Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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Ao enfatizar o processo ótico que dá origem à imagem em perspectiva Arlindo<br />
Machado (1984) preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar a artificialida<strong>de</strong> da imagem, romper com a aparente<br />
neutralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu processo <strong>de</strong> codificação, colocando em cheque a noção <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong><br />
que acompanha essas imagens, sobretudo as fotográficas e cinematográficas, cuja<br />
credibilida<strong>de</strong> em sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem fiéis à realida<strong>de</strong> aparente passa a ser enfatizada<br />
pela intervenção do processo químico na técnica <strong>de</strong> fixação da imagem.<br />
“Se a fixação [química] da informação luminosa na película é tomada como<br />
princípio do processo fotográfico, é <strong>de</strong> se supor que em toda fotografia <strong>de</strong>ve<br />
intervir uma verda<strong>de</strong> originária, pois é o próprio objeto focalizado que<br />
„imprime‟ os seus sinais nos grãos <strong>de</strong> prata do negativo. Assim, ignorando os<br />
códigos pictóricos historicamente formados que estão implícitos na<br />
concepção do sistema óptico da câmara obscura, esse ponto <strong>de</strong> vista<br />
menospreza os processos <strong>de</strong> refração que modificam a informação luminosa<br />
fixada na película e se faz cego ao arbítrio da convenção fotográfica.”<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 32 et seq.)<br />
Arlindo Machado (1984) diverge, neste ponto, <strong>de</strong> alguns teóricos da imagem<br />
consi<strong>de</strong>rados “realistas” por acreditarem na capacida<strong>de</strong> da imagem fotográfica <strong>de</strong><br />
apresentar-se como uma “emanação do referente” (Barthes, 1984, passim), e com outros,<br />
tidos como “i<strong>de</strong>alistas”, por reconhecerem nela uma “objetivida<strong>de</strong> essencial” fundada na<br />
própria “gênese” da imagem (Bazin, 1983, passim). Mais do que isso, alguns chegam a<br />
apontar para a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa imagem <strong>de</strong> dizer alguma verda<strong>de</strong> sobre o referente que<br />
escapa a qualquer codificação, <strong>de</strong> permitir-lhe a “inscrição” do real, <strong>de</strong>ixando ali uma<br />
“ferida” (Barthes, 1984, passim). Não nos parece, contudo, que esses autores com os quais<br />
Arlindo Machado dialoga ignorem a codificação <strong>de</strong>ssa imagem, fundada em processos<br />
óticos operados pelo aparato técnico. O que nos parece é que, ao priorizarem o enfoque <strong>de</strong><br />
suas observações no processo químico, eles percebem nessa imagem algo além da<br />
realida<strong>de</strong> visível codificada; percebem nela um outro aspecto: um modo <strong>de</strong> inscrição que<br />
<strong>de</strong>ixa ali um rastro do real que foge a qualquer codificação. Esse rastro do real não<br />
codificado, apesar <strong>de</strong> presente na imagem como uma marca, não se confun<strong>de</strong>, segundo nos<br />
parece, com o realismo da imagem, mas remete a outro traço, próprio à imagem<br />
fotográfica, implícito em seu modo <strong>de</strong> materializar-se, <strong>de</strong> se constituir; em sua “ontologia”,<br />
portanto.<br />
“Hoje, entre os comentaristas da fotografia (sociólogos e semiólogos), a<br />
moda é a da relativida<strong>de</strong> semântica: nada <strong>de</strong> „real‟ (gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo pelos<br />
„realistas‟ que não vêem que a foto é sempre codificada), apenas artifício:<br />
Thesis, não Phisis; a fotografia, dizem eles, não é um analogon do mundo; o<br />
que ela representa é fabricado, porque a óptica fotográfica está submetida à<br />
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