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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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ao “paradigma fotográfico”, também a apropriação por parte dos pintores <strong>de</strong>sse novo e<br />

interessante instrumento ótico, a câmara obscura, apontaria já para conseqüências que<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>tectadas. Vejamos então quais mudanças esse novo instrumento po<strong>de</strong> gerar ao<br />

ser apropriado pelos pintores.<br />

Com a utilização da câmara obscura pelos pintores, os raios luminosos passaram a<br />

participar do processo <strong>de</strong> produção das imagens. Com isso, a noção <strong>de</strong> que essas imagens<br />

pintadas em perspectiva seriam um reflexo fiel da realida<strong>de</strong> visível torna-se muito mais<br />

eloqüente. E essa eloqüência, evi<strong>de</strong>ntemente, apóia-se no processo óptico que dá origem à<br />

imagem. A “objetivação da subjetivida<strong>de</strong>”, <strong>de</strong> que fala Panofsky (1975), ganha força<br />

retórica nos modos <strong>de</strong> produção da imagem. E isto se dá porque o modo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>ssa<br />

imagem pressupõe a presença <strong>de</strong>sse objeto diante do aparato técnico no momento mesmo<br />

<strong>de</strong> sua produção. O objeto <strong>de</strong>ve estar na mira do orifício – geralmente preenchido por um<br />

jogo <strong>de</strong> lentes – justamente do lado on<strong>de</strong> se encontra a realida<strong>de</strong> visível que é afetada pela<br />

luz: do lado <strong>de</strong> fora da câmara obscura. Entre a imagem produzida e o objeto representado<br />

há uma ligação existencial: a luz. É essa necessida<strong>de</strong> da presença do objeto diante do<br />

aparato para que se possa produzir a imagem que leva Couchot (1993) a consi<strong>de</strong>rar a<br />

lógica inerente ao processo ótico como responsável por esse vínculo entre o real e a<br />

representação. Po<strong>de</strong>mos inferir que a substituição da perspectiva artificialis pela câmara<br />

obscura intensifica a invisibilida<strong>de</strong> do código visual que fundamenta a imagem, na medida<br />

em que ten<strong>de</strong> a naturalizar um processo que, como salienta Arlindo Machado (1984), não<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser manipulado por alguns homens com o objetivo <strong>de</strong> obter uma imagem cuja<br />

configuração formal responda a anseios próprios a sua época, conformados a um modo<br />

particular <strong>de</strong> perceber e representar o mundo e a si próprio.<br />

Em outras palavras, o fato da câmara obscura viabilizar uma projeção automática<br />

da imagem em perspectiva, <strong>de</strong>ixando para a mão do artista somente o trabalho <strong>de</strong> fixação,<br />

<strong>de</strong> inscrição, aumenta nessa imagem seu status <strong>de</strong> “verda<strong>de</strong>” sobre o objeto representado –<br />

o referente da imagem – ; intensifica, portanto, na representação, as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

“neutralida<strong>de</strong>” e “objetivida<strong>de</strong>” perante a realida<strong>de</strong> visível. Essa imagem passa a ser<br />

sugerida como um “reflexo” da realida<strong>de</strong> visível: são os raios <strong>de</strong> luz que viabilizam a<br />

projeção da imagem na pare<strong>de</strong> interna do aparato; a luz configura automaticamente a<br />

imagem para o pintor; a imagem passa a se formar “naturalmente”. Aos pintores, cabe<br />

apenas fixar a imagem.<br />

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