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VJ SET 2008 A.p65 - Visão Judaica

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2<br />

editorial<br />

VISÃO JUDAICA • setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Publicação mensal independente da<br />

EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />

JUDAICA LTDA.<br />

Redação, Administração e Publicidade<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Curitiba • PR • Brasil<br />

Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />

Dir. de Operações e Marketing<br />

SHEILLA FIGLARZ<br />

Dir. Administrativa e Financeira<br />

HANA KLEINER<br />

Diretor de Redação<br />

SZYJA B. LORBER<br />

Publicidade<br />

DEBORAH FIGLARZ<br />

Arte e Diagramação<br />

SONIA OLESKOVICZ<br />

Webmaster<br />

RAFFAEL FIGLARZ<br />

Colaboram nesta edição:<br />

Ana Jerozolimski, Antônio Carlos Coelho, Aristide<br />

Brodeschi, Breno Lerner, Daniel Pipes, Eduardo<br />

Kohn, Eduard Yitzhak, Jane Bichmacher de<br />

Glasman, Jonathan Sacks, José Roitberg, Lucie<br />

Geffroy, Marcos Aguinis, Michael Latz, Nahum<br />

Sirotsky, Noah Pollak, Pilar Rahola, Riccardo<br />

Barenghi, Sérgio Feldman, Tashbih Sayyed e<br />

Yossi Groisseoign<br />

<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> não tem responsabilidade sobre<br />

o conteúdo dos artigos, notas, opiniões ou<br />

comentários publicados, sejam de terceiros<br />

(mencionando a fonte) ou próprios e assinados<br />

pelos autores. O fato de publicá-los não indica<br />

que o <strong>VJ</strong> esteja de acordo com alguns<br />

dos conceitos ou dos temas.<br />

Contém termos sagrados, por isso trate<br />

com respeito esta publicação.<br />

www.visaojudaica.com.br<br />

Este jornal é um veículo independente<br />

da Comunidade Israelita do Paraná<br />

Reflexões acerca de um novo ano<br />

ais uma vez nos encontramos<br />

no limiar de um novo ano judaico,<br />

o de 5.769, que inicia em<br />

29 de setembro. Entre Rosh<br />

Hashaná, literalmente "cabeça<br />

do ano", e Iom Kipur, o Dia do Perdão,<br />

passam-se dez dias, a que chamamos<br />

de Iamim Noraim, ou Dias Temíveis. É<br />

o período em que devemos refletir sobre<br />

nossos atos, gestos e atitudes, não<br />

só em relação a nós, mas também aos<br />

outros e o mundo que nos circunda.<br />

Tratamos do arrependimento das más<br />

ações, recordando o quão tênue é o<br />

fio que nos mantém vivos e rezamos<br />

em Iom Kipur para que sejamos inscritos<br />

no Livro da<br />

Vida. Nesta edição,<br />

publicamos<br />

alguns artigos<br />

que aprofundam<br />

mais essas questões<br />

e que analisam<br />

com muita<br />

abertura de espí-<br />

rito nosso rela-<br />

Nossa capa<br />

cionamento com o Divino. Podemos<br />

ampliar as perspectivas de reflexão<br />

destes dias extrapolando os limites do<br />

nosso ambiente. Ainda existem guerras,<br />

miséria, fome, sofrimento, doenças<br />

e muita maldade - quer seja sob a<br />

forma de opressão e preconceito às<br />

minorias em todo o planeta, quer seja<br />

por intermédio dos atos terroristas,<br />

objetivando destruir vidas ou tolher<br />

liberdades. Sim, esses aspectos negativos<br />

existem. Porém, não nos esqueçamos<br />

também da existência das coisas<br />

boas que o ser humano tem alcançado<br />

com a graça de D-us: O avanço<br />

tecnológico que pode nos suprir de<br />

alimentos a ponto de acabar com a<br />

fome na face da terra, a vitória sobre<br />

as enfermidades, as tentativas de busca<br />

da paz, ou até mesmo os pequenos<br />

milagres da vida, como o nascimento<br />

de uma criança, que nos traz tanta alegria<br />

e felicidade, deixando-nos esperançosos<br />

com um amanhã iluminado.<br />

Em síntese, cada um de nós deve meditar<br />

sobre como e o que fazer para<br />

melhorar o mundo, praticar o tikkum<br />

olam, o antigo conceito da ética judaica<br />

de "consertar" o mundo, ou<br />

seja, fazer algo a respeito em benefício<br />

de todos.<br />

Nesse contexto de alargar a percepção<br />

das realidades que nos cercam,<br />

estamos próximos de obter a paz<br />

no Oriente Médio? Ou as ameaças do<br />

pequeno Hitler do Irã e de seus asseclas<br />

do Hezbolá no Líbano, ou do Hamas,<br />

em Gaza, devem ser tomadas a<br />

sério a ponto de nos preocupar com a<br />

sobrevivência de Israel e do povo judeu?<br />

As respostas, evidentemente,<br />

não são simples. Existe uma iniciativa<br />

de paz tentada junto ao Al Fatah,<br />

do presidente da Autoridade Palestina,<br />

Mahmoud Abbas. Diz-se que é o<br />

único com quem se pode manter diálogo.<br />

Mas será mesmo que Abbas fala<br />

sério? Aliás, falar, não é tudo. É necessário<br />

agir, mostrar. Enquanto livros<br />

escolares palestinos continuarem a<br />

ensinar ódio aos judeus, os jornais<br />

oficiais persistirem e os sermões das<br />

A capa reproduz a obra de arte cujo título é: "O arrependimento", elaborada com a técnica litografia<br />

e dimensões de 70 x 50 cm, criação de Aristide Brodeschi. O autor nasceu em Bucareste, Romênia,<br />

é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos em<br />

várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu premiações por seus trabalhos<br />

no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por vários países e tem no judaísmo, uma das<br />

principais fontes de inspiração. É o autor das capas do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais<br />

sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br).<br />

ACENDIMENTO DAS<br />

VELAS EM CURITIBA<br />

Setembro e Outubro de <strong>2008</strong><br />

Shabat e datas especiais<br />

DATA HORA<br />

26/9 17h54<br />

29/91 17h55<br />

30/92 18h50<br />

3/10 17h57<br />

8/10 3 17h59<br />

10/10 18h00<br />

13/104 18h01<br />

14/105 18h57<br />

17/10 18h03<br />

20/106 18h05<br />

21/107 19h01<br />

1 e 2 Rosh Hashaná<br />

3 Iom Kipur<br />

4 e 5 Sucot<br />

6 Shemini Atzeret<br />

7 Simchat Torá<br />

Humor judaico<br />

A JANELA NO INVERNO<br />

Na primeira noite após a sua volta,<br />

Moisés e Sara estão dormindo. Sara<br />

acorda e diz:<br />

— Moisés, vá fechar a janela, está<br />

muito frio lá fora.<br />

Moisés responde:<br />

— E então, se eu fechar a janela,<br />

será que vai ficar mais quente lá fora?<br />

Falecimentos<br />

Com pesar, comunicamos os falecimentos<br />

de:<br />

SAMUEL KLEIN, dia 5/9/<strong>2008</strong> (5 de<br />

Elul de 5768) Sepultado dia 7/9/<strong>2008</strong><br />

no Cemitério Israelita do Umbará.<br />

CLARA BOBER, dia 29/8/<strong>2008</strong> (28 de<br />

Av de 5768). Sepultada no mesmo dia<br />

no Cemitério Israelita do Umbará.<br />

Datas importantes<br />

29 de setembro<br />

30 de setembro<br />

1º de outubro<br />

2 de outubro<br />

4 de outubro<br />

8 de outubro<br />

9 de outubro<br />

11 de outubro<br />

13 de outubro<br />

14 de outubro<br />

15 de outubro<br />

18 de outubro<br />

20 de outubro<br />

21 de outubro<br />

mesquitas não cessarem a incitação,<br />

é difícil acreditar que queiram paz.<br />

Exercício de futurologia: O Irã atacará,<br />

ou será atacado? No momento isso<br />

parece estar longe de ocorrer. Enquanto<br />

nos Estados Unidos não se definirem as<br />

eleições presidenciais, nada acontecerá.<br />

Em Israel a crise política que deve<br />

acabar na renúncia de Ehud Olmert nos<br />

próximos dias, dará respaldo ao próximo<br />

governo para enfrentar a situação.<br />

Ahmadinejad pode vociferar o quanto<br />

quiser contra Israel, entretanto o mundo<br />

árabe, em especial a Arábia Saudita,<br />

já percebeu que as ameaças atômicas<br />

são contra si também. E a Europa idem.<br />

No fundo, o pequeno déspota de Teerã<br />

tenta com seus arroubos e bravatas desviar<br />

atenção dos iranianos dos seus problemas<br />

maiores, a inflação crescente, o<br />

desemprego galopante e a falta de liberdades.<br />

De uma coisa não devemos<br />

nos esquecer: Todos os que tentaram ao<br />

longo da história eliminar o povo judeu<br />

desapareceram. E Am Israel Chai! Shaná<br />

Tová Tikatevu.<br />

A Redação<br />

Véspera de Rosh Hashaná<br />

1º dia de Rosh Hashaná<br />

2º dia de Rosh Hashaná<br />

Jejum de Guedália<br />

Vaielech / Shabat Shuvá<br />

Véspera de Iom Kipur<br />

Iom Kipur<br />

Shabat Haazinu<br />

Véspera de Sucot<br />

1º dia de Sucot<br />

2º dia de Sucot<br />

Shabat / 3º dia Chol Hamoed<br />

Shemini Atzeret / Hoshaná Rabá<br />

Simchat Torá


Sérgio Feldman *<br />

modernidade e a pós-modernidade<br />

geraram uma<br />

angústia crônica nas pessoas.<br />

Ninguém sabe<br />

quem é? Seres humanos<br />

que não entendem a amplitude<br />

de seu ser: pessoas sem identidade.<br />

Quem sou eu? Quem somos nós?<br />

A pergunta é extremamente complexa.<br />

Não há respostas prontas ou fáceis.<br />

Mas reflexões podem ser encetadas.<br />

Até meados do século XX a grande<br />

maioria das pessoas sabia quem era. As<br />

famílias eram estruturadas de maneira<br />

tradicional e hierarquizadas em torno de<br />

seus elementos mais idosos e o patriarcado<br />

ajudava a conservar valores, princípios<br />

e a identidade familiar, étnica e<br />

cultural do individuo e a sua pertinência<br />

a um determinado grupo ou a alguns<br />

grupos em certos casos. A família, a religião,<br />

as origens e a coesão grupal davam<br />

aos seus componentes uma sensação de<br />

pertinência e de identidade coletiva.<br />

Este processo já se iniciara em alguns<br />

lugares e em parcelas de determinados<br />

grupos em meados do século XIX. A urbanização<br />

e o progresso em todas as<br />

áreas estariam por trás destas mudanças.<br />

Mas isso tendeu a se acelerar nos<br />

últimos cinqüenta anos.<br />

Isso ocorreu tanto entre os judeus<br />

quanto entre os não judeus e foi mais<br />

acentuado no Ocidente e nos centros urbanos.<br />

A tecnologia e o "boom" das comunicações<br />

fizeram do mundo uma "aldeia<br />

global", e esse movimento se expandiu<br />

por todo o mundo, de maneira<br />

diferente, ora de maneira mais aguda e<br />

ora de maneira mais contida.<br />

Os anos 80 e 90 chegaram tal como<br />

um desmanche de uma longa era. Os laços<br />

grupais se "desapertaram" e as pessoas<br />

começaram a ficar mais soltas, sem<br />

pertinência a grupos. Pensadores e teóricos<br />

analisaram e definiram este processo<br />

e o inseriram no que se chama a<br />

"pós-modernidade". Analisemos alguns<br />

exemplos e suas projeções. Nosso foco<br />

será o judaico.<br />

A família tradicional esta desaparecendo.<br />

As mulheres estão trabalhando<br />

há duas ou três gerações e não se limitam<br />

às empresas familiares, ao lado de<br />

marido, filhos e pais, mas na linha de<br />

produção em todo o tipo de empresas.<br />

Isso as tornou menos dependentes e<br />

menos submissas ao poder patriarcal, e<br />

as confrontou com situações que não<br />

ocorriam desde a Pré-história. Modelos<br />

tradicionais de mulheres que se dedicam<br />

apenas a tarefas domésticas e tradicionais<br />

são exclusivos de certas minorias<br />

ou sociedades tradicionais que resistem<br />

e formam baluartes de manutenção<br />

do status feminino pré-moderno. As<br />

mulheres estão em um novo estágio de<br />

sua história: não são mais submissas e<br />

não se bastam com criar filhos e cuidar<br />

das tarefas domésticas.<br />

A tradição tinha no lar seu foco mais<br />

importante de resistência. Nas refeições<br />

Identidade e diversidade<br />

em conjunto, em torno da mesa e nas<br />

conversas entre pais e filhos se moldavam<br />

valores e se definiam os parâmetros<br />

de comportamento e os limites. A<br />

família deve ser reavaliada e repensada.<br />

Ou se volta o relógio da história e se<br />

retoma a família tradicional, ou devemos<br />

readequar as funções educativas do<br />

pai, da mãe e criar um novo cotidiano<br />

de relações que substitua a família tradicional:<br />

o vácuo é perigoso. Filhos sem<br />

pais (ausentes) se tornam órfãos "de<br />

fato" e buscam abrigo em valores estranhos<br />

e na alienação dos padrões de ética<br />

e de comportamento que se almeja<br />

para eles. Onde se colocar?<br />

A Escola tradicional acabou. Uma escola<br />

repressora e controladora se desintegrou<br />

e não foi substituída por uma que<br />

integre o educando, seja criança ou jovem,<br />

na nova realidade. Os pais querem<br />

que a Escola opere magia e milagres preenchendo<br />

o vácuo dos lares: gerando<br />

valores, oferecendo cultura, formação<br />

tecnológica e educativa geral e específica.<br />

A grande maioria das escolas só tem<br />

como parâmetro a formação tecnológica<br />

e profissional. Abundam no país, projetos<br />

educacionais no modelo dos cursinhos.<br />

São escolas de Educação Infantil<br />

ou de Primeiro Grau que estão no modelo<br />

daquele "famoso cursinho" que virou<br />

colegial e universidade, seja um Positivo<br />

ou um Objetivo, apenas como<br />

exemplo. Prestígio para um marketing<br />

que vai "do maternal a universidade":<br />

formação tecnológica e ingresso em carreiras<br />

promissoras. Se em casa não se<br />

passam valores, e se na escola só se ensina<br />

conteúdos e links ou atalhos para a<br />

vida profissional, aonde se aprenderá a<br />

Ética e valores humanos, sejam judaicos,<br />

universais ou humanistas?<br />

Em 1988 criei um programa de Ética<br />

judaica para alunos que freqüentavam o<br />

Departamento de Ensino da ARI, uma Kehilá<br />

(comunidade religiosa) do Rio de Janeiro,<br />

a pedido de um grande amigo e mestre,<br />

o Rabino Roberto Graetz. Executamos<br />

o projeto e o aplicamos com relativo sucesso<br />

para todos os alunos que pretendiam<br />

fazer seu bar mitzvá na ARI. O sucesso se<br />

fez demonstrar com as manifestações dos<br />

alunos e alguns pais. Mitzvá é uma mescla<br />

de ordenação divina ou mandamento com<br />

uma ação humana que ora eleva a pessoa<br />

espiritualmente e ora o faz socialmente,<br />

mas por vezes atua nos dois âmbitos. Mitzvá<br />

é a maneira judaica de ser judeu e agir<br />

na direção de D-us e na direção do Mundo<br />

e seus componentes, em especial os outros<br />

humanos.<br />

Este projeto foi executado por mim<br />

e pela minha excelente equipe de morot<br />

(professoras) na EIBSG em Curitiba.<br />

Fazer do Judaísmo uma ação no mundo<br />

e uma inserção do judeu na sua realidade,<br />

tanto a judaica quanto a universal. O<br />

que nós constatamos naquela época era<br />

que não havia reflexo deste aprendizado<br />

nos lares, na comunidade e na sociedade<br />

em geral. Ética e mitzvót se diluíam<br />

nos projetos da escola. Refletiam em<br />

algumas atividades do movimento juve-<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

nil judaico Habonim Dror e se perdiam.<br />

A magnífica experiência dos jovens que<br />

criaram e mantiveram o Projeto OVO na<br />

favela de Vila Pantanal em Curitiba foi<br />

um magnífico exemplo de que havia<br />

compreensão do sentido de ser judeu e<br />

agir, dentro e fora da comunidade. Em<br />

casa, na Kehilá e no mundo. A ética e as<br />

mitzvót eram para as crianças, já os adultos<br />

podiam apenas falar delas. Ficava<br />

uma contradição entre os valores e a<br />

prática deles. E ficava a questão: podemos<br />

ser judeus sem uma prática judaica<br />

de mitzvót? Como trazer os ensinamentos<br />

para vida de adulto?<br />

Isto por que se não alterarmos nossos<br />

conceitos, deixaremos de ter uma identidade.<br />

Quem opta por ser ortodoxo, em<br />

toda a plenitude deste caminho de vida,<br />

escolhe ser recluso do mundo externo e<br />

se separar da sociedade. Esta é uma opção<br />

válida mesmo se for radical. Mas isso<br />

serve apenas a uma minoria de "eleitos".<br />

A maioria são os semi-ortodoxos.<br />

Uma ortodoxia "descafeinada". São<br />

aqueles que fazem de conta que são ortodoxos<br />

ao freqüentar uma sinagoga,<br />

sem realmente ser "guardiões das mitzvót"<br />

(shomrei mitzvót = expressão que<br />

significa um judeu que escolheu ser profundamente<br />

tradicional, ou seja, ortodoxo),<br />

já que estão encenando viver uma<br />

obra dramática que não espelha a sua<br />

realidade. Atores da vida. Isso fraciona a<br />

sua identidade. Um diz que: "eu sou quase<br />

ortodoxo, mas não guardo o Shabat e<br />

nem a Kashrut"; outro diz que: "eu quero<br />

ser ortodoxo, mas ainda não está dando<br />

para ser". Trata-se de um projeto futuro.<br />

Este conflito de identidade tenta<br />

viver numa realidade passada, na qual viveram<br />

os judeus imigrantes na primeira<br />

geração, mas vivenciando a realidade<br />

presente que espelha a realidade da terceira<br />

e quarta gerações: é estar de maneira<br />

anacrônica em dois tempos que não<br />

estão numa mesma dimensão. Ser, mas<br />

não sendo. Qualquer semelhança com<br />

Shakespeare, é mero acaso.<br />

Já, os que abandonam o Judaísmo e<br />

se assimilam, perdem sua identidade de<br />

outra maneira. Negam suas raízes e seu<br />

passado desaparece: tornam-se seres<br />

desmemoriados e sem história familiar.<br />

Uma coisa que nem o psicanalista poderá<br />

ajudar, pois a análise parte de lembranças<br />

e da busca da identidade pessoal<br />

que deve se renovar-se ou corrigirse<br />

ou adaptar-se para superar problemas<br />

e criar a nova identidade sustentada<br />

na sua origem. Sem a memória não<br />

se tem identidade. Assim também se<br />

perdem e se desviam de seu próprio<br />

SER. A História demonstra que, em certos<br />

casos, a sociedade não-judaica muitas<br />

vezes os faz recordar de suas raízes<br />

de maneira traumática.<br />

Os que resolvem optar por uma<br />

identidade judaica inserida na realidade,<br />

terão um trabalho difícil. Buscar ser<br />

judeu e viver no mundo moderno é uma<br />

tarefa difícil. Em primeiro lugar exigirá<br />

estudar e ler muito. Somos o Povo do<br />

Livro. Ler é parte de nossa missão espi-<br />

ritual. Para ser um judeu moderno temos<br />

de aprender muito e ampliar nossos<br />

horizontes judaicos. Em segundo lugar<br />

ser criativo e manter as tradições de<br />

maneira moderna, sem perder a sua essência,<br />

mas mantendo a inserção na realidade.<br />

Para tanto, devemos criar uma<br />

comunidade, seja esta conservadora<br />

(conservative), ou liberal, ou reconstrucionista<br />

ou reformista. Em torno de uma<br />

liderança religiosa, sempre estudar e<br />

entender as experiências de judeus do<br />

mundo todo que optaram por ser judeus<br />

e viver no mundo. Não negar a identidade,<br />

mas ampliar sua pertinência ao<br />

Mundo e a modernidade. Em terceiro<br />

lugar, buscar as soluções judaicas para a<br />

vida. O Judaísmo progressista ampliou<br />

sua inserção no mundo. Nele há espaço<br />

para a participação feminina nos cultos,<br />

para a inserção dos judeus na vida política,<br />

para a discussão dos problemas da<br />

cidadania num país democrático e para<br />

a defesa dos direitos humanos de judeus<br />

e não-judeus, como um todo. É<br />

possível ser judeu e ser cidadão, guardar<br />

as mitzvót de maneira contemporânea<br />

sem perder de vista sua essência<br />

judaica, mas inserindo-as na realidade.<br />

A identidade é preciosa. É o núcleo<br />

de nosso ser. Não podemos negar a identidade,<br />

mas tampouco colocá-la numa<br />

ostra e acharmos que estamos cultivando<br />

uma "pérola", para o Final dos Tempos.<br />

Temos que nos inserir na diversidade,<br />

nas lutas sociais e na realidade do<br />

mundo, mas devemos fazê-lo de maneira<br />

judaica, pois assim não negamos nosso<br />

ser. Um caminho difícil e de uma enorme<br />

complexidade.<br />

No que tange a Família e a Escola não<br />

há soluções fáceis também. Largar a responsabilidade<br />

dos pais na porta da escola<br />

e ir buscar no final da tarde, é achar<br />

que a escola faz milagres. Nada substituirá<br />

a família. A escola pode até ser inserida<br />

na realidade e educar para valores,<br />

mas a família também deve educar.<br />

Se não há tempo e os pais mal vêem seus<br />

filhos? Então deve se "otimizar" (um termo<br />

que os tecnocratas me ensinaram)<br />

as relações familiares em diálogos contínuos<br />

e em celebrações e rituais que em<br />

poucos e especiais momentos propiciem<br />

a discussão de temas em que valores<br />

e padrões sejam discutidos.<br />

Já a escola deveria inserir no seu currículo,<br />

mais ética e mais valores, através<br />

de dinâmicas e discussões constantes. Sugiro<br />

que as escolas judaicas repensem seus<br />

currículos e os moldem com este tipo de<br />

conteúdos práticos que estão em toda a<br />

nossa tradição, na Bíblia e na História <strong>Judaica</strong><br />

como modelos de reflexão, debate<br />

e ensino de valores. E tudo com ações práticas<br />

na realidade: nenhuma teoria serve<br />

se não for praticada. E se possível buscar a<br />

ponte entre a tradição e a modernidade<br />

de maneira criativa. Hoje, para se educar<br />

filhos temos que ser mais que pais, temos<br />

que ser sensíveis e atentos a vida e ao<br />

mundo e saber achar a maneira de estar<br />

próximos de nossos filhos mesmo se não<br />

temos quase tempo.<br />

3<br />

* Sérgio Feldman é<br />

doutor em História pela<br />

UFPR e professor de<br />

História Antiga e<br />

Medieval na<br />

Universidade Federal<br />

do Espírito Santo, em<br />

Vitória, e ex-professor<br />

adjunto de História<br />

Antiga do Curso<br />

de História da Universidade<br />

Tuiuti<br />

do Paraná.


4<br />

* José Roitberg é<br />

jornalista. Fotos:<br />

Divulgação Família K.<br />

A primeira<br />

pentaneta da<br />

família K<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Moritz e Bruce Frommer, ramo perdido da família K<br />

Cerca 280 pessoas da família K reuniram-se em Passa Quatro, em Minas Gerais<br />

Cinco gerações em encontro<br />

de família judaica<br />

José Roitberg *<br />

e 29 a 31 de agosto, os descendentes<br />

de Avraham e Roize<br />

Kasjusz (Polônia, 1850), participaram<br />

pela sexta vez do Encontro<br />

Internacional envolvendo<br />

cinco gerações com parentes na<br />

Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Estados<br />

Unidos, Portugal, França, Itália e Israel.<br />

O encontro acontece a cada dois anos<br />

e foi iniciado em 1998, pelos bisnetos e<br />

idealizadores Jacques Wrona z'l, Mathusalém<br />

Casiuch z'l e Vitalis Moritz.<br />

Este ano integrou 280 pessoas em<br />

Passa Quatro, nas montanhas de Minas<br />

Gerais. Os encontros são registrados<br />

em vídeo e muita fotografia. No último<br />

dia, os familiares podem descarregar os<br />

cartões de suas máquinas: foram quase<br />

5 mil fotos em 3 dias, mostrando a<br />

importância da documentação para a<br />

Família K. No quarto do hotel, um canal<br />

especial mostrou vídeos de encontros<br />

anteriores 24 horas.<br />

Ponto alto foi a presença de um primo<br />

dos Estados Unidos, representando um dos<br />

seis ramos da família que havia se perdido,<br />

recentemente descoberto através de<br />

pesquisa na Internet. Pela primeira vez ele<br />

conheceu sua "nova" família. Ainda se espera<br />

encontrar alguém do quinto ramo,<br />

mas a última referência é Varsóvia 1940...<br />

No show de talentos, um casal de bisnetos<br />

se veste como os patriarcas originais<br />

da família para receber todos os seus descendentes<br />

e neste ano, acolher de forma<br />

emocionante o primo perdido.<br />

Comemorando 10 anos, a Família K lançou<br />

seu primeiro livro, coletânea de crônicas<br />

familiares. Ainda como parte dos produtos<br />

de comunicação, destaca-se o folder<br />

genealógico atualizado a cada dois anos,<br />

crachá com nome, parentesco e cor do ramo<br />

e o site da família (www.familiak.com.br).<br />

Uma árvore genealógica de 20 metros foi<br />

criada este ano, com fotos e informações<br />

de cada membro.<br />

A Família K tem como princípio arrecadar<br />

dinheiro para tsedaká, ajudando instituições<br />

judaicas. Durante o evento é<br />

montado um bazar, onde são vendidos<br />

produtos trazidos pelos familiares, fotos,<br />

artesanato, eletrônicos, camisetas, bijuterias,<br />

etc. A renda deste ano foi para:<br />

Lar da Criança Israelita Rosa Waisman<br />

(RJ), Lar da Velhice Israelita Religiosa do<br />

Rio de Janeiro, Sinagoga Beith Yaacov<br />

(RJ), Ten Yad (SP) e Unibes (SP).<br />

"Pelo andar da carruagem, continuaremos<br />

com a presença de cinco gerações,<br />

já que os tetranetos rapidamente estão<br />

chegando à fase de constituírem família<br />

e já há alguns pentanetos. E como sabemos,<br />

os descendentes Kasjusz são fiéis<br />

cumpridores da recomendação divina<br />

"Frutificai e Multiplicai" (Bereshit,<br />

1:28)", profetiza Vitalis.<br />

Atualmente, a geração mais jovem, de<br />

trinetos e tetranetos é quem organiza o<br />

evento. "O que mais me motiva nesta participação<br />

é a consciência e a satisfação<br />

de estar fazendo algo muito importante<br />

para a família, além da possibilidade do<br />

contato com familiares que, se não fosse<br />

desta forma, eu certamente não teria conhecido."<br />

- confessa o trineto Alexandre,<br />

32, e ressalta: "A emoção que sinto ao término<br />

de cada encontro não me deixa dúvidas<br />

sobre o quanto vale a pena participar."


Tashlich - um eco-lógico<br />

Jane Bichmacher de Glasman *<br />

o primeiro dia de<br />

Rosh Hashaná, quando<br />

não coincide com<br />

Shabat, é realizado o<br />

ritual de Tashlich. Consiste<br />

em ir, pouco antes<br />

do pôr-do-sol, até um lugar onde<br />

haja água natural corrente (lagos,<br />

rios ou mar) e também peixes. Lá<br />

meditamos, recitamos alguns salmos<br />

e agitamos simbolicamente os<br />

cantos das roupas. Alguns lançam<br />

na água migalhas de pão, que simbolizam<br />

resíduos desintegrados das<br />

faltas cometidas por nós durante o<br />

ano que se encerra.<br />

Os versos do profeta Miquéias<br />

(especialmente 7:19), recitados no<br />

Tashlich, contêm a explicação para<br />

o costume: "E jogarás (tashlich) teus<br />

pecados nas profundezas do mar".<br />

Naturalmente, sacudir os cantos<br />

da roupa não nos livra de nossos pecados<br />

- mas nos recorda de que devemos<br />

fazer uma boa limpeza no coração<br />

e livrá-lo do mal.<br />

Quando o primeiro dia de Rosh<br />

Hashaná ocorre num Shabat, o Tashlich<br />

é observado no segundo dia.<br />

A prece de Tashlich desperta para<br />

o arrependimento. Lembra a insegurança<br />

da vida do peixe, entre o perigo<br />

da isca e da rede do pescador.<br />

Nossa vida também está repleta de<br />

ciladas e tentações. O peixe também<br />

simboliza o "olho sempre vigilante"<br />

de D-us, pois os peixes não têm pálpebras,<br />

seus olhos estão sempre<br />

abertos. Assim, se nada pode ser oculto<br />

de D-us, também podemos extrair<br />

coragem e esperança da fé nele, pois<br />

Ele nunca dorme 1 .<br />

"Água em hebraico é Maim, palavra<br />

que está presente em Shamaim<br />

que quer dizer céus, pois queremos<br />

que nossa oração chegue lá,<br />

para o reencontro das águas de cima<br />

com as águas de baixo, como no início<br />

da criação do mundo 2 ".<br />

Na Idade Média o Tashlich foi<br />

muitas vezes usado para acusar os<br />

judeus de enfeitiçar a água ou envenená-la,<br />

e os rabis eram obrigados<br />

a proibir a observância do Tashlich<br />

pelas suas comunidades, já que<br />

constituía ameaça às suas vidas.<br />

A pessoas associam o ritual de<br />

Tashlich com "jogar fora" - idéia incorreta,<br />

sob uma perspectiva "ecokasher".<br />

Hoje sabemos que não é<br />

possível jogar nada fora, porque o<br />

"fora" não existe. Ao invés disso, lan-<br />

çamos nossos desacertos ou transgressões<br />

para serem neutralizados,<br />

para que se tornem biodegradáveis,<br />

para que desta forma possam ser<br />

reciclados sem causar poluição.<br />

Refletindo sobre cada erro que simbolicamente<br />

é lançado às águas,<br />

pensando sobre o que aprendemos<br />

com ele, podemos "reciclá-lo",<br />

transformando-o em potencial para<br />

ações positivas.<br />

A água faz parte dos rituais judaicos<br />

de purificação, como os banhos<br />

de imersão na mikve, por<br />

exemplo, que realizamos antes do<br />

Shabat, festas ou momentos especiais.<br />

Em Rosh Hashaná a água simboliza<br />

o meio no qual reciclamos situações<br />

ou relações não resolvidas<br />

até o início do novo ano 3 .<br />

A lágrima é nossa emoção reciclada<br />

através da água. Através do<br />

Tashlich, fazemos um percurso inverso<br />

ao de Narciso, que no mito se<br />

apaixona por sua própria imagem:<br />

lançamos cacos de nosso coração<br />

partido às águas, que são suas imperfeições,<br />

como forma de reficarmos<br />

inteiros, completos. Em Shalom,<br />

cuja raiz significa isso: inteiro, perfeito.<br />

E "nada é mais inteiro que um<br />

coração partido... 4 "<br />

* Jane Bichmacher de Glasman é escritora, doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura <strong>Judaica</strong>, professora adjunta,<br />

fundadora e ex-diretora do Programa de Estudos Judaicos - UERJ.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Pintura representando a cerimônia<br />

de tashlich, em Rosh Hashaná<br />

NOTAS:<br />

1. Cf. http://<br />

www.chabad.org.br/datas/<br />

rosh/rosh008.html<br />

2. Citando Benjamin Mandelbaum,<br />

em Tashlich: a Cabala<br />

do Desapego<br />

www.cjb.org.br/netsach/<br />

festas/kipur/taschlich.htm<br />

3. Veja www.shalom.org.br/<br />

vidasinagogal/festas/<br />

tashlich.shtml<br />

4. A frase é do Rabi Menachem<br />

Mendel de Kotzk (Polônia,<br />

1787-1859), um dos grandes<br />

líderes hassídicos do século XIX.<br />

Crianças oram durante o tashlich<br />

5


6<br />

* Noah Pollak é escritor<br />

sobre política americana<br />

especializado em temas<br />

relativos a política<br />

externa, Israel e o povo<br />

judeu. Atualmente, ele é<br />

colaborador regular da<br />

publicação<br />

neoconservadora<br />

americana Commentary<br />

Magazine. Além disso, é<br />

editor assistente da<br />

revista Middle East<br />

Quarterly, publicação do<br />

Middle East Forum. Por<br />

dois anos Pollak viveu em<br />

Israel e serviu como editor<br />

assistente da revista<br />

Azure, publicada pelo<br />

Centro Shalem, sediado<br />

em Jerusalém. Pollak<br />

também tem escrito para<br />

a National Review.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Demonstração de força<br />

Noah Pollak * freqüentemente, tanto antes como mutuamente reforçado, para questio- desproporcional de homens-bomba sui-<br />

depois, as autoridades israelenses tinar sua própria legitimidade. Hoje, em cidas para Israel. Seguiram-se intensas<br />

o dia 9 de junho de 2006, uma nham ajudado seus inimigos a defen- muitas partes da Europa e do Reino batalhas casa a casa. Mais de cinqüenta<br />

praia em Gaza foi atingida por der sua versão.<br />

Unido, e em algumas partes da Amé- residências haviam sido equipadas com<br />

uma explosão que matou sete Israel tem um problema de imagem. rica uma caricatura de Israel que an- explosivos, e enquanto a tática óbvia<br />

membros de uma família pa- Começando com a Guerra do Líbano de tes só florescia nas facções ideológi- teria sido seguir recentes exemplos<br />

lestina. Pouco tempo depois, a 1982, e acelerando rapidamente depois cas, foi popularizada: acredita-se que usados por outros exércitos ocidentais,<br />

televisão da Autoridade Palestina libe- do início da segunda Intifada em 2000, Israel é um opressor sádico, um assas- que usam artilharia ou ataques aéreos<br />

rou um vídeo horroroso, mostrando uma o Estado judeu passou a ser visto em sino cruel de civis, um fomentador para neutralizar a ameaça, as FDI es-<br />

menina de 10 anos gritando entre cor- muitos locais de opinião culta e ilus- implacável de guerras no Oriente Mécolheram, ao invés, continuar com forpos<br />

mortos na praia, e os funcionários trada como uma presença sinistra no dio, e o causador de uma responsabiças terrestres - às custas das vidas de<br />

de um hospital e porta-vozes palesti- cenário mundial. Fundado sobre prinlidade estratégica ameaçadora para os vinte e três de seus soldados de infannos<br />

culpando furiosamente os disparos cípios de direitos humanos, o Estado Estados Unidos e o mundo ocidental. taria - tudo para minimizar as vítimas<br />

de artilharia das Forças de Defesa de de Israel é visto como opressor; Israel A popularidade deste modo de pen- civis palestinas. Foram mortos cinqüen-<br />

Israel (FDI) pelas mortes - embora ne- é retratado como uma nação ocupante sar não evoluiu de forma natural. Foi ta e dois palestinos, quase todos comnhuma<br />

investigação tivesse sido con- com tropas violentas; é chamado de cultivada assiduamente durante várias batentes armados. Mas, nenhum desduzida,<br />

e os acusadores palestinos não "estado apartheid". O próprio sionismo décadas, com as muitas batalhas emtes fatos foi considerado relevante pela<br />

tivessem nenhum modo de saber o que se tornou um importante alvo desta viopreendidas contra Israel durante este mídia ou pelas autoridades oficiais in-<br />

de fato causou a explosão.<br />

lência retórica.<br />

tempo, que serviram como oportuniternacionais. Declarações exultantes de um Antes considerado como uma resdades importantes para aqueles cuja A narrativa "do que houve" em Je-<br />

massacre israelense foram noticiadas posta heróica a pogroms e genocídio, meta é o deslegitimização e o isolanin já havia sido decidida, e exigia his-<br />

como fato, em jornais e transmissões o sionismo agora é culpado por conmento do estado judeu. O caso de tórias de matança em massa e crimes<br />

de TV, ao redor do mundo; grupos de ceder absolvição ideológica para a Muhammad al-Dura, de doze anos, nas de guerra. A agência oficial de notí-<br />

direitos humanos se uniram às conde- perpetração desses mesmos crimes. primeiras semanas da segunda Intifacias palestina declarou que o "massanações;<br />

e, mais uma vez, Israel viu-se Todas estas caricaturas têm por objeda foi um exemplo típico de como se cre do século XXI" tinha sido perpetra-<br />

como objeto de indignação internaciotivo redefinir o caráter básico do sio- construiu esse conceito negativo de do. O enviado da ONU para o Oriente<br />

nal com relação à questão de vítimas nismo e do estado que ele ajudou a Israel. Al-Dura teria sido morto num Médio, Terje Roed-Larsen, descreveu<br />

civis. Se esta história e suas origens criar, debilitando insidiosamente, des- fogo cruzado em Gaza, entre soldados Jenin como "mais horripilante do que<br />

se ajustam perfeitamente a um padrão te modo, tanto a legitimidade do Es- das FDI e palestinos. Um operador ci- se poderia acreditar", e concluiu que<br />

previsível, a reação de Israel à crise tado judeu em sua forma atual, quannematográfico palestino, trabalhando "Israel perdeu toda a base moral nes-<br />

também seguiu o padrão previsível: as to a base moral e ideológica para sua para o canal de notícias francês Frante conflito". Derrick Pounder, um "pe-<br />

FDI cessaram imediatamente as ativi- criação. E esta redefinição foi segurace 2, capturou cenas do fogo cruzado rito forense" da Anistia Internacional,<br />

dades militares em Gaza, e as autorimente bem sucedida: em uma pesqui- num filme, e o vídeo, editado pelo ca- comentou, ao entrar em Jenin, que "as<br />

dades israelenses, em seus níveis mais sa de opinião feita em 2007, pela BBC nal France 2 e então distribuído, sem evidências diante de nós, no momen-<br />

altos, espontaneamente admitiram a World Service, foi pedido aos pesqui- custo, para outras organizações de to, não nos levam a crer que as alega-<br />

culpabilidade das FDI e prometeram sados, em dúzias de países, que clas- mídia. Sem surpresa, Al-Dura foi enções possam não ser verdadeiras e,<br />

uma investigação do incidente. sificassem 27 nações de acordo com terrado antes que uma autópsia, re- portanto, há um grande número de ci-<br />

O último capítulo da história é sua influência positiva ou negativa no moção de balas, ou testes de balístivis mortos debaixo destas ruínas de-<br />

igualmente familiar: ao final das inves- mundo. Israel foi classificado em últica pudessem ser realizados. Anos demolidas bombardeadas que nós vetigações<br />

ficou comprovado que os pamo lugar absoluto - até abaixo do Irã - pois a farsa foi comprovada. Mas até mos." Nos EUA, a National Public Ralestinos<br />

na praia não foram mortos com apenas 17% dos entrevistados di- que isso viesse a público, a Anistia dio, a CNN, e o jornal The Los Angeles<br />

pelas FDI. Ao invés disso, o Hamas tizendo que viam Israel como uma in- Internacional culpou Israel dando um Times repetiram incansavelmente hisnha<br />

minado a parte da praia onde a fluência "principalmente positiva". aval às acusações palestinas e frantórias de atrocidades, e no New York<br />

explosão aconteceu, esperando defen- Entre países ocidentais, Israel se saiu cesas. Em grande parte devido ao sen- Times, o ex-presidente Jimmy Carter<br />

der seu arsenal de foguetes Kassam apenas um pouco melhor: na Austrásacionalismo cinematográfico do inci- acusou Israel de "destruir" Jenin "e<br />

contra missões de comandos israelenlia, Itália, Reino Unido, França, e Grédente. As imagens de Al-Dura morto outros povoados". Na Inglaterra, a imses.<br />

Depois da explosão, homens do cia, Israel é visto como uma influên- foram utilizadas pelo mundo árabe e prensa era a mais gratuita. "O doce e<br />

Hamas rastrearam a praia, removencia "principalmente negativa" por qua- pelas mídias européias como ícones horrível cheiro desagradável de corpos<br />

do estilhaços que poderiam ser usase dois terços das pessoas, e, na Ale- da situação dos palestinos como víti- humanos apodrecidos está em todos<br />

dos como prova. O vídeo sensacionamanha, por mais de três quartos das mas da crueldade israelense. Até mes- lugares, provando que é uma tumba<br />

lista, que capturou as simpatias de pessoas. Da mesma forma, uma pesmo Osama Bin Laden usou isso ao humana", despejou Phil Reeves no In-<br />

jornalistas crédulos, e provocou uma quisa de opinião em 2003 concluiu que, advertir, um mês depois dos ataques dependent. "As pessoas dizem que há<br />

fogueira de afronta pública, se mos- entre europeus, Israel é considerado de 11/9, que "Bush não deve esque- centenas de cadáveres, sepultados<br />

trou, em avaliação objetiva, uma mon- o país mais perigoso no mundo. cer-se da imagem de Muhammad Al- sob o pó". David Blair do Daily Teletagem<br />

mutilada de trechos de vídeo Os subordinados a este fenômeno Dura". Hoje, sabe-se que foi tudo uma graph informou que tropas das FDI<br />

colados e anacronismos não explicá- são o que poderia ser chamado, se a fabricação diabólica, planejada para executaram sumariamente nove hoveis.<br />

Em outras palavras, era uma frau- pessoa quiser ser polêmica, o lobby ser mais um ataque com artilharia pemens, que foram despidos e ficaram<br />

de. A própria explosão aconteceu uns anti-Israel, ou, mais precisamente, sada na guerra maior para destruir a apenas com suas roupas íntimas, "co-<br />

dez minutos depois que a último car- uma cultura dominante de opinião, reputação moral de Israel e das FDI. locados contra um muro e executados<br />

tucho de artilharia das FDI tinha sido compartilhada por organizações de di- Menos de dois anos depois, Israel com simples tiros na cabeça".<br />

disparado na área, e os estilhaços reitos humanos, ONGs, departamen- era outra vez objeto de um "Dois Minu- No final das contas, o único mas-<br />

achados nos corpos das vítimas não tos de Estudos do Oriente Médio e grutos de Ódio Orweliano" ( N.T. período sacre que foi cometido foi conduzido<br />

eram de munições israelenses.<br />

pos em campus universitários, as Na- no qual os membros do partido assis- pela ONU, pelas organizações de aju-<br />

O Hamas, numa tentativa malfeições Unidas, organizações cristãs tiam a um filme, mostrando seus inida internacionais, e pela imprensa inta<br />

de defender Gaza, com certeza ma- "progressistas", e a maioria esmagamigos, e expressavam seu ódio contra ternacional - um massacre da verdatou<br />

seus próprios cidadãos. No fim, nedora da mídia e elite cultural britâni- eles, no livro 1984, de George Orwell), de, que foi planejado, exatamente<br />

nhuma das evidências justificativas cas e européias. Estas facções operam baseado em outra atrocidade inventa- como o enviado da ONU declarou tão<br />

encontradas teve a menor importân- em um estado mais ou menos permada, desta vez na cidade de Jenin, na Sa- presunçosamente, para destruir a recia:<br />

Israel já havia sido julgado e connente de antagonismo a Israel, e em mária. Durante a Operação Escudo putação moral de Israel em sua luta<br />

denado no tribunal da opinião pública nenhuma época prévia da história do Defensivo, tropas das FDI entraram contra a ofensiva terrorista palestina.<br />

mundial nos primeiros poucos dias do estado judeu existiu tal eixo interna- numa parte de Jenin para livrá-la de Mais recentemente, ocorreu o caso da<br />

incidente. E, como tem acontecido, tão cional profusamente consolidado, terroristas, que enviavam um número Segunda Guerra do Líbano, cujos re-


sultados inesperados concentraram a<br />

atenção israelense em falhas militares<br />

e políticas. Esta autocrítica ignorou<br />

em grande parte uma terceira falha,<br />

isto é, a facilidade com que Israel<br />

foi derrotado uma vez mais na mídia.<br />

Dentro dos primeiros dias do começo<br />

da guerra, e sem uma coordenação<br />

consciente, os inimigos de Israel<br />

começaram a debilitar a autodefesa<br />

israelense: Kofi Annan anunciou,<br />

sem uma prova que fosse, que Israel<br />

tinha intencionalmente assassinado<br />

quatro membros da Unifil; grupos de<br />

direitos humanos como a Anistia Internacional<br />

e a Human Rights Watch<br />

(HRW) produziram rapidamente montes<br />

de relatórios condenando o esforço<br />

de guerra de Israel, alegando crimes<br />

de guerra, e ignorando primariamente<br />

o Hezbolá (Kenneth Roth, o diretor<br />

executivo da HRW, acusou Israel<br />

de empreender "guerra indiscriminada"<br />

e acrescentou, sem qualquer comprovação<br />

confiável, que "em alguns<br />

casos, forças israelenses pareceram<br />

ter mirado deliberadamente em civis");<br />

e os jornalistas inundaram a<br />

área com a cobertura das vítimas civis<br />

libanesas, produzindo falsos relatórios<br />

sobre os bombardeios de<br />

Qana, fotografias adulteradas, e histórias<br />

para os noticiários que foram<br />

organizadas e dirigidas pelo Hezbolá.<br />

Em suas excursões no campo de<br />

batalha para repórteres, o Hezbolá foi<br />

longe, chegando a ponto de fabricar<br />

tiroteios em ambulâncias, já que aparentemente<br />

a compensação por usar<br />

estes veículos como acessórios de<br />

produção para a imprensa internacional<br />

era preferível do que usá-los para<br />

ajudar feridos libaneses.<br />

A resposta israelense para as calúnias,<br />

tão previsivelmente lançadas<br />

em sua direção, foi algumas vezes<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Deficientes servem o exército em Israel como voluntários<br />

O exército de Israel adotou uma política<br />

impensável em outros países: a de<br />

admitir em seus quadros soldados portadores<br />

de deficiências, desde cegos até<br />

portadores de síndrome de Down.<br />

Esses militares, alguns com postos de<br />

oficial, não foram recrutados para o serviço<br />

militar obrigatório e não participam<br />

de operações de combate, mas são voluntários.<br />

Danielle Kalifa, que nasceu completamente<br />

cega, é uma das jovens soldadas<br />

da seção de internet de Galéi Tzahal, a<br />

emissora de rádio do Exército Israelense.<br />

Ela se encarrega de transcrever os<br />

programas de rádio para que sejam publicados<br />

no site da emissora.<br />

"Sei que contribuo com algo valioso.<br />

Desfruto cada momento e, com esse serviço,<br />

cumpro meu sonho de toda a vida",<br />

disse ela do seu trabalho.<br />

O tenente Yonatan Cohen, que sofre<br />

competente, mas com freqüência demais<br />

recorreu a táticas familiares e<br />

autodestrutivas: desculpas gratuitas e<br />

autocrítica, servilidade em face a jornalistas<br />

hostis, e uma incapacidade<br />

para fazer sua defesa básica de que<br />

as vítimas civis libanesas eram uma<br />

das metas centrais do Hezbolá no conflito,<br />

precisamente por causa de seu<br />

valor de propaganda. Incrivelmente,<br />

depois do bombardeio em Qana, Israel<br />

prometeu suspender suas operações<br />

aéreas por 48 horas, um gesto para<br />

seus inimigos e aliados também, que,<br />

nos níveis mais elevados de governo<br />

lá, inflamou uma profunda ambivalência<br />

sobre o esforço de guerra.<br />

Lá pelo meio do conflito, a narrativa<br />

da guerra tinha sido distorcida, mudando<br />

de uma na qual Israel estava se<br />

defendendo do ataque de uma organização<br />

terrorista apoiada pelo Irã para<br />

uma na qual Israel estava, mais uma<br />

vez, matando civis com selvageria.<br />

Nas primeiras páginas do New York Times<br />

e do Washington Post, Israel foi<br />

retratado como o agressor quase duas<br />

vezes mais freqüentemente nas manchetes<br />

e exatamente três vezes mais<br />

freqüentemente nas fotografias.<br />

O padrão revelado por estes eventos<br />

mostra um registro perturbador: o<br />

curso de uma ação corrosiva. Em qualquer<br />

crise, seja Al-Dura, Jenin, Líbano,<br />

ou a explosão na praia de Gaza, a<br />

resposta israelense se caracterizou<br />

pelos mesmos silêncios, erros graves<br />

de uma presunção espontânea de culpa;<br />

desculpas antecipadas, autocrítica<br />

desnecessária, promessas de investigação,<br />

e suspensão da ação militar;<br />

um tratamento irresoluto para exatamente<br />

o tipo de acusações incendiárias<br />

que requerem uma resposta enérgica<br />

e consistente; a afirmação de inocência<br />

somente depois que a tempes-<br />

de paralisia cerebral e usa uma cadeira<br />

de rodas, é outro voluntário.<br />

"Não é mais que um metal exterior que<br />

nada tem a ver com minha vontade de fazer,<br />

atuar e contribuir para a sociedade",<br />

disse ele sobre a cadeira de rodas.<br />

Yonatan, o primeiro deficiente a receber<br />

grau de oficial no Exército Israelense,<br />

é responsável pelo contato com<br />

jovens que estão prestes a servir o exército.<br />

Ele percorre o país em visitas a colégios<br />

secundários e outros locais, para<br />

explicar a importância do serviço militar<br />

e encorajar os jovens a "ser parte do esforço<br />

de todos", "Ao me verem, não podem<br />

dar desculpas de que têm problemas<br />

para se alistar. Se eu posso, todos<br />

podem", afirma.<br />

Apesar do tratamento igual sem benefícios<br />

especiais, Danielle e Yonatan<br />

estão cientes de suas limitações, que são<br />

respeitadas pelo exército.<br />

tade da mídia tenha passado; e finalmente,<br />

a recusa em fazer uma ofensiva,<br />

retoricamente ou de outro modo,<br />

contra os indivíduos e organizações<br />

que fizeram a calúnia contra Israel se<br />

tornar um esporte tão vergonhosamente<br />

fácil.<br />

Várias reformas, conceituais e estruturais,<br />

são imperativas. A primeira é a<br />

respeito da Unidade do Porta-voz das<br />

FDI, o pequeno grupo dentro do exército<br />

israelense que se encarrega das relações<br />

com a mídia. Em tempos de guerra,<br />

seus soldados civis são sobrecarregados<br />

pela pesada responsabilidade de<br />

explicar ações militares israelenses para<br />

o mundo. Tem que se tornar uma das<br />

unidades de elite nas FDI.<br />

Um gabinete deveria ser criado<br />

em Jerusalém, onde há um grande<br />

contingente de grupos da imprensa<br />

estrangeira, para estimular o cultivo<br />

das relações com jornalistas. E deveria<br />

ser criado um gabinete de conexão,<br />

de modo a coordenar a estratégia<br />

de mídia e as mensagens entre<br />

as FDI e o governo, com o objetivo de<br />

construir uma estratégia de comunicações<br />

única para toda operação militar<br />

importante.<br />

Para que estas mudanças deixem<br />

sua marca, o próprio governo israelense<br />

tem que adotar um processo de comunicações<br />

mais disciplinado. Hoje,<br />

Israel não tem nenhuma infra-estrutura<br />

de comunicações unificada; cada<br />

Ministério e seção das FDI oferecem<br />

seu próprio porta-voz à imprensa, e o<br />

resultado é uma multiplicidade de declarações<br />

e mensagens, que freqüentemente<br />

deixam Israel na defensiva e<br />

parecendo ser culpado diante de acusações<br />

irrefutáveis. No nível conceitual,<br />

os estrategistas israelenses e os porta-vozes<br />

têm que passar a entender a<br />

imensa importância da comunicação<br />

A jovem viaja sozinha de ônibus diariamente<br />

da cidade costeira de Natania,<br />

onde mora com os pais. Ela decorou as<br />

curvas do caminho para calcular quando<br />

deve saltar do ônibus, no ponto de Yaffo,<br />

em Tel Aviv.<br />

"Agora estão fazendo obras em Sderot<br />

Yerushalaim", disse ela, se referindo<br />

à principal rua do bairro.<br />

"Isso virou uma loucura, mas ao chegar<br />

ligo para um de meus colegas e eles<br />

vêm me buscar no ponto."<br />

Yonatan Litani, o produtor do Galéi<br />

Tzahal on-line, e amigo pessoal de<br />

Danielle, afirma que "não há outra garota<br />

tão especial como ela".<br />

Yonatan Cohen, por sua vez, não pode<br />

viajar sozinho já que, por conta das<br />

sérias limitações motoras, precisa de ajuda<br />

24 horas por dia.<br />

Seu acompanhante filipino, Boboy, já<br />

sabe o nome de todas as unidades em he-<br />

social organizada na guerra moderna.<br />

Isto significa que os israelenses têm<br />

que considerar o papel desempenhado<br />

pelas ONGs e organizações de notícias<br />

empenhadas em deliberar falsas informações.<br />

Estes agentes já não podem<br />

ser agrupados conceitualmente<br />

como terceiros ou observadores neutros<br />

durante os conflitos; eles estão<br />

profundamente implicados na própria<br />

guerra, e como partes de um conflito,<br />

sua presença deve ser tratada com a<br />

máxima seriedade.<br />

Há mais de um ano, as FDI têm<br />

conduzido ataques aéreos em Gaza,<br />

que são destinados a impedir o disparo<br />

de foguetes Kassam para Israel, e<br />

porque o Hamas e os terroristas da<br />

Jihad Islâmica operam intencionalmente<br />

entre civis, estes ataques invariavelmente<br />

matam transeuntes não<br />

envolvidos e criam histórias de notícias<br />

prejudiciais. Seria extraordinariamente<br />

fácil a um governante dar<br />

uma coletiva de imprensa em Sderot<br />

na frente a uma escola destruída por<br />

disparos de foguetes palestinos e explicar<br />

para as câmeras que, enquanto<br />

Israel está atacando o Hamas para<br />

proteger as vidas das crianças israelenses,<br />

o Hamas está enviando suas<br />

crianças em missões suicidas para<br />

operar exatamente esses mesmos dispositivos<br />

de lançamento de foguetes.<br />

Toda vez, depois disso, que Israel atacar<br />

terroristas em Gaza, o porta-voz<br />

israelense poderia martelar nesta tecla,<br />

condenando o fato de o Hamas<br />

usar crianças em ataques terroristas.<br />

Repetindo freqüente e vigorosamente<br />

o bastante, o ocidental comum<br />

pode não estar muito inspirado a gostar<br />

de Israel, mas pelo menos ele começará<br />

a entender a natureza de sua<br />

luta - e a realidade macabra da "resistência"<br />

palestina.<br />

braico e reconhece onde servem os soldados,<br />

de acordo com a cor de suas boinas.<br />

Mas para Danielle, que considera os<br />

colegas de trabalho como uma "família",<br />

e Yonatan, a questão é mais séria do que<br />

apenas um encontro com amigos e reflete<br />

a sociedade israelense em si.<br />

Danielle está convencida de que "se<br />

a comunidade na qual vive não sabe aceitar<br />

as pessoas um pouco diferentes, nunca<br />

chegará a um bom termo".<br />

Yonatan conta que já recebeu todo<br />

tipo de reações. Alguns riram quando o<br />

viram, "mas também há os que reagem<br />

com admiração".<br />

Ele, que considera ter sido "compensado"<br />

por sua limitação física com grande<br />

capacidade intelectual, não tem dúvidas:<br />

"se eu transmito sentimento de<br />

pena, essa será a atitude, mas não é o<br />

que desejo, nem o que devo transmitir",<br />

disse ele.<br />

7


8<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

MENSAGEM DA<br />

EMBAIXADORA DE<br />

ISRAEL, TZIPORA<br />

RIMON,<br />

À COMUNIDADE<br />

JUDAICA DO BRASIL,<br />

POR OCASIÃO DO<br />

ANO NOVO JUDAICO<br />

- 5769 E DE SUAS<br />

DESPEDIDAS<br />

Caros amigos,<br />

Como todos os anos quando nos aproximamos no final do mês Elul e<br />

início do Ano Novo em Tishrei, desejo à toda a comunidade judaica do Brasil<br />

meus sinceros votos de sucesso, saúde e prosperidade.<br />

Este ano marca também a minha despedida - encerro na próxima semana<br />

a minha missão como Embaixadora da Israel no Brasil e após 4 anos de<br />

serviço diplomático no país, regresso a Israel.<br />

Foram anos de desafios profissionais, tentando ampliar, cada vez mais a<br />

cooperação entre os dois países. Encontramos vastos campos de interesses<br />

mútuos para dialogar e assinar acordos bilaterais e com o Mercosul e presenciamos,<br />

nos últimos anos, várias visitas oficiais entre os dois países.<br />

Não menos importante, foi para mim a estreita cooperação com a comunidade<br />

judaica do Brasil, que através de sua liderança e integrantes buscamos<br />

meios para reforçar o vínculo e atuação junto a assuntos pertinentes<br />

a Israel e à própria comunidade.<br />

Levarei comigo boas lembranças do Brasil e de todos vocês, sejam nas<br />

comunidades pequenas e grandes, nas organizações, nas escolas e movimentos<br />

juvenis, nas sinagogas e entidades. Agradeço pela colaboração, calorosa<br />

recepção e amizade.<br />

Tenho certeza de que o novo Embaixador, Sr. Giora Becher, encontrará<br />

uma boa receptividade por parte da comunidade e continuará contando com<br />

a costumeira cooperação.<br />

SHANA TOVÁ UMEVORECHET<br />

FELIZ ANO NOVO<br />

<strong>VJ</strong> INDICA<br />

LIVRO<br />

Compromisso<br />

com a Vida<br />

Rebetsin Esther Jungreis<br />

Editora W-Edith<br />

Perpassando a eterna sabedoria<br />

da Torá, Rebetsin Esther Jungreis<br />

recorda-nos os princípios necessários<br />

para viver uma vida melhor e<br />

mais compromissada. Inspirador e<br />

profundamente emocionante,<br />

este livro tocará seu coração.


VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Rosh Hashaná e as maçãs<br />

Breno Lerner *<br />

No mês em que celebramos o Ano Novo, uma história<br />

e receitas de maçãs.<br />

Vocês já ouviram falar de Johnny Appleseeds? Não?<br />

Pois assim ficou conhecido John Chapman, um personagem<br />

interessantíssimo da história americana que viveu<br />

no final do século XVIII.<br />

Chapman passou sua vida tentando convencer as pessoas<br />

que frutas, especialmente a maçã, eram essenciais<br />

à saúde, e espalhou mudas de macieiras por todos os Estados<br />

Unidos, ensinando os colonos como plantá-las, colhê-las<br />

e utilizá-las. Não é à toa que os americanos são<br />

os maiores consumidores de maçã in natura do mundo e<br />

criaram frases com "An apple a day keeps the doctor<br />

away" ou "As american as an apple pie" (embora a torta<br />

de maçãs seja uma invenção inglesa, não americana).<br />

Seja como for, neste mês, aqui vão umas receitinhas de<br />

maçãs para manter a tradição de Rosh Hashaná e para<br />

homenagear o aniversário do bom Johnny Appleseeds que<br />

nasceu em 26 de setembro de 1774.<br />

CRUMBLE DE MAÇÃS<br />

Para a cobertura:<br />

½ xícara de bolacha cream<br />

crackers esfarelada;<br />

Para o recheio:<br />

4 maçãs vermelhas sem casca e<br />

sementes, cortadas em fatias finas<br />

(para não escurecer, banhe-as com<br />

1/4 xícara de nozes picadas; suco de limão);<br />

100 g de manteiga;<br />

4 colheres de sopa de vinho branco;<br />

2 colheres de sopa de açúcar; 1 colher de café de cravo em pó;<br />

1 colher de café de canela em pó; 2 colheres de sopa de açúcar.<br />

COMPOTA SEFARADI DE MAÇÃS<br />

3 maçãs vermelhas sem casca e<br />

sementes;<br />

Suco de 1 limão;<br />

2 xícaras de chá de açúcar;<br />

1 xícara de chá de água;<br />

2 cravos;<br />

2 colheres de sopa de água de rosas.<br />

Corte cada maçã ao meio e coloque<br />

num recipiente com água gelada e o<br />

suco de limão.<br />

Faça uma calda rala com as 3 xícaras<br />

de água, os cravos e o açúcar, 10 a<br />

15 minutos de fervura. Seque as maçãs<br />

e cozinhe-as por 20 minutos na<br />

calda ou até amaciar. Adicione a água<br />

de rosas, coloque tudo numa compoteira,<br />

deixe esfriar e sirva.<br />

CARPACCIO DE MAÇÃS<br />

*Breno Lerner é editor e gourmand, especializado em culinária judaica. Escreve para revistas, sites e jornais. Dá<br />

regularmente cursos e workshops. Tem três livros publicados, dois deles sobre culinária judaica.<br />

9<br />

Misture todos os ingredientes<br />

da cobertura até<br />

formar uma pasta. Misture<br />

os ingredientes do recheio<br />

e coloque em uma<br />

assadeira untada. Cubra<br />

com a cobertura, espalhando-a<br />

bem. Asse em<br />

forno alto por 25 minutos.<br />

4 maçãs verdes;<br />

Suco de 1 limão;<br />

1/2 xícara de alcaparras escorridas;<br />

4 colheres de sopa de azeite;<br />

1 pitada de sal;<br />

Pimenta do reino moída na hora à gosto;<br />

Queijo parmesão ralado grosso à gosto.<br />

Descasque as maçãs, retire as sementes sem partilas<br />

ao meio e fatie as maçãs em rodelas finíssimas.<br />

Cubra com o suco de limão e deixe descansar por uns<br />

minutos. Escorra e reserve o suco do limão. Coloque<br />

no liquidificador metade das alcaparras, azeite, sal e<br />

o suco de limão reservado. Bata até dar liga no molho.<br />

Despeje o molho sobre as rodelas de maçã arrumadas<br />

em uma vasilha e polvilhe com a pimenta do<br />

reino, o queijo ralado e enfeite com a metade das<br />

alcaparras que sobrou. Sirva com torradas.


10<br />

* Ana<br />

Jerozolimski é<br />

jornalista e<br />

correspondente<br />

em Israel do<br />

Semanário<br />

Hebreo-<br />

Uruguay.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

"Não há opção de diálogo com o Hamas",<br />

diz o líder do Al-Fatah, Ziad Abu Ein<br />

Em entrevista destaca: "Temos que recuperar o poder pela força porque o Hamas tem a população de refém".<br />

Ana Jerozolimski *<br />

Ziad Abu Ein, vice-ministro da Autoridade<br />

Palestina, encarregado do tema dos presos em<br />

Israel, é um dos líderes da Al Fatah, a facção<br />

central da OLP, encabeçada pelo presidente da<br />

Autoridade Palestina Mahmud Abbas na Cisjordânia.<br />

Ele analisa com preocupação a situação atual e<br />

está certo de que Israel não os ajudará contra o<br />

Hamas. Para ele Israel é culpado da situação. Essa é<br />

a cabeça de um dirigente palestino que mostra o<br />

quão difícil é chegar a paz com eles.<br />

P: Como avalia a situação interna atual<br />

palestina, após os últimos atos de violência<br />

na Faixa de Gaza?<br />

R: Creio que o Hamas escolheu seu caminho:<br />

continuar ocupando a Faixa de<br />

Gaza, usando seu poder militar para tapar<br />

todas as bocas, para impedir que<br />

qualquer outra facção palestina em<br />

Gaza participe da vida palestina. Este<br />

é seu caminho e não me parece que<br />

exista nenhuma opção de diálogo com<br />

o Hamas na Faixa de Gaza. A única opção<br />

é devolver o poder da Autoridade<br />

Palestina pelas armas. Não há possibilidade<br />

de conversar, porque eles não<br />

escutam e têm sua própria agenda, que<br />

não é a agenda nacional palestina.<br />

P: O que você acredita que seja a agenda<br />

do Hamas?<br />

R: O Hamas adota sua própria estratégia.<br />

Querem construir um estado islâmico<br />

na Faixa de Gaza. Não querem que<br />

exista uma Autoridade Palestina unificada<br />

entre a Cisjordânia e a Faixa de<br />

Gaza. Não querem diálogo. Usam sua<br />

força militar contra a população, não<br />

só contra o Fatah, mas contra outras<br />

facções, inclusive a Jihad Islâmica.<br />

Realmente não me parece que exista<br />

opção de diálogo com o Hamas. A única<br />

coisa que pode salvar a situação é<br />

que o mundo ou os países árabes dêem<br />

ao presidente Mahmud Abbas (Abu Mazen)<br />

a possibilidade de recuperar o poder.<br />

É que um milhão e meio de palestinos<br />

que vivem na Faixa de Gaza são<br />

reféns do Hamas e o dever do Presidente<br />

é libertá-los de suas mãos.<br />

P: Mas o tema não é só se haverá legitimidade<br />

internacional para que Abu<br />

Mazen atue pela força contra o Hamas,<br />

porém se a Autoridade Palestina, ou o<br />

Al Fatah, têm o poder de fazê-lo... É<br />

que o Hamas fortaleceu-se mais ainda<br />

em Gaza.<br />

R: O problema agora é que até o momento<br />

não se tomou a decisão política<br />

de dar esse passo. Um dos nossos erros<br />

é que se deixa que o Hamas continue<br />

nos combatendo, sem tomar uma<br />

decisão de fazer algo a respeito. Nós<br />

temos a maioria na Faixa de Gaza. Mais<br />

de 7.500 membros das forças de segurança<br />

em Gaza, recebem salários da Autoridade<br />

Palestina e são de Abbas.<br />

P: O Hamas tem muito mais homens<br />

que isso, e por certo não se poderia dizer<br />

que não há apoio ao Hamas em<br />

Gaza... E não me refiro só aos resultados<br />

das últimas eleições...<br />

R: Temos que recordar o que aconteceu<br />

quando foi o segundo aniversário<br />

da morte de Yasser Arafat, em novembro.<br />

Em sua memória, um milhão de palestinos<br />

saiu ás ruas para dizer: "sim a<br />

Arafat, sim à OLP, não ao Hamas".<br />

P: É verdade. E houve enfrentamentos<br />

violentos.<br />

R: Sem dúvida. O Hamas abriu fogo contra<br />

a população e matou doze palestinos.<br />

Isso significa que a maioria da população<br />

ali não quer o Hamas. Neste<br />

momento, o Hamas é um poder ocupante<br />

em Gaza, que atua contra os interesses<br />

do povo. Por exemplo, o cerco<br />

imposto à Faixa de Gaza, ajuda o Hamas,<br />

convém a ele. Quando não há cerco,<br />

digamos que algo que se venda por<br />

um dólar, agora custa 20. Usam os canais<br />

de contrabando desde o Egito e ganham<br />

assim milhões por dia. Agem<br />

como a máfia na Faixa de Gaza, controlam<br />

tudo, da gasolina até os cigarros,<br />

tomam posse do que querem.<br />

P: Recordemos que tinha gente que lançava<br />

essas acusações também contra<br />

o pessoal do Fatah, quando controlava<br />

ali a Autoridade Palestina...<br />

R: É o Hamas que age contra os interesses<br />

palestinos, pela força. E devese<br />

tomar a decisão de reverter a situação.<br />

E o elemento mais preocupante é<br />

que entre o Hamas e as outras facções,<br />

há "sangue", muitas coisas passaram<br />

e as pessoas, em algum momento, querem<br />

reagir. Isso é o que mais medo dá,<br />

o que pode chegar a ocorrer.<br />

P: Mas por ora, a Autoridade Palestina<br />

não faz nada diz você, não decide<br />

politicamente fazer algo...<br />

R: Nada. E me enoja. Nós somos responsáveis<br />

por todos na Faixa de Gaza,<br />

mas não se tomam medidas. E temo<br />

pensar o que possa acontecer aqui, na<br />

Cisjordânia, se minha vida corre perigo,<br />

se nós aqui vamos ser ameaçados.<br />

Se não podemos ajudar em nada aos<br />

irmãos de Gaza por que aqui seria diferente?<br />

P: E quem é responsável por esta<br />

situação?<br />

R: O Presidente, o Comitê Central da Al<br />

Fatah. E precisam se decidir de uma vez.<br />

As pessoas na Faixa de Gaza nos perguntam<br />

até quando esperaremos, o<br />

que fazer. Dizem-nos: "Não querem que<br />

lutemos, porque não querem violência,<br />

guerra civil. Está bem. Mas têm algum<br />

plano? Virão pelo mar? Do Egito? De<br />

Israel? Tratarão de alguma forma de<br />

reinstaurar o poder legítimo da Autoridade<br />

Palestina em Gaza? Pensam em<br />

falar com o Hamas?". E nós não dizemos<br />

nada.<br />

P: Que tipo de plano você vê para reverter<br />

a situação?<br />

R: O que lhe posso dizer é que Israel<br />

não entrará nunca em Gaza com seus<br />

tanques para fazê-lo, mas que defenderá<br />

com eles o que está acontecendo<br />

em Gaza.<br />

P: Ao que se refere?<br />

R: Israel defenderá o Hamas com seus<br />

tanques, porque se se libertar um milhão<br />

e meio de palestinos que estão em<br />

Gaza, sejam do grupo que sejam, isso<br />

reduz o problema demográfico para Israel.<br />

Asseguro-lhe que Israel defenderá<br />

um Estado do Hamas na Faixa de<br />

Gaza. Não permitirá que os palestinos<br />

fiquem unidos.<br />

P: Não lhe parece realmente exagerado<br />

acusar Israel pelos problemas internos<br />

palestinos?<br />

R: Quando o Hamas contrabandeia armas<br />

à Faixa de Gaza, Israel não o detém,<br />

mas se fosse contra si, o faria...<br />

P: É contra si. Israel vê com grande<br />

preocupação o contrabando de armas<br />

e não depende só de Israel que se detenha<br />

isso, porém, mais que tudo do<br />

Egito.<br />

R: Mas à Autoridade Palestina, Israel<br />

não permitiu ter armas pesadas. E o<br />

problema é que o Hamas as tem.<br />

P: E crê que a Autoridade Palestina<br />

deveria tratar de entrar de novo<br />

em Gaza?<br />

R: Sim, mas com a ajuda do mundo árabe.<br />

Mas creio que Israel não o permitirá.<br />

Não creio que Israel permitirá que<br />

levemos nossas armas para Gaza para<br />

libertar os palestinos que são ali reféns<br />

do Hamas. Nós podemos fazê-lo sozinhos,<br />

mas unicamente se nos permitirem<br />

trazer nossas armas e por isso digo<br />

que é imprescindível ter autorização internacional.<br />

Se tivermos armas pesadas,<br />

a população nos obedecerá. Sem armas<br />

fortes, a luta pode prolongar-se muito<br />

tempo e correrá muito sangue. Não precisamos<br />

de mais sangue em Gaza.<br />

P: No fundo, já há sérios problemas,<br />

mais além da luta pelo poder. Muita<br />

gente morreu no primeiro grande choque<br />

violento, há mais de um ano, quando<br />

o Hamas tomou o poder em Gaza e<br />

isso deixa aberto o desejo de vingança<br />

em diferentes níveis.<br />

R: Claro que sim. Há uma quebra, uma<br />

fratura na sociedade. Isso é algo muito<br />

profundo e muito sério. Precisamos de<br />

uma liderança forte para acabar com<br />

isto.<br />

P: E a única opção é tratar de libertar<br />

Gaza do Hamas pela força?<br />

R: Sim, não há nenhuma opção de diálogo<br />

com o Hamas. Em sua mentalidade<br />

religiosa, o Hamas não pode aceitar<br />

outros diferentes do Hamas. Crêem<br />

que os não religiosos devem ir ao inferno,<br />

devem ser mortos. É uma forma<br />

de pensar. Se esse pensamento não<br />

muda, não haverá nenhuma oportunidade<br />

de fazer nada. Tampouco em outras<br />

partes do mundo árabe, onde há<br />

outros grupos fundamentalistas, como<br />

a Irmandade Muçulmana.<br />

P: No sábado, Israel permitiu a entrada<br />

de numerosos palestinos do clã de<br />

Ahmed Hiles, identificados com o Al-<br />

Fatah, que fugiram de Gaza após ser<br />

atacados pelo Hamas. Alguns foram<br />

hospitalizados em Israel e outros foram<br />

detidos até que se esclarecesse sua situação.<br />

Finalmente passaram para Jericó<br />

Quem são?<br />

R: Só homens do clã Hiles. As mulheres<br />

ficaram em Gaza. Mas a intenção é organizar-se<br />

de modo que possam passar<br />

para Ramallah, onde está a sede<br />

do governo palestino.<br />

P: Há dúvidas sobre essas pessoas. Em<br />

Israel se diz que de fato, Ahmed Hiles,<br />

o chefe do clã, tinha relações ambivalentes<br />

com o Hamas...<br />

R: É verdade. Ele é amigo pessoal de Al-<br />

Jaabari, o chefe dos batalhões Izz al Din<br />

al-Qassam, o braço armado do Hamas.<br />

P: É verdade que ele não lutou contra<br />

o golpe do Hamas há mais de um ano?<br />

R: É verdade.<br />

P: E para que tinha então tantas armas<br />

em sua casa?<br />

R: É que assim é em Gaza. Esse é o problema.<br />

Ele tinha muitas diferenças com<br />

o pessoal de Muhamad Dahlan.<br />

P: Que também é do Fatah... era ele<br />

chefe da Segurança já nos tempos de<br />

Arafat. Ou seja que a guerra não é só<br />

entre o Hamas e o Fatah...<br />

R: É correto, há muitos problemas...<br />

Mas agora, o urgente, é pôr fim à ocupação<br />

do Hamas em Gaza.


O laudo Olmert -<br />

La Stampa<br />

Riccardo Barenghi *<br />

Sinto-me orgulhoso de ser um cidadão de um país que<br />

permite que a polícia investigue o seu premiê, que não<br />

está acima da lei, mas até mesmo abaixo dela. Ler estas<br />

palavras dá disposição para avançar neste país (Itália), onde<br />

as coisas não vão tão bem, a ponto de um chefe do governo<br />

não só não apreciar suspeitas de que seja investigado,<br />

e retirar dos juízes que apuraram a verdade, a permissão<br />

para isso, como esta ser sua melhor forma de defesa. O país<br />

chamado Israel certamente não vive uma vida fácil, pois<br />

nasceu há sessenta anos.<br />

Nem ele, nem os palestinos que vivem lá puderam encontrar<br />

a paz, e nem convivem em paz com os países árabes<br />

que circundam esse país, mas alguns não permanecem calados.<br />

Estamos falando de um país onde a guerra é a ordem do<br />

dia na verdadeira acepção da palavra - e vamos deixar aqui os<br />

motivos e as injustiças - uma guerra que às vezes é sofrida e,<br />

por vezes, abalada por parte de Israel, e que, no entanto causam<br />

mortes, feridos, destruição. Uma guerra em casa, em<br />

suma, na qual, quando alguém dobra uma esquina tem sempre<br />

a sensação de que algo possa vir acontecer, uma bomba,<br />

um suicida-bomba, um ataque.<br />

Ora, num país desse tipo acontece que a democracia é<br />

tão enraizada e forte, que a suspeita de um primeiro-ministro<br />

demissionário é sem dramas, abrindo caminho para a<br />

sucessão e novas eleições. Nós não somos israelenses, felizmente<br />

não temos guerra em casa, não devemos temer<br />

porque o Irã pretende destruir-nos ou o Hezbolá libanês<br />

dispare contra nós seus foguetes, não temos tanques nas<br />

ruas, não temos inimigos internos ou homens-bombas externos.<br />

Vivemos em paz. Mas nós nunca tivemos um presidente<br />

do Conselho com funções cessadas por suspeita - atenção,<br />

tivemos apenas suspeitos condenados - por parte do<br />

poder judicial. Imagine você, leitor, se Berlusconi ou Prodi,<br />

tal como fez Olmert, convocassem uma entrevista coletiva<br />

de imprensa para dizer: "Sinto-me orgulhoso de ser um cidadão<br />

de um país que permite que a polícia investigue o<br />

seu premiê..."?<br />

O nosso estilo é outro, desdenho e rejeição das acusações<br />

(e até agora essa reação é sagrada, muitas vezes, as<br />

denúncias são infundadas), ao invés de serem comunicadas<br />

as partes, são acusados os magistrdos de serem politizados,<br />

para investigar criam-se comissões de nome diversos por<br />

opositores políticos, ou talvez abram-se contra eles um bom<br />

processo disciplinar do qual resulte a transferência para a<br />

incompatibilidade do ambiente. Há até mesmo o caminho<br />

da demissão: "resistir, resistir, resistir. E, no fim, se você<br />

fizer o mal, aqui vai um belo prêmio Alfano que garante<br />

imunidade e boa vida para os jogadores.<br />

Arriscando uma comparação incorreta e até mesmo ofensiva<br />

para israelenses e palestinos, dizemos que também nós<br />

somos uma nação em guerra. Uma guerra que felizmente<br />

não está causando mortes (exceto aqueles que tenham cometido<br />

suicídio na prisão do julgamento do magistrado Di<br />

Pietro), mas envenena o ar da política e da sociedade civil,<br />

liquida carreiras e cria outras. A guerra começou há quinze<br />

anos e foi essencial para a descoberta do gigantesco pote<br />

da corrupção na política e na indústria, mas somos incapazes<br />

de ver sua conclusão. Isso poderia ocorrer apenas em<br />

um caso: é claro excluindo a hipótese de que a partir de<br />

hoje em diante todos os homens honestos tornaram-se probos.<br />

Isto quer dizer que os políticos estão começando a confiar<br />

nos juízes e promotores, mesmo quando eles estejam<br />

sob investigação por qualquer coisa, mas investigar um político<br />

pode ser para aparecer em cena.<br />

Esse tipo de resultado porém muito improvável, portanto,<br />

é bem provável que talvez tenhamos primeiro que esperar<br />

que os israelenses e os palestinos façam a paz.<br />

* Riccardo Barenghi é editorialista do jornal La Stampa,<br />

de Turim, Itália<br />

Jonathan Sacks *<br />

29/9 - Véspera de Rosh Hashaná -<br />

acendimento das velas 17h55<br />

30/9 - 1º dia de Rosh Hashaná -<br />

acendimento das velas 18h50<br />

31/9 - 2º dia de Rosh Hashaná<br />

xistem momentos em<br />

que o significado de uma<br />

antiga metáfora toma<br />

uma nova dimensão. Isso<br />

é o que aconteceu este<br />

ano. Durante séculos, talvez<br />

milênios, nesta época entre Rosh<br />

Hashaná e Iom Kipur nossos ancestrais<br />

falaram sobre o "Livro da Vida" e<br />

rezaram para ser inscritos nele. Não é<br />

por acaso que quando os judeus falavam<br />

a respeito da vida pensavam sobre<br />

um livro. Outras religiões encontram<br />

santidade em outras coisas - pessoas,<br />

locais, ícones, objetos. Mas a santidade<br />

judaica existe, acima de tudo,<br />

na linguagem. Com palavras, D-us<br />

criou o mundo. Através de palavras,<br />

Ele revelou-Se no Sinai. Através das<br />

palavras, D-us e o povo judeu conectam-se<br />

um ao outro no grande pacto<br />

de amor e redenção. Quando D-us<br />

compôs a Torá, dizem os rabinos, Ele<br />

escreveu-a com letras de fogo negro<br />

sobre fogo branco. Para nós letras, palavras,<br />

frases, livros foram o meio no<br />

qual o mistério da vida foi codificado.<br />

Sabemos agora que isso foi mais que<br />

uma intuição espiritual. É um fato<br />

científico. A decodificação do genoma<br />

humano é um dos notáveis avanços da<br />

ciência. Quarenta e sete anos depois<br />

que Francis Crick e James Watson descobriram<br />

a dupla hélice do DNA, o roteiro<br />

completo do genoma humano foi<br />

transcrito. Ocorre que este é um roteiro<br />

de enorme comprimento e complexidade,<br />

escrito nas quatro letras<br />

que formam o código genético. O expresidente<br />

Clinton chamou-o de linguagem<br />

da criação. Os cientistas simplesmente<br />

declaram: Estamos aprendendo,<br />

dizem eles, a ler o livro da vida.<br />

As conexões entre o genoma humano<br />

e Rosh Hashaná vão mais além - e isso<br />

não é surpresa, porque ambos tratam<br />

dos fundamentos da própria vida. O<br />

primeiro está ao nível da criação. Dizemos<br />

em nossas preces: "hayom haras<br />

olam", "hoje nasceu o universo".<br />

Rosh Hashaná é o aniversário da criação.<br />

Alguns sábios acreditavam que<br />

este foi o dia no qual D-us fez o homem.<br />

Mais do que qualquer geração<br />

anterior sabemos agora a total extensão<br />

e complexidade destes mundos<br />

macro e microscópicos. Contemplando<br />

o espaço exterior, por meio de instrumentos<br />

como o telescópio espacial<br />

Hubble, descobrimos um universo de<br />

um bilhão de galáxias, cada qual com<br />

um bilhão de estrelas. Olhando para o<br />

"pequeno universo" (olam catan), ou<br />

seja, nós, descobrimos que o corpo<br />

humano contém um trilhão de células.<br />

Cada célula contém um núcleo, e<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

O Livro da Vida<br />

cada núcleo dois conjuntos do genoma<br />

humano. Cada genoma consiste de<br />

aproximadamente 3,1 bilhões de letras,<br />

informação suficiente para preencher<br />

uma biblioteca de cinco mil livros.<br />

A mente oscila perante tal complexidade<br />

microscópica. Dentro de<br />

uma única célula de tecido vivo a<br />

ciência mapeou um mundo novo, até<br />

agora desconhecido. Da astrofísica até<br />

a microbiologia, os cientistas de hoje<br />

cada vez mais expressam um sentimento<br />

de reverência pela perfeita sintonia<br />

do universo e a pura improbabilidade<br />

de que a vida, com sua complexidade<br />

auto-organizadora tenha emergido<br />

por mero acaso. O físico de Harvard,<br />

Freeman Dyson, escreve: "Quanto<br />

mais eu examino o universo e os<br />

detalhes de sua arquitetura, mais evidências<br />

encontro de que o universo,<br />

de alguma forma, deve ter sabido que<br />

estávamos chegando". Isso é um eco<br />

daquilo que Maimônides escreveu<br />

há mais de oito séculos (Hilkhot Yesodei<br />

haTorah 2:2) quando afirmou<br />

que o caminho para o amor e temor<br />

a D-us é contemplar a maravilha e a<br />

sabedoria da criação.<br />

Há uma outra conexão entre a<br />

ciência e os Dias de Reverência, mas<br />

desta vez menos direta. No decorrer<br />

do Projeto Genoma, foram feitas alegações<br />

de que estamos no limiar de<br />

descobrir a base genética do comportamento<br />

humano. Os médicos há muito<br />

sabem que determinadas doenças<br />

são hereditárias. Maimônides, por<br />

exemplo, sabia que a asma é transmitida<br />

dentro das famílias. Assim também,<br />

debate-se atualmente, são os<br />

traços da personalidade como agressividade,<br />

depressão, até a propensão<br />

ao crime. A partir daí é um curto passo,<br />

porém enganoso, para o determinismo<br />

genético - à idéia de que não<br />

podemos evitar aquilo que somos.<br />

Nosso destino está escrito em nossos<br />

genes. O judaísmo rejeita esta idéia,<br />

ainda mais enfaticamente em Rosh<br />

Hashaná e Iom Kipur. Existe um componente<br />

genético no comportamento.<br />

Maimônides (Hilkhot Deot 1:2)<br />

descreve as várias influências sobre o<br />

caráter. Algumas são genéticas (lefi<br />

teva gufo). Outras têm a ver com a criação,<br />

ambiente e cultura. É isso que<br />

queremos dizer em Iom Kipur, que<br />

somos "ke-chomer beyad hayotser",<br />

"como argila nas mãos do ceramista".<br />

Somos moldados por influências<br />

além de nosso controle. Mas - e isso é<br />

um 'mas' fundamental - jamais perdemos<br />

nossa liberdade. Somos aquilo<br />

que escolhemos ser. Às vezes, fazer a<br />

coisa certa é uma grande luta. A inclinação<br />

para agir de forma diferente<br />

pode ser quase avassaladora, mas<br />

nunca de forma completa. Nenhuma<br />

religião tem se afirmado mais sistematicamente<br />

sobre a liberdade e responsabilidade<br />

humanas. É isso que<br />

nos faz "à imagem de D-us". O escritor<br />

11<br />

Prêmio Nobel Isaac Bashevis Singer<br />

declarou isso muito bem e espirituosamente:<br />

"Temos de acreditar no livre<br />

arbítrio. Não temos escolha!" Nosso<br />

encontro mais profundo com a liberdade<br />

está na experiência de teshuvá.<br />

O completo arrependimento, diz<br />

Maimônides, é quando nos encontramos<br />

exatamente na mesma situação<br />

de quando cometemos um pecado,<br />

mas dessa vez não o repetimos. Todos<br />

os fatores são os mesmos exceto um -<br />

nossa decisão. No âmago da teshuvá<br />

está a idéia de que as circunstâncias<br />

não determinam aquilo que fazemos.<br />

Podemos agir de forma diferente da<br />

próxima vez. Podemos mudar. E se podemos<br />

mudar, não estamos determinados<br />

por nossa dotação genética ou<br />

por qualquer outro fator que não seja<br />

a nossa vontade. Não se pode enfatizar<br />

demais a importância dessa idéia.<br />

Isso significa que na situação humana<br />

nenhuma sina é definitiva, nenhum<br />

destino inevitável. Eis por que o<br />

judaísmo é o supremo argumento para<br />

a esperança. Os grandes vultos de nossa<br />

história foram todos capazes de<br />

mudar. Nas páginas da Torá, vemos<br />

Yossef transformado de um jovem sonhador<br />

em um decidido homem de<br />

ação. Moshê, gago, transforma-se no<br />

mais eloqüente dos profetas. Ruth, a<br />

estranha moabita, torna-se a notável<br />

bisavó do maior Rei de Israel. Esther,<br />

que se considerava incapaz de ajudar,<br />

transforma-se na salvação de seu<br />

povo. Nosso destino não está escrito<br />

em nossos genes. Nossas decisões<br />

são mais que impulsos eletroquímicos<br />

no cérebro. Podemos ser pó da terra,<br />

mas dentro de nós está o sopro de D-us.<br />

A liberdade, porém, nunca é fácil. Precisamos<br />

de ajuda para ser aquilo que<br />

podemos nos tornar. Precisamos de<br />

um código moral para nos lembrar o<br />

que é certo e o que é errado. Precisamos<br />

do apoio da família e da comunidade.<br />

Precisamos de rituais para praticarmos<br />

a coreografia da virtude. Precisamos<br />

de histórias de vidas exemplares<br />

através das quais ampliemos<br />

nossas aspirações. Precisamos de um<br />

senso de distância entre nós e a cultura<br />

à nossa volta, para que não sejamos<br />

levados pela maré. Isso é o que o<br />

judaísmo nos dá e tem dado desde os<br />

dias de Avraham e Sarah. É uma disciplina<br />

apoiada na liberdade. E o mais<br />

importante de tudo - mais importante<br />

até que nossa fé em D-us - é a fé de<br />

D-us em nós, acreditando em nós quando<br />

perdemos a fé em nós mesmos, erguendo-nos<br />

quando caímos, perdoando-nos<br />

quando erramos, dando-nos a<br />

força para assumir riscos e a coragem<br />

para mudar. Existem dois livros da vida.<br />

Um é o genoma humano; o outro é a<br />

história humana. D-us pode ter escrito<br />

o primeiro, mas Ele nos convida a sermos<br />

os co-autores do segundo - porque<br />

se podemos mudar a nós mesmos,<br />

podemos mudar o mundo.<br />

* Jonathan Sacks é professor e rabino-chefe da Inglaterra. (/www.chiefrabbi.org/thoughts/rh2.html) Publicado em<br />

português em www.chabad.org.br


12<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Paradoxos de Oskar<br />

Schindler lembrados<br />

em seu centenário<br />

O destino do empresário alemão Oskar<br />

Schindler, cujo centenário ocorreu há<br />

pouco, é provavelmente um dos mais<br />

paradoxais da história da Alemanha,<br />

onde foi esquecido durante muito<br />

tempo depois de ter salvo centenas de<br />

judeus durante o III Reich.<br />

Michael Latz *<br />

chindler teve seu nome imortalizado<br />

no filme de Steven<br />

Spielberg, "A Lista de Schindler",<br />

mas antes disso, durante<br />

muito tempo, sua história<br />

tendeu ao desaparecimento<br />

da memória coletiva alemã, por figurar<br />

como um personagem incômodo.<br />

O industrial entrou para a história<br />

- graças, em boa parte, ao filme<br />

de Spielberg - como um homem que<br />

burlou os nazistas e conseguiu salvar<br />

da morte pessoas que estavam<br />

sendo envidas às câmaras de gás.<br />

Essa fama lhe rendeu o título de<br />

"justo entre os povos", concedido<br />

pelo Estado de Israel, em 1967.<br />

O fato, no entanto, faz pensar que<br />

Schindler era um opositor do nazismo<br />

o que significa que o fim da guerra<br />

deveria lhe ter aberto melhores<br />

perspectivas de vida.<br />

No entanto, sua biografia mostra<br />

uma imagem completamente<br />

oposta.<br />

Schindler foi um homem de sucesso<br />

durante o III Reich, graças em<br />

parte ao seu oportunismo, enquanto<br />

após a guerra só colheu fracassos,<br />

até a sua morte, na pobreza.<br />

Entre os atos organizados na<br />

Alemanha para o centenário de<br />

Schindler, está a exposição no<br />

Museu Judeu de Frankfurt que explora<br />

exatamente as razões desse<br />

esquecimento.<br />

Depois da guerra, Schindler foi<br />

para a Argentina de onde retornou em<br />

1957, sem sua esposa, Emilia, e viu<br />

fracassada sua tentativa de montar<br />

uma fábrica na localidade de Hanau,<br />

próxima de Frankfurt.<br />

Sua situação se tornou tão precária<br />

que foram praticamente os judeus<br />

salvos por ele durante o III Reich,<br />

que garantiram seu sustento.<br />

"Sua história desaparecia várias<br />

vezes porque era incômoda demais<br />

para a sociedade alemã do pós-guerra<br />

na qual havia muitos cúmplices<br />

dos nazistas", disse Fritz Backhaus,<br />

do Museu Judeu.<br />

"A história de Schindler mostrava<br />

que havia outras possibilidades<br />

de comportamento na época dos nazistas",<br />

acrescentou.<br />

Morte Morte e e homenagem<br />

homenagem<br />

Os últimos anos de Schindler foram<br />

marcados pela pobreza. O industrial<br />

passou a viver em um modesto<br />

apartamento de um quarto,<br />

próximo da estação central de<br />

Frankfurt, e se afundou cada vez<br />

mais no alcoolismo.<br />

Schindler morreu em 1974 na<br />

casa de amigos na cidade de Hildesheim<br />

e seu único legado foi uma<br />

mala na qual cabiam todos os seus<br />

pertences e onde estava a famosa<br />

lista com os nomes dos judeus que<br />

havia salvado.<br />

O corpo de Schindler foi transportado<br />

a Jerusalém, onde foi enterrado<br />

em um cemitério católico.<br />

Apesar de outras homenagens,<br />

como a da Cruz Federal de Mérito em<br />

1965, sua história sempre tendia ao<br />

desaparecimento cada vez que tentavam<br />

recordá-la.<br />

Agora, além da exposição de<br />

Frankfurt, foi produzido um selo dos<br />

correios - em comemoração ao centenário<br />

- que lembra sua história.<br />

Um canal de televisão, além disso,<br />

exibiu "A Lista de Schindler", e os<br />

jornais do dia lembraram o controverso<br />

empresário.<br />

Esquecimento<br />

Esquecimento<br />

O esquecimento destinado a<br />

Schindler durante muitos anos não<br />

ocorreu apenas na Alemanha. Nem<br />

na cidade tcheca Svitany, onde nasceu;<br />

nem na polonesa Cracóvia, onde<br />

teve sua primeira fábrica, utilizada<br />

para salvar judeus da morte certa,<br />

recebeu comemoração especial.<br />

Svitany dedicou a ele um pequeno<br />

museu, porém negou o título de<br />

cidadão honorário póstumo. E na Cracóvia<br />

não existe uma única rua que<br />

lembre seu nome nem uma exposição<br />

permanente sobre sua vida.<br />

Na República Tcheca, Schindler<br />

tende a ser visto como um alemão<br />

que colaborou com os nazistas. E na<br />

Polônia, segundo o jornal Gazeta Wyborcza,<br />

teme-se que possíveis homenagens<br />

obscureçam o que foi feito<br />

por alguns poloneses que também<br />

salvaram vidas.<br />

* Michael Latz é jornalista da Associated Press e da Agência Efe, em Berlim<br />

Biologia ao contrário<br />

Véspera de Iom Kipur 8/10 - acendimento das velas 17h59<br />

E este será um estatuto perpétuo<br />

para vós; no sétimo mês, no dia dez,<br />

afligireis vossas almas… Vayicrá 16:29<br />

No Mundo Vindouro, não há comida<br />

nem bebida… Talmud, Berachot<br />

O ser humano consiste de um corpo e<br />

uma alma - um invólucro físico de carne,<br />

sangue, nervos e osso, habitado e vitalizado<br />

por uma força espiritual descrita pelos<br />

mestres chassídicos como "literalmente<br />

uma parte do D-us acima".<br />

A sabedoria comum afirma que o espírito<br />

é mais elevado que a matéria, e a alma<br />

mais sagrada (i.e., mais próxima do Divino)<br />

que o corpo. Esta concepção parece se<br />

originar no fato de que Iom Kipur, o mais<br />

sagrado dia do ano - no qual atingimos a<br />

altura da intimidade com D-us - é ordenado<br />

pela Torá como um dia de jejum, um<br />

dia no qual aparentemente abandonamos<br />

o corpo e suas necessidades para nos devotar<br />

exclusivamente a atividades espirituais<br />

de arrependimento e prece.<br />

Na verdade, no entanto, um dia de jejum<br />

traz um relacionamento mais profundo,<br />

e não mais distante, com o corpo.<br />

Quando uma pessoa se alimenta, é nutrida<br />

pela comida e bebida que ingere. Num<br />

dia de jejum, a vitalidade vem do próprio<br />

corpo - da energia armazenada em suas<br />

células. Em outras palavras, nos dias menos<br />

sagrados, é uma força externa (a energia<br />

na comida e bebida ingeridas) que<br />

mantém o corpo e a alma juntos; em Iom<br />

Kipur, a união do corpo e da alma deriva<br />

do corpo em si.<br />

Iom Kipur, assim, oferece um sabor do<br />

estado culminante da criação conhecido<br />

como o "Mundo Vindouro". O Talmud nos<br />

diz que no Mundo Vindouro, "não há comida<br />

nem bebida", uma declaração que às<br />

vezes é entendida como implicando que<br />

em seu estado supremo e mais perfeito, a<br />

criação é inteiramente espiritual, destituída<br />

de corpos e de tudo que é físico. O ensinamento<br />

cabalista e chassídico, no entanto,<br />

descreve o Mundo Vindouro como um<br />

mundo no qual a dimensão física da existência<br />

não é abolida, mas preservada e elevada.<br />

O fato de "não haver comida nem<br />

bebida" no Mundo Vindouro não é devido<br />

a uma ausência de corpos e vida física, mas<br />

ao fato de que neste mundo futuro, "a alma<br />

será nutrida pelo corpo" em si, e a simbiose<br />

de matéria e espírito que é o homem<br />

não exigirá quaisquer fontes externas de<br />

nutrição para sustentá-lo.<br />

Dois Dois veículos<br />

veículos<br />

O físico e o espiritual são ambos criações<br />

de D-us. Ambos vieram a existir por<br />

Ele, a partir do nada, e cada qual leva a<br />

marca de seu Criador nas qualidades específicas<br />

que o definem.<br />

O espiritual, com sua abstração e sua<br />

transcendência de tempo e espaço, refle-<br />

te o sublime e a infinidade de D-us. O espiritual<br />

é também naturalmente submisso,<br />

reconhecendo prontamente sua subserviência<br />

a uma verdade mais elevada.<br />

São estas qualidades que tornam o espiritual<br />

"sagrado" e um veículo de relacionamento<br />

com D-us.<br />

Por outro lado, o físico é concreto, egocêntrico<br />

e imanente - qualidades que o tornam<br />

"mundano" em vez de sagrado, que o<br />

marcam como um ofuscamento, em vez de<br />

uma manifestação, da verdade Divina. Pois<br />

o inequívoco "Eu sou" do físico desmente<br />

a verdade de que "não há ninguém mais<br />

além d'Ele" - que D-us é a única fonte e<br />

fim de toda a existência.<br />

Em última análise, no entanto, tudo<br />

vem de D-us; cada aspecto de toda criação<br />

Sua tem sua fonte n'Ele e serve para<br />

revelar Sua verdade. Portanto, num nível<br />

mais profundo, as próprias qualidades que<br />

tornam o físico "profano" são as qualidades<br />

que o tornam a mais sagrada e Divina<br />

das criações de D-us. Pois o que é o "Eu<br />

sou" do físico, se não um eco do ser inequívoco<br />

de D-us? Qual é a tangibilidade<br />

do físico se não uma intimação do absoluto<br />

de Sua realidade? O que é o "egoísmo"<br />

do físico se não um desdobramento,<br />

embora remoto, da exclusividade de<br />

D-us expressa no axioma: "Não há ninguém<br />

mais além d'Ele?"<br />

Atualmente, o mundo físico nos mostra<br />

apenas sua face superficial, na qual as<br />

características Divinas estampadas nele<br />

são corrompidas como uma ocultação em<br />

vez de uma revelação, da Divindade. Hoje,<br />

quando o objeto físico nos transmite "Eu<br />

sou", expressa não a realidade de D-us,<br />

mas uma existência independente, autosuficiente,<br />

que desafia a verdade Divina.<br />

Porém no Mundo Vindouro, o produto do<br />

trabalho de uma centena de gerações para<br />

santificar o mundo material, a verdadeira<br />

face do físico, virá à luz.<br />

No Mundo Vindouro, o físico será nada<br />

menos que um veículo de Divindade para<br />

o espiritual. De fato, em muitos aspectos,<br />

superará o espiritual como um transmissor<br />

da Divindade. Pois enquanto o espiritual<br />

expressa várias características Divinas<br />

- a infinidade, transcendência de D-us, etc.<br />

- o físico expressa o ser de D-us.<br />

Hoje, o corpo deve olhar para a alma<br />

como seu guia moral, como sua fonte de<br />

conscientização e apreciação de todas as<br />

coisas Divinas. Porém no Mundo Vindouro<br />

"a alma será nutrida pelo corpo". O corpo<br />

físico será uma fonte de Divina percepção<br />

e identificação mais elevada que a própria<br />

visão espiritual da alma.<br />

Iom Kipur é um sabor deste mundo<br />

futuro de biologia ao contrário. É, portanto<br />

um dia no qual "somos sustentados<br />

pela fome", extraindo nosso sustento<br />

do próprio corpo. No mais sagrado dos<br />

dias, o corpo se torna uma fonte de vida<br />

e nutrição, em vez de seu receptáculo.<br />

(www.chabad.org.br).


eituras e cantos se sucedem,<br />

formando uma leve cacofonia.<br />

Ouve-se a batida da porta da<br />

sinagoga, ao sabor das entradas<br />

e saídas das crianças. Do<br />

lado das mulheres, à esquerda, ouvem-se<br />

sussurros animadíssimos entre<br />

duas recitações murmuradas. Do<br />

lado dos homens, à direita, sorrisos e<br />

saudações com as mãos são trocados<br />

na menor oportunidade.<br />

Então, chega o momento em que<br />

duas poltronas são instaladas uma na<br />

frente da outra, diante do estrado central.<br />

A assembléia inteira se mantém<br />

em silêncio. O bebê é colocado na<br />

posição sentada, sobre os joelhos de<br />

seu pai. Não longe deles, o mohel (que<br />

pratica a circuncisão) prepara os seus<br />

acessórios: uma faca, um frasco e pedaços<br />

de algodão. A multidão aglutina-se<br />

em volta deles. Armado de uma<br />

pequena faca de dois gumes, o mohel<br />

se debruça sobre o sexo do recém-nascido,<br />

enquanto um homem, em pé, enxuga<br />

a testa suada do jovem pai, que<br />

está ocupado a controlar as gesticulações<br />

do seu filho. Câmeras de vídeo<br />

e de telefones celulares são erguidas<br />

em direção à cena.<br />

Alguns minutos mais tarde, em<br />

meio aos gritinhos estridentes das mulheres,<br />

o bebê aparece acima da platéia,<br />

carregado pelos braços erguidos<br />

do seu pai. Os cantos em hebraico ressoam<br />

sob o teto alto da sinagoga.<br />

Numa sala contígua, um aparador está<br />

repleto de ensopados, de saladas e de<br />

peixes grelhados. E o pai, em meio aos<br />

seus comensais, serve a quem quiser<br />

fartas doses de uísque e de vodca!<br />

Discurso Discurso contra contra Israel<br />

Israel<br />

Esta cerimônia de circuncisão<br />

está sendo realizada na grande sinagoga<br />

Yusef Abad, em pleno centro de<br />

Teerã, a capital da anti-sionista República<br />

Islâmica do Irã. É difícil imaginar<br />

que este lugar, que mais se parece<br />

com um prédio administrativo,<br />

situado no coração de um bairro residencial,<br />

acolhe toda semana centenas<br />

de judeus de Teerã.<br />

Afinal, a alguns quarteirões de lá,<br />

sobre os muros da capital, todos podem<br />

ler slogans arrasadores tais<br />

como "Down with Israel" ("Vamos<br />

acabar com Israel"). Disseminado no<br />

Irã desde a revolução islâmica de<br />

1979, o discurso antiisraelense tem<br />

se mostrado ainda mais insistente<br />

agora que Mahmoud Ahmadinejad<br />

ascendeu à presidência do país. Em<br />

outubro de 2005, alguns meses depois<br />

da sua eleição, retomando declarações<br />

feitas pelo aiatolá Khomeini,<br />

Ahmadinejad conclamou a "riscar<br />

do mapa o Estado de Israel", que ele<br />

comparou com um "tumor".<br />

Algumas semanas mais tarde, ele<br />

afirmou que os ocidentais "inventaram<br />

o mito do massacre dos judeus". Então,<br />

o regime dos mulás organizou um<br />

concurso "internacional" de caricaturas<br />

sobre o tema da Shoá. Mais tarde,<br />

nos dias 11 e 12 de dezembro de 2006,<br />

o mundo inteiro assistiu, incrédulo, a<br />

uma enésima provocação da presidência<br />

iraniana: a organização em<br />

Teerã de uma conferência sobre o Holocausto,<br />

para a qual havia sido convidada<br />

a quase-totalidade dos negacionistas<br />

(pessoas que questionam a<br />

veracidade de fatos históricos como<br />

este) do planeta.<br />

Durante dois dias, eles se dedicaram<br />

a questionar as provas do genocídio<br />

dos judeus pela Alemanha nazista<br />

e a fazer do sionismo o produto<br />

de uma gigantesca impostura. Desde<br />

então, não se passa um mês sequer<br />

sem que declarações de um gosto duvidoso<br />

venham ilustrar a nova estratégia<br />

iraniana de demonização dos<br />

judeus e de Israel.<br />

Contudo, a comunidade judaica<br />

iraniana, que inclui cerca de 30 mil<br />

membros, é a mais importante do<br />

Oriente Médio - fora do Estado hebraico.<br />

Com mais de 2.700 anos de<br />

existência, ela é também a mais antiga<br />

diáspora judaica viva do mundo.<br />

Assim como acontece na maior parte<br />

dos países muçulmanos, ela compartilha<br />

com a comunidade cristã o estatuto<br />

de minoria protegida (dhimmis),<br />

reservado aos fiéis que acreditam<br />

no Livro Sagrado.<br />

Reconhecidos como integrantes<br />

de uma minoria religiosa, os judeus estão<br />

livres para praticarem seu culto<br />

nas suas sinagogas, para celebrarem<br />

seus casamentos, etc. Mas eles não<br />

gozam dos mesmos direitos que os<br />

muçulmanos (entre outros, os que dizem<br />

respeito aos direitos de herança)<br />

e não podem aceder a empregos nas<br />

altas esferas da administração pública<br />

ou no exército.<br />

Açougues Açougues kosher<br />

kosher<br />

"Nós praticamos a nossa religião<br />

em toda serenidade e nada nos falta",<br />

declara Farhad Aframian, o jovem redator-chefe<br />

da revista judaica "Ofogh-<br />

Bina". "Nós temos cerca de vinte sinagogas<br />

em Teerã, além de escolas<br />

judaicas, de creches para as nossas<br />

crianças mais novas, de alguns açougues<br />

kosher (em conformidade com os<br />

preceitos judaicos), do nosso próprio<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Como é ser judeu no Irã<br />

Lucie Geffroy *<br />

Na república islâmica do presidente<br />

Mahmoud Ahmadinejad, vivem<br />

atualmente cerca de 30 mil judeus. Esta<br />

comunidade, que goza da liberdade de<br />

culto é até mesmo representada no<br />

Parlamento - por um único deputado.<br />

* Lucie Geffroy é<br />

jornalista e enviada<br />

especial ao Irã. Artigo<br />

publicado no jornal<br />

francês Le Monde em<br />

22/2/<strong>2008</strong>. Tradução:<br />

Jean-Yves de<br />

Neufville.<br />

hospital, etc. No interior das nossas<br />

sinagogas, as pessoas fazem o que<br />

querem. O governo não nos incomoda.<br />

Nós temos até mesmo o direito de<br />

consumir álcool para as necessidades<br />

das nossas cerimônias!".<br />

Nas ruas de Teerã, o visitante se<br />

depara muito raramente com judeus<br />

trajando um solidéu. A maior parte<br />

dentre eles o usa pouco antes de entrar<br />

na sinagoga. Além disso, as mulheres<br />

judias, mesmo se elas se diferenciam<br />

geralmente por meio de roupas<br />

sedosas e coloridas, respeitam<br />

estritamente o código relativo ao vestuário<br />

que é imposto pela lei islâmica,<br />

trajando o lenço e o "mantô" que<br />

esconde as formas femininas. Será<br />

este um sinal de desconfiança?<br />

"Nós não queremos chamar as<br />

atenções sobre nós. Nós sabemos que<br />

a nossa discrição é uma condição para<br />

a nossa relativa liberdade", responde<br />

Arash Abaie, 36 anos, um professor de<br />

religião judaica, dono de uma editora<br />

de livros em hebraico e leitor na sinagoga<br />

Yusef Abad. Em sua opinião, não<br />

há nenhuma contradição importante<br />

no fato de ser judeu em terra de Islã.<br />

"Não existem guetos ou bairros exclusivamente<br />

judeus no Irã. Nós estamos<br />

integrados e não sentimos hostilidade<br />

alguma por parte dos nossos compatriotas",<br />

prossegue. "É importante<br />

saber também que nós, judeus do Irã,<br />

nos definimos em primeiro lugar e acima<br />

de tudo como iranianos".<br />

Contudo, é difícil imaginar, ainda<br />

assim, que as declarações negacionistas<br />

e as múltiplas provocações do presidente<br />

Ahmadinejad possam ter deixado<br />

os judeus iranianos indiferentes.<br />

Por intermédio do porta-voz Moris<br />

Motamed, o seu único representante<br />

no Parlamento, a comunidade judaica<br />

condenou oficialmente essas afirmações.<br />

Quando Mahmoud Ahmadinejad<br />

questionou a existência do Holocausto,<br />

dois anos atrás, o deputado organizou<br />

uma coletiva de imprensa para<br />

protestar publicamente contra essas<br />

declarações.<br />

Na ocasião, ele afirmou que o Holocausto<br />

é um fato histórico verídico<br />

e que todo questionamento desta tragédia<br />

humana constitui um insulto<br />

para todos os judeus do mundo. Entretanto,<br />

para Moris Motamed, estas<br />

provocações não representam uma<br />

ameaça direta para com a comunidade.<br />

"Ahmadinejad nada mais faz do<br />

que retomar o discurso dos seus predecessores.<br />

Logo nos dias que se seguiram<br />

à revolução, Khomeini fez explicitamente<br />

a distinção entre os sionistas<br />

e os judeus, dizendo: 'Nós respeitamos<br />

o judaísmo, mas nós desprezamos<br />

o sionismo'. Os slogans que<br />

nós ouvimos ainda atualmente têm<br />

como alvo Israel na sua condição de<br />

potência ocupante. Eles não são antisemitas<br />

e não nos alvejam. Esta di-<br />

13<br />

ferenciação é fundamental para nós",<br />

clama Moris Motamed.<br />

Ele não esconde que já lhe ocorreu<br />

em várias oportunidades de<br />

apoiar publicamente o povo palestino,<br />

quando ele considera isso necessário.<br />

Além disso, a Associação <strong>Judaica</strong><br />

de Teerã, conforme ela mesma<br />

lembra no seu panfleto de apresentação,<br />

andou protestando regularmente<br />

contra "os crimes do regime<br />

israelense e as violações dos direitos<br />

humanos para com os palestinos".<br />

Distanciamento<br />

Distanciamento<br />

Contudo, não é menos verdadeiro<br />

que havia evidentemente uma segunda<br />

intenção anti-semita no fato de organizar<br />

um concurso de caricaturas<br />

sobre o tema da Shoá ou na negação<br />

do Holocausto. "Nós não somos ingênuos.<br />

As provocações de Ahmadinejad<br />

visam a justificar a designação de Israel<br />

como inimigo externo. Isso lhe<br />

permite desviar as atenções das pessoas<br />

em relação aos problemas internos",<br />

analisa o deputado, impassível.<br />

Esta luta contra o "regime sionista<br />

usurpador", que constitui a pedra angular<br />

da política externa do país, é<br />

também uma maneira de atrair para<br />

si as simpatias dos países árabes da<br />

região, com o objetivo de fazer do Irã<br />

a maior potência do Oriente Médio.<br />

As declarações presidenciais tampouco<br />

comovem a população além do<br />

normal. Moses, 51 anos, que trabalha<br />

como gerente de uma loja de têxteis<br />

prefere levar isso na brincadeira. "O<br />

que vocês querem? Deixem-no falar!<br />

Ele é um ditador. Ele é louco. Todo<br />

mundo sabe disso. Para nós, o que ele<br />

pode vir a dizer não muda nada". "Já<br />

faz muitos anos que nós ouvimos os<br />

mesmos discursos; a gente nem presta<br />

mais atenção ao que eles dizem.<br />

Isso faz parte do cenário", comenta<br />

Robin, um estudante de inglês. Este<br />

distanciamento pode ser explicado,<br />

segundo Arash, pelo pouco interesse<br />

que suscitam estas questões específicas.<br />

"Os judeus do Irã não costumam<br />

se meter a fazer política. Aqui, é muito<br />

difícil encontrar livros a respeito da<br />

história do Holocausto. De tal forma<br />

que até mesmo os judeus iranianos não<br />

têm uma grande consciência da Shoá.<br />

Esta tragédia não os diz respeito pessoalmente".<br />

O Iom HaShoá, que relembra<br />

o Holocausto, é um dos poucos<br />

eventos do calendário hebraico que<br />

não são celebradas no Irã.<br />

A necessidade (ou a obrigação)<br />

que os seus membros têm de se integrarem<br />

juntos é uma característica<br />

desta comunidade. Em todo caso, este<br />

é um dos objetivos reivindicados pela<br />

Organização das Mulheres Judias, fundada<br />

já faz sessenta anos, que é a<br />

mais antiga associação judaica do Irã.<br />

continua na próxima página


14<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

"Nós organizamos regularmente<br />

concertos, e ainda conferências abertas<br />

para todas as confissões, de modo<br />

a incentivar os intercâmbios com uma<br />

maioria de pessoas", sublinha Marjan<br />

Yashayayi, que é membro ativa da organização<br />

e diretora da biblioteca da<br />

Associação <strong>Judaica</strong> de Teerã. "E nós<br />

temos muito orgulho por constatar que<br />

há muito mais universitários muçulmanos<br />

do que judeus que vêm consultar<br />

e emprestar os nossos livros sobre a<br />

religião e a cultura hebraicas".<br />

Da mesma forma, apesar da existência<br />

de escolas judaicas, muitas são<br />

as famílias que preferem inscrever os<br />

seus filhos nas escolas muçulmanas,<br />

de maneira que eles possam se integrar<br />

melhor e aprender as bases do<br />

Islã. Tanto mais que no concurso de<br />

entrada na universidade, cada aluno,<br />

qualquer que seja a sua confissão,<br />

deve passar uma prova de "ciências<br />

Orações numa sinagoga em Teerã. Homens separados das mulheres<br />

Professor judeu iraniano ensina hebraico em escola da comunidade<br />

Acendimento das velas de shabat por meninas judias iranianas: tradições<br />

mantidas, em parte<br />

islâmicas". Portanto, para não ficar a<br />

ver navios na hora de responder a uma<br />

pergunta sobre a data da morte do<br />

sétimo imã, mais vale ter freqüentado<br />

um colégio muçulmano.<br />

Contudo, à medida que a conversa<br />

se estende, os judeus iranianos<br />

que encontramos se arriscam a queixas.<br />

"Não é tão fácil assim ser judeu<br />

no Irã", afirma Esther. "A minha irmã<br />

era chefe de equipe numa companhia<br />

farmacêutica de mais de 200 empregados.<br />

Ela estava prestes a se tornar<br />

gerente - todos os funcionários<br />

estavam de acordo com isso. No último<br />

momento, a diretoria lhe enviou<br />

uma nota explicando que se ela quisesse<br />

o cargo, ela teria de se converter<br />

à religião muçulmana. Uma<br />

vez que ela recusou, eles lhe pediram<br />

para se demitir".<br />

Vínculos Vínculos econômicos<br />

econômicos<br />

Daniela, 13 anos, freqüenta um colégio<br />

muçulmano. Ela explica, por sua<br />

vez, que de vez em quando, certos alunos<br />

a chamam de "inimiga. "É verdade<br />

que em certos casos nossa religião<br />

constitui um obstáculo. Mas, o nosso<br />

destino é muito mais invejável que o<br />

dos bahaï's, por exemplo", reconhece<br />

Marjan, fazendo referência aos 350<br />

mil seguidores da fé bahai uma dissidência<br />

do Islã que surgiu no século 19.<br />

"A situação dos judeus do Irã não é<br />

pior que a de outras minorias", confirma<br />

Parvaneh Vahidmanesh, que está<br />

preparando um doutorado e um livro<br />

sobre a história dos judeus no Irã.<br />

"Uma minoria perseguida, os<br />

bahai's são proibidos de celebrarem<br />

o seu culto. Os judeus, que geralmente<br />

são comerciantes, engenheiros<br />

ou médicos, gozam de mais poderes<br />

e de riquezas do que os cristãos<br />

e os zoroastristas. Eles têm a<br />

sorte de terem desenvolvido vínculos<br />

econômicos com os muçulmanos<br />

e de contarem com ajudas da diáspora<br />

americana e israelense".<br />

Proibido Proibido viajar viajar para para Israel<br />

Israel<br />

Apesar da ruptura dos laços diplomáticos<br />

entre o Irã e Israel, os judeus<br />

iranianos mantêm algumas relações<br />

com o Estado hebraico. Sobretudo por<br />

intermédio da família. Muitos deles<br />

têm um primo, um tio, um irmão ou<br />

avôs que vivem em Tel-Aviv ou em Jerusalém,<br />

uma vez que por ocasião da<br />

fundação do Estado de Israel, em 1948,<br />

e depois durante a revolução de 1979,<br />

uma parte muito importante da comunidade<br />

judaica do Irã emigrou.<br />

Kamran, que é pai de três filhos, é<br />

comerciante em Ispahan. Três das suas<br />

irmãs moram em Jerusalém. Ele vai<br />

visitá-las todos os anos. "Está escrito<br />

com grande destaque no nosso passaporte:<br />

'é terminantemente proibido<br />

viajar para Israel'. Portanto, para visitarmos<br />

a nossa família, nós precisa-<br />

mos passar por Chipre ou pela Turquia<br />

e, em Jerusalém, as autoridades emitem<br />

para nós um visto sobre uma folha<br />

destacada", conta.<br />

"As minhas irmãs ligam regularmente<br />

para mim e nós comunicamos<br />

muito por e-mail. Elas se preocupam<br />

em saber como as coisas andam para<br />

nós aqui, principalmente desde que<br />

Ahmadinejad está no poder. É verdade<br />

que durante o governo Khatami [o<br />

presidente anterior, reformista, que<br />

governou de 1997 a 2005], a gente se<br />

sentia mais à vontade, mais livre para<br />

se expressar. Mas eu as tranqüilizo:<br />

por enquanto, nós não temos muito<br />

do que nos queixar".<br />

Naquela noite de sexta-feira, às<br />

vésperas do shabat, toda a pequena<br />

família está reunida. Na sala de estar,<br />

o televisor está ligado e mostra o<br />

programa em persa da Rádio Israel,<br />

apresentado por iranianos de Jerusalém.<br />

O filho primogênito, Jonathan, 23<br />

anos, é também um leitor assíduo do<br />

Jerusalem Post e do Haaretz, os quais<br />

ele consulta on-line para, segundo<br />

ele, se informar do que está acontecendo<br />

em Israel.<br />

Da mesma forma que muitos jovens<br />

da sua idade, ele não quer se contentar<br />

com os jornais iranianos, que,<br />

na sua maioria, estão submetidos à<br />

censura. Um estudante de informática,<br />

Jonathan se sente bem integrado.<br />

Mais tarde, durante a noite, ele emitirá<br />

ainda assim algumas reservas: "Na<br />

qualidade de judeus, nós sabemos que<br />

profissionalmente encontraremos obstáculos.<br />

Nenhum de nós pode esperar<br />

fazer carreira no exército ou tornar-se<br />

um alto-funcionário. Nem pretender<br />

conseguir um cargo de advogado ou<br />

de magistrado. Então, uma vez que os<br />

veículos de comunicação, as editoras<br />

ou o setor da educação são completamente<br />

islamizados, a maioria dentre<br />

nós prefere se orientar rumo a setores<br />

mais neutros, tais como a engenharia,<br />

a medicina, a farmácia".<br />

Contudo, por nada neste mundo Jonathan<br />

partiria para viver em Israel<br />

("Eu amo o meu país e eu teria medo<br />

demais dos atentados"), mas ele compreende<br />

que certos iranianos tenham<br />

esta vontade. No final de dezembro,<br />

um grupo de cerca de quarenta imigrantes<br />

judeus, auxiliados financeiramente<br />

pela Agência <strong>Judaica</strong>, desembarcou<br />

em Tel-Aviv diante das objetivas<br />

das câmeras e das máquinas fotográficas<br />

de dezenas de jornalistas. A<br />

Agência <strong>Judaica</strong> declarou então que<br />

estes homens e mulheres haviam deixado<br />

o seu país por causa de um antisemitismo<br />

crescente. É difícil saber ao<br />

certo onde pára a verdade e onde começa<br />

a manipulação política, comenta<br />

Arash, que, entretanto, constata que<br />

eventos desta natureza, amplamente<br />

repercutidos pelos meios de comunicação<br />

iranianos, só fazem piorar a ima-<br />

gem dos judeus no Irã.<br />

Em novembro de 2007, o The<br />

Guardian havia dado conta de "um<br />

número crescente de emigrações de<br />

judeus do Irã para Israel, por causa<br />

das tensões crescentes entre os dois<br />

países", e citava o exemplo de Benyamin,<br />

um jovem professor de hebraico<br />

que teria sido ameaçado de morte por<br />

ser suspeito de espionagem a serviço<br />

de Israel.<br />

Entre Entre provocação provocação e e tolerância<br />

tolerância<br />

O próprio Moris Motamed reconhece<br />

que, volta e meia, as tensões internacionais<br />

provocam confusões até<br />

mesmo na vida cotidiana dos judeus<br />

iranianos. Em Shiraz, no sul do país,<br />

durante o verão de 2006, em plena<br />

guerra entre Israel e o Hezbolá, organização<br />

apoiada por Teerã, uma loja<br />

mantida por judeus, por exemplo, foi<br />

alvo de um atentado a bomba, perpetrado<br />

por um grupo de muçulmanos<br />

extremistas.<br />

Nesta cidade conhecida pelo seu<br />

conservadorismo, a desconfiança em<br />

relação aos jornalistas se faz sentir de<br />

uma maneira muito mais nítida do que<br />

em Teerã. Aliás, esta não foi a primeira<br />

vez que Shiraz tornou-se palco de<br />

incidentes graves. Nesta cidade, até<br />

hoje, a recordação do "caso dos treze<br />

judeus" está viva nas mentes. Em<br />

2000, treze estudantes e professores<br />

de religião judeus haviam sido presos<br />

e encarcerados por "espionagem em<br />

proveito da entidade sionista". Eles só<br />

vieram a ser libertados alguns anos<br />

mais tarde, como resultado de uma<br />

importante mobilização internacional.<br />

Benyamin, que fora um destes treze<br />

prisioneiros, e que nós encontramos<br />

em Ispahan, hoje é rabino. Ele nos explica<br />

de antemão que não quer falar<br />

novamente deste acontecimento, preferindo<br />

se contentar em nos fazer visitar<br />

o banho das abluções da principal<br />

sinagoga de Ispahan. No que vem<br />

a ser mais um sintoma da ambigüidade<br />

da situação da comunidade judaica<br />

do Irã, entre provocações, humilhações<br />

e tolerância.<br />

"Há séculos e mais séculos que no<br />

Irã, os judeus e os muçulmanos vivem<br />

juntos, respeitando uns aos outros. Se<br />

compararmos com o que aconteceu na<br />

história mundial é possível afirmar que<br />

nós estamos nos saindo até que bem",<br />

resume Marjan. "No fundo deles mesmos,<br />

muitos judeus iranianos esperam<br />

representar um modelo para os palestinos<br />

e os israelenses. Nós somos provas<br />

vivas de que é possível viver em<br />

paz, apesar das diferenças. Seria legal<br />

se você pudesse colocar isso no<br />

seu artigo", havia insistido Marjan.<br />

Dito e feito.<br />

Atendendo a pedidos, ou por iniciativa<br />

da autora, os nomes de algumas das pessoas<br />

entrevistadas foram alterados.


<strong>VJ</strong> INDICA<br />

Lugar Nenhum<br />

na África<br />

Alemanha, 2001<br />

Título original: Nirgendwo in Afrika<br />

Título alternativo: Nowhere in<br />

Africa<br />

Gênero: Drama<br />

Duração: 141 min.<br />

Tipo: Longa-metragem Colorido<br />

Prêmios: Vencedor de 1 Oscar<br />

Distribuidora: Imovision<br />

Diretora: Caroline Link<br />

Roteiristas: Caroline Link,<br />

Stefanie Zweig<br />

Elenco: Juliane Köhler, Merab Ninidze,<br />

Sidede Onyulo, Matthias Habich,<br />

Lea Kurka, Karoline Eckertz, Gerd Heinz, Hildegard Schmahl,<br />

Maritta Horwarth, Regine Zimmermann, Gabrielle Odinis,<br />

Bettina Redlich, Julia Leidl, Mechthild Grossmann, Joel<br />

Wajsberg<br />

Sinopse<br />

Em 1938, pouco antes de estourar a 2ª Guerra Mundial, a<br />

família judia Redlich foge da Alemanha e se instala no Quênia,<br />

na África. Lá o advogado Walter Redlich passa a trabalhar<br />

numa fazenda, enquanto sua mulher Jettel, filha de<br />

uma família burguesa, tenta se adaptar à nova vida. Regina,<br />

a filha do casal, cresce e aprende a língua e os costumes<br />

locais, encontrando no cozinheiro Owunor um amigo. Quando<br />

a guerra está acabando Walter recebe uma proposta<br />

para atuar como juiz em Frankfurt. Depois de tantos anos<br />

em que aprenderam a amar o novo país, Jettel e Regina<br />

começam a duvidar se voltarão para a Alemanha com ele.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

FILME Leprevost requer votos de<br />

O deputado estadual Ney Leprevost apresentou<br />

dia 10/9 à mesa de trabalhos da Assembléia<br />

Legislativa do Paraná votos de louvor e<br />

congratulações ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. "Senhor<br />

Presidente", diz o requerimento assinado pelo<br />

parlamentar, "o deputado subscritor do presente,<br />

no uso de suas atribuições regimentais<br />

requer, Votos de Louvor e Congratulações ao<br />

Jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. Sala de Sessões, 10 de<br />

setembro de <strong>2008</strong>". Ney Leprevost, deputado<br />

estadual.<br />

Em sua justificativa, o deputado observa que<br />

se trata de "justa homenagem ao Jornal <strong>Visão</strong><br />

<strong>Judaica</strong>, que é um veículo independente da<br />

Comunidade Israelita do Paraná, destinado a<br />

transmitir à colônia judaica os fatos que acontecem<br />

no mundo, no<br />

Brasil e no nosso Estado, sempre focado na<br />

liberdade através da paz e da informação com<br />

isenção e imparcialidade, pregando a igualdade<br />

e a justiça entre os povos, solidarizando-se aos<br />

que sofrem perseguição, dando-lhes apoio e<br />

incentivo para superar as adversidades".<br />

louvor e congratulações<br />

ao <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />

15


16<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

OLHAR<br />

Descobertas técnicas contra bactérias<br />

Pesquisadores da Universidade Hebraica de<br />

Jerusalém encontraram novas formas de eliminar<br />

bactérias inativas as quais parecem resistir<br />

aos antibióticos. Os antibióticos são o tratamento<br />

preferido contra as infecções de bactérias<br />

e enfermidades, mas aparentemente demonstrou-se<br />

que muitas doenças não podem<br />

ser tratadas simplesmente com a administração<br />

de antibióticos. Sub-populações de algumas<br />

bactérias podem resistir a antibióticos letais<br />

decrescendo seu metabolismo, permanecendo<br />

"adormecidas" por dias e esperando o momento<br />

oportuno para voltar a atacar. Os pesquisadores<br />

estudaram estas bactérias inativas e descobriram<br />

duas novas formas para eliminá-las.<br />

(Universidade Hebraica de Jerusalém).<br />

Técnicas contra bactérias II<br />

HIGH-TECH<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

A primeira técnica é submeter a bactéria a uma<br />

dose fresca de nutrientes junto com o tratamento<br />

do antibiótico, e a segunda técnica é infectando<br />

essas bactérias inativas com um vetor<br />

fágico-vírus que ataca as bactérias. Em ambos<br />

os casos o percentual de bactérias inativas que<br />

sobreviveu foi reduzido significativamente. A<br />

biofísica Nathalie Balaban, do Instituto de Física<br />

Racah na Universidade Hebraica; a estudante<br />

de doutorado Orit Gefen; e o estudante de mestrado,<br />

Sivan Perl, recentemente relataram suas<br />

descobertas em Proceedings of the Nacional<br />

Academy of Sciences USA and Plos Biology. Sua<br />

pesquisa mostra que sub-populações da bactéria<br />

E. Coli passam a ser persistentes aos tratamentos<br />

com antibióticos. No entanto, eles<br />

descobriram que durante um curto período de<br />

tempo depois que as bactérias foram expostas<br />

O LEITOR<br />

ESCREVE<br />

Oportunidade para jovens médicos<br />

Prezados amigos do <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>:<br />

Se por acaso vocês souberem de jovens judeus,<br />

de ambos os sexos, que terminaram a faculdade<br />

de medicina e querem fazer especialização<br />

em cirurgia-geral aqui em Israel, digam a<br />

eles para me escreverem, ok.?<br />

A especialização aqui é de 6 anos e recebem<br />

salário que não dá para ficar como Bill Gates,<br />

mas dá para viver bem... Quatro anos numa enfermaria<br />

cirúrgica e dois anos de rotação em<br />

departamentos cirúrgicos como cirurgia pediátrica,<br />

neurocirurgia, cirurgia de tórax, urologia,<br />

plástica, anestesia/UTI, etc. Têm que passar por<br />

duas provas. A primeira é uma prova escrita, na<br />

metade da especialização, sobre assuntos básicos.<br />

A segunda é oral, no fim da especialização,<br />

perante três bancas de examinadores. São obri-<br />

a uma nova fonte de alimento, estas renovam<br />

sua atividade bacterial. Dessa forma os cientistas<br />

aproveitaram esse momento para expor<br />

as bactérias a uma dose de antibiótico, o que<br />

reduziu notavelmente as bactérias inativas que<br />

conseguiram sobreviver. (Universidade Hebraica<br />

de Jerusalém).<br />

Técnicas contra bactérias III<br />

Os resultados bem sucedidos da experiência<br />

podem levar ao desenvolvimento de novos caminhos<br />

para vencer bactérias desse tipo, que<br />

são a causa central dos fracassos nos tratamentos<br />

por meio de antibióticos em muitas<br />

doenças, como por exemplo, a tuberculose. Os<br />

resultados estabelecem um desafio às concepções<br />

aceitas no que se refere a bactérias inativas,<br />

e propõem um modelo alternativo ao<br />

processo de desenvolvimento das bactérias em<br />

questão. Segundo a dra. Balaban "estes resultados<br />

podem conduzir a uma nova terapia de<br />

vetor fágico para combater infecções que persistem<br />

apesar dos antibióticos". (Universidade<br />

Hebraica de Jerusalém).<br />

Técnicas contra bactérias IV<br />

Junto com o professor Oppenheim, da Universidade<br />

Hadassa, da Escola de Medicina, a equipe<br />

também estudou a interação entre as bactérias<br />

inativas e o vetor fágico. Eles procuraram<br />

determinar se a inatividade se desenvolve<br />

ou não como um mecanismo de defesa contra<br />

o ataque provocado pelo vetor fágico, permitindo<br />

à bactéria, deste modo, sobreviver sob<br />

condições de stress. A equipe mostrou que a<br />

existência de bactérias inativas provê vantagens<br />

quando a população é atacada por um<br />

vetor fágico lisógeno (vetor fágico que reside<br />

dentro da bactéria por algumas gerações e só<br />

então se multiplica e ataca). Entretanto, a inatividade<br />

não provê proteção quando as bactérias<br />

são atacadas pelo vetor fágico lítico que<br />

se reproduz e extermina imediatamente. (Universidade<br />

Hebraica de Jerusalém).<br />

gados a fazer uma certa quantidade de cada tipo<br />

de operação.<br />

Antes disso, há necessidade de ulpan pra<br />

aprender a língua (lá se vão 6 meses) e uma<br />

prova de medicina para saber se ele/ela é<br />

digno(a) do titulo de médico em Israel.<br />

Quer dizer, é preciso pensar em aliá (imigração).<br />

Prometo lugar de trabalho, mas não prometo<br />

shiduch… (possibilidade de casamento...).<br />

Moshe Rosenblatt, médico - Israel<br />

Desejando um bom Ano Novo<br />

Aos editores do <strong>VJ</strong>:<br />

Olá! Shalom aleichem! Le Shaná Tová Ticatevu<br />

Vetechatem Shaná Tová 5769<br />

Luiz Dalanhol - Por e-mail<br />

Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />

basta passar um fax pelo telefone:<br />

0**41 3018-8018 ou e-mail para<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Irã e Israel brincam com fogo<br />

Nahum Sirotsky *<br />

O anúncio da Rússia de que a central<br />

atômica que vem construindo<br />

para o Irã pode ficar pronta em dezembro<br />

é um complicador do quadro<br />

mundial. Aparentemente é feito<br />

como resposta à assistência americana<br />

à Geórgia e o acordo de construir<br />

plataformas de mísseis na Polônia.<br />

Moscou não aceita os argumentos<br />

americanos de que são defesas contra<br />

estados considerados inconfiáveis<br />

como o Irã.<br />

A notícia sobre a central iraniana<br />

só aumenta as preocupações de<br />

Israel que prefere acreditar que as<br />

ameaças do presidente iraniano devem<br />

ser levadas a sério. Ele se tiver a<br />

oportunidade, procuraria destruir o<br />

estado judeu. Numa central nuclear<br />

para a produção de energia também<br />

se tem como subproduto matériaprima<br />

para fabricar a Bomba.<br />

O mundo está concentrado em<br />

muitas diversas questões como a crise<br />

econômica, eleições americanas,<br />

recrudescimento da guerra no Afeganistão,<br />

ameaça e tragédias humanitárias<br />

em vastas regiões onde faltam<br />

alimentos e a seca agride a crise<br />

entre Estados Unidos, Europa e a Rússia,<br />

os sinais de inflação na China.<br />

Não faltam preocupações.<br />

O Oriente Médio atravessa etapa<br />

de paradoxos. Os países produtores<br />

de petróleo estão abarrotados de lucros<br />

e numa expansão tipo mil e uma<br />

noites. Atraem iniciativas e investimentos<br />

de empresas de todas as nacionalidades.<br />

Quem pode vem vender,<br />

pois não faltam compradores<br />

nem de clubes de futebol. Mas nos<br />

países não produtores de petróleo,<br />

como o Egito, faltam recursos para<br />

atender as populações. O contexto<br />

não é favorável a novas complicações.<br />

Guerras seriam o pior negócio<br />

possível para os que prosperam e os<br />

que sofrem carências.<br />

Ahmadinejad, o presidente<br />

iraniano, porém, tem sua visão e planos.<br />

Um atual parlamentar israelense,<br />

um baixinho e avançado em idade,<br />

representante do Partido dos<br />

Aposentados, tem a solução. Afirma<br />

que é possível o rapto do iraniano e<br />

entregá-lo a um tribunal internacional.<br />

O baixinho com o sorriso de um<br />

bisavô foi o planejador e dirigente de<br />

uma das mais atrevidas operações do<br />

século passado. O homem que raptou<br />

Eichmann, que vivia incógnito em<br />

Buenos Aires. Era o oficial alemão<br />

nazista encarregado da "Solução Final",<br />

a matança dos judeus europeus<br />

e em todos os territórios que Hitler<br />

conquistasse. O plano resultou no<br />

genocídio de seis milhões de judeus.<br />

Eichmann foi raptado, levado a Is-<br />

rael, julgado e condenado a morte, o<br />

primeiro e até agora único na história<br />

do país a pagar tal preço. O governo<br />

iraniano reclamou nas Nações<br />

Unidas contra a sugestão. É o receio<br />

do Mossad, serviço secreto de Israel,<br />

aliás, que obriga Nasrala, o líder do<br />

Hezbolá, e os líderes do Hamas a viverem<br />

em abrigos secretos, bunkers,<br />

com receio de serem capturados ou<br />

assassinados.<br />

Na revista Euro Atlantic Quarterly,<br />

de julho.(http://meforum.org) por<br />

sua vez, Michael Rubin escreve que a<br />

Comunidade Internacional tem seu<br />

foco em apenas uma parte da questão<br />

iraniana. No país, o debate é sobre<br />

a economia. Ahmadinejad prometeu<br />

levar os benefícios da venda<br />

do petróleo "à mesa de todos". E o<br />

que se enfrenta internamente são inflação<br />

e falta de alimentos. Davoud<br />

Danesh-Jafari declarou que os governos<br />

não são julgados por boas intenções,<br />

porém pelos fatos. E renunciou<br />

ao cargo de Ministro da Fazenda. O<br />

que acontece é que a política econômica<br />

se traduz em inflação de até 30<br />

por cento. Alguns produtos tiveram<br />

seus preços aumentados em 90 por<br />

cento. A Associação dos Açougueiros<br />

reclamou que estavam comprando<br />

menos carne. Atribui-se a Rafsanjani<br />

ex-presidente, a afirmação de que<br />

"não se melhora a economia com o<br />

aumento do número de mendigos".<br />

O presidente chegou a determinar<br />

um limite para o custo do dinheiro.<br />

"Quando se emitiu notas de cem mil<br />

rials a solução do governo foi a de<br />

cortar os zeros".<br />

O texto da revista afirma que as<br />

medidas de austeridade adotadas falharam<br />

devido a falta de disciplina na<br />

política fiscal. Escreveu o jornal Aftab-e<br />

Yazd, reformista, "que os erros<br />

das políticas do governo prejudicam<br />

mais do que as sanções dos estrangeiros!"<br />

Sanções decididas pelas Nações<br />

Unidas para obrigarem o governo<br />

a abrir seu trabalho na área nuclear<br />

à inspeção internacional. Não abre.<br />

O presidente pede ao povo que<br />

tenha fé. E foi lembrado que o aiatolá<br />

Khomeini, o líder da revolução que<br />

fez do Irã um país islâmico, afirmava<br />

que "não se faz revolução ao preço<br />

de uma melancia".<br />

O Irã não teria uma economia para<br />

resistir a sanções mais rigorosas, agora,<br />

com a crise entre americanos e europeus<br />

com a Rússia, pouco prováveis.<br />

Mas o presidente não parece duvidar<br />

que é sua missão preservar a pureza<br />

da mensagem do Islã. Israel é um elemento<br />

estrangeiro num Oriente Médio<br />

muçulmano. Nunca se sabe até<br />

aonde a força de ideologias será imposta<br />

como a determinante decisiva<br />

de políticas. É o perigo que oferecem.<br />

* Nahum Sirotsky é jornalista, correspondente da RBS e do Último Segundo/IG em<br />

Israel. A publicação desta coluna tem a autorização do autor.


O festim das hienas<br />

Eduardo Kohn *<br />

As imagens ficaram na retina, e nos fizeram pensar, uma<br />

vez mais, nas diferenças entre os que idolatram a morte e os<br />

que crêem na vida como valor supremo. As imagens não mostraram<br />

sangue nem atos de violência, mas as telas de TV brilhavam<br />

como se estivessem banhadas em sangue e os primeiros<br />

planos eram dos rostos do desprezo e o ódio.<br />

As imagens daquela quarta-feira, 16 de julho no Líbano,<br />

mostraram como todo o governo daquele país esperou na escadinha<br />

de um avião junto a um tapete vermelho um desprezível<br />

assassino a quem eles denominaram "herói nacional",<br />

um homem cujo nome não interessa registrar, que para ser<br />

"herói" entre seus pares matou um pai diante de sua filha de 4<br />

anos, e depois matou a menina e, ainda por cima, esmagou<br />

seu crânio com a culatra de seu fuzil até que a cabeça da pequena<br />

ficou arrebentada.<br />

Quarta-feira 16 de julho foi feriado no Líbano para receber<br />

esse criminoso. Festa nas ruas, bailes e bandeiras ao vento. Assassinar<br />

alguém indefeso sempre é coisa de covardes desprezíveis,<br />

mas em determinados lugares do nosso planeta, isso é de<br />

"heróis". Na selva, nem as hienas compartilhariam essa opinião.<br />

Por que está livre alguém assim? Porque, apesar de muitas<br />

autoridades governamentais de vários lugares, intelectuais,<br />

formadores de opinião, Israel é uma democracia fundada em<br />

valores. E os soldados israelenses devem estar em sua terra.<br />

Se não estão vivos, seus restos mortais não devem ser objetos<br />

do festim das hienas. Claro que a decisão de Israel de<br />

trocar os restos dos dois soldados israelenses, seqüestrados<br />

pelo Hezbolá em território israelense, por duas centenas de<br />

corpos de terroristas e por assassinos, agora "heróis" no Líbano,<br />

foi uma decisão muito complexa e que contrariou muitos<br />

cidadãos israelenses.<br />

E em contexto semelhante, não deve ser complexo compreender<br />

tanto a dúvida como o sofrimento. Mas os dois soldados<br />

israelenses deviam voltar à sua terra e aos seus entes<br />

queridos, e seus restos não deviam continuar entre o escárnio<br />

e as mentiras dos imorais que os assassinaram.<br />

O prestigioso jornalista do Haaretz, Shmuel Rosner define<br />

claramente o conceito que moveu Israel a fazer uma<br />

troca desse tipo:<br />

"Israel é uma sociedade onde todos se conhecem, na qual<br />

o destino de cada soldado preocupa cada cidadão. É uma sociedade<br />

que exige o serviço militar de cada jovem, homem ou<br />

mulher, uma sociedade na qual o Estado de guerra é o habitual<br />

há 60 anos, e na qual a solidariedade nacional é sempre uma<br />

questão existencial. Para uma sociedade assim, olhar nos olhos<br />

de um pai ou uma esposa de um soldado seqüestrado e dizerlhes<br />

que o preço a pagar para trazer de volta seu ou marido<br />

mesmo que esteja morto, é algo que nenhuma autoridade<br />

pode fazer nem irá fazer".<br />

Em conseqüência, o Hezbolá, seus patrões no Irã, seus cúmplices<br />

no Líbano e em várias partes do mundo, continuarão<br />

celebrando a morte, o assassinato, e todas as sevicias possíveis<br />

de que o homem é capaz de cometer contra seu próximo.<br />

E continuarão qualificando seus festejos de "vitória contra o<br />

imperialismo" e outras frases feitas de que tanto gostam os<br />

que acreditam no terrorismo e o definem como "luta social".<br />

Enquanto isso, outros no Oriente Médio continuarão sonhando<br />

com a paz entre povos e entre governos. Um sonho<br />

que já se tornou fragmentos mais vezes do que se possa contar.<br />

E aquela quarta-feira 16 de julho teve um novo e brutal<br />

tropeção, desta vez pela mão do presidente da Autoridade<br />

Palestina, Abu Mazen. Era uma oportunidade para ficar calado<br />

e passar despercebido, ou para dar uma mensagem que realmente<br />

estimulasse os sonhos. Ao invés disto, saudou a "libertação"<br />

de um assassino desprezível, "herói" no Líbano.<br />

Não só perdeu uma oportunidade, como voltou a demonstrar<br />

quem é quem. Ao fim e ao cabo, por trás das fotos coloridas<br />

nos belos palácios, está é a realidade. E se alguém tivesse<br />

esquecido por algum momento de otimismo humano, Abu Mazen,<br />

no final das contas, fez bem em fazer retornar todos ao<br />

mundo da verdade.<br />

* Eduardo Kohn é vice-presidente Executivo da B'nai B'rith Latinoamericana.<br />

Publicado originalmente pelo website Por Israel.org<br />

(www.porisrael.org).<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Sucot - A Festa das Cabanas<br />

Véspera 13/10 - acendimento das velas 18h01<br />

m período alegre é iniciado<br />

com a festa de<br />

Sucot, compensando o<br />

solene período de<br />

Rosh Hashaná e Iom Kipur.<br />

Há mitsvot nas quais utilizamos<br />

apenas algumas partes de nosso corpo,<br />

por exemplo: a mitsvá de tefilin,<br />

filactérios, que envolve o braço e a<br />

cabeça; tefilá, prece, envolve a mente<br />

e o coração e assim por diante.<br />

Em Sucot, temos uma mitsvá (preceito)<br />

singular, que é a construção<br />

de uma sucá; a única mitsvá que literalmente<br />

envolve a pessoa de corpo<br />

inteiro, com suas vestes materiais.<br />

A sucá nos lembra das Nuvens<br />

de Glória que rodearam nosso povo<br />

durante suas peregrinações pelo deserto<br />

a caminho da Terra Prometida.<br />

Todos então viram a especial proteção<br />

Divina, que D-us lhes concedeu<br />

durante aqueles anos difíceis.<br />

Mas embora as Nuvens de Glória desaparecessem<br />

no quadragésimo<br />

ano, na véspera da entrada na Terra<br />

de Israel, nunca cessamos de acreditar<br />

que D-us nos dá Sua proteção,<br />

e esta é a razão de termos sobrevivido<br />

a todos nossos inimigos em todas<br />

as gerações.<br />

A A sucá sucá<br />

sucá<br />

Para que o judeu não se esqueça<br />

de seu verdadeiro propósito na<br />

vida, D-us, em Sua infinita sabedo-<br />

ria e bondade, nos faz deixar nossas<br />

casas confortáveis nesta época,<br />

para habitar numa frágil sucá,<br />

cabana, por sete dias.<br />

A sucá nos lembra que confiamos<br />

em D-us para nossa proteção, pois a<br />

sucá não é nenhuma fortaleza, nem<br />

ao menos fornecendo um telhado sólido<br />

sobre nossa cabeça. Lembra-nos<br />

também de que a vida nesta terra é<br />

apenas temporária.<br />

As As refeições refeições na na sucá<br />

sucá<br />

Durante a festa de Sucot, os homens<br />

devem comer diariamente<br />

numa sucá (cabana) especialmente<br />

construída para este fim. Nestes<br />

sete dias, não é permitido comer fora<br />

da sucá qualquer refeição que contenha<br />

pão ou massa. Há aqueles que<br />

não costumam beber nem ao menos<br />

um copo de água fora da sucá.<br />

Nos primeiros dois dias e noites<br />

da festa, o kidush, prece sobre o vinho,<br />

antecede a refeição. Nas duas<br />

primeiras noites, é obrigatório comer<br />

na sucá ao menos uma fatia de pão<br />

(além do kidush), mesmo que esteja<br />

chovendo. Nos outros dias, se chover,<br />

é permitido fazer as refeições<br />

dentro de casa.<br />

Confiança Confiança em em em D-us D-us<br />

D-us<br />

Refletir sobre a sucá nos dá uma<br />

ampla visão do significado de fé em<br />

D-us e da extensão de Sua Divina Pro-<br />

Jaques Wagner e Clara Ant na Conib:<br />

Justiça Social e o prestigio de Israel<br />

Durante a 37ª Convenção Anual<br />

da Confederação Israelita do Brasil<br />

(Conib), realizada dia 25 de novembro<br />

de 2006, em São Paulo, o governador<br />

da Bahia Jaques Wagner, destacou:<br />

"Cada vez que temos um representante<br />

da comunidade judaica<br />

em um posto público, isso se reflete<br />

como algo positivo para todos nós.<br />

E, como judeu, lutarei pelo que todos<br />

desejamos, a justiça social".<br />

Já a assessora especial do presidente<br />

Luiz Inácio Lula da Silva, Clara<br />

Ant, destacou que "no primeiro<br />

mandato, as relações entre Brasil e<br />

Israel se ampliaram. O governo brasileiro<br />

atuou em defesa da inclusão<br />

de Israel no Mercosul e o intercâmbio<br />

entre os dois países cresceu em<br />

diferentes áreas. Foi criado um grupo<br />

de interlocução entre os dois países,<br />

que já se reuniu no Brasil, e<br />

acaba de se reunir em Israel". Mais<br />

adiante, Clara Ant observou que "o<br />

governo de Israel foi prestigiado.<br />

Pela primeira vez em dezesseis anos<br />

um ministro israelense foi recebido<br />

pelo presidente da República, disse<br />

referindo-se a Ehud Olmert, então<br />

ministro da Indústria e Comércio israelense",<br />

- acrescentando que - "há<br />

uma disposição mútua nas relações<br />

bilaterais e só podem crescer em benefício<br />

dos dois países, como tem<br />

sido no âmbito da tecnologia, educação,<br />

entre outros".<br />

A Assessora lembrou também<br />

que o presidente foi o primeiro a<br />

assinar documento contra o antisemitismo,<br />

citando a frase emblemática<br />

dita pelo presidente Luiz<br />

Inácio Lula da Silva no Dia Internacional<br />

de Recordação do Holocausto<br />

- data estabelecida pela<br />

ONU, em novembro de 2005. Celebrado<br />

em 27 de janeiro de 2006,<br />

em solenidade promovida no serviço<br />

religioso do Shabat, na sinagoga<br />

da Congregação Israelita Paulista<br />

(CIP) em conjunto com a B'<br />

nai B'rith do Brasil, o presidente<br />

Lula foi enfático ao dizer: "Mesmo<br />

que não houvesse judeus no Brasil<br />

eu combateria o anti-semitismo".<br />

17<br />

vidência. Vamos para a sucá durante<br />

a Festa da Colheita depois de haver<br />

colhido o fruto dos campos.<br />

Se uma pessoa recebeu a bênção<br />

Divina e sua terra produziu com<br />

fartura, seus estoques e adegas estão<br />

repletos, alegria e confiança preenchem<br />

seu espírito - aí a Torá a leva<br />

a abandonar a casa e residir em uma<br />

frágil sucá, para ensiná-la que nem<br />

riquezas, nem posses, nem terras são<br />

proteções na vida; somente D-us é que<br />

sustenta, mesmo os que habitam em<br />

tendas e cabanas e oferece uma proteção<br />

de confiança. E se alguém está<br />

empobrecido e seu trabalho não conheceu<br />

a bênção Divina; se a terra<br />

não deu o seu produto, se o fruto da<br />

árvore não foi armazenado em celeiros<br />

e se está incerto e temeroso<br />

ao encarar o perigo da fome nos<br />

dias de inverno que se aproximam,<br />

também encontrará repouso para<br />

seu espírito na sucá. Lembrará como<br />

D-us hospedou-nos em Sucot no deserto;<br />

nos sustentou e nos abasteceu,<br />

não nos deixando faltar nada.<br />

A sucá o ensinará que a Divina Providência<br />

é segurança melhor do que<br />

qualquer bem material, pois não<br />

abandona os que verdadeiramente<br />

crêem em D-us. A sucá o ensinará a<br />

ser forte e corajoso, feliz e tranqüilo,<br />

mesmo na aflição e na dificuldade.<br />

(www.chabad.or.br).<br />

Além do governador Jaques Wagner,<br />

da assessora do presidente<br />

Lula, Clara Ant, a convenção da Conib,<br />

naquela data contou ainda com<br />

as presenças da embaixadora de Israel<br />

no Brasil Tzipora Rimon; do presidente<br />

da Confederação Israelita do<br />

Brasil e do Congresso Judaico Latino-Americano<br />

Jack Leon Terpins; do<br />

diretor do Congresso Judaico Mundial<br />

para a América Latina Manuel<br />

Tenenbaum, do então presidente do<br />

Rabinato da Congregação Israelita<br />

Paulista rabino Henry Sobel, da vicepresidente<br />

da Fundação Victor Civita<br />

Claudia Costin, dos vice-presidentes<br />

da Conib Osias Wurman e Cláudio<br />

Lottenberg, e de presidentes e<br />

representantes de cada uma das comunidades<br />

judaicas brasileiras.<br />

A Conib tem filiadas no Amazonas,<br />

Bahia, Brasília, Ceará, Minas<br />

Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco,<br />

Rio Grande do Norte, Rio Grande do<br />

Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e<br />

São Paulo. O Amapá também esteve<br />

representado na Convenção.


18<br />

* Marcos Aguinis é<br />

escritor, conferencista,<br />

médico psicanalista, foi<br />

ministro da Cultura da<br />

Argentina, onde<br />

desempenhou um papel<br />

fundamental na<br />

redemocratização do país.<br />

É autor dos livros "La cruz<br />

invertida" e "La gesta del<br />

marrano". Conferência<br />

proferida por ele na<br />

Universidade de Tel Aviv,<br />

em 15 de maio de <strong>2008</strong>,<br />

por ocasião do 60º<br />

aniversário da<br />

Independência de Israel.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

er judeu não é uma infelicidade,<br />

às vezes é uma catástrofe.<br />

Vocês se dão conta,<br />

que até com este microfone<br />

há problemas…<br />

Antes de falar vou dizer umas<br />

palavras (perdoem o lugar comum).<br />

Quero agradecer a presença deste público<br />

fantástico, que lota tão grande<br />

auditório. Agradecer as palavras do<br />

vice-reitor Raanan Rein. Agradecer a<br />

presença do embaixador argentino, demais<br />

embaixadores da América Latina<br />

e os representantes da Espanha. Agradecer<br />

aos amigos desta dinâmica universidade.<br />

E agradecer de novo a esta<br />

multidão de israelenses que viajou de<br />

diferentes pontos do país: significa<br />

para mim uma honra intensa, inesquecível<br />

e comovedora.<br />

Trouxe uma pequena ajuda de memória,<br />

porque quando me pus a pensar<br />

sobre o que se poderia dizer nesta<br />

oportunidade, temi que os submeteria<br />

a um soporífero seminário, e vocês não<br />

merecem tamanho castigo.<br />

O tema soa arrogante: Orgulho de<br />

ser judeu. Nos últimos meses circula<br />

um texto de título similar: Eu adoro ser<br />

judeu. Recebi inúmeras felicitações de<br />

vários países, mas lamento decepcioná-los:<br />

não é meu. Eu não o escrevi,<br />

não costumo usar a palavra "adoro",<br />

exceto quando pretendo seduzir uma<br />

mulher... É evidente que foi escrito em<br />

Israel, porque faz referências àqueles<br />

que foram protagonistas da epopéia<br />

revelada por seus cidadãos. Eu não<br />

tive essa honra, como tantos milhões<br />

de judeus que temos seguido com o<br />

coração nas mãos, mas sem padecer<br />

os sacrifícios que aqui tiveram lugar<br />

para a resistência e a construção.<br />

Em outras ocasiões e em vários textos<br />

expliquei minha rejeição a que se<br />

diga que em 1948 "criou-se" o Estado<br />

de Israel. Isso é mentira e produz erros.<br />

O Estado de Israel existia desde<br />

muito antes: em 1948 proclamou-se<br />

sua Independência. Já latejava um efervescente<br />

Ishuv, havia sido fundada a<br />

Universidade de Jerusalém, funcionava<br />

o Technion, dava concertos a Orquestra<br />

Filarmônica inaugurada por<br />

Arturo Toscanini, investigava o Instituto<br />

de Ciências de Rehovot, vibrava<br />

o cenário do teatro Habima, floresciam<br />

escolas agrícolas, multiplicavam-se os<br />

kibbutzim, edificavam-se as cidades e<br />

moshavim, algumas sobre a areia ou<br />

rochas, era sólida a rede civil e se<br />

constituíram heróicas organizações de<br />

defesa. Tudo isso era uma realidade<br />

indiscutível. O Estado de Israel foi sendo<br />

erigido desde o ermo com lágrimas,<br />

suor, sangue e um oceano de idealismo.<br />

Em 1948 levantou-se o pano de<br />

fundo para alcançar a etapa que faltava:<br />

sua soberania. Não foi - como di-<br />

O orgulho de ser judeu<br />

Marcos Aguinis *<br />

zem os antiisraelenses ignorantes -<br />

"uma invenção das Nações Unidas", ou<br />

dos Estados Unidos. Os EUA naquela<br />

época não eram um aliado incondicional<br />

e fizeram esforços para atrasar a<br />

Independência.<br />

Cumprido este esclarecimento, me<br />

limitarei a cinco razões que justificam<br />

meu orgulho de sentir-me judeu. É<br />

necessário fazê-lo, porque se tende a<br />

desprezar a enorme herança que temos<br />

recebido. É certo que seu sabor é<br />

agridoce, porque contém tragédia e<br />

criatividade. Mas entre as rajadas dessa<br />

tragédia e criatividade, foi desenvolvendo-se<br />

uma obsessão pela cultura.<br />

Um marco histórico foi sem dúvida<br />

o exílio babilônico, há 2.600 anos.<br />

Ali surgiu o imperioso anseio por conhecer<br />

os textos escritos que vinham<br />

se acumulando desde séculos e proviam<br />

uma identidade repleta de nostalgia<br />

e emoção. Esses textos começaram<br />

a ser lidos ao povo, hábito que se<br />

consolidou após o regresso a Eretz Israel<br />

sob a liderança de Ezra e Nehemias.<br />

Mas não foi um rito insignificante,<br />

mas uma revolução cultural. Até<br />

então todas as castas sacerdotais das<br />

numerosas religiões existentes, mantinham<br />

seu poder mediante o segredo<br />

dos livros. Só os sacerdotes tinham<br />

acesso à palavra e os mandatos dos<br />

deuses. Essa tradição foi subvertida<br />

pelos judeus. Decidiram que a<br />

Torá fosse lida para toda a comunidade,<br />

hábito que vige até os nossos<br />

dias e foi imitado depois pelas<br />

outras religiões monoteístas. O Livro<br />

deixou de ser a propriedade de<br />

alguns privilegiados para converterse<br />

num bem comum.<br />

Mas junto com essa revolução, a<br />

seguir veio outra, mais radical ainda.<br />

Com efeito, meio milênio antes da era<br />

comum suprimiu-se a praga do analfabetismo!<br />

O judeu foi o primeiro povo<br />

que deixou de ter analfabetos ao instituir<br />

o Bar Mitzvá, rito que implica na<br />

incorporação à comunidade de Israel<br />

mediante a leitura dos livros sagrados.<br />

Sem leitura, não há incorporação. Foi<br />

um terremoto histórico, sem paralelo.<br />

Pena que o patriarcado que existia<br />

- e ainda subsiste -, não levou em<br />

conta as mulheres. Mas ao menos desapareceram<br />

os varões analfabetos.<br />

Esta situação excepcional explica a<br />

produção em massa de literatura no<br />

antigo Israel. Segundo o historiador<br />

inglês e católico Paul Johnson, Israel<br />

produziu mais textos que a Grécia clássica.<br />

Muitos textos foram queimados,<br />

esquecidos ou não conseguiram entrar<br />

no cânone do Tanach, e quase esteve<br />

a ponto de ser excluído nada menos<br />

que O Cântico dos Cânticos. Um amor<br />

intenso pela letra escrita manteve-se<br />

e se potencializou sem cessar. Não é<br />

estranho que as sinagogas, sejam os<br />

lugares mais reverenciados onde se<br />

guardam as palavras escritas. As le-<br />

tras foram a pátria portátil dos judeus.<br />

Cuidaram-nas e as burilaram. Não é<br />

casual que seja chamado de o povo<br />

do Livro. O Tanach reluz no alto, porque<br />

é uma obra maior da literatura<br />

universal. Ali não só há crônicas, poesia,<br />

narrações, sonhos, amores, pregações,<br />

sabedoria, ensinamentos, profecias,<br />

piedade, rancor e contradições,<br />

mas até a germinação de gêneros literários<br />

que tardaram muito em florescer,<br />

como, por exemplo, a novela.<br />

Costuma-se dizer que a primeira<br />

novela foi Dom Quixote. Entre parêntesis,<br />

recordo uma anedota de alguém<br />

pouco lido que foi comprá-lo. Disse ao<br />

vendedor que desejava um exemplar<br />

de Dom Quixote. De la Mancha? - perguntou.<br />

Não, o da mancha não. Quero<br />

um limpinho porque é para presentear...<br />

Fecho o parêntesis e continuo.<br />

No Tanach também há novela.<br />

Uma delas é admirável: o Livro de Jó.<br />

É novela porque tem sua estrutura, fluidez,<br />

segredos, mistérios e detalhes<br />

emotivos e sensoriais que correspondem<br />

a esse gênero. Nem sequer se<br />

sabe se Jó foi judeu, tampouco onde<br />

viveu. A trama inicia com um assombroso<br />

diálogo entre D-us e o diabo,<br />

depois se sucedem as armadilhas que<br />

geram estremecimentos e suspense.<br />

Bem, este aspecto cultural e literário<br />

está muito arraigado na mentalidade<br />

judaica. Recordemos que no shteitl<br />

mais pobre, mais distante e isolado,<br />

sempre alguém desempenhava a tarefa<br />

de professor para ensinar as<br />

crianças. Vibra como testemunho a<br />

inesquecível canção em iídiche Oifn<br />

Pripechick. Não importava se a docência<br />

era exercida numa choça ou uma<br />

cova. Bastava que ardesse um braseiro<br />

e, ao abrigo de seu calor amoroso,<br />

os pequenos aprendessem o abc.<br />

Essa ginástica mental tornou o judaísmo<br />

um seminário perpétuo, uma<br />

comunidade vasta que todo o tempo<br />

estuda e discute. Por isso não devem<br />

alarmar-nos os conflitos que atormentam<br />

o interior de Israel: nós os judeus,<br />

estamos acostumados aos conflitos<br />

de mais variada cor e a debatê-los.<br />

Depois que chegar a paz, não se iludam<br />

com a idéia de una paz absoluta,<br />

porque se alçarão velhos problemas<br />

e novos, a polêmica será intensa.<br />

Não obstante, jamais será o fim<br />

do mundo. O povo judeu segue debatendo,<br />

é parte de sua natureza ou,<br />

para ser objetivo, resultado de uma<br />

história muito particular.<br />

Antes de concluir este ponto, sinto-me<br />

obrigado a assinalar que recebi<br />

numerosas queixas sobre os perigos<br />

que nos últimos anos perturbam<br />

o alto nível da educação israelense.<br />

Sua prioridade parece ter<br />

afrouxado. Não é bom. A imaginação<br />

deve acender castiçais e encontrar<br />

os recursos que mantenham vigorosa<br />

a qualidade educativa. Isso con-<br />

feriu a este país força, energia e<br />

ideais que nunca devem murchar.<br />

O segundo ponto de minha exposição<br />

refere-se ao monoteísmo ético.<br />

Houve monoteísmos na antiguidade,<br />

não foi exclusividade do povo de<br />

Israel. Havia monoteísmo no Egito sob<br />

Akenaton ou Amenhotep IV (como o<br />

prefiram chamar). Os incas impuseram<br />

o culto do Sol, também deus único.<br />

Mas não existia o monoteísmo ético,<br />

e essa categoria inovadora foi mérito<br />

exclusivo do povo de Israel, seus líderes<br />

e profetas. Um monoteísmo que<br />

exige moral que se estabeleceu mediante<br />

um pacto. O pacto compromete<br />

D-us, a comunidade e cada um de<br />

seus membros. Aí se hierarquizou a<br />

responsabilidade do indivíduo. Foi um<br />

pacto que sacraliza a vida, os direitos<br />

e as obrigações de cada pessoa, que<br />

compromete o cuidado com o planeta,<br />

com os animais e um respeito sem<br />

precedentes pelo diferente, pelo estrangeiro.<br />

Marcou uma ascensão espetacular<br />

da qualidade humana em<br />

todos os ardores, como um vento cheio<br />

de pólen cujo destino era espargir-se<br />

ao resto do universo.<br />

O monoteísmo ético incluía a fraternidade<br />

da raça humana. Todos viemos<br />

de um casal mítico, Adão e Eva.<br />

E como se não fosse suficiente, houve<br />

um dilúvio e depois se consolidou<br />

a origem comum a partir de outro pai<br />

de todos: Noé.<br />

No monoteísmo ético hierarquizouse<br />

a liberdade. Por quê? Porque somos<br />

livres para agir bem ou agir mal, e serão<br />

castigados os que agirem mal e<br />

serão premiados os que agirem bem.<br />

Os direitos individuais, reiteradamente<br />

ceifados por tiranias de direita ou<br />

de esquerda, foram consagrados desde<br />

a antiguidade e estão profundamente<br />

enraizados na mentalidade judaica.<br />

Se algo parece insuportável a<br />

essa mentalidade, é a escravidão, a<br />

opressão. Todos os povos remontam<br />

suas origens a um fenômeno heróico.<br />

O judeu, por outro lado, à ofensa da<br />

escravidão. Desde crianças nos ensinam<br />

a repetir que "fomos escravos no<br />

Egito". O sofrimento não se esquece<br />

para que se torne uma benção do presente,<br />

ou seja, para que amemos e<br />

defendamos a liberdade. Também para<br />

que compreendamos o sofrimento dos<br />

que não são livres. Por isso não é casualidade<br />

que todos os movimentos<br />

libertários da história contaram com<br />

uma desproporcional presença judaica.<br />

O envolvimento com os que são<br />

perseguidos, oprimidos ou discriminados<br />

é tão intenso entre os judeus que<br />

conduziu sua participação destacada<br />

inclusive em movimentos anti-semitas,<br />

como foi o stalinismo.<br />

A solidariedade tornou-se moeda<br />

comum. Tão comum que gerou um<br />

sem-número de piadas, muitas delas<br />

centradas no hábito da coleta para


fins nobres. São incontáveis as organizações<br />

que realizam coletas dentro do<br />

povo judeu. Ferve a responsabilidade<br />

pelo outro. A tal extremo que se alguém<br />

for pedir apoio, é como se fosse fazer<br />

um presente, porque dá-lhe a ocasião<br />

de fazer uma mitzvá. Lembram a piada<br />

do mendigo judeu que fazia coleta numa<br />

sinagoga de Paris (estou falando do século<br />

XVIII ou XIX) e comunicaram-lhe que<br />

o ricaço que habitualmente lhe destinava<br />

as moedas havia saído de férias?<br />

O mendigo reagiu indignado: "Como!<br />

Com meu dinheiro ele foi se divertir?"<br />

Outra anedota, do mesmo tipo, referese<br />

a dois irmãos pobres que vão ao banco<br />

dos Rotschild para receber um estipêndio<br />

mensal. Um falece e o sobrevivente<br />

pergunta ao caixa: "E a parte do<br />

meu irmão?" "Temos registrado que seu<br />

irmão morreu". "Diga-me - reagiu o<br />

mendigo - quem é o herdeiro de meu<br />

irmão? Eu ou Rotschild?"<br />

Outro elemento notável do monoteísmo<br />

ético, que ainda não foi reconhecido<br />

devidamente, é o compromisso<br />

com a ecologia. O fato de deixar descansar<br />

a terra e respeitar os animais<br />

merece admiração. No Tanach existem<br />

abundantes versículos de inspirada poesia<br />

sobre árvores, frutos, flores, plantas,<br />

vales e colinas, que se amam e elogiam.<br />

Theodor Herzl, antes de morrer,<br />

criou o Keren Kayemet. Sua missão, além<br />

de comprar terras para permitir um crescimento<br />

legal da comunidade, foi plantar<br />

árvores e fertilizar a terra. Esta antiga<br />

terra, em quase toda sua extensão,<br />

sofria abandono, depredação, deserto.<br />

O objetivo do Keren Kayemet era devolver<br />

a este país o esplendor que teve na<br />

antiguidade e que tinha desaparecido:<br />

o bosque. Os bosques de Israel, quase<br />

todos, são produto de um esforço gigantesco<br />

e admirável.<br />

Passo ao terceiro ponto. Um dos<br />

grandes orgulhos que podemos ter é<br />

que sendo tão poucos, nós, judeus produzimos<br />

uma enorme quantidade de paradigmas.<br />

Repassemos os patriarcas,<br />

juízes, reis e profetas de mais de dois<br />

mil anos. Seus nomes continuam sendo<br />

evocados e usados até o dia de hoje em<br />

todo o mundo, em diversas culturas e<br />

até diferentes religiões, com as modificações<br />

impostas pela cor dos idiomas.<br />

Esses paradigmas têm força porque dão<br />

vida a traços de uma profunda humanidade.<br />

Reúnem aspectos recônditos, conformam<br />

uma enciclopédia de emoções,<br />

impulsos, tendências, desejos, medos,<br />

heroísmos, lealdades e deslealdades.<br />

Foram gravados na consciência humana<br />

com suas infinitas sutilezas. Muito<br />

antes que os gênios do Renascimento<br />

e a modernidade descrevessem a inveja,<br />

o fratricídio, o egoísmo, o altruísmo,<br />

o amor, esses paradigmas já tinham<br />

sido cinzelados. O amor, nesses paradigmas,<br />

estendeu-se às mais diversas<br />

manifestações: amor a D-us, aos pais,<br />

aos filhos, aos irmãos, aos cônjuges,<br />

aos amigos, aos estrangeiros. O amor<br />

de Abraham e Sara, de Isaac e Rebeca,<br />

de Jacob e Raquel, de Ruth e Boaz, de<br />

David e Betsabé, de Salomão e Sulamita,<br />

etc. Protagonizaram fatos que des-<br />

nudam a complexidade da vida, e são<br />

recordados como se tivessem ocorrido<br />

ontem. Para os judeus, os distantes patriarcas<br />

são como tios avós, só nos falta<br />

colocar sua fotografia na sala da<br />

casa. Os gregos também produziram paradigmas<br />

gigantescos, mas não são<br />

parte íntima da vida cotidiana grega<br />

moderna, não são parte inseparável da<br />

família, ficam no passado, maravilhoso,<br />

mas passado. Entre os judeus, por<br />

outro lado, esses nomes continuam no<br />

tempo presente.<br />

Os paradigmas mantiveram sua primavera<br />

na etapa pós-bíblica com Hilel,<br />

Jesus, Filon de Alexandria. Nomes e<br />

mais nomes. Pulo séculos e chego a<br />

Maimônides quem, além de produzir<br />

uma obra exemplar, nos deixou ensinamentos<br />

de enorme força e formulação<br />

humilde, como por exemplo: "Sou uma<br />

pessoa que nem sempre pode ter razão".<br />

Aí existe também sensatez e objetividade:<br />

os seres humanos podem<br />

equivocar-se. Outro paradigma foi<br />

Moshé Mendelsohn, o avô do compositor<br />

Felix Mendelsohn. Tinha uma corcunda,<br />

e essa corcunda o impedia de<br />

amar uma moça muito bela. Uma tarde<br />

ela lhe disse: "Veja, reconheço suas<br />

qualidades excepcionais, fala de uma<br />

maneira fascinante e merece minha<br />

franqueza: sua corcunda me impede de<br />

amá-lo". Mendelsohn respondeu: "Essa<br />

corcunda tem história. Dava voltas na<br />

eternidade implorando um corpo onde<br />

repousar. Então D-us teve piedade e<br />

planejou depositá-la sobre uma bela<br />

mulher. Roguei-lhe que não fizesse<br />

dano à formosura dessa mulher, que a<br />

instalasse sobre minha costas". Poucos<br />

meses depois Mendelsohn se casou<br />

com essa garota.<br />

Deixo os paradigmas que encheriam<br />

bibliotecas inteiras, e passo ao<br />

quarto ponto.<br />

O povo judeu suportou tragédias<br />

enormes, perseguições sem paralelo e<br />

uma discriminação inclemente e obstinada.<br />

O anti-semitismo é a expressão<br />

de ódio mais tenaz, antiga e firmemente<br />

arraigada no mundo. No entanto,<br />

esse sofrimento não nos transformou<br />

numa cultura que ame a vingança. Recordamos<br />

que fomos escravos no Egito,<br />

lembramos dos pogroms, recordamos<br />

as perseguições religiosas, as perseguições<br />

raciais, lembramos e estudamos<br />

a Shoá, mas não cultivamos a<br />

segregação, ainda que tenhamos credenciais<br />

para isso. Devemos estar orgulhosos<br />

de semelhante conquista.<br />

Jamais em Israel, nem em nenhuma<br />

comunidade judaica do mundo celebraram-se<br />

as mortes de árabes ou palestinos,<br />

por exemplo.<br />

É freqüente reclamar justiça, mas<br />

nunca vingança. A honra não passa pelo<br />

dano ao outro, senão na superação da<br />

ofensa. Esta qualidade não deriva de<br />

genes nem fenotipos. É produto de uma<br />

longa história, na qual aos judeus parecia<br />

impossível defender-se fisicamente.<br />

Imaginem um shtetl invadido por huligans<br />

ou cossacos, que invadiam a aldeia,<br />

violavam mulheres, arrancavam<br />

barbas, matavam crianças, degolavam<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

que se punha diante deles, rapinavam,<br />

incendiavam e iam satisfeitos. O que<br />

podiam fazer os judeus? Persegui-los?<br />

Matar cossacos? Com o quê? Como?<br />

Choravam, enterravam os mortos, curavam<br />

os feridos, consolavam os parentes<br />

e depois rezavam, cantavam, reconstruíam.<br />

Seguia a vida. Dessa forma<br />

se instaurou um valor impressionante,<br />

exemplar, de opor à tragédia e o sofrimento,<br />

a glória da criação.<br />

Kol Nidré, por exemplo, é um fenômeno<br />

musical único. Perguntamo-nos<br />

como uma melodia perfeita, triste e profunda<br />

pode-se expandir por vários continentes<br />

numa época em que não havia<br />

automóveis nem telefones, nem celulares.<br />

De Paris a Bagdá, da Ucrânia a<br />

Marrocos, entoava-se o mesmo Kol Nidré.<br />

Impossível encontrar um fenômeno<br />

musical parecido. Nessa música<br />

roga-se perdão, mostra-se humildade,<br />

reconhece-se a falibilidade do homem.<br />

É a ante-sala que leva aos recintos subjetivos<br />

mais profundos da paz. Integra<br />

o repertório de rituais que impelem até<br />

a concórdia, a bondade e a ética. Depois<br />

do Holocausto, por exemplo, alguns<br />

grupos quiseram vingar-se dos<br />

nazistas e os colaboracionistas. Mas<br />

não foram grupos significativos. O<br />

esforço do povo judeu foi dirigido<br />

para obter a independência de Israel,<br />

a seguir adiante, e superar a tragédia<br />

mais terrível de sua história mediante<br />

a criação solidária.<br />

Nós os judeus estamos acostumados<br />

a sacrifícios para construir. É uma<br />

conduta oposta a outras culturas, nas<br />

quais as pessoas também se sacrificam<br />

- e muito -, mas para destruir. Basta lançar<br />

um olhar ao que acontece nesta região.<br />

Enquanto os israelenses vêm<br />

construindo desde muitas décadas antes<br />

da independência nacional, os palestinos<br />

vêm destruindo até o que poderia<br />

ser tomado como botim de guerra,<br />

e coloco como exemplo lamentável<br />

o ocorrido em Gaza.<br />

Passo ao quinto e último ponto, o<br />

que se refere à razão pela qual estamos<br />

hoje aqui reunidos: o Estado de<br />

Israel, em seu sexagésimo aniversário<br />

da Independência. Para dizê-lo em poucas<br />

palavras, afirmo que é o empreendimento<br />

coletivo mais grandioso que o<br />

povo judeu realizou em 2 mil anos. Não<br />

há outro país que em tão pouco tempo<br />

tenha alcançado tudo o que alcançou o<br />

Estado de Israel. Há pouco li um artigo<br />

do escritor e jornalista cubano-espanhol<br />

Carlos Alberto Montaner. Iniciava falando<br />

dos Tigres do Extremo Oriente: Coréia<br />

do Sul, Taiwan, Singapura, Malásia.<br />

Depois mencionou o Tigre da Oceania:<br />

Nova Zelândia. Mais adiante, surgiu outro,<br />

inesperado, porque tinha sido um<br />

país periférico, agrícola, católico e muito<br />

conservador: Irlanda, batizada agora<br />

como o Tigre Celta. A Estônia se tornou<br />

o Tigre Báltico. Mas do que se esquece<br />

o mundo é que também existe<br />

outro Tigre, muito vigoroso, e que ele<br />

chama o Tigre Semita: Israel. Não há<br />

outro país nas extensões do âmbito semita<br />

que tenha obtido o crescimento<br />

assombroso de Israel a partir de uma<br />

carência quase absoluta de recursos<br />

naturais. Em que pesem as incessantes<br />

e graves dificuldades padecidas,<br />

conseguiu instalar-se entre os trinta<br />

países mais adiantados do universo.<br />

Observemos. Em que lugar se conseguiu<br />

transformar um idioma dormente<br />

como o hebraico, numa linguagem<br />

moderna e eficiente, com todas as sutilezas,<br />

a cor e a emotividade que exigem<br />

a ciência, a tecnologia, as artes, a<br />

literatura e a vida cotidiana? Israel gerou<br />

escritores que são traduzidos para<br />

dezenas de idiomas e gozam de alto<br />

prestígio. O hebraico moderno penetra<br />

na alma e se tornou um afiado instrumento<br />

de comunicação. Este fenômeno<br />

lingüístico não tem paralelo.<br />

Tampouco faz falta galopar pelos<br />

inumeráveis aportes que Israel brindou<br />

na biologia, na informática, na irrigação,<br />

etc. A lista é esmagadora, parece<br />

impossível, parece um transbordar de<br />

fantasia. Mas é verdadeira.<br />

Devemos nos manifestar com veemência<br />

para que cada judeu constitua<br />

um orgulho - que não deveríamos regatear<br />

- a firmeza e naturalidade com que<br />

se manteve a democracia. Rodeado por<br />

um oceano de países onde a democracia<br />

não existe ou é apenas uma ilusão,<br />

este pequeno e enérgico Israel a exerceu<br />

e exerce a todo custo.<br />

Também rendo minha homenagem<br />

a sua Justiça, que figura entre as mais<br />

confiáveis do planeta. Seguramente<br />

sabem melhor que eu que o Palácio da<br />

Justiça em Jerusalém está numa colina<br />

um tanto mais elevada que a da própria<br />

Knesset, sem falarmos a respeito<br />

do Poder Executivo. A justiça mais elevada.<br />

A justiça é um elemento axial da<br />

vida comunitária que os judeus aprenderam<br />

a valorizar desde a antiguidade<br />

mais remota, e foi exercida inclusive<br />

nos shteitls, como a base e o cimento<br />

unificador desses mini-estados.<br />

Na qualidade de argentino e latino-americano<br />

confesso minha inveja<br />

por esta democracia, por esta justiça<br />

e pelo impulso obstinado de progredir<br />

que reina aqui. Expresso com a mão<br />

no peito minha admiração por sua rica<br />

e dinâmica pluralidade cidadã. O Estado<br />

e o povo de Israel, com suas infinitas<br />

complexidades, são protagonistas<br />

de uma das epopéias mais notáveis<br />

da história.<br />

Digo com ênfase, porque é necessário<br />

contra-argumentar a onda de ódio<br />

e preconceito que sopra contra nós. Os<br />

governos de Israel e muitos de seus<br />

dirigentes cometeram erros ou perderam<br />

oportunidades. É humano, ocorre<br />

em todas as partes. Mas isso não chega<br />

a desconhecer os extraordinários<br />

méritos acumulados nestes vibrantes<br />

e admiráveis 60 anos de independência,<br />

mais as décadas de esforço titânico<br />

e potente idealismo que vinham<br />

sendo realizados muito antes.<br />

Termino com o tradicional brinde de<br />

manifestar que não nos conformamos<br />

com 60 anos, mas pedimos por 120<br />

anos, certos de que aos 120 anos voltaremos<br />

a pedir por muitos mais, até o<br />

fim dos tempos. Grato por me ouvirem.<br />

19


20<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Clara Ant, assessora especial do Presidente, o<br />

presidente Lula e a embaixadora Tzipora Rimon<br />

A embaixadora de Israel, Tzipora Rimon, começou<br />

a apresentar suas despedidas às autoridades<br />

e comunidades israelitas do Brasil. O primeiro<br />

de quem ela se despediu - vai assumir<br />

novas funções na diplomacia israelense - foi o<br />

presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio<br />

do Planalto, dia 3/9.<br />

Ministra Dilma Roussef, o presidente Lula e a<br />

embaixadora Tzipora<br />

Colabore com notas para a coluna.<br />

Fone/fax 0**41 3018-8018 ou e-mail:<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

A psicóloga Rachel Jurkiewicz obteve o título de Doutora em Ciências<br />

pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, na<br />

área de Cardiologia. O título da tese apresentada foi "Vivência de<br />

perdas: relação entre eventos significativos, luto e depressão, em<br />

pacientes internados com doença arterial coronariana". Mazal Tov!<br />

Entre 10 e 14 de setembro, as voluntárias de todo o Brasil da Na'amat<br />

Pioneiras estiveram reunidas em Porto Alegre, berço da organização, para<br />

comemorar os seus 60 anos de atividades. Com o tema 'Novos Tempos -<br />

Valores Eternos', e um jantar marcaram a fundação da entidade.<br />

A reunião discutiu ainda temas inerentes à condição feminina, judaica e<br />

sionista, itens que fazem parte dos seus objetivos de atuação das Pioneiras.<br />

Foram homenageadas as fundadoras e todas as mulheres que trabalham<br />

em prol dos ideais das Pioneiras que, no Brasil, está presente em 11<br />

Estados: Pará, Amazonas, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia,<br />

São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.<br />

Entre os palestrantes convidados da reunião das Pioneiras, destacaramse<br />

a participação da escritora Cíntia Moscovich, do jornalista Jaime Sirotsky<br />

e da socióloga Vanessa Scliar.<br />

Da esquerda para direita, subtenente assessor<br />

do Adido Coronel Aviador Ricardo Vieira, chefe<br />

do escritorio da FAB em Tel Aviv, coronel<br />

Puchalski, Adido Militar do Brasil em Israel<br />

A Aditância de Defesa,<br />

Naval, do Exército e Aeronáutica<br />

do Brasil em<br />

Israel comemorou em<br />

Tel Aviv o 9º aniversário<br />

de criação do Ministério<br />

da Defesa. Cerca de duzentos<br />

convidados, incluindo<br />

adidos militares<br />

de mais de trinta países,<br />

autoridades militares locais,<br />

diplomatas e amigos<br />

da aditância, compareceram<br />

ao evento.<br />

Daniel Benzecry toca o shofar na Escola Israelita<br />

Os preparativos para a celebração de<br />

Rosh Hashaná já estão a todo vapor<br />

na EIBSG. Segundo a morá Denise<br />

Weishof: "Iniciamos o chodesh de Elul<br />

tocando shofar todas as manhãs e<br />

como convidados especiais recebemos<br />

os srs. Saadia Cohen e Victor Baras do<br />

minián da Sinagoga. As crianças também<br />

têm praticado bastante nos intervalos<br />

das aulas.<br />

No Gan (Educação Infantil) agradecemos<br />

a visita do dr. Daniel Benzecry, pai<br />

da aluna Deborah do Jardim I, que tocou<br />

o shofar para os alunos da Educação<br />

Infantil. Foi um momento maravilhoso!<br />

Os rabinos Tzvi Beker e Fitche realizarão<br />

na escola um workshop com os alunos<br />

sobre a escrita da Torá, mezuzot e tefilin.<br />

Nesta época de reflexão e revisão de<br />

nossos atos, vale a pena também revisarmos<br />

nossos utensílios sagrados.<br />

O Tashlich da escola será realizado com<br />

pais e alunos em uma cerimônia simbólica<br />

na piscina do CIP, dia 29/09 - véspera<br />

do chag, às 11h30. Logo após, haverá um<br />

lechaim desejando Shaná Tová Umetuká<br />

e um feliz 5769!<br />

No dia 21/9 ás 15 h, a escola realizará<br />

um domingo especial referente a Rosh<br />

Hashaná, convidando pais, alunos, professores<br />

e Kehilá. As atividades serão vivências<br />

em cantos e prometem ser muito<br />

especiais! "


Coluna Coluna Israel, Israel, seu seu povo, povo, sua sua liderança<br />

liderança<br />

Moisés, o nosso Mestre - II<br />

Antônio Carlos Coelho *<br />

Na edição passada comecei a<br />

escrever sobre Moisés, "nosso<br />

mestre". Destaquei seus valores<br />

humanitários e de solidariedade<br />

com os que sofriam sob o jugo dos<br />

feitores egípcios, atitudes que o<br />

levaram a sair do Egito e iniciar<br />

uma nova vida no deserto.<br />

A história nos conta que Moisés<br />

descansava próximo a um<br />

poço, na terra de Midian, quando<br />

ouviu vozes aflitas de mulheres<br />

sendo atacadas por pastores.<br />

Moisés, mais uma vez, agiu em<br />

favor dos mais fracos: as defendeu<br />

e expulsou os malfeitores.<br />

De fato em fato, a cada ação<br />

de Moisés, a sua vida foi ganhando<br />

uma nova forma. Era<br />

príncipe no Egito, depois experimentou<br />

a condição de fugitivo<br />

no deserto e, por fim, acabou<br />

encontrando as sete filhas<br />

de Ruel (Yetró). Acolhido na<br />

casa deste senhor, que era um<br />

chefe tribal na terra de Midian<br />

(ou um sacerdote midianita),<br />

acabou casando com uma das<br />

suas filhas, Tsipora. Deste casamento<br />

nasceu um filho, Gershom,<br />

que quer dizer, "peregrino<br />

em terra estrangeira".<br />

Moisés, casado e com um fi-<br />

lho, permaneceu na casa do sogro,<br />

trabalhando como pastor.<br />

Realmente, a vida de Moisés<br />

mudou muito. De príncipe tornou-se<br />

pastor. Da situação cômoda<br />

e segura de um membro<br />

da família real de uma das maiores<br />

potências da antiguidade,<br />

tornou-se um pastor de cabras<br />

no deserto. O pastor nada porta<br />

consigo, senão um bastão para<br />

apoiar-se e, se for necessário,<br />

defender-se de algum agressor;<br />

e habita em tendas frágeis, próprias<br />

dos nômades do deserto.<br />

Mais uma vez a vida de Moisés<br />

justifica o seu título, "nosso<br />

mestre". Passar da comodidade<br />

e segurança para a fragilidade<br />

das tendas e para o desapego<br />

que o deserto oferece<br />

e, mesmo assim, preservar valores<br />

e fidelidade ao seu D-us,<br />

é a lição do mestre.<br />

Após a destruição do Templo,<br />

Israel foi obrigado a sair da<br />

sua terra. Foi uma saída para sobrevivência.<br />

Habitou em terras<br />

estrangeiras assim como Moisés.<br />

Deixou a comodidade da<br />

terra, da sua agricultura e comércio,<br />

das suas casas e sinagogas,<br />

para viver entre outros<br />

povos e costumes.<br />

Israel, na Diáspora, experi-<br />

* Antônio Carlos Coelho é professor universitário, escritor, diretor do Instituto de Ciência e Fé e colaborador<br />

do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

mentou costumes de povos estranhos<br />

e se submeteu às condições<br />

possíveis de sobrevivência.<br />

Por séculos experimentou a<br />

privação da propriedade e a fragilidade<br />

das vontades políticas<br />

dos governantes e a ira do cristianismo<br />

que, os forçavam a viver<br />

na condição de nômades, vagando<br />

de país a país, desde a<br />

Ásia, à Europa e à América.<br />

E, como o mestre, guardaram<br />

os valores da tradição e os<br />

transmitiram de geração em geração,<br />

preservaram laços profundos<br />

de identidade como povo,<br />

sendo estes, renovados na solidariedade<br />

e nos compromissos<br />

comunitários. A vida judaica preservou,<br />

no seu âmbito, valores<br />

morais e éticos que a manteve<br />

a despeito da insegurança e fragilidade<br />

oferecida pelos países<br />

da europeus.<br />

A cada mudança imposta ao<br />

povo de Israel, uma nova vida<br />

surgia - e com mais vigor - com<br />

uma teimosa insistência pela<br />

continuidade, tanto foi que, em<br />

vinte séculos de história, o pequeno<br />

povo de Moisés permaneceu<br />

integro, contribuindo para a<br />

riqueza das artes, da economia,<br />

das ciências, na terra estrangeira<br />

em que habitassem.<br />

A guarda dos<br />

valores judeus<br />

com a Torá<br />

Violinista<br />

verde de<br />

Chagall -<br />

sobre o<br />

telhado,<br />

representando<br />

a fragilidade<br />

do povo<br />

judeu<br />

Moisés e Tsipora - imagem do filme os Dez Mandamentos,<br />

de Cecil B. De Mille, com Charlton Heston<br />

21


22 (com<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Hamas ameaça mais seqüestros<br />

O chefe político do movimento fundamentalista<br />

Hamas, Khaled Meshaal, ameaçou<br />

seqüestrar outros cidadãos israelenses<br />

caso Israel não liberte os palestinos que<br />

mantêm detidos. "Se nossos inimigos não<br />

libertarem nossos prisioneiros, Gilad Shalit<br />

não será o último israelense capturado",<br />

advertiu Meshaal. Shalit, um cabo do<br />

exército de Israel, foi seqüestrado em<br />

junho de 2006 por um grupo radical terrorista<br />

de Gaza vinculado ao Hamas.<br />

Meshaal, que vive em exílio na capital da<br />

Síria, disse que nas prisões israelenses<br />

há milhares de palestinos detidos. O dirigente<br />

do Hamas se esconde em Damasco<br />

com receio de ser morto em Gaza.<br />

(Ansa e <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>).<br />

Conferência em Roma<br />

VISÃO<br />

Foi realizada no Vaticano, a conferência<br />

"Israel e Santa Sé: reflexões sobre a cultura<br />

judaico-cristã". O evento foi promovido<br />

pelo Pontifício Conselho para a Cultura<br />

e pela Embaixada de Israel junto à<br />

Santa Sé. Um das questões discutidas na<br />

conferência foi a polêmica causada pela<br />

modificação do texto da oração da Sexta-feira<br />

Santa da liturgia pré-conciliar.<br />

Segundo a comunidade judaica internacional,<br />

a oração é ofensiva porque implica<br />

o conceito de "conversão" dos judeus.<br />

O objetivo da relação entre as duas comunidades<br />

é que cada uma conserve a<br />

própria face, sem que esta face seja<br />

agressiva. O embaixador de Israel junto<br />

à Santa Sé, Oded Ben-Hur, apresentou um<br />

projeto comum entre os dois Estados que<br />

inclui temas como a luta contra o antisemitismo<br />

e o terrorismo, intercâmbios<br />

culturais, acadêmicos e, por fim, incentive<br />

as peregrinações, "máxima expressão<br />

do diálogo necessário no Oriente Médio".<br />

(L'Osservatore Romano).<br />

Israel frustra seqüestros do Hezbolá<br />

panorâmica<br />

Os serviços secretos de Israel, em parceria<br />

com órgãos de inteligência de outros<br />

países, evitaram diversos seqüestros<br />

de cidadãos israelenses planejados<br />

para ocorrer em várias partes do mundo,<br />

inclusive na América do Sul. A informação<br />

foi divulgada pela imprensa de<br />

Israel e confirmada pelo ministro da<br />

Defesa, Ehud Barak. Barak não forneceu<br />

detalhes sobre as supostas operações<br />

de inteligência promovidas, mas, de<br />

acordo com o que foi divulgado, estavam<br />

planejados entre cinco e sete seqüestros,<br />

todos atribuídos ao grupo xiita libanês<br />

Hezbolá, ocorreriam no oeste da<br />

África, na América do Norte, na América<br />

do Sul e na Ásia. Os alvos seriam empresários<br />

e representantes do governo,<br />

e os seqüestros teriam como objetivo<br />

vingar a morte de Imad Mugniyah, ocorrida<br />

em fevereiro, na Síria. (Ansa).<br />

informações das agências AP, Reuters, AFP,<br />

EFE, jornais Alef na internet, Jerusalem Post,<br />

Haaretz e IG)<br />

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Seqüestros do Hezbolá II<br />

• Yossi Groisseoign •<br />

Os serviços de segurança israelenses dizem<br />

ter registrado intensa atividade de<br />

membros do grupo xiita no exterior, sobretudo<br />

na América do Sul. Já faz algum<br />

tempo que o governo norte-americano<br />

denuncia a presença de membros do Hezbolá<br />

e outras organizações na região da<br />

Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina<br />

e Paraguai. Alguns setores políticos sulamericanos,<br />

contudo, dizem que é um<br />

argumento usado pelos Estados Unidos<br />

para reforçar sua presença militar na região,<br />

rica em recursos naturais estratégicos.<br />

Na Argentina, na década de 90,<br />

dois atentados realizados no país tiveram<br />

como alvo entidades de representação de<br />

Israel. Em 1992, um carro-bomba explodiu<br />

em frente à Embaixada de Israel,<br />

matando 29 pessoas e deixando mais de<br />

100 feridos. Dois anos depois, um ataque<br />

suicida na sede da Associação Mutual<br />

Israelita Argentina (Amia), fez 85 vítimas<br />

e mais de 200 feridos. (Ansa).<br />

Policiais brasileiros em Israel<br />

Convidados por Israel, dois policiais brasileiros,<br />

o comandante do BOPE-DF, Wilson<br />

Moretto e o capitão Marcos Alexandrino<br />

Vieira, chefe da Secretaria Regional<br />

de Inteligência do Paraná, participam<br />

com colegas policiais de toda a América<br />

Latina do Curso Internacional "Policia e<br />

a Comunidade" que ocorre em Israel no<br />

"Instituto Internacional da Histadrut",<br />

entre 4 e 24 de setembro de <strong>2008</strong>. O<br />

curso aborda a experiência policial israelense<br />

e de policiais de países participantes,<br />

assim como a observação e análise<br />

dos modelos de participação comunitária<br />

executados pela Policia de Israel e de<br />

diversas polícias latino-americanas. No<br />

programa também estão a perspectiva<br />

integral comunitária para o trabalho preventivo,<br />

capacitação da Polícia Comunitária,<br />

inserção da Polícia Comunitária no<br />

sistema educativo, integração de organizações<br />

voluntárias ao trabalho da Polícia,<br />

dentre outros, temas que visam aprimorar<br />

a relação do policial com a sociedade.<br />

(Embaixada de Israel).<br />

Filho de líder do Hamas vira cristão<br />

O filho de um dos líderes mais populares<br />

da organização terrorista Hamas mudouse<br />

para os Estados Unidos e se converteu<br />

ao cristianismo. Em entrevista exclusiva<br />

ao jornal Haaretz, Masab Yousuf, filho do<br />

xeique Hassan Yousef, líder do Hamas da<br />

Margem Ocidental, criticou duramente o<br />

Hamas, elogiou Israel e disse esperar que<br />

seu pai terrorista abra os olhos para o cristianismo.<br />

"Sei que estou colocando minha<br />

vida em perigo e estou em risco de perder<br />

meu pai, mas espero que ele entenderá<br />

isso. Talvez um dia poderei voltar à Palestina<br />

e para Ramala", disse Masab. Ele de-<br />

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clarou que no passado ajudou seu pai nas<br />

atividades do Hamas, mas agora ele tem<br />

amor por Israel e lamenta a existência do<br />

Hamas. (Haaretz/WND)<br />

Filho de líder do Hamas II<br />

Prosseguindo, afirmou: "Mandem minhas<br />

saudações a Israel. Sinto falta desse país.<br />

Respeito Israel e o admiro como um país.<br />

Vocês judeus precisam estar cientes: Vocês<br />

nunca, mas nunca terão paz com o<br />

Hamas. O islamismo, como a teologia que<br />

os guia, não permitirá que eles cheguem<br />

a um acordo de paz com os judeus. Eles<br />

crêem que a tradição diz que o profeta<br />

Maomé lutou contra os judeus e que portanto<br />

eles devem continuar a lutar contra<br />

eles até a morte". Masab criticou fortemente<br />

a sociedade palestina como<br />

"uma sociedade que santifica a morte e<br />

os terroristas suicidas. Na cultura palestina,<br />

um terrorista suicida se torna um<br />

herói, um mártir". O pai de Masab cumpre<br />

sentença de prisão em Israel por planejamento<br />

ou envolvimento em múltiplos<br />

ataques terroristas, inclusive a explosão<br />

suicida em 2002 no restaurante da Universidade<br />

Hebraica de Jerusalém, onde<br />

nove estudantes e funcionários foram<br />

mortos. (Haaretz/WND).<br />

Olmert vai renunciar<br />

O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert,<br />

garantiu que vai renunciar ao cargo<br />

assim que seu partido Kadima eleger<br />

um novo líder, na próxima semana. "Imediatamente<br />

depois que um novo líder for<br />

escolhido para o Kadima, em 17 de setembro,<br />

planejo renunciar ao meu cargo<br />

e vou dizer ao presidente que a pessoa<br />

que for a eleita será digna de estabelecer<br />

um novo governo", declarou o primeiro-ministro<br />

de Israel. (Agências).<br />

Brasil inaugura nova embaixada em Israel<br />

Desde o dia 11/9, a Embaixada do Brasil<br />

em Israel está atendendo na Rua Yehuda<br />

HaLevi, número 23, 30º andar, Tel-Aviv, Israel,<br />

código postal 65136. De acordo com<br />

o embaixador Pedro Motta Pinto Coelho,<br />

"a mudança, para instalações novas e<br />

modernas, reflete o novo momento das<br />

relações do Brasil com Israel que exigem,<br />

pela sua dinâmica e crescimento, condições<br />

ainda mais adequadas de trabalho e<br />

representação". Os números telefônicos,<br />

de fax e endereços eletrônicos permanecem<br />

inalterados. (Jornal Alef).<br />

Grande negócio<br />

A empresa israelense Gazit Globe comprou<br />

por R$ 35 milhões o "Italian Mall",<br />

um shopping center de 16,3 mil metros<br />

quadrados de área bruta locável em Caxias<br />

do Sul. O "Italian Mall" está ainda<br />

em construção e deve estar concluído em<br />

2009. Sediada em Tel-Aviv, a Gazit é terceira<br />

maior empresa do setor imobiliário<br />

de Israel em valor de mercado. Em março,<br />

a empresa fez a sua maior aquisição<br />

ao comprar, por 800 milhões de euros, o<br />

controle da Meinl European Land, da Áustria,<br />

em sociedade com um fundo de in-<br />

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vestimentos do Citigroup. (Jornal Alef).<br />

Holocausto e Anti-semitismo<br />

O grupo de pesquisa "Holocausto e Anti-<br />

Semitismo", do Laboratório de Estudos<br />

sobre a Intolerância da Universidade de<br />

São Paulo, realizará, de 2 de outubro a 1º<br />

de dezembro, o curso on-line "Panorama<br />

Histórico do Holocausto", sob coordenação<br />

do professor Samuel Feldberg. Tratase<br />

de curso gratuito, com aulas em ambiente<br />

web-class, fóruns semi-presenciais<br />

e certificado pela USP. Serão disponibilizados,<br />

para as aulas, artigos publicados<br />

em formato PDF/HTML, trechos de filmes,<br />

poemas, canções, fotografias e ilustrações,<br />

cópias de textos e documentos de<br />

época. No final de cada bloco de aulas,<br />

haverá ainda chats para consulta ao vivo<br />

com professores participantes. As inscrições<br />

deverão ser feitas pelo sistema imoodle,<br />

no Portal "Rumo à Tolerância", até o<br />

dia 30 de setembro. (Jornal Alef).<br />

Restituição solicitada<br />

Os herdeiros do banqueiro judeu de Berlim,<br />

Paul von Mendelssohn-Bartholdy,<br />

pediram a restituição de dois quadros de<br />

Pablo Picasso a dois museus de Nova<br />

York. Eles alegam que as obras, avaliadas<br />

em US$ 200 milhões, cada uma, foram<br />

confiscadas pelos nazistas e pedem<br />

que o Museu de Arte Moderna (MoMA)<br />

devolva a obra "Jeune homme et cheval"<br />

e o museu Guggenheim o quadro "Le<br />

moulin de la Galette". (Jornal Alef).<br />

Kehilá do PR tem nova diretoria<br />

Em assembléia realizada dia 3/9 foi reeleita<br />

Ester Proveller para presidente da<br />

Kehilá do Paraná. Os novos integrantes:<br />

1º vice-presidente, Jaime Emílio Galperin;<br />

2ª vice-presidente, Anais Malamut; Secretário,<br />

Szyja Lorber; diretor adm. financeiro,<br />

Benny Slud; diretor adjunto adm. financeiro,<br />

Claúdio Hoffmann; diretor de patrimônio<br />

e segurança, Fernando Brafmann;<br />

diretor religioso, Jayme Nudelman; diretor<br />

de educação, André Lissner; diretora<br />

de cultura, Sara Schulman; diretora beneficente<br />

Dora Miller; diretor social. José<br />

Jakobson; 2ª diretora social, Sandra Jakobson;<br />

diretor de esportes, Rogério Kriger;<br />

2º diretor de esportes Márcio Feldman;<br />

diretor de juventude Miguel Zindeluk; diretora<br />

de relações públicas e divulgação,<br />

Ilana Lerner Hoffmann e diretora jurídica<br />

Marly Kunifas. Foram eleitos ainda os novos<br />

integrantes do Conselho Deliberativo<br />

da Kehilá: presidente, Eduardo Schulman;<br />

vice Gabriel Schulman; 1º secretário, Szyja<br />

Lorber; 2ª secretária Sara Schulman. Os<br />

membros são: Ari Zugman, Gerson Raskin,<br />

Helio Rotemberg, Isac Weishof, Martha<br />

Schulman, Miguel Gellert Krigsner, Nelson<br />

Barbalat, Roland Hasson, Sergio Wagner<br />

Fisbein, Silviane Sasson, Ester Proveller,<br />

Jaime Emilio Galperin, Anais Malamut,<br />

Jayme Nudelman, André Lissner, Dora Miller,<br />

Sara Schulman e Fani Lerner. Suplentes:<br />

Ralf Paciornik, Helio Schulman, Simone<br />

Soifer, Rosa Krieger, Fani Zugman e Etel<br />

Lerner. Conselho Fiscal: Leon Dinner Jakubowicz,<br />

Paulo Wassermann e Henrique Lerner;<br />

Suplentes Julio Zugman, Miguel Zindeluk<br />

e Ilana Lerner Hofmann. (Kehilá).


* Pilar Rahola é<br />

conhecida jornalista,<br />

escritora e tem programa<br />

na televisão espanhola.<br />

Foi vice-prefeita de<br />

Barcelona, deputada no<br />

Parlamento Europeu e<br />

deputada no Parlamento<br />

espanhol. Publicado no<br />

jornal La Vanguardia<br />

(Barcelona). Tradução:<br />

Szyja Lorber.<br />

LÍBANO LÍBANO<br />

LÍBANO<br />

Pilar Rahola *<br />

uma de suas magníficas crônicas<br />

de Bogotá, o jornalista<br />

Joaquim Ibarz recorria às<br />

declarações de um ex-guerrilheiro<br />

e agora analista venezuelano,<br />

Martin Americas,<br />

que dizia: "O fortalecimento de Uribe<br />

e o brilhante resgate de Ingrid significar<br />

uma derrota clara para os planos<br />

de Chavez de exportar a sua fantasmagórica<br />

revolução". Com várias<br />

nuances, esta reflexão é o eixo central<br />

das análises que estão sendo feitas<br />

a partir do continente americano,<br />

e que sublinham, como se se tratasse<br />

de uma competição, quem ganhou<br />

e quem perdeu com a libertação de<br />

Ingrid Betancourt.<br />

Sem dúvida, a espetacular libertação<br />

da seqüestrada mais simbólica<br />

das FARC fez subir a popularidade<br />

do presidente Uribe e tem deixado<br />

no chão todos aqueles que apostaran<br />

na ambigüidade ou diretamente,<br />

através do apoio ao grupo guerrilheiro.<br />

Do ponto de vista geopolíti-<br />

co, então, Ingrid Betancourt deu pontos<br />

a Uribe, que tem mantido posições<br />

de grande inteligência estratégica,<br />

e que teve um êxito histórico,<br />

só comparável ao que Alberto Fujimori<br />

tinha com o Sendero Luminoso,<br />

antes de se tornar um déspota.<br />

Também trouxe vantagens a Nicolas<br />

Sarkozy nas suas horas mais baixas.<br />

Sem dúvida, para a França que<br />

viu chorar a família de Ingrid Betancourt,<br />

que ouviu a bela carta que enviou-lhe<br />

seu filho, que ama ser o centro<br />

do mundo, a chegada de Ingrid em<br />

Paris, foi um evento exultante, que<br />

traz de volta algo da maltratada autoestima<br />

francesa.<br />

E, com toda a discrição, algo do<br />

êxito popular também alcançou os serviços<br />

secretos israelenses e à inteligência<br />

norte-americana, ambas notoriamente<br />

envolvidas na operação de<br />

salvamento, conforme li na imprensa<br />

do continente. Estes são os grandes<br />

ganhadores, juntamente com os reféns,<br />

as famílias e o próprio povo colombiano,<br />

que está comemorando o<br />

maciçamente a libertação.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

As vozes do seqüestro<br />

Quem são os perdedores, para<br />

além das FARC, que obviamente sofreram<br />

um golpe quase fatal? Sem dúvida,<br />

o Triângulo das Bermudas do bolivarismo,<br />

e que têm em Chavez e Correa<br />

seus dois líderes extravagantes. As<br />

piruetas que Chavez está fazendo estes<br />

dias, esquecendo-se das atrocidades<br />

que disse sobre Uribe, enviandolhe<br />

abraços virtuais, só são comparáveis<br />

ao espantalho cubano de Fidel,<br />

que agora diz que as FARC são boas,<br />

mas manter seqüestrados, nem tanto.<br />

Belo espetáculo, do manual do bom<br />

demagogo, desses dois dinossauros<br />

em suas horas de decadência.<br />

Mas merece uma atenção especial,<br />

no clube dos derrotados, o papel<br />

de Rafael Correa, o presidente do<br />

Equador, cujo envolvimento com as<br />

FARC ficou visívelmente desnudado<br />

com as informações contidas no computador<br />

de Raul Reyes, e ratificado<br />

pela Interpol. As declarações feitas<br />

por Correa, depois da libertação de<br />

Betancourt, pareceram-me as mais<br />

pornográficas de tudo o que se disse<br />

nestes dias, com a exceção de um co-<br />

23<br />

mentarista da televisão venezuelana<br />

- que ouvi pela Univision - que tachou<br />

Ingrid Betancourt de "lacaia de Uribe"<br />

porque agradecera ao presidente<br />

sua libertação. Em outras palavras, a<br />

pobre Ingrid era culpada de ter se deixado<br />

libertar. Mas no espectáculo da<br />

demagogia e da falta de humanidade,<br />

Correa brilhou com luz própria,<br />

provavelmente encurralado pelas evidências<br />

de seu envolvimento com as<br />

FARC. A única coisa que preocupou o<br />

presidente, na libertação, foram as<br />

"falhas" que a guerrilha teve, e que<br />

dão publicidade a Uribe. Pobre Equador,<br />

em tais mãos!<br />

Não queria terminar sem recolher<br />

o testemunho que a Rádio Caracol lança<br />

a partir de 'Vozes do seqüestro',<br />

fundada pelo ex-seqüestrado Herbin<br />

Hoyos Medina. Ainda há 700 pessoas<br />

seqüestradas, extorquidas como mera<br />

mercadoria. As FARC estão agonizando,<br />

mas ainda são uma máquina de<br />

sofrimento, tortura e morte. Na libertação<br />

de Ingrid Betancourt, a melhor<br />

homenagem é, pois, lembrar as centenas<br />

de Ingrids remanescentes.<br />

"Atos terroristas" são cultuados em museu<br />

A multidão de crianças se reúne em<br />

torno da sala envolta em vidro, ansiosa<br />

para contemplar as roupas ensangüentadas<br />

do mártir. O cinto dele está aqui, e os<br />

sapatos que ele usava ao morrer, marcados<br />

por estilhaços. A mesa cambaia na<br />

qual ele planejava operações militares<br />

ainda abriga sua caixa de lápis, sua bandeja<br />

de correspondência, seu celular.<br />

"Que Alá mate aquele que o matou",<br />

profere uma velha, enxugando as lágrimas<br />

que escorrem quando ela contempla<br />

através do vidro.<br />

O morto que atrai tamanha veneração<br />

é Imad Mugniyah, o sorrateiro comandante<br />

do Hezbolá. Até sua morte em um atentado<br />

por carro bomba na Síria, em fevereiro,<br />

ele era virtualmente desconhecido<br />

aqui, e seu papel de liderança no grupo<br />

militante xiita estava envolto em sigilo.<br />

Mas desde então o Hezbolá o vem descrevendo<br />

como um dos grandes líderes militares<br />

na luta contra Israel.<br />

O grupo agora inaugurou uma mostra<br />

em honra de Mugniyah, acusado por<br />

muitos no Ocidente de ter liderado atentados<br />

a bomba devastadores, seqüestros<br />

de pessoas e de aviões nos anos 80 e<br />

90. Seu rosto severo, barbado, domina a<br />

área de estacionamento do local em que<br />

a mostra está instalada em Nabatiyeh,<br />

uma cidade no sul do Líbano, ladeado por<br />

faixas que o exaltam como "o líder das<br />

duas vitórias" - a retirada israelense do<br />

sul do Líbano em 2000 e a guerra contra<br />

Israel em 2006.<br />

A exposição, inaugurada em 15 de<br />

abril, é o mais ambicioso esforço multimídia<br />

que o Hezbolá já empreendeu, e<br />

tem por objetivo dramatizar o amargo<br />

conflito entre o grupo e Israel no segundo<br />

aniversário da mais recente guerra<br />

entre ambos. Estudantes das escolas locais<br />

não param de chegar ao longo do dia,<br />

absorvendo a mensagem cuidadosamente<br />

ajustada de resistência heróica. À noite,<br />

espetáculos de luzes e laser iluminam<br />

as armas e os tanques, e as multidões<br />

que não param de chegar têm mantido a<br />

exposição aberta até a uma da manhã.<br />

À primeira vista, a exposição quase<br />

poderia ser confundida com um museu ao<br />

ar livre. O toldo verde da entrada é uma<br />

imensa réplica do boné que Mugniyah<br />

sempre usava, e os visitantes passam por<br />

uma "ponte da vitória" construída em parte<br />

com projéteis de artilharia. Mas logo a<br />

mostra toma um tom mais bruto.<br />

Um falso esqueleto vestindo capacete<br />

e um uniforme rasgado é identificado<br />

por uma placa que diz "o invencível soldado<br />

israelense". Há tanques israelenses<br />

capturados posicionados em ângulos inesperados,<br />

com as escotilhas quebradas e<br />

queimadas. Enquanto os visitantes se<br />

aglomeram diante das diversas peças, a<br />

música da trilha sonora ressoa pelo pavilhão,<br />

misturada a sons de bombas e metralhadoras<br />

e a discursos belicosos.<br />

Também há uma gama impressionante<br />

de mísseis antitanque e artilharia do<br />

Hezbolá, todos identificados cuidadosa-<br />

mente. Há até mesmo vitrines de exposição<br />

contendo óculos, roupas e as cartas<br />

que portavam dois outros importantes líderes<br />

do movimento, ambos mortos.<br />

Mas o cerne fantasmagórico da exposição<br />

é a sala envolta em vidro que mostra<br />

as posses pessoais de Mugniyah. O<br />

tapete que ele usava em suas orações<br />

está lá, como seus chinelos e sua escova<br />

de cabelos - quase como se os objetos<br />

fossem as relíquias de um santo.<br />

Em uma tarde recente, a multidão<br />

de visitantes observava com admiração<br />

pelo vidro, e algumas pessoas choravam<br />

abertamente.<br />

"Vejam, lá está sua arma", gritou um<br />

menino que usava um uniforme militar,<br />

puxando os pais pelas mãos para que observassem<br />

de mais perto.<br />

Um jovem guia do Hezbolá, postado ao<br />

lado, explicou que a arma era um AK-47<br />

modificado, mais poderoso e capaz de disparar<br />

mais rápido que o modelo padrão. "Ele<br />

não ia a lugar algum sem a arma - era parte<br />

de sua alma", disse o guia, que como os<br />

demais militantes que trabalham na exposição<br />

não forneceu seu nome, respeitando<br />

as normas do Hezbolá quanto ao sigilo.<br />

O momento é tenso no Líbano. No<br />

mês passado, o país formou um novo governo<br />

de transição no qual a oposição,<br />

liderada pelo Hezbolá, dispõe de assentos<br />

suficientes no gabinete para exercer<br />

poder de veto. Novas eleições estão<br />

marcadas para o ano que vem.<br />

Membros do Hezbolá recentemente<br />

renovaram suas advertências de que retaliarão<br />

contra Israel, a quem atribuem a<br />

culpa pela morte de Mugniyah. De fato,<br />

semana passada jornais israelenses reportaram<br />

que agentes dos serviços de<br />

segurança do país impediram pelo menos<br />

cinco tentativas de seqüestros de cidadãos<br />

israelenses em outros países.<br />

Israel nega qualquer participação na<br />

morte de Mugniyah, que aconteceu em<br />

Damasco, a capital da Síria. Mas agentes<br />

israelenses e ocidentais passaram 25<br />

anos em perseguição a Mugniyah, a quem<br />

era atribuída a culpa por uma série de<br />

atentados e seqüestros, entre os quais o<br />

atentado suicida contra um quartel dos<br />

Fuzileiros Navais norte-americanos em<br />

Beirute, que resultou na morte de 241<br />

militares norte-americanos em 1983.<br />

Acredita-se que Mugniyah passasse<br />

boa parte de seu tempo no Irã e na Síria,<br />

ainda que seus paradeiros permanecessem<br />

em geral desconhecidos. Se bem que<br />

a exposição sirva de fato como prova do<br />

novo status de Mugniyah como herói público<br />

do Hezbolá, também oferece prova<br />

dos esforços cada vez mais sofisticados<br />

do grupo para conquistar os corações e<br />

mentes de uma nova geração.<br />

O Hezbolá já havia organizado exposições<br />

semelhantes no passado, especialmente<br />

uma reprodução de uma casamata<br />

militar que foi aberta em Beirute um<br />

ano atrás, com o título "A Teia da Aranha",<br />

para celebrar o primeiro aniversário<br />

da guerra de 2006.


24<br />

* Daniel Pipes é uma das<br />

maiores autoridades sobre<br />

o Oriente Médio e o Islã. É<br />

diretor do Middle East<br />

Forum, colunista<br />

premiado dos jornais New<br />

York Sun e The Jerusalem<br />

Post, é autor de doze<br />

livros. Publicado no<br />

Jerusalem Post dia 17 de<br />

abril de <strong>2008</strong>. O original<br />

em inglês A Democratic<br />

Islam? Está em http://<br />

pt.danielpipes.org/article/<br />

5530<br />

Tradução: Joseph Skilnik.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Daniel Pipes *<br />

xiste a impressão de que<br />

os muçulmanos sofrem<br />

desproporcionalmente da<br />

liderança de ditadores, tiranos,<br />

presidentes não-eleitos,<br />

reis, emires e de vários<br />

outros homens-fortes - o que está rigorosamente<br />

certo. Uma análise cuidadosa<br />

realizada por Frederic L. Pryor<br />

da Faculdade de Swarthmore no Middle<br />

East Quarterly ("Os Países Muçulmanos<br />

São Menos Democráticos?")<br />

concluiu que "na sua maioria, tirando<br />

os países mais pobres, o islã está associado<br />

com menos direitos políticos".<br />

O fato de que a maioria dos países<br />

muçulmanos são menos democráticos,<br />

nos instiga a concluir que a religião<br />

do islã, seu fator comum, é em si<br />

incompatível com a democracia.<br />

Eu discordo desta conclusão. A difícil<br />

situação muçulmana de hoje, melhor<br />

dizendo, reflete mais as circunstâncias<br />

históricas do que as características<br />

inatas do Islã. Colocando diferentemente,<br />

o Islã, como todas as religiões<br />

pré-modernas, é anti-democrática<br />

em espírito. Porém, não menos do<br />

que as demais, têm o potencial para<br />

evoluir na direção democrática.<br />

Um Islã democrático?<br />

Tal evolução não é fácil para nenhuma<br />

religião. No caso cristão, a batalha<br />

para limitar o papel político da<br />

Igreja Católica foi dolorosamente prolongada<br />

por muito tempo. Se a transição<br />

teve seu princípio quando Marsiglio<br />

de Pádua publicou a Defensor pacis<br />

no ano de 1324, demorou mais seis<br />

séculos inteiros até que a Igreja se<br />

reconciliasse com a democracia. Por<br />

que a transição do Islã deveria ser mais<br />

tranqüila ou mais fácil?<br />

Fazer com que o Islã seja consistente<br />

com os costumes democráticos<br />

requererá mudanças profundas na sua<br />

interpretação. Por exemplo, a lei antidemocrática<br />

do Islã, a Shari'a, encontra-se<br />

no âmago da questão. Elaborado<br />

há mais de um milênio, prevê regras<br />

autocráticas e a sujeição à submissão,<br />

enfatiza a vontade de D-us<br />

acima da soberania do povo e encoraja<br />

a violenta jihad a fim de ampliar as<br />

fronteiras do Islã. Mais do que isso,<br />

privilegia anti-democraticamente os<br />

muçulmanos sobre os não-muçulmanos,<br />

os homens sobre as mulheres e<br />

os homens livres sobre os escravos.<br />

Para que os muçulmanos estabeleçam<br />

democracias que funcionem em<br />

sua plenitude, eles têm que basicamente<br />

rejeitar os aspectos públicos da<br />

Shari'a. Atatürk o fez frontalmente na<br />

Turquia, outros porém apresentaram<br />

abordagens mais sutis. Mahmud<br />

Muhammad Taha, um pensador sudanês,<br />

eliminou as leis públicas islâmicas,<br />

fundamentalmente reinterpretando<br />

o Alcorão.<br />

Os esforços de Atatürk e as idéias<br />

de Taha implicam que o Islã está em<br />

constante evolução e entendê-lo como<br />

imutável é um erro grave. Ou, na metáfora<br />

viva de Hassan Hanafi, professor<br />

de filosofia da Universidade do<br />

Cairo, o Alcorão "é um supermercado,<br />

onde se leva o que se quer e se deixa<br />

o que não se quer".<br />

O problema do Islã é menos ser<br />

anti-moderno e mais o fato do seu processo<br />

de modernização quase que nem<br />

ainda ter começado. Os muçulmanos<br />

podem modernizar sua religião, mas<br />

isso requer mudanças enormes: Livrarse<br />

da execução da jihad a fim de impor<br />

o governo muçulmano, da cidadania<br />

de segunda-classe para não-muçulmanos<br />

e da pena de morte para a<br />

blasfêmia ou para a apostasia. Incluir<br />

liberdades individuais, direitos civis,<br />

participação política, soberania popular,<br />

igualdade perante a lei e eleições<br />

representativas.<br />

Contudo, dois obstáculos estão no<br />

caminho destas mudanças. Especialmente,<br />

no Oriente Médio afiliações<br />

tribais permanecem sendo de suprema<br />

importância. Explicado por Philip<br />

Carl Salzman no seu recente livro, Cultura<br />

e Conflito no Oriente Médio, estes<br />

vínculos criam um complexo padrão<br />

de autonomia tribal e centralismo<br />

tirânico que obstrui o desenvolvimento<br />

do sistema constitucional, o<br />

reino da lei, da cidadania, da igualdade<br />

dos sexos e os demais pré-requisitos<br />

de um estado democrático. Somente<br />

quando este sistema social arcaico<br />

baseado na família for despachado,<br />

poderá a democracia produzir reais<br />

progressos no Oriente Médio.<br />

Globalmente, o poderoso e convincente<br />

movimento islâmico obstrui a<br />

democracia. Busca o oposto da reforma<br />

e da modernização - em outras<br />

palavras a reafirmação da Shari'a na<br />

sua totalidade. Um jihadista como<br />

Osama bin Laden pode especificar<br />

esta meta mais explicitamente do que<br />

um político governante como o primeiro-ministro<br />

Recep Tayyip Erdogan da<br />

Turquia, mas ambos buscam criar uma<br />

ordem totalmente anti-democrática,<br />

se não totalitária.<br />

Os islâmicos respondem de duas<br />

maneiras à democracia. Primeiro, eles<br />

a condenam como não-islâmica. O<br />

criador da Irmandade Muçulmana, Hasan<br />

al-Banna considera a democracia<br />

uma traição aos valores islâmicos. O<br />

teórico da Irmandade, Sayyid Qutb rejeita<br />

a soberania do povo, assim como<br />

Abu al-A'la al-Mawdudi, fundador do<br />

Jamaat-e-Islami, do Partido Político do<br />

Paquistão. Yusuf al-Qaradawi, o imã<br />

da TV Al-Jazeera, afirma que eleições<br />

são heréticas.<br />

Apesar deste desprezo, os islâmicos<br />

estão ansiosos em usar eleições<br />

para chegar ao poder e se mostraram<br />

hábeis conquistadores de votos; até<br />

mesmo uma organização terrorista (Hamas)<br />

ganhou uma eleição. Isto não os<br />

faz serem democráticos, mas indica sua<br />

flexibilidade tática e sua determinação<br />

em chegar ao poder. Como Erdogan<br />

explicou de forma reveladora, "a democracia<br />

é como um bonde. Quando você<br />

chega na sua estação, você desce".<br />

Trabalho duro pode um dia fazer o<br />

Islã se tornar democrático. Enquanto<br />

isso, o islamismo representa a maior<br />

força anti-democrática do mundo.


Irã tem a chave do que acontece<br />

em Gaza, no Líbano e na Síria<br />

Eduard Yitzhak *<br />

A história se repete no Líbano. A evolução<br />

da situação do país dos cedros se assemelha<br />

à que prevaleceu no final dos anos<br />

1960, com o denominador comum do papel<br />

desestabilizador da Síria no Líbano,<br />

com a incorporação do Irã como potência<br />

emergente e controladora da Síria, do Hezbolá<br />

e do Hamas.<br />

A Síria nunca reconheceu a independência<br />

de seu vizinho ocidental, como<br />

o mundo árabe tampouco reconheceu<br />

a independência de Israel, o país e pátria<br />

dos judeus.<br />

Até agora, a Síria recusou-se a estabelecer<br />

relações diplomáticas com o Líbano,<br />

nem houve troca de embaixadores, nem<br />

traçado de suas fronteiras.<br />

O comportamento da Síria para com seu<br />

vizinho era de total ingerência através de<br />

seu exército ocupante durante muito tempo<br />

e agora pelo tecido de suas amplas redes<br />

com os diferentes grupos libaneses.<br />

A Síria sempre manipulou os seus<br />

aliados libaneses, jogando com as contradições<br />

confessionais libanesas, com<br />

o fator árabe-palestino (a Síria considera<br />

- com a total aquiescência dos "palestinos"<br />

que o território israelense é<br />

parte da Grande Síria), e emprega o terrorismo,<br />

o exército e as pressões econômicas<br />

para controlar o Líbano.<br />

Desde a Revolução Islâmica do Irã<br />

em 1979, a Síria (de maioria sunita e governada<br />

pela minoria alauíta, ramo heterodoxo<br />

dos xiitas) foi dependendo<br />

cada vez mais do Irã e com a queda do<br />

Muro de Berlim e do comunismo soviético,<br />

o regime dos mulás substituiu a<br />

outrora influência de Moscou.<br />

Durante os anos da ocupação do Líbano,<br />

a Síria subtraiu mais de 35 bilhões de<br />

dólares que foram transferidos para o partido<br />

Baas (este dinheiro representa 80% da<br />

dívida externa libanesa). Através de atentados,<br />

Damasco foi eliminando os deputados<br />

opositores libaneses.<br />

O regime baassista (nacionalista pan-<br />

arabista e socialista de Damasco) apresenta<br />

uma quebra econômica que é favorecida<br />

pelo Irã, a nova potência emergente no<br />

Oriente Médio. O Irã dirige a vontade política<br />

da Síria e move diretamente os fios do<br />

Hezbolá e do Hamas.<br />

A obsessão patológica do regime de<br />

Teerã é a destruição de Israel e o controle<br />

hegemônico do mundo islâmico. O<br />

Irã emprega simultânea e alternadamente<br />

o Hezbolá e o Hamas em seus<br />

embates contra Israel.<br />

Há poucos dias, os redatores do jornal<br />

de Londres Al-Sharq Al-Awsat e um<br />

jornalista do portal reformista<br />

www.metransparent.com criticaram o<br />

Hamas, acusando-o de trazer sofrimento<br />

desnecessário ao povo palestino através<br />

de sua incompetência militar e política<br />

e inclusive com a estupidez.<br />

O editor do portal árabe liberal Aafaq,<br />

Omran Salman, publicou em 9.1.<strong>2008</strong><br />

um artigo analisando os recentes desdobramentos<br />

no Oriente Médio através<br />

do prisma do conflito Estados Unidos-<br />

Irã e argumentando que a hegemonia<br />

iraniana sobre a região estava se tornando<br />

uma realidade.<br />

"A guerra do Líbano… anunciou o nascimento<br />

de uma nova era na região"… "Pela<br />

primeira vez em décadas, os EUA parecem<br />

incapazes de influir nos eventos no Oriente<br />

Médio, e já não têm a capacidade de castigar<br />

ou premiar a nenhum estado, tal como<br />

sempre o fazia. Ao mesmo tempo, o Irã e<br />

seus aliados apareciam como se estivessem<br />

se preparando para tomar a iniciativa,<br />

ambos na região do Golfo e no Oriente<br />

Médio em geral. Assim entramos na era da<br />

hegemonia iraniana no Oriente Médio".<br />

O Irã é governado por um regime islâmico<br />

iluminado e totalitário cujo objetivo<br />

final é impor o Islã, de tipo xiita, em toda a<br />

orbe, para o que considera imprescindível<br />

a destruição de Israel, a reislamização de<br />

Al-Andalus, a conquista de Roma (Europa)<br />

e o Vaticano, graças à ajuda do Mahdi, o<br />

Imã Oculto, que com a espada do Islã vencerá<br />

e dominará todos os infiéis.<br />

* Eduard Yitzhak é escritor e um dos principais colaboradores do website Es-Israel<br />

(www.es-israel.org), parceiro do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

25<br />

Brasileira que o Hezbolá<br />

queria impedir de sair do Líbano<br />

volta para sua família<br />

A paranaense da cidade de Matinhos,<br />

Nariman Osman Chiah chegou finalmente<br />

à casa dos pais, naquela cidade, no<br />

fim da manhã de quinta-feira 11/9. Ela foi<br />

recebida com festa por parentes e amigos,<br />

após ter conseguido escapar do Líbano,<br />

com o filho de 6 anos. Nariman, que<br />

está grávida de uma menina, foi ameaçada<br />

de morte pelo marido libanês, que<br />

também a surrava e ao menino.<br />

Nariman desembarcou às 10h30 de<br />

11/9 no Aeroporto Internacional Afonso<br />

Pena, em São José dos Pinhais, na Região<br />

Metropolitana de Curitiba, depois<br />

de mais de dois meses de fuga pelo<br />

Oriente Médio. Logo depois, ela reencontrou<br />

os familiares, no saguão do aeroporto.<br />

O encontro foi bastante emocionado.<br />

Pelo menos dez pessoas da família<br />

foram ao aeroporto recebê-la.<br />

Nariman chegou ao Brasil, por volta<br />

das 7h da manhã de quinta-feira, no Aeroporto<br />

de Cumbica, em Guarulhos, na<br />

Grande São Paulo. A jovem fugiu do marido,<br />

com quem morava no Líbano, e ultimamente<br />

estava na Embaixada do Brasil<br />

em Damasco, na Síria, onde conseguiu<br />

autorização para viajar. Ela saiu do<br />

aeroporto de Istambul, na Turquia, às 13<br />

(horário de Brasília) de quarta-feira, 10/<br />

9 com destino a Milão, na Itália.<br />

Fuga<br />

Fuga<br />

Nariman fez o primeiro contato com<br />

a embaixada brasileira no Líbano no dia<br />

21 de julho. Como a embaixada não pôde<br />

fazer nada, por causa das leis do país,<br />

ela começou a planejar a fuga. Primeiro<br />

refugiou-se numa ONG que protege mulheres<br />

oprimidas. De lá, resolveu partir<br />

para Damasco, na Síria, onde a embaixada<br />

brasileira conseguiu ajuda-la.<br />

Na primeira tentativa de deixar o país<br />

de avião, ela foi barrada. O marido, com<br />

algumas ligações com o Hezbolá, grupo<br />

terrorista que no Líbano também atua<br />

como partido político com ingerência em<br />

diversos setores do governo, como o aeroporto<br />

de Beirute, conseguiu que um<br />

"um tribunal religioso" emitisse um "documento"<br />

que impedia sua saída com<br />

Nariman e o filho finalmemnte conseguiram voltar<br />

para casa após meses de sofrimento no Líbano<br />

seu filho de volta para o Brasil. Foi então<br />

que a jovem decidiu seguir por terra.<br />

Metade do caminho foi feito de carro<br />

e a outra metade a pé. "A pior parte foi<br />

a caminhada. Meia hora no sol, com<br />

medo, atravessando a fronteira", conta.<br />

A fuga aconteceu na sexta-feira, 5/9,<br />

e ela chegou à embaixada em Damasco<br />

no sábado, 6/9. No período em que ficou<br />

lá, Nariman conta que chegou a ser procurada<br />

pelo marido. "Ele me procurou,<br />

ligou lá, mas nunca soube onde eu estava,<br />

ninguém falou."<br />

Agora, de volta ao Brasil, a jovem<br />

teme apenas pela segurança de seu filho.<br />

"Aqui no Brasil não tenho medo que<br />

ele possa fazer algo contra mim. Vou<br />

apenas tomar bastante cuidado com o<br />

meu filho", explicou. "Ele não está entendendo<br />

tudo, está meio assustado.<br />

Mas eu acho que daqui em diante vai<br />

ser melhor, ele vai ter uma vida melhor."<br />

O marido de Nariman teve prisão preventiva<br />

decretada, em Guarapuava, no Paraná<br />

há cerca de dois meses, por tráfico<br />

ilegal de mercadorias do Paraguai. E também<br />

há suspeitas de tráfico de drogas.<br />

Na chegada ao aeroporto, muitas pessoas<br />

abordaram Nariman e elogiaram sua<br />

coragem, apontando-a como um símbolo<br />

para as mulheres que sofrem de violência<br />

doméstica. "Não é fácil sair de uma vida<br />

dessas, mas eu mostrei que é possível.<br />

Tive muita coragem", afirmou. "É muito<br />

emocionante ser vista como um símbolo.<br />

Eu sempre confiei em D-us que ia voltar."


26<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

O jornalista paquistanês Tashbih<br />

Sayyed<br />

* Tashbih Sayyed é<br />

acadêmico, escritor e<br />

jornalista paquistanês,<br />

autor e editor do jornal<br />

Our Times, do Paquistão.<br />

Entre 1967-1980 trabalhou<br />

na TV paquistanesa e era<br />

locutor conhecido. Foi<br />

colunista regular de<br />

jornais nos EUA,<br />

Paquistão, Alemanha e<br />

Índia.<br />

Um muçulmano em terra judaica<br />

Numa viagem a Israel, um jornalista muçulmano vê claramente uma cadeia de mentiras<br />

Tashbih Sayyed *<br />

uando embarquei com minha<br />

esposa Kiran o vôo da El-Al LY<br />

0008 com destino a Tel Aviv em<br />

14 de novembro de 2005, minha<br />

mente estava ocupada organizando<br />

e reorganizando a<br />

lista de coisas que tinha intenção<br />

de obter. Queria aproveitar minha<br />

primeira visita a Israel para sentir a<br />

força que têm os judeus ao<br />

não ceder ante as forças do<br />

mal, depois de mil anos de<br />

anti-semitismo. Não eram<br />

os sacrifícios de Israel o<br />

que eu queria pesquisar,<br />

mas os fundamentos da<br />

determinação israelense<br />

de viver em paz.<br />

Havia muitas coisas<br />

das quais queria falar<br />

com os israelenses, a<br />

principal delas era sua<br />

aversão a combater a<br />

má imprensa, que continua<br />

a pintá-los como<br />

vilões. Ainda que eu<br />

entenda o porquê dos<br />

meios de comunicação,<br />

que cobrem a maio parte<br />

dos acontecimentos com exatidão,<br />

decidem fazer pouco caso de todas as<br />

regras de jornalismo ético quando se<br />

trata de Israel, eu não podia compreender<br />

a relutância de Israel para desafiar<br />

a imprensa negativa com eficácia.<br />

A tendência que têm os meios de<br />

comunicação contra Israel lembrou-me<br />

da imprensa na Alemanha nazista, que<br />

foi recrutada pelo ministro da Propaganda<br />

de Hitler Joseph Goebbels, que<br />

propagou cada palavra possível carregada<br />

de ódio contra os judeus. Tal<br />

como a imprensa alemã, que recusou<br />

imprimir a verdade sobre as atrocidades<br />

espantosas que ocorreram nos campos<br />

de extermínio na Europa - sustentava<br />

que era tudo um exagero - os meios<br />

de comunicação também hoje ignoram<br />

o terrorismo árabe. Queria ver se havia<br />

alguma verdade nas alegações dos<br />

meios de comunicação, dizendo que<br />

Israel era um Estado de Apartheid, nãodemocrático<br />

e discriminatório.<br />

Eu sabia que um Estado judeu verdadeiro<br />

não podia ser não-democrático<br />

já que os conceitos democráticos<br />

foram sempre uma parte do pensamento<br />

judeu e provêm diretamente da<br />

Torá. Por exemplo quando no Preâmbulo<br />

da Declaração da Independência<br />

dos Estados Unidos, Jefferson escreveu<br />

que todos os homens são criados<br />

iguais, que eles são dotados por seu<br />

Criador com certos Direitos imprescritíveis,<br />

que entre estes estão a Vida, a<br />

Liberdade e a busca da Felicidade, ele<br />

basicamente se referia à Torá que diz<br />

que todos os homens são criados a<br />

imagem e semelhança de D-us. Sabia<br />

que Israel não é racista ou discriminador<br />

já que está baseado na idéia da<br />

aliança entre D-us e os israelitas, pela<br />

qual ambos aceitaram tanto deveres<br />

como obrigações, ressaltando o fato<br />

de que o poder é estabelecido pelo<br />

consentimento de ambos lados e não<br />

pela tirania da parte mais poderoso.<br />

Meu entendimento do Estado judeu<br />

foi confirmado quando no formulário<br />

que tive que preencher ao aterrisar<br />

em Tel Aviv não me perguntaram<br />

acerca de minha religião como<br />

perguntam, de acordo com a lei local,<br />

no Paquistão. Ninguém na imigração<br />

israelense exigiu algum certificado<br />

de religião, diferentemente<br />

da Arábia Saudita.<br />

Enquanto a El-Al se aproximava<br />

da Terra Prometida, eu continuava<br />

revolvendo a lista de acusações feitas<br />

contra Israel rotineiramente por<br />

seus inimigos.<br />

Os israelenses vivem num estado<br />

perpétuo de medo. Israel é nãodemocrático.<br />

Os cidadãos árabes<br />

muçulmanos de Israel não têm igualdade<br />

de direitos.<br />

Os Os Os israelenses israelenses vivem vivem num num num estado estado<br />

estado<br />

perpétuo perpétuo de de medo:<br />

medo:<br />

De Tel Aviv a Tiberíades, de Jerusalém<br />

a Jezreel, e das alturas do Golan<br />

à fronteira com a Faixa de Gaza,<br />

não pude encontrar nenhuma prova<br />

de medo. De fato as pessoas se sentiam<br />

tão seguras que em nenhuma<br />

das lojas, postos de gasolina, mercados,<br />

ou residências aos quais fomos,<br />

e onde era sabido que nós éramos<br />

muçulmanos, consideraram necessário<br />

vigiar-nos ou interrogar-nos. Especialmente<br />

quando uma tarde Kiran<br />

e eu fomos em Jerusalém à Rua Ben<br />

Yehuda, a encontramos apinhada de<br />

gente de todas as idades. A terra vibrava<br />

com a música e os jovens estavam<br />

tão ocupados divertindo-se que<br />

não se incomodaram sequer em olhar<br />

ao redor. Os turistas estavam ocupados<br />

fazendo negócios com os comerciantes<br />

e toda a multidão parecia<br />

palpitar com o soar da música.<br />

Eu não podia deixar de comparar o<br />

sentido de segurança de Israel com o<br />

ambiente de insegurança que existe<br />

nos países muçulmanos. Da Indonésia<br />

ao Irã e do Afeganistão à Arábia Saudita,<br />

a população não está segura de<br />

nada. Na capital do Paquistão, Islamabad,<br />

e na cidade portuária de Karachi,<br />

constantemente me aconselhavam<br />

que não fizesse grandes compras em<br />

público já que isso anima os ladrões a<br />

ir atrás de alguém. Não ouvi notícias<br />

de violações, matanças por honra ou<br />

assaltos em Israel.<br />

Israel Israel Israel é é não-democrático:<br />

não-democrático:<br />

Como muçulmano sou muito mais<br />

sensível à ausência de liberdades de-<br />

mocráticas em qualquer sociedade, e<br />

não creio que alguém, mais que um<br />

anti-semita comprometido, negue que<br />

Israel é um país democrático. A democracia<br />

em Israel é proporcional e representativa,<br />

ainda que coalizões democráticas,<br />

sejam necessárias para<br />

qualquer tomada de decisões e também<br />

têm seus problemas.<br />

No primeiro dia em Cesárea conhecemos<br />

a democracia israelense. O ar<br />

estava cheio de debate político e discussão.<br />

A decisão de Ariel Sharon de<br />

deixar o Likud e formar um novo partido<br />

político dominou os corredores do<br />

hotel e reprimiu os problemas causados<br />

pela necessidade de ter coalizões<br />

democráticas. "O objetivo de uma sociedade<br />

israelense livre e democrática<br />

é o de alcançar um compromisso<br />

satisfatório, mas com freqüência as<br />

conclusões são menos que satisfatórias<br />

- sobretudo para a maioria. Isto<br />

implica em coalizões e uniões que são<br />

também um sistema de equilíbrio de<br />

poderes contra qualquer abuso potencial<br />

aos direitos das minorias. Este sistema<br />

é melhor que o sistema republicano<br />

representativo - que é realmente<br />

uma representação de poder e interesses<br />

particulares. Em outros países<br />

você tem uma democracia para<br />

alguns poucos. Em Israel você tem<br />

uma democracia para cada um.<br />

Tratei com esforço de encontrar algum<br />

Estado muçulmano que tenha<br />

uma verdadeira democracia, e onde às<br />

minorias religiosas sejam concedidos<br />

direitos democráticos igualitários, mas<br />

falhei. O mapa do mundo muçulmano<br />

está por demais repleto de reis, déspotas,<br />

ditadores, falsos democratas,<br />

autocratas teocráticos e a perseguição<br />

de minorias é uma parte essencial<br />

do comportamento social islâmico.<br />

Mas aqui, protegidos pelos princípios<br />

democráticos de Israel, aos cidadãos<br />

árabes muçulmanos são concedidos<br />

todos os direitos e privilégios da<br />

cidadania israelense. Quando foram<br />

realizadas, em fevereiro de 1949, as<br />

primeiras eleições para a Knesset, aos<br />

árabes israelenses foi concedido o direito<br />

ao voto e o direito de ser eleitos<br />

junto com os judeus israelenses. Hoje,<br />

aos cidadãos árabes de Israel são concedidos<br />

direitos civis completos e também<br />

direitos políticos para que desta<br />

maneira pertençam completamente à<br />

sociedade israelense. Eles se desenvolvem<br />

ativamente na vida social israelense,<br />

na política, na vida cívica e<br />

também desfrutam de representação<br />

no Parlamento de Israel, no Ministério<br />

das Relações Exteriores e no Sistema<br />

Judiciário.<br />

A fé israelense na democracia também<br />

explica sua recusa em responder<br />

ao terrorismo islâmico de modo violento.<br />

Apesar de ser consciente das debilidades<br />

humanas que permitem à có-<br />

lera subjugar as melhores das intenções,<br />

não pude encontrar nenhum israelense<br />

que aja por vingança contra<br />

seus compatriotas árabes. Minha experiência<br />

como muçulmano contribuiu<br />

também decisivamente para esperar<br />

o pior do comportamento humano; os<br />

muçulmanos sob a influência do Islã<br />

radical têm estado descarregando seu<br />

terror contra os não muçulmanos, inclusive<br />

quando as acusações de ofensas<br />

contra muçulmanos foram determinadas<br />

como falsos.<br />

Pensei que precisaria de um esforço<br />

sobre humano conseguir ignorar as<br />

atrocidades cometidas contra alguém,<br />

e permanecer sem emoções vingativas.<br />

Em minha experiência nas sociedades<br />

muçulmanas, nunca se concedeu<br />

às minorias o beneficio da dúvida.<br />

O ódio aos não muçulmanos e a<br />

fúria da violência dos fundamentalistas<br />

islâmicos contra a fé das minorias<br />

permanece como uma norma mais que<br />

como uma exceção. Como muçulmano<br />

não wahabita afrontei pessoalmente<br />

sua barbárie e vi como têm sido<br />

perseguidos cristãos, hindus e outras<br />

minorias, sob acusações falsas. Pensei<br />

que se os wahabitas na Arábia Saudita<br />

podem condenar um professor a<br />

40 meses de cárcere, mais 750 chibatadas,<br />

somente por elogiar os judeus,<br />

não seria pouco razoável da parte dos<br />

israelenses castigar os palestinos por<br />

lançar pedras nos que rezam no Muro<br />

Ocidental ou por incendiar a tumba de<br />

Iosef (José)?.<br />

Mas ainda nisto, os israelenses demonstraram<br />

ao mundo que os demais<br />

estão equivocados. Apesar das provocações<br />

diárias, eles satisfatoriamente<br />

não descem ao mesmo nível de depravação<br />

que seus inimigos árabes. O<br />

mundo está acostumado à violência<br />

diária cometida contra as minorias religiosas<br />

no mundo muçulmano. Faz só<br />

dois dias um grupo muçulmano no Paquistão,<br />

abriu caminho para entrar<br />

numa igreja rompendo suas paredes<br />

e violentando suas portas. Agiam motivados<br />

pelo rumor de que um cristão<br />

tinha profanado seu livro santo, o Corão.<br />

Eles quebraram o altar de mármore<br />

da Igreja do Espírito Santo e também<br />

os vitrais coloridos da igreja. Depois,<br />

incendiaram uma residência cristã<br />

e a Escola de Meninas de Santo<br />

Antônio no mesmo bairro. Em poucos<br />

momentos as chamas consumiram as<br />

paredes e a fumaça negra abundava<br />

no céu. Durante dias os clérigos wahabitas<br />

continuaram pedindo aos seus<br />

seguidores muçulmanos a saírem de<br />

suas casas e defender sua fé através<br />

da criação de um reinado de terror<br />

contra o cristianismo.<br />

Perguntei-me se um israelense poderia<br />

um dia encontrar alguma justificativa<br />

para isto e copiar o que os<br />

wahabitas têm estado fazendo em


outros lugares - o seqüestro, o assassinato<br />

e a decapitação de "infiéis". O<br />

mais recente, foi a descoberta do corpo<br />

de um motorista hindu, Maniappan<br />

Raman Kutty, com a garganta cortada<br />

no sul do Afeganistão, e não há nenhuma<br />

razão evidente para sua morte<br />

mais que sua fé.<br />

Mas não havia nada na história<br />

que poderia ter justificado meus temores;<br />

os judeus, apesar de terem<br />

sofrido os atos mais bárbaros do terrorismo,<br />

ainda não reagiram vingativamente<br />

contra os autores destas<br />

barbaridades. Concluí, portanto, que<br />

minha primeira visita a Israel me ajudaria<br />

a encontrar o motivo da insistência<br />

israelense de continuar sendo<br />

o objetivo do terrorismo islâmico.<br />

O O cidadão cidadão árabe árabe muçulmano muçulmano de<br />

de<br />

Israel Israel não não não tem tem igualdade igualdade de de de direitos:<br />

direitos:<br />

Enquanto nosso ônibus com ar condicionado<br />

percorria as curvas montanhosas<br />

do caminho até o coração da<br />

Galiléia, eu não podia deixar de observar<br />

os minaretes que identificam<br />

um número de aldeias árabes-palestinas<br />

que se amontoam e multiplicam<br />

nas ladeiras. Os imponentes domos<br />

das mesquitas fazem notar as liberdades<br />

que desfrutam os muçulmanos no<br />

Estado judeu. Grandes residências árabes,<br />

uma crescente atividade da construção<br />

e carros de grande tamanho destacam<br />

também a prosperidade e a riqueza<br />

dos palestinos que vivem sob a<br />

Estrela de David.<br />

No meu caminho desde a Cidade<br />

de David até o Hotel Royal Prima, em<br />

Jerusalém, perguntei ao taxista palestino<br />

que pensa sobre a idéia de mudar-se<br />

para os territórios sob a Autoridade<br />

Palestina. Ele disse que nunca<br />

poderia pensar em viver fora do Estado<br />

de Israel. Sua resposta arruinou o<br />

mito ampliado pelos anti-semitas de<br />

que os cidadãos árabes de Israel não<br />

são felizes ali.<br />

Outro árabe israelense informoume<br />

que os árabes em Israel têm igualdade<br />

de voto, quer dizer, o mesmo direito<br />

de votar que os judeus israelenses.<br />

De fato, Israel é um dos poucos<br />

países no Oriente Médio onde as mulheres<br />

árabes podem votar. Em contraste<br />

com o mundo árabe não israelense,<br />

as mulheres árabes em Israel<br />

desfrutam do mesmo status que os<br />

homens. As mulheres muçulmanas<br />

têm o direito de votar e de ser eleitas<br />

para trabalhar em escritórios públicos.<br />

As mulheres muçulmanas, de<br />

fato têm mais liberdades em Israel<br />

que em qualquer país muçulmano. A<br />

lei israelense proíbe a poligamia, o<br />

matrimônio infantil, e a cruel mutilação<br />

sexual feminina.<br />

Além disso, averigüei que não há<br />

nenhuma incidência de matanças por<br />

honra em Israel. O status das mulheres<br />

muçulmanas em Israel está acima<br />

de qualquer outro país na região. As<br />

normas de saúde israelenses são muito<br />

melhores que qualquer outra no<br />

Oriente Médio e as instituições de<br />

saúde israelenses estão livremente<br />

abertas a todos os árabes, da mesma<br />

maneira que estão abertas para os judeus.<br />

O árabe, como o hebraico, é uma<br />

língua oficial em Israel e isto demonstra<br />

a natureza tolerante do Estado judeu.<br />

Todos as placas das ruas têm seus<br />

nomes escritos em árabe e em hebraico.<br />

Esta é a política oficial do governo<br />

israelense para promover a língua, a<br />

cultura, e as tradições da minoria árabe,<br />

no sistema educativo e na vida diária.<br />

A imprensa árabe de Israel é mais<br />

vibrante e independente que a de qualquer<br />

país na região. Há mais de 20<br />

revistas árabes. Elas publicam o que<br />

querem, sujeitas somente à mesma<br />

censura militar que as publicações judaicas.<br />

Também há programas diários<br />

de TV e rádio em árabe.<br />

O árabe é ensinado nas escolas<br />

secundárias judaicas. Mais de 350.000<br />

crianças árabes freqüentam escolas<br />

israelenses. No momento do estabelecimento<br />

de Israel, havia só um instituto<br />

árabe no país. Hoje, há centenas<br />

de colégios árabes. As universidades<br />

israelenses são centros de estudos<br />

renomados na história e na literatura<br />

do Oriente Médio árabe.<br />

Consciente das coações que um<br />

não wahabita enfrenta enquanto realiza<br />

rituais religiosos na Arábia Saudita,<br />

Kiran (minha esposa) não podia<br />

ocultar sua surpresa ao dar-se conta<br />

da liberdade e facilidade com a qual<br />

pessoas de qualquer religião e fé<br />

cumpria com suas obrigações religiosas<br />

na Igreja do Santo Sepulcro, na<br />

Tumba do Jardim, no Mar da Galiléia,<br />

nos Túneis do Muro Ocidental, o Muro<br />

das Lamentações, na Tumba do Rei<br />

David e todos os outros lugares santos<br />

que visitamos.<br />

Todas as comunidades religiosas<br />

em Israel desfrutam da completa proteção<br />

do Estado. Os árabes israelenses<br />

- tanto os muçulmanos, como os<br />

pertencentes às distintas denominações<br />

cristãs - são livres para exercer<br />

sua fé, observar seu próprio dia de<br />

descanso semanal, suas festividades<br />

e também de administrar seus<br />

próprios assuntos internos. Aproximadamente<br />

80.000 drusos vivem em 22<br />

povoados no norte de Israel. Sua religião<br />

não é acessível para os estranhos<br />

e o druso constitui uma comunidade<br />

de fala árabe cultural, social<br />

e religiosa separada. O conceito de<br />

druso de taqiyya exige a completa<br />

lealdade por parte de seus aderentes<br />

ao governo do país no qual eles<br />

residem. Por esta mesma razão o druso<br />

serve no Exército de Defesa de Israel,<br />

entre outras coisas. Cada comunidade<br />

religiosa em Israel tem seus<br />

próprios conselhos e tribunais, e tem<br />

também a jurisdição completa sobre<br />

seus assuntos religiosos, incluindo os<br />

assuntos de status pessoal, como o<br />

matrimônio e o divórcio. Os lugares<br />

santos de todas as religiões são administrados<br />

por suas próprias autori-<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

dades e protegidos pelo governo.<br />

Um jornalista hindu que veio verme<br />

falou da liberalidade que a sociedade<br />

judaica representa. Disse-me<br />

que mais de 20 % da população israelense<br />

não é judia, havendo cerca de<br />

1,2 milhão de muçulmanos, 140 mil<br />

cristãos e outros 100 mil drusos. Outro<br />

israelense não judeu disse que os<br />

cristãos e os drusos são inclusive livres<br />

de unir-se ao exército de defesa<br />

do Estado judeu. Os beduínos servem<br />

em unidades de pára-quedistas, e por<br />

sua vez outros árabes se oferecem<br />

para cumprir com o dever militar.<br />

As grandes casas pertencentes a<br />

árabes israelenses, e a quantidade de<br />

construções que continuam crescendo<br />

nas cidades árabes, expuseram a<br />

falsidade das propagandas que acusam<br />

Israel de discriminar os árabes<br />

israelenses no momento de comprar<br />

terras. Averigüei que no início do século<br />

passado, o Fundo Nacional Judaico<br />

foi estabelecido pelo Congresso<br />

Sionista Mundial para comprar terras<br />

na Palestina e assim poder obter o estabelecimento<br />

judaico. Da área total<br />

de Israel, 92 por cento pertence ao<br />

Estado e é administrada pela Autoridade<br />

de Direção da Terra. Não está à<br />

venda para ninguém, nem para os judeus,<br />

nem para os árabes.<br />

O Waqf árabe possui terra que é<br />

para o uso explícito e para o benefício<br />

dos árabes muçulmanos. As terras do<br />

governo podem ser arrendadas por<br />

qualquer pessoa, independentemente<br />

da raça, da religião ou sexo. Todos os<br />

cidadãos árabes de Israel são elegíveis<br />

para arrendar este tipo de terras.<br />

Perguntei a três árabes israelenses<br />

se eles enfrentavam a discriminação<br />

em seu trabalho. Todos eles disseram<br />

a mesma coisa; normalmente<br />

não há nenhuma discriminação, mas<br />

sempre que os suicidas-bomba explodem<br />

e assassinam judeus, alguns israelenses<br />

se sentem incomodados tratando<br />

com eles. Mas estes sentimentos<br />

são também momentâneos e não<br />

duram muito tempo.<br />

27


28<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

Ao abrir a exposição, a cônsul geral da Polônia em<br />

Curitiba, Dorota Joanna Berys, falou da importância<br />

cultural e histórica dos judeus em seu país<br />

Em nome da comunidade israelita o empresário Mendel<br />

Knopfholz discursa no evento, recordando a cultura<br />

judaica na Polônia<br />

Os empresários Leon e Mendel Knopfholz, a cônsul geral<br />

da Polônia em Curitiba, Dorota Joanna Barys e o presidente<br />

da Federação Israelita do Paraná, Isac Baril na abertura da<br />

exposição<br />

Exposição em Curitiba sobre os<br />

"Mil anos dos Judeus na Polônia"<br />

Consulado Geral da República da Polônia abre evento na Biblioteca Pública<br />

A cônsul Barys ouve o sobrevivente do Holocausto,<br />

nascido na Polônia, Moisés Jakobson<br />

Consulado geral da República da<br />

Polônia em Curitiba abriu na noite<br />

de 4/9, na Biblioteca Pública<br />

do Paraná a exposição "Mil anos<br />

dos Judeus na Polônia", que permaneceu<br />

aberta até o dia 18/9. O evento, que contou<br />

com grande número de público, especialmente<br />

membros da comunidade judaica<br />

de Curitiba, foi aberto pela cônsul geral<br />

Dorota Joanna Barys, que explicou que<br />

a exposição foi elaborada pelo Instituto<br />

Adam Mickiewicz de Varsóvia, e ofereceu<br />

aos participantes um "vinho de honra". A<br />

comunidade judaica foi representada pelo<br />

presidente da Federação Israelita do Paraná,<br />

Isac Baril, e pela presidente do Instituto<br />

Cultural Bernardo Schulman, Sara<br />

Schulman. Na ocasião, falou pela comunidade<br />

o empresário Mendel Knopfholz.<br />

Em seu discurso, Knopfholz observou<br />

que "a marca milenar da presença judaica<br />

na Polônia torna inevitável a importância<br />

recíproca destas duas culturas étnicas,<br />

nacionais, antropológicas e sociais<br />

na construção de seus respectivos destinos.<br />

Neste sentido, não podemos dissociar<br />

destas duas tradições alguns elementos<br />

idiomáticos, folclóricos, artísticos,<br />

culturais, culinários que dentre tantos<br />

outros estão perpetuados em nossa emoção<br />

e em nossas formações".<br />

A exposição "Mil anos dos Judeus na Polônia"<br />

contém dezenas de painéis ilustrativos,<br />

acompanhados de textos explicativos em<br />

português<br />

"Assim - prosseguiu ele -, "como não<br />

cultuar os relatos orais e escritos decantados<br />

por nossos pais e avós no mais melodioso<br />

iídiche, idioma mater de gerações,<br />

que propagou e continua a difundir muito<br />

da essência da alma judaica pelas tintas e<br />

cantigas de um sem número de poetas, escribas<br />

e artistas, tornando-o único, peculiar<br />

e tradutor de uma imensa carga emocional<br />

e intelectual de todo um povo. Como<br />

não vivenciar a realidade de muitos judeus<br />

poloneses que, vivendo confinados em<br />

suas shtetls faziam destas pequenas<br />

aldeias a grandiosidade da superação pela<br />

fé, pela união e um pacto sempre renovado<br />

de sobrevivência e esperança. Quantos<br />

personagens simples, gênios em sua humildade<br />

e humildes em sua genialidade,<br />

nos ensinaram os valores da ética, da fraternidade,<br />

da superação".<br />

Em outro trecho de seu discurso, o empresário<br />

Mendel Knopfholz, ressaltou que<br />

"é certo também que o ambiente cosmopolita<br />

e culto das grandes cidades de uma<br />

Polônia muitas vezes dominada e oprimida<br />

que a fez renascer sempre mais fortalecida,<br />

em muito contribuiu para a proliferação<br />

de um manancial cultural e artístico da inteligência<br />

<strong>Judaica</strong>". "Da mesma forma em<br />

que lá fecundaram movimentos importantíssimos<br />

para o judaísmo, como o Iluminis-<br />

Entre os presentes à abertura, dirigentes do Instituto Bernardo<br />

Schulman, Sara Schulman (presidente), ao lado de Boris Sitnik<br />

mo judaico - a Haskalá, as Ieshivot e o Chassidismo<br />

- o território polonês testemunhou<br />

também toda a sorte de sandices e perseguições<br />

aos judeus, por meio de pogroms,<br />

confinamentos, campos de concentração,<br />

massacres e tantas outras tragédias que<br />

hoje são traduzidas por "Limpeza Étnica".<br />

"Não fora isto", sublinhou Knopfholz,<br />

"certamente o mundo contemporâneo teria<br />

sido contemplado com mais talentos do porte<br />

de um Sholem Ash, Arthur Rubinstein, Isac<br />

Peretz, Sigmund Freud, Albert Einstein, Isaac<br />

Bashevis Singer e tantos outros que não sobreviveram<br />

e que se houvessem sobrevivido,<br />

poderiam ter contribuído para as artes,<br />

as ciências e na evolução universal de uma<br />

sociedade criativa, fraterna e justa".<br />

No convite da exposição, um texto assinado<br />

por Piotr M. A. Cywinski diz: "Mil<br />

anos de união e divisões. Mil anos de diálogo<br />

e conflitos, favores e sofrimento, desenvolvimento<br />

e crise, autonomia e dependência,<br />

felicidade compartilhada e crueldade,<br />

até o Shoá. Apresentamos o passado<br />

e o presente dos Judeus Poloneses. Sua<br />

história representa a parte vitar da nossa<br />

identidade. Todo o tempo em que a história<br />

da vida judaica renasce na Polônia<br />

aprendemos a descobrir novamente o vazio.<br />

Nós, os que sentimos a ausência, pagamos<br />

o tributo aos que nos deixaram".

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