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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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“(...) algumas [fotografias] provocavam em mim pequenos júbilos, como se<br />

estas remetessem a um centro silenciado, um bem erótico ou dilacerante,<br />

enterrado em mim mesmo (por mais bem comportado que aparentemente<br />

fosse o tema); e outras, ao contrário, me eram <strong>de</strong> tal modo indiferentes, que à<br />

força <strong>de</strong> vê-las se multiplicarem, como erva daninha, eu sentia em relação a<br />

elas uma espécie <strong>de</strong> aversão, <strong>de</strong> irritação mesmo (...).” (Barthes, op. cit., p.<br />

32 et seq.)<br />

Mas o que é afinal o punctum? Se ele não se confun<strong>de</strong> com a realida<strong>de</strong> visível<br />

representada na imagem, se não correspon<strong>de</strong> àquilo que po<strong>de</strong>mos reconhecer nela, o que é<br />

então essa “ferida”? Barthes nos diz que “não é possível estabelecer uma regra <strong>de</strong> ligação<br />

entre o studium e o punctum (quando ele está presente); trata-se <strong>de</strong> uma co-presença.”<br />

(ibi<strong>de</strong>m, p. 68), que “o punctum conforma-se com uma certa latência, mas jamais com<br />

qualquer exame”. (ibi<strong>de</strong>m, p. 84) Em vários trechos <strong>de</strong> sua obra, ele se refere ao punctum<br />

como um “<strong>de</strong>talhe” na imagem “que parte da cena, como uma flecha, e vem me traspassar<br />

[a ele, Barthes].” (ibi<strong>de</strong>m, p. 49) E, “ao mesmo tempo em que permanece um „<strong>de</strong>talhe‟,<br />

preenche toda a fotografia.” (ibi<strong>de</strong>m, p. 73)<br />

“(...) o <strong>de</strong>talhe que me interessa não é, ou pelo menos não é rigorosamente,<br />

intencional, e provavelmente não é preciso que o seja; ele se encontra no<br />

campo da coisa fotografada como um suplemento ao mesmo tempo<br />

inevitável e gracioso; ele não atesta obrigatoriamente a arte do fotógrafo; ele<br />

diz apenas ou que o fotógrafo se encontrava lá, ou, <strong>de</strong> maneira mais simplista<br />

ainda, que ele não podia fotografar o objeto parcial ao mesmo tempo que o<br />

objeto total‟. (ibi<strong>de</strong>m, p. 76)<br />

Esse „<strong>de</strong>talhe‟ diz respeito ao referente da imagem. É um traço do real que ficou<br />

inscrito na imagem pelos processos químicos que lhes <strong>de</strong>ram origem. Mas um traço que<br />

não se confun<strong>de</strong> com a aparência visível do real. Pois, segundo Barthes, ele é “indizível”.<br />

Não se submete a nenhum processo <strong>de</strong> codificação. Não se transforma em signo.<br />

Permanece como real, apesar <strong>de</strong> estar ali presente na imagem. “Na foto, a presença da<br />

coisa jamais é metafórica.” (ibi<strong>de</strong>m, p. 118) Por isso mesmo, incomoda; “intensifica” a<br />

imagem, “fere” seu apreciador. Pois, como afirma o autor, “o que posso nomear não po<strong>de</strong>,<br />

na realida<strong>de</strong>, me ferir. A impotência para nomear é um bom sintoma <strong>de</strong> distúrbio”.<br />

(ibi<strong>de</strong>m, p. 80)<br />

Já ao final <strong>de</strong> sua obra, ele dá um passo adiante, fundamental em suas reflexões, e<br />

que ten<strong>de</strong> a ser negligenciado, ou mal compreendido, por seus interlocutores: “existe um<br />

outro punctum, que não é mais <strong>de</strong> forma, mas <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>, é o tempo, é a ênfase<br />

dilaceradora do noema „isso foi‟, sua representação pura.” (ibi<strong>de</strong>m, p. 141)<br />

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