Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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1. 1. No processo ótico, a configuração do espaço<br />
A câmera cinematográfica produz efeitos óticos que são similares àqueles<br />
conseguidos com a câmera obscura. Desse modo, ela viabiliza a produção <strong>de</strong> uma imagem<br />
cuja configuração formal reproduz o mo<strong>de</strong>lo renascentista que se funda na aplicação da<br />
perspectiva artificialis. Autores como Baudry (1983) e Couchot (1993) comentam sobre<br />
esse parentesco da imagem cinematográfica com outras imagens cuja configuração formal<br />
também segue o mo<strong>de</strong>lo renascentista. Citaremos aqui três <strong>de</strong>las: a pintura renascentista,<br />
na qual se aplicava a perspectiva artificialis como método <strong>de</strong> composição; a fotografia,<br />
produzida por meio <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> câmera obscura que adquirira, então, uma objetiva<br />
para preencher o orifício por on<strong>de</strong> passava a luz, com o objetivo <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong><br />
da imagem e interferindo na trajetória da luz, um obturador para controlar o tempo <strong>de</strong><br />
entrada da luz, e um material foto-sensível em substituição ao material utilizado pelos<br />
pintores para servir como suporte para a imagem que se projetava no interior da câmera; o<br />
ví<strong>de</strong>o, que surgiria <strong>de</strong>pois do cinema, tendo como principal inovação um material que se<br />
apresentava sensível à luz não mais por fenômenos químicos, mas agora eletromagnéticos.<br />
Couchot chama <strong>de</strong> “morfogênese por projeção” a lógica subjacente ao processo<br />
ótico que dá origem a essas imagens. Essa lógica <strong>de</strong> figuração ótica po<strong>de</strong> ser conseguida<br />
tanto pela aplicação <strong>de</strong> regras matemáticas, fundadoras da perspectiva artificialis, quanto<br />
pelo uso da câmera obscura, ou aparelhos similares <strong>de</strong> projeção ótica. Tanto em um<br />
recurso, quanto em outro, o modo <strong>de</strong> produção da imagem tem como principio, por um<br />
lado, a presença <strong>de</strong> um objeto real para que se possa produzir sua representação, e por<br />
outro, a noção <strong>de</strong> sujeito i<strong>de</strong>al cujo olhar daria origem a um tipo <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m visual à cena a<br />
ser representada.<br />
No caso da pintura, a presença do objeto a ser representado po<strong>de</strong> ocorrer <strong>de</strong> fato<br />
ou simplesmente ser substituída pela imaginação do pintor. Mas a lógica figurativa não é<br />
afetada em sua essência. Pois o que importa mesmo é o resultado na imagem, cuja<br />
configuração em perspectiva lhe permite ser percebida como um análogo do real: ao<br />
aplicar a perspectiva artificialis, o produtor da imagem bidimensional consegue produzir<br />
uma impressão <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> realismo da cena, capazes <strong>de</strong> transformar essa mesma<br />
imagem em um análogo do objeto representado.<br />
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