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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Imagens da matéria<br />

Neste ponto do nosso trabalho faz-se premente esclarecer que aquilo que Bergson<br />

chama <strong>de</strong> imagem não se confun<strong>de</strong> com a noção <strong>de</strong> representação. A imagem, segundo<br />

Bergson, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da consciência. Não se fixa nela. E quando se fixa, já não é mais<br />

imagem. Enquanto imagem, ela é movimento. Um conceito não se confun<strong>de</strong> com o outro.<br />

Depreen<strong>de</strong>-se então que aquilo que costumamos chamar <strong>de</strong> imagem mental é <strong>de</strong>finido por<br />

Bergson como representação, ou seja, aquilo que se manifesta na consciência. É a<br />

elaboração <strong>de</strong> algumas imagens da matéria que dá origem à representação. Infinitas<br />

imagens da matéria po<strong>de</strong>m surgir em nosso corpo sem que cheguemos a ter consciência<br />

<strong>de</strong>las. Elas se atualizam em um tempo presente que, <strong>de</strong> fato, é real, mas que, para nós, só<br />

existe <strong>de</strong> direito. 48 Elas nos atravessam, mas estão aquém e além da representação<br />

consciente.<br />

Segundo a tese do filósofo, as imagens refletem os movimentos da matéria, visto<br />

que, na verda<strong>de</strong>, “os movimentos da matéria são muito claros enquanto imagens, e não há<br />

como buscar no movimento outra coisa além daquilo que se vê.” (Bergson, 1990, p. 14)<br />

Quando Bergson comenta sobre algo “que se vê”, refere-se, na verda<strong>de</strong>, àqueles<br />

movimentos que, ao atravessarem o corpo vivo, <strong>de</strong>ixam, <strong>de</strong> algum modo, impressões sobre<br />

o sistema perceptivo; vestígios <strong>de</strong> sua passagem que serão transformados em imagens pela<br />

percepção. As imagens são, portanto, esses estímulos transmitidos pelo movimento da<br />

matéria ao sistema nervoso do organismo vivo.<br />

As imagens, para Bergson, pertencem, portanto, à realida<strong>de</strong> da matéria. É a matéria<br />

agindo sobre a matéria. A matéria em movimento. Como tal, as imagens seguem as leis da<br />

48 O filósofo <strong>de</strong>screve uma situação i<strong>de</strong>al na qual a percepção pura – ou seja, livre <strong>de</strong> qualquer influência da<br />

memória – elaboraria essas imagens pelo sistema nervoso do organismo. “A verda<strong>de</strong> é que meu sistema<br />

nervoso, interposto entre os objetos que estimulam meu corpo e aqueles que eu po<strong>de</strong>ria influenciar,<br />

<strong>de</strong>sempenha o papel <strong>de</strong> um simples condutor, que transmite, distribui ou inibe movimento.” (Bergson, 1990)<br />

A percepção pura funcionaria, assim, como uma espécie <strong>de</strong> fase do movimento que atravessa o corpo. Nela, o<br />

movimento se transforma em imagem para o corpo atingido. E, por meio <strong>de</strong>la, ele voltará a ser movimento.<br />

Um movimento que se traduz para o corpo como uma reação ao movimento original. Em última instância,<br />

Bergson <strong>de</strong>fine a percepção como uma ação iminente, uma ação em estágio <strong>de</strong> ser executada pelo corpo. Em<br />

organismos mais sofisticados essa reação leva o corpo a <strong>de</strong>slocar-se no espaço. Entre o plano das imagens e o<br />

plano da percepção pura, haveria, então, apenas uma diferença <strong>de</strong> grau, mas não <strong>de</strong> natureza. E ambas<br />

visariam, <strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> outro, a reação do corpo vivo aos movimentos da matéria que o atravessam.<br />

Bergson dissocia a percepção pura – que segundo ele, só existe <strong>de</strong> direito, mas não <strong>de</strong> fato – da<br />

representação, afirmando que a primeira, em tese, po<strong>de</strong> ocorrer in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do fato <strong>de</strong> haver consciência ou<br />

não no organismo vivo.<br />

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