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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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entretenimento e distração em um ambiente escuro on<strong>de</strong> seus corpos ten<strong>de</strong>m a ficar mais<br />

quietos, <strong>de</strong>ixando-os mais disponíveis para o <strong>de</strong>vaneio, para o encantamento com as<br />

imagens. É justamente esse contexto <strong>de</strong> exibição pública da imagem luminosa e mutável<br />

que leva o cinema a se aproximar <strong>de</strong>sses espetáculos visuais que o antece<strong>de</strong>m e cuja<br />

origem se encontra associada à lanterna mágica. As características mais marcantes <strong>de</strong> tal<br />

contexto <strong>de</strong> projeção das imagens, capaz <strong>de</strong> favorecer a imaginação do público, <strong>de</strong>ixando-o<br />

mais propenso ao <strong>de</strong>vaneio, permanecem, portanto, atuais na “situação cinematográfica”.<br />

Po<strong>de</strong>-se inferir, então, que o contexto <strong>de</strong> exibição da imagem cinematográfica – o<br />

qual remete, na verda<strong>de</strong>, à tradição da lanterna mágica – intensifica nela seu grau <strong>de</strong><br />

autonomia perante a realida<strong>de</strong>, na medida em que oferece ao público condições mais<br />

favoráveis ao domínio da imaginação. Por outro lado, essa tendência promovida pelo<br />

contexto <strong>de</strong> exibição da imagem fica mais intensa com a possibilida<strong>de</strong> do movimento<br />

aparente na imagem luminosa. Ambos os fatores colaboram para o grau <strong>de</strong> autonomia da<br />

imagem, em seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> sugerir realida<strong>de</strong>s fantásticas. Predomina, enfim, a imaginação e<br />

a fantasia.<br />

Há, contudo, uma distinção fundamental entre a imagem cinematográfica e essas<br />

imagens mutáveis e luminosas produzidas ao longo do século XIX. A imagem<br />

cinematográfica se compõe <strong>de</strong> instantâneos fotográficos, enquanto que essas imagens<br />

produzidas com o uso <strong>de</strong> lanternas mágicas são originadas <strong>de</strong> pinturas, ou <strong>de</strong>senhos, feitos<br />

à mão por algum artesão. Não apresentam, portanto, qualida<strong>de</strong>s que são específicas do<br />

instantâneo fotográfico. São imagens <strong>de</strong> outra natureza. São lúdicas, divertidas, poéticas.<br />

Mas não se confun<strong>de</strong>m com aquela que viria surgir em fins do século; muito embora elas<br />

comunguem com a imagem cinematográfica essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mutação das formas.<br />

Este, na verda<strong>de</strong>, é o ponto em comum que as aproxima da imagem cinematográfica,<br />

constituindo o que po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>finir aqui como uma tradição <strong>de</strong> imagens mutáveis e<br />

luminosas, as quais são produzidas a partir da operacionalização <strong>de</strong> dispositivos mecânicos<br />

que, ao serem acionados, viabilizam sua aparição na tela perante o olhar do público. Mas o<br />

movimento que singulariza a imagem cinematográfica apresenta algo mais. Com a<br />

clássicas da hipnose estivessem reunidas: vazio, ociosida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>semprego: não é frente ao filme e pelo filme<br />

que sonhamos; é, sem o sabermos, antes mesmo <strong>de</strong> nos tornarmos seus espectadores. Existe uma „situação <strong>de</strong><br />

cinema‟, e esta situação é pré-hipnótica. Seguindo uma metonímia verda<strong>de</strong>ira, o escuro da sala é pré-figurado<br />

pelo „<strong>de</strong>vaneio crepuscular‟ prévio à hipnose, no dizer <strong>de</strong> Breuer-Freud) que prece<strong>de</strong> este escuro, conduz o<br />

sujeito, <strong>de</strong> r em ua, <strong>de</strong> cartaz em cartaz, a precipitar-se finalmente num cubo obscuro, anônimo, indiferente,<br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se produzir este festival <strong>de</strong> afetos que chamamos filme”. (Barthes, 1980, p. 121 et seq.)<br />

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