Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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movimento do carvão a uma <strong>de</strong>terminada velocida<strong>de</strong>. Esta forma sintética que surgia no<br />
processo <strong>de</strong> percepção visual estava diretamente associada à trajetória do carvão. Inferia-<br />
se, então, que a ilusão visual era conseguida por meio <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> síntese das<br />
informações luminosas. Em um intervalo <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> tempo, o carvão se movia. E os<br />
olhos humanos percebiam esse movimento. Mas ele se processava <strong>de</strong> modo tão rápido que<br />
se tornava impossível distinguir um estagio do movimento <strong>de</strong> outro, gerando assim a<br />
percepção <strong>de</strong>ssa imagem única.<br />
A experiência realizada com o carvão permite, portanto, constatar a existência<br />
<strong>de</strong>sse efeito visual <strong>de</strong> síntese dos vários estágios do movimento. As causas <strong>de</strong>sse efeito, por<br />
outro lado, continuavam a ser explicadas por teorias que não podiam ser comprovadas e<br />
que, anos <strong>de</strong>pois, viriam mesmo a ser refutadas. Todavia, o esforço por conhecer melhor as<br />
condições que <strong>de</strong>terminavam a produção <strong>de</strong>sse efeito visual possibilitou aos pesquisadores<br />
da época reproduzi-lo em situações controladas intencionalmente. Desse modo, essas<br />
experiências viabilizaram a invenção <strong>de</strong> vários dispositivos capazes reproduzir<br />
intencionalmente efeitos visuais similares.<br />
E foi o que, <strong>de</strong> fato, aconteceu. Vários aparatos foram engendrados a partir <strong>de</strong>sses<br />
estudos sobre a persistência da visão. Em 1825, surge um dispositivo muito interessante<br />
nas lojas londrinas <strong>de</strong> brinquedos, a partir <strong>de</strong> pesquisas realizadas pelo médico John Ayrton<br />
Paris: o traumatrópio. (fig. 3) Robinson o <strong>de</strong>screve:<br />
“Consistia num pequeno disco <strong>de</strong> cartão, em cujas faces eram impressas<br />
imagens complementares [numa um pássaro e noutra uma gaiola, por<br />
exemplo]. Prendiam-se uns fios <strong>de</strong> cada lado, permitindo assim que o disco<br />
girasse rapidamente por forma que as duas faces fossem vistas numa rápida<br />
sucessão.” (id., 1996, p. 126)<br />
Supunha-se então que, assim como aconteceu com o carvão, o fenômeno da<br />
“persistência da visão” misturava, neste aparato, uma imagem a outra, dando a impressão<br />
<strong>de</strong> que elas eram sobrepostas e compunham uma única imagem. Neste caso, po<strong>de</strong>-se<br />
perceber melhor que a imagem final <strong>de</strong>riva das duas imagens que estão inscritas no suporte<br />
material, através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> síntese. As imagens inscritas no cartão existem <strong>de</strong> fato.<br />
Estão ali como marcas, presas a um material qualquer. Mas a imagem que resulta <strong>de</strong>stas,<br />
por um processo <strong>de</strong> síntese, não está marcada em suporte algum. Ela surge no ato <strong>de</strong><br />
percepção promovido pelo público a partir do acionamento <strong>de</strong>ste simples aparato.<br />
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