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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Nós vimos que a organização das formas no espaço configurado em perspectiva<br />

pressupõe uma noção <strong>de</strong> olhar i<strong>de</strong>al que se esten<strong>de</strong>ria para o fundo do quadro. Ele se<br />

ampliaria nessa ilusória profundida<strong>de</strong> espacial, culminando no ponto <strong>de</strong> fuga; esse ponto<br />

fixo do código visual que, em última instância, remete a um espaço que se expan<strong>de</strong> ao<br />

infinito, e que, portanto, não po<strong>de</strong> mais ser representado na imagem senão como esse ponto<br />

on<strong>de</strong> as retas convergem. Pois bem, esse olhar i<strong>de</strong>al, ao se esten<strong>de</strong>r ao infinito, apresenta-<br />

se como um olhar todo-po<strong>de</strong>roso, que atravessa o espaço em profundida<strong>de</strong>. E seu po<strong>de</strong>r se<br />

sustenta justamente no fato <strong>de</strong> apresentar-se como fonte principal <strong>de</strong> referência e sentido<br />

na organização e hierarquia <strong>de</strong>sse mesmo espaço, pois é por meio <strong>de</strong> seu posicionamento<br />

que se estabelece o enquadramento em perspectiva. Ele está, portanto, intimamente<br />

vinculado ao ponto <strong>de</strong> fuga que <strong>de</strong>fine a configuração da imagem em perspectiva.<br />

Uma imagem em perspectiva pressupõe, portanto, esse posicionamento no espaço<br />

<strong>de</strong> um sujeito i<strong>de</strong>al a olhar a cena como fonte <strong>de</strong> sentido e or<strong>de</strong>m para a imagem. Como<br />

vários autores já salientaram, <strong>de</strong>ntre eles Erwin Panofsky (1975) e Arlindo Machado<br />

(1984), o enquadramento em perspectiva traz implícita em sua própria constituição essa<br />

noção particular <strong>de</strong> “sujeito”, cuja “centralida<strong>de</strong>” faz <strong>de</strong>le a fonte <strong>de</strong> sentido e or<strong>de</strong>m para<br />

um mundo que se passa a se hierarquizar e se organizar a partir <strong>de</strong>le. Muito embora essa<br />

noção não apareça na imagem com formas explícitas, ela está presente implicitamente na<br />

própria configuração formal da imagem; no código que a sustenta, portanto. O que vale<br />

aqui ressaltar, contudo, é que, quando a imagem, já acabada, se disponibiliza para o<br />

público, esse lugar i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> um suposto sujeito a olhar a cena representada transforma-se<br />

em condição básica <strong>de</strong> leitura. Pois a imagem só faz sentido ao seu apreciador quando ele<br />

subenten<strong>de</strong> seu olhar ao olhar <strong>de</strong>sse sujeito i<strong>de</strong>al. O público po<strong>de</strong> mesmo não ter<br />

consciência <strong>de</strong>sse mecanismo, mas ele precisa participar <strong>de</strong>sse jogo <strong>de</strong> olhares e ativar a<br />

função <strong>de</strong>sse olho i<strong>de</strong>al para que o código funcione e produza o efeito visual e semântico<br />

que é esperado à imagem. E o único modo do apreciador da imagem ativar esse olhar i<strong>de</strong>al,<br />

o modo <strong>de</strong> dar-lhe vida, é acoplar à imagem o seu próprio olhar.<br />

Esse <strong>de</strong>slizamento do olhar do público sobre a imagem, muitas vezes sem que ele<br />

se dê conta do código que articula tão naturalmente, não se opera, portanto, sem que o<br />

ponto <strong>de</strong> vista i<strong>de</strong>al seja acionado, sem que seja reconhecido como tal. Pois é nele que o<br />

olhar do apreciador se acopla para que a imagem surja configurada como tal. E é também<br />

por meio <strong>de</strong>le que ocorre a passagem da realida<strong>de</strong> à ficção. Nesse sentido, com esse<br />

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