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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Real e virtual: dois planos distintos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

Segundo a tese <strong>de</strong> Bergson, a memória não está localizada no cérebro, como<br />

querem os cientistas; ela não se confun<strong>de</strong> com a matéria. Na verda<strong>de</strong>, ela está fora da<br />

realida<strong>de</strong> material. É, portanto, virtual. Costumamos <strong>de</strong>finir aquilo que está <strong>de</strong>ntro e aquilo<br />

que está fora tendo como referência nosso corpo. Mas a memória que Bergson <strong>de</strong>fine como<br />

uma realida<strong>de</strong> virtual não está nem <strong>de</strong>ntro nem fora do corpo, porque ambas as<br />

localizações fariam parte ainda da mesma realida<strong>de</strong> material, e sujeitar-se-iam às mesmas<br />

leis. Portanto, quando se afirma que a memória encontra-se “fora” da realida<strong>de</strong> material,<br />

esse “fora” já não po<strong>de</strong> mais ser associado a noções <strong>de</strong> interiorida<strong>de</strong> nem <strong>de</strong> exteriorida<strong>de</strong>.<br />

Ele não remete às noções espaciais próprias à matéria. Caso assim procedêssemos,<br />

estaríamos inserindo a memória no universo da matéria. Don<strong>de</strong> se conclui que ela se<br />

constitui como uma realida<strong>de</strong> distinta, <strong>de</strong> outra natureza: uma realida<strong>de</strong> virtual.<br />

Mas se ela está “fora” do espaço físico, como po<strong>de</strong>ria ela atingir a matéria? Sendo<br />

ela virtual, esse encontro não po<strong>de</strong> se dar na matéria. Segundo Bergson, ele se dá na<br />

consciência. Seguindo o pensamento do filósofo, po<strong>de</strong>mos inferir que a consciência surge<br />

<strong>de</strong>sse encontro, ao mesmo tempo em que o promove. Pela consciência, percebemos a<br />

matéria, distinguimos a imagem <strong>de</strong> vários corpos no espaço; <strong>de</strong>ntre eles o nosso.<br />

Percebemos também a mudança, o <strong>de</strong>vir temporal. E essa percepção consciente do mundo<br />

físico implica já em uma interferência da memória. A percepção do mundo físico está,<br />

portanto, já comprometida com a participação inevitável e necessária da memória.<br />

E o que é a memória? O que é essa realida<strong>de</strong> virtual? Bergson a <strong>de</strong>fine como o<br />

passado; aquilo que a psicologia <strong>de</strong>fine como o inconsciente. E se esse passado está fora da<br />

realida<strong>de</strong> material, ele não se confun<strong>de</strong> com o tempo físico. O passado, para Bergson, é<br />

algo virtual que só se atualiza na consciência, por meio <strong>de</strong> alguma associação “caprichosa”<br />

(Bergson, 1990, p. 120) com a percepção consciente. O passado <strong>de</strong>finido por Bergson está<br />

fora do tempo e do espaço físicos. Como dissemos linhas atrás, ao atualizar-se na<br />

consciência e interferir na percepção do universo material que nos alcança, ele altera a<br />

representação que construímos para nós <strong>de</strong>sse universo, ao mesmo tempo em que também<br />

ele, o passado, atualiza-se nessa representação. O passado <strong>de</strong>finido por Bergson como<br />

memória não se confun<strong>de</strong>, portanto, com o tempo físico da matéria.<br />

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