entretenimento e distração em um ambiente escuro on<strong>de</strong> seus corpos ten<strong>de</strong>m a ficar mais quietos, <strong>de</strong>ixando-os mais disponíveis para o <strong>de</strong>vaneio, para o encantamento com as imagens. É justamente esse contexto <strong>de</strong> exibição pública da imagem luminosa e mutável que leva o cinema a se aproximar <strong>de</strong>sses espetáculos visuais que o antece<strong>de</strong>m e cuja origem se encontra associada à lanterna mágica. As características mais marcantes <strong>de</strong> tal contexto <strong>de</strong> projeção das imagens, capaz <strong>de</strong> favorecer a imaginação do público, <strong>de</strong>ixando-o mais propenso ao <strong>de</strong>vaneio, permanecem, portanto, atuais na “situação cinematográfica”. Po<strong>de</strong>-se inferir, então, que o contexto <strong>de</strong> exibição da imagem cinematográfica – o qual remete, na verda<strong>de</strong>, à tradição da lanterna mágica – intensifica nela seu grau <strong>de</strong> autonomia perante a realida<strong>de</strong>, na medida em que oferece ao público condições mais favoráveis ao domínio da imaginação. Por outro lado, essa tendência promovida pelo contexto <strong>de</strong> exibição da imagem fica mais intensa com a possibilida<strong>de</strong> do movimento aparente na imagem luminosa. Ambos os fatores colaboram para o grau <strong>de</strong> autonomia da imagem, em seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sugerir realida<strong>de</strong>s fantásticas. Predomina, enfim, a imaginação e a fantasia. Há, contudo, uma distinção fundamental entre a imagem cinematográfica e essas imagens mutáveis e luminosas produzidas ao longo do século XIX. A imagem cinematográfica se compõe <strong>de</strong> instantâneos fotográficos, enquanto que essas imagens produzidas com o uso <strong>de</strong> lanternas mágicas são originadas <strong>de</strong> pinturas, ou <strong>de</strong>senhos, feitos à mão por algum artesão. Não apresentam, portanto, qualida<strong>de</strong>s que são específicas do instantâneo fotográfico. São imagens <strong>de</strong> outra natureza. São lúdicas, divertidas, poéticas. Mas não se confun<strong>de</strong>m com aquela que viria surgir em fins do século; muito embora elas comunguem com a imagem cinematográfica essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mutação das formas. Este, na verda<strong>de</strong>, é o ponto em comum que as aproxima da imagem cinematográfica, constituindo o que po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>finir aqui como uma tradição <strong>de</strong> imagens mutáveis e luminosas, as quais são produzidas a partir da operacionalização <strong>de</strong> dispositivos mecânicos que, ao serem acionados, viabilizam sua aparição na tela perante o olhar do público. Mas o movimento que singulariza a imagem cinematográfica apresenta algo mais. Com a clássicas da hipnose estivessem reunidas: vazio, ociosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>semprego: não é frente ao filme e pelo filme que sonhamos; é, sem o sabermos, antes mesmo <strong>de</strong> nos tornarmos seus espectadores. Existe uma „situação <strong>de</strong> cinema‟, e esta situação é pré-hipnótica. Seguindo uma metonímia verda<strong>de</strong>ira, o escuro da sala é pré-figurado pelo „<strong>de</strong>vaneio crepuscular‟ prévio à hipnose, no dizer <strong>de</strong> Breuer-Freud) que prece<strong>de</strong> este escuro, conduz o sujeito, <strong>de</strong> r em ua, <strong>de</strong> cartaz em cartaz, a precipitar-se finalmente num cubo obscuro, anônimo, indiferente, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se produzir este festival <strong>de</strong> afetos que chamamos filme”. (Barthes, 1980, p. 121 et seq.) 84
animação da imagem fotográfica, algo diferente acontece, pois, como vimos, ela está vinculada ao real por seu próprio modo <strong>de</strong> constituição, por sua ontologia (Bazin, 1983, passim). O movimento que essa imagem virá a adquirir está, portanto, vinculado existencialmente ao real que lhe <strong>de</strong>u origem. Ele é afetado pelo instante fotográfico, pelo punctum <strong>de</strong> que fala Barthes (1984). O estímulo à imaginação e à fantasia convive com essa “objetivida<strong>de</strong> essencial” própria ao fotográfico. Contudo, isso só acontece quando a imagem fotográfica encontrar-se em condições <strong>de</strong> se associar à lanterna mágica. Vejamos, então, como isto se torna possível. Fig. 9 “Phantasmagoria e Dissolving Views Lanterns”, Londres (1866) George Pightling 85
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