Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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A perspectiva artificialis e o olho humano<br />
Ao observar as pinturas gregas que sobreviveram até os dias <strong>de</strong> hoje, po<strong>de</strong>mos<br />
constatar que os pintores da Antigüida<strong>de</strong> produziram em suas imagens a impressão <strong>de</strong><br />
realida<strong>de</strong>. Eles levaram em conta o ponto <strong>de</strong> vista do observador, <strong>de</strong>scobriram o escorço e<br />
representaram as figuras humanas em posições bastante naturais. Mas, em suas pinturas, a<br />
ilusão <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> não possibilitava estabelecer relações claras <strong>de</strong> distância entre as<br />
figuras representadas. No período do Renascimento, contudo, alguns pintores, retomaram o<br />
<strong>de</strong>safio colocado pelos pintores da Antigüida<strong>de</strong> Clássica <strong>de</strong> produzir imagens mais<br />
realistas e começaram a confiar naquilo que seus olhos viam e a tentar codificar essas<br />
impressões visuais nas imagens que produziam. O arquiteto e pintor Fillippo Brunelleschi<br />
foi um dos artistas-pesquisadores que se <strong>de</strong>stacou nesse <strong>de</strong>safio ao encontrar uma nova<br />
solução para o problema da ilusão <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>. Ele aproveitou seus conhecimentos<br />
matemáticos para engendrar um novo método <strong>de</strong> configuração do espaço pictórico,<br />
distribuindo as figuras no quadro <strong>de</strong> uma maneira inteiramente nova. A cena a ser<br />
representada se arranjaria no quadro a partir <strong>de</strong> um enquadramento em perspectiva. Esta<br />
nova técnica – <strong>de</strong>ntre tantas outras conhecidas no Quattrocento – seria divulgada <strong>de</strong><br />
maneira mais sistemática por Leo Batista Alberti, em seu Tratado <strong>de</strong>lla pintura, e viria a<br />
ser chamada <strong>de</strong> perspectiva artificialis (apud Aumont, 1993). Mas eles não seriam os<br />
únicos a colaborar nessa busca. Conforme salienta Jacques Aumont (1993), na era<br />
mo<strong>de</strong>rna, artistas e teóricos (Dürer, Leonardo da Vinci), filósofos (Descartes, Berkeley,<br />
Newton) e, é claro, físicos, empenharam-se nessa exploração.<br />
Com sua progressiva divulgação, a perspectiva artificialis – também conhecida<br />
como perspectiva monocular, central, geométrica, linear ou mesmo albertiniana –<br />
possibilitou a vários pintores da época configurar o espaço da representação como uma<br />
pirâmi<strong>de</strong> visual. O plano da imagem correspon<strong>de</strong>ria ao campo visual e, no centro <strong>de</strong>sse<br />
campo visual, haveria um ponto fixo, que correspon<strong>de</strong>ria ao vértice da pirâmi<strong>de</strong>. A partir<br />
<strong>de</strong>ste ponto fixo, o espaço representado se expandiria em uma ilusória profundida<strong>de</strong>. A<br />
posição das figuras, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espaço em profundida<strong>de</strong>, apresentava uma impressão <strong>de</strong><br />
distância a partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seus contornos, que correspondiam à sua posição <strong>de</strong>ntre<br />
os vários planos que se sucediam em profundida<strong>de</strong> e que se organizariam,<br />
hierarquicamente, do mais próximo ao mais afastado. Da relação entre as distâncias<br />
po<strong>de</strong>ríamos abstrair retas que culminariam em um ponto <strong>de</strong> fuga: esse ponto imaginário da<br />
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