Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

2. 2. Na imagem cinematográfica, o encontro entre o real e o virtual
Em Matière et mémoire – obra divulgada pela primeira vez em 1897 – o filósofo
Henri Bergson (1859-1941) parte de um pensamento dualista para demonstrar a realidade
tanto da matéria quanto do espírito. Na evolução de sua dissertação, propõe uma revisão do
realismo, no qual se destaca o pensamento de Descartes, e do idealismo, donde sobressai
Berkeley. Ele contrasta essas duas grandes vias do pensamento filosófico, em busca de
uma nova tese capaz de dar conta de ambas as realidades.
Para isso, ele desenvolve uma extensa pesquisa sobre a percepção exterior e o papel
da memória em sua manifestação à consciência na forma de representações. Através de
uma extensa revisão crítica do trabalho de vários cientistas associacionistas que se
debruçaram diante da questão da percepção exterior e do fenômeno da formação de
representações pela consciência – como Ribot, Lichtheim, Adler, Kussmaul, P. Janet,
dentre outros – o filósofo se propõe a confrontar tais idéias com o intuito de reformular tais
teorias por meio de um raciocínio ao mesmo tempo rigoroso e intuitivo.
Ao longo de sua obra, ele demonstra que a percepção é único modo de acesso da
consciência ao mundo material. Ela seria, segundo suas observações, um momento
intermediário entre a ação do mundo material sobre o corpo vivo e a reação deste sobre o
primeiro. A ação é assim, para o filósofo, o objetivo principal da percepção consciente.
Mas, como ele mesmo demonstra, algo se produz no contato do ser vivo com o universo da
matéria. Algo que está embrenhado no esforço de percepção consciente da matéria, mas
que, segundo Bergson, não se confunde com ela. O que surge de novo, ao longo do
processo de percepção exterior, para o filósofo, são, na verdade, “estados afetivos”. São
estes que irão formar uma outra realidade: a memória. O reconhecimento desta como uma
realidade distinta da matéria e atuante no processo de percepção consciente e formação de
representações aponta, portanto, para a tese principal do filósofo.
Vejamos, então, quais são os principais conceitos formulados pelo filósofo e como
eles podem colaborar com a reflexão sobre a imagem cinematográfica.
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