Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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partes mais leves <strong>de</strong> algum corpo maior. A variação da luz entre áreas mais claras e mais<br />
escuras que se alternam e se transmutam. A alteração visual promovida na figura <strong>de</strong> um<br />
corpo físico que, diante da ação <strong>de</strong> uma brisa, apresentaria algumas partes a se moverem<br />
aleatoriamente com mais intensida<strong>de</strong> do que outras, supostamente mais pesadas e<br />
resistentes a ela. A própria fonte <strong>de</strong> luz po<strong>de</strong> se tornar intermitente na realida<strong>de</strong> diante da<br />
câmera. A brisa po<strong>de</strong> se transformar em vento. O vento em vendaval. Algo po<strong>de</strong> explodir<br />
<strong>de</strong> um momento para outro na imagem. Algo surpreen<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> surgir <strong>de</strong> repente. O<br />
movimento aleatório inerente à matéria po<strong>de</strong> adquirir mesmo um tom assustador. Ele po<strong>de</strong><br />
gerar na imagem, por si só, um clima <strong>de</strong> suspense, quando se intensifica nela a<br />
possibilida<strong>de</strong> do imprevisível, do porvir absolutamente aberto ao acaso. O <strong>de</strong>vir da matéria<br />
ganha, portanto, visibilida<strong>de</strong> na imagem cinematográfica pelos instantâneos fotográficos<br />
que se suce<strong>de</strong>m na película. Um <strong>de</strong>vir que, na verda<strong>de</strong>, remete à realida<strong>de</strong> que esteve<br />
diante da câmera; que remete, portanto, ao real.<br />
O movimento que a imagem cinematográfica será capaz <strong>de</strong> apresentar vai além,<br />
portanto, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer com que as formas se transfigurem, <strong>de</strong> fazer com que<br />
figuras se <strong>de</strong>sloquem no espaço da representação. Nos <strong>de</strong>senhos animados, por exemplo,<br />
as figuras se movem, há uma transformação aparente da imagem; no entanto, não há<br />
vínculo existencial entre esse movimento que se expressa na imagem e o movimento do<br />
real, o movimento da matéria; a própria aparência da imagem po<strong>de</strong> se assemelhar às<br />
aparências do real, em um grau elevado <strong>de</strong> analogia, sem, no entanto, apresentar nenhum<br />
vínculo existencial com ele. Não é o que ocorre, contudo, com as fotografias animadas.<br />
Nelas, há algo que emana do real, como o brilho <strong>de</strong> uma estrela que nos chega atrasado,<br />
algo que escapa a qualquer artifício técnico, a qualquer recurso <strong>de</strong> linguagem. Essa<br />
capacida<strong>de</strong> das fotografias animadas <strong>de</strong> expressar um movimento que emana do real, <strong>de</strong><br />
apontar para um tempo absolutamente objetivo, ela origina-se, na verda<strong>de</strong>, do modo como<br />
a imagem se inscreve na película, do seu modo <strong>de</strong> materialização. Como diria Bazin<br />
(1983), ela se sustenta na própria ontologia da imagem. Pois se a materialida<strong>de</strong> da imagem<br />
cinematográfica se concentra nos instantâneos fotográficos que se enfileiram na película,<br />
ela está vinculada existencialmente ao real que lhes <strong>de</strong>u origem, como um rastro da luz que<br />
<strong>de</strong>ixou vestígios no negativo em forma <strong>de</strong> imagem. Um vínculo existencial que não po<strong>de</strong><br />
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