Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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„revelar uma foto‟, mas o que a ação química revela é o irrevelável, uma essência (<strong>de</strong><br />
ferida)”.( ibi<strong>de</strong>m, p. 78) Um traço <strong>de</strong> real que o processo químico permite que se inscreva<br />
em imagem. Um real, contudo, que, em imagem, não po<strong>de</strong> mais “transformar-se, mas<br />
apenas repetir-se sob as espécies da insistência (o olhar insistente)” (ibi<strong>de</strong>m, p. 78)<br />
E por que razão Barthes se esforçaria tão arduamente por investigar sobre o<br />
punctum na imagem? On<strong>de</strong> (nos) levaria a busca por esse traço <strong>de</strong> real, por essa “ferida” ?<br />
É ele mesmo quem parece nos dar a resposta: “O que preciso <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r é meu direito<br />
político <strong>de</strong> ser um sujeito” (ibi<strong>de</strong>m, p. 29) Talvez seja esse motivo que transcenda sua<br />
questão pessoal e nos envolva a todos. Nesse traço <strong>de</strong> real que transcen<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong><br />
visível, nesse indizível, talvez encontremos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser sujeito. 15<br />
Diante da “contra-lembrança” 16 da fotografia, não há “nada a dizer, [senão] fechar<br />
os olhos, <strong>de</strong>ixar o „<strong>de</strong>talhe‟ remontar sozinho à consciência afetiva” (Barthes, op.cit., p.<br />
84), pois, como ele mesmo nos diz, “a insignificância ligeira da linguagem, a suspensão<br />
das imagens, <strong>de</strong>via ser o espaço mesmo do amor, sua música”. (ibi<strong>de</strong>m, p. 108) “O que a<br />
ação química <strong>de</strong>senvolve é o in<strong>de</strong>senvolvível, uma essência (<strong>de</strong> ferida), o que não po<strong>de</strong><br />
transformar-se, mas apenas repetir-se sob as espécies da insistência (do olhar insistente)”<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 78).<br />
Philippe Dubois, contudo, questiona essa ênfase dada à “objetivida<strong>de</strong> essencial” da<br />
imagem fotográfica”, tanto em Bazin (1983), quanto em Barthes (1984):<br />
“o <strong>de</strong>slocamento que assim se opera leva à conclusão <strong>de</strong> que, na postura<br />
ontofenomenológica, a semelhança <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um critério pertinente: a<br />
imagem fotográfica vale aí antes <strong>de</strong> tudo como um vestígio <strong>de</strong> um „isso foi‟<br />
(Barthes), como um tipo <strong>de</strong> moldagem do mundo visível (Bazin), antes <strong>de</strong> ser<br />
reprodução fiel das aparências.” (Dubois, 1999, p. 75)<br />
Mesmo no caso do cinema, essa suposta “objetivida<strong>de</strong>” da imagem, seja ela<br />
sugerida pela configuração da imagem em perspectiva, seja ela enfatizada pela utilização<br />
da câmera como “máquina <strong>de</strong> registro”, ela é, contudo, questionada por vários autores que<br />
15 Compreen<strong>de</strong>mos aqui não mais o sujeito da consciência, aquele que percebe a realida<strong>de</strong> visível, que tece<br />
juízos, mas aquilo que Lacan (1988) <strong>de</strong>fine como “sujeito do inconsciente”; um sujeito errante, intersticial.<br />
Talvez só através <strong>de</strong>le possamos ser afetados por essa “ferida”. Daí a importância <strong>de</strong> sua inscrição na<br />
imagem.<br />
16 “Não somente a foto jamais é, em essência, uma lembrança (cuja expressão gramatical seria o perfeito, ao<br />
passo que o tempo da foto é antes o aoristo), mas também ela a bloqueia, torna-se rapidamente uma contralembrança.”<br />
(Barthes, 1984, p. 136)<br />
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