Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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Do ponto <strong>de</strong> fuga ao ponto <strong>de</strong> vista: o sujeito transcen<strong>de</strong>ntal<br />
Quando os <strong>de</strong>senhistas aplicam a perspectiva artificialis, o primeiro elemento que<br />
eles <strong>de</strong>finem no quadro é o ponto <strong>de</strong> fuga: um lugar imaginário on<strong>de</strong> todas as retas<br />
convergem. A imagem configurada em perspectiva – seja pela aplicação <strong>de</strong> regras<br />
matemáticas fundadoras da perspectiva geométrica, seja pela manipulação da câmara<br />
obscura – pressupõe, portanto, a atuação imaginária <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> fuga, ou linha <strong>de</strong> visão<br />
imaginária, do qual já tratamos anteriormente. O que nos interessa analisar agora é o modo<br />
como o público se relaciona como esse ponto <strong>de</strong> fuga ou linha <strong>de</strong> visão imaginária durante<br />
o processo <strong>de</strong> apreciação da imagem.<br />
Já nas pinturas renascentistas, po<strong>de</strong>mos encontrar a idéia implícita <strong>de</strong> um recorte no<br />
espaço pictórico, cujos limites <strong>de</strong>finem o campo visual da imagem que se projeta em<br />
perspectiva para o fundo do quadro, expresso mesmo na presença da moldura do quadro,<br />
reforçando a conhecida metáfora <strong>de</strong> que ele funcionaria como uma espécie <strong>de</strong> janela para<br />
esse mundo visível representado na imagem. O surgimento da imagem fotográfica só viria<br />
a reforçar essa ligação entre a moldura e os limites imaginários da pirâmi<strong>de</strong> visual<br />
implícita em toda imagem construída em perspectiva. O advento da imagem<br />
cinematográfica, em fins do século XIX, por outro lado, viria a difundir esse recorte do<br />
espaço visual como um ato <strong>de</strong> enquadramento. Esse enquadramento seria sustentado por<br />
um gesto <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do campo visual a partir da escolha <strong>de</strong> um ângulo particular <strong>de</strong><br />
visão. Ele pressupõe, portanto, uma espécie <strong>de</strong> direção do olhar, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o que será<br />
representado na imagem, e <strong>de</strong> que modo. Ele <strong>de</strong>fine, portanto, o modo <strong>de</strong> inscrição, o traço<br />
em imagem. E, ao ter como pressuposto uma linha <strong>de</strong> visão imaginária, esse gesto <strong>de</strong><br />
enquadrar a imagem associa a esse olhar i<strong>de</strong>al, ou fictício, o olhar do produtor da imagem,<br />
o olhar da câmera – no caso das imagens fotográficas e cinematográficas – e o olhar do<br />
público. Essa assimilação dos olhares, esse alinhamento entre eles, tornando-os<br />
equivalentes, leva à noção <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> vista, amplamente utilizada quando se fala da<br />
imagem cinematográfica. Uma noção que se torna ainda mais complexa quando levamos<br />
em conta as formas narrativas da imagem, geralmente associadas à presença <strong>de</strong><br />
personagens na realida<strong>de</strong> representada, e cuja construção imaginária leva em conta o<br />
alinhamento <strong>de</strong> mais esse olhar: o olhar do personagem. Pois bem, como esses olhares se<br />
alinham? De que maneira ocorre esse agenciamento dos olhares?<br />
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