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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Na imagem, a expressão <strong>de</strong> sua temporalida<strong>de</strong>. 7 Talvez essa seja, <strong>de</strong> fato, a “objetivida<strong>de</strong><br />

essencial” da imagem cinematográfica: sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar o tempo, o <strong>de</strong>vir da<br />

matéria. Um tempo que não se confundiria com a subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> personagem algum<br />

enquanto causa, mas que se apresentaria ali, na imagem, enquanto puro movimento da<br />

matéria: a mesma coisa diante do nosso olhar, transformando-se na tela pela passagem do<br />

tempo. Em última instância, o real.<br />

Não cabe aqui, contudo, aprofundarmo-nos nessa questão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> tal perspectiva.<br />

Tal iniciativa transcen<strong>de</strong>ria em muito o objetivo do presente trabalho, na media em que<br />

abordaria a imagem cinematográfica a partir da análise <strong>de</strong> sistemas textuais específicos,<br />

estruturados sobretudo a partir do recurso à montagem. E esta evi<strong>de</strong>ntemente não é nossa<br />

proposta atual. Tal <strong>de</strong>bate fica proposto aqui, então, como um caminho possível <strong>de</strong><br />

investigação, a ser <strong>de</strong>senvolvido em uma outra oportunida<strong>de</strong>. O que nos moveu até este<br />

ponto <strong>de</strong> nossas reflexões, contudo, foi o interesse em investigar os traços fundamentais<br />

<strong>de</strong>ssa imagem. Ao chegar a este ponto, pu<strong>de</strong>mos constatar, portanto, que o código visual<br />

renascentista, encontrado em várias imagens pictóricas, perpetua-se nas imagens<br />

fotográfica e cinematográfica, por meio dos processos óticos que ocorrem no interior da<br />

câmera. E, no caso da imagem cinematográfica, o surgimento <strong>de</strong> novos procedimentos <strong>de</strong><br />

linguagem ten<strong>de</strong> a intensificar os efeitos, visuais e imaginários, que já eram obtidos com a<br />

aplicação da perspectiva – muito embora tais efeitos sugeridos pela configuração do espaço<br />

em perspectiva possam vir a ser subvertidos em sistemas textuais particulares.<br />

A noção <strong>de</strong> sujeito que sustenta toda imagem configurada em perspectiva ganha,<br />

portanto, novas dimensões na imagem cinematográfica, quando a ela são agregados novos<br />

recursos <strong>de</strong> linguagem. Nos sistemas textuais <strong>de</strong> estrutura narrativa clássica, essa noção<br />

fundamenta a elaboração <strong>de</strong> imagens que, em última instância, po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas<br />

como subjetivas, na medida em que são vinculadas à subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um ou mais<br />

personagens da ficção. Po<strong>de</strong>mos inferir, então, que esse suposto olhar <strong>de</strong> um sujeito i<strong>de</strong>al,<br />

pressuposto em toda imagem configurada em perspectiva, dá origem a uma noção<br />

7 Penso aqui nas propostas estéticas <strong>de</strong> André Bazin (1991), ao atentar para o cuidado que o realizador<br />

<strong>de</strong>veria ter na aplicação <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> montagem, em vistas <strong>de</strong> se evitar intervenções na expressão própria<br />

<strong>de</strong>ssa imagem realista com recursos que lhe promoveriam um sentido artificial, construído, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong><br />

outros, mais ambíguos, que po<strong>de</strong>riam emanar da própria imagem, minimizando nela a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

expressar algo que se originaria da própria realida<strong>de</strong> que ela conseguiu captar, esquivando-se, enfim, daquilo<br />

que Bazin compreen<strong>de</strong> como sendo o que há <strong>de</strong> específico <strong>de</strong>ssa imagem: seu vínculo com o real, garantido<br />

pela ontologia da fotografia.<br />

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