Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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A maioria dos inventos anteriores <strong>de</strong>saparece com o passar dos anos. O<br />
cinematógrafo, contudo, não só permaneceu atual ao longo <strong>de</strong> todo o século XIX, como<br />
ganhou <strong>de</strong>staque no contexto das imagens. A imagem que ele viabiliza ganhou<br />
complexida<strong>de</strong> nas estruturas formais. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma linguagem própria a sua<br />
natureza narrativa explora suas potencialida<strong>de</strong>s, confirmando, assim, a peculiarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />
imagem: sua aparente simplicida<strong>de</strong>, combinada a uma complexida<strong>de</strong> interna única. Nela,<br />
encontramos a conciliação <strong>de</strong> um espaço configurado em perspectiva com a possibilida<strong>de</strong><br />
do movimento, o vínculo da imagem com o real que lhe <strong>de</strong>u origem em acordo com a<br />
exploração da imaginação do público, o convite, enfim, ao <strong>de</strong>vaneio.<br />
Na passagem do fotográfico para o cinematográfico, algo <strong>de</strong> novo acontece. O<br />
movimento aparente, agregado à imagem fotográfica, dá origem a uma nova imagem. Tal<br />
como a imagem fotográfica, essa nova imagem continua a se configurar em perspectiva,<br />
gerando uma noção <strong>de</strong> espaço homogêneo e infinito na representação e que, no entanto,<br />
hierarquiza-se a partir <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> um suposto sujeito a olhar a cena. Os<br />
processos óticos que ocorrem na câmera cinematográfica garantem, portanto, a<br />
manutenção <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> configuração da imagem. Contudo, se a parte visível da nova<br />
imagem, produzida com a utilização da câmera, continua a apresentar uma configuração<br />
espacial similar àquela outra imagem, a fotográfica, no momento <strong>de</strong> projeção, os intervalos<br />
entre cada uma <strong>de</strong>ssas imagens fixas darão origem a uma noção <strong>de</strong> tempo completamente<br />
nova. Já nos instantâneos fotográficos, o processo químico responsável pela inscrição da<br />
imagem na película <strong>de</strong>terminava a expressão <strong>de</strong> uma nova noção <strong>de</strong> tempo na imagem; o<br />
noema isso foi <strong>de</strong> Barthes (1984). Mas nesta outra imagem mutável – a imagem<br />
cinematográfica – o tempo adquire uma nova expressivida<strong>de</strong>. Algo novo surge com ela,<br />
nos intervalos do visível. A expressão do invisível, do indizível.<br />
No que tange a técnica <strong>de</strong> produção da imagem, o projetor insinua-se, portanto,<br />
como o instrumento capaz <strong>de</strong> diferenciar a imagem cinematográfica da fotográfica. É ele<br />
quem lhe confere a possibilida<strong>de</strong> do movimento, através <strong>de</strong> processos mecânicos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>slocamentos da película, on<strong>de</strong> se encontram inscritos os instantâneos fotográficos, e sua<br />
projeção luminosa a intervalos constantes. Ele promove uma espécie <strong>de</strong> alternância entre a<br />
aparição e o <strong>de</strong>saparecimento da imagem fixa, a iluminação e o escurecimento da tela, o<br />
movimento da película e a imobilida<strong>de</strong> da imagem que surge luminosa na tela. Uma<br />
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