Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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“(...) a causa da ilusão da curvatura dos raios é a mesma que respeita a ilusão que tem lugar quando um objeto luminoso gira rapidamente em círculo, dando origem ao aparecimento de um feixe de luz em toda a circunferência; nomeadamente, que a impressão provocada na retina por um conjunto de raios, se for suficientemente nítida, permanecerá durante algum tempo após ter cessado a sua causa”. (apud Robinson, 1996, p. 125) A explicação de Roget demonstra que ele acredita que o fenômeno se deve, na verdade, a uma “impressão provocada na retina”. Mas Robinson (1996) relata que, anos depois, em 1830, François Magendie e Sir Charles Bell publicam um tratado, The Nervous System of the Human Body, que transfere a causa desses efeitos visuais a níveis mais complexos da mente humana, os quais envolvem não só o sistema visual, mas inclusive o sistema nervoso e outras partes do cérebro, que seriam responsáveis pela re-elaboração e transformação dessas informações. Ao longo dos anos que se sucederam, várias outras experiências foram realizadas. E, hoje em dia, reconhece-se que o sistema visual necessita de um determinado período de tempo para que se consiga perceber um estímulo visual. Alguns estágios da percepção podem ser mais rápidos, outros, mais demorados, contudo, o processamento da informação luminosa sempre necessita de tempo para sua elaboração. Segundo Aumont (1993), em 1974, descobriu-se que o nervo ótico é composto por dois tipos distintos de células: umas mais adaptadas para responder a estímulos mais permanentes, e outras, para responder a estímulos mais transitórios. O pesquisador as descreve: “As células „permanentes‟ têm um campo receptor menor, correspondem mais à fóvea, trabalham quando a imagem é nítida; as células „transitórias‟ [por outro lado] têm um campo bem amplo, respondem aos estímulos variáveis, correspondem mais à periferia e são pouco sensíveis ao flou. (...) [as células transitórias] podem [ainda] inibir as células „permanentes‟: as primeiras seriam, pois, uma espécie de sistema de alarme e as segundas, um instrumento analítico”. (id., 1993, p. 34) Há, portanto, duas maneiras distintas do sistema visual reagir aos estímulos luminosos, aos quais Aumont faz menção: uma resposta lenta e uma resposta rápida. A resposta lenta pode ser observada, por exemplo, quando o sistema visual encontra-se exposto a uma fonte de luz muito intensa que, no entanto, perdura por um período de tempo muito curto. O efeito de acumulação faz com que essa informação luminosa perdure ainda por mais algum tempo, mesmo após o estímulo que lhe deu origem ter sido interrompido. Em um outro exemplo, a resposta lenta pode ainda promover um outro efeito visual. Quando vários estímulos luminosos se sucedem com muita rapidez, eles podem vir 72

a ser percebidos como um único evento. 26 Esse fenômeno é conhecido, hoje em dia, como fenômeno de integração. Reconhece-se, atualmente, que esses efeitos, na verdade, são produzidos em níveis pré-retinianos. Desse modo, pode-se concluir que o efeito visual conseguido com o movimento circular do carvão a uma determinada velocidade se deve, na verdade, a fenômenos que não se restringem apenas à persistência retiniana. A resposta rápida, por outro lado, é encontrada em casos nos quais os estímulos visuais variam rapidamente. Estímulos luminosos que aparecem e desaparecem a uma freqüência constante – como acontece com a imagem cinematográfica – costumam produzir esse tipo de resposta no sistema visual humano. Produz-se, então, um efeito conhecido como cintilação (flicker, em inglês), caracterizado pelo ofuscamento da imagem. Para que esse efeito seja evitado, deve-se aumentar a freqüência das aparições, possibilitando, assim, a percepção de um estímulo constante e unificado. Esse efeito visual de continuidade e unificação dos vários estímulos recebe, portanto, a colaboração daquele outro tipo de resposta do sistema visual: a resposta lenta, na qual se opera o efeito de integração. Além da freqüência dos estímulos, há, enfim, um outro fator que determina se a fonte luminosa vai promover um efeito de cintilação ou um efeito de integração: a intensidade desse estímulo. 27 Contudo, a experiência com o carvão, realizada no século XVIII, não perde seu mérito. Ela reside, pois, no esforço que os homens dessa época empreenderam na tentativa de compreender melhor quais eram as condições que levavam a visão humana a perceber a trajetória do carvão incandescente como uma forma sintética. Sabia-se que esta forma circular não existia na realidade, mas resultava de um efeito visual que se produzia com o 26 Aumont (1993, p. 32) observa que, para que seja possível perceber dois estímulos visuais não sincrônicos como distintos é necessário que haja um intervalo de tempo de pelo menos 60 a 80 milissegundos entre eles. E esse intervalo deve passar para 100 ms (1/10 de segundos) caso se queira distinguir qual deles é posterior ao outro. 27 Jacques Aumont (1993, p. 35) comenta sobre a influência desses efeitos visuais na produção da imagem cinematográfica: “Os primeiros projetores ofereciam, na maioria das vezes, uma imagem cintilante: entre outras coisas, é para eliminar esse efeito que a velocidade de projeção (logo, também a velocidade do instantâneo) não parou de aumentar, passando de cerca de 12 a 16, e depois, progressivamente, a 24 imagens por segundo. Quando a intensidade das lâmpadas aumentou (principalmente com os projetores a arco voltaico), a freqüência crítica aumentou acima de 24 Hz, e com 24 imagens por segundo a cintilação reapareceu. Para eliminá-la sem aumentar ainda mais a velocidade de projeção – o que acarretaria sérios problemas mecânicos – usou-se de um artifício ainda em vigor, que consiste em „desdobrar‟ e até „triplicar‟ a paleta giratória do projetor, interrompendo assim o fluxo luminoso do projetor, duas ou três vezes em cada fotograma projetado. Tudo se passa, então, como se cada fotograma fosse projetado duas ou três vezes antes que a película avance para o fotograma seguinte. Passa-se assim, com 24 imagens diferentes por segundo, a 2x 24 = 48, ou a 3x24 = 72 imagens projetadas por segundo, portanto, acima da freqüência crítica [que é da ordem de 10 Hz para intensidades médias].” 73

“(...) a causa da ilusão da curvatura dos raios é a mesma que respeita a ilusão<br />

que tem lugar quando um objeto luminoso gira rapidamente em círculo,<br />

dando origem ao aparecimento <strong>de</strong> um feixe <strong>de</strong> luz em toda a circunferência;<br />

nomeadamente, que a impressão provocada na retina por um conjunto <strong>de</strong><br />

raios, se for suficientemente nítida, permanecerá durante algum tempo após<br />

ter cessado a sua causa”. (apud Robinson, 1996, p. 125)<br />

A explicação <strong>de</strong> Roget <strong>de</strong>monstra que ele acredita que o fenômeno se <strong>de</strong>ve, na<br />

verda<strong>de</strong>, a uma “impressão provocada na retina”. Mas Robinson (1996) relata que, anos<br />

<strong>de</strong>pois, em 1830, François Magendie e Sir Charles Bell publicam um tratado, The Nervous<br />

System of the Human Body, que transfere a causa <strong>de</strong>sses efeitos visuais a níveis mais<br />

complexos da mente humana, os quais envolvem não só o sistema visual, mas inclusive o<br />

sistema nervoso e outras partes do cérebro, que seriam responsáveis pela re-elaboração e<br />

transformação <strong>de</strong>ssas informações.<br />

Ao longo dos anos que se suce<strong>de</strong>ram, várias outras experiências foram realizadas.<br />

E, hoje em dia, reconhece-se que o sistema visual necessita <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado período <strong>de</strong><br />

tempo para que se consiga perceber um estímulo visual. Alguns estágios da percepção<br />

po<strong>de</strong>m ser mais rápidos, outros, mais <strong>de</strong>morados, contudo, o processamento da informação<br />

luminosa sempre necessita <strong>de</strong> tempo para sua elaboração. Segundo Aumont (1993), em<br />

1974, <strong>de</strong>scobriu-se que o nervo ótico é composto por dois tipos distintos <strong>de</strong> células: umas<br />

mais adaptadas para respon<strong>de</strong>r a estímulos mais permanentes, e outras, para respon<strong>de</strong>r a<br />

estímulos mais transitórios. O pesquisador as <strong>de</strong>screve:<br />

“As células „permanentes‟ têm um campo receptor menor, correspon<strong>de</strong>m<br />

mais à fóvea, trabalham quando a imagem é nítida; as células „transitórias‟<br />

[por outro lado] têm um campo bem amplo, respon<strong>de</strong>m aos estímulos<br />

variáveis, correspon<strong>de</strong>m mais à periferia e são pouco sensíveis ao flou. (...)<br />

[as células transitórias] po<strong>de</strong>m [ainda] inibir as células „permanentes‟: as<br />

primeiras seriam, pois, uma espécie <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> alarme e as segundas, um<br />

instrumento analítico”. (id., 1993, p. 34)<br />

Há, portanto, duas maneiras distintas do sistema visual reagir aos estímulos<br />

luminosos, aos quais Aumont faz menção: uma resposta lenta e uma resposta rápida. A<br />

resposta lenta po<strong>de</strong> ser observada, por exemplo, quando o sistema visual encontra-se<br />

exposto a uma fonte <strong>de</strong> luz muito intensa que, no entanto, perdura por um período <strong>de</strong><br />

tempo muito curto. O efeito <strong>de</strong> acumulação faz com que essa informação luminosa perdure<br />

ainda por mais algum tempo, mesmo após o estímulo que lhe <strong>de</strong>u origem ter sido<br />

interrompido. Em um outro exemplo, a resposta lenta po<strong>de</strong> ainda promover um outro efeito<br />

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