06.06.2013 Views

Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

está morta. A fotografia afirma, a um só golpe, a proximida<strong>de</strong> e a distância entre o<br />

spectator e o referente da imagem. O “complexo da múmia” (Bazin, 1983) não conseguiu,<br />

por fim, vencer a morte, sobreviver à ação avassaladora e indiferente do tempo. Eis a<br />

gran<strong>de</strong> “ferida” que a imagem fotográfica lança a Roland Barthes, “como uma flecha”.<br />

“Dizem que o luto, por seu trabalho progressivo, apaga lentamente a dor; eu<br />

não podia acreditar nisso; pois, para mim, o Tempo elimina a emoção da<br />

perda (não choro), isso é tudo. Quanto ao resto, tudo permaneceu imóvel.<br />

Pois o que perdi não é uma Figura (a mãe), mas um ser ; e não um ser, mas<br />

uma qualida<strong>de</strong> (uma alma): Não a indispensável, mas a insubstituível. Eu<br />

podia viver sem a Mãe (todos vivemos, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>); mas a vida<br />

que me restava seria infalivelmente e até o fim inqualificável (sem<br />

qualida<strong>de</strong>).” (Barthes, op. cit., p.113)<br />

Pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter escrito seu último trabalho, Roland Barthes morreria,<br />

vítima <strong>de</strong> um atropelamento. Antes porém, o afeto o levaria a investigar sobre esse “traço<br />

fundamental” da fotografia. O punctum da imagem. O real que transcen<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong><br />

visível. O indizível. O <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> uma “ferida” que se espalha por toda a imagem,<br />

rompendo sua unida<strong>de</strong>. Esse real ao qual o punctum <strong>de</strong>finido por Barthes remete aproxima-<br />

se, na verda<strong>de</strong>, do conceito <strong>de</strong> “duração” em Bergson (1990), ou seja, aquilo que não po<strong>de</strong><br />

ser apreendido pela inteligência, mas apenas intuído: a intuição do tempo. Um modo muito<br />

peculiar <strong>de</strong> perceber o tempo real que gera afetos no ser humano: “estados afetivos” que<br />

po<strong>de</strong>m mesmo nunca vir a ser conhecidos pela consciência, produzindo o que ele <strong>de</strong>fine<br />

como “memória”. Percebemos em Barthes a compreensão <strong>de</strong> que esse real, ao qual o<br />

punctum remete, correspon<strong>de</strong> tanto ao real que ficou inscrito na imagem – o real que está<br />

fora do spectator – , quanto ao próprio real que o spectator traz consigo – que está <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>le; ou seja, a memória que se atualiza perante a imagem que o punge. Na verda<strong>de</strong>, esse<br />

real que diz respeito ao punctum não po<strong>de</strong> mais ser compreendido em termos espaciais. Ele<br />

não está nem <strong>de</strong>ntro nem fora <strong>de</strong> nada. Não há mais a dicotomia<br />

exteriorida<strong>de</strong>/interiorida<strong>de</strong>. Ele pertence a uma outra dimensão do real na qual não se<br />

distingue mais sujeito e objeto: a dimensão temporal. “A própria foto não é nada animada<br />

(não acredito nas fotos vivas) mas ela me anima: é o que toda aventura produz.” (ibi<strong>de</strong>m,<br />

p. 36) Aquilo que Barthes chama <strong>de</strong> real remete, enfim, tanto ao real, quanto à memória,<br />

virtual, <strong>de</strong>finidos por Bergson.<br />

Voltaremos a tratar <strong>de</strong>ssa questão, quando nos <strong>de</strong>teremos com mais acuida<strong>de</strong> nos<br />

conceitos <strong>de</strong>finidos por Bergson. No momento, cabe-nos concluir que os processos<br />

químicos conferem à imagem fotográfica o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> “revelar” um traço do real: “Diz-se<br />

58

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!