Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
natureza, on<strong>de</strong> o passado e o futuro não existem <strong>de</strong> fato. O que existe, na verda<strong>de</strong>, é o<br />
presente puro, a matéria em seu eterno <strong>de</strong>vir. Na realida<strong>de</strong> da matéria, o futuro não é o<br />
novo, mas a <strong>de</strong>corrência natural da lei que a rege: a mudança, a transformação. Seu tempo,<br />
ao fim, como no início, é o presente. Sem fim e sem início. 49<br />
Nesse contexto, aquilo que chamamos <strong>de</strong> imagem cinematográfica é já uma<br />
representação, à medida que só existe como tal para um público que a percebe pela<br />
consciência. A materialida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa imagem, por outro lado, ou seja, os estímulos<br />
luminosos que atingem o público disponibilizado no interior da sala escura, eles se<br />
originam, na verda<strong>de</strong>, daquilo que Bergson <strong>de</strong>fine como imagens da matéria em<br />
movimento. São esses estímulos visuais que darão origem à imagem cinematográfica.<br />
Todo o trabalho <strong>de</strong> manipulação do dispositivo técnico – a administração dos processos<br />
óticos, químicos e mecânicos da câmera e do projetor pelo produtor da imagem<br />
cinematográfica – visa, na verda<strong>de</strong>, interferir nesses estímulos visuais, <strong>de</strong>finir-lhes<br />
configurações particulares, com o objetivo <strong>de</strong> fazer com que as imagens que chegam ao<br />
público apresentem <strong>de</strong>terminadas características. A intervenção do produtor da imagem na<br />
formulação da imagem cinematográfica inci<strong>de</strong>, portanto, no nível da matéria, nos seus<br />
arranjos. É uma intervenção que visa dar direções precisas, portanto, no <strong>de</strong>vir da matéria,<br />
no seu movimento, com o intuito <strong>de</strong> traçar direções precisas para o processo <strong>de</strong> percepção<br />
consciente responsável pela aparição da imagem cinematográfica. São essas intervenções<br />
que irão traçar as diretrizes básicas para a futura representação que o público irá formular<br />
ao entrar em contato com essa matéria trabalhada pelo dispositivo cinematográfico. O<br />
público, por outro lado, participa <strong>de</strong> uma outra maneira do processo <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong>ssas<br />
imagens, formulando representações. Analisaremos, a seguir, o seu modo <strong>de</strong> participação.<br />
Prossigamos, então, nos conceitos <strong>de</strong>senvolvidos por Bergson.<br />
49 “Todas essas imagens agem e reagem umas sobre as outras em todas as suas partes elementares segundo<br />
leis constantes, que chamo <strong>de</strong> leis da natureza, e, como a ciência perfeita <strong>de</strong>ssas leis permitiria certamente<br />
calcular e prever o que se passará em cada uma <strong>de</strong> tais imagens, o futuro das imagens <strong>de</strong>ve estar contido em<br />
seu presente e a elas nada acrescentar <strong>de</strong> novo.” (Bergson, 1990, p.10)<br />
99