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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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verda<strong>de</strong>, a sucessão cinematográfica das imagens ameaça interromper ou mesmo expor e<br />

<strong>de</strong>struir o sistema <strong>de</strong> representação que orienta o sistema estático da pintura e da<br />

fotografia” (Dayan, 1985, p. 107). Como se sabe, foram necessários muitos anos para que<br />

os produtores <strong>de</strong>ssa imagem conseguissem <strong>de</strong>senvolver técnicas <strong>de</strong> linguagem que fossem<br />

capazes <strong>de</strong> restabelecer a unida<strong>de</strong> a esse espaço da representação que tendia, então, a se<br />

fragmentar com essa variação do ponto <strong>de</strong> vista. E esse esforço se fazia realmente<br />

premente, pois sem um espaço com orientações precisas <strong>de</strong> posicionamento, sem uma<br />

organização bem <strong>de</strong>finida para ele, o público tendia a ficar <strong>de</strong>sorientado. O que se<br />

consegue engendrar, ao longo dos anos, são recursos <strong>de</strong> linguagem capazes <strong>de</strong> restabelecer<br />

a unida<strong>de</strong> e a or<strong>de</strong>m ao espaço da representação por meio <strong>de</strong> uma aparente continuida<strong>de</strong>,<br />

fundada, sobretudo em jogos <strong>de</strong> olhares. Esses recursos <strong>de</strong> linguagem são muito<br />

encontrados, hoje em dia, no cinema <strong>de</strong> narrativa clássica. Eles se sustentam em uma<br />

lógica <strong>de</strong> funcionamento própria à imagem cinematográfica, gerando um sistema semiótico<br />

próprio; aquele que Oudart (1969) <strong>de</strong>fine como “sistema <strong>de</strong> sutura”, promovendo, então,<br />

um novo “esquema perceptivo” (Schefer, 1969, passim).<br />

Os jogos <strong>de</strong> olhares seriam então articulados <strong>de</strong> modo a neutralizar esse efeito <strong>de</strong><br />

fragmentação do espaço e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sorientação gerados no público pela multiplicação dos<br />

pontos <strong>de</strong> vista na imagem. Para tanto, tentava-se articular esses vários pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />

modo a reunificá-los em um ponto <strong>de</strong> vista único mais abstrato; uma espécie <strong>de</strong> resultante<br />

dos vários pontos <strong>de</strong> vista que compõem a imagem. Uma noção abstrata <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> vista<br />

móvel, capaz <strong>de</strong> se colocar em diferentes posições no espaço da representação, o qual<br />

passaria, então, a ser compreendido como um espaço homogêneo, unificado. Assim como<br />

na pintura renascentista e na imagem fotográfica, o espaço da representação, na imagem<br />

cinematográfica, voltaria a ser percebido como um espaço contínuo e organizado. A<br />

diferença se encontraria justamente nessa mobilida<strong>de</strong> que o sujeito i<strong>de</strong>al – “o ausente” –<br />

adquiriria <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espaço. Uma mobilida<strong>de</strong> que, na verda<strong>de</strong>, viria a ampliar a<br />

impressão <strong>de</strong> potência <strong>de</strong>sse sujeito i<strong>de</strong>al, que passaria agora a po<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>slocar no espaço<br />

por uma espécie <strong>de</strong> salto virtual promovido pelo <strong>de</strong>slocamento da câmera <strong>de</strong> um lugar para<br />

outro. A mobilida<strong>de</strong> da câmera – já <strong>de</strong>tectada pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> real do<br />

equipamento <strong>de</strong> filmagem (os movimentos <strong>de</strong> câmera) – é, assim, ampliada pelos recursos<br />

<strong>de</strong> montagem.<br />

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