VJ SET 2008 A.p65 - Visão Judaica
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2<br />
editorial<br />
VISÃO JUDAICA • setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Publicação mensal independente da<br />
EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />
JUDAICA LTDA.<br />
Redação, Administração e Publicidade<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Curitiba • PR • Brasil<br />
Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />
Dir. de Operações e Marketing<br />
SHEILLA FIGLARZ<br />
Dir. Administrativa e Financeira<br />
HANA KLEINER<br />
Diretor de Redação<br />
SZYJA B. LORBER<br />
Publicidade<br />
DEBORAH FIGLARZ<br />
Arte e Diagramação<br />
SONIA OLESKOVICZ<br />
Webmaster<br />
RAFFAEL FIGLARZ<br />
Colaboram nesta edição:<br />
Ana Jerozolimski, Antônio Carlos Coelho, Aristide<br />
Brodeschi, Breno Lerner, Daniel Pipes, Eduardo<br />
Kohn, Eduard Yitzhak, Jane Bichmacher de<br />
Glasman, Jonathan Sacks, José Roitberg, Lucie<br />
Geffroy, Marcos Aguinis, Michael Latz, Nahum<br />
Sirotsky, Noah Pollak, Pilar Rahola, Riccardo<br />
Barenghi, Sérgio Feldman, Tashbih Sayyed e<br />
Yossi Groisseoign<br />
<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> não tem responsabilidade sobre<br />
o conteúdo dos artigos, notas, opiniões ou<br />
comentários publicados, sejam de terceiros<br />
(mencionando a fonte) ou próprios e assinados<br />
pelos autores. O fato de publicá-los não indica<br />
que o <strong>VJ</strong> esteja de acordo com alguns<br />
dos conceitos ou dos temas.<br />
Contém termos sagrados, por isso trate<br />
com respeito esta publicação.<br />
www.visaojudaica.com.br<br />
Este jornal é um veículo independente<br />
da Comunidade Israelita do Paraná<br />
Reflexões acerca de um novo ano<br />
ais uma vez nos encontramos<br />
no limiar de um novo ano judaico,<br />
o de 5.769, que inicia em<br />
29 de setembro. Entre Rosh<br />
Hashaná, literalmente "cabeça<br />
do ano", e Iom Kipur, o Dia do Perdão,<br />
passam-se dez dias, a que chamamos<br />
de Iamim Noraim, ou Dias Temíveis. É<br />
o período em que devemos refletir sobre<br />
nossos atos, gestos e atitudes, não<br />
só em relação a nós, mas também aos<br />
outros e o mundo que nos circunda.<br />
Tratamos do arrependimento das más<br />
ações, recordando o quão tênue é o<br />
fio que nos mantém vivos e rezamos<br />
em Iom Kipur para que sejamos inscritos<br />
no Livro da<br />
Vida. Nesta edição,<br />
publicamos<br />
alguns artigos<br />
que aprofundam<br />
mais essas questões<br />
e que analisam<br />
com muita<br />
abertura de espí-<br />
rito nosso rela-<br />
Nossa capa<br />
cionamento com o Divino. Podemos<br />
ampliar as perspectivas de reflexão<br />
destes dias extrapolando os limites do<br />
nosso ambiente. Ainda existem guerras,<br />
miséria, fome, sofrimento, doenças<br />
e muita maldade - quer seja sob a<br />
forma de opressão e preconceito às<br />
minorias em todo o planeta, quer seja<br />
por intermédio dos atos terroristas,<br />
objetivando destruir vidas ou tolher<br />
liberdades. Sim, esses aspectos negativos<br />
existem. Porém, não nos esqueçamos<br />
também da existência das coisas<br />
boas que o ser humano tem alcançado<br />
com a graça de D-us: O avanço<br />
tecnológico que pode nos suprir de<br />
alimentos a ponto de acabar com a<br />
fome na face da terra, a vitória sobre<br />
as enfermidades, as tentativas de busca<br />
da paz, ou até mesmo os pequenos<br />
milagres da vida, como o nascimento<br />
de uma criança, que nos traz tanta alegria<br />
e felicidade, deixando-nos esperançosos<br />
com um amanhã iluminado.<br />
Em síntese, cada um de nós deve meditar<br />
sobre como e o que fazer para<br />
melhorar o mundo, praticar o tikkum<br />
olam, o antigo conceito da ética judaica<br />
de "consertar" o mundo, ou<br />
seja, fazer algo a respeito em benefício<br />
de todos.<br />
Nesse contexto de alargar a percepção<br />
das realidades que nos cercam,<br />
estamos próximos de obter a paz<br />
no Oriente Médio? Ou as ameaças do<br />
pequeno Hitler do Irã e de seus asseclas<br />
do Hezbolá no Líbano, ou do Hamas,<br />
em Gaza, devem ser tomadas a<br />
sério a ponto de nos preocupar com a<br />
sobrevivência de Israel e do povo judeu?<br />
As respostas, evidentemente,<br />
não são simples. Existe uma iniciativa<br />
de paz tentada junto ao Al Fatah,<br />
do presidente da Autoridade Palestina,<br />
Mahmoud Abbas. Diz-se que é o<br />
único com quem se pode manter diálogo.<br />
Mas será mesmo que Abbas fala<br />
sério? Aliás, falar, não é tudo. É necessário<br />
agir, mostrar. Enquanto livros<br />
escolares palestinos continuarem a<br />
ensinar ódio aos judeus, os jornais<br />
oficiais persistirem e os sermões das<br />
A capa reproduz a obra de arte cujo título é: "O arrependimento", elaborada com a técnica litografia<br />
e dimensões de 70 x 50 cm, criação de Aristide Brodeschi. O autor nasceu em Bucareste, Romênia,<br />
é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos em<br />
várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu premiações por seus trabalhos<br />
no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por vários países e tem no judaísmo, uma das<br />
principais fontes de inspiração. É o autor das capas do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais<br />
sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br).<br />
ACENDIMENTO DAS<br />
VELAS EM CURITIBA<br />
Setembro e Outubro de <strong>2008</strong><br />
Shabat e datas especiais<br />
DATA HORA<br />
26/9 17h54<br />
29/91 17h55<br />
30/92 18h50<br />
3/10 17h57<br />
8/10 3 17h59<br />
10/10 18h00<br />
13/104 18h01<br />
14/105 18h57<br />
17/10 18h03<br />
20/106 18h05<br />
21/107 19h01<br />
1 e 2 Rosh Hashaná<br />
3 Iom Kipur<br />
4 e 5 Sucot<br />
6 Shemini Atzeret<br />
7 Simchat Torá<br />
Humor judaico<br />
A JANELA NO INVERNO<br />
Na primeira noite após a sua volta,<br />
Moisés e Sara estão dormindo. Sara<br />
acorda e diz:<br />
— Moisés, vá fechar a janela, está<br />
muito frio lá fora.<br />
Moisés responde:<br />
— E então, se eu fechar a janela,<br />
será que vai ficar mais quente lá fora?<br />
Falecimentos<br />
Com pesar, comunicamos os falecimentos<br />
de:<br />
SAMUEL KLEIN, dia 5/9/<strong>2008</strong> (5 de<br />
Elul de 5768) Sepultado dia 7/9/<strong>2008</strong><br />
no Cemitério Israelita do Umbará.<br />
CLARA BOBER, dia 29/8/<strong>2008</strong> (28 de<br />
Av de 5768). Sepultada no mesmo dia<br />
no Cemitério Israelita do Umbará.<br />
Datas importantes<br />
29 de setembro<br />
30 de setembro<br />
1º de outubro<br />
2 de outubro<br />
4 de outubro<br />
8 de outubro<br />
9 de outubro<br />
11 de outubro<br />
13 de outubro<br />
14 de outubro<br />
15 de outubro<br />
18 de outubro<br />
20 de outubro<br />
21 de outubro<br />
mesquitas não cessarem a incitação,<br />
é difícil acreditar que queiram paz.<br />
Exercício de futurologia: O Irã atacará,<br />
ou será atacado? No momento isso<br />
parece estar longe de ocorrer. Enquanto<br />
nos Estados Unidos não se definirem as<br />
eleições presidenciais, nada acontecerá.<br />
Em Israel a crise política que deve<br />
acabar na renúncia de Ehud Olmert nos<br />
próximos dias, dará respaldo ao próximo<br />
governo para enfrentar a situação.<br />
Ahmadinejad pode vociferar o quanto<br />
quiser contra Israel, entretanto o mundo<br />
árabe, em especial a Arábia Saudita,<br />
já percebeu que as ameaças atômicas<br />
são contra si também. E a Europa idem.<br />
No fundo, o pequeno déspota de Teerã<br />
tenta com seus arroubos e bravatas desviar<br />
atenção dos iranianos dos seus problemas<br />
maiores, a inflação crescente, o<br />
desemprego galopante e a falta de liberdades.<br />
De uma coisa não devemos<br />
nos esquecer: Todos os que tentaram ao<br />
longo da história eliminar o povo judeu<br />
desapareceram. E Am Israel Chai! Shaná<br />
Tová Tikatevu.<br />
A Redação<br />
Véspera de Rosh Hashaná<br />
1º dia de Rosh Hashaná<br />
2º dia de Rosh Hashaná<br />
Jejum de Guedália<br />
Vaielech / Shabat Shuvá<br />
Véspera de Iom Kipur<br />
Iom Kipur<br />
Shabat Haazinu<br />
Véspera de Sucot<br />
1º dia de Sucot<br />
2º dia de Sucot<br />
Shabat / 3º dia Chol Hamoed<br />
Shemini Atzeret / Hoshaná Rabá<br />
Simchat Torá
Sérgio Feldman *<br />
modernidade e a pós-modernidade<br />
geraram uma<br />
angústia crônica nas pessoas.<br />
Ninguém sabe<br />
quem é? Seres humanos<br />
que não entendem a amplitude<br />
de seu ser: pessoas sem identidade.<br />
Quem sou eu? Quem somos nós?<br />
A pergunta é extremamente complexa.<br />
Não há respostas prontas ou fáceis.<br />
Mas reflexões podem ser encetadas.<br />
Até meados do século XX a grande<br />
maioria das pessoas sabia quem era. As<br />
famílias eram estruturadas de maneira<br />
tradicional e hierarquizadas em torno de<br />
seus elementos mais idosos e o patriarcado<br />
ajudava a conservar valores, princípios<br />
e a identidade familiar, étnica e<br />
cultural do individuo e a sua pertinência<br />
a um determinado grupo ou a alguns<br />
grupos em certos casos. A família, a religião,<br />
as origens e a coesão grupal davam<br />
aos seus componentes uma sensação de<br />
pertinência e de identidade coletiva.<br />
Este processo já se iniciara em alguns<br />
lugares e em parcelas de determinados<br />
grupos em meados do século XIX. A urbanização<br />
e o progresso em todas as<br />
áreas estariam por trás destas mudanças.<br />
Mas isso tendeu a se acelerar nos<br />
últimos cinqüenta anos.<br />
Isso ocorreu tanto entre os judeus<br />
quanto entre os não judeus e foi mais<br />
acentuado no Ocidente e nos centros urbanos.<br />
A tecnologia e o "boom" das comunicações<br />
fizeram do mundo uma "aldeia<br />
global", e esse movimento se expandiu<br />
por todo o mundo, de maneira<br />
diferente, ora de maneira mais aguda e<br />
ora de maneira mais contida.<br />
Os anos 80 e 90 chegaram tal como<br />
um desmanche de uma longa era. Os laços<br />
grupais se "desapertaram" e as pessoas<br />
começaram a ficar mais soltas, sem<br />
pertinência a grupos. Pensadores e teóricos<br />
analisaram e definiram este processo<br />
e o inseriram no que se chama a<br />
"pós-modernidade". Analisemos alguns<br />
exemplos e suas projeções. Nosso foco<br />
será o judaico.<br />
A família tradicional esta desaparecendo.<br />
As mulheres estão trabalhando<br />
há duas ou três gerações e não se limitam<br />
às empresas familiares, ao lado de<br />
marido, filhos e pais, mas na linha de<br />
produção em todo o tipo de empresas.<br />
Isso as tornou menos dependentes e<br />
menos submissas ao poder patriarcal, e<br />
as confrontou com situações que não<br />
ocorriam desde a Pré-história. Modelos<br />
tradicionais de mulheres que se dedicam<br />
apenas a tarefas domésticas e tradicionais<br />
são exclusivos de certas minorias<br />
ou sociedades tradicionais que resistem<br />
e formam baluartes de manutenção<br />
do status feminino pré-moderno. As<br />
mulheres estão em um novo estágio de<br />
sua história: não são mais submissas e<br />
não se bastam com criar filhos e cuidar<br />
das tarefas domésticas.<br />
A tradição tinha no lar seu foco mais<br />
importante de resistência. Nas refeições<br />
Identidade e diversidade<br />
em conjunto, em torno da mesa e nas<br />
conversas entre pais e filhos se moldavam<br />
valores e se definiam os parâmetros<br />
de comportamento e os limites. A<br />
família deve ser reavaliada e repensada.<br />
Ou se volta o relógio da história e se<br />
retoma a família tradicional, ou devemos<br />
readequar as funções educativas do<br />
pai, da mãe e criar um novo cotidiano<br />
de relações que substitua a família tradicional:<br />
o vácuo é perigoso. Filhos sem<br />
pais (ausentes) se tornam órfãos "de<br />
fato" e buscam abrigo em valores estranhos<br />
e na alienação dos padrões de ética<br />
e de comportamento que se almeja<br />
para eles. Onde se colocar?<br />
A Escola tradicional acabou. Uma escola<br />
repressora e controladora se desintegrou<br />
e não foi substituída por uma que<br />
integre o educando, seja criança ou jovem,<br />
na nova realidade. Os pais querem<br />
que a Escola opere magia e milagres preenchendo<br />
o vácuo dos lares: gerando<br />
valores, oferecendo cultura, formação<br />
tecnológica e educativa geral e específica.<br />
A grande maioria das escolas só tem<br />
como parâmetro a formação tecnológica<br />
e profissional. Abundam no país, projetos<br />
educacionais no modelo dos cursinhos.<br />
São escolas de Educação Infantil<br />
ou de Primeiro Grau que estão no modelo<br />
daquele "famoso cursinho" que virou<br />
colegial e universidade, seja um Positivo<br />
ou um Objetivo, apenas como<br />
exemplo. Prestígio para um marketing<br />
que vai "do maternal a universidade":<br />
formação tecnológica e ingresso em carreiras<br />
promissoras. Se em casa não se<br />
passam valores, e se na escola só se ensina<br />
conteúdos e links ou atalhos para a<br />
vida profissional, aonde se aprenderá a<br />
Ética e valores humanos, sejam judaicos,<br />
universais ou humanistas?<br />
Em 1988 criei um programa de Ética<br />
judaica para alunos que freqüentavam o<br />
Departamento de Ensino da ARI, uma Kehilá<br />
(comunidade religiosa) do Rio de Janeiro,<br />
a pedido de um grande amigo e mestre,<br />
o Rabino Roberto Graetz. Executamos<br />
o projeto e o aplicamos com relativo sucesso<br />
para todos os alunos que pretendiam<br />
fazer seu bar mitzvá na ARI. O sucesso se<br />
fez demonstrar com as manifestações dos<br />
alunos e alguns pais. Mitzvá é uma mescla<br />
de ordenação divina ou mandamento com<br />
uma ação humana que ora eleva a pessoa<br />
espiritualmente e ora o faz socialmente,<br />
mas por vezes atua nos dois âmbitos. Mitzvá<br />
é a maneira judaica de ser judeu e agir<br />
na direção de D-us e na direção do Mundo<br />
e seus componentes, em especial os outros<br />
humanos.<br />
Este projeto foi executado por mim<br />
e pela minha excelente equipe de morot<br />
(professoras) na EIBSG em Curitiba.<br />
Fazer do Judaísmo uma ação no mundo<br />
e uma inserção do judeu na sua realidade,<br />
tanto a judaica quanto a universal. O<br />
que nós constatamos naquela época era<br />
que não havia reflexo deste aprendizado<br />
nos lares, na comunidade e na sociedade<br />
em geral. Ética e mitzvót se diluíam<br />
nos projetos da escola. Refletiam em<br />
algumas atividades do movimento juve-<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
nil judaico Habonim Dror e se perdiam.<br />
A magnífica experiência dos jovens que<br />
criaram e mantiveram o Projeto OVO na<br />
favela de Vila Pantanal em Curitiba foi<br />
um magnífico exemplo de que havia<br />
compreensão do sentido de ser judeu e<br />
agir, dentro e fora da comunidade. Em<br />
casa, na Kehilá e no mundo. A ética e as<br />
mitzvót eram para as crianças, já os adultos<br />
podiam apenas falar delas. Ficava<br />
uma contradição entre os valores e a<br />
prática deles. E ficava a questão: podemos<br />
ser judeus sem uma prática judaica<br />
de mitzvót? Como trazer os ensinamentos<br />
para vida de adulto?<br />
Isto por que se não alterarmos nossos<br />
conceitos, deixaremos de ter uma identidade.<br />
Quem opta por ser ortodoxo, em<br />
toda a plenitude deste caminho de vida,<br />
escolhe ser recluso do mundo externo e<br />
se separar da sociedade. Esta é uma opção<br />
válida mesmo se for radical. Mas isso<br />
serve apenas a uma minoria de "eleitos".<br />
A maioria são os semi-ortodoxos.<br />
Uma ortodoxia "descafeinada". São<br />
aqueles que fazem de conta que são ortodoxos<br />
ao freqüentar uma sinagoga,<br />
sem realmente ser "guardiões das mitzvót"<br />
(shomrei mitzvót = expressão que<br />
significa um judeu que escolheu ser profundamente<br />
tradicional, ou seja, ortodoxo),<br />
já que estão encenando viver uma<br />
obra dramática que não espelha a sua<br />
realidade. Atores da vida. Isso fraciona a<br />
sua identidade. Um diz que: "eu sou quase<br />
ortodoxo, mas não guardo o Shabat e<br />
nem a Kashrut"; outro diz que: "eu quero<br />
ser ortodoxo, mas ainda não está dando<br />
para ser". Trata-se de um projeto futuro.<br />
Este conflito de identidade tenta<br />
viver numa realidade passada, na qual viveram<br />
os judeus imigrantes na primeira<br />
geração, mas vivenciando a realidade<br />
presente que espelha a realidade da terceira<br />
e quarta gerações: é estar de maneira<br />
anacrônica em dois tempos que não<br />
estão numa mesma dimensão. Ser, mas<br />
não sendo. Qualquer semelhança com<br />
Shakespeare, é mero acaso.<br />
Já, os que abandonam o Judaísmo e<br />
se assimilam, perdem sua identidade de<br />
outra maneira. Negam suas raízes e seu<br />
passado desaparece: tornam-se seres<br />
desmemoriados e sem história familiar.<br />
Uma coisa que nem o psicanalista poderá<br />
ajudar, pois a análise parte de lembranças<br />
e da busca da identidade pessoal<br />
que deve se renovar-se ou corrigirse<br />
ou adaptar-se para superar problemas<br />
e criar a nova identidade sustentada<br />
na sua origem. Sem a memória não<br />
se tem identidade. Assim também se<br />
perdem e se desviam de seu próprio<br />
SER. A História demonstra que, em certos<br />
casos, a sociedade não-judaica muitas<br />
vezes os faz recordar de suas raízes<br />
de maneira traumática.<br />
Os que resolvem optar por uma<br />
identidade judaica inserida na realidade,<br />
terão um trabalho difícil. Buscar ser<br />
judeu e viver no mundo moderno é uma<br />
tarefa difícil. Em primeiro lugar exigirá<br />
estudar e ler muito. Somos o Povo do<br />
Livro. Ler é parte de nossa missão espi-<br />
ritual. Para ser um judeu moderno temos<br />
de aprender muito e ampliar nossos<br />
horizontes judaicos. Em segundo lugar<br />
ser criativo e manter as tradições de<br />
maneira moderna, sem perder a sua essência,<br />
mas mantendo a inserção na realidade.<br />
Para tanto, devemos criar uma<br />
comunidade, seja esta conservadora<br />
(conservative), ou liberal, ou reconstrucionista<br />
ou reformista. Em torno de uma<br />
liderança religiosa, sempre estudar e<br />
entender as experiências de judeus do<br />
mundo todo que optaram por ser judeus<br />
e viver no mundo. Não negar a identidade,<br />
mas ampliar sua pertinência ao<br />
Mundo e a modernidade. Em terceiro<br />
lugar, buscar as soluções judaicas para a<br />
vida. O Judaísmo progressista ampliou<br />
sua inserção no mundo. Nele há espaço<br />
para a participação feminina nos cultos,<br />
para a inserção dos judeus na vida política,<br />
para a discussão dos problemas da<br />
cidadania num país democrático e para<br />
a defesa dos direitos humanos de judeus<br />
e não-judeus, como um todo. É<br />
possível ser judeu e ser cidadão, guardar<br />
as mitzvót de maneira contemporânea<br />
sem perder de vista sua essência<br />
judaica, mas inserindo-as na realidade.<br />
A identidade é preciosa. É o núcleo<br />
de nosso ser. Não podemos negar a identidade,<br />
mas tampouco colocá-la numa<br />
ostra e acharmos que estamos cultivando<br />
uma "pérola", para o Final dos Tempos.<br />
Temos que nos inserir na diversidade,<br />
nas lutas sociais e na realidade do<br />
mundo, mas devemos fazê-lo de maneira<br />
judaica, pois assim não negamos nosso<br />
ser. Um caminho difícil e de uma enorme<br />
complexidade.<br />
No que tange a Família e a Escola não<br />
há soluções fáceis também. Largar a responsabilidade<br />
dos pais na porta da escola<br />
e ir buscar no final da tarde, é achar<br />
que a escola faz milagres. Nada substituirá<br />
a família. A escola pode até ser inserida<br />
na realidade e educar para valores,<br />
mas a família também deve educar.<br />
Se não há tempo e os pais mal vêem seus<br />
filhos? Então deve se "otimizar" (um termo<br />
que os tecnocratas me ensinaram)<br />
as relações familiares em diálogos contínuos<br />
e em celebrações e rituais que em<br />
poucos e especiais momentos propiciem<br />
a discussão de temas em que valores<br />
e padrões sejam discutidos.<br />
Já a escola deveria inserir no seu currículo,<br />
mais ética e mais valores, através<br />
de dinâmicas e discussões constantes. Sugiro<br />
que as escolas judaicas repensem seus<br />
currículos e os moldem com este tipo de<br />
conteúdos práticos que estão em toda a<br />
nossa tradição, na Bíblia e na História <strong>Judaica</strong><br />
como modelos de reflexão, debate<br />
e ensino de valores. E tudo com ações práticas<br />
na realidade: nenhuma teoria serve<br />
se não for praticada. E se possível buscar a<br />
ponte entre a tradição e a modernidade<br />
de maneira criativa. Hoje, para se educar<br />
filhos temos que ser mais que pais, temos<br />
que ser sensíveis e atentos a vida e ao<br />
mundo e saber achar a maneira de estar<br />
próximos de nossos filhos mesmo se não<br />
temos quase tempo.<br />
3<br />
* Sérgio Feldman é<br />
doutor em História pela<br />
UFPR e professor de<br />
História Antiga e<br />
Medieval na<br />
Universidade Federal<br />
do Espírito Santo, em<br />
Vitória, e ex-professor<br />
adjunto de História<br />
Antiga do Curso<br />
de História da Universidade<br />
Tuiuti<br />
do Paraná.
4<br />
* José Roitberg é<br />
jornalista. Fotos:<br />
Divulgação Família K.<br />
A primeira<br />
pentaneta da<br />
família K<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Moritz e Bruce Frommer, ramo perdido da família K<br />
Cerca 280 pessoas da família K reuniram-se em Passa Quatro, em Minas Gerais<br />
Cinco gerações em encontro<br />
de família judaica<br />
José Roitberg *<br />
e 29 a 31 de agosto, os descendentes<br />
de Avraham e Roize<br />
Kasjusz (Polônia, 1850), participaram<br />
pela sexta vez do Encontro<br />
Internacional envolvendo<br />
cinco gerações com parentes na<br />
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Estados<br />
Unidos, Portugal, França, Itália e Israel.<br />
O encontro acontece a cada dois anos<br />
e foi iniciado em 1998, pelos bisnetos e<br />
idealizadores Jacques Wrona z'l, Mathusalém<br />
Casiuch z'l e Vitalis Moritz.<br />
Este ano integrou 280 pessoas em<br />
Passa Quatro, nas montanhas de Minas<br />
Gerais. Os encontros são registrados<br />
em vídeo e muita fotografia. No último<br />
dia, os familiares podem descarregar os<br />
cartões de suas máquinas: foram quase<br />
5 mil fotos em 3 dias, mostrando a<br />
importância da documentação para a<br />
Família K. No quarto do hotel, um canal<br />
especial mostrou vídeos de encontros<br />
anteriores 24 horas.<br />
Ponto alto foi a presença de um primo<br />
dos Estados Unidos, representando um dos<br />
seis ramos da família que havia se perdido,<br />
recentemente descoberto através de<br />
pesquisa na Internet. Pela primeira vez ele<br />
conheceu sua "nova" família. Ainda se espera<br />
encontrar alguém do quinto ramo,<br />
mas a última referência é Varsóvia 1940...<br />
No show de talentos, um casal de bisnetos<br />
se veste como os patriarcas originais<br />
da família para receber todos os seus descendentes<br />
e neste ano, acolher de forma<br />
emocionante o primo perdido.<br />
Comemorando 10 anos, a Família K lançou<br />
seu primeiro livro, coletânea de crônicas<br />
familiares. Ainda como parte dos produtos<br />
de comunicação, destaca-se o folder<br />
genealógico atualizado a cada dois anos,<br />
crachá com nome, parentesco e cor do ramo<br />
e o site da família (www.familiak.com.br).<br />
Uma árvore genealógica de 20 metros foi<br />
criada este ano, com fotos e informações<br />
de cada membro.<br />
A Família K tem como princípio arrecadar<br />
dinheiro para tsedaká, ajudando instituições<br />
judaicas. Durante o evento é<br />
montado um bazar, onde são vendidos<br />
produtos trazidos pelos familiares, fotos,<br />
artesanato, eletrônicos, camisetas, bijuterias,<br />
etc. A renda deste ano foi para:<br />
Lar da Criança Israelita Rosa Waisman<br />
(RJ), Lar da Velhice Israelita Religiosa do<br />
Rio de Janeiro, Sinagoga Beith Yaacov<br />
(RJ), Ten Yad (SP) e Unibes (SP).<br />
"Pelo andar da carruagem, continuaremos<br />
com a presença de cinco gerações,<br />
já que os tetranetos rapidamente estão<br />
chegando à fase de constituírem família<br />
e já há alguns pentanetos. E como sabemos,<br />
os descendentes Kasjusz são fiéis<br />
cumpridores da recomendação divina<br />
"Frutificai e Multiplicai" (Bereshit,<br />
1:28)", profetiza Vitalis.<br />
Atualmente, a geração mais jovem, de<br />
trinetos e tetranetos é quem organiza o<br />
evento. "O que mais me motiva nesta participação<br />
é a consciência e a satisfação<br />
de estar fazendo algo muito importante<br />
para a família, além da possibilidade do<br />
contato com familiares que, se não fosse<br />
desta forma, eu certamente não teria conhecido."<br />
- confessa o trineto Alexandre,<br />
32, e ressalta: "A emoção que sinto ao término<br />
de cada encontro não me deixa dúvidas<br />
sobre o quanto vale a pena participar."
Tashlich - um eco-lógico<br />
Jane Bichmacher de Glasman *<br />
o primeiro dia de<br />
Rosh Hashaná, quando<br />
não coincide com<br />
Shabat, é realizado o<br />
ritual de Tashlich. Consiste<br />
em ir, pouco antes<br />
do pôr-do-sol, até um lugar onde<br />
haja água natural corrente (lagos,<br />
rios ou mar) e também peixes. Lá<br />
meditamos, recitamos alguns salmos<br />
e agitamos simbolicamente os<br />
cantos das roupas. Alguns lançam<br />
na água migalhas de pão, que simbolizam<br />
resíduos desintegrados das<br />
faltas cometidas por nós durante o<br />
ano que se encerra.<br />
Os versos do profeta Miquéias<br />
(especialmente 7:19), recitados no<br />
Tashlich, contêm a explicação para<br />
o costume: "E jogarás (tashlich) teus<br />
pecados nas profundezas do mar".<br />
Naturalmente, sacudir os cantos<br />
da roupa não nos livra de nossos pecados<br />
- mas nos recorda de que devemos<br />
fazer uma boa limpeza no coração<br />
e livrá-lo do mal.<br />
Quando o primeiro dia de Rosh<br />
Hashaná ocorre num Shabat, o Tashlich<br />
é observado no segundo dia.<br />
A prece de Tashlich desperta para<br />
o arrependimento. Lembra a insegurança<br />
da vida do peixe, entre o perigo<br />
da isca e da rede do pescador.<br />
Nossa vida também está repleta de<br />
ciladas e tentações. O peixe também<br />
simboliza o "olho sempre vigilante"<br />
de D-us, pois os peixes não têm pálpebras,<br />
seus olhos estão sempre<br />
abertos. Assim, se nada pode ser oculto<br />
de D-us, também podemos extrair<br />
coragem e esperança da fé nele, pois<br />
Ele nunca dorme 1 .<br />
"Água em hebraico é Maim, palavra<br />
que está presente em Shamaim<br />
que quer dizer céus, pois queremos<br />
que nossa oração chegue lá,<br />
para o reencontro das águas de cima<br />
com as águas de baixo, como no início<br />
da criação do mundo 2 ".<br />
Na Idade Média o Tashlich foi<br />
muitas vezes usado para acusar os<br />
judeus de enfeitiçar a água ou envenená-la,<br />
e os rabis eram obrigados<br />
a proibir a observância do Tashlich<br />
pelas suas comunidades, já que<br />
constituía ameaça às suas vidas.<br />
A pessoas associam o ritual de<br />
Tashlich com "jogar fora" - idéia incorreta,<br />
sob uma perspectiva "ecokasher".<br />
Hoje sabemos que não é<br />
possível jogar nada fora, porque o<br />
"fora" não existe. Ao invés disso, lan-<br />
çamos nossos desacertos ou transgressões<br />
para serem neutralizados,<br />
para que se tornem biodegradáveis,<br />
para que desta forma possam ser<br />
reciclados sem causar poluição.<br />
Refletindo sobre cada erro que simbolicamente<br />
é lançado às águas,<br />
pensando sobre o que aprendemos<br />
com ele, podemos "reciclá-lo",<br />
transformando-o em potencial para<br />
ações positivas.<br />
A água faz parte dos rituais judaicos<br />
de purificação, como os banhos<br />
de imersão na mikve, por<br />
exemplo, que realizamos antes do<br />
Shabat, festas ou momentos especiais.<br />
Em Rosh Hashaná a água simboliza<br />
o meio no qual reciclamos situações<br />
ou relações não resolvidas<br />
até o início do novo ano 3 .<br />
A lágrima é nossa emoção reciclada<br />
através da água. Através do<br />
Tashlich, fazemos um percurso inverso<br />
ao de Narciso, que no mito se<br />
apaixona por sua própria imagem:<br />
lançamos cacos de nosso coração<br />
partido às águas, que são suas imperfeições,<br />
como forma de reficarmos<br />
inteiros, completos. Em Shalom,<br />
cuja raiz significa isso: inteiro, perfeito.<br />
E "nada é mais inteiro que um<br />
coração partido... 4 "<br />
* Jane Bichmacher de Glasman é escritora, doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura <strong>Judaica</strong>, professora adjunta,<br />
fundadora e ex-diretora do Programa de Estudos Judaicos - UERJ.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Pintura representando a cerimônia<br />
de tashlich, em Rosh Hashaná<br />
NOTAS:<br />
1. Cf. http://<br />
www.chabad.org.br/datas/<br />
rosh/rosh008.html<br />
2. Citando Benjamin Mandelbaum,<br />
em Tashlich: a Cabala<br />
do Desapego<br />
www.cjb.org.br/netsach/<br />
festas/kipur/taschlich.htm<br />
3. Veja www.shalom.org.br/<br />
vidasinagogal/festas/<br />
tashlich.shtml<br />
4. A frase é do Rabi Menachem<br />
Mendel de Kotzk (Polônia,<br />
1787-1859), um dos grandes<br />
líderes hassídicos do século XIX.<br />
Crianças oram durante o tashlich<br />
5
6<br />
* Noah Pollak é escritor<br />
sobre política americana<br />
especializado em temas<br />
relativos a política<br />
externa, Israel e o povo<br />
judeu. Atualmente, ele é<br />
colaborador regular da<br />
publicação<br />
neoconservadora<br />
americana Commentary<br />
Magazine. Além disso, é<br />
editor assistente da<br />
revista Middle East<br />
Quarterly, publicação do<br />
Middle East Forum. Por<br />
dois anos Pollak viveu em<br />
Israel e serviu como editor<br />
assistente da revista<br />
Azure, publicada pelo<br />
Centro Shalem, sediado<br />
em Jerusalém. Pollak<br />
também tem escrito para<br />
a National Review.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Demonstração de força<br />
Noah Pollak * freqüentemente, tanto antes como mutuamente reforçado, para questio- desproporcional de homens-bomba sui-<br />
depois, as autoridades israelenses tinar sua própria legitimidade. Hoje, em cidas para Israel. Seguiram-se intensas<br />
o dia 9 de junho de 2006, uma nham ajudado seus inimigos a defen- muitas partes da Europa e do Reino batalhas casa a casa. Mais de cinqüenta<br />
praia em Gaza foi atingida por der sua versão.<br />
Unido, e em algumas partes da Amé- residências haviam sido equipadas com<br />
uma explosão que matou sete Israel tem um problema de imagem. rica uma caricatura de Israel que an- explosivos, e enquanto a tática óbvia<br />
membros de uma família pa- Começando com a Guerra do Líbano de tes só florescia nas facções ideológi- teria sido seguir recentes exemplos<br />
lestina. Pouco tempo depois, a 1982, e acelerando rapidamente depois cas, foi popularizada: acredita-se que usados por outros exércitos ocidentais,<br />
televisão da Autoridade Palestina libe- do início da segunda Intifada em 2000, Israel é um opressor sádico, um assas- que usam artilharia ou ataques aéreos<br />
rou um vídeo horroroso, mostrando uma o Estado judeu passou a ser visto em sino cruel de civis, um fomentador para neutralizar a ameaça, as FDI es-<br />
menina de 10 anos gritando entre cor- muitos locais de opinião culta e ilus- implacável de guerras no Oriente Mécolheram, ao invés, continuar com forpos<br />
mortos na praia, e os funcionários trada como uma presença sinistra no dio, e o causador de uma responsabiças terrestres - às custas das vidas de<br />
de um hospital e porta-vozes palesti- cenário mundial. Fundado sobre prinlidade estratégica ameaçadora para os vinte e três de seus soldados de infannos<br />
culpando furiosamente os disparos cípios de direitos humanos, o Estado Estados Unidos e o mundo ocidental. taria - tudo para minimizar as vítimas<br />
de artilharia das Forças de Defesa de de Israel é visto como opressor; Israel A popularidade deste modo de pen- civis palestinas. Foram mortos cinqüen-<br />
Israel (FDI) pelas mortes - embora ne- é retratado como uma nação ocupante sar não evoluiu de forma natural. Foi ta e dois palestinos, quase todos comnhuma<br />
investigação tivesse sido con- com tropas violentas; é chamado de cultivada assiduamente durante várias batentes armados. Mas, nenhum desduzida,<br />
e os acusadores palestinos não "estado apartheid". O próprio sionismo décadas, com as muitas batalhas emtes fatos foi considerado relevante pela<br />
tivessem nenhum modo de saber o que se tornou um importante alvo desta viopreendidas contra Israel durante este mídia ou pelas autoridades oficiais in-<br />
de fato causou a explosão.<br />
lência retórica.<br />
tempo, que serviram como oportuniternacionais. Declarações exultantes de um Antes considerado como uma resdades importantes para aqueles cuja A narrativa "do que houve" em Je-<br />
massacre israelense foram noticiadas posta heróica a pogroms e genocídio, meta é o deslegitimização e o isolanin já havia sido decidida, e exigia his-<br />
como fato, em jornais e transmissões o sionismo agora é culpado por conmento do estado judeu. O caso de tórias de matança em massa e crimes<br />
de TV, ao redor do mundo; grupos de ceder absolvição ideológica para a Muhammad al-Dura, de doze anos, nas de guerra. A agência oficial de notí-<br />
direitos humanos se uniram às conde- perpetração desses mesmos crimes. primeiras semanas da segunda Intifacias palestina declarou que o "massanações;<br />
e, mais uma vez, Israel viu-se Todas estas caricaturas têm por objeda foi um exemplo típico de como se cre do século XXI" tinha sido perpetra-<br />
como objeto de indignação internaciotivo redefinir o caráter básico do sio- construiu esse conceito negativo de do. O enviado da ONU para o Oriente<br />
nal com relação à questão de vítimas nismo e do estado que ele ajudou a Israel. Al-Dura teria sido morto num Médio, Terje Roed-Larsen, descreveu<br />
civis. Se esta história e suas origens criar, debilitando insidiosamente, des- fogo cruzado em Gaza, entre soldados Jenin como "mais horripilante do que<br />
se ajustam perfeitamente a um padrão te modo, tanto a legitimidade do Es- das FDI e palestinos. Um operador ci- se poderia acreditar", e concluiu que<br />
previsível, a reação de Israel à crise tado judeu em sua forma atual, quannematográfico palestino, trabalhando "Israel perdeu toda a base moral nes-<br />
também seguiu o padrão previsível: as to a base moral e ideológica para sua para o canal de notícias francês Frante conflito". Derrick Pounder, um "pe-<br />
FDI cessaram imediatamente as ativi- criação. E esta redefinição foi segurace 2, capturou cenas do fogo cruzado rito forense" da Anistia Internacional,<br />
dades militares em Gaza, e as autorimente bem sucedida: em uma pesqui- num filme, e o vídeo, editado pelo ca- comentou, ao entrar em Jenin, que "as<br />
dades israelenses, em seus níveis mais sa de opinião feita em 2007, pela BBC nal France 2 e então distribuído, sem evidências diante de nós, no momen-<br />
altos, espontaneamente admitiram a World Service, foi pedido aos pesqui- custo, para outras organizações de to, não nos levam a crer que as alega-<br />
culpabilidade das FDI e prometeram sados, em dúzias de países, que clas- mídia. Sem surpresa, Al-Dura foi enções possam não ser verdadeiras e,<br />
uma investigação do incidente. sificassem 27 nações de acordo com terrado antes que uma autópsia, re- portanto, há um grande número de ci-<br />
O último capítulo da história é sua influência positiva ou negativa no moção de balas, ou testes de balístivis mortos debaixo destas ruínas de-<br />
igualmente familiar: ao final das inves- mundo. Israel foi classificado em últica pudessem ser realizados. Anos demolidas bombardeadas que nós vetigações<br />
ficou comprovado que os pamo lugar absoluto - até abaixo do Irã - pois a farsa foi comprovada. Mas até mos." Nos EUA, a National Public Ralestinos<br />
na praia não foram mortos com apenas 17% dos entrevistados di- que isso viesse a público, a Anistia dio, a CNN, e o jornal The Los Angeles<br />
pelas FDI. Ao invés disso, o Hamas tizendo que viam Israel como uma in- Internacional culpou Israel dando um Times repetiram incansavelmente hisnha<br />
minado a parte da praia onde a fluência "principalmente positiva". aval às acusações palestinas e frantórias de atrocidades, e no New York<br />
explosão aconteceu, esperando defen- Entre países ocidentais, Israel se saiu cesas. Em grande parte devido ao sen- Times, o ex-presidente Jimmy Carter<br />
der seu arsenal de foguetes Kassam apenas um pouco melhor: na Austrásacionalismo cinematográfico do inci- acusou Israel de "destruir" Jenin "e<br />
contra missões de comandos israelenlia, Itália, Reino Unido, França, e Grédente. As imagens de Al-Dura morto outros povoados". Na Inglaterra, a imses.<br />
Depois da explosão, homens do cia, Israel é visto como uma influên- foram utilizadas pelo mundo árabe e prensa era a mais gratuita. "O doce e<br />
Hamas rastrearam a praia, removencia "principalmente negativa" por qua- pelas mídias européias como ícones horrível cheiro desagradável de corpos<br />
do estilhaços que poderiam ser usase dois terços das pessoas, e, na Ale- da situação dos palestinos como víti- humanos apodrecidos está em todos<br />
dos como prova. O vídeo sensacionamanha, por mais de três quartos das mas da crueldade israelense. Até mes- lugares, provando que é uma tumba<br />
lista, que capturou as simpatias de pessoas. Da mesma forma, uma pesmo Osama Bin Laden usou isso ao humana", despejou Phil Reeves no In-<br />
jornalistas crédulos, e provocou uma quisa de opinião em 2003 concluiu que, advertir, um mês depois dos ataques dependent. "As pessoas dizem que há<br />
fogueira de afronta pública, se mos- entre europeus, Israel é considerado de 11/9, que "Bush não deve esque- centenas de cadáveres, sepultados<br />
trou, em avaliação objetiva, uma mon- o país mais perigoso no mundo. cer-se da imagem de Muhammad Al- sob o pó". David Blair do Daily Teletagem<br />
mutilada de trechos de vídeo Os subordinados a este fenômeno Dura". Hoje, sabe-se que foi tudo uma graph informou que tropas das FDI<br />
colados e anacronismos não explicá- são o que poderia ser chamado, se a fabricação diabólica, planejada para executaram sumariamente nove hoveis.<br />
Em outras palavras, era uma frau- pessoa quiser ser polêmica, o lobby ser mais um ataque com artilharia pemens, que foram despidos e ficaram<br />
de. A própria explosão aconteceu uns anti-Israel, ou, mais precisamente, sada na guerra maior para destruir a apenas com suas roupas íntimas, "co-<br />
dez minutos depois que a último car- uma cultura dominante de opinião, reputação moral de Israel e das FDI. locados contra um muro e executados<br />
tucho de artilharia das FDI tinha sido compartilhada por organizações de di- Menos de dois anos depois, Israel com simples tiros na cabeça".<br />
disparado na área, e os estilhaços reitos humanos, ONGs, departamen- era outra vez objeto de um "Dois Minu- No final das contas, o único mas-<br />
achados nos corpos das vítimas não tos de Estudos do Oriente Médio e grutos de Ódio Orweliano" ( N.T. período sacre que foi cometido foi conduzido<br />
eram de munições israelenses.<br />
pos em campus universitários, as Na- no qual os membros do partido assis- pela ONU, pelas organizações de aju-<br />
O Hamas, numa tentativa malfeições Unidas, organizações cristãs tiam a um filme, mostrando seus inida internacionais, e pela imprensa inta<br />
de defender Gaza, com certeza ma- "progressistas", e a maioria esmagamigos, e expressavam seu ódio contra ternacional - um massacre da verdatou<br />
seus próprios cidadãos. No fim, nedora da mídia e elite cultural britâni- eles, no livro 1984, de George Orwell), de, que foi planejado, exatamente<br />
nhuma das evidências justificativas cas e européias. Estas facções operam baseado em outra atrocidade inventa- como o enviado da ONU declarou tão<br />
encontradas teve a menor importân- em um estado mais ou menos permada, desta vez na cidade de Jenin, na Sa- presunçosamente, para destruir a recia:<br />
Israel já havia sido julgado e connente de antagonismo a Israel, e em mária. Durante a Operação Escudo putação moral de Israel em sua luta<br />
denado no tribunal da opinião pública nenhuma época prévia da história do Defensivo, tropas das FDI entraram contra a ofensiva terrorista palestina.<br />
mundial nos primeiros poucos dias do estado judeu existiu tal eixo interna- numa parte de Jenin para livrá-la de Mais recentemente, ocorreu o caso da<br />
incidente. E, como tem acontecido, tão cional profusamente consolidado, terroristas, que enviavam um número Segunda Guerra do Líbano, cujos re-
sultados inesperados concentraram a<br />
atenção israelense em falhas militares<br />
e políticas. Esta autocrítica ignorou<br />
em grande parte uma terceira falha,<br />
isto é, a facilidade com que Israel<br />
foi derrotado uma vez mais na mídia.<br />
Dentro dos primeiros dias do começo<br />
da guerra, e sem uma coordenação<br />
consciente, os inimigos de Israel<br />
começaram a debilitar a autodefesa<br />
israelense: Kofi Annan anunciou,<br />
sem uma prova que fosse, que Israel<br />
tinha intencionalmente assassinado<br />
quatro membros da Unifil; grupos de<br />
direitos humanos como a Anistia Internacional<br />
e a Human Rights Watch<br />
(HRW) produziram rapidamente montes<br />
de relatórios condenando o esforço<br />
de guerra de Israel, alegando crimes<br />
de guerra, e ignorando primariamente<br />
o Hezbolá (Kenneth Roth, o diretor<br />
executivo da HRW, acusou Israel<br />
de empreender "guerra indiscriminada"<br />
e acrescentou, sem qualquer comprovação<br />
confiável, que "em alguns<br />
casos, forças israelenses pareceram<br />
ter mirado deliberadamente em civis");<br />
e os jornalistas inundaram a<br />
área com a cobertura das vítimas civis<br />
libanesas, produzindo falsos relatórios<br />
sobre os bombardeios de<br />
Qana, fotografias adulteradas, e histórias<br />
para os noticiários que foram<br />
organizadas e dirigidas pelo Hezbolá.<br />
Em suas excursões no campo de<br />
batalha para repórteres, o Hezbolá foi<br />
longe, chegando a ponto de fabricar<br />
tiroteios em ambulâncias, já que aparentemente<br />
a compensação por usar<br />
estes veículos como acessórios de<br />
produção para a imprensa internacional<br />
era preferível do que usá-los para<br />
ajudar feridos libaneses.<br />
A resposta israelense para as calúnias,<br />
tão previsivelmente lançadas<br />
em sua direção, foi algumas vezes<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Deficientes servem o exército em Israel como voluntários<br />
O exército de Israel adotou uma política<br />
impensável em outros países: a de<br />
admitir em seus quadros soldados portadores<br />
de deficiências, desde cegos até<br />
portadores de síndrome de Down.<br />
Esses militares, alguns com postos de<br />
oficial, não foram recrutados para o serviço<br />
militar obrigatório e não participam<br />
de operações de combate, mas são voluntários.<br />
Danielle Kalifa, que nasceu completamente<br />
cega, é uma das jovens soldadas<br />
da seção de internet de Galéi Tzahal, a<br />
emissora de rádio do Exército Israelense.<br />
Ela se encarrega de transcrever os<br />
programas de rádio para que sejam publicados<br />
no site da emissora.<br />
"Sei que contribuo com algo valioso.<br />
Desfruto cada momento e, com esse serviço,<br />
cumpro meu sonho de toda a vida",<br />
disse ela do seu trabalho.<br />
O tenente Yonatan Cohen, que sofre<br />
competente, mas com freqüência demais<br />
recorreu a táticas familiares e<br />
autodestrutivas: desculpas gratuitas e<br />
autocrítica, servilidade em face a jornalistas<br />
hostis, e uma incapacidade<br />
para fazer sua defesa básica de que<br />
as vítimas civis libanesas eram uma<br />
das metas centrais do Hezbolá no conflito,<br />
precisamente por causa de seu<br />
valor de propaganda. Incrivelmente,<br />
depois do bombardeio em Qana, Israel<br />
prometeu suspender suas operações<br />
aéreas por 48 horas, um gesto para<br />
seus inimigos e aliados também, que,<br />
nos níveis mais elevados de governo<br />
lá, inflamou uma profunda ambivalência<br />
sobre o esforço de guerra.<br />
Lá pelo meio do conflito, a narrativa<br />
da guerra tinha sido distorcida, mudando<br />
de uma na qual Israel estava se<br />
defendendo do ataque de uma organização<br />
terrorista apoiada pelo Irã para<br />
uma na qual Israel estava, mais uma<br />
vez, matando civis com selvageria.<br />
Nas primeiras páginas do New York Times<br />
e do Washington Post, Israel foi<br />
retratado como o agressor quase duas<br />
vezes mais freqüentemente nas manchetes<br />
e exatamente três vezes mais<br />
freqüentemente nas fotografias.<br />
O padrão revelado por estes eventos<br />
mostra um registro perturbador: o<br />
curso de uma ação corrosiva. Em qualquer<br />
crise, seja Al-Dura, Jenin, Líbano,<br />
ou a explosão na praia de Gaza, a<br />
resposta israelense se caracterizou<br />
pelos mesmos silêncios, erros graves<br />
de uma presunção espontânea de culpa;<br />
desculpas antecipadas, autocrítica<br />
desnecessária, promessas de investigação,<br />
e suspensão da ação militar;<br />
um tratamento irresoluto para exatamente<br />
o tipo de acusações incendiárias<br />
que requerem uma resposta enérgica<br />
e consistente; a afirmação de inocência<br />
somente depois que a tempes-<br />
de paralisia cerebral e usa uma cadeira<br />
de rodas, é outro voluntário.<br />
"Não é mais que um metal exterior que<br />
nada tem a ver com minha vontade de fazer,<br />
atuar e contribuir para a sociedade",<br />
disse ele sobre a cadeira de rodas.<br />
Yonatan, o primeiro deficiente a receber<br />
grau de oficial no Exército Israelense,<br />
é responsável pelo contato com<br />
jovens que estão prestes a servir o exército.<br />
Ele percorre o país em visitas a colégios<br />
secundários e outros locais, para<br />
explicar a importância do serviço militar<br />
e encorajar os jovens a "ser parte do esforço<br />
de todos", "Ao me verem, não podem<br />
dar desculpas de que têm problemas<br />
para se alistar. Se eu posso, todos<br />
podem", afirma.<br />
Apesar do tratamento igual sem benefícios<br />
especiais, Danielle e Yonatan<br />
estão cientes de suas limitações, que são<br />
respeitadas pelo exército.<br />
tade da mídia tenha passado; e finalmente,<br />
a recusa em fazer uma ofensiva,<br />
retoricamente ou de outro modo,<br />
contra os indivíduos e organizações<br />
que fizeram a calúnia contra Israel se<br />
tornar um esporte tão vergonhosamente<br />
fácil.<br />
Várias reformas, conceituais e estruturais,<br />
são imperativas. A primeira é a<br />
respeito da Unidade do Porta-voz das<br />
FDI, o pequeno grupo dentro do exército<br />
israelense que se encarrega das relações<br />
com a mídia. Em tempos de guerra,<br />
seus soldados civis são sobrecarregados<br />
pela pesada responsabilidade de<br />
explicar ações militares israelenses para<br />
o mundo. Tem que se tornar uma das<br />
unidades de elite nas FDI.<br />
Um gabinete deveria ser criado<br />
em Jerusalém, onde há um grande<br />
contingente de grupos da imprensa<br />
estrangeira, para estimular o cultivo<br />
das relações com jornalistas. E deveria<br />
ser criado um gabinete de conexão,<br />
de modo a coordenar a estratégia<br />
de mídia e as mensagens entre<br />
as FDI e o governo, com o objetivo de<br />
construir uma estratégia de comunicações<br />
única para toda operação militar<br />
importante.<br />
Para que estas mudanças deixem<br />
sua marca, o próprio governo israelense<br />
tem que adotar um processo de comunicações<br />
mais disciplinado. Hoje,<br />
Israel não tem nenhuma infra-estrutura<br />
de comunicações unificada; cada<br />
Ministério e seção das FDI oferecem<br />
seu próprio porta-voz à imprensa, e o<br />
resultado é uma multiplicidade de declarações<br />
e mensagens, que freqüentemente<br />
deixam Israel na defensiva e<br />
parecendo ser culpado diante de acusações<br />
irrefutáveis. No nível conceitual,<br />
os estrategistas israelenses e os porta-vozes<br />
têm que passar a entender a<br />
imensa importância da comunicação<br />
A jovem viaja sozinha de ônibus diariamente<br />
da cidade costeira de Natania,<br />
onde mora com os pais. Ela decorou as<br />
curvas do caminho para calcular quando<br />
deve saltar do ônibus, no ponto de Yaffo,<br />
em Tel Aviv.<br />
"Agora estão fazendo obras em Sderot<br />
Yerushalaim", disse ela, se referindo<br />
à principal rua do bairro.<br />
"Isso virou uma loucura, mas ao chegar<br />
ligo para um de meus colegas e eles<br />
vêm me buscar no ponto."<br />
Yonatan Litani, o produtor do Galéi<br />
Tzahal on-line, e amigo pessoal de<br />
Danielle, afirma que "não há outra garota<br />
tão especial como ela".<br />
Yonatan Cohen, por sua vez, não pode<br />
viajar sozinho já que, por conta das<br />
sérias limitações motoras, precisa de ajuda<br />
24 horas por dia.<br />
Seu acompanhante filipino, Boboy, já<br />
sabe o nome de todas as unidades em he-<br />
social organizada na guerra moderna.<br />
Isto significa que os israelenses têm<br />
que considerar o papel desempenhado<br />
pelas ONGs e organizações de notícias<br />
empenhadas em deliberar falsas informações.<br />
Estes agentes já não podem<br />
ser agrupados conceitualmente<br />
como terceiros ou observadores neutros<br />
durante os conflitos; eles estão<br />
profundamente implicados na própria<br />
guerra, e como partes de um conflito,<br />
sua presença deve ser tratada com a<br />
máxima seriedade.<br />
Há mais de um ano, as FDI têm<br />
conduzido ataques aéreos em Gaza,<br />
que são destinados a impedir o disparo<br />
de foguetes Kassam para Israel, e<br />
porque o Hamas e os terroristas da<br />
Jihad Islâmica operam intencionalmente<br />
entre civis, estes ataques invariavelmente<br />
matam transeuntes não<br />
envolvidos e criam histórias de notícias<br />
prejudiciais. Seria extraordinariamente<br />
fácil a um governante dar<br />
uma coletiva de imprensa em Sderot<br />
na frente a uma escola destruída por<br />
disparos de foguetes palestinos e explicar<br />
para as câmeras que, enquanto<br />
Israel está atacando o Hamas para<br />
proteger as vidas das crianças israelenses,<br />
o Hamas está enviando suas<br />
crianças em missões suicidas para<br />
operar exatamente esses mesmos dispositivos<br />
de lançamento de foguetes.<br />
Toda vez, depois disso, que Israel atacar<br />
terroristas em Gaza, o porta-voz<br />
israelense poderia martelar nesta tecla,<br />
condenando o fato de o Hamas<br />
usar crianças em ataques terroristas.<br />
Repetindo freqüente e vigorosamente<br />
o bastante, o ocidental comum<br />
pode não estar muito inspirado a gostar<br />
de Israel, mas pelo menos ele começará<br />
a entender a natureza de sua<br />
luta - e a realidade macabra da "resistência"<br />
palestina.<br />
braico e reconhece onde servem os soldados,<br />
de acordo com a cor de suas boinas.<br />
Mas para Danielle, que considera os<br />
colegas de trabalho como uma "família",<br />
e Yonatan, a questão é mais séria do que<br />
apenas um encontro com amigos e reflete<br />
a sociedade israelense em si.<br />
Danielle está convencida de que "se<br />
a comunidade na qual vive não sabe aceitar<br />
as pessoas um pouco diferentes, nunca<br />
chegará a um bom termo".<br />
Yonatan conta que já recebeu todo<br />
tipo de reações. Alguns riram quando o<br />
viram, "mas também há os que reagem<br />
com admiração".<br />
Ele, que considera ter sido "compensado"<br />
por sua limitação física com grande<br />
capacidade intelectual, não tem dúvidas:<br />
"se eu transmito sentimento de<br />
pena, essa será a atitude, mas não é o<br />
que desejo, nem o que devo transmitir",<br />
disse ele.<br />
7
8<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
MENSAGEM DA<br />
EMBAIXADORA DE<br />
ISRAEL, TZIPORA<br />
RIMON,<br />
À COMUNIDADE<br />
JUDAICA DO BRASIL,<br />
POR OCASIÃO DO<br />
ANO NOVO JUDAICO<br />
- 5769 E DE SUAS<br />
DESPEDIDAS<br />
Caros amigos,<br />
Como todos os anos quando nos aproximamos no final do mês Elul e<br />
início do Ano Novo em Tishrei, desejo à toda a comunidade judaica do Brasil<br />
meus sinceros votos de sucesso, saúde e prosperidade.<br />
Este ano marca também a minha despedida - encerro na próxima semana<br />
a minha missão como Embaixadora da Israel no Brasil e após 4 anos de<br />
serviço diplomático no país, regresso a Israel.<br />
Foram anos de desafios profissionais, tentando ampliar, cada vez mais a<br />
cooperação entre os dois países. Encontramos vastos campos de interesses<br />
mútuos para dialogar e assinar acordos bilaterais e com o Mercosul e presenciamos,<br />
nos últimos anos, várias visitas oficiais entre os dois países.<br />
Não menos importante, foi para mim a estreita cooperação com a comunidade<br />
judaica do Brasil, que através de sua liderança e integrantes buscamos<br />
meios para reforçar o vínculo e atuação junto a assuntos pertinentes<br />
a Israel e à própria comunidade.<br />
Levarei comigo boas lembranças do Brasil e de todos vocês, sejam nas<br />
comunidades pequenas e grandes, nas organizações, nas escolas e movimentos<br />
juvenis, nas sinagogas e entidades. Agradeço pela colaboração, calorosa<br />
recepção e amizade.<br />
Tenho certeza de que o novo Embaixador, Sr. Giora Becher, encontrará<br />
uma boa receptividade por parte da comunidade e continuará contando com<br />
a costumeira cooperação.<br />
SHANA TOVÁ UMEVORECHET<br />
FELIZ ANO NOVO<br />
<strong>VJ</strong> INDICA<br />
LIVRO<br />
Compromisso<br />
com a Vida<br />
Rebetsin Esther Jungreis<br />
Editora W-Edith<br />
Perpassando a eterna sabedoria<br />
da Torá, Rebetsin Esther Jungreis<br />
recorda-nos os princípios necessários<br />
para viver uma vida melhor e<br />
mais compromissada. Inspirador e<br />
profundamente emocionante,<br />
este livro tocará seu coração.
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Rosh Hashaná e as maçãs<br />
Breno Lerner *<br />
No mês em que celebramos o Ano Novo, uma história<br />
e receitas de maçãs.<br />
Vocês já ouviram falar de Johnny Appleseeds? Não?<br />
Pois assim ficou conhecido John Chapman, um personagem<br />
interessantíssimo da história americana que viveu<br />
no final do século XVIII.<br />
Chapman passou sua vida tentando convencer as pessoas<br />
que frutas, especialmente a maçã, eram essenciais<br />
à saúde, e espalhou mudas de macieiras por todos os Estados<br />
Unidos, ensinando os colonos como plantá-las, colhê-las<br />
e utilizá-las. Não é à toa que os americanos são<br />
os maiores consumidores de maçã in natura do mundo e<br />
criaram frases com "An apple a day keeps the doctor<br />
away" ou "As american as an apple pie" (embora a torta<br />
de maçãs seja uma invenção inglesa, não americana).<br />
Seja como for, neste mês, aqui vão umas receitinhas de<br />
maçãs para manter a tradição de Rosh Hashaná e para<br />
homenagear o aniversário do bom Johnny Appleseeds que<br />
nasceu em 26 de setembro de 1774.<br />
CRUMBLE DE MAÇÃS<br />
Para a cobertura:<br />
½ xícara de bolacha cream<br />
crackers esfarelada;<br />
Para o recheio:<br />
4 maçãs vermelhas sem casca e<br />
sementes, cortadas em fatias finas<br />
(para não escurecer, banhe-as com<br />
1/4 xícara de nozes picadas; suco de limão);<br />
100 g de manteiga;<br />
4 colheres de sopa de vinho branco;<br />
2 colheres de sopa de açúcar; 1 colher de café de cravo em pó;<br />
1 colher de café de canela em pó; 2 colheres de sopa de açúcar.<br />
COMPOTA SEFARADI DE MAÇÃS<br />
3 maçãs vermelhas sem casca e<br />
sementes;<br />
Suco de 1 limão;<br />
2 xícaras de chá de açúcar;<br />
1 xícara de chá de água;<br />
2 cravos;<br />
2 colheres de sopa de água de rosas.<br />
Corte cada maçã ao meio e coloque<br />
num recipiente com água gelada e o<br />
suco de limão.<br />
Faça uma calda rala com as 3 xícaras<br />
de água, os cravos e o açúcar, 10 a<br />
15 minutos de fervura. Seque as maçãs<br />
e cozinhe-as por 20 minutos na<br />
calda ou até amaciar. Adicione a água<br />
de rosas, coloque tudo numa compoteira,<br />
deixe esfriar e sirva.<br />
CARPACCIO DE MAÇÃS<br />
*Breno Lerner é editor e gourmand, especializado em culinária judaica. Escreve para revistas, sites e jornais. Dá<br />
regularmente cursos e workshops. Tem três livros publicados, dois deles sobre culinária judaica.<br />
9<br />
Misture todos os ingredientes<br />
da cobertura até<br />
formar uma pasta. Misture<br />
os ingredientes do recheio<br />
e coloque em uma<br />
assadeira untada. Cubra<br />
com a cobertura, espalhando-a<br />
bem. Asse em<br />
forno alto por 25 minutos.<br />
4 maçãs verdes;<br />
Suco de 1 limão;<br />
1/2 xícara de alcaparras escorridas;<br />
4 colheres de sopa de azeite;<br />
1 pitada de sal;<br />
Pimenta do reino moída na hora à gosto;<br />
Queijo parmesão ralado grosso à gosto.<br />
Descasque as maçãs, retire as sementes sem partilas<br />
ao meio e fatie as maçãs em rodelas finíssimas.<br />
Cubra com o suco de limão e deixe descansar por uns<br />
minutos. Escorra e reserve o suco do limão. Coloque<br />
no liquidificador metade das alcaparras, azeite, sal e<br />
o suco de limão reservado. Bata até dar liga no molho.<br />
Despeje o molho sobre as rodelas de maçã arrumadas<br />
em uma vasilha e polvilhe com a pimenta do<br />
reino, o queijo ralado e enfeite com a metade das<br />
alcaparras que sobrou. Sirva com torradas.
10<br />
* Ana<br />
Jerozolimski é<br />
jornalista e<br />
correspondente<br />
em Israel do<br />
Semanário<br />
Hebreo-<br />
Uruguay.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
"Não há opção de diálogo com o Hamas",<br />
diz o líder do Al-Fatah, Ziad Abu Ein<br />
Em entrevista destaca: "Temos que recuperar o poder pela força porque o Hamas tem a população de refém".<br />
Ana Jerozolimski *<br />
Ziad Abu Ein, vice-ministro da Autoridade<br />
Palestina, encarregado do tema dos presos em<br />
Israel, é um dos líderes da Al Fatah, a facção<br />
central da OLP, encabeçada pelo presidente da<br />
Autoridade Palestina Mahmud Abbas na Cisjordânia.<br />
Ele analisa com preocupação a situação atual e<br />
está certo de que Israel não os ajudará contra o<br />
Hamas. Para ele Israel é culpado da situação. Essa é<br />
a cabeça de um dirigente palestino que mostra o<br />
quão difícil é chegar a paz com eles.<br />
P: Como avalia a situação interna atual<br />
palestina, após os últimos atos de violência<br />
na Faixa de Gaza?<br />
R: Creio que o Hamas escolheu seu caminho:<br />
continuar ocupando a Faixa de<br />
Gaza, usando seu poder militar para tapar<br />
todas as bocas, para impedir que<br />
qualquer outra facção palestina em<br />
Gaza participe da vida palestina. Este<br />
é seu caminho e não me parece que<br />
exista nenhuma opção de diálogo com<br />
o Hamas na Faixa de Gaza. A única opção<br />
é devolver o poder da Autoridade<br />
Palestina pelas armas. Não há possibilidade<br />
de conversar, porque eles não<br />
escutam e têm sua própria agenda, que<br />
não é a agenda nacional palestina.<br />
P: O que você acredita que seja a agenda<br />
do Hamas?<br />
R: O Hamas adota sua própria estratégia.<br />
Querem construir um estado islâmico<br />
na Faixa de Gaza. Não querem que<br />
exista uma Autoridade Palestina unificada<br />
entre a Cisjordânia e a Faixa de<br />
Gaza. Não querem diálogo. Usam sua<br />
força militar contra a população, não<br />
só contra o Fatah, mas contra outras<br />
facções, inclusive a Jihad Islâmica.<br />
Realmente não me parece que exista<br />
opção de diálogo com o Hamas. A única<br />
coisa que pode salvar a situação é<br />
que o mundo ou os países árabes dêem<br />
ao presidente Mahmud Abbas (Abu Mazen)<br />
a possibilidade de recuperar o poder.<br />
É que um milhão e meio de palestinos<br />
que vivem na Faixa de Gaza são<br />
reféns do Hamas e o dever do Presidente<br />
é libertá-los de suas mãos.<br />
P: Mas o tema não é só se haverá legitimidade<br />
internacional para que Abu<br />
Mazen atue pela força contra o Hamas,<br />
porém se a Autoridade Palestina, ou o<br />
Al Fatah, têm o poder de fazê-lo... É<br />
que o Hamas fortaleceu-se mais ainda<br />
em Gaza.<br />
R: O problema agora é que até o momento<br />
não se tomou a decisão política<br />
de dar esse passo. Um dos nossos erros<br />
é que se deixa que o Hamas continue<br />
nos combatendo, sem tomar uma<br />
decisão de fazer algo a respeito. Nós<br />
temos a maioria na Faixa de Gaza. Mais<br />
de 7.500 membros das forças de segurança<br />
em Gaza, recebem salários da Autoridade<br />
Palestina e são de Abbas.<br />
P: O Hamas tem muito mais homens<br />
que isso, e por certo não se poderia dizer<br />
que não há apoio ao Hamas em<br />
Gaza... E não me refiro só aos resultados<br />
das últimas eleições...<br />
R: Temos que recordar o que aconteceu<br />
quando foi o segundo aniversário<br />
da morte de Yasser Arafat, em novembro.<br />
Em sua memória, um milhão de palestinos<br />
saiu ás ruas para dizer: "sim a<br />
Arafat, sim à OLP, não ao Hamas".<br />
P: É verdade. E houve enfrentamentos<br />
violentos.<br />
R: Sem dúvida. O Hamas abriu fogo contra<br />
a população e matou doze palestinos.<br />
Isso significa que a maioria da população<br />
ali não quer o Hamas. Neste<br />
momento, o Hamas é um poder ocupante<br />
em Gaza, que atua contra os interesses<br />
do povo. Por exemplo, o cerco<br />
imposto à Faixa de Gaza, ajuda o Hamas,<br />
convém a ele. Quando não há cerco,<br />
digamos que algo que se venda por<br />
um dólar, agora custa 20. Usam os canais<br />
de contrabando desde o Egito e ganham<br />
assim milhões por dia. Agem<br />
como a máfia na Faixa de Gaza, controlam<br />
tudo, da gasolina até os cigarros,<br />
tomam posse do que querem.<br />
P: Recordemos que tinha gente que lançava<br />
essas acusações também contra<br />
o pessoal do Fatah, quando controlava<br />
ali a Autoridade Palestina...<br />
R: É o Hamas que age contra os interesses<br />
palestinos, pela força. E devese<br />
tomar a decisão de reverter a situação.<br />
E o elemento mais preocupante é<br />
que entre o Hamas e as outras facções,<br />
há "sangue", muitas coisas passaram<br />
e as pessoas, em algum momento, querem<br />
reagir. Isso é o que mais medo dá,<br />
o que pode chegar a ocorrer.<br />
P: Mas por ora, a Autoridade Palestina<br />
não faz nada diz você, não decide<br />
politicamente fazer algo...<br />
R: Nada. E me enoja. Nós somos responsáveis<br />
por todos na Faixa de Gaza,<br />
mas não se tomam medidas. E temo<br />
pensar o que possa acontecer aqui, na<br />
Cisjordânia, se minha vida corre perigo,<br />
se nós aqui vamos ser ameaçados.<br />
Se não podemos ajudar em nada aos<br />
irmãos de Gaza por que aqui seria diferente?<br />
P: E quem é responsável por esta<br />
situação?<br />
R: O Presidente, o Comitê Central da Al<br />
Fatah. E precisam se decidir de uma vez.<br />
As pessoas na Faixa de Gaza nos perguntam<br />
até quando esperaremos, o<br />
que fazer. Dizem-nos: "Não querem que<br />
lutemos, porque não querem violência,<br />
guerra civil. Está bem. Mas têm algum<br />
plano? Virão pelo mar? Do Egito? De<br />
Israel? Tratarão de alguma forma de<br />
reinstaurar o poder legítimo da Autoridade<br />
Palestina em Gaza? Pensam em<br />
falar com o Hamas?". E nós não dizemos<br />
nada.<br />
P: Que tipo de plano você vê para reverter<br />
a situação?<br />
R: O que lhe posso dizer é que Israel<br />
não entrará nunca em Gaza com seus<br />
tanques para fazê-lo, mas que defenderá<br />
com eles o que está acontecendo<br />
em Gaza.<br />
P: Ao que se refere?<br />
R: Israel defenderá o Hamas com seus<br />
tanques, porque se se libertar um milhão<br />
e meio de palestinos que estão em<br />
Gaza, sejam do grupo que sejam, isso<br />
reduz o problema demográfico para Israel.<br />
Asseguro-lhe que Israel defenderá<br />
um Estado do Hamas na Faixa de<br />
Gaza. Não permitirá que os palestinos<br />
fiquem unidos.<br />
P: Não lhe parece realmente exagerado<br />
acusar Israel pelos problemas internos<br />
palestinos?<br />
R: Quando o Hamas contrabandeia armas<br />
à Faixa de Gaza, Israel não o detém,<br />
mas se fosse contra si, o faria...<br />
P: É contra si. Israel vê com grande<br />
preocupação o contrabando de armas<br />
e não depende só de Israel que se detenha<br />
isso, porém, mais que tudo do<br />
Egito.<br />
R: Mas à Autoridade Palestina, Israel<br />
não permitiu ter armas pesadas. E o<br />
problema é que o Hamas as tem.<br />
P: E crê que a Autoridade Palestina<br />
deveria tratar de entrar de novo<br />
em Gaza?<br />
R: Sim, mas com a ajuda do mundo árabe.<br />
Mas creio que Israel não o permitirá.<br />
Não creio que Israel permitirá que<br />
levemos nossas armas para Gaza para<br />
libertar os palestinos que são ali reféns<br />
do Hamas. Nós podemos fazê-lo sozinhos,<br />
mas unicamente se nos permitirem<br />
trazer nossas armas e por isso digo<br />
que é imprescindível ter autorização internacional.<br />
Se tivermos armas pesadas,<br />
a população nos obedecerá. Sem armas<br />
fortes, a luta pode prolongar-se muito<br />
tempo e correrá muito sangue. Não precisamos<br />
de mais sangue em Gaza.<br />
P: No fundo, já há sérios problemas,<br />
mais além da luta pelo poder. Muita<br />
gente morreu no primeiro grande choque<br />
violento, há mais de um ano, quando<br />
o Hamas tomou o poder em Gaza e<br />
isso deixa aberto o desejo de vingança<br />
em diferentes níveis.<br />
R: Claro que sim. Há uma quebra, uma<br />
fratura na sociedade. Isso é algo muito<br />
profundo e muito sério. Precisamos de<br />
uma liderança forte para acabar com<br />
isto.<br />
P: E a única opção é tratar de libertar<br />
Gaza do Hamas pela força?<br />
R: Sim, não há nenhuma opção de diálogo<br />
com o Hamas. Em sua mentalidade<br />
religiosa, o Hamas não pode aceitar<br />
outros diferentes do Hamas. Crêem<br />
que os não religiosos devem ir ao inferno,<br />
devem ser mortos. É uma forma<br />
de pensar. Se esse pensamento não<br />
muda, não haverá nenhuma oportunidade<br />
de fazer nada. Tampouco em outras<br />
partes do mundo árabe, onde há<br />
outros grupos fundamentalistas, como<br />
a Irmandade Muçulmana.<br />
P: No sábado, Israel permitiu a entrada<br />
de numerosos palestinos do clã de<br />
Ahmed Hiles, identificados com o Al-<br />
Fatah, que fugiram de Gaza após ser<br />
atacados pelo Hamas. Alguns foram<br />
hospitalizados em Israel e outros foram<br />
detidos até que se esclarecesse sua situação.<br />
Finalmente passaram para Jericó<br />
Quem são?<br />
R: Só homens do clã Hiles. As mulheres<br />
ficaram em Gaza. Mas a intenção é organizar-se<br />
de modo que possam passar<br />
para Ramallah, onde está a sede<br />
do governo palestino.<br />
P: Há dúvidas sobre essas pessoas. Em<br />
Israel se diz que de fato, Ahmed Hiles,<br />
o chefe do clã, tinha relações ambivalentes<br />
com o Hamas...<br />
R: É verdade. Ele é amigo pessoal de Al-<br />
Jaabari, o chefe dos batalhões Izz al Din<br />
al-Qassam, o braço armado do Hamas.<br />
P: É verdade que ele não lutou contra<br />
o golpe do Hamas há mais de um ano?<br />
R: É verdade.<br />
P: E para que tinha então tantas armas<br />
em sua casa?<br />
R: É que assim é em Gaza. Esse é o problema.<br />
Ele tinha muitas diferenças com<br />
o pessoal de Muhamad Dahlan.<br />
P: Que também é do Fatah... era ele<br />
chefe da Segurança já nos tempos de<br />
Arafat. Ou seja que a guerra não é só<br />
entre o Hamas e o Fatah...<br />
R: É correto, há muitos problemas...<br />
Mas agora, o urgente, é pôr fim à ocupação<br />
do Hamas em Gaza.
O laudo Olmert -<br />
La Stampa<br />
Riccardo Barenghi *<br />
Sinto-me orgulhoso de ser um cidadão de um país que<br />
permite que a polícia investigue o seu premiê, que não<br />
está acima da lei, mas até mesmo abaixo dela. Ler estas<br />
palavras dá disposição para avançar neste país (Itália), onde<br />
as coisas não vão tão bem, a ponto de um chefe do governo<br />
não só não apreciar suspeitas de que seja investigado,<br />
e retirar dos juízes que apuraram a verdade, a permissão<br />
para isso, como esta ser sua melhor forma de defesa. O país<br />
chamado Israel certamente não vive uma vida fácil, pois<br />
nasceu há sessenta anos.<br />
Nem ele, nem os palestinos que vivem lá puderam encontrar<br />
a paz, e nem convivem em paz com os países árabes<br />
que circundam esse país, mas alguns não permanecem calados.<br />
Estamos falando de um país onde a guerra é a ordem do<br />
dia na verdadeira acepção da palavra - e vamos deixar aqui os<br />
motivos e as injustiças - uma guerra que às vezes é sofrida e,<br />
por vezes, abalada por parte de Israel, e que, no entanto causam<br />
mortes, feridos, destruição. Uma guerra em casa, em<br />
suma, na qual, quando alguém dobra uma esquina tem sempre<br />
a sensação de que algo possa vir acontecer, uma bomba,<br />
um suicida-bomba, um ataque.<br />
Ora, num país desse tipo acontece que a democracia é<br />
tão enraizada e forte, que a suspeita de um primeiro-ministro<br />
demissionário é sem dramas, abrindo caminho para a<br />
sucessão e novas eleições. Nós não somos israelenses, felizmente<br />
não temos guerra em casa, não devemos temer<br />
porque o Irã pretende destruir-nos ou o Hezbolá libanês<br />
dispare contra nós seus foguetes, não temos tanques nas<br />
ruas, não temos inimigos internos ou homens-bombas externos.<br />
Vivemos em paz. Mas nós nunca tivemos um presidente<br />
do Conselho com funções cessadas por suspeita - atenção,<br />
tivemos apenas suspeitos condenados - por parte do<br />
poder judicial. Imagine você, leitor, se Berlusconi ou Prodi,<br />
tal como fez Olmert, convocassem uma entrevista coletiva<br />
de imprensa para dizer: "Sinto-me orgulhoso de ser um cidadão<br />
de um país que permite que a polícia investigue o<br />
seu premiê..."?<br />
O nosso estilo é outro, desdenho e rejeição das acusações<br />
(e até agora essa reação é sagrada, muitas vezes, as<br />
denúncias são infundadas), ao invés de serem comunicadas<br />
as partes, são acusados os magistrdos de serem politizados,<br />
para investigar criam-se comissões de nome diversos por<br />
opositores políticos, ou talvez abram-se contra eles um bom<br />
processo disciplinar do qual resulte a transferência para a<br />
incompatibilidade do ambiente. Há até mesmo o caminho<br />
da demissão: "resistir, resistir, resistir. E, no fim, se você<br />
fizer o mal, aqui vai um belo prêmio Alfano que garante<br />
imunidade e boa vida para os jogadores.<br />
Arriscando uma comparação incorreta e até mesmo ofensiva<br />
para israelenses e palestinos, dizemos que também nós<br />
somos uma nação em guerra. Uma guerra que felizmente<br />
não está causando mortes (exceto aqueles que tenham cometido<br />
suicídio na prisão do julgamento do magistrado Di<br />
Pietro), mas envenena o ar da política e da sociedade civil,<br />
liquida carreiras e cria outras. A guerra começou há quinze<br />
anos e foi essencial para a descoberta do gigantesco pote<br />
da corrupção na política e na indústria, mas somos incapazes<br />
de ver sua conclusão. Isso poderia ocorrer apenas em<br />
um caso: é claro excluindo a hipótese de que a partir de<br />
hoje em diante todos os homens honestos tornaram-se probos.<br />
Isto quer dizer que os políticos estão começando a confiar<br />
nos juízes e promotores, mesmo quando eles estejam<br />
sob investigação por qualquer coisa, mas investigar um político<br />
pode ser para aparecer em cena.<br />
Esse tipo de resultado porém muito improvável, portanto,<br />
é bem provável que talvez tenhamos primeiro que esperar<br />
que os israelenses e os palestinos façam a paz.<br />
* Riccardo Barenghi é editorialista do jornal La Stampa,<br />
de Turim, Itália<br />
Jonathan Sacks *<br />
29/9 - Véspera de Rosh Hashaná -<br />
acendimento das velas 17h55<br />
30/9 - 1º dia de Rosh Hashaná -<br />
acendimento das velas 18h50<br />
31/9 - 2º dia de Rosh Hashaná<br />
xistem momentos em<br />
que o significado de uma<br />
antiga metáfora toma<br />
uma nova dimensão. Isso<br />
é o que aconteceu este<br />
ano. Durante séculos, talvez<br />
milênios, nesta época entre Rosh<br />
Hashaná e Iom Kipur nossos ancestrais<br />
falaram sobre o "Livro da Vida" e<br />
rezaram para ser inscritos nele. Não é<br />
por acaso que quando os judeus falavam<br />
a respeito da vida pensavam sobre<br />
um livro. Outras religiões encontram<br />
santidade em outras coisas - pessoas,<br />
locais, ícones, objetos. Mas a santidade<br />
judaica existe, acima de tudo,<br />
na linguagem. Com palavras, D-us<br />
criou o mundo. Através de palavras,<br />
Ele revelou-Se no Sinai. Através das<br />
palavras, D-us e o povo judeu conectam-se<br />
um ao outro no grande pacto<br />
de amor e redenção. Quando D-us<br />
compôs a Torá, dizem os rabinos, Ele<br />
escreveu-a com letras de fogo negro<br />
sobre fogo branco. Para nós letras, palavras,<br />
frases, livros foram o meio no<br />
qual o mistério da vida foi codificado.<br />
Sabemos agora que isso foi mais que<br />
uma intuição espiritual. É um fato<br />
científico. A decodificação do genoma<br />
humano é um dos notáveis avanços da<br />
ciência. Quarenta e sete anos depois<br />
que Francis Crick e James Watson descobriram<br />
a dupla hélice do DNA, o roteiro<br />
completo do genoma humano foi<br />
transcrito. Ocorre que este é um roteiro<br />
de enorme comprimento e complexidade,<br />
escrito nas quatro letras<br />
que formam o código genético. O expresidente<br />
Clinton chamou-o de linguagem<br />
da criação. Os cientistas simplesmente<br />
declaram: Estamos aprendendo,<br />
dizem eles, a ler o livro da vida.<br />
As conexões entre o genoma humano<br />
e Rosh Hashaná vão mais além - e isso<br />
não é surpresa, porque ambos tratam<br />
dos fundamentos da própria vida. O<br />
primeiro está ao nível da criação. Dizemos<br />
em nossas preces: "hayom haras<br />
olam", "hoje nasceu o universo".<br />
Rosh Hashaná é o aniversário da criação.<br />
Alguns sábios acreditavam que<br />
este foi o dia no qual D-us fez o homem.<br />
Mais do que qualquer geração<br />
anterior sabemos agora a total extensão<br />
e complexidade destes mundos<br />
macro e microscópicos. Contemplando<br />
o espaço exterior, por meio de instrumentos<br />
como o telescópio espacial<br />
Hubble, descobrimos um universo de<br />
um bilhão de galáxias, cada qual com<br />
um bilhão de estrelas. Olhando para o<br />
"pequeno universo" (olam catan), ou<br />
seja, nós, descobrimos que o corpo<br />
humano contém um trilhão de células.<br />
Cada célula contém um núcleo, e<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
O Livro da Vida<br />
cada núcleo dois conjuntos do genoma<br />
humano. Cada genoma consiste de<br />
aproximadamente 3,1 bilhões de letras,<br />
informação suficiente para preencher<br />
uma biblioteca de cinco mil livros.<br />
A mente oscila perante tal complexidade<br />
microscópica. Dentro de<br />
uma única célula de tecido vivo a<br />
ciência mapeou um mundo novo, até<br />
agora desconhecido. Da astrofísica até<br />
a microbiologia, os cientistas de hoje<br />
cada vez mais expressam um sentimento<br />
de reverência pela perfeita sintonia<br />
do universo e a pura improbabilidade<br />
de que a vida, com sua complexidade<br />
auto-organizadora tenha emergido<br />
por mero acaso. O físico de Harvard,<br />
Freeman Dyson, escreve: "Quanto<br />
mais eu examino o universo e os<br />
detalhes de sua arquitetura, mais evidências<br />
encontro de que o universo,<br />
de alguma forma, deve ter sabido que<br />
estávamos chegando". Isso é um eco<br />
daquilo que Maimônides escreveu<br />
há mais de oito séculos (Hilkhot Yesodei<br />
haTorah 2:2) quando afirmou<br />
que o caminho para o amor e temor<br />
a D-us é contemplar a maravilha e a<br />
sabedoria da criação.<br />
Há uma outra conexão entre a<br />
ciência e os Dias de Reverência, mas<br />
desta vez menos direta. No decorrer<br />
do Projeto Genoma, foram feitas alegações<br />
de que estamos no limiar de<br />
descobrir a base genética do comportamento<br />
humano. Os médicos há muito<br />
sabem que determinadas doenças<br />
são hereditárias. Maimônides, por<br />
exemplo, sabia que a asma é transmitida<br />
dentro das famílias. Assim também,<br />
debate-se atualmente, são os<br />
traços da personalidade como agressividade,<br />
depressão, até a propensão<br />
ao crime. A partir daí é um curto passo,<br />
porém enganoso, para o determinismo<br />
genético - à idéia de que não<br />
podemos evitar aquilo que somos.<br />
Nosso destino está escrito em nossos<br />
genes. O judaísmo rejeita esta idéia,<br />
ainda mais enfaticamente em Rosh<br />
Hashaná e Iom Kipur. Existe um componente<br />
genético no comportamento.<br />
Maimônides (Hilkhot Deot 1:2)<br />
descreve as várias influências sobre o<br />
caráter. Algumas são genéticas (lefi<br />
teva gufo). Outras têm a ver com a criação,<br />
ambiente e cultura. É isso que<br />
queremos dizer em Iom Kipur, que<br />
somos "ke-chomer beyad hayotser",<br />
"como argila nas mãos do ceramista".<br />
Somos moldados por influências<br />
além de nosso controle. Mas - e isso é<br />
um 'mas' fundamental - jamais perdemos<br />
nossa liberdade. Somos aquilo<br />
que escolhemos ser. Às vezes, fazer a<br />
coisa certa é uma grande luta. A inclinação<br />
para agir de forma diferente<br />
pode ser quase avassaladora, mas<br />
nunca de forma completa. Nenhuma<br />
religião tem se afirmado mais sistematicamente<br />
sobre a liberdade e responsabilidade<br />
humanas. É isso que<br />
nos faz "à imagem de D-us". O escritor<br />
11<br />
Prêmio Nobel Isaac Bashevis Singer<br />
declarou isso muito bem e espirituosamente:<br />
"Temos de acreditar no livre<br />
arbítrio. Não temos escolha!" Nosso<br />
encontro mais profundo com a liberdade<br />
está na experiência de teshuvá.<br />
O completo arrependimento, diz<br />
Maimônides, é quando nos encontramos<br />
exatamente na mesma situação<br />
de quando cometemos um pecado,<br />
mas dessa vez não o repetimos. Todos<br />
os fatores são os mesmos exceto um -<br />
nossa decisão. No âmago da teshuvá<br />
está a idéia de que as circunstâncias<br />
não determinam aquilo que fazemos.<br />
Podemos agir de forma diferente da<br />
próxima vez. Podemos mudar. E se podemos<br />
mudar, não estamos determinados<br />
por nossa dotação genética ou<br />
por qualquer outro fator que não seja<br />
a nossa vontade. Não se pode enfatizar<br />
demais a importância dessa idéia.<br />
Isso significa que na situação humana<br />
nenhuma sina é definitiva, nenhum<br />
destino inevitável. Eis por que o<br />
judaísmo é o supremo argumento para<br />
a esperança. Os grandes vultos de nossa<br />
história foram todos capazes de<br />
mudar. Nas páginas da Torá, vemos<br />
Yossef transformado de um jovem sonhador<br />
em um decidido homem de<br />
ação. Moshê, gago, transforma-se no<br />
mais eloqüente dos profetas. Ruth, a<br />
estranha moabita, torna-se a notável<br />
bisavó do maior Rei de Israel. Esther,<br />
que se considerava incapaz de ajudar,<br />
transforma-se na salvação de seu<br />
povo. Nosso destino não está escrito<br />
em nossos genes. Nossas decisões<br />
são mais que impulsos eletroquímicos<br />
no cérebro. Podemos ser pó da terra,<br />
mas dentro de nós está o sopro de D-us.<br />
A liberdade, porém, nunca é fácil. Precisamos<br />
de ajuda para ser aquilo que<br />
podemos nos tornar. Precisamos de<br />
um código moral para nos lembrar o<br />
que é certo e o que é errado. Precisamos<br />
do apoio da família e da comunidade.<br />
Precisamos de rituais para praticarmos<br />
a coreografia da virtude. Precisamos<br />
de histórias de vidas exemplares<br />
através das quais ampliemos<br />
nossas aspirações. Precisamos de um<br />
senso de distância entre nós e a cultura<br />
à nossa volta, para que não sejamos<br />
levados pela maré. Isso é o que o<br />
judaísmo nos dá e tem dado desde os<br />
dias de Avraham e Sarah. É uma disciplina<br />
apoiada na liberdade. E o mais<br />
importante de tudo - mais importante<br />
até que nossa fé em D-us - é a fé de<br />
D-us em nós, acreditando em nós quando<br />
perdemos a fé em nós mesmos, erguendo-nos<br />
quando caímos, perdoando-nos<br />
quando erramos, dando-nos a<br />
força para assumir riscos e a coragem<br />
para mudar. Existem dois livros da vida.<br />
Um é o genoma humano; o outro é a<br />
história humana. D-us pode ter escrito<br />
o primeiro, mas Ele nos convida a sermos<br />
os co-autores do segundo - porque<br />
se podemos mudar a nós mesmos,<br />
podemos mudar o mundo.<br />
* Jonathan Sacks é professor e rabino-chefe da Inglaterra. (/www.chiefrabbi.org/thoughts/rh2.html) Publicado em<br />
português em www.chabad.org.br
12<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Paradoxos de Oskar<br />
Schindler lembrados<br />
em seu centenário<br />
O destino do empresário alemão Oskar<br />
Schindler, cujo centenário ocorreu há<br />
pouco, é provavelmente um dos mais<br />
paradoxais da história da Alemanha,<br />
onde foi esquecido durante muito<br />
tempo depois de ter salvo centenas de<br />
judeus durante o III Reich.<br />
Michael Latz *<br />
chindler teve seu nome imortalizado<br />
no filme de Steven<br />
Spielberg, "A Lista de Schindler",<br />
mas antes disso, durante<br />
muito tempo, sua história<br />
tendeu ao desaparecimento<br />
da memória coletiva alemã, por figurar<br />
como um personagem incômodo.<br />
O industrial entrou para a história<br />
- graças, em boa parte, ao filme<br />
de Spielberg - como um homem que<br />
burlou os nazistas e conseguiu salvar<br />
da morte pessoas que estavam<br />
sendo envidas às câmaras de gás.<br />
Essa fama lhe rendeu o título de<br />
"justo entre os povos", concedido<br />
pelo Estado de Israel, em 1967.<br />
O fato, no entanto, faz pensar que<br />
Schindler era um opositor do nazismo<br />
o que significa que o fim da guerra<br />
deveria lhe ter aberto melhores<br />
perspectivas de vida.<br />
No entanto, sua biografia mostra<br />
uma imagem completamente<br />
oposta.<br />
Schindler foi um homem de sucesso<br />
durante o III Reich, graças em<br />
parte ao seu oportunismo, enquanto<br />
após a guerra só colheu fracassos,<br />
até a sua morte, na pobreza.<br />
Entre os atos organizados na<br />
Alemanha para o centenário de<br />
Schindler, está a exposição no<br />
Museu Judeu de Frankfurt que explora<br />
exatamente as razões desse<br />
esquecimento.<br />
Depois da guerra, Schindler foi<br />
para a Argentina de onde retornou em<br />
1957, sem sua esposa, Emilia, e viu<br />
fracassada sua tentativa de montar<br />
uma fábrica na localidade de Hanau,<br />
próxima de Frankfurt.<br />
Sua situação se tornou tão precária<br />
que foram praticamente os judeus<br />
salvos por ele durante o III Reich,<br />
que garantiram seu sustento.<br />
"Sua história desaparecia várias<br />
vezes porque era incômoda demais<br />
para a sociedade alemã do pós-guerra<br />
na qual havia muitos cúmplices<br />
dos nazistas", disse Fritz Backhaus,<br />
do Museu Judeu.<br />
"A história de Schindler mostrava<br />
que havia outras possibilidades<br />
de comportamento na época dos nazistas",<br />
acrescentou.<br />
Morte Morte e e homenagem<br />
homenagem<br />
Os últimos anos de Schindler foram<br />
marcados pela pobreza. O industrial<br />
passou a viver em um modesto<br />
apartamento de um quarto,<br />
próximo da estação central de<br />
Frankfurt, e se afundou cada vez<br />
mais no alcoolismo.<br />
Schindler morreu em 1974 na<br />
casa de amigos na cidade de Hildesheim<br />
e seu único legado foi uma<br />
mala na qual cabiam todos os seus<br />
pertences e onde estava a famosa<br />
lista com os nomes dos judeus que<br />
havia salvado.<br />
O corpo de Schindler foi transportado<br />
a Jerusalém, onde foi enterrado<br />
em um cemitério católico.<br />
Apesar de outras homenagens,<br />
como a da Cruz Federal de Mérito em<br />
1965, sua história sempre tendia ao<br />
desaparecimento cada vez que tentavam<br />
recordá-la.<br />
Agora, além da exposição de<br />
Frankfurt, foi produzido um selo dos<br />
correios - em comemoração ao centenário<br />
- que lembra sua história.<br />
Um canal de televisão, além disso,<br />
exibiu "A Lista de Schindler", e os<br />
jornais do dia lembraram o controverso<br />
empresário.<br />
Esquecimento<br />
Esquecimento<br />
O esquecimento destinado a<br />
Schindler durante muitos anos não<br />
ocorreu apenas na Alemanha. Nem<br />
na cidade tcheca Svitany, onde nasceu;<br />
nem na polonesa Cracóvia, onde<br />
teve sua primeira fábrica, utilizada<br />
para salvar judeus da morte certa,<br />
recebeu comemoração especial.<br />
Svitany dedicou a ele um pequeno<br />
museu, porém negou o título de<br />
cidadão honorário póstumo. E na Cracóvia<br />
não existe uma única rua que<br />
lembre seu nome nem uma exposição<br />
permanente sobre sua vida.<br />
Na República Tcheca, Schindler<br />
tende a ser visto como um alemão<br />
que colaborou com os nazistas. E na<br />
Polônia, segundo o jornal Gazeta Wyborcza,<br />
teme-se que possíveis homenagens<br />
obscureçam o que foi feito<br />
por alguns poloneses que também<br />
salvaram vidas.<br />
* Michael Latz é jornalista da Associated Press e da Agência Efe, em Berlim<br />
Biologia ao contrário<br />
Véspera de Iom Kipur 8/10 - acendimento das velas 17h59<br />
E este será um estatuto perpétuo<br />
para vós; no sétimo mês, no dia dez,<br />
afligireis vossas almas… Vayicrá 16:29<br />
No Mundo Vindouro, não há comida<br />
nem bebida… Talmud, Berachot<br />
O ser humano consiste de um corpo e<br />
uma alma - um invólucro físico de carne,<br />
sangue, nervos e osso, habitado e vitalizado<br />
por uma força espiritual descrita pelos<br />
mestres chassídicos como "literalmente<br />
uma parte do D-us acima".<br />
A sabedoria comum afirma que o espírito<br />
é mais elevado que a matéria, e a alma<br />
mais sagrada (i.e., mais próxima do Divino)<br />
que o corpo. Esta concepção parece se<br />
originar no fato de que Iom Kipur, o mais<br />
sagrado dia do ano - no qual atingimos a<br />
altura da intimidade com D-us - é ordenado<br />
pela Torá como um dia de jejum, um<br />
dia no qual aparentemente abandonamos<br />
o corpo e suas necessidades para nos devotar<br />
exclusivamente a atividades espirituais<br />
de arrependimento e prece.<br />
Na verdade, no entanto, um dia de jejum<br />
traz um relacionamento mais profundo,<br />
e não mais distante, com o corpo.<br />
Quando uma pessoa se alimenta, é nutrida<br />
pela comida e bebida que ingere. Num<br />
dia de jejum, a vitalidade vem do próprio<br />
corpo - da energia armazenada em suas<br />
células. Em outras palavras, nos dias menos<br />
sagrados, é uma força externa (a energia<br />
na comida e bebida ingeridas) que<br />
mantém o corpo e a alma juntos; em Iom<br />
Kipur, a união do corpo e da alma deriva<br />
do corpo em si.<br />
Iom Kipur, assim, oferece um sabor do<br />
estado culminante da criação conhecido<br />
como o "Mundo Vindouro". O Talmud nos<br />
diz que no Mundo Vindouro, "não há comida<br />
nem bebida", uma declaração que às<br />
vezes é entendida como implicando que<br />
em seu estado supremo e mais perfeito, a<br />
criação é inteiramente espiritual, destituída<br />
de corpos e de tudo que é físico. O ensinamento<br />
cabalista e chassídico, no entanto,<br />
descreve o Mundo Vindouro como um<br />
mundo no qual a dimensão física da existência<br />
não é abolida, mas preservada e elevada.<br />
O fato de "não haver comida nem<br />
bebida" no Mundo Vindouro não é devido<br />
a uma ausência de corpos e vida física, mas<br />
ao fato de que neste mundo futuro, "a alma<br />
será nutrida pelo corpo" em si, e a simbiose<br />
de matéria e espírito que é o homem<br />
não exigirá quaisquer fontes externas de<br />
nutrição para sustentá-lo.<br />
Dois Dois veículos<br />
veículos<br />
O físico e o espiritual são ambos criações<br />
de D-us. Ambos vieram a existir por<br />
Ele, a partir do nada, e cada qual leva a<br />
marca de seu Criador nas qualidades específicas<br />
que o definem.<br />
O espiritual, com sua abstração e sua<br />
transcendência de tempo e espaço, refle-<br />
te o sublime e a infinidade de D-us. O espiritual<br />
é também naturalmente submisso,<br />
reconhecendo prontamente sua subserviência<br />
a uma verdade mais elevada.<br />
São estas qualidades que tornam o espiritual<br />
"sagrado" e um veículo de relacionamento<br />
com D-us.<br />
Por outro lado, o físico é concreto, egocêntrico<br />
e imanente - qualidades que o tornam<br />
"mundano" em vez de sagrado, que o<br />
marcam como um ofuscamento, em vez de<br />
uma manifestação, da verdade Divina. Pois<br />
o inequívoco "Eu sou" do físico desmente<br />
a verdade de que "não há ninguém mais<br />
além d'Ele" - que D-us é a única fonte e<br />
fim de toda a existência.<br />
Em última análise, no entanto, tudo<br />
vem de D-us; cada aspecto de toda criação<br />
Sua tem sua fonte n'Ele e serve para<br />
revelar Sua verdade. Portanto, num nível<br />
mais profundo, as próprias qualidades que<br />
tornam o físico "profano" são as qualidades<br />
que o tornam a mais sagrada e Divina<br />
das criações de D-us. Pois o que é o "Eu<br />
sou" do físico, se não um eco do ser inequívoco<br />
de D-us? Qual é a tangibilidade<br />
do físico se não uma intimação do absoluto<br />
de Sua realidade? O que é o "egoísmo"<br />
do físico se não um desdobramento,<br />
embora remoto, da exclusividade de<br />
D-us expressa no axioma: "Não há ninguém<br />
mais além d'Ele?"<br />
Atualmente, o mundo físico nos mostra<br />
apenas sua face superficial, na qual as<br />
características Divinas estampadas nele<br />
são corrompidas como uma ocultação em<br />
vez de uma revelação, da Divindade. Hoje,<br />
quando o objeto físico nos transmite "Eu<br />
sou", expressa não a realidade de D-us,<br />
mas uma existência independente, autosuficiente,<br />
que desafia a verdade Divina.<br />
Porém no Mundo Vindouro, o produto do<br />
trabalho de uma centena de gerações para<br />
santificar o mundo material, a verdadeira<br />
face do físico, virá à luz.<br />
No Mundo Vindouro, o físico será nada<br />
menos que um veículo de Divindade para<br />
o espiritual. De fato, em muitos aspectos,<br />
superará o espiritual como um transmissor<br />
da Divindade. Pois enquanto o espiritual<br />
expressa várias características Divinas<br />
- a infinidade, transcendência de D-us, etc.<br />
- o físico expressa o ser de D-us.<br />
Hoje, o corpo deve olhar para a alma<br />
como seu guia moral, como sua fonte de<br />
conscientização e apreciação de todas as<br />
coisas Divinas. Porém no Mundo Vindouro<br />
"a alma será nutrida pelo corpo". O corpo<br />
físico será uma fonte de Divina percepção<br />
e identificação mais elevada que a própria<br />
visão espiritual da alma.<br />
Iom Kipur é um sabor deste mundo<br />
futuro de biologia ao contrário. É, portanto<br />
um dia no qual "somos sustentados<br />
pela fome", extraindo nosso sustento<br />
do próprio corpo. No mais sagrado dos<br />
dias, o corpo se torna uma fonte de vida<br />
e nutrição, em vez de seu receptáculo.<br />
(www.chabad.org.br).
eituras e cantos se sucedem,<br />
formando uma leve cacofonia.<br />
Ouve-se a batida da porta da<br />
sinagoga, ao sabor das entradas<br />
e saídas das crianças. Do<br />
lado das mulheres, à esquerda, ouvem-se<br />
sussurros animadíssimos entre<br />
duas recitações murmuradas. Do<br />
lado dos homens, à direita, sorrisos e<br />
saudações com as mãos são trocados<br />
na menor oportunidade.<br />
Então, chega o momento em que<br />
duas poltronas são instaladas uma na<br />
frente da outra, diante do estrado central.<br />
A assembléia inteira se mantém<br />
em silêncio. O bebê é colocado na<br />
posição sentada, sobre os joelhos de<br />
seu pai. Não longe deles, o mohel (que<br />
pratica a circuncisão) prepara os seus<br />
acessórios: uma faca, um frasco e pedaços<br />
de algodão. A multidão aglutina-se<br />
em volta deles. Armado de uma<br />
pequena faca de dois gumes, o mohel<br />
se debruça sobre o sexo do recém-nascido,<br />
enquanto um homem, em pé, enxuga<br />
a testa suada do jovem pai, que<br />
está ocupado a controlar as gesticulações<br />
do seu filho. Câmeras de vídeo<br />
e de telefones celulares são erguidas<br />
em direção à cena.<br />
Alguns minutos mais tarde, em<br />
meio aos gritinhos estridentes das mulheres,<br />
o bebê aparece acima da platéia,<br />
carregado pelos braços erguidos<br />
do seu pai. Os cantos em hebraico ressoam<br />
sob o teto alto da sinagoga.<br />
Numa sala contígua, um aparador está<br />
repleto de ensopados, de saladas e de<br />
peixes grelhados. E o pai, em meio aos<br />
seus comensais, serve a quem quiser<br />
fartas doses de uísque e de vodca!<br />
Discurso Discurso contra contra Israel<br />
Israel<br />
Esta cerimônia de circuncisão<br />
está sendo realizada na grande sinagoga<br />
Yusef Abad, em pleno centro de<br />
Teerã, a capital da anti-sionista República<br />
Islâmica do Irã. É difícil imaginar<br />
que este lugar, que mais se parece<br />
com um prédio administrativo,<br />
situado no coração de um bairro residencial,<br />
acolhe toda semana centenas<br />
de judeus de Teerã.<br />
Afinal, a alguns quarteirões de lá,<br />
sobre os muros da capital, todos podem<br />
ler slogans arrasadores tais<br />
como "Down with Israel" ("Vamos<br />
acabar com Israel"). Disseminado no<br />
Irã desde a revolução islâmica de<br />
1979, o discurso antiisraelense tem<br />
se mostrado ainda mais insistente<br />
agora que Mahmoud Ahmadinejad<br />
ascendeu à presidência do país. Em<br />
outubro de 2005, alguns meses depois<br />
da sua eleição, retomando declarações<br />
feitas pelo aiatolá Khomeini,<br />
Ahmadinejad conclamou a "riscar<br />
do mapa o Estado de Israel", que ele<br />
comparou com um "tumor".<br />
Algumas semanas mais tarde, ele<br />
afirmou que os ocidentais "inventaram<br />
o mito do massacre dos judeus". Então,<br />
o regime dos mulás organizou um<br />
concurso "internacional" de caricaturas<br />
sobre o tema da Shoá. Mais tarde,<br />
nos dias 11 e 12 de dezembro de 2006,<br />
o mundo inteiro assistiu, incrédulo, a<br />
uma enésima provocação da presidência<br />
iraniana: a organização em<br />
Teerã de uma conferência sobre o Holocausto,<br />
para a qual havia sido convidada<br />
a quase-totalidade dos negacionistas<br />
(pessoas que questionam a<br />
veracidade de fatos históricos como<br />
este) do planeta.<br />
Durante dois dias, eles se dedicaram<br />
a questionar as provas do genocídio<br />
dos judeus pela Alemanha nazista<br />
e a fazer do sionismo o produto<br />
de uma gigantesca impostura. Desde<br />
então, não se passa um mês sequer<br />
sem que declarações de um gosto duvidoso<br />
venham ilustrar a nova estratégia<br />
iraniana de demonização dos<br />
judeus e de Israel.<br />
Contudo, a comunidade judaica<br />
iraniana, que inclui cerca de 30 mil<br />
membros, é a mais importante do<br />
Oriente Médio - fora do Estado hebraico.<br />
Com mais de 2.700 anos de<br />
existência, ela é também a mais antiga<br />
diáspora judaica viva do mundo.<br />
Assim como acontece na maior parte<br />
dos países muçulmanos, ela compartilha<br />
com a comunidade cristã o estatuto<br />
de minoria protegida (dhimmis),<br />
reservado aos fiéis que acreditam<br />
no Livro Sagrado.<br />
Reconhecidos como integrantes<br />
de uma minoria religiosa, os judeus estão<br />
livres para praticarem seu culto<br />
nas suas sinagogas, para celebrarem<br />
seus casamentos, etc. Mas eles não<br />
gozam dos mesmos direitos que os<br />
muçulmanos (entre outros, os que dizem<br />
respeito aos direitos de herança)<br />
e não podem aceder a empregos nas<br />
altas esferas da administração pública<br />
ou no exército.<br />
Açougues Açougues kosher<br />
kosher<br />
"Nós praticamos a nossa religião<br />
em toda serenidade e nada nos falta",<br />
declara Farhad Aframian, o jovem redator-chefe<br />
da revista judaica "Ofogh-<br />
Bina". "Nós temos cerca de vinte sinagogas<br />
em Teerã, além de escolas<br />
judaicas, de creches para as nossas<br />
crianças mais novas, de alguns açougues<br />
kosher (em conformidade com os<br />
preceitos judaicos), do nosso próprio<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Como é ser judeu no Irã<br />
Lucie Geffroy *<br />
Na república islâmica do presidente<br />
Mahmoud Ahmadinejad, vivem<br />
atualmente cerca de 30 mil judeus. Esta<br />
comunidade, que goza da liberdade de<br />
culto é até mesmo representada no<br />
Parlamento - por um único deputado.<br />
* Lucie Geffroy é<br />
jornalista e enviada<br />
especial ao Irã. Artigo<br />
publicado no jornal<br />
francês Le Monde em<br />
22/2/<strong>2008</strong>. Tradução:<br />
Jean-Yves de<br />
Neufville.<br />
hospital, etc. No interior das nossas<br />
sinagogas, as pessoas fazem o que<br />
querem. O governo não nos incomoda.<br />
Nós temos até mesmo o direito de<br />
consumir álcool para as necessidades<br />
das nossas cerimônias!".<br />
Nas ruas de Teerã, o visitante se<br />
depara muito raramente com judeus<br />
trajando um solidéu. A maior parte<br />
dentre eles o usa pouco antes de entrar<br />
na sinagoga. Além disso, as mulheres<br />
judias, mesmo se elas se diferenciam<br />
geralmente por meio de roupas<br />
sedosas e coloridas, respeitam<br />
estritamente o código relativo ao vestuário<br />
que é imposto pela lei islâmica,<br />
trajando o lenço e o "mantô" que<br />
esconde as formas femininas. Será<br />
este um sinal de desconfiança?<br />
"Nós não queremos chamar as<br />
atenções sobre nós. Nós sabemos que<br />
a nossa discrição é uma condição para<br />
a nossa relativa liberdade", responde<br />
Arash Abaie, 36 anos, um professor de<br />
religião judaica, dono de uma editora<br />
de livros em hebraico e leitor na sinagoga<br />
Yusef Abad. Em sua opinião, não<br />
há nenhuma contradição importante<br />
no fato de ser judeu em terra de Islã.<br />
"Não existem guetos ou bairros exclusivamente<br />
judeus no Irã. Nós estamos<br />
integrados e não sentimos hostilidade<br />
alguma por parte dos nossos compatriotas",<br />
prossegue. "É importante<br />
saber também que nós, judeus do Irã,<br />
nos definimos em primeiro lugar e acima<br />
de tudo como iranianos".<br />
Contudo, é difícil imaginar, ainda<br />
assim, que as declarações negacionistas<br />
e as múltiplas provocações do presidente<br />
Ahmadinejad possam ter deixado<br />
os judeus iranianos indiferentes.<br />
Por intermédio do porta-voz Moris<br />
Motamed, o seu único representante<br />
no Parlamento, a comunidade judaica<br />
condenou oficialmente essas afirmações.<br />
Quando Mahmoud Ahmadinejad<br />
questionou a existência do Holocausto,<br />
dois anos atrás, o deputado organizou<br />
uma coletiva de imprensa para<br />
protestar publicamente contra essas<br />
declarações.<br />
Na ocasião, ele afirmou que o Holocausto<br />
é um fato histórico verídico<br />
e que todo questionamento desta tragédia<br />
humana constitui um insulto<br />
para todos os judeus do mundo. Entretanto,<br />
para Moris Motamed, estas<br />
provocações não representam uma<br />
ameaça direta para com a comunidade.<br />
"Ahmadinejad nada mais faz do<br />
que retomar o discurso dos seus predecessores.<br />
Logo nos dias que se seguiram<br />
à revolução, Khomeini fez explicitamente<br />
a distinção entre os sionistas<br />
e os judeus, dizendo: 'Nós respeitamos<br />
o judaísmo, mas nós desprezamos<br />
o sionismo'. Os slogans que<br />
nós ouvimos ainda atualmente têm<br />
como alvo Israel na sua condição de<br />
potência ocupante. Eles não são antisemitas<br />
e não nos alvejam. Esta di-<br />
13<br />
ferenciação é fundamental para nós",<br />
clama Moris Motamed.<br />
Ele não esconde que já lhe ocorreu<br />
em várias oportunidades de<br />
apoiar publicamente o povo palestino,<br />
quando ele considera isso necessário.<br />
Além disso, a Associação <strong>Judaica</strong><br />
de Teerã, conforme ela mesma<br />
lembra no seu panfleto de apresentação,<br />
andou protestando regularmente<br />
contra "os crimes do regime<br />
israelense e as violações dos direitos<br />
humanos para com os palestinos".<br />
Distanciamento<br />
Distanciamento<br />
Contudo, não é menos verdadeiro<br />
que havia evidentemente uma segunda<br />
intenção anti-semita no fato de organizar<br />
um concurso de caricaturas<br />
sobre o tema da Shoá ou na negação<br />
do Holocausto. "Nós não somos ingênuos.<br />
As provocações de Ahmadinejad<br />
visam a justificar a designação de Israel<br />
como inimigo externo. Isso lhe<br />
permite desviar as atenções das pessoas<br />
em relação aos problemas internos",<br />
analisa o deputado, impassível.<br />
Esta luta contra o "regime sionista<br />
usurpador", que constitui a pedra angular<br />
da política externa do país, é<br />
também uma maneira de atrair para<br />
si as simpatias dos países árabes da<br />
região, com o objetivo de fazer do Irã<br />
a maior potência do Oriente Médio.<br />
As declarações presidenciais tampouco<br />
comovem a população além do<br />
normal. Moses, 51 anos, que trabalha<br />
como gerente de uma loja de têxteis<br />
prefere levar isso na brincadeira. "O<br />
que vocês querem? Deixem-no falar!<br />
Ele é um ditador. Ele é louco. Todo<br />
mundo sabe disso. Para nós, o que ele<br />
pode vir a dizer não muda nada". "Já<br />
faz muitos anos que nós ouvimos os<br />
mesmos discursos; a gente nem presta<br />
mais atenção ao que eles dizem.<br />
Isso faz parte do cenário", comenta<br />
Robin, um estudante de inglês. Este<br />
distanciamento pode ser explicado,<br />
segundo Arash, pelo pouco interesse<br />
que suscitam estas questões específicas.<br />
"Os judeus do Irã não costumam<br />
se meter a fazer política. Aqui, é muito<br />
difícil encontrar livros a respeito da<br />
história do Holocausto. De tal forma<br />
que até mesmo os judeus iranianos não<br />
têm uma grande consciência da Shoá.<br />
Esta tragédia não os diz respeito pessoalmente".<br />
O Iom HaShoá, que relembra<br />
o Holocausto, é um dos poucos<br />
eventos do calendário hebraico que<br />
não são celebradas no Irã.<br />
A necessidade (ou a obrigação)<br />
que os seus membros têm de se integrarem<br />
juntos é uma característica<br />
desta comunidade. Em todo caso, este<br />
é um dos objetivos reivindicados pela<br />
Organização das Mulheres Judias, fundada<br />
já faz sessenta anos, que é a<br />
mais antiga associação judaica do Irã.<br />
continua na próxima página
14<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
"Nós organizamos regularmente<br />
concertos, e ainda conferências abertas<br />
para todas as confissões, de modo<br />
a incentivar os intercâmbios com uma<br />
maioria de pessoas", sublinha Marjan<br />
Yashayayi, que é membro ativa da organização<br />
e diretora da biblioteca da<br />
Associação <strong>Judaica</strong> de Teerã. "E nós<br />
temos muito orgulho por constatar que<br />
há muito mais universitários muçulmanos<br />
do que judeus que vêm consultar<br />
e emprestar os nossos livros sobre a<br />
religião e a cultura hebraicas".<br />
Da mesma forma, apesar da existência<br />
de escolas judaicas, muitas são<br />
as famílias que preferem inscrever os<br />
seus filhos nas escolas muçulmanas,<br />
de maneira que eles possam se integrar<br />
melhor e aprender as bases do<br />
Islã. Tanto mais que no concurso de<br />
entrada na universidade, cada aluno,<br />
qualquer que seja a sua confissão,<br />
deve passar uma prova de "ciências<br />
Orações numa sinagoga em Teerã. Homens separados das mulheres<br />
Professor judeu iraniano ensina hebraico em escola da comunidade<br />
Acendimento das velas de shabat por meninas judias iranianas: tradições<br />
mantidas, em parte<br />
islâmicas". Portanto, para não ficar a<br />
ver navios na hora de responder a uma<br />
pergunta sobre a data da morte do<br />
sétimo imã, mais vale ter freqüentado<br />
um colégio muçulmano.<br />
Contudo, à medida que a conversa<br />
se estende, os judeus iranianos<br />
que encontramos se arriscam a queixas.<br />
"Não é tão fácil assim ser judeu<br />
no Irã", afirma Esther. "A minha irmã<br />
era chefe de equipe numa companhia<br />
farmacêutica de mais de 200 empregados.<br />
Ela estava prestes a se tornar<br />
gerente - todos os funcionários<br />
estavam de acordo com isso. No último<br />
momento, a diretoria lhe enviou<br />
uma nota explicando que se ela quisesse<br />
o cargo, ela teria de se converter<br />
à religião muçulmana. Uma<br />
vez que ela recusou, eles lhe pediram<br />
para se demitir".<br />
Vínculos Vínculos econômicos<br />
econômicos<br />
Daniela, 13 anos, freqüenta um colégio<br />
muçulmano. Ela explica, por sua<br />
vez, que de vez em quando, certos alunos<br />
a chamam de "inimiga. "É verdade<br />
que em certos casos nossa religião<br />
constitui um obstáculo. Mas, o nosso<br />
destino é muito mais invejável que o<br />
dos bahaï's, por exemplo", reconhece<br />
Marjan, fazendo referência aos 350<br />
mil seguidores da fé bahai uma dissidência<br />
do Islã que surgiu no século 19.<br />
"A situação dos judeus do Irã não é<br />
pior que a de outras minorias", confirma<br />
Parvaneh Vahidmanesh, que está<br />
preparando um doutorado e um livro<br />
sobre a história dos judeus no Irã.<br />
"Uma minoria perseguida, os<br />
bahai's são proibidos de celebrarem<br />
o seu culto. Os judeus, que geralmente<br />
são comerciantes, engenheiros<br />
ou médicos, gozam de mais poderes<br />
e de riquezas do que os cristãos<br />
e os zoroastristas. Eles têm a<br />
sorte de terem desenvolvido vínculos<br />
econômicos com os muçulmanos<br />
e de contarem com ajudas da diáspora<br />
americana e israelense".<br />
Proibido Proibido viajar viajar para para Israel<br />
Israel<br />
Apesar da ruptura dos laços diplomáticos<br />
entre o Irã e Israel, os judeus<br />
iranianos mantêm algumas relações<br />
com o Estado hebraico. Sobretudo por<br />
intermédio da família. Muitos deles<br />
têm um primo, um tio, um irmão ou<br />
avôs que vivem em Tel-Aviv ou em Jerusalém,<br />
uma vez que por ocasião da<br />
fundação do Estado de Israel, em 1948,<br />
e depois durante a revolução de 1979,<br />
uma parte muito importante da comunidade<br />
judaica do Irã emigrou.<br />
Kamran, que é pai de três filhos, é<br />
comerciante em Ispahan. Três das suas<br />
irmãs moram em Jerusalém. Ele vai<br />
visitá-las todos os anos. "Está escrito<br />
com grande destaque no nosso passaporte:<br />
'é terminantemente proibido<br />
viajar para Israel'. Portanto, para visitarmos<br />
a nossa família, nós precisa-<br />
mos passar por Chipre ou pela Turquia<br />
e, em Jerusalém, as autoridades emitem<br />
para nós um visto sobre uma folha<br />
destacada", conta.<br />
"As minhas irmãs ligam regularmente<br />
para mim e nós comunicamos<br />
muito por e-mail. Elas se preocupam<br />
em saber como as coisas andam para<br />
nós aqui, principalmente desde que<br />
Ahmadinejad está no poder. É verdade<br />
que durante o governo Khatami [o<br />
presidente anterior, reformista, que<br />
governou de 1997 a 2005], a gente se<br />
sentia mais à vontade, mais livre para<br />
se expressar. Mas eu as tranqüilizo:<br />
por enquanto, nós não temos muito<br />
do que nos queixar".<br />
Naquela noite de sexta-feira, às<br />
vésperas do shabat, toda a pequena<br />
família está reunida. Na sala de estar,<br />
o televisor está ligado e mostra o<br />
programa em persa da Rádio Israel,<br />
apresentado por iranianos de Jerusalém.<br />
O filho primogênito, Jonathan, 23<br />
anos, é também um leitor assíduo do<br />
Jerusalem Post e do Haaretz, os quais<br />
ele consulta on-line para, segundo<br />
ele, se informar do que está acontecendo<br />
em Israel.<br />
Da mesma forma que muitos jovens<br />
da sua idade, ele não quer se contentar<br />
com os jornais iranianos, que,<br />
na sua maioria, estão submetidos à<br />
censura. Um estudante de informática,<br />
Jonathan se sente bem integrado.<br />
Mais tarde, durante a noite, ele emitirá<br />
ainda assim algumas reservas: "Na<br />
qualidade de judeus, nós sabemos que<br />
profissionalmente encontraremos obstáculos.<br />
Nenhum de nós pode esperar<br />
fazer carreira no exército ou tornar-se<br />
um alto-funcionário. Nem pretender<br />
conseguir um cargo de advogado ou<br />
de magistrado. Então, uma vez que os<br />
veículos de comunicação, as editoras<br />
ou o setor da educação são completamente<br />
islamizados, a maioria dentre<br />
nós prefere se orientar rumo a setores<br />
mais neutros, tais como a engenharia,<br />
a medicina, a farmácia".<br />
Contudo, por nada neste mundo Jonathan<br />
partiria para viver em Israel<br />
("Eu amo o meu país e eu teria medo<br />
demais dos atentados"), mas ele compreende<br />
que certos iranianos tenham<br />
esta vontade. No final de dezembro,<br />
um grupo de cerca de quarenta imigrantes<br />
judeus, auxiliados financeiramente<br />
pela Agência <strong>Judaica</strong>, desembarcou<br />
em Tel-Aviv diante das objetivas<br />
das câmeras e das máquinas fotográficas<br />
de dezenas de jornalistas. A<br />
Agência <strong>Judaica</strong> declarou então que<br />
estes homens e mulheres haviam deixado<br />
o seu país por causa de um antisemitismo<br />
crescente. É difícil saber ao<br />
certo onde pára a verdade e onde começa<br />
a manipulação política, comenta<br />
Arash, que, entretanto, constata que<br />
eventos desta natureza, amplamente<br />
repercutidos pelos meios de comunicação<br />
iranianos, só fazem piorar a ima-<br />
gem dos judeus no Irã.<br />
Em novembro de 2007, o The<br />
Guardian havia dado conta de "um<br />
número crescente de emigrações de<br />
judeus do Irã para Israel, por causa<br />
das tensões crescentes entre os dois<br />
países", e citava o exemplo de Benyamin,<br />
um jovem professor de hebraico<br />
que teria sido ameaçado de morte por<br />
ser suspeito de espionagem a serviço<br />
de Israel.<br />
Entre Entre provocação provocação e e tolerância<br />
tolerância<br />
O próprio Moris Motamed reconhece<br />
que, volta e meia, as tensões internacionais<br />
provocam confusões até<br />
mesmo na vida cotidiana dos judeus<br />
iranianos. Em Shiraz, no sul do país,<br />
durante o verão de 2006, em plena<br />
guerra entre Israel e o Hezbolá, organização<br />
apoiada por Teerã, uma loja<br />
mantida por judeus, por exemplo, foi<br />
alvo de um atentado a bomba, perpetrado<br />
por um grupo de muçulmanos<br />
extremistas.<br />
Nesta cidade conhecida pelo seu<br />
conservadorismo, a desconfiança em<br />
relação aos jornalistas se faz sentir de<br />
uma maneira muito mais nítida do que<br />
em Teerã. Aliás, esta não foi a primeira<br />
vez que Shiraz tornou-se palco de<br />
incidentes graves. Nesta cidade, até<br />
hoje, a recordação do "caso dos treze<br />
judeus" está viva nas mentes. Em<br />
2000, treze estudantes e professores<br />
de religião judeus haviam sido presos<br />
e encarcerados por "espionagem em<br />
proveito da entidade sionista". Eles só<br />
vieram a ser libertados alguns anos<br />
mais tarde, como resultado de uma<br />
importante mobilização internacional.<br />
Benyamin, que fora um destes treze<br />
prisioneiros, e que nós encontramos<br />
em Ispahan, hoje é rabino. Ele nos explica<br />
de antemão que não quer falar<br />
novamente deste acontecimento, preferindo<br />
se contentar em nos fazer visitar<br />
o banho das abluções da principal<br />
sinagoga de Ispahan. No que vem<br />
a ser mais um sintoma da ambigüidade<br />
da situação da comunidade judaica<br />
do Irã, entre provocações, humilhações<br />
e tolerância.<br />
"Há séculos e mais séculos que no<br />
Irã, os judeus e os muçulmanos vivem<br />
juntos, respeitando uns aos outros. Se<br />
compararmos com o que aconteceu na<br />
história mundial é possível afirmar que<br />
nós estamos nos saindo até que bem",<br />
resume Marjan. "No fundo deles mesmos,<br />
muitos judeus iranianos esperam<br />
representar um modelo para os palestinos<br />
e os israelenses. Nós somos provas<br />
vivas de que é possível viver em<br />
paz, apesar das diferenças. Seria legal<br />
se você pudesse colocar isso no<br />
seu artigo", havia insistido Marjan.<br />
Dito e feito.<br />
Atendendo a pedidos, ou por iniciativa<br />
da autora, os nomes de algumas das pessoas<br />
entrevistadas foram alterados.
<strong>VJ</strong> INDICA<br />
Lugar Nenhum<br />
na África<br />
Alemanha, 2001<br />
Título original: Nirgendwo in Afrika<br />
Título alternativo: Nowhere in<br />
Africa<br />
Gênero: Drama<br />
Duração: 141 min.<br />
Tipo: Longa-metragem Colorido<br />
Prêmios: Vencedor de 1 Oscar<br />
Distribuidora: Imovision<br />
Diretora: Caroline Link<br />
Roteiristas: Caroline Link,<br />
Stefanie Zweig<br />
Elenco: Juliane Köhler, Merab Ninidze,<br />
Sidede Onyulo, Matthias Habich,<br />
Lea Kurka, Karoline Eckertz, Gerd Heinz, Hildegard Schmahl,<br />
Maritta Horwarth, Regine Zimmermann, Gabrielle Odinis,<br />
Bettina Redlich, Julia Leidl, Mechthild Grossmann, Joel<br />
Wajsberg<br />
Sinopse<br />
Em 1938, pouco antes de estourar a 2ª Guerra Mundial, a<br />
família judia Redlich foge da Alemanha e se instala no Quênia,<br />
na África. Lá o advogado Walter Redlich passa a trabalhar<br />
numa fazenda, enquanto sua mulher Jettel, filha de<br />
uma família burguesa, tenta se adaptar à nova vida. Regina,<br />
a filha do casal, cresce e aprende a língua e os costumes<br />
locais, encontrando no cozinheiro Owunor um amigo. Quando<br />
a guerra está acabando Walter recebe uma proposta<br />
para atuar como juiz em Frankfurt. Depois de tantos anos<br />
em que aprenderam a amar o novo país, Jettel e Regina<br />
começam a duvidar se voltarão para a Alemanha com ele.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
FILME Leprevost requer votos de<br />
O deputado estadual Ney Leprevost apresentou<br />
dia 10/9 à mesa de trabalhos da Assembléia<br />
Legislativa do Paraná votos de louvor e<br />
congratulações ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. "Senhor<br />
Presidente", diz o requerimento assinado pelo<br />
parlamentar, "o deputado subscritor do presente,<br />
no uso de suas atribuições regimentais<br />
requer, Votos de Louvor e Congratulações ao<br />
Jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. Sala de Sessões, 10 de<br />
setembro de <strong>2008</strong>". Ney Leprevost, deputado<br />
estadual.<br />
Em sua justificativa, o deputado observa que<br />
se trata de "justa homenagem ao Jornal <strong>Visão</strong><br />
<strong>Judaica</strong>, que é um veículo independente da<br />
Comunidade Israelita do Paraná, destinado a<br />
transmitir à colônia judaica os fatos que acontecem<br />
no mundo, no<br />
Brasil e no nosso Estado, sempre focado na<br />
liberdade através da paz e da informação com<br />
isenção e imparcialidade, pregando a igualdade<br />
e a justiça entre os povos, solidarizando-se aos<br />
que sofrem perseguição, dando-lhes apoio e<br />
incentivo para superar as adversidades".<br />
louvor e congratulações<br />
ao <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
15
16<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
OLHAR<br />
Descobertas técnicas contra bactérias<br />
Pesquisadores da Universidade Hebraica de<br />
Jerusalém encontraram novas formas de eliminar<br />
bactérias inativas as quais parecem resistir<br />
aos antibióticos. Os antibióticos são o tratamento<br />
preferido contra as infecções de bactérias<br />
e enfermidades, mas aparentemente demonstrou-se<br />
que muitas doenças não podem<br />
ser tratadas simplesmente com a administração<br />
de antibióticos. Sub-populações de algumas<br />
bactérias podem resistir a antibióticos letais<br />
decrescendo seu metabolismo, permanecendo<br />
"adormecidas" por dias e esperando o momento<br />
oportuno para voltar a atacar. Os pesquisadores<br />
estudaram estas bactérias inativas e descobriram<br />
duas novas formas para eliminá-las.<br />
(Universidade Hebraica de Jerusalém).<br />
Técnicas contra bactérias II<br />
HIGH-TECH<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
A primeira técnica é submeter a bactéria a uma<br />
dose fresca de nutrientes junto com o tratamento<br />
do antibiótico, e a segunda técnica é infectando<br />
essas bactérias inativas com um vetor<br />
fágico-vírus que ataca as bactérias. Em ambos<br />
os casos o percentual de bactérias inativas que<br />
sobreviveu foi reduzido significativamente. A<br />
biofísica Nathalie Balaban, do Instituto de Física<br />
Racah na Universidade Hebraica; a estudante<br />
de doutorado Orit Gefen; e o estudante de mestrado,<br />
Sivan Perl, recentemente relataram suas<br />
descobertas em Proceedings of the Nacional<br />
Academy of Sciences USA and Plos Biology. Sua<br />
pesquisa mostra que sub-populações da bactéria<br />
E. Coli passam a ser persistentes aos tratamentos<br />
com antibióticos. No entanto, eles<br />
descobriram que durante um curto período de<br />
tempo depois que as bactérias foram expostas<br />
O LEITOR<br />
ESCREVE<br />
Oportunidade para jovens médicos<br />
Prezados amigos do <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>:<br />
Se por acaso vocês souberem de jovens judeus,<br />
de ambos os sexos, que terminaram a faculdade<br />
de medicina e querem fazer especialização<br />
em cirurgia-geral aqui em Israel, digam a<br />
eles para me escreverem, ok.?<br />
A especialização aqui é de 6 anos e recebem<br />
salário que não dá para ficar como Bill Gates,<br />
mas dá para viver bem... Quatro anos numa enfermaria<br />
cirúrgica e dois anos de rotação em<br />
departamentos cirúrgicos como cirurgia pediátrica,<br />
neurocirurgia, cirurgia de tórax, urologia,<br />
plástica, anestesia/UTI, etc. Têm que passar por<br />
duas provas. A primeira é uma prova escrita, na<br />
metade da especialização, sobre assuntos básicos.<br />
A segunda é oral, no fim da especialização,<br />
perante três bancas de examinadores. São obri-<br />
a uma nova fonte de alimento, estas renovam<br />
sua atividade bacterial. Dessa forma os cientistas<br />
aproveitaram esse momento para expor<br />
as bactérias a uma dose de antibiótico, o que<br />
reduziu notavelmente as bactérias inativas que<br />
conseguiram sobreviver. (Universidade Hebraica<br />
de Jerusalém).<br />
Técnicas contra bactérias III<br />
Os resultados bem sucedidos da experiência<br />
podem levar ao desenvolvimento de novos caminhos<br />
para vencer bactérias desse tipo, que<br />
são a causa central dos fracassos nos tratamentos<br />
por meio de antibióticos em muitas<br />
doenças, como por exemplo, a tuberculose. Os<br />
resultados estabelecem um desafio às concepções<br />
aceitas no que se refere a bactérias inativas,<br />
e propõem um modelo alternativo ao<br />
processo de desenvolvimento das bactérias em<br />
questão. Segundo a dra. Balaban "estes resultados<br />
podem conduzir a uma nova terapia de<br />
vetor fágico para combater infecções que persistem<br />
apesar dos antibióticos". (Universidade<br />
Hebraica de Jerusalém).<br />
Técnicas contra bactérias IV<br />
Junto com o professor Oppenheim, da Universidade<br />
Hadassa, da Escola de Medicina, a equipe<br />
também estudou a interação entre as bactérias<br />
inativas e o vetor fágico. Eles procuraram<br />
determinar se a inatividade se desenvolve<br />
ou não como um mecanismo de defesa contra<br />
o ataque provocado pelo vetor fágico, permitindo<br />
à bactéria, deste modo, sobreviver sob<br />
condições de stress. A equipe mostrou que a<br />
existência de bactérias inativas provê vantagens<br />
quando a população é atacada por um<br />
vetor fágico lisógeno (vetor fágico que reside<br />
dentro da bactéria por algumas gerações e só<br />
então se multiplica e ataca). Entretanto, a inatividade<br />
não provê proteção quando as bactérias<br />
são atacadas pelo vetor fágico lítico que<br />
se reproduz e extermina imediatamente. (Universidade<br />
Hebraica de Jerusalém).<br />
gados a fazer uma certa quantidade de cada tipo<br />
de operação.<br />
Antes disso, há necessidade de ulpan pra<br />
aprender a língua (lá se vão 6 meses) e uma<br />
prova de medicina para saber se ele/ela é<br />
digno(a) do titulo de médico em Israel.<br />
Quer dizer, é preciso pensar em aliá (imigração).<br />
Prometo lugar de trabalho, mas não prometo<br />
shiduch… (possibilidade de casamento...).<br />
Moshe Rosenblatt, médico - Israel<br />
Desejando um bom Ano Novo<br />
Aos editores do <strong>VJ</strong>:<br />
Olá! Shalom aleichem! Le Shaná Tová Ticatevu<br />
Vetechatem Shaná Tová 5769<br />
Luiz Dalanhol - Por e-mail<br />
Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
basta passar um fax pelo telefone:<br />
0**41 3018-8018 ou e-mail para<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Irã e Israel brincam com fogo<br />
Nahum Sirotsky *<br />
O anúncio da Rússia de que a central<br />
atômica que vem construindo<br />
para o Irã pode ficar pronta em dezembro<br />
é um complicador do quadro<br />
mundial. Aparentemente é feito<br />
como resposta à assistência americana<br />
à Geórgia e o acordo de construir<br />
plataformas de mísseis na Polônia.<br />
Moscou não aceita os argumentos<br />
americanos de que são defesas contra<br />
estados considerados inconfiáveis<br />
como o Irã.<br />
A notícia sobre a central iraniana<br />
só aumenta as preocupações de<br />
Israel que prefere acreditar que as<br />
ameaças do presidente iraniano devem<br />
ser levadas a sério. Ele se tiver a<br />
oportunidade, procuraria destruir o<br />
estado judeu. Numa central nuclear<br />
para a produção de energia também<br />
se tem como subproduto matériaprima<br />
para fabricar a Bomba.<br />
O mundo está concentrado em<br />
muitas diversas questões como a crise<br />
econômica, eleições americanas,<br />
recrudescimento da guerra no Afeganistão,<br />
ameaça e tragédias humanitárias<br />
em vastas regiões onde faltam<br />
alimentos e a seca agride a crise<br />
entre Estados Unidos, Europa e a Rússia,<br />
os sinais de inflação na China.<br />
Não faltam preocupações.<br />
O Oriente Médio atravessa etapa<br />
de paradoxos. Os países produtores<br />
de petróleo estão abarrotados de lucros<br />
e numa expansão tipo mil e uma<br />
noites. Atraem iniciativas e investimentos<br />
de empresas de todas as nacionalidades.<br />
Quem pode vem vender,<br />
pois não faltam compradores<br />
nem de clubes de futebol. Mas nos<br />
países não produtores de petróleo,<br />
como o Egito, faltam recursos para<br />
atender as populações. O contexto<br />
não é favorável a novas complicações.<br />
Guerras seriam o pior negócio<br />
possível para os que prosperam e os<br />
que sofrem carências.<br />
Ahmadinejad, o presidente<br />
iraniano, porém, tem sua visão e planos.<br />
Um atual parlamentar israelense,<br />
um baixinho e avançado em idade,<br />
representante do Partido dos<br />
Aposentados, tem a solução. Afirma<br />
que é possível o rapto do iraniano e<br />
entregá-lo a um tribunal internacional.<br />
O baixinho com o sorriso de um<br />
bisavô foi o planejador e dirigente de<br />
uma das mais atrevidas operações do<br />
século passado. O homem que raptou<br />
Eichmann, que vivia incógnito em<br />
Buenos Aires. Era o oficial alemão<br />
nazista encarregado da "Solução Final",<br />
a matança dos judeus europeus<br />
e em todos os territórios que Hitler<br />
conquistasse. O plano resultou no<br />
genocídio de seis milhões de judeus.<br />
Eichmann foi raptado, levado a Is-<br />
rael, julgado e condenado a morte, o<br />
primeiro e até agora único na história<br />
do país a pagar tal preço. O governo<br />
iraniano reclamou nas Nações<br />
Unidas contra a sugestão. É o receio<br />
do Mossad, serviço secreto de Israel,<br />
aliás, que obriga Nasrala, o líder do<br />
Hezbolá, e os líderes do Hamas a viverem<br />
em abrigos secretos, bunkers,<br />
com receio de serem capturados ou<br />
assassinados.<br />
Na revista Euro Atlantic Quarterly,<br />
de julho.(http://meforum.org) por<br />
sua vez, Michael Rubin escreve que a<br />
Comunidade Internacional tem seu<br />
foco em apenas uma parte da questão<br />
iraniana. No país, o debate é sobre<br />
a economia. Ahmadinejad prometeu<br />
levar os benefícios da venda<br />
do petróleo "à mesa de todos". E o<br />
que se enfrenta internamente são inflação<br />
e falta de alimentos. Davoud<br />
Danesh-Jafari declarou que os governos<br />
não são julgados por boas intenções,<br />
porém pelos fatos. E renunciou<br />
ao cargo de Ministro da Fazenda. O<br />
que acontece é que a política econômica<br />
se traduz em inflação de até 30<br />
por cento. Alguns produtos tiveram<br />
seus preços aumentados em 90 por<br />
cento. A Associação dos Açougueiros<br />
reclamou que estavam comprando<br />
menos carne. Atribui-se a Rafsanjani<br />
ex-presidente, a afirmação de que<br />
"não se melhora a economia com o<br />
aumento do número de mendigos".<br />
O presidente chegou a determinar<br />
um limite para o custo do dinheiro.<br />
"Quando se emitiu notas de cem mil<br />
rials a solução do governo foi a de<br />
cortar os zeros".<br />
O texto da revista afirma que as<br />
medidas de austeridade adotadas falharam<br />
devido a falta de disciplina na<br />
política fiscal. Escreveu o jornal Aftab-e<br />
Yazd, reformista, "que os erros<br />
das políticas do governo prejudicam<br />
mais do que as sanções dos estrangeiros!"<br />
Sanções decididas pelas Nações<br />
Unidas para obrigarem o governo<br />
a abrir seu trabalho na área nuclear<br />
à inspeção internacional. Não abre.<br />
O presidente pede ao povo que<br />
tenha fé. E foi lembrado que o aiatolá<br />
Khomeini, o líder da revolução que<br />
fez do Irã um país islâmico, afirmava<br />
que "não se faz revolução ao preço<br />
de uma melancia".<br />
O Irã não teria uma economia para<br />
resistir a sanções mais rigorosas, agora,<br />
com a crise entre americanos e europeus<br />
com a Rússia, pouco prováveis.<br />
Mas o presidente não parece duvidar<br />
que é sua missão preservar a pureza<br />
da mensagem do Islã. Israel é um elemento<br />
estrangeiro num Oriente Médio<br />
muçulmano. Nunca se sabe até<br />
aonde a força de ideologias será imposta<br />
como a determinante decisiva<br />
de políticas. É o perigo que oferecem.<br />
* Nahum Sirotsky é jornalista, correspondente da RBS e do Último Segundo/IG em<br />
Israel. A publicação desta coluna tem a autorização do autor.
O festim das hienas<br />
Eduardo Kohn *<br />
As imagens ficaram na retina, e nos fizeram pensar, uma<br />
vez mais, nas diferenças entre os que idolatram a morte e os<br />
que crêem na vida como valor supremo. As imagens não mostraram<br />
sangue nem atos de violência, mas as telas de TV brilhavam<br />
como se estivessem banhadas em sangue e os primeiros<br />
planos eram dos rostos do desprezo e o ódio.<br />
As imagens daquela quarta-feira, 16 de julho no Líbano,<br />
mostraram como todo o governo daquele país esperou na escadinha<br />
de um avião junto a um tapete vermelho um desprezível<br />
assassino a quem eles denominaram "herói nacional",<br />
um homem cujo nome não interessa registrar, que para ser<br />
"herói" entre seus pares matou um pai diante de sua filha de 4<br />
anos, e depois matou a menina e, ainda por cima, esmagou<br />
seu crânio com a culatra de seu fuzil até que a cabeça da pequena<br />
ficou arrebentada.<br />
Quarta-feira 16 de julho foi feriado no Líbano para receber<br />
esse criminoso. Festa nas ruas, bailes e bandeiras ao vento. Assassinar<br />
alguém indefeso sempre é coisa de covardes desprezíveis,<br />
mas em determinados lugares do nosso planeta, isso é de<br />
"heróis". Na selva, nem as hienas compartilhariam essa opinião.<br />
Por que está livre alguém assim? Porque, apesar de muitas<br />
autoridades governamentais de vários lugares, intelectuais,<br />
formadores de opinião, Israel é uma democracia fundada em<br />
valores. E os soldados israelenses devem estar em sua terra.<br />
Se não estão vivos, seus restos mortais não devem ser objetos<br />
do festim das hienas. Claro que a decisão de Israel de<br />
trocar os restos dos dois soldados israelenses, seqüestrados<br />
pelo Hezbolá em território israelense, por duas centenas de<br />
corpos de terroristas e por assassinos, agora "heróis" no Líbano,<br />
foi uma decisão muito complexa e que contrariou muitos<br />
cidadãos israelenses.<br />
E em contexto semelhante, não deve ser complexo compreender<br />
tanto a dúvida como o sofrimento. Mas os dois soldados<br />
israelenses deviam voltar à sua terra e aos seus entes<br />
queridos, e seus restos não deviam continuar entre o escárnio<br />
e as mentiras dos imorais que os assassinaram.<br />
O prestigioso jornalista do Haaretz, Shmuel Rosner define<br />
claramente o conceito que moveu Israel a fazer uma<br />
troca desse tipo:<br />
"Israel é uma sociedade onde todos se conhecem, na qual<br />
o destino de cada soldado preocupa cada cidadão. É uma sociedade<br />
que exige o serviço militar de cada jovem, homem ou<br />
mulher, uma sociedade na qual o Estado de guerra é o habitual<br />
há 60 anos, e na qual a solidariedade nacional é sempre uma<br />
questão existencial. Para uma sociedade assim, olhar nos olhos<br />
de um pai ou uma esposa de um soldado seqüestrado e dizerlhes<br />
que o preço a pagar para trazer de volta seu ou marido<br />
mesmo que esteja morto, é algo que nenhuma autoridade<br />
pode fazer nem irá fazer".<br />
Em conseqüência, o Hezbolá, seus patrões no Irã, seus cúmplices<br />
no Líbano e em várias partes do mundo, continuarão<br />
celebrando a morte, o assassinato, e todas as sevicias possíveis<br />
de que o homem é capaz de cometer contra seu próximo.<br />
E continuarão qualificando seus festejos de "vitória contra o<br />
imperialismo" e outras frases feitas de que tanto gostam os<br />
que acreditam no terrorismo e o definem como "luta social".<br />
Enquanto isso, outros no Oriente Médio continuarão sonhando<br />
com a paz entre povos e entre governos. Um sonho<br />
que já se tornou fragmentos mais vezes do que se possa contar.<br />
E aquela quarta-feira 16 de julho teve um novo e brutal<br />
tropeção, desta vez pela mão do presidente da Autoridade<br />
Palestina, Abu Mazen. Era uma oportunidade para ficar calado<br />
e passar despercebido, ou para dar uma mensagem que realmente<br />
estimulasse os sonhos. Ao invés disto, saudou a "libertação"<br />
de um assassino desprezível, "herói" no Líbano.<br />
Não só perdeu uma oportunidade, como voltou a demonstrar<br />
quem é quem. Ao fim e ao cabo, por trás das fotos coloridas<br />
nos belos palácios, está é a realidade. E se alguém tivesse<br />
esquecido por algum momento de otimismo humano, Abu Mazen,<br />
no final das contas, fez bem em fazer retornar todos ao<br />
mundo da verdade.<br />
* Eduardo Kohn é vice-presidente Executivo da B'nai B'rith Latinoamericana.<br />
Publicado originalmente pelo website Por Israel.org<br />
(www.porisrael.org).<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Sucot - A Festa das Cabanas<br />
Véspera 13/10 - acendimento das velas 18h01<br />
m período alegre é iniciado<br />
com a festa de<br />
Sucot, compensando o<br />
solene período de<br />
Rosh Hashaná e Iom Kipur.<br />
Há mitsvot nas quais utilizamos<br />
apenas algumas partes de nosso corpo,<br />
por exemplo: a mitsvá de tefilin,<br />
filactérios, que envolve o braço e a<br />
cabeça; tefilá, prece, envolve a mente<br />
e o coração e assim por diante.<br />
Em Sucot, temos uma mitsvá (preceito)<br />
singular, que é a construção<br />
de uma sucá; a única mitsvá que literalmente<br />
envolve a pessoa de corpo<br />
inteiro, com suas vestes materiais.<br />
A sucá nos lembra das Nuvens<br />
de Glória que rodearam nosso povo<br />
durante suas peregrinações pelo deserto<br />
a caminho da Terra Prometida.<br />
Todos então viram a especial proteção<br />
Divina, que D-us lhes concedeu<br />
durante aqueles anos difíceis.<br />
Mas embora as Nuvens de Glória desaparecessem<br />
no quadragésimo<br />
ano, na véspera da entrada na Terra<br />
de Israel, nunca cessamos de acreditar<br />
que D-us nos dá Sua proteção,<br />
e esta é a razão de termos sobrevivido<br />
a todos nossos inimigos em todas<br />
as gerações.<br />
A A sucá sucá<br />
sucá<br />
Para que o judeu não se esqueça<br />
de seu verdadeiro propósito na<br />
vida, D-us, em Sua infinita sabedo-<br />
ria e bondade, nos faz deixar nossas<br />
casas confortáveis nesta época,<br />
para habitar numa frágil sucá,<br />
cabana, por sete dias.<br />
A sucá nos lembra que confiamos<br />
em D-us para nossa proteção, pois a<br />
sucá não é nenhuma fortaleza, nem<br />
ao menos fornecendo um telhado sólido<br />
sobre nossa cabeça. Lembra-nos<br />
também de que a vida nesta terra é<br />
apenas temporária.<br />
As As refeições refeições na na sucá<br />
sucá<br />
Durante a festa de Sucot, os homens<br />
devem comer diariamente<br />
numa sucá (cabana) especialmente<br />
construída para este fim. Nestes<br />
sete dias, não é permitido comer fora<br />
da sucá qualquer refeição que contenha<br />
pão ou massa. Há aqueles que<br />
não costumam beber nem ao menos<br />
um copo de água fora da sucá.<br />
Nos primeiros dois dias e noites<br />
da festa, o kidush, prece sobre o vinho,<br />
antecede a refeição. Nas duas<br />
primeiras noites, é obrigatório comer<br />
na sucá ao menos uma fatia de pão<br />
(além do kidush), mesmo que esteja<br />
chovendo. Nos outros dias, se chover,<br />
é permitido fazer as refeições<br />
dentro de casa.<br />
Confiança Confiança em em em D-us D-us<br />
D-us<br />
Refletir sobre a sucá nos dá uma<br />
ampla visão do significado de fé em<br />
D-us e da extensão de Sua Divina Pro-<br />
Jaques Wagner e Clara Ant na Conib:<br />
Justiça Social e o prestigio de Israel<br />
Durante a 37ª Convenção Anual<br />
da Confederação Israelita do Brasil<br />
(Conib), realizada dia 25 de novembro<br />
de 2006, em São Paulo, o governador<br />
da Bahia Jaques Wagner, destacou:<br />
"Cada vez que temos um representante<br />
da comunidade judaica<br />
em um posto público, isso se reflete<br />
como algo positivo para todos nós.<br />
E, como judeu, lutarei pelo que todos<br />
desejamos, a justiça social".<br />
Já a assessora especial do presidente<br />
Luiz Inácio Lula da Silva, Clara<br />
Ant, destacou que "no primeiro<br />
mandato, as relações entre Brasil e<br />
Israel se ampliaram. O governo brasileiro<br />
atuou em defesa da inclusão<br />
de Israel no Mercosul e o intercâmbio<br />
entre os dois países cresceu em<br />
diferentes áreas. Foi criado um grupo<br />
de interlocução entre os dois países,<br />
que já se reuniu no Brasil, e<br />
acaba de se reunir em Israel". Mais<br />
adiante, Clara Ant observou que "o<br />
governo de Israel foi prestigiado.<br />
Pela primeira vez em dezesseis anos<br />
um ministro israelense foi recebido<br />
pelo presidente da República, disse<br />
referindo-se a Ehud Olmert, então<br />
ministro da Indústria e Comércio israelense",<br />
- acrescentando que - "há<br />
uma disposição mútua nas relações<br />
bilaterais e só podem crescer em benefício<br />
dos dois países, como tem<br />
sido no âmbito da tecnologia, educação,<br />
entre outros".<br />
A Assessora lembrou também<br />
que o presidente foi o primeiro a<br />
assinar documento contra o antisemitismo,<br />
citando a frase emblemática<br />
dita pelo presidente Luiz<br />
Inácio Lula da Silva no Dia Internacional<br />
de Recordação do Holocausto<br />
- data estabelecida pela<br />
ONU, em novembro de 2005. Celebrado<br />
em 27 de janeiro de 2006,<br />
em solenidade promovida no serviço<br />
religioso do Shabat, na sinagoga<br />
da Congregação Israelita Paulista<br />
(CIP) em conjunto com a B'<br />
nai B'rith do Brasil, o presidente<br />
Lula foi enfático ao dizer: "Mesmo<br />
que não houvesse judeus no Brasil<br />
eu combateria o anti-semitismo".<br />
17<br />
vidência. Vamos para a sucá durante<br />
a Festa da Colheita depois de haver<br />
colhido o fruto dos campos.<br />
Se uma pessoa recebeu a bênção<br />
Divina e sua terra produziu com<br />
fartura, seus estoques e adegas estão<br />
repletos, alegria e confiança preenchem<br />
seu espírito - aí a Torá a leva<br />
a abandonar a casa e residir em uma<br />
frágil sucá, para ensiná-la que nem<br />
riquezas, nem posses, nem terras são<br />
proteções na vida; somente D-us é que<br />
sustenta, mesmo os que habitam em<br />
tendas e cabanas e oferece uma proteção<br />
de confiança. E se alguém está<br />
empobrecido e seu trabalho não conheceu<br />
a bênção Divina; se a terra<br />
não deu o seu produto, se o fruto da<br />
árvore não foi armazenado em celeiros<br />
e se está incerto e temeroso<br />
ao encarar o perigo da fome nos<br />
dias de inverno que se aproximam,<br />
também encontrará repouso para<br />
seu espírito na sucá. Lembrará como<br />
D-us hospedou-nos em Sucot no deserto;<br />
nos sustentou e nos abasteceu,<br />
não nos deixando faltar nada.<br />
A sucá o ensinará que a Divina Providência<br />
é segurança melhor do que<br />
qualquer bem material, pois não<br />
abandona os que verdadeiramente<br />
crêem em D-us. A sucá o ensinará a<br />
ser forte e corajoso, feliz e tranqüilo,<br />
mesmo na aflição e na dificuldade.<br />
(www.chabad.or.br).<br />
Além do governador Jaques Wagner,<br />
da assessora do presidente<br />
Lula, Clara Ant, a convenção da Conib,<br />
naquela data contou ainda com<br />
as presenças da embaixadora de Israel<br />
no Brasil Tzipora Rimon; do presidente<br />
da Confederação Israelita do<br />
Brasil e do Congresso Judaico Latino-Americano<br />
Jack Leon Terpins; do<br />
diretor do Congresso Judaico Mundial<br />
para a América Latina Manuel<br />
Tenenbaum, do então presidente do<br />
Rabinato da Congregação Israelita<br />
Paulista rabino Henry Sobel, da vicepresidente<br />
da Fundação Victor Civita<br />
Claudia Costin, dos vice-presidentes<br />
da Conib Osias Wurman e Cláudio<br />
Lottenberg, e de presidentes e<br />
representantes de cada uma das comunidades<br />
judaicas brasileiras.<br />
A Conib tem filiadas no Amazonas,<br />
Bahia, Brasília, Ceará, Minas<br />
Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco,<br />
Rio Grande do Norte, Rio Grande do<br />
Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e<br />
São Paulo. O Amapá também esteve<br />
representado na Convenção.
18<br />
* Marcos Aguinis é<br />
escritor, conferencista,<br />
médico psicanalista, foi<br />
ministro da Cultura da<br />
Argentina, onde<br />
desempenhou um papel<br />
fundamental na<br />
redemocratização do país.<br />
É autor dos livros "La cruz<br />
invertida" e "La gesta del<br />
marrano". Conferência<br />
proferida por ele na<br />
Universidade de Tel Aviv,<br />
em 15 de maio de <strong>2008</strong>,<br />
por ocasião do 60º<br />
aniversário da<br />
Independência de Israel.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
er judeu não é uma infelicidade,<br />
às vezes é uma catástrofe.<br />
Vocês se dão conta,<br />
que até com este microfone<br />
há problemas…<br />
Antes de falar vou dizer umas<br />
palavras (perdoem o lugar comum).<br />
Quero agradecer a presença deste público<br />
fantástico, que lota tão grande<br />
auditório. Agradecer as palavras do<br />
vice-reitor Raanan Rein. Agradecer a<br />
presença do embaixador argentino, demais<br />
embaixadores da América Latina<br />
e os representantes da Espanha. Agradecer<br />
aos amigos desta dinâmica universidade.<br />
E agradecer de novo a esta<br />
multidão de israelenses que viajou de<br />
diferentes pontos do país: significa<br />
para mim uma honra intensa, inesquecível<br />
e comovedora.<br />
Trouxe uma pequena ajuda de memória,<br />
porque quando me pus a pensar<br />
sobre o que se poderia dizer nesta<br />
oportunidade, temi que os submeteria<br />
a um soporífero seminário, e vocês não<br />
merecem tamanho castigo.<br />
O tema soa arrogante: Orgulho de<br />
ser judeu. Nos últimos meses circula<br />
um texto de título similar: Eu adoro ser<br />
judeu. Recebi inúmeras felicitações de<br />
vários países, mas lamento decepcioná-los:<br />
não é meu. Eu não o escrevi,<br />
não costumo usar a palavra "adoro",<br />
exceto quando pretendo seduzir uma<br />
mulher... É evidente que foi escrito em<br />
Israel, porque faz referências àqueles<br />
que foram protagonistas da epopéia<br />
revelada por seus cidadãos. Eu não<br />
tive essa honra, como tantos milhões<br />
de judeus que temos seguido com o<br />
coração nas mãos, mas sem padecer<br />
os sacrifícios que aqui tiveram lugar<br />
para a resistência e a construção.<br />
Em outras ocasiões e em vários textos<br />
expliquei minha rejeição a que se<br />
diga que em 1948 "criou-se" o Estado<br />
de Israel. Isso é mentira e produz erros.<br />
O Estado de Israel existia desde<br />
muito antes: em 1948 proclamou-se<br />
sua Independência. Já latejava um efervescente<br />
Ishuv, havia sido fundada a<br />
Universidade de Jerusalém, funcionava<br />
o Technion, dava concertos a Orquestra<br />
Filarmônica inaugurada por<br />
Arturo Toscanini, investigava o Instituto<br />
de Ciências de Rehovot, vibrava<br />
o cenário do teatro Habima, floresciam<br />
escolas agrícolas, multiplicavam-se os<br />
kibbutzim, edificavam-se as cidades e<br />
moshavim, algumas sobre a areia ou<br />
rochas, era sólida a rede civil e se<br />
constituíram heróicas organizações de<br />
defesa. Tudo isso era uma realidade<br />
indiscutível. O Estado de Israel foi sendo<br />
erigido desde o ermo com lágrimas,<br />
suor, sangue e um oceano de idealismo.<br />
Em 1948 levantou-se o pano de<br />
fundo para alcançar a etapa que faltava:<br />
sua soberania. Não foi - como di-<br />
O orgulho de ser judeu<br />
Marcos Aguinis *<br />
zem os antiisraelenses ignorantes -<br />
"uma invenção das Nações Unidas", ou<br />
dos Estados Unidos. Os EUA naquela<br />
época não eram um aliado incondicional<br />
e fizeram esforços para atrasar a<br />
Independência.<br />
Cumprido este esclarecimento, me<br />
limitarei a cinco razões que justificam<br />
meu orgulho de sentir-me judeu. É<br />
necessário fazê-lo, porque se tende a<br />
desprezar a enorme herança que temos<br />
recebido. É certo que seu sabor é<br />
agridoce, porque contém tragédia e<br />
criatividade. Mas entre as rajadas dessa<br />
tragédia e criatividade, foi desenvolvendo-se<br />
uma obsessão pela cultura.<br />
Um marco histórico foi sem dúvida<br />
o exílio babilônico, há 2.600 anos.<br />
Ali surgiu o imperioso anseio por conhecer<br />
os textos escritos que vinham<br />
se acumulando desde séculos e proviam<br />
uma identidade repleta de nostalgia<br />
e emoção. Esses textos começaram<br />
a ser lidos ao povo, hábito que se<br />
consolidou após o regresso a Eretz Israel<br />
sob a liderança de Ezra e Nehemias.<br />
Mas não foi um rito insignificante,<br />
mas uma revolução cultural. Até<br />
então todas as castas sacerdotais das<br />
numerosas religiões existentes, mantinham<br />
seu poder mediante o segredo<br />
dos livros. Só os sacerdotes tinham<br />
acesso à palavra e os mandatos dos<br />
deuses. Essa tradição foi subvertida<br />
pelos judeus. Decidiram que a<br />
Torá fosse lida para toda a comunidade,<br />
hábito que vige até os nossos<br />
dias e foi imitado depois pelas<br />
outras religiões monoteístas. O Livro<br />
deixou de ser a propriedade de<br />
alguns privilegiados para converterse<br />
num bem comum.<br />
Mas junto com essa revolução, a<br />
seguir veio outra, mais radical ainda.<br />
Com efeito, meio milênio antes da era<br />
comum suprimiu-se a praga do analfabetismo!<br />
O judeu foi o primeiro povo<br />
que deixou de ter analfabetos ao instituir<br />
o Bar Mitzvá, rito que implica na<br />
incorporação à comunidade de Israel<br />
mediante a leitura dos livros sagrados.<br />
Sem leitura, não há incorporação. Foi<br />
um terremoto histórico, sem paralelo.<br />
Pena que o patriarcado que existia<br />
- e ainda subsiste -, não levou em<br />
conta as mulheres. Mas ao menos desapareceram<br />
os varões analfabetos.<br />
Esta situação excepcional explica a<br />
produção em massa de literatura no<br />
antigo Israel. Segundo o historiador<br />
inglês e católico Paul Johnson, Israel<br />
produziu mais textos que a Grécia clássica.<br />
Muitos textos foram queimados,<br />
esquecidos ou não conseguiram entrar<br />
no cânone do Tanach, e quase esteve<br />
a ponto de ser excluído nada menos<br />
que O Cântico dos Cânticos. Um amor<br />
intenso pela letra escrita manteve-se<br />
e se potencializou sem cessar. Não é<br />
estranho que as sinagogas, sejam os<br />
lugares mais reverenciados onde se<br />
guardam as palavras escritas. As le-<br />
tras foram a pátria portátil dos judeus.<br />
Cuidaram-nas e as burilaram. Não é<br />
casual que seja chamado de o povo<br />
do Livro. O Tanach reluz no alto, porque<br />
é uma obra maior da literatura<br />
universal. Ali não só há crônicas, poesia,<br />
narrações, sonhos, amores, pregações,<br />
sabedoria, ensinamentos, profecias,<br />
piedade, rancor e contradições,<br />
mas até a germinação de gêneros literários<br />
que tardaram muito em florescer,<br />
como, por exemplo, a novela.<br />
Costuma-se dizer que a primeira<br />
novela foi Dom Quixote. Entre parêntesis,<br />
recordo uma anedota de alguém<br />
pouco lido que foi comprá-lo. Disse ao<br />
vendedor que desejava um exemplar<br />
de Dom Quixote. De la Mancha? - perguntou.<br />
Não, o da mancha não. Quero<br />
um limpinho porque é para presentear...<br />
Fecho o parêntesis e continuo.<br />
No Tanach também há novela.<br />
Uma delas é admirável: o Livro de Jó.<br />
É novela porque tem sua estrutura, fluidez,<br />
segredos, mistérios e detalhes<br />
emotivos e sensoriais que correspondem<br />
a esse gênero. Nem sequer se<br />
sabe se Jó foi judeu, tampouco onde<br />
viveu. A trama inicia com um assombroso<br />
diálogo entre D-us e o diabo,<br />
depois se sucedem as armadilhas que<br />
geram estremecimentos e suspense.<br />
Bem, este aspecto cultural e literário<br />
está muito arraigado na mentalidade<br />
judaica. Recordemos que no shteitl<br />
mais pobre, mais distante e isolado,<br />
sempre alguém desempenhava a tarefa<br />
de professor para ensinar as<br />
crianças. Vibra como testemunho a<br />
inesquecível canção em iídiche Oifn<br />
Pripechick. Não importava se a docência<br />
era exercida numa choça ou uma<br />
cova. Bastava que ardesse um braseiro<br />
e, ao abrigo de seu calor amoroso,<br />
os pequenos aprendessem o abc.<br />
Essa ginástica mental tornou o judaísmo<br />
um seminário perpétuo, uma<br />
comunidade vasta que todo o tempo<br />
estuda e discute. Por isso não devem<br />
alarmar-nos os conflitos que atormentam<br />
o interior de Israel: nós os judeus,<br />
estamos acostumados aos conflitos<br />
de mais variada cor e a debatê-los.<br />
Depois que chegar a paz, não se iludam<br />
com a idéia de una paz absoluta,<br />
porque se alçarão velhos problemas<br />
e novos, a polêmica será intensa.<br />
Não obstante, jamais será o fim<br />
do mundo. O povo judeu segue debatendo,<br />
é parte de sua natureza ou,<br />
para ser objetivo, resultado de uma<br />
história muito particular.<br />
Antes de concluir este ponto, sinto-me<br />
obrigado a assinalar que recebi<br />
numerosas queixas sobre os perigos<br />
que nos últimos anos perturbam<br />
o alto nível da educação israelense.<br />
Sua prioridade parece ter<br />
afrouxado. Não é bom. A imaginação<br />
deve acender castiçais e encontrar<br />
os recursos que mantenham vigorosa<br />
a qualidade educativa. Isso con-<br />
feriu a este país força, energia e<br />
ideais que nunca devem murchar.<br />
O segundo ponto de minha exposição<br />
refere-se ao monoteísmo ético.<br />
Houve monoteísmos na antiguidade,<br />
não foi exclusividade do povo de<br />
Israel. Havia monoteísmo no Egito sob<br />
Akenaton ou Amenhotep IV (como o<br />
prefiram chamar). Os incas impuseram<br />
o culto do Sol, também deus único.<br />
Mas não existia o monoteísmo ético,<br />
e essa categoria inovadora foi mérito<br />
exclusivo do povo de Israel, seus líderes<br />
e profetas. Um monoteísmo que<br />
exige moral que se estabeleceu mediante<br />
um pacto. O pacto compromete<br />
D-us, a comunidade e cada um de<br />
seus membros. Aí se hierarquizou a<br />
responsabilidade do indivíduo. Foi um<br />
pacto que sacraliza a vida, os direitos<br />
e as obrigações de cada pessoa, que<br />
compromete o cuidado com o planeta,<br />
com os animais e um respeito sem<br />
precedentes pelo diferente, pelo estrangeiro.<br />
Marcou uma ascensão espetacular<br />
da qualidade humana em<br />
todos os ardores, como um vento cheio<br />
de pólen cujo destino era espargir-se<br />
ao resto do universo.<br />
O monoteísmo ético incluía a fraternidade<br />
da raça humana. Todos viemos<br />
de um casal mítico, Adão e Eva.<br />
E como se não fosse suficiente, houve<br />
um dilúvio e depois se consolidou<br />
a origem comum a partir de outro pai<br />
de todos: Noé.<br />
No monoteísmo ético hierarquizouse<br />
a liberdade. Por quê? Porque somos<br />
livres para agir bem ou agir mal, e serão<br />
castigados os que agirem mal e<br />
serão premiados os que agirem bem.<br />
Os direitos individuais, reiteradamente<br />
ceifados por tiranias de direita ou<br />
de esquerda, foram consagrados desde<br />
a antiguidade e estão profundamente<br />
enraizados na mentalidade judaica.<br />
Se algo parece insuportável a<br />
essa mentalidade, é a escravidão, a<br />
opressão. Todos os povos remontam<br />
suas origens a um fenômeno heróico.<br />
O judeu, por outro lado, à ofensa da<br />
escravidão. Desde crianças nos ensinam<br />
a repetir que "fomos escravos no<br />
Egito". O sofrimento não se esquece<br />
para que se torne uma benção do presente,<br />
ou seja, para que amemos e<br />
defendamos a liberdade. Também para<br />
que compreendamos o sofrimento dos<br />
que não são livres. Por isso não é casualidade<br />
que todos os movimentos<br />
libertários da história contaram com<br />
uma desproporcional presença judaica.<br />
O envolvimento com os que são<br />
perseguidos, oprimidos ou discriminados<br />
é tão intenso entre os judeus que<br />
conduziu sua participação destacada<br />
inclusive em movimentos anti-semitas,<br />
como foi o stalinismo.<br />
A solidariedade tornou-se moeda<br />
comum. Tão comum que gerou um<br />
sem-número de piadas, muitas delas<br />
centradas no hábito da coleta para
fins nobres. São incontáveis as organizações<br />
que realizam coletas dentro do<br />
povo judeu. Ferve a responsabilidade<br />
pelo outro. A tal extremo que se alguém<br />
for pedir apoio, é como se fosse fazer<br />
um presente, porque dá-lhe a ocasião<br />
de fazer uma mitzvá. Lembram a piada<br />
do mendigo judeu que fazia coleta numa<br />
sinagoga de Paris (estou falando do século<br />
XVIII ou XIX) e comunicaram-lhe que<br />
o ricaço que habitualmente lhe destinava<br />
as moedas havia saído de férias?<br />
O mendigo reagiu indignado: "Como!<br />
Com meu dinheiro ele foi se divertir?"<br />
Outra anedota, do mesmo tipo, referese<br />
a dois irmãos pobres que vão ao banco<br />
dos Rotschild para receber um estipêndio<br />
mensal. Um falece e o sobrevivente<br />
pergunta ao caixa: "E a parte do<br />
meu irmão?" "Temos registrado que seu<br />
irmão morreu". "Diga-me - reagiu o<br />
mendigo - quem é o herdeiro de meu<br />
irmão? Eu ou Rotschild?"<br />
Outro elemento notável do monoteísmo<br />
ético, que ainda não foi reconhecido<br />
devidamente, é o compromisso<br />
com a ecologia. O fato de deixar descansar<br />
a terra e respeitar os animais<br />
merece admiração. No Tanach existem<br />
abundantes versículos de inspirada poesia<br />
sobre árvores, frutos, flores, plantas,<br />
vales e colinas, que se amam e elogiam.<br />
Theodor Herzl, antes de morrer,<br />
criou o Keren Kayemet. Sua missão, além<br />
de comprar terras para permitir um crescimento<br />
legal da comunidade, foi plantar<br />
árvores e fertilizar a terra. Esta antiga<br />
terra, em quase toda sua extensão,<br />
sofria abandono, depredação, deserto.<br />
O objetivo do Keren Kayemet era devolver<br />
a este país o esplendor que teve na<br />
antiguidade e que tinha desaparecido:<br />
o bosque. Os bosques de Israel, quase<br />
todos, são produto de um esforço gigantesco<br />
e admirável.<br />
Passo ao terceiro ponto. Um dos<br />
grandes orgulhos que podemos ter é<br />
que sendo tão poucos, nós, judeus produzimos<br />
uma enorme quantidade de paradigmas.<br />
Repassemos os patriarcas,<br />
juízes, reis e profetas de mais de dois<br />
mil anos. Seus nomes continuam sendo<br />
evocados e usados até o dia de hoje em<br />
todo o mundo, em diversas culturas e<br />
até diferentes religiões, com as modificações<br />
impostas pela cor dos idiomas.<br />
Esses paradigmas têm força porque dão<br />
vida a traços de uma profunda humanidade.<br />
Reúnem aspectos recônditos, conformam<br />
uma enciclopédia de emoções,<br />
impulsos, tendências, desejos, medos,<br />
heroísmos, lealdades e deslealdades.<br />
Foram gravados na consciência humana<br />
com suas infinitas sutilezas. Muito<br />
antes que os gênios do Renascimento<br />
e a modernidade descrevessem a inveja,<br />
o fratricídio, o egoísmo, o altruísmo,<br />
o amor, esses paradigmas já tinham<br />
sido cinzelados. O amor, nesses paradigmas,<br />
estendeu-se às mais diversas<br />
manifestações: amor a D-us, aos pais,<br />
aos filhos, aos irmãos, aos cônjuges,<br />
aos amigos, aos estrangeiros. O amor<br />
de Abraham e Sara, de Isaac e Rebeca,<br />
de Jacob e Raquel, de Ruth e Boaz, de<br />
David e Betsabé, de Salomão e Sulamita,<br />
etc. Protagonizaram fatos que des-<br />
nudam a complexidade da vida, e são<br />
recordados como se tivessem ocorrido<br />
ontem. Para os judeus, os distantes patriarcas<br />
são como tios avós, só nos falta<br />
colocar sua fotografia na sala da<br />
casa. Os gregos também produziram paradigmas<br />
gigantescos, mas não são<br />
parte íntima da vida cotidiana grega<br />
moderna, não são parte inseparável da<br />
família, ficam no passado, maravilhoso,<br />
mas passado. Entre os judeus, por<br />
outro lado, esses nomes continuam no<br />
tempo presente.<br />
Os paradigmas mantiveram sua primavera<br />
na etapa pós-bíblica com Hilel,<br />
Jesus, Filon de Alexandria. Nomes e<br />
mais nomes. Pulo séculos e chego a<br />
Maimônides quem, além de produzir<br />
uma obra exemplar, nos deixou ensinamentos<br />
de enorme força e formulação<br />
humilde, como por exemplo: "Sou uma<br />
pessoa que nem sempre pode ter razão".<br />
Aí existe também sensatez e objetividade:<br />
os seres humanos podem<br />
equivocar-se. Outro paradigma foi<br />
Moshé Mendelsohn, o avô do compositor<br />
Felix Mendelsohn. Tinha uma corcunda,<br />
e essa corcunda o impedia de<br />
amar uma moça muito bela. Uma tarde<br />
ela lhe disse: "Veja, reconheço suas<br />
qualidades excepcionais, fala de uma<br />
maneira fascinante e merece minha<br />
franqueza: sua corcunda me impede de<br />
amá-lo". Mendelsohn respondeu: "Essa<br />
corcunda tem história. Dava voltas na<br />
eternidade implorando um corpo onde<br />
repousar. Então D-us teve piedade e<br />
planejou depositá-la sobre uma bela<br />
mulher. Roguei-lhe que não fizesse<br />
dano à formosura dessa mulher, que a<br />
instalasse sobre minha costas". Poucos<br />
meses depois Mendelsohn se casou<br />
com essa garota.<br />
Deixo os paradigmas que encheriam<br />
bibliotecas inteiras, e passo ao<br />
quarto ponto.<br />
O povo judeu suportou tragédias<br />
enormes, perseguições sem paralelo e<br />
uma discriminação inclemente e obstinada.<br />
O anti-semitismo é a expressão<br />
de ódio mais tenaz, antiga e firmemente<br />
arraigada no mundo. No entanto,<br />
esse sofrimento não nos transformou<br />
numa cultura que ame a vingança. Recordamos<br />
que fomos escravos no Egito,<br />
lembramos dos pogroms, recordamos<br />
as perseguições religiosas, as perseguições<br />
raciais, lembramos e estudamos<br />
a Shoá, mas não cultivamos a<br />
segregação, ainda que tenhamos credenciais<br />
para isso. Devemos estar orgulhosos<br />
de semelhante conquista.<br />
Jamais em Israel, nem em nenhuma<br />
comunidade judaica do mundo celebraram-se<br />
as mortes de árabes ou palestinos,<br />
por exemplo.<br />
É freqüente reclamar justiça, mas<br />
nunca vingança. A honra não passa pelo<br />
dano ao outro, senão na superação da<br />
ofensa. Esta qualidade não deriva de<br />
genes nem fenotipos. É produto de uma<br />
longa história, na qual aos judeus parecia<br />
impossível defender-se fisicamente.<br />
Imaginem um shtetl invadido por huligans<br />
ou cossacos, que invadiam a aldeia,<br />
violavam mulheres, arrancavam<br />
barbas, matavam crianças, degolavam<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
que se punha diante deles, rapinavam,<br />
incendiavam e iam satisfeitos. O que<br />
podiam fazer os judeus? Persegui-los?<br />
Matar cossacos? Com o quê? Como?<br />
Choravam, enterravam os mortos, curavam<br />
os feridos, consolavam os parentes<br />
e depois rezavam, cantavam, reconstruíam.<br />
Seguia a vida. Dessa forma<br />
se instaurou um valor impressionante,<br />
exemplar, de opor à tragédia e o sofrimento,<br />
a glória da criação.<br />
Kol Nidré, por exemplo, é um fenômeno<br />
musical único. Perguntamo-nos<br />
como uma melodia perfeita, triste e profunda<br />
pode-se expandir por vários continentes<br />
numa época em que não havia<br />
automóveis nem telefones, nem celulares.<br />
De Paris a Bagdá, da Ucrânia a<br />
Marrocos, entoava-se o mesmo Kol Nidré.<br />
Impossível encontrar um fenômeno<br />
musical parecido. Nessa música<br />
roga-se perdão, mostra-se humildade,<br />
reconhece-se a falibilidade do homem.<br />
É a ante-sala que leva aos recintos subjetivos<br />
mais profundos da paz. Integra<br />
o repertório de rituais que impelem até<br />
a concórdia, a bondade e a ética. Depois<br />
do Holocausto, por exemplo, alguns<br />
grupos quiseram vingar-se dos<br />
nazistas e os colaboracionistas. Mas<br />
não foram grupos significativos. O<br />
esforço do povo judeu foi dirigido<br />
para obter a independência de Israel,<br />
a seguir adiante, e superar a tragédia<br />
mais terrível de sua história mediante<br />
a criação solidária.<br />
Nós os judeus estamos acostumados<br />
a sacrifícios para construir. É uma<br />
conduta oposta a outras culturas, nas<br />
quais as pessoas também se sacrificam<br />
- e muito -, mas para destruir. Basta lançar<br />
um olhar ao que acontece nesta região.<br />
Enquanto os israelenses vêm<br />
construindo desde muitas décadas antes<br />
da independência nacional, os palestinos<br />
vêm destruindo até o que poderia<br />
ser tomado como botim de guerra,<br />
e coloco como exemplo lamentável<br />
o ocorrido em Gaza.<br />
Passo ao quinto e último ponto, o<br />
que se refere à razão pela qual estamos<br />
hoje aqui reunidos: o Estado de<br />
Israel, em seu sexagésimo aniversário<br />
da Independência. Para dizê-lo em poucas<br />
palavras, afirmo que é o empreendimento<br />
coletivo mais grandioso que o<br />
povo judeu realizou em 2 mil anos. Não<br />
há outro país que em tão pouco tempo<br />
tenha alcançado tudo o que alcançou o<br />
Estado de Israel. Há pouco li um artigo<br />
do escritor e jornalista cubano-espanhol<br />
Carlos Alberto Montaner. Iniciava falando<br />
dos Tigres do Extremo Oriente: Coréia<br />
do Sul, Taiwan, Singapura, Malásia.<br />
Depois mencionou o Tigre da Oceania:<br />
Nova Zelândia. Mais adiante, surgiu outro,<br />
inesperado, porque tinha sido um<br />
país periférico, agrícola, católico e muito<br />
conservador: Irlanda, batizada agora<br />
como o Tigre Celta. A Estônia se tornou<br />
o Tigre Báltico. Mas do que se esquece<br />
o mundo é que também existe<br />
outro Tigre, muito vigoroso, e que ele<br />
chama o Tigre Semita: Israel. Não há<br />
outro país nas extensões do âmbito semita<br />
que tenha obtido o crescimento<br />
assombroso de Israel a partir de uma<br />
carência quase absoluta de recursos<br />
naturais. Em que pesem as incessantes<br />
e graves dificuldades padecidas,<br />
conseguiu instalar-se entre os trinta<br />
países mais adiantados do universo.<br />
Observemos. Em que lugar se conseguiu<br />
transformar um idioma dormente<br />
como o hebraico, numa linguagem<br />
moderna e eficiente, com todas as sutilezas,<br />
a cor e a emotividade que exigem<br />
a ciência, a tecnologia, as artes, a<br />
literatura e a vida cotidiana? Israel gerou<br />
escritores que são traduzidos para<br />
dezenas de idiomas e gozam de alto<br />
prestígio. O hebraico moderno penetra<br />
na alma e se tornou um afiado instrumento<br />
de comunicação. Este fenômeno<br />
lingüístico não tem paralelo.<br />
Tampouco faz falta galopar pelos<br />
inumeráveis aportes que Israel brindou<br />
na biologia, na informática, na irrigação,<br />
etc. A lista é esmagadora, parece<br />
impossível, parece um transbordar de<br />
fantasia. Mas é verdadeira.<br />
Devemos nos manifestar com veemência<br />
para que cada judeu constitua<br />
um orgulho - que não deveríamos regatear<br />
- a firmeza e naturalidade com que<br />
se manteve a democracia. Rodeado por<br />
um oceano de países onde a democracia<br />
não existe ou é apenas uma ilusão,<br />
este pequeno e enérgico Israel a exerceu<br />
e exerce a todo custo.<br />
Também rendo minha homenagem<br />
a sua Justiça, que figura entre as mais<br />
confiáveis do planeta. Seguramente<br />
sabem melhor que eu que o Palácio da<br />
Justiça em Jerusalém está numa colina<br />
um tanto mais elevada que a da própria<br />
Knesset, sem falarmos a respeito<br />
do Poder Executivo. A justiça mais elevada.<br />
A justiça é um elemento axial da<br />
vida comunitária que os judeus aprenderam<br />
a valorizar desde a antiguidade<br />
mais remota, e foi exercida inclusive<br />
nos shteitls, como a base e o cimento<br />
unificador desses mini-estados.<br />
Na qualidade de argentino e latino-americano<br />
confesso minha inveja<br />
por esta democracia, por esta justiça<br />
e pelo impulso obstinado de progredir<br />
que reina aqui. Expresso com a mão<br />
no peito minha admiração por sua rica<br />
e dinâmica pluralidade cidadã. O Estado<br />
e o povo de Israel, com suas infinitas<br />
complexidades, são protagonistas<br />
de uma das epopéias mais notáveis<br />
da história.<br />
Digo com ênfase, porque é necessário<br />
contra-argumentar a onda de ódio<br />
e preconceito que sopra contra nós. Os<br />
governos de Israel e muitos de seus<br />
dirigentes cometeram erros ou perderam<br />
oportunidades. É humano, ocorre<br />
em todas as partes. Mas isso não chega<br />
a desconhecer os extraordinários<br />
méritos acumulados nestes vibrantes<br />
e admiráveis 60 anos de independência,<br />
mais as décadas de esforço titânico<br />
e potente idealismo que vinham<br />
sendo realizados muito antes.<br />
Termino com o tradicional brinde de<br />
manifestar que não nos conformamos<br />
com 60 anos, mas pedimos por 120<br />
anos, certos de que aos 120 anos voltaremos<br />
a pedir por muitos mais, até o<br />
fim dos tempos. Grato por me ouvirem.<br />
19
20<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Clara Ant, assessora especial do Presidente, o<br />
presidente Lula e a embaixadora Tzipora Rimon<br />
A embaixadora de Israel, Tzipora Rimon, começou<br />
a apresentar suas despedidas às autoridades<br />
e comunidades israelitas do Brasil. O primeiro<br />
de quem ela se despediu - vai assumir<br />
novas funções na diplomacia israelense - foi o<br />
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio<br />
do Planalto, dia 3/9.<br />
Ministra Dilma Roussef, o presidente Lula e a<br />
embaixadora Tzipora<br />
Colabore com notas para a coluna.<br />
Fone/fax 0**41 3018-8018 ou e-mail:<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
A psicóloga Rachel Jurkiewicz obteve o título de Doutora em Ciências<br />
pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na<br />
área de Cardiologia. O título da tese apresentada foi "Vivência de<br />
perdas: relação entre eventos significativos, luto e depressão, em<br />
pacientes internados com doença arterial coronariana". Mazal Tov!<br />
Entre 10 e 14 de setembro, as voluntárias de todo o Brasil da Na'amat<br />
Pioneiras estiveram reunidas em Porto Alegre, berço da organização, para<br />
comemorar os seus 60 anos de atividades. Com o tema 'Novos Tempos -<br />
Valores Eternos', e um jantar marcaram a fundação da entidade.<br />
A reunião discutiu ainda temas inerentes à condição feminina, judaica e<br />
sionista, itens que fazem parte dos seus objetivos de atuação das Pioneiras.<br />
Foram homenageadas as fundadoras e todas as mulheres que trabalham<br />
em prol dos ideais das Pioneiras que, no Brasil, está presente em 11<br />
Estados: Pará, Amazonas, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia,<br />
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.<br />
Entre os palestrantes convidados da reunião das Pioneiras, destacaramse<br />
a participação da escritora Cíntia Moscovich, do jornalista Jaime Sirotsky<br />
e da socióloga Vanessa Scliar.<br />
Da esquerda para direita, subtenente assessor<br />
do Adido Coronel Aviador Ricardo Vieira, chefe<br />
do escritorio da FAB em Tel Aviv, coronel<br />
Puchalski, Adido Militar do Brasil em Israel<br />
A Aditância de Defesa,<br />
Naval, do Exército e Aeronáutica<br />
do Brasil em<br />
Israel comemorou em<br />
Tel Aviv o 9º aniversário<br />
de criação do Ministério<br />
da Defesa. Cerca de duzentos<br />
convidados, incluindo<br />
adidos militares<br />
de mais de trinta países,<br />
autoridades militares locais,<br />
diplomatas e amigos<br />
da aditância, compareceram<br />
ao evento.<br />
Daniel Benzecry toca o shofar na Escola Israelita<br />
Os preparativos para a celebração de<br />
Rosh Hashaná já estão a todo vapor<br />
na EIBSG. Segundo a morá Denise<br />
Weishof: "Iniciamos o chodesh de Elul<br />
tocando shofar todas as manhãs e<br />
como convidados especiais recebemos<br />
os srs. Saadia Cohen e Victor Baras do<br />
minián da Sinagoga. As crianças também<br />
têm praticado bastante nos intervalos<br />
das aulas.<br />
No Gan (Educação Infantil) agradecemos<br />
a visita do dr. Daniel Benzecry, pai<br />
da aluna Deborah do Jardim I, que tocou<br />
o shofar para os alunos da Educação<br />
Infantil. Foi um momento maravilhoso!<br />
Os rabinos Tzvi Beker e Fitche realizarão<br />
na escola um workshop com os alunos<br />
sobre a escrita da Torá, mezuzot e tefilin.<br />
Nesta época de reflexão e revisão de<br />
nossos atos, vale a pena também revisarmos<br />
nossos utensílios sagrados.<br />
O Tashlich da escola será realizado com<br />
pais e alunos em uma cerimônia simbólica<br />
na piscina do CIP, dia 29/09 - véspera<br />
do chag, às 11h30. Logo após, haverá um<br />
lechaim desejando Shaná Tová Umetuká<br />
e um feliz 5769!<br />
No dia 21/9 ás 15 h, a escola realizará<br />
um domingo especial referente a Rosh<br />
Hashaná, convidando pais, alunos, professores<br />
e Kehilá. As atividades serão vivências<br />
em cantos e prometem ser muito<br />
especiais! "
Coluna Coluna Israel, Israel, seu seu povo, povo, sua sua liderança<br />
liderança<br />
Moisés, o nosso Mestre - II<br />
Antônio Carlos Coelho *<br />
Na edição passada comecei a<br />
escrever sobre Moisés, "nosso<br />
mestre". Destaquei seus valores<br />
humanitários e de solidariedade<br />
com os que sofriam sob o jugo dos<br />
feitores egípcios, atitudes que o<br />
levaram a sair do Egito e iniciar<br />
uma nova vida no deserto.<br />
A história nos conta que Moisés<br />
descansava próximo a um<br />
poço, na terra de Midian, quando<br />
ouviu vozes aflitas de mulheres<br />
sendo atacadas por pastores.<br />
Moisés, mais uma vez, agiu em<br />
favor dos mais fracos: as defendeu<br />
e expulsou os malfeitores.<br />
De fato em fato, a cada ação<br />
de Moisés, a sua vida foi ganhando<br />
uma nova forma. Era<br />
príncipe no Egito, depois experimentou<br />
a condição de fugitivo<br />
no deserto e, por fim, acabou<br />
encontrando as sete filhas<br />
de Ruel (Yetró). Acolhido na<br />
casa deste senhor, que era um<br />
chefe tribal na terra de Midian<br />
(ou um sacerdote midianita),<br />
acabou casando com uma das<br />
suas filhas, Tsipora. Deste casamento<br />
nasceu um filho, Gershom,<br />
que quer dizer, "peregrino<br />
em terra estrangeira".<br />
Moisés, casado e com um fi-<br />
lho, permaneceu na casa do sogro,<br />
trabalhando como pastor.<br />
Realmente, a vida de Moisés<br />
mudou muito. De príncipe tornou-se<br />
pastor. Da situação cômoda<br />
e segura de um membro<br />
da família real de uma das maiores<br />
potências da antiguidade,<br />
tornou-se um pastor de cabras<br />
no deserto. O pastor nada porta<br />
consigo, senão um bastão para<br />
apoiar-se e, se for necessário,<br />
defender-se de algum agressor;<br />
e habita em tendas frágeis, próprias<br />
dos nômades do deserto.<br />
Mais uma vez a vida de Moisés<br />
justifica o seu título, "nosso<br />
mestre". Passar da comodidade<br />
e segurança para a fragilidade<br />
das tendas e para o desapego<br />
que o deserto oferece<br />
e, mesmo assim, preservar valores<br />
e fidelidade ao seu D-us,<br />
é a lição do mestre.<br />
Após a destruição do Templo,<br />
Israel foi obrigado a sair da<br />
sua terra. Foi uma saída para sobrevivência.<br />
Habitou em terras<br />
estrangeiras assim como Moisés.<br />
Deixou a comodidade da<br />
terra, da sua agricultura e comércio,<br />
das suas casas e sinagogas,<br />
para viver entre outros<br />
povos e costumes.<br />
Israel, na Diáspora, experi-<br />
* Antônio Carlos Coelho é professor universitário, escritor, diretor do Instituto de Ciência e Fé e colaborador<br />
do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
mentou costumes de povos estranhos<br />
e se submeteu às condições<br />
possíveis de sobrevivência.<br />
Por séculos experimentou a<br />
privação da propriedade e a fragilidade<br />
das vontades políticas<br />
dos governantes e a ira do cristianismo<br />
que, os forçavam a viver<br />
na condição de nômades, vagando<br />
de país a país, desde a<br />
Ásia, à Europa e à América.<br />
E, como o mestre, guardaram<br />
os valores da tradição e os<br />
transmitiram de geração em geração,<br />
preservaram laços profundos<br />
de identidade como povo,<br />
sendo estes, renovados na solidariedade<br />
e nos compromissos<br />
comunitários. A vida judaica preservou,<br />
no seu âmbito, valores<br />
morais e éticos que a manteve<br />
a despeito da insegurança e fragilidade<br />
oferecida pelos países<br />
da europeus.<br />
A cada mudança imposta ao<br />
povo de Israel, uma nova vida<br />
surgia - e com mais vigor - com<br />
uma teimosa insistência pela<br />
continuidade, tanto foi que, em<br />
vinte séculos de história, o pequeno<br />
povo de Moisés permaneceu<br />
integro, contribuindo para a<br />
riqueza das artes, da economia,<br />
das ciências, na terra estrangeira<br />
em que habitassem.<br />
A guarda dos<br />
valores judeus<br />
com a Torá<br />
Violinista<br />
verde de<br />
Chagall -<br />
sobre o<br />
telhado,<br />
representando<br />
a fragilidade<br />
do povo<br />
judeu<br />
Moisés e Tsipora - imagem do filme os Dez Mandamentos,<br />
de Cecil B. De Mille, com Charlton Heston<br />
21
22 (com<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Hamas ameaça mais seqüestros<br />
O chefe político do movimento fundamentalista<br />
Hamas, Khaled Meshaal, ameaçou<br />
seqüestrar outros cidadãos israelenses<br />
caso Israel não liberte os palestinos que<br />
mantêm detidos. "Se nossos inimigos não<br />
libertarem nossos prisioneiros, Gilad Shalit<br />
não será o último israelense capturado",<br />
advertiu Meshaal. Shalit, um cabo do<br />
exército de Israel, foi seqüestrado em<br />
junho de 2006 por um grupo radical terrorista<br />
de Gaza vinculado ao Hamas.<br />
Meshaal, que vive em exílio na capital da<br />
Síria, disse que nas prisões israelenses<br />
há milhares de palestinos detidos. O dirigente<br />
do Hamas se esconde em Damasco<br />
com receio de ser morto em Gaza.<br />
(Ansa e <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>).<br />
Conferência em Roma<br />
VISÃO<br />
Foi realizada no Vaticano, a conferência<br />
"Israel e Santa Sé: reflexões sobre a cultura<br />
judaico-cristã". O evento foi promovido<br />
pelo Pontifício Conselho para a Cultura<br />
e pela Embaixada de Israel junto à<br />
Santa Sé. Um das questões discutidas na<br />
conferência foi a polêmica causada pela<br />
modificação do texto da oração da Sexta-feira<br />
Santa da liturgia pré-conciliar.<br />
Segundo a comunidade judaica internacional,<br />
a oração é ofensiva porque implica<br />
o conceito de "conversão" dos judeus.<br />
O objetivo da relação entre as duas comunidades<br />
é que cada uma conserve a<br />
própria face, sem que esta face seja<br />
agressiva. O embaixador de Israel junto<br />
à Santa Sé, Oded Ben-Hur, apresentou um<br />
projeto comum entre os dois Estados que<br />
inclui temas como a luta contra o antisemitismo<br />
e o terrorismo, intercâmbios<br />
culturais, acadêmicos e, por fim, incentive<br />
as peregrinações, "máxima expressão<br />
do diálogo necessário no Oriente Médio".<br />
(L'Osservatore Romano).<br />
Israel frustra seqüestros do Hezbolá<br />
panorâmica<br />
Os serviços secretos de Israel, em parceria<br />
com órgãos de inteligência de outros<br />
países, evitaram diversos seqüestros<br />
de cidadãos israelenses planejados<br />
para ocorrer em várias partes do mundo,<br />
inclusive na América do Sul. A informação<br />
foi divulgada pela imprensa de<br />
Israel e confirmada pelo ministro da<br />
Defesa, Ehud Barak. Barak não forneceu<br />
detalhes sobre as supostas operações<br />
de inteligência promovidas, mas, de<br />
acordo com o que foi divulgado, estavam<br />
planejados entre cinco e sete seqüestros,<br />
todos atribuídos ao grupo xiita libanês<br />
Hezbolá, ocorreriam no oeste da<br />
África, na América do Norte, na América<br />
do Sul e na Ásia. Os alvos seriam empresários<br />
e representantes do governo,<br />
e os seqüestros teriam como objetivo<br />
vingar a morte de Imad Mugniyah, ocorrida<br />
em fevereiro, na Síria. (Ansa).<br />
informações das agências AP, Reuters, AFP,<br />
EFE, jornais Alef na internet, Jerusalem Post,<br />
Haaretz e IG)<br />
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Seqüestros do Hezbolá II<br />
• Yossi Groisseoign •<br />
Os serviços de segurança israelenses dizem<br />
ter registrado intensa atividade de<br />
membros do grupo xiita no exterior, sobretudo<br />
na América do Sul. Já faz algum<br />
tempo que o governo norte-americano<br />
denuncia a presença de membros do Hezbolá<br />
e outras organizações na região da<br />
Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina<br />
e Paraguai. Alguns setores políticos sulamericanos,<br />
contudo, dizem que é um<br />
argumento usado pelos Estados Unidos<br />
para reforçar sua presença militar na região,<br />
rica em recursos naturais estratégicos.<br />
Na Argentina, na década de 90,<br />
dois atentados realizados no país tiveram<br />
como alvo entidades de representação de<br />
Israel. Em 1992, um carro-bomba explodiu<br />
em frente à Embaixada de Israel,<br />
matando 29 pessoas e deixando mais de<br />
100 feridos. Dois anos depois, um ataque<br />
suicida na sede da Associação Mutual<br />
Israelita Argentina (Amia), fez 85 vítimas<br />
e mais de 200 feridos. (Ansa).<br />
Policiais brasileiros em Israel<br />
Convidados por Israel, dois policiais brasileiros,<br />
o comandante do BOPE-DF, Wilson<br />
Moretto e o capitão Marcos Alexandrino<br />
Vieira, chefe da Secretaria Regional<br />
de Inteligência do Paraná, participam<br />
com colegas policiais de toda a América<br />
Latina do Curso Internacional "Policia e<br />
a Comunidade" que ocorre em Israel no<br />
"Instituto Internacional da Histadrut",<br />
entre 4 e 24 de setembro de <strong>2008</strong>. O<br />
curso aborda a experiência policial israelense<br />
e de policiais de países participantes,<br />
assim como a observação e análise<br />
dos modelos de participação comunitária<br />
executados pela Policia de Israel e de<br />
diversas polícias latino-americanas. No<br />
programa também estão a perspectiva<br />
integral comunitária para o trabalho preventivo,<br />
capacitação da Polícia Comunitária,<br />
inserção da Polícia Comunitária no<br />
sistema educativo, integração de organizações<br />
voluntárias ao trabalho da Polícia,<br />
dentre outros, temas que visam aprimorar<br />
a relação do policial com a sociedade.<br />
(Embaixada de Israel).<br />
Filho de líder do Hamas vira cristão<br />
O filho de um dos líderes mais populares<br />
da organização terrorista Hamas mudouse<br />
para os Estados Unidos e se converteu<br />
ao cristianismo. Em entrevista exclusiva<br />
ao jornal Haaretz, Masab Yousuf, filho do<br />
xeique Hassan Yousef, líder do Hamas da<br />
Margem Ocidental, criticou duramente o<br />
Hamas, elogiou Israel e disse esperar que<br />
seu pai terrorista abra os olhos para o cristianismo.<br />
"Sei que estou colocando minha<br />
vida em perigo e estou em risco de perder<br />
meu pai, mas espero que ele entenderá<br />
isso. Talvez um dia poderei voltar à Palestina<br />
e para Ramala", disse Masab. Ele de-<br />
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clarou que no passado ajudou seu pai nas<br />
atividades do Hamas, mas agora ele tem<br />
amor por Israel e lamenta a existência do<br />
Hamas. (Haaretz/WND)<br />
Filho de líder do Hamas II<br />
Prosseguindo, afirmou: "Mandem minhas<br />
saudações a Israel. Sinto falta desse país.<br />
Respeito Israel e o admiro como um país.<br />
Vocês judeus precisam estar cientes: Vocês<br />
nunca, mas nunca terão paz com o<br />
Hamas. O islamismo, como a teologia que<br />
os guia, não permitirá que eles cheguem<br />
a um acordo de paz com os judeus. Eles<br />
crêem que a tradição diz que o profeta<br />
Maomé lutou contra os judeus e que portanto<br />
eles devem continuar a lutar contra<br />
eles até a morte". Masab criticou fortemente<br />
a sociedade palestina como<br />
"uma sociedade que santifica a morte e<br />
os terroristas suicidas. Na cultura palestina,<br />
um terrorista suicida se torna um<br />
herói, um mártir". O pai de Masab cumpre<br />
sentença de prisão em Israel por planejamento<br />
ou envolvimento em múltiplos<br />
ataques terroristas, inclusive a explosão<br />
suicida em 2002 no restaurante da Universidade<br />
Hebraica de Jerusalém, onde<br />
nove estudantes e funcionários foram<br />
mortos. (Haaretz/WND).<br />
Olmert vai renunciar<br />
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert,<br />
garantiu que vai renunciar ao cargo<br />
assim que seu partido Kadima eleger<br />
um novo líder, na próxima semana. "Imediatamente<br />
depois que um novo líder for<br />
escolhido para o Kadima, em 17 de setembro,<br />
planejo renunciar ao meu cargo<br />
e vou dizer ao presidente que a pessoa<br />
que for a eleita será digna de estabelecer<br />
um novo governo", declarou o primeiro-ministro<br />
de Israel. (Agências).<br />
Brasil inaugura nova embaixada em Israel<br />
Desde o dia 11/9, a Embaixada do Brasil<br />
em Israel está atendendo na Rua Yehuda<br />
HaLevi, número 23, 30º andar, Tel-Aviv, Israel,<br />
código postal 65136. De acordo com<br />
o embaixador Pedro Motta Pinto Coelho,<br />
"a mudança, para instalações novas e<br />
modernas, reflete o novo momento das<br />
relações do Brasil com Israel que exigem,<br />
pela sua dinâmica e crescimento, condições<br />
ainda mais adequadas de trabalho e<br />
representação". Os números telefônicos,<br />
de fax e endereços eletrônicos permanecem<br />
inalterados. (Jornal Alef).<br />
Grande negócio<br />
A empresa israelense Gazit Globe comprou<br />
por R$ 35 milhões o "Italian Mall",<br />
um shopping center de 16,3 mil metros<br />
quadrados de área bruta locável em Caxias<br />
do Sul. O "Italian Mall" está ainda<br />
em construção e deve estar concluído em<br />
2009. Sediada em Tel-Aviv, a Gazit é terceira<br />
maior empresa do setor imobiliário<br />
de Israel em valor de mercado. Em março,<br />
a empresa fez a sua maior aquisição<br />
ao comprar, por 800 milhões de euros, o<br />
controle da Meinl European Land, da Áustria,<br />
em sociedade com um fundo de in-<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
vestimentos do Citigroup. (Jornal Alef).<br />
Holocausto e Anti-semitismo<br />
O grupo de pesquisa "Holocausto e Anti-<br />
Semitismo", do Laboratório de Estudos<br />
sobre a Intolerância da Universidade de<br />
São Paulo, realizará, de 2 de outubro a 1º<br />
de dezembro, o curso on-line "Panorama<br />
Histórico do Holocausto", sob coordenação<br />
do professor Samuel Feldberg. Tratase<br />
de curso gratuito, com aulas em ambiente<br />
web-class, fóruns semi-presenciais<br />
e certificado pela USP. Serão disponibilizados,<br />
para as aulas, artigos publicados<br />
em formato PDF/HTML, trechos de filmes,<br />
poemas, canções, fotografias e ilustrações,<br />
cópias de textos e documentos de<br />
época. No final de cada bloco de aulas,<br />
haverá ainda chats para consulta ao vivo<br />
com professores participantes. As inscrições<br />
deverão ser feitas pelo sistema imoodle,<br />
no Portal "Rumo à Tolerância", até o<br />
dia 30 de setembro. (Jornal Alef).<br />
Restituição solicitada<br />
Os herdeiros do banqueiro judeu de Berlim,<br />
Paul von Mendelssohn-Bartholdy,<br />
pediram a restituição de dois quadros de<br />
Pablo Picasso a dois museus de Nova<br />
York. Eles alegam que as obras, avaliadas<br />
em US$ 200 milhões, cada uma, foram<br />
confiscadas pelos nazistas e pedem<br />
que o Museu de Arte Moderna (MoMA)<br />
devolva a obra "Jeune homme et cheval"<br />
e o museu Guggenheim o quadro "Le<br />
moulin de la Galette". (Jornal Alef).<br />
Kehilá do PR tem nova diretoria<br />
Em assembléia realizada dia 3/9 foi reeleita<br />
Ester Proveller para presidente da<br />
Kehilá do Paraná. Os novos integrantes:<br />
1º vice-presidente, Jaime Emílio Galperin;<br />
2ª vice-presidente, Anais Malamut; Secretário,<br />
Szyja Lorber; diretor adm. financeiro,<br />
Benny Slud; diretor adjunto adm. financeiro,<br />
Claúdio Hoffmann; diretor de patrimônio<br />
e segurança, Fernando Brafmann;<br />
diretor religioso, Jayme Nudelman; diretor<br />
de educação, André Lissner; diretora<br />
de cultura, Sara Schulman; diretora beneficente<br />
Dora Miller; diretor social. José<br />
Jakobson; 2ª diretora social, Sandra Jakobson;<br />
diretor de esportes, Rogério Kriger;<br />
2º diretor de esportes Márcio Feldman;<br />
diretor de juventude Miguel Zindeluk; diretora<br />
de relações públicas e divulgação,<br />
Ilana Lerner Hoffmann e diretora jurídica<br />
Marly Kunifas. Foram eleitos ainda os novos<br />
integrantes do Conselho Deliberativo<br />
da Kehilá: presidente, Eduardo Schulman;<br />
vice Gabriel Schulman; 1º secretário, Szyja<br />
Lorber; 2ª secretária Sara Schulman. Os<br />
membros são: Ari Zugman, Gerson Raskin,<br />
Helio Rotemberg, Isac Weishof, Martha<br />
Schulman, Miguel Gellert Krigsner, Nelson<br />
Barbalat, Roland Hasson, Sergio Wagner<br />
Fisbein, Silviane Sasson, Ester Proveller,<br />
Jaime Emilio Galperin, Anais Malamut,<br />
Jayme Nudelman, André Lissner, Dora Miller,<br />
Sara Schulman e Fani Lerner. Suplentes:<br />
Ralf Paciornik, Helio Schulman, Simone<br />
Soifer, Rosa Krieger, Fani Zugman e Etel<br />
Lerner. Conselho Fiscal: Leon Dinner Jakubowicz,<br />
Paulo Wassermann e Henrique Lerner;<br />
Suplentes Julio Zugman, Miguel Zindeluk<br />
e Ilana Lerner Hofmann. (Kehilá).
* Pilar Rahola é<br />
conhecida jornalista,<br />
escritora e tem programa<br />
na televisão espanhola.<br />
Foi vice-prefeita de<br />
Barcelona, deputada no<br />
Parlamento Europeu e<br />
deputada no Parlamento<br />
espanhol. Publicado no<br />
jornal La Vanguardia<br />
(Barcelona). Tradução:<br />
Szyja Lorber.<br />
LÍBANO LÍBANO<br />
LÍBANO<br />
Pilar Rahola *<br />
uma de suas magníficas crônicas<br />
de Bogotá, o jornalista<br />
Joaquim Ibarz recorria às<br />
declarações de um ex-guerrilheiro<br />
e agora analista venezuelano,<br />
Martin Americas,<br />
que dizia: "O fortalecimento de Uribe<br />
e o brilhante resgate de Ingrid significar<br />
uma derrota clara para os planos<br />
de Chavez de exportar a sua fantasmagórica<br />
revolução". Com várias<br />
nuances, esta reflexão é o eixo central<br />
das análises que estão sendo feitas<br />
a partir do continente americano,<br />
e que sublinham, como se se tratasse<br />
de uma competição, quem ganhou<br />
e quem perdeu com a libertação de<br />
Ingrid Betancourt.<br />
Sem dúvida, a espetacular libertação<br />
da seqüestrada mais simbólica<br />
das FARC fez subir a popularidade<br />
do presidente Uribe e tem deixado<br />
no chão todos aqueles que apostaran<br />
na ambigüidade ou diretamente,<br />
através do apoio ao grupo guerrilheiro.<br />
Do ponto de vista geopolíti-<br />
co, então, Ingrid Betancourt deu pontos<br />
a Uribe, que tem mantido posições<br />
de grande inteligência estratégica,<br />
e que teve um êxito histórico,<br />
só comparável ao que Alberto Fujimori<br />
tinha com o Sendero Luminoso,<br />
antes de se tornar um déspota.<br />
Também trouxe vantagens a Nicolas<br />
Sarkozy nas suas horas mais baixas.<br />
Sem dúvida, para a França que<br />
viu chorar a família de Ingrid Betancourt,<br />
que ouviu a bela carta que enviou-lhe<br />
seu filho, que ama ser o centro<br />
do mundo, a chegada de Ingrid em<br />
Paris, foi um evento exultante, que<br />
traz de volta algo da maltratada autoestima<br />
francesa.<br />
E, com toda a discrição, algo do<br />
êxito popular também alcançou os serviços<br />
secretos israelenses e à inteligência<br />
norte-americana, ambas notoriamente<br />
envolvidas na operação de<br />
salvamento, conforme li na imprensa<br />
do continente. Estes são os grandes<br />
ganhadores, juntamente com os reféns,<br />
as famílias e o próprio povo colombiano,<br />
que está comemorando o<br />
maciçamente a libertação.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
As vozes do seqüestro<br />
Quem são os perdedores, para<br />
além das FARC, que obviamente sofreram<br />
um golpe quase fatal? Sem dúvida,<br />
o Triângulo das Bermudas do bolivarismo,<br />
e que têm em Chavez e Correa<br />
seus dois líderes extravagantes. As<br />
piruetas que Chavez está fazendo estes<br />
dias, esquecendo-se das atrocidades<br />
que disse sobre Uribe, enviandolhe<br />
abraços virtuais, só são comparáveis<br />
ao espantalho cubano de Fidel,<br />
que agora diz que as FARC são boas,<br />
mas manter seqüestrados, nem tanto.<br />
Belo espetáculo, do manual do bom<br />
demagogo, desses dois dinossauros<br />
em suas horas de decadência.<br />
Mas merece uma atenção especial,<br />
no clube dos derrotados, o papel<br />
de Rafael Correa, o presidente do<br />
Equador, cujo envolvimento com as<br />
FARC ficou visívelmente desnudado<br />
com as informações contidas no computador<br />
de Raul Reyes, e ratificado<br />
pela Interpol. As declarações feitas<br />
por Correa, depois da libertação de<br />
Betancourt, pareceram-me as mais<br />
pornográficas de tudo o que se disse<br />
nestes dias, com a exceção de um co-<br />
23<br />
mentarista da televisão venezuelana<br />
- que ouvi pela Univision - que tachou<br />
Ingrid Betancourt de "lacaia de Uribe"<br />
porque agradecera ao presidente<br />
sua libertação. Em outras palavras, a<br />
pobre Ingrid era culpada de ter se deixado<br />
libertar. Mas no espectáculo da<br />
demagogia e da falta de humanidade,<br />
Correa brilhou com luz própria,<br />
provavelmente encurralado pelas evidências<br />
de seu envolvimento com as<br />
FARC. A única coisa que preocupou o<br />
presidente, na libertação, foram as<br />
"falhas" que a guerrilha teve, e que<br />
dão publicidade a Uribe. Pobre Equador,<br />
em tais mãos!<br />
Não queria terminar sem recolher<br />
o testemunho que a Rádio Caracol lança<br />
a partir de 'Vozes do seqüestro',<br />
fundada pelo ex-seqüestrado Herbin<br />
Hoyos Medina. Ainda há 700 pessoas<br />
seqüestradas, extorquidas como mera<br />
mercadoria. As FARC estão agonizando,<br />
mas ainda são uma máquina de<br />
sofrimento, tortura e morte. Na libertação<br />
de Ingrid Betancourt, a melhor<br />
homenagem é, pois, lembrar as centenas<br />
de Ingrids remanescentes.<br />
"Atos terroristas" são cultuados em museu<br />
A multidão de crianças se reúne em<br />
torno da sala envolta em vidro, ansiosa<br />
para contemplar as roupas ensangüentadas<br />
do mártir. O cinto dele está aqui, e os<br />
sapatos que ele usava ao morrer, marcados<br />
por estilhaços. A mesa cambaia na<br />
qual ele planejava operações militares<br />
ainda abriga sua caixa de lápis, sua bandeja<br />
de correspondência, seu celular.<br />
"Que Alá mate aquele que o matou",<br />
profere uma velha, enxugando as lágrimas<br />
que escorrem quando ela contempla<br />
através do vidro.<br />
O morto que atrai tamanha veneração<br />
é Imad Mugniyah, o sorrateiro comandante<br />
do Hezbolá. Até sua morte em um atentado<br />
por carro bomba na Síria, em fevereiro,<br />
ele era virtualmente desconhecido<br />
aqui, e seu papel de liderança no grupo<br />
militante xiita estava envolto em sigilo.<br />
Mas desde então o Hezbolá o vem descrevendo<br />
como um dos grandes líderes militares<br />
na luta contra Israel.<br />
O grupo agora inaugurou uma mostra<br />
em honra de Mugniyah, acusado por<br />
muitos no Ocidente de ter liderado atentados<br />
a bomba devastadores, seqüestros<br />
de pessoas e de aviões nos anos 80 e<br />
90. Seu rosto severo, barbado, domina a<br />
área de estacionamento do local em que<br />
a mostra está instalada em Nabatiyeh,<br />
uma cidade no sul do Líbano, ladeado por<br />
faixas que o exaltam como "o líder das<br />
duas vitórias" - a retirada israelense do<br />
sul do Líbano em 2000 e a guerra contra<br />
Israel em 2006.<br />
A exposição, inaugurada em 15 de<br />
abril, é o mais ambicioso esforço multimídia<br />
que o Hezbolá já empreendeu, e<br />
tem por objetivo dramatizar o amargo<br />
conflito entre o grupo e Israel no segundo<br />
aniversário da mais recente guerra<br />
entre ambos. Estudantes das escolas locais<br />
não param de chegar ao longo do dia,<br />
absorvendo a mensagem cuidadosamente<br />
ajustada de resistência heróica. À noite,<br />
espetáculos de luzes e laser iluminam<br />
as armas e os tanques, e as multidões<br />
que não param de chegar têm mantido a<br />
exposição aberta até a uma da manhã.<br />
À primeira vista, a exposição quase<br />
poderia ser confundida com um museu ao<br />
ar livre. O toldo verde da entrada é uma<br />
imensa réplica do boné que Mugniyah<br />
sempre usava, e os visitantes passam por<br />
uma "ponte da vitória" construída em parte<br />
com projéteis de artilharia. Mas logo a<br />
mostra toma um tom mais bruto.<br />
Um falso esqueleto vestindo capacete<br />
e um uniforme rasgado é identificado<br />
por uma placa que diz "o invencível soldado<br />
israelense". Há tanques israelenses<br />
capturados posicionados em ângulos inesperados,<br />
com as escotilhas quebradas e<br />
queimadas. Enquanto os visitantes se<br />
aglomeram diante das diversas peças, a<br />
música da trilha sonora ressoa pelo pavilhão,<br />
misturada a sons de bombas e metralhadoras<br />
e a discursos belicosos.<br />
Também há uma gama impressionante<br />
de mísseis antitanque e artilharia do<br />
Hezbolá, todos identificados cuidadosa-<br />
mente. Há até mesmo vitrines de exposição<br />
contendo óculos, roupas e as cartas<br />
que portavam dois outros importantes líderes<br />
do movimento, ambos mortos.<br />
Mas o cerne fantasmagórico da exposição<br />
é a sala envolta em vidro que mostra<br />
as posses pessoais de Mugniyah. O<br />
tapete que ele usava em suas orações<br />
está lá, como seus chinelos e sua escova<br />
de cabelos - quase como se os objetos<br />
fossem as relíquias de um santo.<br />
Em uma tarde recente, a multidão<br />
de visitantes observava com admiração<br />
pelo vidro, e algumas pessoas choravam<br />
abertamente.<br />
"Vejam, lá está sua arma", gritou um<br />
menino que usava um uniforme militar,<br />
puxando os pais pelas mãos para que observassem<br />
de mais perto.<br />
Um jovem guia do Hezbolá, postado ao<br />
lado, explicou que a arma era um AK-47<br />
modificado, mais poderoso e capaz de disparar<br />
mais rápido que o modelo padrão. "Ele<br />
não ia a lugar algum sem a arma - era parte<br />
de sua alma", disse o guia, que como os<br />
demais militantes que trabalham na exposição<br />
não forneceu seu nome, respeitando<br />
as normas do Hezbolá quanto ao sigilo.<br />
O momento é tenso no Líbano. No<br />
mês passado, o país formou um novo governo<br />
de transição no qual a oposição,<br />
liderada pelo Hezbolá, dispõe de assentos<br />
suficientes no gabinete para exercer<br />
poder de veto. Novas eleições estão<br />
marcadas para o ano que vem.<br />
Membros do Hezbolá recentemente<br />
renovaram suas advertências de que retaliarão<br />
contra Israel, a quem atribuem a<br />
culpa pela morte de Mugniyah. De fato,<br />
semana passada jornais israelenses reportaram<br />
que agentes dos serviços de<br />
segurança do país impediram pelo menos<br />
cinco tentativas de seqüestros de cidadãos<br />
israelenses em outros países.<br />
Israel nega qualquer participação na<br />
morte de Mugniyah, que aconteceu em<br />
Damasco, a capital da Síria. Mas agentes<br />
israelenses e ocidentais passaram 25<br />
anos em perseguição a Mugniyah, a quem<br />
era atribuída a culpa por uma série de<br />
atentados e seqüestros, entre os quais o<br />
atentado suicida contra um quartel dos<br />
Fuzileiros Navais norte-americanos em<br />
Beirute, que resultou na morte de 241<br />
militares norte-americanos em 1983.<br />
Acredita-se que Mugniyah passasse<br />
boa parte de seu tempo no Irã e na Síria,<br />
ainda que seus paradeiros permanecessem<br />
em geral desconhecidos. Se bem que<br />
a exposição sirva de fato como prova do<br />
novo status de Mugniyah como herói público<br />
do Hezbolá, também oferece prova<br />
dos esforços cada vez mais sofisticados<br />
do grupo para conquistar os corações e<br />
mentes de uma nova geração.<br />
O Hezbolá já havia organizado exposições<br />
semelhantes no passado, especialmente<br />
uma reprodução de uma casamata<br />
militar que foi aberta em Beirute um<br />
ano atrás, com o título "A Teia da Aranha",<br />
para celebrar o primeiro aniversário<br />
da guerra de 2006.
24<br />
* Daniel Pipes é uma das<br />
maiores autoridades sobre<br />
o Oriente Médio e o Islã. É<br />
diretor do Middle East<br />
Forum, colunista<br />
premiado dos jornais New<br />
York Sun e The Jerusalem<br />
Post, é autor de doze<br />
livros. Publicado no<br />
Jerusalem Post dia 17 de<br />
abril de <strong>2008</strong>. O original<br />
em inglês A Democratic<br />
Islam? Está em http://<br />
pt.danielpipes.org/article/<br />
5530<br />
Tradução: Joseph Skilnik.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Daniel Pipes *<br />
xiste a impressão de que<br />
os muçulmanos sofrem<br />
desproporcionalmente da<br />
liderança de ditadores, tiranos,<br />
presidentes não-eleitos,<br />
reis, emires e de vários<br />
outros homens-fortes - o que está rigorosamente<br />
certo. Uma análise cuidadosa<br />
realizada por Frederic L. Pryor<br />
da Faculdade de Swarthmore no Middle<br />
East Quarterly ("Os Países Muçulmanos<br />
São Menos Democráticos?")<br />
concluiu que "na sua maioria, tirando<br />
os países mais pobres, o islã está associado<br />
com menos direitos políticos".<br />
O fato de que a maioria dos países<br />
muçulmanos são menos democráticos,<br />
nos instiga a concluir que a religião<br />
do islã, seu fator comum, é em si<br />
incompatível com a democracia.<br />
Eu discordo desta conclusão. A difícil<br />
situação muçulmana de hoje, melhor<br />
dizendo, reflete mais as circunstâncias<br />
históricas do que as características<br />
inatas do Islã. Colocando diferentemente,<br />
o Islã, como todas as religiões<br />
pré-modernas, é anti-democrática<br />
em espírito. Porém, não menos do<br />
que as demais, têm o potencial para<br />
evoluir na direção democrática.<br />
Um Islã democrático?<br />
Tal evolução não é fácil para nenhuma<br />
religião. No caso cristão, a batalha<br />
para limitar o papel político da<br />
Igreja Católica foi dolorosamente prolongada<br />
por muito tempo. Se a transição<br />
teve seu princípio quando Marsiglio<br />
de Pádua publicou a Defensor pacis<br />
no ano de 1324, demorou mais seis<br />
séculos inteiros até que a Igreja se<br />
reconciliasse com a democracia. Por<br />
que a transição do Islã deveria ser mais<br />
tranqüila ou mais fácil?<br />
Fazer com que o Islã seja consistente<br />
com os costumes democráticos<br />
requererá mudanças profundas na sua<br />
interpretação. Por exemplo, a lei antidemocrática<br />
do Islã, a Shari'a, encontra-se<br />
no âmago da questão. Elaborado<br />
há mais de um milênio, prevê regras<br />
autocráticas e a sujeição à submissão,<br />
enfatiza a vontade de D-us<br />
acima da soberania do povo e encoraja<br />
a violenta jihad a fim de ampliar as<br />
fronteiras do Islã. Mais do que isso,<br />
privilegia anti-democraticamente os<br />
muçulmanos sobre os não-muçulmanos,<br />
os homens sobre as mulheres e<br />
os homens livres sobre os escravos.<br />
Para que os muçulmanos estabeleçam<br />
democracias que funcionem em<br />
sua plenitude, eles têm que basicamente<br />
rejeitar os aspectos públicos da<br />
Shari'a. Atatürk o fez frontalmente na<br />
Turquia, outros porém apresentaram<br />
abordagens mais sutis. Mahmud<br />
Muhammad Taha, um pensador sudanês,<br />
eliminou as leis públicas islâmicas,<br />
fundamentalmente reinterpretando<br />
o Alcorão.<br />
Os esforços de Atatürk e as idéias<br />
de Taha implicam que o Islã está em<br />
constante evolução e entendê-lo como<br />
imutável é um erro grave. Ou, na metáfora<br />
viva de Hassan Hanafi, professor<br />
de filosofia da Universidade do<br />
Cairo, o Alcorão "é um supermercado,<br />
onde se leva o que se quer e se deixa<br />
o que não se quer".<br />
O problema do Islã é menos ser<br />
anti-moderno e mais o fato do seu processo<br />
de modernização quase que nem<br />
ainda ter começado. Os muçulmanos<br />
podem modernizar sua religião, mas<br />
isso requer mudanças enormes: Livrarse<br />
da execução da jihad a fim de impor<br />
o governo muçulmano, da cidadania<br />
de segunda-classe para não-muçulmanos<br />
e da pena de morte para a<br />
blasfêmia ou para a apostasia. Incluir<br />
liberdades individuais, direitos civis,<br />
participação política, soberania popular,<br />
igualdade perante a lei e eleições<br />
representativas.<br />
Contudo, dois obstáculos estão no<br />
caminho destas mudanças. Especialmente,<br />
no Oriente Médio afiliações<br />
tribais permanecem sendo de suprema<br />
importância. Explicado por Philip<br />
Carl Salzman no seu recente livro, Cultura<br />
e Conflito no Oriente Médio, estes<br />
vínculos criam um complexo padrão<br />
de autonomia tribal e centralismo<br />
tirânico que obstrui o desenvolvimento<br />
do sistema constitucional, o<br />
reino da lei, da cidadania, da igualdade<br />
dos sexos e os demais pré-requisitos<br />
de um estado democrático. Somente<br />
quando este sistema social arcaico<br />
baseado na família for despachado,<br />
poderá a democracia produzir reais<br />
progressos no Oriente Médio.<br />
Globalmente, o poderoso e convincente<br />
movimento islâmico obstrui a<br />
democracia. Busca o oposto da reforma<br />
e da modernização - em outras<br />
palavras a reafirmação da Shari'a na<br />
sua totalidade. Um jihadista como<br />
Osama bin Laden pode especificar<br />
esta meta mais explicitamente do que<br />
um político governante como o primeiro-ministro<br />
Recep Tayyip Erdogan da<br />
Turquia, mas ambos buscam criar uma<br />
ordem totalmente anti-democrática,<br />
se não totalitária.<br />
Os islâmicos respondem de duas<br />
maneiras à democracia. Primeiro, eles<br />
a condenam como não-islâmica. O<br />
criador da Irmandade Muçulmana, Hasan<br />
al-Banna considera a democracia<br />
uma traição aos valores islâmicos. O<br />
teórico da Irmandade, Sayyid Qutb rejeita<br />
a soberania do povo, assim como<br />
Abu al-A'la al-Mawdudi, fundador do<br />
Jamaat-e-Islami, do Partido Político do<br />
Paquistão. Yusuf al-Qaradawi, o imã<br />
da TV Al-Jazeera, afirma que eleições<br />
são heréticas.<br />
Apesar deste desprezo, os islâmicos<br />
estão ansiosos em usar eleições<br />
para chegar ao poder e se mostraram<br />
hábeis conquistadores de votos; até<br />
mesmo uma organização terrorista (Hamas)<br />
ganhou uma eleição. Isto não os<br />
faz serem democráticos, mas indica sua<br />
flexibilidade tática e sua determinação<br />
em chegar ao poder. Como Erdogan<br />
explicou de forma reveladora, "a democracia<br />
é como um bonde. Quando você<br />
chega na sua estação, você desce".<br />
Trabalho duro pode um dia fazer o<br />
Islã se tornar democrático. Enquanto<br />
isso, o islamismo representa a maior<br />
força anti-democrática do mundo.
Irã tem a chave do que acontece<br />
em Gaza, no Líbano e na Síria<br />
Eduard Yitzhak *<br />
A história se repete no Líbano. A evolução<br />
da situação do país dos cedros se assemelha<br />
à que prevaleceu no final dos anos<br />
1960, com o denominador comum do papel<br />
desestabilizador da Síria no Líbano,<br />
com a incorporação do Irã como potência<br />
emergente e controladora da Síria, do Hezbolá<br />
e do Hamas.<br />
A Síria nunca reconheceu a independência<br />
de seu vizinho ocidental, como<br />
o mundo árabe tampouco reconheceu<br />
a independência de Israel, o país e pátria<br />
dos judeus.<br />
Até agora, a Síria recusou-se a estabelecer<br />
relações diplomáticas com o Líbano,<br />
nem houve troca de embaixadores, nem<br />
traçado de suas fronteiras.<br />
O comportamento da Síria para com seu<br />
vizinho era de total ingerência através de<br />
seu exército ocupante durante muito tempo<br />
e agora pelo tecido de suas amplas redes<br />
com os diferentes grupos libaneses.<br />
A Síria sempre manipulou os seus<br />
aliados libaneses, jogando com as contradições<br />
confessionais libanesas, com<br />
o fator árabe-palestino (a Síria considera<br />
- com a total aquiescência dos "palestinos"<br />
que o território israelense é<br />
parte da Grande Síria), e emprega o terrorismo,<br />
o exército e as pressões econômicas<br />
para controlar o Líbano.<br />
Desde a Revolução Islâmica do Irã<br />
em 1979, a Síria (de maioria sunita e governada<br />
pela minoria alauíta, ramo heterodoxo<br />
dos xiitas) foi dependendo<br />
cada vez mais do Irã e com a queda do<br />
Muro de Berlim e do comunismo soviético,<br />
o regime dos mulás substituiu a<br />
outrora influência de Moscou.<br />
Durante os anos da ocupação do Líbano,<br />
a Síria subtraiu mais de 35 bilhões de<br />
dólares que foram transferidos para o partido<br />
Baas (este dinheiro representa 80% da<br />
dívida externa libanesa). Através de atentados,<br />
Damasco foi eliminando os deputados<br />
opositores libaneses.<br />
O regime baassista (nacionalista pan-<br />
arabista e socialista de Damasco) apresenta<br />
uma quebra econômica que é favorecida<br />
pelo Irã, a nova potência emergente no<br />
Oriente Médio. O Irã dirige a vontade política<br />
da Síria e move diretamente os fios do<br />
Hezbolá e do Hamas.<br />
A obsessão patológica do regime de<br />
Teerã é a destruição de Israel e o controle<br />
hegemônico do mundo islâmico. O<br />
Irã emprega simultânea e alternadamente<br />
o Hezbolá e o Hamas em seus<br />
embates contra Israel.<br />
Há poucos dias, os redatores do jornal<br />
de Londres Al-Sharq Al-Awsat e um<br />
jornalista do portal reformista<br />
www.metransparent.com criticaram o<br />
Hamas, acusando-o de trazer sofrimento<br />
desnecessário ao povo palestino através<br />
de sua incompetência militar e política<br />
e inclusive com a estupidez.<br />
O editor do portal árabe liberal Aafaq,<br />
Omran Salman, publicou em 9.1.<strong>2008</strong><br />
um artigo analisando os recentes desdobramentos<br />
no Oriente Médio através<br />
do prisma do conflito Estados Unidos-<br />
Irã e argumentando que a hegemonia<br />
iraniana sobre a região estava se tornando<br />
uma realidade.<br />
"A guerra do Líbano… anunciou o nascimento<br />
de uma nova era na região"… "Pela<br />
primeira vez em décadas, os EUA parecem<br />
incapazes de influir nos eventos no Oriente<br />
Médio, e já não têm a capacidade de castigar<br />
ou premiar a nenhum estado, tal como<br />
sempre o fazia. Ao mesmo tempo, o Irã e<br />
seus aliados apareciam como se estivessem<br />
se preparando para tomar a iniciativa,<br />
ambos na região do Golfo e no Oriente<br />
Médio em geral. Assim entramos na era da<br />
hegemonia iraniana no Oriente Médio".<br />
O Irã é governado por um regime islâmico<br />
iluminado e totalitário cujo objetivo<br />
final é impor o Islã, de tipo xiita, em toda a<br />
orbe, para o que considera imprescindível<br />
a destruição de Israel, a reislamização de<br />
Al-Andalus, a conquista de Roma (Europa)<br />
e o Vaticano, graças à ajuda do Mahdi, o<br />
Imã Oculto, que com a espada do Islã vencerá<br />
e dominará todos os infiéis.<br />
* Eduard Yitzhak é escritor e um dos principais colaboradores do website Es-Israel<br />
(www.es-israel.org), parceiro do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
25<br />
Brasileira que o Hezbolá<br />
queria impedir de sair do Líbano<br />
volta para sua família<br />
A paranaense da cidade de Matinhos,<br />
Nariman Osman Chiah chegou finalmente<br />
à casa dos pais, naquela cidade, no<br />
fim da manhã de quinta-feira 11/9. Ela foi<br />
recebida com festa por parentes e amigos,<br />
após ter conseguido escapar do Líbano,<br />
com o filho de 6 anos. Nariman, que<br />
está grávida de uma menina, foi ameaçada<br />
de morte pelo marido libanês, que<br />
também a surrava e ao menino.<br />
Nariman desembarcou às 10h30 de<br />
11/9 no Aeroporto Internacional Afonso<br />
Pena, em São José dos Pinhais, na Região<br />
Metropolitana de Curitiba, depois<br />
de mais de dois meses de fuga pelo<br />
Oriente Médio. Logo depois, ela reencontrou<br />
os familiares, no saguão do aeroporto.<br />
O encontro foi bastante emocionado.<br />
Pelo menos dez pessoas da família<br />
foram ao aeroporto recebê-la.<br />
Nariman chegou ao Brasil, por volta<br />
das 7h da manhã de quinta-feira, no Aeroporto<br />
de Cumbica, em Guarulhos, na<br />
Grande São Paulo. A jovem fugiu do marido,<br />
com quem morava no Líbano, e ultimamente<br />
estava na Embaixada do Brasil<br />
em Damasco, na Síria, onde conseguiu<br />
autorização para viajar. Ela saiu do<br />
aeroporto de Istambul, na Turquia, às 13<br />
(horário de Brasília) de quarta-feira, 10/<br />
9 com destino a Milão, na Itália.<br />
Fuga<br />
Fuga<br />
Nariman fez o primeiro contato com<br />
a embaixada brasileira no Líbano no dia<br />
21 de julho. Como a embaixada não pôde<br />
fazer nada, por causa das leis do país,<br />
ela começou a planejar a fuga. Primeiro<br />
refugiou-se numa ONG que protege mulheres<br />
oprimidas. De lá, resolveu partir<br />
para Damasco, na Síria, onde a embaixada<br />
brasileira conseguiu ajuda-la.<br />
Na primeira tentativa de deixar o país<br />
de avião, ela foi barrada. O marido, com<br />
algumas ligações com o Hezbolá, grupo<br />
terrorista que no Líbano também atua<br />
como partido político com ingerência em<br />
diversos setores do governo, como o aeroporto<br />
de Beirute, conseguiu que um<br />
"um tribunal religioso" emitisse um "documento"<br />
que impedia sua saída com<br />
Nariman e o filho finalmemnte conseguiram voltar<br />
para casa após meses de sofrimento no Líbano<br />
seu filho de volta para o Brasil. Foi então<br />
que a jovem decidiu seguir por terra.<br />
Metade do caminho foi feito de carro<br />
e a outra metade a pé. "A pior parte foi<br />
a caminhada. Meia hora no sol, com<br />
medo, atravessando a fronteira", conta.<br />
A fuga aconteceu na sexta-feira, 5/9,<br />
e ela chegou à embaixada em Damasco<br />
no sábado, 6/9. No período em que ficou<br />
lá, Nariman conta que chegou a ser procurada<br />
pelo marido. "Ele me procurou,<br />
ligou lá, mas nunca soube onde eu estava,<br />
ninguém falou."<br />
Agora, de volta ao Brasil, a jovem<br />
teme apenas pela segurança de seu filho.<br />
"Aqui no Brasil não tenho medo que<br />
ele possa fazer algo contra mim. Vou<br />
apenas tomar bastante cuidado com o<br />
meu filho", explicou. "Ele não está entendendo<br />
tudo, está meio assustado.<br />
Mas eu acho que daqui em diante vai<br />
ser melhor, ele vai ter uma vida melhor."<br />
O marido de Nariman teve prisão preventiva<br />
decretada, em Guarapuava, no Paraná<br />
há cerca de dois meses, por tráfico<br />
ilegal de mercadorias do Paraguai. E também<br />
há suspeitas de tráfico de drogas.<br />
Na chegada ao aeroporto, muitas pessoas<br />
abordaram Nariman e elogiaram sua<br />
coragem, apontando-a como um símbolo<br />
para as mulheres que sofrem de violência<br />
doméstica. "Não é fácil sair de uma vida<br />
dessas, mas eu mostrei que é possível.<br />
Tive muita coragem", afirmou. "É muito<br />
emocionante ser vista como um símbolo.<br />
Eu sempre confiei em D-us que ia voltar."
26<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
O jornalista paquistanês Tashbih<br />
Sayyed<br />
* Tashbih Sayyed é<br />
acadêmico, escritor e<br />
jornalista paquistanês,<br />
autor e editor do jornal<br />
Our Times, do Paquistão.<br />
Entre 1967-1980 trabalhou<br />
na TV paquistanesa e era<br />
locutor conhecido. Foi<br />
colunista regular de<br />
jornais nos EUA,<br />
Paquistão, Alemanha e<br />
Índia.<br />
Um muçulmano em terra judaica<br />
Numa viagem a Israel, um jornalista muçulmano vê claramente uma cadeia de mentiras<br />
Tashbih Sayyed *<br />
uando embarquei com minha<br />
esposa Kiran o vôo da El-Al LY<br />
0008 com destino a Tel Aviv em<br />
14 de novembro de 2005, minha<br />
mente estava ocupada organizando<br />
e reorganizando a<br />
lista de coisas que tinha intenção<br />
de obter. Queria aproveitar minha<br />
primeira visita a Israel para sentir a<br />
força que têm os judeus ao<br />
não ceder ante as forças do<br />
mal, depois de mil anos de<br />
anti-semitismo. Não eram<br />
os sacrifícios de Israel o<br />
que eu queria pesquisar,<br />
mas os fundamentos da<br />
determinação israelense<br />
de viver em paz.<br />
Havia muitas coisas<br />
das quais queria falar<br />
com os israelenses, a<br />
principal delas era sua<br />
aversão a combater a<br />
má imprensa, que continua<br />
a pintá-los como<br />
vilões. Ainda que eu<br />
entenda o porquê dos<br />
meios de comunicação,<br />
que cobrem a maio parte<br />
dos acontecimentos com exatidão,<br />
decidem fazer pouco caso de todas as<br />
regras de jornalismo ético quando se<br />
trata de Israel, eu não podia compreender<br />
a relutância de Israel para desafiar<br />
a imprensa negativa com eficácia.<br />
A tendência que têm os meios de<br />
comunicação contra Israel lembrou-me<br />
da imprensa na Alemanha nazista, que<br />
foi recrutada pelo ministro da Propaganda<br />
de Hitler Joseph Goebbels, que<br />
propagou cada palavra possível carregada<br />
de ódio contra os judeus. Tal<br />
como a imprensa alemã, que recusou<br />
imprimir a verdade sobre as atrocidades<br />
espantosas que ocorreram nos campos<br />
de extermínio na Europa - sustentava<br />
que era tudo um exagero - os meios<br />
de comunicação também hoje ignoram<br />
o terrorismo árabe. Queria ver se havia<br />
alguma verdade nas alegações dos<br />
meios de comunicação, dizendo que<br />
Israel era um Estado de Apartheid, nãodemocrático<br />
e discriminatório.<br />
Eu sabia que um Estado judeu verdadeiro<br />
não podia ser não-democrático<br />
já que os conceitos democráticos<br />
foram sempre uma parte do pensamento<br />
judeu e provêm diretamente da<br />
Torá. Por exemplo quando no Preâmbulo<br />
da Declaração da Independência<br />
dos Estados Unidos, Jefferson escreveu<br />
que todos os homens são criados<br />
iguais, que eles são dotados por seu<br />
Criador com certos Direitos imprescritíveis,<br />
que entre estes estão a Vida, a<br />
Liberdade e a busca da Felicidade, ele<br />
basicamente se referia à Torá que diz<br />
que todos os homens são criados a<br />
imagem e semelhança de D-us. Sabia<br />
que Israel não é racista ou discriminador<br />
já que está baseado na idéia da<br />
aliança entre D-us e os israelitas, pela<br />
qual ambos aceitaram tanto deveres<br />
como obrigações, ressaltando o fato<br />
de que o poder é estabelecido pelo<br />
consentimento de ambos lados e não<br />
pela tirania da parte mais poderoso.<br />
Meu entendimento do Estado judeu<br />
foi confirmado quando no formulário<br />
que tive que preencher ao aterrisar<br />
em Tel Aviv não me perguntaram<br />
acerca de minha religião como<br />
perguntam, de acordo com a lei local,<br />
no Paquistão. Ninguém na imigração<br />
israelense exigiu algum certificado<br />
de religião, diferentemente<br />
da Arábia Saudita.<br />
Enquanto a El-Al se aproximava<br />
da Terra Prometida, eu continuava<br />
revolvendo a lista de acusações feitas<br />
contra Israel rotineiramente por<br />
seus inimigos.<br />
Os israelenses vivem num estado<br />
perpétuo de medo. Israel é nãodemocrático.<br />
Os cidadãos árabes<br />
muçulmanos de Israel não têm igualdade<br />
de direitos.<br />
Os Os Os israelenses israelenses vivem vivem num num num estado estado<br />
estado<br />
perpétuo perpétuo de de medo:<br />
medo:<br />
De Tel Aviv a Tiberíades, de Jerusalém<br />
a Jezreel, e das alturas do Golan<br />
à fronteira com a Faixa de Gaza,<br />
não pude encontrar nenhuma prova<br />
de medo. De fato as pessoas se sentiam<br />
tão seguras que em nenhuma<br />
das lojas, postos de gasolina, mercados,<br />
ou residências aos quais fomos,<br />
e onde era sabido que nós éramos<br />
muçulmanos, consideraram necessário<br />
vigiar-nos ou interrogar-nos. Especialmente<br />
quando uma tarde Kiran<br />
e eu fomos em Jerusalém à Rua Ben<br />
Yehuda, a encontramos apinhada de<br />
gente de todas as idades. A terra vibrava<br />
com a música e os jovens estavam<br />
tão ocupados divertindo-se que<br />
não se incomodaram sequer em olhar<br />
ao redor. Os turistas estavam ocupados<br />
fazendo negócios com os comerciantes<br />
e toda a multidão parecia<br />
palpitar com o soar da música.<br />
Eu não podia deixar de comparar o<br />
sentido de segurança de Israel com o<br />
ambiente de insegurança que existe<br />
nos países muçulmanos. Da Indonésia<br />
ao Irã e do Afeganistão à Arábia Saudita,<br />
a população não está segura de<br />
nada. Na capital do Paquistão, Islamabad,<br />
e na cidade portuária de Karachi,<br />
constantemente me aconselhavam<br />
que não fizesse grandes compras em<br />
público já que isso anima os ladrões a<br />
ir atrás de alguém. Não ouvi notícias<br />
de violações, matanças por honra ou<br />
assaltos em Israel.<br />
Israel Israel Israel é é não-democrático:<br />
não-democrático:<br />
Como muçulmano sou muito mais<br />
sensível à ausência de liberdades de-<br />
mocráticas em qualquer sociedade, e<br />
não creio que alguém, mais que um<br />
anti-semita comprometido, negue que<br />
Israel é um país democrático. A democracia<br />
em Israel é proporcional e representativa,<br />
ainda que coalizões democráticas,<br />
sejam necessárias para<br />
qualquer tomada de decisões e também<br />
têm seus problemas.<br />
No primeiro dia em Cesárea conhecemos<br />
a democracia israelense. O ar<br />
estava cheio de debate político e discussão.<br />
A decisão de Ariel Sharon de<br />
deixar o Likud e formar um novo partido<br />
político dominou os corredores do<br />
hotel e reprimiu os problemas causados<br />
pela necessidade de ter coalizões<br />
democráticas. "O objetivo de uma sociedade<br />
israelense livre e democrática<br />
é o de alcançar um compromisso<br />
satisfatório, mas com freqüência as<br />
conclusões são menos que satisfatórias<br />
- sobretudo para a maioria. Isto<br />
implica em coalizões e uniões que são<br />
também um sistema de equilíbrio de<br />
poderes contra qualquer abuso potencial<br />
aos direitos das minorias. Este sistema<br />
é melhor que o sistema republicano<br />
representativo - que é realmente<br />
uma representação de poder e interesses<br />
particulares. Em outros países<br />
você tem uma democracia para<br />
alguns poucos. Em Israel você tem<br />
uma democracia para cada um.<br />
Tratei com esforço de encontrar algum<br />
Estado muçulmano que tenha<br />
uma verdadeira democracia, e onde às<br />
minorias religiosas sejam concedidos<br />
direitos democráticos igualitários, mas<br />
falhei. O mapa do mundo muçulmano<br />
está por demais repleto de reis, déspotas,<br />
ditadores, falsos democratas,<br />
autocratas teocráticos e a perseguição<br />
de minorias é uma parte essencial<br />
do comportamento social islâmico.<br />
Mas aqui, protegidos pelos princípios<br />
democráticos de Israel, aos cidadãos<br />
árabes muçulmanos são concedidos<br />
todos os direitos e privilégios da<br />
cidadania israelense. Quando foram<br />
realizadas, em fevereiro de 1949, as<br />
primeiras eleições para a Knesset, aos<br />
árabes israelenses foi concedido o direito<br />
ao voto e o direito de ser eleitos<br />
junto com os judeus israelenses. Hoje,<br />
aos cidadãos árabes de Israel são concedidos<br />
direitos civis completos e também<br />
direitos políticos para que desta<br />
maneira pertençam completamente à<br />
sociedade israelense. Eles se desenvolvem<br />
ativamente na vida social israelense,<br />
na política, na vida cívica e<br />
também desfrutam de representação<br />
no Parlamento de Israel, no Ministério<br />
das Relações Exteriores e no Sistema<br />
Judiciário.<br />
A fé israelense na democracia também<br />
explica sua recusa em responder<br />
ao terrorismo islâmico de modo violento.<br />
Apesar de ser consciente das debilidades<br />
humanas que permitem à có-<br />
lera subjugar as melhores das intenções,<br />
não pude encontrar nenhum israelense<br />
que aja por vingança contra<br />
seus compatriotas árabes. Minha experiência<br />
como muçulmano contribuiu<br />
também decisivamente para esperar<br />
o pior do comportamento humano; os<br />
muçulmanos sob a influência do Islã<br />
radical têm estado descarregando seu<br />
terror contra os não muçulmanos, inclusive<br />
quando as acusações de ofensas<br />
contra muçulmanos foram determinadas<br />
como falsos.<br />
Pensei que precisaria de um esforço<br />
sobre humano conseguir ignorar as<br />
atrocidades cometidas contra alguém,<br />
e permanecer sem emoções vingativas.<br />
Em minha experiência nas sociedades<br />
muçulmanas, nunca se concedeu<br />
às minorias o beneficio da dúvida.<br />
O ódio aos não muçulmanos e a<br />
fúria da violência dos fundamentalistas<br />
islâmicos contra a fé das minorias<br />
permanece como uma norma mais que<br />
como uma exceção. Como muçulmano<br />
não wahabita afrontei pessoalmente<br />
sua barbárie e vi como têm sido<br />
perseguidos cristãos, hindus e outras<br />
minorias, sob acusações falsas. Pensei<br />
que se os wahabitas na Arábia Saudita<br />
podem condenar um professor a<br />
40 meses de cárcere, mais 750 chibatadas,<br />
somente por elogiar os judeus,<br />
não seria pouco razoável da parte dos<br />
israelenses castigar os palestinos por<br />
lançar pedras nos que rezam no Muro<br />
Ocidental ou por incendiar a tumba de<br />
Iosef (José)?.<br />
Mas ainda nisto, os israelenses demonstraram<br />
ao mundo que os demais<br />
estão equivocados. Apesar das provocações<br />
diárias, eles satisfatoriamente<br />
não descem ao mesmo nível de depravação<br />
que seus inimigos árabes. O<br />
mundo está acostumado à violência<br />
diária cometida contra as minorias religiosas<br />
no mundo muçulmano. Faz só<br />
dois dias um grupo muçulmano no Paquistão,<br />
abriu caminho para entrar<br />
numa igreja rompendo suas paredes<br />
e violentando suas portas. Agiam motivados<br />
pelo rumor de que um cristão<br />
tinha profanado seu livro santo, o Corão.<br />
Eles quebraram o altar de mármore<br />
da Igreja do Espírito Santo e também<br />
os vitrais coloridos da igreja. Depois,<br />
incendiaram uma residência cristã<br />
e a Escola de Meninas de Santo<br />
Antônio no mesmo bairro. Em poucos<br />
momentos as chamas consumiram as<br />
paredes e a fumaça negra abundava<br />
no céu. Durante dias os clérigos wahabitas<br />
continuaram pedindo aos seus<br />
seguidores muçulmanos a saírem de<br />
suas casas e defender sua fé através<br />
da criação de um reinado de terror<br />
contra o cristianismo.<br />
Perguntei-me se um israelense poderia<br />
um dia encontrar alguma justificativa<br />
para isto e copiar o que os<br />
wahabitas têm estado fazendo em
outros lugares - o seqüestro, o assassinato<br />
e a decapitação de "infiéis". O<br />
mais recente, foi a descoberta do corpo<br />
de um motorista hindu, Maniappan<br />
Raman Kutty, com a garganta cortada<br />
no sul do Afeganistão, e não há nenhuma<br />
razão evidente para sua morte<br />
mais que sua fé.<br />
Mas não havia nada na história<br />
que poderia ter justificado meus temores;<br />
os judeus, apesar de terem<br />
sofrido os atos mais bárbaros do terrorismo,<br />
ainda não reagiram vingativamente<br />
contra os autores destas<br />
barbaridades. Concluí, portanto, que<br />
minha primeira visita a Israel me ajudaria<br />
a encontrar o motivo da insistência<br />
israelense de continuar sendo<br />
o objetivo do terrorismo islâmico.<br />
O O cidadão cidadão árabe árabe muçulmano muçulmano de<br />
de<br />
Israel Israel não não não tem tem igualdade igualdade de de de direitos:<br />
direitos:<br />
Enquanto nosso ônibus com ar condicionado<br />
percorria as curvas montanhosas<br />
do caminho até o coração da<br />
Galiléia, eu não podia deixar de observar<br />
os minaretes que identificam<br />
um número de aldeias árabes-palestinas<br />
que se amontoam e multiplicam<br />
nas ladeiras. Os imponentes domos<br />
das mesquitas fazem notar as liberdades<br />
que desfrutam os muçulmanos no<br />
Estado judeu. Grandes residências árabes,<br />
uma crescente atividade da construção<br />
e carros de grande tamanho destacam<br />
também a prosperidade e a riqueza<br />
dos palestinos que vivem sob a<br />
Estrela de David.<br />
No meu caminho desde a Cidade<br />
de David até o Hotel Royal Prima, em<br />
Jerusalém, perguntei ao taxista palestino<br />
que pensa sobre a idéia de mudar-se<br />
para os territórios sob a Autoridade<br />
Palestina. Ele disse que nunca<br />
poderia pensar em viver fora do Estado<br />
de Israel. Sua resposta arruinou o<br />
mito ampliado pelos anti-semitas de<br />
que os cidadãos árabes de Israel não<br />
são felizes ali.<br />
Outro árabe israelense informoume<br />
que os árabes em Israel têm igualdade<br />
de voto, quer dizer, o mesmo direito<br />
de votar que os judeus israelenses.<br />
De fato, Israel é um dos poucos<br />
países no Oriente Médio onde as mulheres<br />
árabes podem votar. Em contraste<br />
com o mundo árabe não israelense,<br />
as mulheres árabes em Israel<br />
desfrutam do mesmo status que os<br />
homens. As mulheres muçulmanas<br />
têm o direito de votar e de ser eleitas<br />
para trabalhar em escritórios públicos.<br />
As mulheres muçulmanas, de<br />
fato têm mais liberdades em Israel<br />
que em qualquer país muçulmano. A<br />
lei israelense proíbe a poligamia, o<br />
matrimônio infantil, e a cruel mutilação<br />
sexual feminina.<br />
Além disso, averigüei que não há<br />
nenhuma incidência de matanças por<br />
honra em Israel. O status das mulheres<br />
muçulmanas em Israel está acima<br />
de qualquer outro país na região. As<br />
normas de saúde israelenses são muito<br />
melhores que qualquer outra no<br />
Oriente Médio e as instituições de<br />
saúde israelenses estão livremente<br />
abertas a todos os árabes, da mesma<br />
maneira que estão abertas para os judeus.<br />
O árabe, como o hebraico, é uma<br />
língua oficial em Israel e isto demonstra<br />
a natureza tolerante do Estado judeu.<br />
Todos as placas das ruas têm seus<br />
nomes escritos em árabe e em hebraico.<br />
Esta é a política oficial do governo<br />
israelense para promover a língua, a<br />
cultura, e as tradições da minoria árabe,<br />
no sistema educativo e na vida diária.<br />
A imprensa árabe de Israel é mais<br />
vibrante e independente que a de qualquer<br />
país na região. Há mais de 20<br />
revistas árabes. Elas publicam o que<br />
querem, sujeitas somente à mesma<br />
censura militar que as publicações judaicas.<br />
Também há programas diários<br />
de TV e rádio em árabe.<br />
O árabe é ensinado nas escolas<br />
secundárias judaicas. Mais de 350.000<br />
crianças árabes freqüentam escolas<br />
israelenses. No momento do estabelecimento<br />
de Israel, havia só um instituto<br />
árabe no país. Hoje, há centenas<br />
de colégios árabes. As universidades<br />
israelenses são centros de estudos<br />
renomados na história e na literatura<br />
do Oriente Médio árabe.<br />
Consciente das coações que um<br />
não wahabita enfrenta enquanto realiza<br />
rituais religiosos na Arábia Saudita,<br />
Kiran (minha esposa) não podia<br />
ocultar sua surpresa ao dar-se conta<br />
da liberdade e facilidade com a qual<br />
pessoas de qualquer religião e fé<br />
cumpria com suas obrigações religiosas<br />
na Igreja do Santo Sepulcro, na<br />
Tumba do Jardim, no Mar da Galiléia,<br />
nos Túneis do Muro Ocidental, o Muro<br />
das Lamentações, na Tumba do Rei<br />
David e todos os outros lugares santos<br />
que visitamos.<br />
Todas as comunidades religiosas<br />
em Israel desfrutam da completa proteção<br />
do Estado. Os árabes israelenses<br />
- tanto os muçulmanos, como os<br />
pertencentes às distintas denominações<br />
cristãs - são livres para exercer<br />
sua fé, observar seu próprio dia de<br />
descanso semanal, suas festividades<br />
e também de administrar seus<br />
próprios assuntos internos. Aproximadamente<br />
80.000 drusos vivem em 22<br />
povoados no norte de Israel. Sua religião<br />
não é acessível para os estranhos<br />
e o druso constitui uma comunidade<br />
de fala árabe cultural, social<br />
e religiosa separada. O conceito de<br />
druso de taqiyya exige a completa<br />
lealdade por parte de seus aderentes<br />
ao governo do país no qual eles<br />
residem. Por esta mesma razão o druso<br />
serve no Exército de Defesa de Israel,<br />
entre outras coisas. Cada comunidade<br />
religiosa em Israel tem seus<br />
próprios conselhos e tribunais, e tem<br />
também a jurisdição completa sobre<br />
seus assuntos religiosos, incluindo os<br />
assuntos de status pessoal, como o<br />
matrimônio e o divórcio. Os lugares<br />
santos de todas as religiões são administrados<br />
por suas próprias autori-<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
dades e protegidos pelo governo.<br />
Um jornalista hindu que veio verme<br />
falou da liberalidade que a sociedade<br />
judaica representa. Disse-me<br />
que mais de 20 % da população israelense<br />
não é judia, havendo cerca de<br />
1,2 milhão de muçulmanos, 140 mil<br />
cristãos e outros 100 mil drusos. Outro<br />
israelense não judeu disse que os<br />
cristãos e os drusos são inclusive livres<br />
de unir-se ao exército de defesa<br />
do Estado judeu. Os beduínos servem<br />
em unidades de pára-quedistas, e por<br />
sua vez outros árabes se oferecem<br />
para cumprir com o dever militar.<br />
As grandes casas pertencentes a<br />
árabes israelenses, e a quantidade de<br />
construções que continuam crescendo<br />
nas cidades árabes, expuseram a<br />
falsidade das propagandas que acusam<br />
Israel de discriminar os árabes<br />
israelenses no momento de comprar<br />
terras. Averigüei que no início do século<br />
passado, o Fundo Nacional Judaico<br />
foi estabelecido pelo Congresso<br />
Sionista Mundial para comprar terras<br />
na Palestina e assim poder obter o estabelecimento<br />
judaico. Da área total<br />
de Israel, 92 por cento pertence ao<br />
Estado e é administrada pela Autoridade<br />
de Direção da Terra. Não está à<br />
venda para ninguém, nem para os judeus,<br />
nem para os árabes.<br />
O Waqf árabe possui terra que é<br />
para o uso explícito e para o benefício<br />
dos árabes muçulmanos. As terras do<br />
governo podem ser arrendadas por<br />
qualquer pessoa, independentemente<br />
da raça, da religião ou sexo. Todos os<br />
cidadãos árabes de Israel são elegíveis<br />
para arrendar este tipo de terras.<br />
Perguntei a três árabes israelenses<br />
se eles enfrentavam a discriminação<br />
em seu trabalho. Todos eles disseram<br />
a mesma coisa; normalmente<br />
não há nenhuma discriminação, mas<br />
sempre que os suicidas-bomba explodem<br />
e assassinam judeus, alguns israelenses<br />
se sentem incomodados tratando<br />
com eles. Mas estes sentimentos<br />
são também momentâneos e não<br />
duram muito tempo.<br />
27
28<br />
VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />
Ao abrir a exposição, a cônsul geral da Polônia em<br />
Curitiba, Dorota Joanna Berys, falou da importância<br />
cultural e histórica dos judeus em seu país<br />
Em nome da comunidade israelita o empresário Mendel<br />
Knopfholz discursa no evento, recordando a cultura<br />
judaica na Polônia<br />
Os empresários Leon e Mendel Knopfholz, a cônsul geral<br />
da Polônia em Curitiba, Dorota Joanna Barys e o presidente<br />
da Federação Israelita do Paraná, Isac Baril na abertura da<br />
exposição<br />
Exposição em Curitiba sobre os<br />
"Mil anos dos Judeus na Polônia"<br />
Consulado Geral da República da Polônia abre evento na Biblioteca Pública<br />
A cônsul Barys ouve o sobrevivente do Holocausto,<br />
nascido na Polônia, Moisés Jakobson<br />
Consulado geral da República da<br />
Polônia em Curitiba abriu na noite<br />
de 4/9, na Biblioteca Pública<br />
do Paraná a exposição "Mil anos<br />
dos Judeus na Polônia", que permaneceu<br />
aberta até o dia 18/9. O evento, que contou<br />
com grande número de público, especialmente<br />
membros da comunidade judaica<br />
de Curitiba, foi aberto pela cônsul geral<br />
Dorota Joanna Barys, que explicou que<br />
a exposição foi elaborada pelo Instituto<br />
Adam Mickiewicz de Varsóvia, e ofereceu<br />
aos participantes um "vinho de honra". A<br />
comunidade judaica foi representada pelo<br />
presidente da Federação Israelita do Paraná,<br />
Isac Baril, e pela presidente do Instituto<br />
Cultural Bernardo Schulman, Sara<br />
Schulman. Na ocasião, falou pela comunidade<br />
o empresário Mendel Knopfholz.<br />
Em seu discurso, Knopfholz observou<br />
que "a marca milenar da presença judaica<br />
na Polônia torna inevitável a importância<br />
recíproca destas duas culturas étnicas,<br />
nacionais, antropológicas e sociais<br />
na construção de seus respectivos destinos.<br />
Neste sentido, não podemos dissociar<br />
destas duas tradições alguns elementos<br />
idiomáticos, folclóricos, artísticos,<br />
culturais, culinários que dentre tantos<br />
outros estão perpetuados em nossa emoção<br />
e em nossas formações".<br />
A exposição "Mil anos dos Judeus na Polônia"<br />
contém dezenas de painéis ilustrativos,<br />
acompanhados de textos explicativos em<br />
português<br />
"Assim - prosseguiu ele -, "como não<br />
cultuar os relatos orais e escritos decantados<br />
por nossos pais e avós no mais melodioso<br />
iídiche, idioma mater de gerações,<br />
que propagou e continua a difundir muito<br />
da essência da alma judaica pelas tintas e<br />
cantigas de um sem número de poetas, escribas<br />
e artistas, tornando-o único, peculiar<br />
e tradutor de uma imensa carga emocional<br />
e intelectual de todo um povo. Como<br />
não vivenciar a realidade de muitos judeus<br />
poloneses que, vivendo confinados em<br />
suas shtetls faziam destas pequenas<br />
aldeias a grandiosidade da superação pela<br />
fé, pela união e um pacto sempre renovado<br />
de sobrevivência e esperança. Quantos<br />
personagens simples, gênios em sua humildade<br />
e humildes em sua genialidade,<br />
nos ensinaram os valores da ética, da fraternidade,<br />
da superação".<br />
Em outro trecho de seu discurso, o empresário<br />
Mendel Knopfholz, ressaltou que<br />
"é certo também que o ambiente cosmopolita<br />
e culto das grandes cidades de uma<br />
Polônia muitas vezes dominada e oprimida<br />
que a fez renascer sempre mais fortalecida,<br />
em muito contribuiu para a proliferação<br />
de um manancial cultural e artístico da inteligência<br />
<strong>Judaica</strong>". "Da mesma forma em<br />
que lá fecundaram movimentos importantíssimos<br />
para o judaísmo, como o Iluminis-<br />
Entre os presentes à abertura, dirigentes do Instituto Bernardo<br />
Schulman, Sara Schulman (presidente), ao lado de Boris Sitnik<br />
mo judaico - a Haskalá, as Ieshivot e o Chassidismo<br />
- o território polonês testemunhou<br />
também toda a sorte de sandices e perseguições<br />
aos judeus, por meio de pogroms,<br />
confinamentos, campos de concentração,<br />
massacres e tantas outras tragédias que<br />
hoje são traduzidas por "Limpeza Étnica".<br />
"Não fora isto", sublinhou Knopfholz,<br />
"certamente o mundo contemporâneo teria<br />
sido contemplado com mais talentos do porte<br />
de um Sholem Ash, Arthur Rubinstein, Isac<br />
Peretz, Sigmund Freud, Albert Einstein, Isaac<br />
Bashevis Singer e tantos outros que não sobreviveram<br />
e que se houvessem sobrevivido,<br />
poderiam ter contribuído para as artes,<br />
as ciências e na evolução universal de uma<br />
sociedade criativa, fraterna e justa".<br />
No convite da exposição, um texto assinado<br />
por Piotr M. A. Cywinski diz: "Mil<br />
anos de união e divisões. Mil anos de diálogo<br />
e conflitos, favores e sofrimento, desenvolvimento<br />
e crise, autonomia e dependência,<br />
felicidade compartilhada e crueldade,<br />
até o Shoá. Apresentamos o passado<br />
e o presente dos Judeus Poloneses. Sua<br />
história representa a parte vitar da nossa<br />
identidade. Todo o tempo em que a história<br />
da vida judaica renasce na Polônia<br />
aprendemos a descobrir novamente o vazio.<br />
Nós, os que sentimos a ausência, pagamos<br />
o tributo aos que nos deixaram".