Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Já nessas imagens projetadas pela lanterna mágica, a ânsia pelo movimento se evidenciava. Ele já podia ser encontrado nas imagens idealizadas por Christian Huygens, como o esqueleto que joga com a própria cabeça 30 . Supostamente, tais imagens seriam projetadas em sucessão, promovendo uma espécie de fusão entre as diferentes imagens. Também nas fantasmagorias de Robertson o deslocamento do aparato técnico em direção à tela produzia um efeito visual que simulava o movimento na imagem: ela ia crescendo de tamanho, produzindo, assim, a sensação de estar cada vez mais próxima do público, como se quem estivesse se movendo fosse a própria figura projetada pela luz. 31 O caso das dissolving views (fig. 7, 8 e 9) é um outro exemplo no qual podemos detectar o desejo de se exprimir visualmente o fluxo do tempo que passa, por meio de uma espécie de fusão entre uma imagem e outra que se projetavam na tela. Projetava-se, por exemplo a imagem pintada de paisagem à luz do dia e, logo em seguida, uma outra imagem dessa mesma paisagem simulando o anoitecer. 32 30 Segundo Campagnoni (1996), em manuscritos do matemático e astrônomo holandês Christian Huygens produzidos em de 1659, há uma referência ao invento. Nele consta um estudo preparatório para a produção de representações visuais, a serem pintadas em vidros e projetadas por uma lanterna mágica. São representações de um esqueleto em diferentes poses, onde se simula o movimento de tirar e por a sua cabeça, “como se fosse uma bola de jogar”. Estas imagens são consideradas, pela pesquisadora, como provavelmente as primeiras a serem produzidas para serem projetadas em lanternas mágicas. 31 Campagnoni (1996, p. 79), nos fala que os espetáculos de Fantasmagoria produzidos por um físico inglês chamado Paul Philidor, eram criados pelo uso de em uma lanterna mágica especial, que ela descreve: “podia ser comodamente deslocada sobre carris ou sobre rodas. Não só, escondido da vista do público, o aparelho retroprojetava a imagem, que se ia ampliando pouco a pouco, deslocando-se, simultaneamente, de forma a aproximar-se ou afastar-se, dos espectadores.” Segundo a pesquisadora, um outro físico e aeronauta belga, Etienne-Gaspard Robert, conhecido então como Robertson, também se apropria do novo invento para fazer espetáculos de fantasmagoria. Ele retoma as técnicas de Philidor e, em 1799, registra a patente de um invento que ele nomeia como fantascópio. Nos anos seguintes, Robertson utiliza o fantascópio para produzir espetáculos visuais cujo sucesso eloqüente levaria, enfim, à consagração da lanterna mágica como um instrumento voltado para produção de imagens luminosas e espetaculares. Campagnoni o descreve: “ [o aparelho] era montado sobre um pequeno carro rudimentar que deslizava ao longo de dois carris e era munido de um sofisticado sistema óptico que permitia projetar objetos e vidros de vários tamanhos e garantir a focagem das imagens, qualquer que fosse o tamanho que resultava do avançar ou recuar do fantascópio; a intensidade da luz era ainda regulada por uma chapa de cobre que funcionava como diafragma”. (ibidem, p. 81) 32 Em fins do século XVIII e início do século XIX ocorre a industrialização da lanterna mágica. Por volta de 1821, o óptico inglês Philip Carpenter lança no mercado uma versão industrializada do aparato. Campagnoni (1996, p. 83) a descreve: “uma máquina caracterizada por uma chaminé cônica angulada e munida de quatro lentes biconvexas (duas utilizadas como condensador e duas como lentes objetivas) e um diafragma na extremidade de um tubo óptico (que servia para eliminar os raios situados na extremidade do feixe luminoso e, portanto, a aberração de esfericidade das imagens projetadas).” Carpenter lança também no mercado um outro invento que serviria como complemento ao primeiro. Juntos estes dois aparelhos se transformariam em um único “instrumento educativo e recreativo, difundidos em proporções sem precedentes e economicamente acessível a todos”. São as copper-plate slides. Elas são, na verdade, vidros feitos especificamente para a projeção de imagens do phantasmagoria lantern. E sua peculiaridade está na técnica utilizada na impressão das imagens 32 , a qual não só possibilita uma produção em grande escala, como também oferece um resultado de qualidade nas imagens projetadas, pela riqueza de detalhes e ampla gama de possibilidades de temas 80
81 Figuras 7 e 8 “Dissolving Views” Série de vidros para lanterna mágica. Alemanha (2 a metade do século XIX) passíveis de serem ali representados. Essas imagens eram ainda acompanhadas de breves comentários que o próprio Carpenter fornecia em manuais que ele mesmo escrevia e dispunha ao público consumidor de seus inventos. Com o sucesso do empreendimento, este modelo de lanterna mágica desenvolvido por Carpenter, é retomado por outras indústrias na fabricação de novos aparelhos. As dissolving views surgem, portanto, como uma nova versão desses aparatos. Campagnoni (op. cit., p. 87) a descreve: “colocadas uma ao lado da outra, as duas lanternas, provocando através de um mecanismo frontal especial um efeito de dissolvência permitiam projetar as fantasiosas e espetaculares transformações, produzidas por uns vidros representando temas complementares: um mesmo tema, visto em diversos momentos do dia, do ano, ou, de qualquer maneira, em condições que determinavam mudanças mais ou menos parciais.” Nesta nova versão, entretanto, visava-se mais à produção de efeitos espetaculares e sugestivos do que à instrução e à educação do público por meios divertidos e descontraídos, como acontecia com as copper-plate slides.
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