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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Po<strong>de</strong>-se inferir, ainda, que esse “sistema <strong>de</strong> representação”, por <strong>de</strong>ixar o espectador<br />

<strong>de</strong> fora e ao mesmo tempo permitir-lhe a<strong>de</strong>ntrar o olhar 3 , estimula nele o prazer <strong>de</strong> ver sem<br />

ser visto, perceber sem ser percebido, invadir aquele espaço sem correr nenhum perigo<br />

real. Contudo, no caso das pinturas renascentistas, essa dupla condição do espectador não o<br />

permite envolver-se na trama textual a ponto <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r a noção <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>; ou seja, ele<br />

não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter consciência <strong>de</strong> que, na verda<strong>de</strong>, o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele olha a cena é aquele<br />

espaço real no qual seu corpo se encontra localizado. O prazer ocasionado por sua<br />

i<strong>de</strong>ntificação com aquele lugar do sujeito i<strong>de</strong>al, do “ausente”, é contrabalançado pelos<br />

limites do quadro, pela moldura, que lhe lembram constantemente que ali on<strong>de</strong> a<br />

representação <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter visibilida<strong>de</strong> está o espaço real. Como o olhar do apreciador da<br />

imagem atua nesse nível implícito, ele, ao mesmo tempo, percebe-se <strong>de</strong>ntro da<br />

representação, pela extensão do seu olhar por esse olho i<strong>de</strong>al, e fora <strong>de</strong>la, por informações<br />

que seu corpo como um todo lhe dá; informações que lhe permitem distinguir o mundo real<br />

do mundo ficcional. A imagem configurada em perspectiva coloca, enfim, o apreciador da<br />

imagem nesse limiar entre a ficção e a realida<strong>de</strong>, permite-lhe vivenciar essa dupla<br />

condição, inebriar-se com a imagem pelos vôos da imaginação, mas não consegue retirar<br />

<strong>de</strong>le a noção <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. O público sabe que, na verda<strong>de</strong>, está diante <strong>de</strong> uma<br />

representação.<br />

No caso na imagem cinematográfica, por outro lado, algo novo acontece. Os<br />

recursos <strong>de</strong> montagem <strong>de</strong>senvolvidos ao longo dos anos <strong>de</strong> convivência com essa imagem<br />

permitiram o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> outro sistema semiótico, <strong>de</strong>rivado daquele “sistema <strong>de</strong><br />

representação clássica” já <strong>de</strong>tectado por Oudart (1969) nas pinturas renascentistas. Um<br />

sistema semiótico capaz <strong>de</strong> intensificar a impressão <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> na imagem e minimizar,<br />

no público, esse distanciamento necessário perante a imagem. Esse novo arranjo textual da<br />

imagem é <strong>de</strong>finido por esse teórico da imagem como “sistema do ausente”, ou “sistema <strong>de</strong><br />

sutura”. Vejamos, então, como ele funciona.<br />

O recurso <strong>de</strong> montagem da imagem cinematográfica em vários planos diversifica a<br />

posição <strong>de</strong>sse “olhar i<strong>de</strong>al”. O espaço da representação se fragmenta, portanto, em vários<br />

pontos <strong>de</strong> vista sobre ele. Com isso, ele ten<strong>de</strong> a per<strong>de</strong>r sua unida<strong>de</strong>, garantida até então<br />

pelo “sistema <strong>de</strong> representação” da pintura renascentista, no qual o lugar do sujeito i<strong>de</strong>al,<br />

do “ausente”, mantinha-se fixo em um único ponto, e <strong>de</strong>finia, portanto, sua or<strong>de</strong>m. “Na<br />

3 “No cinema, eu estou ao mesmo tempo na ação e fora <strong>de</strong>la, neste espaço e fora <strong>de</strong>ste espaço. Tendo o dom<br />

da ubiqüida<strong>de</strong>, estou em toda parte e em parte nenhuma.” (Mitry, 1965, Tomo I, pág. 179)<br />

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