06.06.2013 Views

Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

epresentação; no entanto, ela remete a algo que sabemos que foi real. Ela nos traz <strong>de</strong> volta<br />

ao olhar um pedaço do real que agora é passado. É a evidência <strong>de</strong>sse vínculo existencial<br />

entre a imagem fotográfica e o real o que violenta tanto o público, o que o assombra. Um<br />

vínculo que não po<strong>de</strong> ser negado. 21 É esse vínculo que confere à imagem fotográfica um<br />

dom particular <strong>de</strong> se apresentar como um documento, como uma prova. Como assinala<br />

Barthes (1984), ele confere um valor jurídico à fotografia. Há, nessa imagem, uma<br />

proximida<strong>de</strong> entre o real e a representação; mais que uma proximida<strong>de</strong>, um ponto <strong>de</strong><br />

contato. Concomitante a isso, ela reafirma a distância real entre o referente da imagem e o<br />

público que se encontra diante <strong>de</strong>la, o spectator (Barthes, op. cit., passim). É a tensão que<br />

tanto dilacera Barthes (1984). A “ferida” em imagem. Na imagem cinematográfica, por<br />

outro lado, algo <strong>de</strong> diferente se estabelece. Também ela apresenta esse vínculo com o real<br />

ao qual ela remete em sua própria gênese. No entanto, esse vínculo ganha novos traços. Ele<br />

adquire um novo valor. Pois a possibilida<strong>de</strong> do movimento, a expressão do <strong>de</strong>vir na<br />

imagem, acaba por oferecer a ela uma autonomia muito maior perante esse real ao qual se<br />

encontra inegavelmente vinculada. A inscrição do real na imagem mutável é muito mais<br />

intensa, pois o movimento do real ganha expressão na imagem; mas essa nova qualida<strong>de</strong><br />

da imagem, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se transformar, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se transmutar, acaba por lhe oferecer maior<br />

autonomia perante o real ao qual ela remete, na medida em que passa a se apresentar para o<br />

público como uma outra realida<strong>de</strong>, uma realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra natureza, possuidora <strong>de</strong> uma<br />

duração própria. Há, na imagem cinematográfica, uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolamento do real<br />

que <strong>de</strong>u lhe origem. Ela parece adquirir vida própria. 22 Ela passa a expressar, na verda<strong>de</strong>,<br />

21 Talvez até se consiga atenuar essa evidência em casos particulares. Penso aqui, por exemplo, em alguns<br />

anúncios publicitários, nos quais há uma tendência em se amenizar esse traço essencial da imagem<br />

fotográfica . No entanto, ele não po<strong>de</strong> ser totalmente apagado na imagem; ele faz parte <strong>de</strong> um saber, <strong>de</strong> um<br />

arché, caso se prefira utilizar um termo cunhado por Schaeffer (1987).<br />

22 O poeta russo Máximo Gorki nos <strong>de</strong>ixou um relato interessante das impressões que essa imagem lhe<br />

causou, ao presenciar umas <strong>de</strong> suas primeiras aparições, em fins do século XIX: “Ontem à noite, eu estava no<br />

Reino das Sombras. (...) Quando as luzes se apagam, na sala on<strong>de</strong> nos mostram a invenção dos irmãos<br />

Lumière, uma gran<strong>de</strong> imagem cinza – sombra <strong>de</strong> uma má gravura – aparece, <strong>de</strong> repente, na tela; é Une rue <strong>de</strong><br />

Paris (Uma rua <strong>de</strong> Paris). Examinando-a, vêem-se automóveis, edifícios, pessoas, todos imóveis; pressupõese,<br />

então, que esse espetáculo nada trará <strong>de</strong> novo: vista <strong>de</strong> Paris que já vimos várias vezes? E, <strong>de</strong> repente, um<br />

curioso clique parece se produzir na tela: a imagem nasce para a vida. Os automóveis, que estavam ao fundo<br />

da imagem, vêm direto sobre você. Em alguma parte longínqua, pessoas aparecem, e quanto mais se<br />

aproximam, mais crescem. No primeiro plano, crianças brincam com um cachorro, ciclistas passam e<br />

pe<strong>de</strong>stres procuram atravessar a rua. Tudo isso se agita, tudo respira vida e, <strong>de</strong> repente, tendo atingido o<br />

limite da tela, <strong>de</strong>saparece não se sabe para on<strong>de</strong>. (...) Seus movimentos são plenos <strong>de</strong> energia vital e tão<br />

rápidos que mal são percebidos (...) Uma vida nasce em sua frente, uma vida privada do som e do espectro<br />

das cores (...) A gente termina por ficar perturbado e <strong>de</strong>primido por essa vida silenciosa e cinzenta. Acreditase<br />

que ela quer dar qualquer aviso e que ela o envolve num incerto significado sinistro; isso enfraquece o<br />

67

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!