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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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sua verda<strong>de</strong>ira fonte <strong>de</strong> sentido. Dayan (1985, p. 112) comenta, enfim, sobre a “tirania”<br />

<strong>de</strong>sse sistema perceptivo específico que Oudart (1969) <strong>de</strong>tectou na imagem<br />

cinematográfica: “„O sistema <strong>de</strong> sutura‟ <strong>de</strong>srespeita sistematicamente a liberda<strong>de</strong> do<br />

espectador, interpretando, <strong>de</strong> fato, remo<strong>de</strong>lando sua memória.”<br />

Não preten<strong>de</strong>mos aqui, contudo, abordar esse “sistema <strong>de</strong> sutura” como algo ruim<br />

em si mesmo, contra o qual <strong>de</strong>vemos resistir, ou lutar. Uma tal visão maniqueísta não nos<br />

levaria a lugar algum, a não ser ao lugar da oposição contra o “sistema”. 4 Na verda<strong>de</strong>, ele é<br />

um mecanismo <strong>de</strong> linguagem extremamente sofisticado, que levou anos para ser<br />

aperfeiçoado e chegar ao ponto em que nos encontramos agora a analisar. Deve-se<br />

reconhecer que ele respon<strong>de</strong> com bastante sucesso ao difícil problema <strong>de</strong> restauração <strong>de</strong><br />

uma nova configuração espacial para a imagem cinematográfica, capaz <strong>de</strong> orientar o<br />

movimento da percepção do público em sua exploração, sem que se perca, sem que se<br />

confunda, sem que se sinta confuso e <strong>de</strong>sorientado em um arranjo precário do espaço;<br />

capaz ainda <strong>de</strong> estabelecer alguma unida<strong>de</strong> à representação como um todo. Pois, por si só,<br />

a unida<strong>de</strong> não é algo ruim. Ela ten<strong>de</strong> mesmo a ser buscada por artistas <strong>de</strong> diferentes tipos<br />

<strong>de</strong> imagens, quando tentam encontrar soluções formais em suas representações. Na<br />

verda<strong>de</strong>, o que parece comprometer o “sistema <strong>de</strong> sutura” é sua tendência a fechar a<br />

produção <strong>de</strong> sentido para um único eixo. Um contra-peso para essa tendência, po<strong>de</strong>ria ser<br />

conseguido, por hipótese, com a intensificação <strong>de</strong> planos que não mais se subordinariam ao<br />

olhar <strong>de</strong> um personagem, momentos da trama nos quais a imagem pu<strong>de</strong>sse se <strong>de</strong>scolar<br />

<strong>de</strong>sse sistema <strong>de</strong> ligações imaginárias e adquirir um valor autônomo. 5 O “lugar” do<br />

observador i<strong>de</strong>al voltaria, então, a ficar vazio, <strong>de</strong>ixando o sujeito-causa <strong>de</strong> sentido e or<strong>de</strong>m<br />

à imagem – em última instância, o sujeito-causa da imagem – livre para ser assumido ora<br />

por seu produtor, ora pelo espectador. Ao invés da imagem fazer sentido pelo sujeito-<br />

causa, é o sujeito-causa que passaria a fazer sentido pela imagem; por meio <strong>de</strong> um olhar<br />

4 Na verda<strong>de</strong>, tal modo <strong>de</strong> articular o código cinematográfico já foi bastante criticado, sobretudo entre os<br />

anos sessenta e setenta, quando vários teóricos franceses (<strong>de</strong>ntre eles Silvie Pierre e Jean Louis Commoli), se<br />

dissociaram da abordagem fenomenológica – , na qual se <strong>de</strong>stacava André Bazin – para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um cinema<br />

revolucionário que explicitasse a manipulação da matéria fílmica. Através da revista Cinéthique, eles<br />

estimularam vários cineastas a realizar filmes que rompessem a aparente continuida<strong>de</strong> da imagem através <strong>de</strong><br />

uma revalorização da montagem. Como resultado, vários filmes foram realizados em resposta a essa nova<br />

postura política diante da própria linguagem articulada pelo cinema. Na França, a Nouvelle Vague (Godard),<br />

as experiências <strong>de</strong> vanguarda americana, e mesmo no Brasil algumas obras do Cinema Novo (Glauber Rocha)<br />

e do cinema in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (Bressane, Sganzerla) são alguns <strong>de</strong>staques <strong>de</strong>ssa época.<br />

5 Penso aqui em uma alternativa para a articulação do código, sem que seja necessário romper a unida<strong>de</strong> a<br />

imagem, sem que sejamos levados, portanto, a torná-la obscura.<br />

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