Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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apresentava já princípios similares àqueles encontrados até hoje nas câmeras<br />
cinematográficas.<br />
A <strong>de</strong>composição do movimento em vários instantâneos fotográficos foi<br />
fundamental para o surgimento das fotografias animadas. Mas seria necessário ainda passar<br />
para a fase seguinte <strong>de</strong> síntese <strong>de</strong>sses vários instantâneos em uma única imagem mutável.<br />
Como Marey preferia sobrepor os diferentes instantes fotográficos, equivalentes aos<br />
estágios do corpo em movimento, em uma única imagem imóvel que fosse capaz <strong>de</strong><br />
informar-lhe sobre sua trajetória em uma espécie <strong>de</strong> “gráfico fotográfico” 42 , é George<br />
Demeny, seu assistente, quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> arquitetar um outro aparelho capaz <strong>de</strong> restituir o<br />
movimento aparente às cronofotografias. Surge, então, o fonoscópio, um instrumento<br />
capaz <strong>de</strong> projetar na tela a imagem luminosa <strong>de</strong> vários instantâneos fotográficos em<br />
sucessão, a uma velocida<strong>de</strong> tal que permite a aparição <strong>de</strong> uma imagem única luminosa e<br />
ar, ferraduras com bolas <strong>de</strong> borracha, contatos elétricos, <strong>de</strong>ntre tantos outros. Com esses materiais, ele<br />
captava informações sobre os movimentos e as transmitia para um objeto <strong>de</strong> ponta fina que traçava<br />
“alinhamentos” em um papel negro localizado sobre um cilindro. Ao tomar conhecimento do método<br />
fotográfico utilizado por Muybridge, Marey abandona esses aparelhos e resolve criar outros, agora fundados<br />
na técnica da fotografia. Marey, era amigo <strong>de</strong> Janssen e sabia dos trabalhos que seu amigo havia realizado<br />
com seu “revolver fotográfico”. Assim, em 1882, ele projeta um aparelho semelhante que, mais tar<strong>de</strong> é<br />
adaptado para se integrar a um disco opaco rotativo com várias fendas, <strong>de</strong>ntro do qual insere uma placa <strong>de</strong><br />
vidro sensível. O disco era capaz <strong>de</strong> rodar sobre seu próprio eixo, <strong>de</strong>z vezes por segundo, <strong>de</strong>ixando passar a<br />
luz e alcançar a placa sensível em 1/500 <strong>de</strong> segundo. Com este dispositivo, ele produziu imagens que<br />
apresentavam o movimento dos corpos em suas várias fases. Trabalhando <strong>de</strong> um modo diferente <strong>de</strong><br />
Muybridge, Marey acumula todas as diferentes posições do corpo, durante a execução do movimento, em<br />
uma única imagem. Essa imagem passa a apresentar o mesmo corpo congelado em diferentes posições,<br />
criando, assim, uma espécie <strong>de</strong> “gráfico” do movimento. Em 1888, Marey insere ao aparato um eletroímã. A<br />
função <strong>de</strong>sse ímã era parar o suporte sensível à luz no momento em que o obturador se abria. Em 1890, ele<br />
passa a utilizar a película <strong>de</strong> celulói<strong>de</strong> da Eastman Company como suporte para suas imagens. Ele cria ainda<br />
um outro sistema para arrastar a película: enrolar a película em uma bobina e inseri-la no aparelho<br />
fotográfico. Quando o aparelho é acionado, automaticamente a película é arrastada para o foco da objetiva,<br />
fica então parada, enquanto o obturador se abre; quando este se fecha, ela volta a ser arrastada e enrola-se em<br />
uma outra bobina receptora. No dia 3 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1890, Marey patenteia o sistema e <strong>de</strong>nomina suas<br />
imagens como cronofotografias.<br />
42 Segundo Laurent Mannoni (1996) para realizar tais “gráficos” do movimento, Marey dispunha <strong>de</strong> um<br />
estúdio <strong>de</strong> filmagem, criado em 1882, e subsidiado tanto pelo Estado quanto pela cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris: a Station<br />
Physiologique. O estúdio possuía uma pista em forma <strong>de</strong> círculo, on<strong>de</strong> o fisiologista colocava os corpos a<br />
serem fotografados e os punha a girar diante do “revolver fotográfico”. Este era posto sobre carris,<br />
permitindo-lhe movê-lo para frente e para trás e, com isto, variar o enquadramento da imagem. O fundo era<br />
negro, assim como as roupas que os corpos a serem fotografados vestiam. Com este procedimento, Marey<br />
pretendia confundir o fundo com os corpos. Apenas as partes fundamentais do corpo eram visualmente<br />
salientadas: fitas brancas eram postas nos braços e nas pernas, pontos brancos eram pintados nas articulações<br />
dos ossos. Como resultado, quando o corpo se movia, o aparelho fotográfico registrava na imagem apenas<br />
esses pontos salientados pelas fitas e pontos brancos, <strong>de</strong>ixando todo o resto in<strong>de</strong>finido no negro da imagem.<br />
Essas imagens não mais apresentavam o realismo comum à fotografia, mas diagramavam o movimento em<br />
formas simplificadas e abstratas.<br />
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