilhão <strong>de</strong> pessoas por ano. Vários países (Egito, Sri Lanka, Vanuatu e<br />

Zanzibar) que iniciaram programas <strong>de</strong> eliminação em 2000 começaram uma<br />

avaliação <strong>de</strong>talhada para verificar a interrupção da transmissão em seus territórios.<br />

Outros dois países (China e Coréia do Sul) anunciaram a eliminação da filariose<br />

linfática (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2008).<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

1.2 Epi<strong>de</strong>miologia e Distribuição Espacial da Filariose Linfática Bancroftiana no<br />

Brasil<br />

No Brasil, até a década <strong>de</strong> 1950, as informações disponíveis sobre a<br />

prevalência e a distribuição espacial da filariose eram provenientes <strong>de</strong> inquéritos<br />

hemoscópicos isolados (FRANCO; LIMA, 1967). A partir da criação da Campanha<br />

contra a Filariose Linfática, pelo Ministério da Educação e Saú<strong>de</strong>, foram efetuados<br />

vários inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos em 538 localida<strong>de</strong>s (1951 a 1958) (FRANCO;<br />

LIMA, 1967, RACHOU, 1957; 1960, RACHOU et al., 1956).<br />

Esses inquéritos contribuíram para i<strong>de</strong>ntificar portadores <strong>de</strong> microfilaremia em<br />

89 (16,5%) localida<strong>de</strong>s. No entanto, em apenas 11 <strong>de</strong>ssas ficou comprovada a<br />

transmissão ativa, através do encontro simultâneo <strong>de</strong> mosquitos com larvas<br />

infectadas e indivíduos parasitados. As localida<strong>de</strong>s e suas respectivas taxas <strong>de</strong><br />

prevalência foram: Manaus/AM (0,2%); Belém/PA (9,8%); São Luís/MA (0,6%);<br />

Recife/PE (6,9%); Maceió/AL (0,3%); Salvador/BA (0,4%); Castro Alves/BA (5,9%);<br />

Florianópolis/SC (1,4%); Ponta Grossa/SC (14,5%); Barra <strong>de</strong> Laguna/SC (9,4%) e<br />

Porto Alegre/RS (0,1%) (FRANCO; LIMA, 1967, RACHOU, 1957; 1960, RACHOU et<br />

al., 1956).<br />

Dentre os focos observados, <strong>de</strong>stacaram-se, em grau maior <strong>de</strong> importância<br />

médico-sanitária, os <strong>de</strong> Belém (9,8%) e Recife (6,9%), estimando-se em cerca <strong>de</strong><br />

50.000 e 80.000, respectivamente, o número <strong>de</strong> portadores da parasitose<br />

(RACHOU, 1960). Os resultados dos inquéritos suscitaram medidas <strong>de</strong> intervenção.<br />

A estratégia tradicionalmente adotada consistiu na pesquisa, no tratamento seletivo<br />

dos indivíduos infectados e no controle do vetor com inseticidas (BRAGA;<br />

ALBUQUERQUE; MORAIS, 2004, FRANCO; LIMA, 1967, MACIEL et al., 1999,<br />

MEDEIROS et al., 2003).<br />

Na década <strong>de</strong> 1980, o Ministério da Saú<strong>de</strong>, analisando os dados da<br />

Campanha <strong>de</strong> Combate à Filariose, no período <strong>de</strong> 1979 a 1984, apontou para uma<br />

redução no número <strong>de</strong> áreas que apresentavam transmissão ativa <strong>de</strong> filariose, fato<br />

confirmado pela diminuição do rol <strong>de</strong> pacientes com manifestações crônicas e pelo<br />

<strong>de</strong>créscimo no índice <strong>de</strong> lâminas positivas (BRASIL, 1985).<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Em 1985, após as campanhas e durante os programas especiais, a en<strong>de</strong>mia<br />

foi consi<strong>de</strong>rada restrita apenas às duas áreas <strong>de</strong> maior importância médico-sanitária:<br />

Recife (PE) e Belém (PA). Embora essas capitais permanecessem como focos<br />

ativos <strong>de</strong> transmissão, também se observou um <strong>de</strong>clínio nas suas taxas <strong>de</strong><br />

prevalência: Recife, que no inquérito inicial, apresentou índice <strong>de</strong> 6,9% <strong>de</strong>cresceu<br />

para 1,5% e Belém passou <strong>de</strong> 8,5% para 0,3% (BRASIL, 1985).<br />

Entretanto, estudos realizados no Recife indicaram que a redução verificada<br />

pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> na taxa média <strong>de</strong> prevalência da cida<strong>de</strong> não se mantinha<br />

quando se analisava separadamente cada bairro. Em alguns bairros <strong>de</strong> baixo nível<br />

socioeconômico, foram encontradas taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> até 15%. Além disso, a<br />

parasitose que, historicamente, estava restrita apenas à cida<strong>de</strong> o Recife, teve a<br />

transmissão ativa comprovada em dois outros municípios da RMR Olinda e<br />

Jaboatão dos Guararapes (MACIEL et al., 1994, MEDEIROS et al., 1992, MORAIS,<br />

1982).<br />

No Brasil, a partir da proposta da OMS, a plenária do Conselho Nacional <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> homologou a resolução CNS nº 190, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1996, iniciando o<br />

Programa Nacional <strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática (PNEFL) (BRASIL, 1997).<br />

Esse plano tem por finalida<strong>de</strong> a eliminação da filariose linfática no território<br />

brasileiro. Busca-se, especificamente, interromper a transmissão da filariose nos<br />

focos endêmicos, através da quimioterapia e do controle do vetor, esgotar as fontes<br />

<strong>de</strong> infecção e prover assistência integral aos portadores (BRASIL, 2007).<br />

De acordo com a sua metodologia <strong>de</strong> trabalho, o PNEFL propôs a reavaliação<br />

epi<strong>de</strong>miológica dos focos ativos e dos consi<strong>de</strong>rados extintos, através da realização<br />

<strong>de</strong> inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos (Figura 4) (BRASIL, 2007).<br />

Me<strong>de</strong>iros et al. (1999) examinaram 23.773 soldados do Exército Brasileiro,<br />

oriundos <strong>de</strong> várias municípios da RMR-PE, revelando a existência <strong>de</strong> casos<br />

autóctones <strong>de</strong> filariose linfática em sete <strong>de</strong>sses municípios: três reconhecidamente<br />

endêmicos (Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Recife) e quatro <strong>de</strong> en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong><br />

recente (Paulista, Abreu e Lima, Cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, Camaragibe).<br />

Atualmente, no Brasil, o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> infecção filarial é estimado em<br />

49.000, com cerca <strong>de</strong> 1,5 milhão <strong>de</strong> pessoas residindo em área <strong>de</strong> risco (BRASIL,<br />

2000). A transmissão ativa da filariose ocorre no estado <strong>de</strong> Pernambuco,<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

especificamente na RMR (Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista). Na<br />

cida<strong>de</strong> Maceió (AL), consi<strong>de</strong>ra-se que, a transmissão encontra-se em pré-eliminação<br />

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />

No foco histórico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém (PA), a filariose linfática foi consi<strong>de</strong>rada<br />

eliminada, continuando a ser mantida a vigilância epi<strong>de</strong>miológica (Figura 2)<br />

(FREITAS et al., 2008). A interrupção da transmissão em Belém po<strong>de</strong> ser creditada<br />

a um conjunto <strong>de</strong> fatores, tais como: a existência <strong>de</strong> um sólido programa <strong>de</strong> combate<br />

à doença, mantido durante décadas; as melhorias das condições ambientais; o fato<br />

<strong>de</strong> que as ações <strong>de</strong> combate à doença se beneficiaram das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle<br />

<strong>de</strong> vetores relacionadas às outras en<strong>de</strong>mias (FREITAS et al., 2008).<br />

Figura 4 – Situação epi<strong>de</strong>miológica da Filariose no Brasil, 2006<br />

Fonte: CGDT/DEVEP/SVS, 2007.<br />

Na RMR (PE), consi<strong>de</strong>rando o <strong>de</strong>sconhecimento da extensão da en<strong>de</strong>mia, foram<br />

realizados vários inquéritos epi<strong>de</strong>miológicos nos municípios da região no final da<br />

década <strong>de</strong> 1990 e inicio dos anos 2000. Os resultados dos recentes inquéritos<br />

realizados são discutidos a seguir. Na Ilha <strong>de</strong> Itamaracá, foram examinadas 7.553<br />

pessoas, i<strong>de</strong>ntificando-se 13 casos positivos, sendo cinco autóctones. No município<br />

<strong>de</strong> Camaragibe, das 1.554 pessoas pesquisadas, dois eram microfilarêmicos. No<br />

Cabo <strong>de</strong> Santo Agostinho, 7.650 pessoas foram examinadas: seis casos positivos,<br />

sendo um autóctone (MEDEIROS et al., 2006). No município <strong>de</strong> Moreno, 2.513<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

exames foram realizados, <strong>de</strong>tectando-se dois casos positivos, porém, nenhum era<br />

autóctone (MEDEIROS et al. 2004).<br />

No Recife, segundo uma metodologia <strong>de</strong> amostragem estratificada, foram<br />

encontradas taxas <strong>de</strong> prevalência que variaram <strong>de</strong> 0,1% a 3,0%. No município <strong>de</strong><br />

Olinda, a prevalência da bancroftose foi <strong>de</strong> 1,3% (BRAGA et al., 2001). A Secretaria<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> olin<strong>de</strong>nse realizou também uma busca passiva, na qual os bairros <strong>de</strong><br />

maior positivida<strong>de</strong> foram: Águas Compridas (3,50%), Alto Nova Olinda (3,88%), Alto<br />

da Conquista (3,62%) e Azeitona (4,30%) (BRASIL, 2000).<br />

Em Jaboatão dos Guararapes, foi realizado um inquérito epi<strong>de</strong>miológico<br />

através do qual foram examinadas 23.673 pessoas, i<strong>de</strong>ntificando-se 323 casos <strong>de</strong><br />

microfilaremia (1,4%) (BONFIM et al., 2009). No distrito <strong>de</strong> Cavaleiro, foram<br />

pesquisados 9.520 resi<strong>de</strong>ntes dos 22 bairros, <strong>de</strong>tectando-se 214 microfilarêmicos<br />

(2,2%). Nos bairros investigados as taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial variam<br />

<strong>de</strong> zero a 11,1%. A análise dos resultados por setores censitários, unida<strong>de</strong><br />

geográfica para realização dos censos <strong>de</strong>mográficos, i<strong>de</strong>ntificou taxas <strong>de</strong><br />

prevalência <strong>de</strong> até 14% (BONFIM et al., 2003). No distrito <strong>de</strong> Jaboatão, foram<br />

pesquisadas 4.365 pessoas, i<strong>de</strong>ntificando-se 33 microfilarêmicos (0,8%), sendo 12<br />

autóctones (MEDEIROS et al. 2008).<br />

Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>, em 2005, para a RMR, foram coletados<br />

exames nos municípios <strong>de</strong> Olinda, Recife, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. Os<br />

resultados <strong>de</strong>ssa coleta são <strong>de</strong>scritos a seguir: Olinda apresentou taxa <strong>de</strong><br />

prevalência <strong>de</strong> 0,93% (117/12.626), Recife, 0,53% (452/85.096); Paulista, 0,09%<br />

(16/17.448) e Jaboatão dos Guararapes, 0,26% (117/45.645) (BRASIL, 2007).<br />

O tratamento em massa, em 2005, ficou restrito às áreas <strong>de</strong> pequenos focos,<br />

embora a população conjunta do Recife e Olinda fosse superior a 1,9 milhões <strong>de</strong><br />

pessoas. Se, em 2003, o tratamento com dietilcarbamazina em massa alcançou 18<br />

mil pessoas, em 2005 os números subiram para 55 mil pessoas. Isto significa uma<br />

cobertura <strong>de</strong> aproximadamente 87% dos 63.800 indivíduos que resi<strong>de</strong>m em áreas<br />

<strong>de</strong> risco (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2006).<br />

Transcorridos mais <strong>de</strong> 50 anos da realização dos primeiros inquéritos para<br />

filariose, a doença constitui-se num permanente problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<br />

necessitando <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> controle e atenção dos administradores e planejadores<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Com efeito, a filariose bancroftiana permanece endêmica na região e em<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

expansão, pois em municípios até pouco tempo consi<strong>de</strong>rados como in<strong>de</strong>nes, foi<br />

comprovada a existência <strong>de</strong> casos autóctones da infecção. Quando se analisa a<br />

distribuição da infecção por unida<strong>de</strong>s menores, como bairros, observam-se altas<br />

taxas <strong>de</strong> prevalência (<strong>de</strong> até 15%), resultado similar ao encontrado na década <strong>de</strong><br />

1950, por ocasião da realização dos primeiros inquéritos na região (BONFIM et al.,<br />

2003, MACIEL et al., 1994, 1996, MEDEIROS et al., 1999).<br />

1.3 Organização espacial e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong><br />

As transformações apresentadas na socieda<strong>de</strong> urbano-industrial têm revelado<br />

a complexida<strong>de</strong> do processo saú<strong>de</strong>-doença. O processo <strong>de</strong> produção e reprodução<br />

social na socieda<strong>de</strong> capitalista gera grupos sociais diferenciados, sob o ponto <strong>de</strong><br />

vista das relações econômico-sociais. Essa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> reflete-se nas<br />

condições <strong>de</strong> sobrevivência (BABONES, 2008, CASTELLANOS, 1990, VILLAR,<br />

2007). Dito <strong>de</strong> outra forma, as condições <strong>de</strong> vida expressam as condições materiais<br />

<strong>de</strong> sobrevivência e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, sobretudo, da inserção <strong>de</strong> cada grupo na estrutura <strong>de</strong><br />

produção (PAIM, 1997).<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se que os fatores <strong>de</strong>terminantes do processo saú<strong>de</strong>-doença estão<br />

intimamente relacionados com a forma <strong>de</strong> organização da existência concreta das<br />

pessoas, isto é, com sua condição <strong>de</strong> moradia, trabalho, educação, renda, nutrição,<br />

saneamento e assistência à saú<strong>de</strong> (CASTELLANOS, 1990, PAIM, 1997). Logo, o<br />

processo <strong>de</strong> aferição do risco <strong>de</strong> adoecer e morrer distribuído pelos diferentes<br />

segmentos da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ter seu arcabouço ligado às condições <strong>de</strong> vida da<br />

população (MINAYO, 2000).<br />

Na mesma linha argumentativa, Barata (2006) assevera que as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais na área da saú<strong>de</strong> são resultantes das diferenças produzidas<br />

pelas formas <strong>de</strong> inserção social dos indivíduos nas socieda<strong>de</strong>s e encontra-se<br />

relacionada com a forma <strong>de</strong> divisão social da riqueza.<br />

Um mo<strong>de</strong>lo explicativo sobre os diferenciais em saú<strong>de</strong> segundo a<br />

estratificação social proposta por Di<strong>de</strong>richsen, Evans e Whitehead (2001), procura<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

mostrar que a posição social ocupada pelos indivíduos resulta em diferenças nos<br />

riscos <strong>de</strong> exposição e vulnerabilida<strong>de</strong> à doença, e nas conseqüências física e social<br />

estando o indivíduo acometido pela doença. De forma similar, Alves (2006) verificou<br />

que áreas com as condições socioeconômicas mais <strong>de</strong>sfavoráveis (vulnerabilida<strong>de</strong><br />

social) também apresentam uma maior vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental 1.<br />

A associação entre a situação socioeconômica e o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> já está<br />

bem estabelecida na literatura científica (ADLER, 1993, BACKLUND; SORLIE;<br />

JOHNSON, 1996, BELL; SCHUURMAN; HAYES, 2007, BERNARD et al., 2007,<br />

BRAVEMAN, 2006, DUNCAN, 1996, MARMOT; KOGENIVA; ELSTON, 1987)<br />

Wermuth (2003) estima que 56% do estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser explicados pelas<br />

variáveis sociais e ecológicas e somente 4% pelos agentes biológicos. De forma<br />

semelhante, González e Pérez (2007) reconhecem que os fatores sociais em<br />

interação com as variáveis comportamentais e ecológicas são responsáveis pelo<br />

maior impacto na saú<strong>de</strong> da população.<br />

Link e Phelan (1996) observam que o estudo da associação entre a pobreza e<br />

doença não é um fenômeno recente. Há mais <strong>de</strong> 50 anos, esse tema vem sendo<br />

abordado nos artigos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. Para os autores, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em<br />

saú<strong>de</strong> existirão enquanto persistirem as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e, quanto maior<br />

forem às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais, maiores serão as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong>. Silva et<br />

al. (2008) ressaltam que a privação social relativa (mais do que a absoluta) está<br />

associada a uma pior saú<strong>de</strong> e quanto maior as disparida<strong>de</strong>s sociais em qualquer<br />

população, maiores são elas também na saú<strong>de</strong>.<br />

É conveniente distinguir <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniqüida<strong>de</strong>. De acordo com<br />

Castellanos (1997), nem toda diferença na situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

iniqüida<strong>de</strong> social, porém toda diferença, ou <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> redutível, relacionada com<br />

as condições heterogêneas <strong>de</strong> vida, indubitavelmente, caracteriza iniqüida<strong>de</strong>.<br />

Definem-se <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> como diferenças sistemáticas na situação <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> entre os diferentes grupos sociais. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s ocorrem quando grupos<br />

diferentes <strong>de</strong>finidos pelas suas características sociais (renda, educação, entre<br />

outros) e <strong>de</strong>mográficas (etnia) têm diferenças no acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou<br />

1 No estudo <strong>de</strong> Alves (2006, p. 43) vulnerabilida<strong>de</strong> socioambiental está sendo <strong>de</strong>finida como “a coexistência ou<br />

sobreposição espacial entre grupos populacionais muito pobres e com alta privação (vulnerabilida<strong>de</strong> social) e<br />

áreas <strong>de</strong> risco ou <strong>de</strong>gradação ambiental (vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental)”. Como proxy <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> ambiental<br />

foram utilizadas as variáveis proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos d’água e à cobertura <strong>de</strong> esgoto.<br />

26


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

apresentam diferenças nas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (CENTRE FOR HEALTH EQUITY,<br />

TRAINING, RESEARCH AND EVALUATION, 2000). As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong><br />

apresentam três características básicas: são sistemáticas, socialmente produzidas<br />

(portanto, passíveis <strong>de</strong> serem alteradas) e injustas (WHITEHEAD; DAHLGREN;<br />

2006).<br />

As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s repercutem no acesso aos serviços e reforçam as<br />

condições <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados grupos sociais em relação a algumas<br />

doenças (FLEURY, 2007). Também originam diferenças no perfil epi<strong>de</strong>miológico e<br />

nas condições ambientais <strong>de</strong> certos segmentos populacionais (BARCELLOS, 2008).<br />

Os reflexos das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais nas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população<br />

têm sido estudados por meio dos <strong>de</strong>nominados “estudos ecológicos” (BARCELLOS<br />

et al., 2002). Os estudos ecológicos utilizam dados agregados e concentram-se na<br />

comparação <strong>de</strong> grupos e não <strong>de</strong> indivíduos (MORGENSTERN, 1995, WAKEFIELD,<br />

2008).<br />

Em um estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho ecológico, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise é o grupo. Esses<br />

<strong>de</strong>senhos po<strong>de</strong>m ser classificados em duas dimensões, conforme o método<br />

empregado. As modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudo são, então, <strong>de</strong> mensuração da exposição e<br />

<strong>de</strong> agrupamento. Com relação à primeira dimensão, um <strong>de</strong>senho ecológico é<br />

chamado <strong>de</strong> exploratório, se o fenômeno <strong>de</strong> interesse é medido. É analítico se o<br />

fenômeno <strong>de</strong> interesse, tendo sido <strong>de</strong>vidamente mensurado, é abordado com ajuda<br />

<strong>de</strong> procedimento analítico. A outra dimensão do estudo ecológico é o agrupamento.<br />

Este agrupamento tanto po<strong>de</strong> ser do ponto <strong>de</strong> vista temporal ou espacial, ou ainda<br />

uma mistura <strong>de</strong> ambos (MORGENSTERN, 1995).<br />

Por outro lado, o uso dos grupos e não dos indivíduos como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

análise nos estudos ecológicos geram criticas quanto às generalizações dos<br />

resultados. Consi<strong>de</strong>ra-se que a principal limitação <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> estudo é a<br />

<strong>de</strong>nominada falácia ecológica, que ocorreria ao se extrapolarem os resultados do<br />

nível ecológico para o individual (SUSSER, 1994). Carvalho et al. (2007) afirmam<br />

que também serão produzidas inferências enviesadas ao se extrapolarem os<br />

resultados do nível individual para o ecológico (falácia atomística).<br />

Santos e Barcellos (2008) afirmam que os estudos ecológicos são profícuos<br />

para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> aglomeração <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> doenças e na busca <strong>de</strong> fatores<br />

27


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

explicativos para esse excesso <strong>de</strong> casos; além <strong>de</strong> possibilitarem a formulação <strong>de</strong><br />

hipóteses e o teste das mesmas.<br />

Por meio dos estudos ecológicos, tem se buscado analisar a correlação entre<br />

os indicadores epi<strong>de</strong>miológicos e socioeconômicos, i<strong>de</strong>ntificando grupos<br />

populacionais <strong>de</strong> maior risco <strong>de</strong> adoecer ou morrer por <strong>de</strong>terminados agravos<br />

(BARCELLOS et al., 2002, BRAGA et al., 2001, BONFIM et al., 2009, CHIESA;<br />

WESTPHAL; KASHIWAGI, 2002, GUIMARÃES, et al., 2003, LACERDA; CALVO;<br />

FREITAS, 2002).<br />

Nesse sentido, tem-se explorado nos estudos ecológicos, o aprofundamento<br />

do espaço como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise que po<strong>de</strong> oferecer muitas explicações (COSTA;<br />

TEIXEIRA, 1999), partindo-se do princípio <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> ocupação e<br />

modificação do espaço pelo homem faz parte dos <strong>de</strong>terminantes das condições <strong>de</strong><br />

vida e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das populações (AKERMAN et al., 1994, BRAGA et al., 2001,<br />

CASTELLANOS, 1998, CHIESA; WESTPHAL; KASHIWAGI, 2002, GUIMARÃES, et<br />

al., 2003).<br />

Souza et al. (2005) acrescentam que a abordagem ecológica dá uma<br />

importante contribuição à compreensão da situação coletiva <strong>de</strong> risco ao consi<strong>de</strong>rar o<br />

espaço como fator <strong>de</strong> estratificação da população. Isso proporciona a localização<br />

espacial da doença e auxilia os serviços <strong>de</strong> vigilância na i<strong>de</strong>ntificação das causas<br />

das diferenças na ocorrência e na distribuição das doenças entre os diversos<br />

segmentos populacionais.<br />

Ximenes et al. (1999, p.54), analisando a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

vigilância <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias em áreas urbanas, orientado por uma análise <strong>de</strong> situações<br />

<strong>de</strong> risco e por indicadores epi<strong>de</strong>miológicos espaciais apresentam três pressupostos<br />

que balizam o mo<strong>de</strong>lo:<br />

a) o conceito <strong>de</strong> vigilância da saú<strong>de</strong>, que transcen<strong>de</strong> a clássica noção <strong>de</strong><br />

vigilância no nível do indivíduo doente ou <strong>de</strong> seus comunicantes, para<br />

priorizar a vigilância do espaço/população <strong>de</strong> ocorrência da doença. Nesse<br />

contexto, um indicador composto que sintetize as condições <strong>de</strong> vida foi<br />

construído para i<strong>de</strong>ntificar áreas críticas intra-urbanas;<br />

b) a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> diferentes níveis <strong>de</strong> en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> sinalizadas<br />

pelos indicadores <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>, as quais, superpostas aos bolsões sociais<br />

<strong>de</strong> carência, localizam espacialmente os grupos sociais para intervenções e<br />

monitoramento seletivos <strong>de</strong> múltiplos agravos e<br />

c) a crescente transferência <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do planejamento e<br />

execução das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias para os municípios,<br />

correspon<strong>de</strong>ndo à política oficial do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) <strong>de</strong><br />

repasse <strong>de</strong> financiamento, vinculado à análise epi<strong>de</strong>miológica local (Norma<br />

Operacional Básica).<br />

28


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Os estudos das medidas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> em saú<strong>de</strong>, cujo referencial são as<br />

áreas geográficas, <strong>de</strong>monstraram sua utilida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>tectar, mensurar e monitorar<br />

as diferenças existentes nas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos grupos populacionais<br />

(DOMÍNGUEZ-BERJÓN; BORREL 2005). Nestes estudos, são utilizadas<br />

informações sobre a ocupação, a educação, a renda, a raça/cor, ou seja,<br />

informações que representem o nível socioeconômico (DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al.,<br />

2008).<br />

Werneck e Costa (2005) afirmam que o uso das informações<br />

socioeconômicas nos estudos epi<strong>de</strong>miológicos é essencial para evi<strong>de</strong>nciar as<br />

relações entre estrato social, emprego, educação, renda e eventos ligados à saú<strong>de</strong>.<br />

Logo, o processo <strong>de</strong> aferição do risco <strong>de</strong> adoecer e morrer, distribuído pelos<br />

diferentes segmentos da socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ter seu arcabouço ligado às condições <strong>de</strong><br />

vida da população.<br />

A utilização dos índices compostos para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas geográficas <strong>de</strong><br />

acordo com o nível <strong>de</strong> carência teve início na década <strong>de</strong> 1980 e tem como principais<br />

referências os índices <strong>de</strong> Carstairs, Townsend e Jarman (SÁNCHEZ-CANTALEJO;<br />

OCANA-RIOLA; FERNÁNDEZ-AJURIA, 2008). O índice <strong>de</strong> Carstairs é feito através<br />

da soma padronizada das variáveis (% <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, % <strong>de</strong> domicílios com mais<br />

<strong>de</strong> uma pessoa por dormitório, % <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> baixa classe social e % <strong>de</strong><br />

domicílios sem acesso a um veículo) (CARSTAIRS; MORRIS 1991). O índice <strong>de</strong><br />

Townsend utiliza a transformação logarítmica das variáveis, fazendo a substituição<br />

da variável classe social pela proporção <strong>de</strong> domicílios não ocupados pelos seus<br />

proprietários (TOWNSEND, 1987). Por fim o índice <strong>de</strong> Jarman é o mais complexo<br />

dos três, pois utiliza um maior número <strong>de</strong> variáveis, transformação logarítmica,<br />

normalização e pon<strong>de</strong>ração das variáveis (JARMAN, 1983).<br />

Nas últimas décadas, vários estudos i<strong>de</strong>ntificaram, na construção dos índices<br />

compostos <strong>de</strong> carência social, uma alternativa metodológica capaz <strong>de</strong> explicitar os<br />

diferenciais intra-urbanos, através da mensuração das condições <strong>de</strong> vida<br />

(AKERMAN; CAMPANARIO; MAIA, 1996, BONFIM et al., 2009, BORROTO;<br />

MARTINEZ-PIEDRA, 2000, CARVALHO; CURZ; NOBRE, 1997, CHIESA;<br />

WESTPHAL; AKERMAN, 2008). Esses índices são apontados como uma forma <strong>de</strong><br />

superar a visão limitada <strong>de</strong> pobreza como relacionada somente com renda (LUIZ et<br />

al., 2009).<br />

29


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Os índices compostos agrupam vários indicadores ou estatísticas, compilados<br />

em um único índice, com base em algum mo<strong>de</strong>lo subjacente. I<strong>de</strong>almente, um índice<br />

composto <strong>de</strong>ve mensurar um conceito multidimensional, tal como: pobreza,<br />

sustentabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvimento humano (UNITED NATIONS DEVELOPMENT<br />

PROGRAMME, 2007). O conceito <strong>de</strong> privação social 2 é frequentemente utilizado<br />

para referir-se à carência econômica ou social em uma <strong>de</strong>terminada área geográfica<br />

(DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2008). Especificamente, na área da saú<strong>de</strong>, esse<br />

conceito diz respeito à forma como as condições econômicas afetam a condição <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> dos habitantes <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada área geográfica (SÁNCHEZ-<br />

CANTALEJO; OCANA-RIOLA; FERNÁNDEZ-AJURIA, 2008).<br />

A carência social po<strong>de</strong> ser entendida sob dois aspectos: material e social. No<br />

aspecto material, a carência é <strong>de</strong>finida como a falta relativa <strong>de</strong> bens, serviços ou<br />

recursos, amplamente disponíveis na socieda<strong>de</strong>. Já no aspecto social, a carência se<br />

refere às pessoas socialmente isoladas <strong>de</strong>vido à classe social, raça/cor, sexo, ida<strong>de</strong><br />

ou outra forma <strong>de</strong> divisão social (DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2001). Neste estudo<br />

a carência social será abordada segundo o aspecto material.<br />

A utilização dos índices compostos <strong>de</strong> carência social pressupõe a existência<br />

<strong>de</strong> interação entre os vários elementos que <strong>de</strong>terminam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma<br />

população (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2007). Por<br />

conseguinte, o ponto nuclear é i<strong>de</strong>ntificar por que certos efeitos inci<strong>de</strong>m mais em<br />

alguns grupos populacionais do que em outros; com isso, procura-se apontar os<br />

<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>ssa relação com as características <strong>de</strong>sses grupos, possibilitando o<br />

direcionamento <strong>de</strong> medidas preventivas.<br />

Atualmente, vários trabalhos são <strong>de</strong>senvolvidos utilizando os indicadores <strong>de</strong><br />

carência social, elaborados por diversos métodos e tendo por fonte informações, na<br />

maioria das vezes, os recenseamentos nacionais. Esses trabalhos <strong>de</strong>monstraram a<br />

associação das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s com os eventos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (BRAGA et al., 2001,<br />

BONFIM et al., 2009, CHIESA et al., 2008, DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2008,<br />

FUKUDA; NAKAMURA; TAKANO, 2007, GUIMARÃES et al., 2003, SOUZA et al.,<br />

2005, HAVARD et al., 2008).<br />

2 Neste estudo, carência social é utilizada como sinônimo <strong>de</strong> privação social.<br />

30


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Uma vertente complementar <strong>de</strong> investigação é formada pelos indicadores<br />

socioambientais, cujo principal objetivo é i<strong>de</strong>ntificar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e interpretar,<br />

<strong>de</strong> forma sintética as dimensões sociais e ambientais (BARCELLOS, 2008; SOUZA,<br />

2006). O mo<strong>de</strong>lo explicativo subjacente ao indicador consiste em assinalar as<br />

relações entre as dinâmicas econômicas e sociais, com relação ao ambiente e à<br />

saú<strong>de</strong> da população (CARNEIRO et al., 2006). O ponto principal <strong>de</strong>sses indicadores<br />

é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar condições socioambientais adversas que propiciem<br />

riscos à saú<strong>de</strong> (BARCELLOS et al., 2002).<br />

Nesse sentido, a associação <strong>de</strong>sses indicadores com as configurações<br />

territoriais são um dos principais elementos dos estudos epi<strong>de</strong>miológicos, que<br />

utilizam os indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida para <strong>de</strong>screver e analisar as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> (BARCELLOS et al. 2002).<br />

No âmbito da saú<strong>de</strong> pública e da epi<strong>de</strong>miologia, especialmente no estudo das<br />

doenças endêmicas e epidêmicas, tem recorrido à categoria analítica espaço social<br />

para o estudo das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na saú<strong>de</strong> (SILVA, 2000). Analisa-se a distribuição<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas doenças como resultantes da organização social do território e da<br />

população (GONDIM, 2008).<br />

Des<strong>de</strong> o inicio da década <strong>de</strong> 1990, tem-se observado uma consi<strong>de</strong>rável<br />

expansão <strong>de</strong> trabalhos científicos sobre o papel dos fatores contextuais na produção<br />

<strong>de</strong> doenças. O espaço é uma categoria relevante para o entendimento das<br />

diferenças na saú<strong>de</strong>, pois constitui e contém as relações sociais e os recursos<br />

físicos (TUNSTALL; SHAW; DORLING, 2004).<br />

Barcellos (2008) refere que a recuperação do interesse pelo espaço<br />

geográfico, tanto para o estudo da distribuição espacial dos agravos à saú<strong>de</strong> quanto<br />

para o aperfeiçoamento dos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser creditada a um conjunto<br />

<strong>de</strong> fatores, com <strong>de</strong>staque para: o processo <strong>de</strong> renovação da epi<strong>de</strong>miologia, que vem<br />

buscando caracterizar os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> através dos <strong>de</strong>terminantes sociais e<br />

ambientais; o <strong>de</strong>senvolvimento do paradigma da promoção da saú<strong>de</strong>, que consi<strong>de</strong>ra<br />

o território como estratégia <strong>de</strong> ação e por fim a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regionalização dos<br />

serviços e ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Dolfus (1991) conceitua o espaço geográfico como o esteio <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />

relações, estando algumas <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>terminadas pelo meio físico e outras pela<br />

própria socieda<strong>de</strong>, que é responsável pela organização do espacial. Por<br />

31


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

conseguinte, o espaço geográfico é mutável e sua aparência visível <strong>de</strong>nomina-se<br />

paisagem.<br />

Massey (2008) afirma que o espaço constitui a dimensão do social e sugere<br />

três proposições básicas para a sua compreensão: a) o espaço como produto das<br />

inter-relações, isto é, constituído através <strong>de</strong> interações; b) o espaço como a esfera<br />

da possibilida<strong>de</strong> da multiplicida<strong>de</strong>, da pluralida<strong>de</strong> e c) o espaço está sempre em<br />

construção, nunca está acabado.<br />

No Brasil, a geografia crítica <strong>de</strong> Milton Santos constitui uma das principais<br />

bases teóricas na elaboração dos estudos sobre espaço e o processo saú<strong>de</strong>-doença<br />

(BONFIM; MEDEIROS, 2008, CZERESNIA; RIBEIRO, 2000). Santos (1994)<br />

consi<strong>de</strong>ra o espaço geográfico como produto das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e reflexo da<br />

organização social, econômica e política. Nesse sentido, o espaço é um conjunto <strong>de</strong><br />

formas representativas das relações sociais do passado e do presente. Defen<strong>de</strong>-se<br />

que o espaço é um fato social e uma instância da socieda<strong>de</strong> e não po<strong>de</strong> ser<br />

interpretado fora das relações sociais que o <strong>de</strong>finem (SANTOS, 2004).<br />

Destarte, o espaço geográfico (sinônimo <strong>de</strong> território usado) é uma categoria<br />

indispensável para a compreensão do funcionamento do mundo na atualida<strong>de</strong><br />

(SANTOS, 1994). Assim, o território é uma categoria integradora e atuaria como<br />

mediador entre o mundo e a socieda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong>sempenhar um papel especial no<br />

planejamento da gestão setorial e intersetorial (MARQUES, 2005).<br />

Não se <strong>de</strong>ve, contudo, confundir espaço com território. A diferença mais<br />

marcante consiste no fato <strong>de</strong> que o espaço não faz referências a limites, ao passo<br />

que ao se pensar em território emerge <strong>de</strong> imediato a idéia <strong>de</strong> limites. Reconhece-se<br />

o território como resultado da acumulação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns<br />

históricas, ambientais e sociais, que são promotoras das condições singulares para<br />

a produção <strong>de</strong> doenças (BARCELLOS et al. 2002).<br />

A concepção <strong>de</strong> espaço geográfico como uma construção social, tal como<br />

proposto por Milton Santos, foi incorporada aos estudos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (ROJAS;<br />

BARCELLOS, 2003). Monken et al. (2008) afirmam que a adoção <strong>de</strong>ssa concepção<br />

<strong>de</strong> espaço geográfico pela saú<strong>de</strong> pública assenta-se no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> transformação<br />

social e na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar os efeitos danosos que as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

sociais exercem sobre a saú<strong>de</strong> das populações.<br />

32


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Especificamente no Brasil, a forte influência da obra <strong>de</strong> Milton Santos po<strong>de</strong><br />

ser observada através da abordagem da distribuição das doenças endêmicas e<br />

epidêmicas como resultado da organização social do espaço (ROJAS;<br />

BARCELLOS, 2003). Segundo Sabroza (1991, p.12), “o espaço socialmente<br />

organizado, integrado e profundamente <strong>de</strong>sigual, não apenas possibilita, mas<br />

<strong>de</strong>termina a ocorrência <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias e sua distribuição”.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Silva (1997, p.590):<br />

O espaço é o cenário on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolvem as interações entre os<br />

diferentes segmentos das socieda<strong>de</strong>s humanas e entre estas e a natureza.<br />

As doenças surgem ou, pelo menos, são modificadas por estas interações.<br />

Compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> organização do espaço pelas socieda<strong>de</strong>s<br />

humanas em diferentes momentos e lugares é uma forma particular <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r as estas socieda<strong>de</strong>s. Para a epi<strong>de</strong>miologia, a compreensão do<br />

processo <strong>de</strong> organização do espaço permite enten<strong>de</strong>r o papel do natural na<br />

gênese e distribuição das doenças.<br />

Para Barcellos (2008, p.48) as condições <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e ambiente<br />

formam uma “tría<strong>de</strong> indissociável <strong>de</strong> fatores com múltiplas e complexas interações”.<br />

Dessa forma, o território funciona como mediador entre esses fatores e as relações<br />

entre os grupos sociais.<br />

Outro aspecto relevante a ser consi<strong>de</strong>rado é que a distribuição dos grupos<br />

sociais no território não se dá <strong>de</strong> forma aleatória. Ela é influenciada por vários<br />

fatores, tais como: o espaço físico, o eixo <strong>de</strong> transportes e os processos<br />

macrossociais que se associam às dinâmicas históricas e econômicas, além das<br />

ações <strong>de</strong> vários atores sociais e instituições, com <strong>de</strong>staque para o Estado e suas<br />

ativida<strong>de</strong>s regulatórias e <strong>de</strong> intervenção social (MARQUES, 2005). A<strong>de</strong>mais, há uma<br />

superposição <strong>de</strong> carências nos espaços urbanos, com graus variados <strong>de</strong><br />

heterogeneida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> carências (MARQUES, 2005).<br />

Recentemente, os estudos epi<strong>de</strong>miológicos vêm incorporando as técnicas <strong>de</strong><br />

geoprocessamento às análises sobre associação dos eventos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com os<br />

indicadores socioeconômicos e ambientais (RICKETTS, 2003). Em geral, esses<br />

indicadores têm como referência unida<strong>de</strong>s espaciais, o que possibilita a constituição<br />

do geoprocessamento em uma importante ferramenta para auxiliar na organização e<br />

na análise dos dados (BARCELLOS, 2008).<br />

O geoprocessamento é a ferramenta que permite a realização <strong>de</strong> análises<br />

espaciais e consiste em um sistema abrangente que reúne diversas tecnologias <strong>de</strong><br />

33


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

tratamento, manipulação e armazenamento <strong>de</strong> dados geográficos, através <strong>de</strong><br />

programas computacionais (SANTOS; PINA; CARVALHO, 2000). Medronho e<br />

Werneck (2009, p.495) <strong>de</strong>finem geoprocessamento como o “conjunto <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong><br />

coleta, tratamento e exibição <strong>de</strong> informações em um <strong>de</strong>terminado espaço<br />

geográfico”.<br />

Entre os sistemas que utilizam as técnicas <strong>de</strong> geoprocessamento, os<br />

Sistemas <strong>de</strong> Informação Geográfica (SIG) ou Geographic Information Systems (GIS)<br />

vêm-se <strong>de</strong>stacando no campo da saú<strong>de</strong> pública, por analisarem as relações entre os<br />

fatores patológicos e os seus ambientes geográficos (CROMLEY, 2003). Por<br />

<strong>de</strong>finição, o SIG constitui um conjunto organizado <strong>de</strong> tecnologia computacional<br />

(hardware, software, dados geográficos e não geográficos em formato digital),<br />

projetado para a captura, armazenamento, recuperação, manipulação, visualização<br />

e análise <strong>de</strong> dados geograficamente referenciados, cujo objetivo é apoiar a tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, para a solução dos problemas que surgem em um <strong>de</strong>terminado espaço<br />

geográfico (MARTÍNEZ-PIEDRA et al., 2004).<br />

Segundo Medronho e Werneck (2009), os SIG na saú<strong>de</strong> coletiva apareceram<br />

com a função <strong>de</strong> aperfeiçoar a <strong>de</strong>scrição e análise espacial <strong>de</strong> doenças em gran<strong>de</strong>s<br />

conjuntos <strong>de</strong> dados geograficamente referenciados. Po<strong>de</strong>m ser utilizados para<br />

<strong>de</strong>finir a magnitu<strong>de</strong> e a distribuição dos eventos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e seus fatores<br />

<strong>de</strong>terminantes; i<strong>de</strong>ntificar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> e os grupos populacionais que<br />

apresentam um maior risco <strong>de</strong> adoecer e morrer; estratificar epi<strong>de</strong>miologicamente os<br />

grupos populacionais mais vulneráveis e <strong>de</strong>terminar priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />

direcionar as intervenções, além <strong>de</strong> auxiliar no planejamento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

que possuam maior eficácia e equida<strong>de</strong> (MARTÍNEZ-PIEDRA et al., 2004).<br />

Uma vertente que vem se <strong>de</strong>stacando na epi<strong>de</strong>miologia são os estudos que<br />

utilizam informações geograficamente referenciadas para analisar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

socioespaciais em saú<strong>de</strong>. Vários estudos têm <strong>de</strong>monstrado as relações entre os<br />

processos <strong>de</strong> organização espacial e os diferenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na mortalida<strong>de</strong><br />

(CANO-SERRAL et al., 2009, DOMÍNGUEZ-BERJÓN et al., 2005, GUIMARÃES et<br />

al., 2003, SANTOS et al., 2008, TEIXEIRA et al., 2002, VILELLA; BONFIM;<br />

MEDEIROS, 2008), na violência urbana (LIMA et al., 2005, SANTOS; BARCELLOS;<br />

CARVALHO, 2006), no acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (OLIVEIRA; TRAVASSOS;<br />

CARVALHO, 2004, TELLO et al., 2005), nas doenças endêmicas (BRAGA et al.,<br />

34


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

2001, SOUZA et al., 2005), e, em algumas ocasiões, são capazes <strong>de</strong> verificar e<br />

predizer a ocorrência <strong>de</strong>sses agravos no território.<br />

Especificamente para a filariose linfática, o mapeamento para a <strong>de</strong>limitação<br />

<strong>de</strong> áreas endêmicas é consi<strong>de</strong>rado como pré-requisito para o planejamento das<br />

intervenções nos programas <strong>de</strong> eliminação da en<strong>de</strong>mia (GYAPONG et al. 2002,<br />

HASSAN et al. 1998a,b, SABESAN; PALANIYANDI; DAS, 2000, SHERCHAND et al.<br />

2003, SRIVIDYA et al. 2002).<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a filariose é <strong>de</strong>terminada pelos fatores sociais e<br />

ambientais, o que torna possível o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo para <strong>de</strong>limitação<br />

espacial <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco através da construção <strong>de</strong> indicadores sintéticos <strong>de</strong> risco<br />

socioambiental, o Ministério da Saú<strong>de</strong> do Brasil, propõe esta como uma das<br />

principais estratégias para o programa nacional <strong>de</strong> eliminação (BRASIL,1997).<br />

1.4 Filariose Linfática e organização espacial: interação entre fatores sociais e<br />

ambientais<br />

As agências internacionais da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>signaram um grupo <strong>de</strong> 13 infecções<br />

tropicais como doenças tropicais negligenciadas (Neglected Tropical Diseases –<br />

NDTs). Essas doenças estão entre os principais problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> enfrentados<br />

pelas populações mais pobres do mundo. A maioria <strong>de</strong>ssas doenças causa<br />

incapacida<strong>de</strong>s severas e permanentes, além <strong>de</strong> uma elevada taxa <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>,<br />

porém raramente causam morte. Por apresentarem baixa taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, não<br />

receberam a atenção necessária nem a <strong>de</strong>vida priorida<strong>de</strong> no passado. Entretanto,<br />

essas doenças comprometem seriamente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos indivíduos<br />

afetados, <strong>de</strong> suas famílias e comunida<strong>de</strong>s, causando perda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e o<br />

agravamento da pobreza (HOTEZ et al., 2007).<br />

A filariose linfática integra o grupo <strong>de</strong>ssas doenças negligenciadas (PERERA et<br />

al., 2007). Ocorre predominantemente nas áreas <strong>de</strong> baixo nível socioeconômico, on<strong>de</strong><br />

a estrutura <strong>de</strong> saneamento ambiental é ina<strong>de</strong>quada e as condições <strong>de</strong> moradia são<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

precárias, favorecendo a transmissão do parasito. Acomete indivíduos <strong>de</strong> todas as<br />

ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> ambos os sexos (ALBUQUERQUE, 1993, MOTT et al, 1990, STREIT;<br />

LAFONTANT, 2008).<br />

Durrheim et al. (2004) afirmam que a filariose linfática é <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> menor<br />

atenção do que outras doenças infecciosas (tuberculose, malária e AIDS) por não<br />

representar causa direta <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>. Contudo, ressaltam os autores, a filariose<br />

linfática existe em um contexto <strong>de</strong> pobreza e as suas manifestações clínicas, com<br />

danos linfáticos e seqüelas muitas vezes irreversíveis, contribuem significativamente<br />

para tornar mais crítica a condição <strong>de</strong> pobreza dos indivíduos afetados e <strong>de</strong> seus<br />

familiares.<br />

O entendimento geral é <strong>de</strong> que a filariose linfática impõe um ônus<br />

socioeconômico aos indivíduos infectados, seus familiares e as comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong><br />

resi<strong>de</strong>m. A produtivida<strong>de</strong> econômica <strong>de</strong>sses indivíduos é reduzida <strong>de</strong>vido às<br />

manifestações <strong>de</strong>ssa doença (agudas e crônicas) (HADDIX; KESTLER, 2000). Além<br />

das questões socioeconômicas, também <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados os problemas<br />

psicológicos <strong>de</strong>correntes do estigma social (RAMAIAH et al., 2000). Streit e<br />

Lafontant (2008) consi<strong>de</strong>ram que a relação entre a filariose e a pobreza é forte,<br />

bidirecional e complexa: ao mesmo tempo em que é causada pela pobreza, a<br />

doença também contribui para a persistência <strong>de</strong>ssa condição.<br />

A relação entre filariose linfática e pobreza po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciada no estudo<br />

realizado por Durrheim et al. (2004): dos 175 países para os quais se dispunha <strong>de</strong><br />

informações sobre a renda per capita, 73% (47/64) eram endêmicos. De forma<br />

similar, 94% (30/32) dos países <strong>de</strong> baixo Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH<br />


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Sabesan et al. (2006) afirmam que a transmissão da filariose linfática,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das variáveis geo-ambientais (fisiográficas e climáticas) em um nível <strong>de</strong><br />

macro<strong>de</strong>terminantes. Os fatores fisiográficos contribuem com a proliferação do vetor;<br />

os fatores climáticos influenciam diretamente o período <strong>de</strong> incubação e as condições<br />

<strong>de</strong> sobrevivência do vetor. Quando as condições ambientais são favoráveis, o<br />

homem (fator <strong>de</strong>mográfico) torna-se um dos fatores <strong>de</strong>terminantes para a ocorrência<br />

da filariose no nível micro.<br />

O peso dos fatores ambientais é fortemente associado aos fatores biológicos<br />

ligados ao parasito, ao vetor e aos fatores socioeconômicos que incluem os padrões<br />

<strong>de</strong> migração, o acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> locais e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses, o<br />

emprego <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> proteção individual. Nas zonas urbanas das cida<strong>de</strong>s, os<br />

criadouros artificiais do vetor são resultantes da ausência ou da condição <strong>de</strong>ficitária<br />

do sistema <strong>de</strong> saneamento ambiental. A qualida<strong>de</strong> dos locais <strong>de</strong> moradia, da gestão<br />

das águas residuais, o acesso à água potável e a melhoria do saneamento<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da situação socioeconômica da população (ERLANGER et al., 2005).<br />

Estima-se que 40% da população mundial (2,4 bilhões) não têm acesso ao<br />

saneamento básico. Na América Latina e no Caribe apenas 14% das águas<br />

residuais são tratadas. Tais situações contribuem para multiplicar os criadouros do<br />

vetor (SMITH, 2002). Particularmente sobre o Brasil, cerca <strong>de</strong> 70% da população<br />

urbana dispõem <strong>de</strong> esgotamento sanitário e 83% são abastecidas <strong>de</strong> água pela re<strong>de</strong><br />

geral, porém existem significativas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s inter e intra-regionais. Na região<br />

Nor<strong>de</strong>ste do país, apenas 44% da população é contemplada pela re<strong>de</strong> geral <strong>de</strong><br />

esgotamento sanitário e 72% pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água (INSTITUTO<br />

BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2001).<br />

Alguns estudos <strong>de</strong>monstraram que o processo <strong>de</strong> urbanização rápido e<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado é um importante fator na mudança da dinâmica da transmissão das<br />

doenças transmitidas por vetores (ALBUQUERQUE, 1993, ELLIS; WILCOX, 2009,<br />

HARB et al., 1993, KNUDSEN; SLOOFF, 1992, MOTT et al., 1990). Nos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, o rápido crescimento populacional urbano, conjugado à migração<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s contingentes populacionais das áreas rurais para as urbanas, resultou<br />

em espaços <strong>de</strong>nsamente habitados na periferia das cida<strong>de</strong>s (favelas e cortiços),<br />

on<strong>de</strong> os serviços <strong>de</strong> saneamento (abastecimento <strong>de</strong> água, coleta <strong>de</strong> lixo e<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

esgotamento sanitário) ina<strong>de</strong>quados combinam-se para criar os habitats favoráveis<br />

para a proliferação <strong>de</strong> vetores (KNUDSEN; SLOOFF, 1992).<br />

Atualmente estima-se que um bilhão <strong>de</strong> pessoas no mundo resi<strong>de</strong> em áreas<br />

<strong>de</strong> favelas (RILEY et al. 2007). Operacionalmente, <strong>de</strong>fini-se favela como um<br />

assentamento humano que engloba algumas características, tais como: o acesso<br />

ina<strong>de</strong>quado à água potável; acesso ina<strong>de</strong>quado ao saneamento e outros serviços <strong>de</strong><br />

infra-estrutura; fraca qualida<strong>de</strong> estrutural das habitações; superlotação e precário<br />

estado resi<strong>de</strong>ncial. Essas características <strong>de</strong>screvem 43% do conjunto urbano em<br />

todos os países e 78% da população urbana dos países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

(RILEY et al. 2007). Logo, em alguns países em <strong>de</strong>senvolvimento, as favelas já se<br />

tornaram a norma dos assentamentos humanos em áreas urbanas.<br />

De acordo com McMichael (2000), nos últimos dois séculos, a proporção da<br />

população mundial que residia nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s passou <strong>de</strong> 5% para 50% e<br />

estima-se, que até 2030, cerca <strong>de</strong> 2/3 da população mundial residirão nas áreas<br />

urbanas. Para o autor, as cida<strong>de</strong>s são fontes <strong>de</strong> pobreza, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> e<br />

ambientais. As populações das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s dos países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

estão expostas a vários riscos ambientais que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> contrair doenças infecto-<br />

parasitárias até os riscos físicos e químicos resultantes das ativida<strong>de</strong>s industriais.<br />

Processo semelhante <strong>de</strong> urbanização po<strong>de</strong> ser observado no Brasil. Na<br />

década <strong>de</strong> 1960, a maioria da população brasileira (55%) residia nas áreas rurais, já<br />

no ano 2000, 81% da população já residia nas áreas urbanas. Contudo, a oferta <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong> infra-estrutura urbana não acompanhou o acelerado processo <strong>de</strong><br />

urbanização do país (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,<br />

2001).<br />

No Brasil, aproximadamente 40 milhões <strong>de</strong> pessoas vivem com menos <strong>de</strong><br />

dois dólares por dia, e a maior parte <strong>de</strong>ssa população encontra-se infectada com<br />

uma ou mais doenças tropicais negligenciadas (HOTEZ, 2008). Além disso, o país<br />

se caracteriza como uma socieda<strong>de</strong> extremamente <strong>de</strong>sigual, fato contatado pelo<br />

índice <strong>de</strong> Gini, 3 <strong>de</strong> 0,59, que representa uma das maiores disparida<strong>de</strong>s entre ricos e<br />

pobres do mundo (WORLD BANK, 2004). Hotez (2008), estudando o problema das<br />

doenças negligenciadas no Brasil, consi<strong>de</strong>ra que o encargo social<br />

3 Indicador que me<strong>de</strong> a concentração da riqueza entre os indivíduos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>.<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

surpreen<strong>de</strong>ntemente alto gerado por essas doenças no país é uma comprovação<br />

das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s.<br />

O processo <strong>de</strong> urbanização acelerado e não planejado ocorrido no Brasil nas<br />

últimas décadas, associado à pobreza <strong>de</strong> parcela significativa da população e às<br />

precárias condições ambientais (saneamento básico <strong>de</strong>ficitário ou ausente,<br />

abastecimento <strong>de</strong> água insuficiente, moradias ina<strong>de</strong>quadas), contribuiu para a<br />

persistência e o agravamento <strong>de</strong> certas doenças, em especial as infecto-parasitárias<br />

(SABROZA; KAWA; CAMPOS, 1999).<br />

Nesse contexto é que <strong>de</strong>ve ser compreendida a caracterização da filariose<br />

linfática como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública na Região Metropolitana do Recife,<br />

único foco <strong>de</strong> transmissão ativa da parasitose no país. Morais (1982) <strong>de</strong>monstrou<br />

que a filariose estava focalmente distribuida na cida<strong>de</strong> do Recife. Albuquerque<br />

(1993), ao estudar a prevalência da filariose no Recife (PE), aponta como<br />

importantes fatores para a manutenção da transmissão: o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado<br />

da cida<strong>de</strong>, o aumento significativo do número <strong>de</strong> aglomerados subnormais (favelas)<br />

e as precárias condições <strong>de</strong> saneamento ambiental. As condições favoráveis para a<br />

proliferação do mosquito vetor (C. quinquefasciatus) da filariose e,<br />

conseqüentemente, para a manutenção da en<strong>de</strong>mia na região, po<strong>de</strong>m ser<br />

creditadas, em gran<strong>de</strong> parte, às habitações ina<strong>de</strong>quadas nas áreas com altas<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s populacionais (favelas) on<strong>de</strong> o sistema <strong>de</strong> saneamento ambiental é<br />

precário.<br />

Consi<strong>de</strong>rando as relações entre a en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> da filariose e a organização<br />

social do espaço urbano, Albuquerque e Morais (1997) propõem um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

intervenção para o controle da filariose linfática. Esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>tectar<br />

situações coletivas <strong>de</strong> risco por meio da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> micro-áreas <strong>de</strong> risco. Para<br />

a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ssas áreas <strong>de</strong> risco, seriam utilizados os índices compostos <strong>de</strong><br />

carência social, constituídos por variáveis sociais, econômicos, ambientais e <strong>de</strong><br />

infra-estrutura urbana.<br />

Braga et al. (2001) <strong>de</strong> forma complementar ao mo<strong>de</strong>lo proposto por<br />

Albuqueque e Morais (1997) <strong>de</strong>senvolvem um estudo no município <strong>de</strong> Olinda (PE).<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> avaliar a utilização <strong>de</strong> um indicador socioambiental, construído<br />

através da metodologia <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> escores, para estratificação do espaço<br />

urbano, <strong>de</strong>finindo estratos populacionais <strong>de</strong> risco. Os resultados do estudo<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

<strong>de</strong>monstraram a sensibilida<strong>de</strong> do indicador ao predizer o local <strong>de</strong> ocorrência da<br />

maioria dos casos <strong>de</strong> infecção filarial. Além disso, a distribuição dos casos<br />

evi<strong>de</strong>nciou a agregação espacial.<br />

Boyd et al. (2005) evi<strong>de</strong>nciaram a relevância do tratamento a ser dado ao<br />

componente espacial na mo<strong>de</strong>lagem sobre filariose. Em especial, os autores<br />

ressaltam que o mo<strong>de</strong>lo mais a<strong>de</strong>quado, entre os discutidos em seu trabalho é<br />

aquele que usa o resíduo da correlação espacial. O trabalho discute a melhor forma<br />

<strong>de</strong> situar o problema da filariose no Haiti, visando um planejamento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong><br />

ações.<br />

Na India, sabesan et al. (2006) consi<strong>de</strong>rando o papel dos fatores geo-<br />

ambientais (altitu<strong>de</strong>, temperatura, humida<strong>de</strong> relativa do ar, precipitação pluviométrica<br />

e tipo <strong>de</strong> solo) <strong>de</strong>senvolveram um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> risco para transmissão da filariose. Por<br />

meio da análise multivariada elaboram um indicador <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão da<br />

filariose linfática. Para estratificação do espaço em níveis <strong>de</strong> risco potencial, foi<br />

elaborando um mapa usando o SIG. Os autores concluíram que o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong>senvolvido po<strong>de</strong>ria ser empregado para a <strong>de</strong>limitação espacial da filariose em<br />

uma escala macro, sobretudo para i<strong>de</strong>ntificar áreas <strong>de</strong> “não-risco”. O fato <strong>de</strong> a<br />

transmissão da filariose ser amplamente <strong>de</strong>terminada pelos fatores geoambientais<br />

possibilita a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>finidas a partir <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>terminantes.<br />

Srividya et al. (2002) investigaram a estrutura espacial da filariose<br />

bancroftiana usando métodos geoestatísticos, em uma região endêmica no sul da<br />

Índia e constataram o método é uma po<strong>de</strong>rosa ferramenta para a realização da<br />

investigação empírica e análise da distribuição espcial. No entanto, a aplicação bem<br />

su<strong>de</strong>cida do método <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da compreensão das escalas geográficas e<br />

recomenda cautela na aplicação <strong>de</strong> planos uniformes <strong>de</strong> amostragem nas diversas<br />

regiões endêmicas, para investigar o padrão espacial da filariose.<br />

É inegável a importância da análise espacial no planejamento do controle e<br />

da eliminação da filariose linfática. Na África (GYAPONG et al. 2002, GYAPONG;<br />

REMME, 2001, LINDSAY; THOMAS, 2000) e na Índia (SABESAN et al. 2006,<br />

SRIVIDYA, 2002) utilizaram a análise espacial para estimar a distribuição geográfica<br />

da filariose e i<strong>de</strong>ntificar áreas com risco <strong>de</strong> transmissão.<br />

Nesta perspectiva, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é verificar a associação entre a<br />

prevalência da filariose bancroftiana e os fatores socioambientais, i<strong>de</strong>ntificando<br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

áreas com risco <strong>de</strong> transmissão em espaços intra-urbanos no município <strong>de</strong> Jaboatão<br />

dos Guararapes (PE).<br />

1.5 Justificativa<br />

O trabalho justifica-se pelos seguintes argumentos:<br />

A filariose linfática, causada pela Wuchereria bancrofti, é uma doença<br />

parasitária com transmissão preferencialmente urbana e em áreas on<strong>de</strong> as<br />

condições <strong>de</strong> saneamento ambiental são precárias ou <strong>de</strong>ficitárias. Portanto, está<br />

intimamente relacionada com os fatores socioeconômicos e ambientais. Assim, um<br />

mo<strong>de</strong>lo explicativo para a permanência da filariose no município <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar a<br />

complexida<strong>de</strong> dos fenômenos sociais e a sua relação com o ciclo infeccioso da<br />

bancroftose.<br />

A construção <strong>de</strong> um indicador <strong>de</strong> carência social po<strong>de</strong>rá permitir o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo capaz <strong>de</strong> caracterizar essa associação e i<strong>de</strong>ntificar<br />

espacialmente áreas <strong>de</strong> maior risco, alvos prioritários para intervenção do po<strong>de</strong>r<br />

público.<br />

O indicador proposto neste trabalho significa uma mudança na abordagem<br />

clássica adotada pelo programa <strong>de</strong> controle da filariose, baseado no risco individual,<br />

para uma abordagem direcionada para a situação coletiva <strong>de</strong> risco. A idéia é<br />

contribuir para a implementação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica <strong>de</strong> base<br />

territorial, o qual integra as informações sobre a condição <strong>de</strong> vida da população e a<br />

ocorrência da en<strong>de</strong>mia.<br />

À medida que as políticas públicas, <strong>de</strong> um modo geral, e as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,<br />

em particular, são mais eficazes quando conseguem atingir, <strong>de</strong> fato, a população<br />

necessitada. Este atendimento eficaz é possibilitado pela <strong>de</strong>limitação geográfica das<br />

áreas carentes. Daí a importância <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> vigilância epi<strong>de</strong>miológica <strong>de</strong><br />

base territorial o qual integra as informações sobre condições <strong>de</strong> vida da população<br />

e a ocorrência da en<strong>de</strong>mia.<br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Um sistema <strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong>ve expressar a diversida<strong>de</strong> do risco <strong>de</strong><br />

transmissão da filariose e a sua relação com as condições <strong>de</strong> vida da população.<br />

Com este intuito, neste trabalho, diferentes abordagens <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

indicadores serão adotadas. Este trabalho preten<strong>de</strong> contribuir para elaboração <strong>de</strong><br />

um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção que associa o ambiente no qual a comunida<strong>de</strong> está<br />

inserida às suas carências. Isto o torna útil para o planejamento das ações <strong>de</strong><br />

controle da filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, inserindo-o no<br />

programa do Ministério da Saú<strong>de</strong> que tem por meta controlar e erradicar a doença<br />

no País.<br />

1.6 Hipótese<br />

O Indicador <strong>de</strong> Carência Social é um mo<strong>de</strong>lo capaz <strong>de</strong> associar a filariose<br />

linfática e os fatores socioambientais e i<strong>de</strong>ntificar áreas com risco <strong>de</strong> transmissão em<br />

espaços intra-urbanos do município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes (PE).<br />

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2 OBJETIVOS<br />

2.1 Objetivo Geral<br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Verificar a associação entre a prevalência da filariose bancroftiana e os fatores<br />

socioambientais, i<strong>de</strong>ntificando áreas com risco <strong>de</strong> transmissão em espaços intra-<br />

urbanos no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes (PE).<br />

2.2 Objetivos específicos<br />

a) Descrever a ocorrência e a distribuição da microfilaremia no município <strong>de</strong><br />

Jaboatão dos Guararapes;<br />

b) I<strong>de</strong>ntificar, mediante a construção <strong>de</strong> indicadores compostos, áreas com padrões<br />

homogêneos <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida;<br />

c) Analisar a distribuição espacial dos casos <strong>de</strong> filariose no município, apresentando<br />

a concentração geográfica da doença;<br />

d) Classificar e comparar as áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão da filariose segundo os<br />

indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida.<br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

3.1 Epi<strong>de</strong>miologia e geografia: dos primórdios ao geoprocessamento <br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> 1<br />

Zulma Me<strong>de</strong>iros 2<br />

1 Doutoranda em Saú<strong>de</strong> Pública do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong><br />

(CPqAM). Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Pesquisadora da Diretoria <strong>de</strong><br />

<strong>Pesquisas</strong> Sociais (DIPES). Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ/MEC).<br />

2 Pesquisadora Adjunta do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong> (CPqAM).<br />

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Professora do Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas<br />

(ICB). Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco (UPE).<br />

Correspondência: <strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> (cristine.bonfim@fundaj.gov.br)<br />

Artigo publicado na Revista Espaço para Saú<strong>de</strong>, Londrina, v. 10, n. 1, p. 53-62, 2008.<br />

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3.2 The epi<strong>de</strong>miological <strong>de</strong>limitation of lymphatic filariasis in an en<strong>de</strong>mic area of<br />

Brazil, 41 years after the first recor<strong>de</strong>d case<br />

Zulma Me<strong>de</strong>iros 1,2<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> 1,3<br />

Ayla Alves 4<br />

Conceição Oliveira 5<br />

Maria José Evangelista Netto 1<br />

Ana Maria Aguiar-Santos 1<br />

1 Departamento <strong>de</strong> Parasitologia, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong> –<br />

Fundação Oswaldo Cruz.<br />

2 Departamento <strong>de</strong> Patologia, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Pernambuco.<br />

3 Diretoria <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> Sociais, Fundação Joaquim Nabuco.<br />

4 Faculda<strong>de</strong> do Agreste <strong>de</strong> Pernambuco, Associação Caruaruense <strong>de</strong> Ensino<br />

Superior.<br />

5 Diretoria <strong>de</strong> Vigilância e Saú<strong>de</strong>, Prefeitura do Recife.<br />

Correspondência: Zulma Me<strong>de</strong>iros. Departamento <strong>de</strong> Parasitologia, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong> – Fundação Oswaldo Cruz. Av. Moraes Rego, s/n,<br />

Cida<strong>de</strong> Universitária. CEP 50670-420, Recife (PE), Brasil.<br />

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3.3 A socioenvironmental composite in<strong>de</strong>x as a tool for i<strong>de</strong>ntifying urban areas at risk<br />

of Lymphatic filariasis 4<br />

1, 2<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Maria José Evangelista Netto 2<br />

Dinilson Pedroza Jr. 3,4<br />

José Luiz Portugal 5<br />

Zulma Me<strong>de</strong>iros 2,6<br />

1 Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Educação, Recife, Brazil.<br />

2 <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, Brazil.<br />

3 Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, Recife, Brazil.<br />

4 Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />

5 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />

6 Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />

Address for correspon<strong>de</strong>nce: <strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong>, Diretoria <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> Sociais.<br />

Fundação Joaquim Nabuco. Rua Dois Irmãos, 92 - Ed. Anexo Anízio Teixeira.<br />

Apipucos, Recife, Pernambuco, Brazil. CEP: 52071-440. Tel.: 55 81 30736576; Fax<br />

55 81 30736509; E-mail: cristine.bonfim@fundaj.gov.br<br />

4 Artigo publicado na Revista Tropical Medicine and International Health, Oxford, v. 14, n. 8, p. 877-<br />

884, 2009.<br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

3.4 Social <strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x and lymphatic filariasis: a tool for mapping urban areas<br />

at risk in northeastern Brazil 5<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> a,b*<br />

Ana Maria Aguiar-Santos a<br />

Dinilson Pedroza Jr. c,d<br />

Ta<strong>de</strong>u Rodrigues Costa e<br />

José Luiz Portugal f<br />

Zulma Me<strong>de</strong>iros a,g<br />

a <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz.<br />

Av. Professor Moraes Rego, s/n, Cida<strong>de</strong> Universitária, Recife, 50.670-420, PE,<br />

Brazil.<br />

b Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Educação, Recife, Brazil.<br />

Rua Dois Irmãos, 92, Apipucos, Recife, 52071-440, PE, Brazil.<br />

c Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, Recife, Brazil.<br />

Praça João Gonçalves <strong>de</strong> Souza, Sn, Recife, PE, Brazil.<br />

d Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, Brazil.<br />

Rua do Príncipe Sn, bloco G, 5 andar, DEA, Recife, PE, Brazil.<br />

e<br />

Departamento <strong>de</strong> Estatística e Informática, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><br />

Pernambuco, Recife, Brazil.<br />

Avenida D. Manoel <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros, s/n, Dois Irmãos, Recife, 52.171-900, PE, Brazil.<br />

f Departamento <strong>de</strong> Engenharia Cartográfica. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Avenida Acadêmico Hélio Ramos, s/n, 2º andar, DECart, Cida<strong>de</strong> Universitária,<br />

Recife, 50740-530, PE, Brazil.<br />

g Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco.<br />

Rua Arnóbio Marques, 310, Santo. Amaro, Campus Universitário, Recife, 50.100-<br />

130, PE, Brazil.<br />

* Corresponding author: Rua Dois Irmãos, 92 - Ed. Anexo Anízio Teixeira. Apipucos,<br />

Recife, Pernambuco. Brazil. CEP: 52071-440. E-mail address:<br />

cristine.bonfim@fundaj.gov.br (C. <strong>Bonfim</strong>) Tel.: +55 81 3073 6576; fax: +55 81 3073<br />

6509<br />

5 Artigo publicado na Revista International Health, v.1, p. 78-84.<br />

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<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

3.5 COMPARAÇÃO DE FERRAMENTAS EPIDEMIOLÓGICAS PARA A<br />

IDENTIFICAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO DE FILARIOSE LINFÁTICA *<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong> 1,2<br />

Dinilson Pedroza Jr. 3<br />

José Luiz Portugal 4<br />

Fábio Alencar 5<br />

Ayla Alves 6<br />

Zulma Me<strong>de</strong>iros 1,7<br />

1 Laboratório <strong>de</strong> Doenças Transmissíveis, Departamento <strong>de</strong> Parasitologia, <strong>Centro</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz, Pernambuco, Brasil.<br />

2 Diretoria <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> Sociais, Fundação Joaquim Nabuco, Pernambuco Brasil.<br />

3 Departamento <strong>de</strong> Economia, Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco, Pernambuco,<br />

Brasil.<br />

4 Departamento <strong>de</strong> Engenharia Cartográfica, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, Pernambuco,<br />

Brasil.<br />

5 Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil.<br />

6 Associação Caruaruense <strong>de</strong> Ensino Superior, Pernambuco, Brasil.<br />

7 Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, Pernambuco,<br />

Brasil.<br />

86


Resumo<br />

Antece<strong>de</strong>ntes<br />

Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

No Brasil, o Programa <strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática apresenta a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

indicadores sintéticos <strong>de</strong> risco, a partir da estratificação do espaço urbano, como<br />

uma <strong>de</strong> suas principais estratégias. Outro componente importante para o<br />

planejamento das ações <strong>de</strong> controle e eliminação da filariose é o mapeamento<br />

<strong>de</strong>talhado da distribuição espacial da infecção. O objetivo do estudo é a comparar as<br />

ferramentas epi<strong>de</strong>miológicas para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> transmissão<br />

<strong>de</strong> filariose.<br />

Metodologia e Principais resultados<br />

Um estudo ecológico foi realizado no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, região<br />

Nor<strong>de</strong>ste do Brasil. A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise foi o setor censitário (SC). O estudo foi<br />

conduzido em três etapas: a primeira consistiu na análise dos dados <strong>de</strong> um inquérito<br />

epi<strong>de</strong>miológico; na segunda, proce<strong>de</strong>u-se à construção <strong>de</strong> dois indicadores <strong>de</strong><br />

condição <strong>de</strong> vida e analisou-se a relação <strong>de</strong>sses indicadores com as taxas <strong>de</strong><br />

prevalência <strong>de</strong> microfilaremia. Na terceira, os casos positivos foram<br />

georreferenciados com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma concentração espacial pelo<br />

estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel. Foram calculados dois indicadores compostos <strong>de</strong><br />

condição <strong>de</strong> vida: formação <strong>de</strong> escores (indicador <strong>de</strong> risco socioambiental) e análise<br />

fatorial por componentes principais (indicador <strong>de</strong> carência social). Esses indicadores<br />

permitiram agrupar os SC em três estratos <strong>de</strong> risco: baixo, médio e alto. Dos 23.673<br />

indivíduos examinados, i<strong>de</strong>ntificaram-se 323 microfilarêmicos (1,4%). Nos dois<br />

indicadores, observou-se maior prevalência nos estratos <strong>de</strong> alto risco, associação<br />

esta confirmada pelo estimador <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> Kernel.<br />

Conclusões<br />

A classificação dos SC por estratos <strong>de</strong> risco apontou a relevância dos fatores<br />

socioeconômicos e ambientais na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas prioritárias para a<br />

intervenção dos serviços <strong>de</strong> vigilância e do planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> controle da<br />

filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes. A análise espacial também se<br />

revelou como uma importante ferramenta a ser utilizada na construção do sistema<br />

<strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong> base territorial.<br />

87


Introdução<br />

Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

A relação entre a pobreza e a filariose linfática é forte, bidirecional e complexa<br />

[1]. É uma doença parasitária cuja transmissão, caracteristicamente urbana, ocorre<br />

em áreas on<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> saneamento ambiental são precárias ou <strong>de</strong>ficitárias,<br />

ou seja, fortemente relacionada com os fatores socioeconômicos e ambientais [2]-<br />

[4].<br />

Atualmente a filariose linfática é endêmica em 83 países, com mais <strong>de</strong> 1.2<br />

bilhões <strong>de</strong> pessoas residindo em áreas <strong>de</strong> risco e cerca <strong>de</strong> 120 milhões <strong>de</strong> pessoas<br />

já estão infectadas [5]. No Brasil, estima-se o número <strong>de</strong> infectados em 49 mil.<br />

Consi<strong>de</strong>rada como uma doença potencialmente erradicável [6], a sua eliminação<br />

constitui um objetivo prioritário para a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> [7]. Des<strong>de</strong><br />

1998, o Programa Global <strong>de</strong> Eliminação da Filariose Linfática (PGEFL) tem<br />

orientado sua eliminação até 2020.<br />

A construção dos índices compostos <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida constitui uma<br />

alternativa metodológica capaz <strong>de</strong> explicitar os diferenciais intra-urbanos, através da<br />

mensuração das condições <strong>de</strong> vida [8]-[12]. Os índices compostos agrupam vários<br />

indicadores ou estatísticas, compilados em um único índice, com base em algum<br />

mo<strong>de</strong>lo subjacente. Esses índices <strong>de</strong>vem ser capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar condições <strong>de</strong><br />

risco advindas <strong>de</strong> circunstâncias sociais e ambientais adversas no interior das<br />

comunida<strong>de</strong>s, relacionando-as com unida<strong>de</strong>s espaciais <strong>de</strong>finidas (municípios,<br />

bairros, setores censitários, logradouros, entre outros) [13]-[19].<br />

Outro componente importante para o planejamento das ações <strong>de</strong> controle e<br />

eliminação da filariose linfática é o mapeamento <strong>de</strong>talhado da distribuição espacial<br />

da infecção [20], [21]. As técnicas <strong>de</strong> análise espacial vêm sendo empregadas nos<br />

estudos epi<strong>de</strong>miológicos como um método que permite a integração <strong>de</strong> informações<br />

socioeconômicas, ambientais e <strong>de</strong>mográficas com a localização espacial das<br />

doenças [22]-[24]. Na África [20], [25], [26] e na Índia [26], [27] foi utilizada a análise<br />

espacial para estimar a distribuição geográfica da filariose e i<strong>de</strong>ntificar áreas com<br />

risco <strong>de</strong> transmissão.<br />

Neste sentido, o objetivo do estudo é comparar a capacida<strong>de</strong> do indicador <strong>de</strong><br />

carência social com o socioambiental e as técnicas <strong>de</strong> análise espacial na <strong>de</strong>tecção<br />

88


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

<strong>de</strong> áreas geográficas <strong>de</strong> maior risco transmissão <strong>de</strong> filariose linfática. Com isso,<br />

preten<strong>de</strong>-se a estabelecer a estratificação do espaço urbano como um dos critérios<br />

para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> áreas prioritária para o PGEFL.<br />

Material e métodos<br />

Área <strong>de</strong> estudo<br />

A área <strong>de</strong> estudo é o município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes, situado na<br />

região metropolitana do estado <strong>de</strong> Pernambuco, Brasil. Esse município apresenta<br />

uma extensão territorial <strong>de</strong> 256.073 km 2 , composta por 27 bairros, subdivididos em<br />

492 setores censitários (SC). Observou-se a ausência <strong>de</strong> informações em oito SC,<br />

que foram excluídos do estudo. A população resi<strong>de</strong>nte era <strong>de</strong> 581.556 habitantes<br />

(98% em área urbana) segundo o último censo realizado [28].<br />

Desenho <strong>de</strong> estudo e fonte <strong>de</strong> informação<br />

Trata-se <strong>de</strong> um estudo ecológico [29] <strong>de</strong> base populacional, cuja unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

análise espacial foi constituída pelos SC. Define-se SC como unida<strong>de</strong> territorial<br />

estabelecida com base nos critérios operacionais para o trabalho <strong>de</strong> campo do<br />

Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), composto por cerca <strong>de</strong> 300<br />

domicílios em áreas urbanas. O SC é a menor unida<strong>de</strong> espacial para a qual se<br />

dispõe <strong>de</strong> informações socioeconômicas com atualização periódica e máxima<br />

<strong>de</strong>sagregação geográfica que o censo permite [17], [30].<br />

O estudo foi conduzido em três fases: a primeira consistiu na análise dos<br />

dados do inquérito epi<strong>de</strong>miológico; na segunda fase, proce<strong>de</strong>u-se à construção dos<br />

indicadores <strong>de</strong> condição <strong>de</strong> vida e analisou-se a relação <strong>de</strong>sses indicadores com as<br />

taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial e, na terceira, os casos positivos <strong>de</strong> infecção<br />

filarial foram georreferenciados com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar uma concentração<br />

espacial.<br />

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Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

Fases da investigação<br />

Fase 1 - Inquérito parasitológico<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Os dados sobre os casos <strong>de</strong> infecção filarial tiveram como fonte o inquérito<br />

epi<strong>de</strong>miológico realizado, em parceria, pelo <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong> <strong>Magalhães</strong>,<br />

unida<strong>de</strong> da Fundação Oswaldo Cruz e pela Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaboatão dos<br />

Guararapes entre os anos <strong>de</strong> 2000 e 2002 [31]. Foram examinadas, pelo método da<br />

gota espessa não mensurada, amostras <strong>de</strong> sangue, coletadas entre 23h00min e<br />

01h00min, <strong>de</strong> 23.673 indivíduos resi<strong>de</strong>ntes em todos os bairros do município <strong>de</strong><br />

Jaboatão dos Guararapes. Todos os casos positivos i<strong>de</strong>ntificados no inquérito foram<br />

tratados conforme preconizado pela Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. O projeto <strong>de</strong><br />

pesquisa foi aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética do <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> <strong>Pesquisas</strong> <strong>Aggeu</strong><br />

<strong>Magalhães</strong>, Fundação Oswaldo Cruz (CAEE. 0034.0.095.000-07).<br />

Fase 2 - Construção dos indicadores <strong>de</strong> carência social<br />

2.1 Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental (IRS)<br />

Para a construção <strong>de</strong>sse indicador foram utilizadas variáveis sobre as<br />

condições ambientais e sociais provenientes do recenseamento nacional da<br />

população, realizado pelo IBGE, no ano <strong>de</strong> 2000: proporção <strong>de</strong> domicílios<br />

particulares permanentes com abastecimento <strong>de</strong> água ina<strong>de</strong>quado; proporção <strong>de</strong><br />

domicílios particulares permanentes com coleta <strong>de</strong> lixo ina<strong>de</strong>quada; proporção <strong>de</strong><br />

domicílios particulares permanentes com esgotamento sanitário ina<strong>de</strong>quado;<br />

proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com responsáveis sem instrução<br />

e proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com responsáveis sem<br />

rendimentos. Essas variáveis, agregadas por SC, foram computadas em valores<br />

absolutos para, em seguida, se extraírem os percentuais <strong>de</strong> ocorrência. Os escores,<br />

como medidas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento dos SC, foram elaborados a partir <strong>de</strong>ssas<br />

ocorrências, conforme metodologia <strong>de</strong>scrita por <strong>Bonfim</strong> et al. [31]. O IRS <strong>de</strong>ve ser<br />

interpretado da seguinte maneira: os maiores valores – em porcentagem – indicam<br />

que o SC apresenta um maior <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> ocorrência da filariose. Os SC foram<br />

agrupados por tercil em estratos <strong>de</strong> risco: baixo, médio e alto.<br />

90


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

2.2 Construção do indicador <strong>de</strong> carência social (ICS)<br />

Inicialmente para a construção do ICS foi feita a seleção dos indicadores que<br />

refletissem os diferenciais intra-urbanos e que estivessem relacionadas com a<br />

condição <strong>de</strong> vida da população e com a transmissão da filariose [2], [31], [32] quais<br />

sejam: abastecimento <strong>de</strong> água (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes<br />

com abastecimento <strong>de</strong> água ina<strong>de</strong>quado); esgotamento sanitário (proporção <strong>de</strong><br />

domicílios particulares permanentes com esgotamento sanitário ina<strong>de</strong>quado); coleta<br />

<strong>de</strong> lixo (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com coleta <strong>de</strong> lixo<br />

ina<strong>de</strong>quada); renda (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com<br />

responsáveis cuja renda era <strong>de</strong> meio a um salário mínimo); escolarida<strong>de</strong> (proporção<br />

<strong>de</strong> domicílios particulares permanentes cujos responsáveis tinham até um ano <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>); aglomeração (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares permanentes com<br />

10 ou mais moradores); domicílios alugados (proporção <strong>de</strong> domicílios particulares<br />

permanentes alugados) e população sem escolarida<strong>de</strong> (proporção da população <strong>de</strong><br />

10 a 14 anos sem escolarida<strong>de</strong>).<br />

O ICS social foi formulado utilizando-se o método <strong>de</strong> análise fatorial por<br />

componentes principais (ACP), cujo processamento foi realizado pelo programa<br />

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 15.0. Esse método é<br />

utilizado freqüentemente para variáveis contínuas e tem como objetivo explicar,<br />

tanto quanto possível, a variação total em um conjunto <strong>de</strong> dados através <strong>de</strong> um<br />

pequeno número <strong>de</strong> fatores, conhecidos como componentes principais. Cada<br />

componente principal, <strong>de</strong>nominado fator, consiste <strong>de</strong> uma combinação linear das<br />

variáveis. As relações entre cada variável original e os novos fatores são medidas<br />

pelas cargas fatoriais nos componentes. Uma vez que as cargas fatoriais são<br />

coeficientes <strong>de</strong> correlação, as cargas variam entre -1 e 1, e quanto maior o seu valor<br />

absoluto, maior é a representativida<strong>de</strong> da variável original no eixo composto.<br />

As condições necessárias para a aplicação da análise fatorial foram<br />

verificadas por meio dos testes Bartlett’s sphericity e do Kaiser-Mayer-Olkin (KMO).<br />

Para avaliar o número <strong>de</strong> fatores a serem extraídos foi utilizado Screen plot (gráfico<br />

da variância pelo número <strong>de</strong> componentes), on<strong>de</strong> os pontos no maior <strong>de</strong>clive<br />

indicam o número apropriado <strong>de</strong> componentes a reter. A fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> dos fatores<br />

foi avaliada utilizando o alfa <strong>de</strong> Cronbach (Cronbach’s coefficient alpha),<br />

consi<strong>de</strong>rando aceitável um índice ≥0,50.<br />

91


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Do conjunto <strong>de</strong> fatores extraídos, utilizou-se, para composição do ICS o que<br />

apresentou autovalor maior que um. Os valores do indicador foram calculados por<br />

meio <strong>de</strong> regressão. Com base nesse indicador, os SC foram agrupados quanto à<br />

carência social. Para estabelecer os pontos <strong>de</strong> corte para a estratificação dos SC,<br />

utilizou-se o método estatístico <strong>de</strong> classificação não hierárquica K-means clustering,<br />

tomando K=3 para i<strong>de</strong>ntificar três agrupamentos. O K-means é um método clássico<br />

<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> clusters, em que os clusters são constituídos <strong>de</strong> forma a aperfeiçoar<br />

um <strong>de</strong>terminado critério (função <strong>de</strong> semelhança). Assim, este método recebe como<br />

input o parâmetro k e proce<strong>de</strong> à partição <strong>de</strong> n objetos em k grupos, <strong>de</strong> forma a<br />

garantir elevada semelhança intra-cluster e uma elevada diferença inter-cluster.<br />

O primeiro estrato foi composto pelos SC <strong>de</strong> baixa carência social. No<br />

segundo estrato, estão os SC com uma situação intermediária, e o terceiro é<br />

constituído pelos SC <strong>de</strong> alta carência social.<br />

Como recurso para analisar a relação do IRS e do ICS com a prevalência <strong>de</strong><br />

infecção filarial, adotou-se o cálculo da sobremorbida<strong>de</strong> (excesso <strong>de</strong> casos) e razão<br />

das taxas. Para tanto, utilizou-se o estrato <strong>de</strong> melhor condição social (estrato I),<br />

consi<strong>de</strong>rado como <strong>de</strong> baixo risco em ambos os indicadores, como <strong>de</strong> referência para<br />

a comparação entre a condição <strong>de</strong> vida e a filariose no município.<br />

Fase 3 - Análise espacial<br />

O equivalente a 95,36% (308/323) dos casos positivos <strong>de</strong> filariose,<br />

i<strong>de</strong>ntificados no inquérito parasitológico, foram georreferenciados na forma pontual,<br />

empregando-se rastreador <strong>de</strong> navegação GPS (Global Positioning Systems) e<br />

tomando-se por referência a residência dos infectados.<br />

A partir da amostra pontual dos casos, implementou-se o estimador kernel.<br />

Esse estimador é obtido por um mo<strong>de</strong>lo matemático que tem como parâmetros <strong>de</strong><br />

entrada o número <strong>de</strong> pontos e respectivas posições geográficas, um grau <strong>de</strong><br />

suavização da superfície <strong>de</strong> saída e uma largura <strong>de</strong> banda ou raio <strong>de</strong> busca. O<br />

parâmetro <strong>de</strong> saída é materializado por uma superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> suavizada,<br />

capaz <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar aglomerados espaciais, ou seja, posições <strong>de</strong> maior ou menor<br />

ocorrência <strong>de</strong> pontos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área [33].<br />

92


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Neste estudo, empregou-se um grau <strong>de</strong> suavização <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m<br />

(kernel quadrático) e uma largura <strong>de</strong> banda <strong>de</strong> 5.000 metros. Essa largura<br />

correspon<strong>de</strong> a um quarto da menor dimensão do retângulo circunscrito no polígono<br />

que <strong>de</strong>fine o município, conforme sugerido por Bailey [33].<br />

A superfície suavizada foi estratificada em tercis, nos quais cada intervalo<br />

contém o mesmo número <strong>de</strong> ocorrências. Assim, o intervalo com maiores valores foi<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> alto risco por apresentar maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

área; o intervalo com menores valores, como <strong>de</strong> baixo risco por apresentar menor<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> área; e o intervalo <strong>de</strong> valores intermediários,<br />

como o <strong>de</strong> médio risco.<br />

A superfície foi visualizada sob a forma <strong>de</strong> mapa, associando-se a cada<br />

estrato um <strong>de</strong>terminado tom <strong>de</strong> cinza: o mais escuro correspon<strong>de</strong>u à alta<br />

intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos e o mais claro correspon<strong>de</strong>u à baixa intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos.<br />

Resultados<br />

Fase 1 Inquérito parasitológico<br />

Para participação no inquérito parasitológico, foram cadastradas 28.612<br />

pessoas <strong>de</strong> ambos os sexos com ida<strong>de</strong>s entre 1 e 99 anos. Dessas, 23.673 foram<br />

examinados, i<strong>de</strong>ntificando-se 323 microfilarêmicos (1,4%). Entre os SC as taxas <strong>de</strong><br />

prevalência variaram <strong>de</strong> 0 a 25%.<br />

Fase 2 - Construção dos indicadores <strong>de</strong> carência social<br />

2.1 Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental (IRS)<br />

Os estratos <strong>de</strong> risco por SC foram or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> acordo com o ranking do IRS<br />

calculado, conforme disposto na Figura (1A). As taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção<br />

filarial para cada um dos estratos do IRS, indicam diferentes riscos <strong>de</strong> transmissão<br />

no município (Tabela 2). O estrato <strong>de</strong> alto risco (I) apresentou um risco <strong>de</strong> 4,58<br />

(3,02-6,99) maior que o estrato <strong>de</strong> baixo risco (III), revelando um excesso <strong>de</strong> 125<br />

casos (Tabela 2). Utilizando-se a taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial do estrato<br />

<strong>de</strong> baixo risco (I) como referência para o município, i<strong>de</strong>ntificou-se uma razão <strong>de</strong><br />

taxas <strong>de</strong> 2,83 e um excesso <strong>de</strong> 209 casos (Tabela 1). Para o IRS, também verificou-<br />

93


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

se que a taxa <strong>de</strong> prevalência mais elevada (93,14 por 100 mil habitantes)<br />

encontrava-se no estrato consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> alto risco pelo IRS (Tabela 1). Nesse<br />

estrato também foi <strong>de</strong>tectada a maior proporção <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> infecção filarial<br />

(49,54%).<br />

2.2 Indicador <strong>de</strong> Carência Social (ICS)<br />

O teste Bartlett’s sphericity e o KMO <strong>de</strong>monstraram a a<strong>de</strong>quação da análise<br />

fatorial realizada (Tabela 3). O eigenvalues > 1,5 e o gráfico Scree Plot, utilizados<br />

para avaliar o número <strong>de</strong> fatores a serem extraídos, indicaram a existência <strong>de</strong> três<br />

fatores que, em conjunto, explicaram 68,82% da variância total. O primeiro fator<br />

explicou 43,03% da variância total dos oito indicadores iniciais e constitui o indicador<br />

<strong>de</strong> carência social (ICS). A análise da consistência interna dos itens que compõem<br />

este fator foi feita por meio do alfa <strong>de</strong> Cronbach, que revelou um índice <strong>de</strong><br />

fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 0,7. Examinando-se as cargas fatoriais do primeiro fator, as<br />

variáveis renda, esgotamento sanitário ina<strong>de</strong>quado, escolarida<strong>de</strong> e coleta <strong>de</strong> lixo<br />

ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>stacam-se como as mais correlacionadas com este fator, por<br />

apresentarem coeficiente <strong>de</strong> correlação acima <strong>de</strong> 70% (Tabela 3).<br />

A Figura 1 (B) apresenta a estratificação do espaço segundo a carência social<br />

do ICS por SC. Em relação à análise das taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial,<br />

segundo os estratos <strong>de</strong> risco do ICS, observou-se uma taxa média <strong>de</strong> 57,45 (por 100<br />

mil habitantes) para o município (Tabela 1). Por sua vez, a taxa <strong>de</strong> prevalência mais<br />

elevada (73,69 por 100.000 habitantes) foi i<strong>de</strong>ntificada no estrato <strong>de</strong> alta carência<br />

social e esse estrato também concentrou a maior proporção <strong>de</strong> casos (50,46%)<br />

(Tabela 1).<br />

Quando se comparou a taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial (por 100 mil<br />

habitantes) do estrato I com as taxas dos estratos II, III e do município encontrou-se<br />

uma razão <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> 3,45 (estrato II/I), 3,62 (estrato III/I) e <strong>de</strong> 2,85 para o<br />

município/I (Tabela 2). Ao assumir a taxa <strong>de</strong> prevalência do estrato I como referência<br />

para o município, i<strong>de</strong>ntificou-se uma taxa <strong>de</strong> sobremorbida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (154,8%),<br />

equivalendo a um excesso <strong>de</strong> 125 casos da infecção (Tabela 1).<br />

94


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

Fase 3 - Análise espacial<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

A distribuição <strong>de</strong>sigual dos casos <strong>de</strong> infecção filarial no espaço urbano do<br />

município po<strong>de</strong> ser notada na Figura 1 (C e D). Pelo estimador Kernel i<strong>de</strong>ntificaram<br />

áreas com maior intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos (Curado, Cavaleiro, Floriano, Socorro, Zumbi,<br />

Sucupira, Jardim Jordão e Guararapes) e com menor intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos<br />

(Manassu, Vargem Fria e Bulhões) (Figura C e D). Examinando-se a estratificação<br />

dos SC segundo o IRS, observou-se uma concordância <strong>de</strong> 79,75% (130/163) entre<br />

os SC que compõem o estrato <strong>de</strong> alto risco (III) e a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos pelo<br />

estimador Kernel. Para o baixo (I) e o médio (II) risco a concordância foi <strong>de</strong> 17,72%<br />

(57/161) e 35,40% (28/158) respectivamente. Po<strong>de</strong>-se observar uma concordância<br />

<strong>de</strong> 87,68% (121/138) entre os SC apontados como <strong>de</strong> alto risco (III) pelo ICS e pelo<br />

estimador Kernel. Para o estrato <strong>de</strong> baixo risco (I) a concordância foi <strong>de</strong> 20,59%<br />

(28/136) e para o estrato <strong>de</strong> médio risco (II) a concordância foi <strong>de</strong> 40,87% (85/208).<br />

Discussão<br />

Seguramente, para a maioria das doenças transmissíveis, sobretudo, as<br />

infecto-parasitárias, as condições econômicas, habitacionais, <strong>de</strong> saneamento<br />

ambiental, atuam fortemente como fatores <strong>de</strong>terminantes [34]-[36]. Portanto, a<br />

análise dos riscos e do padrão <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>ssas doenças exige um mo<strong>de</strong>lo que<br />

compreenda as conexões entre os processos socioambientais e o espaço geográfico<br />

on<strong>de</strong> elas se manifestam [37], [38]. Esse é o enfoque adotado pelos <strong>de</strong>nominados<br />

estudos ecológicos, os quais utilizam áreas geográficas como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise<br />

[39]. Por compreen<strong>de</strong>r que seriam os mais a<strong>de</strong>quados para i<strong>de</strong>ntificar os diferenciais<br />

<strong>de</strong> risco da filariose e os fatores explicativos, esse enfoque ecológico foi o adotado<br />

neste estudo.<br />

A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise adotada aqui foi o SC, a qual possibilitou a estratificação<br />

do espaço urbano e propiciou uma visão geral da situação coletiva <strong>de</strong> risco que<br />

po<strong>de</strong>m explicar os diferenciais na ocorrência da filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão<br />

dos Guararapes. Algumas investigações observaram que, quanto menor é a área <strong>de</strong><br />

referência, maior é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a população seja mais homogênea e se<br />

<strong>de</strong>tectem mais a<strong>de</strong>quadamente os diferenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> [11], [40]-[42].<br />

95


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Já na construção dos indicadores, foram empregadas variáveis sociais e<br />

ambientais relacionadas com as condições <strong>de</strong> vida da população e com a<br />

transmissão da doença [2], [31], [32]. Os estratos <strong>de</strong> riscos foram elaborados a partir<br />

<strong>de</strong> dois indicadores compostos: indicador <strong>de</strong> risco socioambiental<br />

(socioenvironmental composite risk indicator) e o indicador <strong>de</strong> carência social (social<br />

<strong>de</strong>privation in<strong>de</strong>x) utilizando dois métodos (formação <strong>de</strong> escores e análise fatorial,<br />

respectivamente). A análise foi incrementada com a aplicação do estimador <strong>de</strong><br />

intensida<strong>de</strong> Kernel para a i<strong>de</strong>ntificação dos aglomerados espaciais.<br />

De modo geral, observou-se nos resultados que a piora das condições sociais<br />

e ambientais estavam associadas ao aumento da taxa <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção<br />

filarial. Além disso, os estratos <strong>de</strong> melhor condição social concentravam a menor<br />

proporção <strong>de</strong> casos. Reconhecidamente, as camadas mais pobres da população<br />

ten<strong>de</strong>m a apresentar maior risco <strong>de</strong> adoecer e morrer do que as camadas<br />

socialmente privilegiadas [43]-[47].<br />

O Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental se caracteriza como um método simples,<br />

fácil e <strong>de</strong> baixo custo para ser aplicado pelo programa <strong>de</strong> eliminação da filariose em<br />

áreas urbanas [31]. Esse indicador <strong>de</strong>monstrou sensibilida<strong>de</strong> para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

áreas <strong>de</strong> alto risco para ocorrência da filariose. Houve uma concordância <strong>de</strong> 79,75%<br />

do estrato <strong>de</strong> alto risco com as áreas <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos i<strong>de</strong>ntificadas pelo<br />

estimador Kernel.<br />

Braga et al. [2] avaliando a utilização <strong>de</strong> um indicador sintético <strong>de</strong> risco no<br />

município <strong>de</strong> Olinda, estado <strong>de</strong> Pernambuco, apontou a eficiência do método para a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas prioritárias. Para os autores, a sensibilida<strong>de</strong> do indicador em<br />

predizer o local <strong>de</strong> ocorrência da maioria dos casos <strong>de</strong> filariose embasa o seu<br />

emprego nas intervenções <strong>de</strong> controle da en<strong>de</strong>mia. No presente estudo, o indicador<br />

socioambiental <strong>de</strong>monstrou que 49,54% dos casos <strong>de</strong> microfilaremia situavam-se no<br />

estrato <strong>de</strong> pior condição social, representando um risco <strong>de</strong> 4,58 vezes maior para<br />

esse estrato quando comparado com o <strong>de</strong> melhor condição socioambiental.<br />

Por sua vez, o indicador <strong>de</strong> carência social construído pelo método <strong>de</strong> análise<br />

fatorial por componentes principais explicou 68,82% da variância total e o primeiro<br />

fator explicou 43,03% da variância total. Nos resultados <strong>de</strong>sse indicador observou-se<br />

que o aumento da carência social por estrato <strong>de</strong> risco, também representou um<br />

aumento na taxa <strong>de</strong> prevalência. A análise da estratificação dos SC em comparação<br />

96


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

com o estimador Kernel <strong>de</strong>monstrou uma concordância <strong>de</strong> 87,68% das áreas <strong>de</strong> alta<br />

carência social com a concentração espacial <strong>de</strong> casos. Tal fato revela a<br />

potencialida<strong>de</strong> do indicador para apontar áreas prioritárias para a intervenção do<br />

programa <strong>de</strong> controle/eliminação da filariose.<br />

Os indicadores <strong>de</strong> risco constituem um instrumento prático para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

áreas mais vulneráveis que necessitam <strong>de</strong> maior priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações e recursos<br />

[12], [18], [19]. Ximenes et al. [30], discutindo a construção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

vigilância <strong>de</strong> doenças endêmicas em áreas urbanas fundamentado na construção <strong>de</strong><br />

um indicador sintético <strong>de</strong> risco, constataram que o indicador é uma ferramenta<br />

profícua para o planejamento e o gerenciamento das ações <strong>de</strong> controle. De forma<br />

similar, Souza et al. [48], analisando a ocorrência da tuberculose e as variáveis<br />

<strong>de</strong>finidoras <strong>de</strong> situação coletiva <strong>de</strong> risco, propõem um sistema <strong>de</strong> vigilância com<br />

base territorial, em contraposição à vigilância baseada no risco individual.<br />

Briggs [49] consi<strong>de</strong>ra um <strong>de</strong>safio o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> bons indicadores. O<br />

autor afirma que, para ser eficaz o indicador <strong>de</strong>ve preencher alguns critérios, tais<br />

como: reprodutibilida<strong>de</strong> científica (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser reproduzido e testado);<br />

simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaboração; sensibilida<strong>de</strong> para i<strong>de</strong>ntificar mudanças no evento em<br />

estudo; acessibilida<strong>de</strong> e baixo custo para elaboração e aplicação. Decerto os<br />

indicadores elaborados nesse estudo aten<strong>de</strong>m esses critérios, pois apresentaram<br />

sensibilida<strong>de</strong> na i<strong>de</strong>ntificação dos diferenciais intra-urbanos, são perfeitamente<br />

capazes <strong>de</strong> serem reproduzidos pelos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e apresentam um custo<br />

reduzido para aplicação pelos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Em ambos indicadores verificou-se que as maiores taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong><br />

infecção filarial situavam-se no estrato <strong>de</strong> alto risco. Também se observou uma<br />

significativa concordância entre os estratos <strong>de</strong> alto risco <strong>de</strong>signados pelos dois<br />

indicadores com a maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos segundo o estimador Kernel.<br />

O estudo, recorrendo à classificação por SC dos estratos <strong>de</strong> risco, aponta a<br />

relevância dos fatores socioeconômicos e ambientais na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas<br />

prioritárias para a intervenção dos serviços <strong>de</strong> vigilância e do planejamento <strong>de</strong> ações<br />

<strong>de</strong> controle da filariose no município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes. Por sua vez, a<br />

análise espacial também se revelou como uma importante ferramenta a ser utilizada<br />

na construção do sistema <strong>de</strong> vigilância <strong>de</strong> base territorial.<br />

97


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Agra<strong>de</strong>cimentos: Ao Sr. João Quaresma, pelo incansável e minuncioso trabalho<br />

realizado no georreferenciamento dos casos <strong>de</strong> infecção filarial.<br />

98


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102


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Tabela 1 Indicadores <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> por filariose linfática segundo estratos <strong>de</strong> risco<br />

do ICS e do IRS, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil<br />

Indicador Socioambiental (IRS)<br />

Estrato Baixo (I) Médio (II) Alto (III) Jaboatão<br />

Positivos 28 135 160 323<br />

Negativos 7265 8183 7902 23350<br />

Examinados 7293 8318 8062 23673<br />

Taxa <strong>de</strong> prevalência 20,33 53,42 93,14 57,45<br />

Proporção <strong>de</strong> casos 8,67 41,80 49,54 100,00<br />

População 137741 252710 171780 562231<br />

Número <strong>de</strong> casos esperados 28 51 35 114<br />

Sobremorbida<strong>de</strong> abslouta 0 84 125 209<br />

Sobremorbida<strong>de</strong> relativa - 161,4 127,9 154,8<br />

Índice <strong>de</strong> Carência Social (ICS)<br />

Estrato Baixa (I) Média (II) Alta (III) Jaboatão<br />

Positivos 31 129 163 323<br />

Negativos 5918 10774 6658 23350<br />

Examinados 5949 10903 6821 23673<br />

Taxa <strong>de</strong> prevalência* 20,05 69,20 73,69 57,45<br />

Proporção <strong>de</strong> casos 9,60 39,94 50,46 100,00<br />

População 154608 186422 221201 562231<br />

Número <strong>de</strong> casos esperados 31 37 44 113<br />

Sobremorbida<strong>de</strong> abslouta 0 92 119 210<br />

Sobremorbida<strong>de</strong> relativa - 140,8 137,4 153,6<br />

* Taxa <strong>de</strong> prevalência por 100 mil habitantes<br />

103


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Tabela 2 Razão das taxas <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> infecção filarial segundo os estratos <strong>de</strong><br />

risco do ICS e do IRS, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil<br />

Indicador <strong>de</strong> Risco Socioambiental (IRS)<br />

Prevalência<br />

Estrato<br />

RT IC 95% 2 p-valor<br />

II/I 2,62 1,72-4,04 22,59 0,00<br />

III/I 4,58 3,02-6,99 66,5 0,00<br />

Jaboatão/I 2,83 1,89-4,29 29,66 0,00<br />

Indicador <strong>de</strong> Carência Social (ICS)<br />

II/I 3,45 2.30-5,21 42,45 0,00<br />

III/I 3,62 2,43-5,42 48,3 0,00<br />

Jaboatão/I<br />

RT= razão <strong>de</strong> taxas<br />

2,85 1,94-419 33,15 0,00<br />

IC = Intervalo <strong>de</strong> confiança<br />

104


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Tabela 3 Resultados da Análise fatorial por componentes principais<br />

Bartlett’s<br />

Sphericity<br />

Condições <strong>de</strong> aplicação Matriz componentes principais<br />

gl = graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

KMO = Kaiser-Mayer-Olkin<br />

Taxa <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>quação Indicadores<br />

Fator<br />

1<br />

Fator<br />

2<br />

Fator<br />

3<br />

2 gl p-valor KMO Renda 0,86 0,17 0,05<br />

1162,417068 28


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Figura 1 (A) Distribuição dos estratos <strong>de</strong> risco por setor censitário segundo o IRS.<br />

(B) Distribuição dos estratos <strong>de</strong> risco por setor censitário segundo o ICS. (C)<br />

Distribuição dos estratos <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos segundo a estimativa <strong>de</strong> Kernel. (D)<br />

Distribuição pontual dos casos <strong>de</strong> filariose em sobreposição a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos<br />

com base na estimativa <strong>de</strong> Kernel. Município <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes,<br />

Pernambuco, Brasil.<br />

106


4 DISCUSSÃO<br />

Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

Os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não se distribuem ao acaso, estão relacionados com<br />

os atributos individuais, com a localização geográfica, com o nível socioeconômico e<br />

educacional (BERNARD et al., 2007, BELL; SCHUURMAN; HAYES, 2007). A<br />

distribuição das doenças está associada à posição social, que por sua vez <strong>de</strong>fine as<br />

condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho dos indivíduos e grupos sociais e provocam<br />

diferenciais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (WHITEHEAD; DAHLGREN, 2006).<br />

O aumento ou a persistência das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r as relações entre o ambiente urbano e as condições <strong>de</strong> vida da<br />

população, especialmente, dos seguimentos socialmente mais <strong>de</strong>sfavorecidos, fez<br />

com que se buscasse na Geografia Crítica uma nova interpretação para a categoria<br />

espaço (ROJAS, 1998). Muito além do aspecto meramente físico, o espaço será<br />

consi<strong>de</strong>rado pela epi<strong>de</strong>miologia como um recurso teórico e como uma importante<br />

ferramenta para a compreensão da dinâmica do processo saú<strong>de</strong>-doença (ROJAS,<br />

2008, COSTA; TEIXEIRA, 1999). Logo, o espaço/território é entendido como uma<br />

dimensão constitutiva da situação social em que se encontram os diversos grupos<br />

populacionais no espaço urbano, sobretudo os <strong>de</strong> maior carência social. Esse é o<br />

entendimento <strong>de</strong> espaço apresentado na revisão <strong>de</strong> literatura feita no Artigo 1.<br />

Nesse Artigo a categoria espaço é um importante instrumental a ser utilizado nas<br />

análises, no planejamento e nas ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Para Akerman et al. (1994), a distribuição da população no espaço urbano<br />

das cida<strong>de</strong>s segue um padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, localizando-se na periferia os<br />

bolsões <strong>de</strong> pobreza e as piores condições <strong>de</strong> infra-estrutura. Nesse contexto, é que<br />

são produzidas as condições propícias para a expansão e a persistência <strong>de</strong> diversas<br />

doenças, sobretudo as infecto-parasitárias, intimamente relacionadas com as<br />

condições <strong>de</strong> vida da população (SABROZA; KAWA; CAMPOS; 1999). A filariose<br />

linfática é uma <strong>de</strong>ssas doenças da “pobreza”, cujo padrão <strong>de</strong> ocorrência está<br />

associado às precárias condições socioambientais (ALBUQURQUE, 1993, STREIT;<br />

LAFONTANT, 2008).<br />

108


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

A filariose linfática é uma das principais doenças tropicais negligenciadas,<br />

ocorre predominantemente nas áreas <strong>de</strong> baixo nível socioeconômico, on<strong>de</strong> a<br />

estrutura <strong>de</strong> saneamento ambiental é ina<strong>de</strong>quada e as condições <strong>de</strong> moradia são<br />

precárias, favorecendo a transmissão do parasito. Acomete indivíduos <strong>de</strong> todas as<br />

ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> ambos os sexos (MOTT et al, 1990, ALBUQUERQUE, 1993, ERLANGER<br />

et al., 2005, PERERA et al., 2007).<br />

No distrito <strong>de</strong> Jaboatão (Artigo 2), conforme os resultados do primeiro<br />

inquérito epi<strong>de</strong>miológico realizado na década <strong>de</strong> 1950 todos os casos positivos<br />

i<strong>de</strong>ntificados eram provenientes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife. Na época, a doença não foi<br />

consi<strong>de</strong>rada como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e a vigilância não foi exercida<br />

suficientemente (DOBBIN Jr; CRUZ, 1967). Após 41 anos da realização <strong>de</strong>sse<br />

inquérito, verificou-se que o bairro (Socorro) a apresentar a maior taxa <strong>de</strong><br />

prevalência e as condições mais precárias <strong>de</strong> saneamento ambiental foi o mesmo<br />

on<strong>de</strong> foram localizados os casos alóctones no passado.<br />

Além disso, os resultados <strong>de</strong>sse inquérito epi<strong>de</strong>miológico são bastante<br />

significativos em caracterizar a en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> da filariose: com o encontro <strong>de</strong> casos<br />

em todas as faixas etárias, especialmente entre os mais jovens (DUNYO et al.,<br />

1996). Outro indicativo <strong>de</strong> en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> é a positivida<strong>de</strong> encontrada em mais <strong>de</strong><br />

80% dos bairros do distrito <strong>de</strong> Jaboatão (Artigo 2). Esta en<strong>de</strong>micida<strong>de</strong> é, sobretudo,<br />

resultado das condições <strong>de</strong> vida precárias da população.<br />

A cobertura <strong>de</strong>ficitária do sistema <strong>de</strong> esgotamento sanitário do município <strong>de</strong><br />

Jaboatão dos Guararapes é retratada pela presença <strong>de</strong> fossas sépticas<br />

rudimentares e valas; além dos <strong>de</strong>jetos lançados a céu aberto, que favorecem<br />

significativamente a proliferação do mosquito vetor. Tal precarieda<strong>de</strong> configura um<br />

espaço social e ambientalmente <strong>de</strong>finido favorável à prevalência da doença. Esta é<br />

uma paisagem que não <strong>de</strong>ve ser menosprezada em um estudo sobre os<br />

condicionantes da doença naquele município.<br />

Uma análise abrangente e consistente sobre os condicionantes da<br />

prevalência <strong>de</strong> microfilaremia <strong>de</strong>ve enfatizar, por conseguinte, a categoria espaço. A<br />

utilização do espaço geográfico como categoria analítica <strong>de</strong>staca o papel dos<br />

<strong>de</strong>terminantes sociais e ambientais que atuam sobre a saú<strong>de</strong> das populações. A<br />

distribuição da doença entre os diversos grupos sociais é melhor aproximada pelo<br />

recurso à categoria espaço. Uma análise que tem por objetivo precisar a prevalência<br />

109


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

da doença no espaço, espaço esse socialmente caracterizado; é um instrumento útil<br />

ao planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> prevenção e controle <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mias e agravos à saú<strong>de</strong><br />

da população (KRIEGER, 2003, CROMLEY, 2003).<br />

Contudo, a associação analítica entre o espaço e a prevalência da<br />

microfilaremia <strong>de</strong>ve ser efetuada utilizando-se os indicadores <strong>de</strong> risco ou <strong>de</strong><br />

condição <strong>de</strong> vida. Uma das mais importantes questões para o diagnóstico da<br />

situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na atualida<strong>de</strong>, consiste no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> índices que<br />

sejam capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar condições <strong>de</strong> risco advindas <strong>de</strong> circunstâncias sociais e<br />

ambientais adversas no interior das comunida<strong>de</strong>s, relacionando-as a unida<strong>de</strong>s<br />

espaciais <strong>de</strong>finidas, tais como: municípios, bairros, setores censitários, logradouros,<br />

entre outros (BERNARD et al., 2007, BARCELLOS et al., 2002, AKERMAN;<br />

CAMPANARIO; MAIA, 1996, CHIESA; WESTPHAL; AKERMAN, 2008, GUIMARÃES<br />

et al., 2003, NIGGEBRUGGE et al., 2005, HAVARD et al., 2007, DOMÍNGUEZ-<br />

BERJÓN et al. 2008).<br />

O Indicador <strong>de</strong> risco socioambiental é caracterizado como um método<br />

simples, fácil e <strong>de</strong> baixo custo para ser aplicado pelo programa <strong>de</strong> eliminação da<br />

filariose em áreas urbanas (Artigo 3). Sua metodologia <strong>de</strong> construção consiste na<br />

padronização <strong>de</strong> variáveis originais, que passam a ser apresentadas como<br />

proporção da unida<strong>de</strong>. A padronização é obtida pelo <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> cada variável em<br />

relação à média. A composição do indicador é feita pela média aritmética das<br />

variáveis padronizadas. A vantagem <strong>de</strong>sse método está em sua simplicida<strong>de</strong>. A<br />

<strong>de</strong>svantagem está no peso uniforme atribuído a cada variável do indicador.<br />

Aplicando o conceito <strong>de</strong> indicador <strong>de</strong> risco ambiental ao município <strong>de</strong><br />

Jaboatão dos Guararapes (Artigo 3), constatou-se que 73% dos casos <strong>de</strong><br />

microfilaremia estavam na área <strong>de</strong> alto risco, ou seja, <strong>de</strong> pior condição<br />

socioambiental. Isto significa que há um risco 4,86 vezes maior <strong>de</strong> ocorrerem casos<br />

<strong>de</strong> filariose nessa área do que na <strong>de</strong> baixo risco. Tal fato <strong>de</strong>monstra a sensibilida<strong>de</strong><br />

do indicador para <strong>de</strong>tectar os locais com maior risco <strong>de</strong> transmissão. A<br />

caracterização <strong>de</strong>ssas áreas configura o indicador como uma ferramenta que po<strong>de</strong><br />

ser empregada nos programas <strong>de</strong> controle da filariose.<br />

Recorrendo a procedimentos estatísticos mais sofisticados, tais como análise<br />

fatorial por componentes principais, foi possível elaborar um social <strong>de</strong>privation ín<strong>de</strong>x<br />

(Artigo 4). Conforme essa técnica, a composição do indicador obe<strong>de</strong>ce ao padrão <strong>de</strong><br />

110


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada variável. Os fatores que comporão o indicador são obtidos<br />

através da combinação linear das variáveis. Os pesos empregados são aqueles<br />

fornecidos pela aplicação do método estatístico, estando ausente, portanto, a<br />

sugestão subjetiva, implícita no método anterior.<br />

Na análise das variáveis socioambientais (Artigo 4) observou-se que em<br />

65,42% dos bairros, o esgotamento sanitário era ina<strong>de</strong>quado. Além disso, as<br />

variáveis coleta <strong>de</strong> lixo ina<strong>de</strong>quada e abastecimento <strong>de</strong> água ina<strong>de</strong>quado estavam<br />

fortemente correlacionadas. Os indicadores relacionados ao saneamento ambiental<br />

em conjunto com a aglomeração no domicílio e a forma <strong>de</strong> ocupação explicaram<br />

52,95% da variância total e constituíram o social <strong>de</strong>privation ín<strong>de</strong>x. Isso atesta a<br />

importância dos fatores ambientais na transmissão da filariose linfática. As variáveis<br />

<strong>de</strong> renda e escolarida<strong>de</strong> constituíram um segundo fator que explicou 27,66% da<br />

variância total, reforçando a relevância dos fatores sociais e ambientais na<br />

transmissão da filariose linfática.<br />

Por sua vez, o mo<strong>de</strong>lo linear generalizado (Artigo 4), com função <strong>de</strong> ligação<br />

logística <strong>de</strong>monstrou que a presença <strong>de</strong> 10 ou mais moradores no domicílio<br />

(aglomeração) foi o indicador que mais contribuiu com o aumento da taxa <strong>de</strong><br />

prevalência (5,53%). Os indicadores <strong>de</strong> aglomeração e forma <strong>de</strong> ocupação do<br />

domicílio estavam fortemente correlacionados. Esses achados corroboram as<br />

conclusões <strong>de</strong> Baruah e Rai (2000) ao afirmarem que a precarieda<strong>de</strong> das<br />

construções favorecia a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> vetorial e aumentava a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transmissão no interior das habitações.<br />

Com relação à unida<strong>de</strong> geográfica <strong>de</strong> análise, adotou-se o SC (Artigos 3 e 5),<br />

por ser a unida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação permitida pelo censo. Acrescente-se a<br />

isso o fato <strong>de</strong> que as áreas menores são mais homogêneas internamente (CANO-<br />

SERRAL et al., 2009). Segundo Castellanos (1990) nos estudos sobre condições <strong>de</strong><br />

vida, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise é o espaço-população que <strong>de</strong>ve ser o mais homogênea<br />

possível no seu interior. Para a análise <strong>de</strong> carência social utilizando-se a análise<br />

fatorial por componentes principais, o bairro representou uma importante unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

agregação, pois possibilitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> diferenciais nas condições <strong>de</strong> vida da<br />

população, além <strong>de</strong> ser uma unida<strong>de</strong> reconhecida tanto pela população quanto pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s da administração pública (Artigo 4).<br />

111


Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

A utilização das técnicas <strong>de</strong> geoprocessamento (Artigo 5) possibilitam a<br />

sobreposição <strong>de</strong> informações sociais, ambientais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> auxiliando na<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas e grupos prioritários para o planejamento <strong>de</strong> ações pelo po<strong>de</strong>r<br />

público, tornando a análise social mais rica (GOLDSTEIN; BARCELLOS, 2008).<br />

A análise espacial caracteriza-se por mensurar relações sociais, ambientais e<br />

geográficas sob o prisma da localização geográfica (CÂMARA et al., 2002). Do<br />

mesmo modo, a análise espacial em saú<strong>de</strong> reporta-se ao emprego <strong>de</strong> métodos<br />

quantitativos nos estudos, cujo objeto é geograficamente <strong>de</strong>finido. Com a utilização<br />

da análise espacial, objetiva-se: i<strong>de</strong>ntificar padrões espaciais da morbida<strong>de</strong> ou da<br />

mortalida<strong>de</strong> e quais os fatores associados; <strong>de</strong>screver os processos <strong>de</strong> difusão das<br />

doenças e produzir informações sobre a sua etiologia e, conseqüentemente,<br />

contribuir para o seu controle (MEDRONHO; WERNECK, 2009). Para Barcellos et al.<br />

(2002), a análise espacial tem por mérito contribuir para a compreensão dos<br />

processos socioambientais, uma vez que recupera o contexto no qual os eventos <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> ocorrem. Isto, sob a perspectiva que vai além da individual, numa perspectiva<br />

do coletivo.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> técnicas e métodos <strong>de</strong> diagnóstico coletivos que<br />

tenham potencialida<strong>de</strong> para i<strong>de</strong>ntificar grupos ou áreas <strong>de</strong> risco no interior das<br />

comunida<strong>de</strong>s, e que possam ser utilizados no planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> prevenção<br />

e controle <strong>de</strong> doenças e agravos à saú<strong>de</strong> da população constitui um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />

para os epi<strong>de</strong>miologistas e planejadores da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (BARCELLOS et al.,<br />

2002, AKERMAN et al., 1994, AKERMAN, 1997, 2000, AKERMAN; BOUSQUAT,<br />

1999, SOUZA et al., 2000, BRAGA et al., 2001, GUIMARÃES, et al., 2003<br />

LACERDA; CALVO; FREITAS, 2002, CHIESA; WESTPHAL; KASHIWAGI, 2002,<br />

MONKEN, BARCELLOS, 2005).<br />

112


5 CONCLUSÃO<br />

Filariose bancroftiana: análise espacial das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais<br />

<strong>Cristine</strong> <strong>Bonfim</strong><br />

a) A construção <strong>de</strong> indicadores <strong>de</strong> risco feita pelo estudo propõe uma mudança na<br />

abordagem tradicionalmente adotada pelo programa <strong>de</strong> controle da en<strong>de</strong>mia,<br />

baseado no risco individual, para uma abordagem <strong>de</strong> base populacional, centrada<br />

no risco coletivo.<br />

b) O uso das técnicas <strong>de</strong> geoprocessamento e <strong>de</strong> análise espacial (estimador <strong>de</strong><br />

intensida<strong>de</strong> Kernel) permitiu localizar com precisão os casos <strong>de</strong> filariose e<br />

<strong>de</strong>monstraram que a distribuição não ocorre <strong>de</strong> forma aleatória no espaço urbano<br />

do município (Artigo 5). Há uma concentração <strong>de</strong> casos nas áreas apontadas<br />

como <strong>de</strong> alto risco, pelos indicadores (Artigo 5). Essa i<strong>de</strong>ntificação contribui<br />

sobremaneira para o reconhecimento <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> transmissão no espaço urbano<br />

do município. O mapeamento da distribuição dos casos <strong>de</strong> infecção e <strong>de</strong> doença<br />

é consi<strong>de</strong>rado essencial para a implantação das ações e constitui uma etapa do<br />

diagnóstico da situação epi<strong>de</strong>miológica da filariose.<br />

c) A caracterização das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais i<strong>de</strong>ntificadas no estudo possibilita não<br />

apenas o direcionamento mais preciso das ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas também<br />

favorecem a intersetorialida<strong>de</strong> das ações. De fato, a precisa i<strong>de</strong>ntificação das<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s socioespaciais contribuirá para que as políticas públicas enfrentem<br />

<strong>de</strong> forma mais eficaz a questão da pobreza urbana.<br />

d) As políticas públicas, <strong>de</strong> um modo geral, e as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, em particular, são<br />

mais eficazes na solução <strong>de</strong> problemas sociais quando conseguem atingir, <strong>de</strong><br />

fato, a população necessitada. Tal objetivo é facilitado satisfatoriamente quando<br />

há a <strong>de</strong>limitação geográfica das áreas, como feito no estudo. Daí a importância <strong>de</strong><br />

um método que consi<strong>de</strong>re a dimensão territorial como uma das diretrizes do<br />

Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, contribuindo, <strong>de</strong>ssa forma, para o planejamento, o<br />

monitoramento e vigilância das ações <strong>de</strong> eliminação da filariose linfática.<br />

114


REFERÊNCIAS<br />

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