Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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obscura, utilizada por pintores no período do Renascimento para configurar suas imagens em perspectiva, com a diferença de não precisar mais da intervenção desses artistas para fixar a imagem no suporte material. Uma diferença fundamental que leva a autora a estabelecer um corte epistemológico entre um grupo de imagens e outro, distinguindo o “paradigma fotográfico” do “paradigma pré-fotográfico”. Todavia, haveria ainda, entre essas imagens pertencentes ao “paradigma fotográfico”, traços capazes de distingui-las entre si? Mantendo-se ainda, em um primeiro momento, o critério de abordagem adotado por Santaella (1998) de avaliar a imagem por seu modo de produção, haveria nessas “máquinas de registro” algum aspecto próprio ao seu modo de funcionamento que fosse capaz de apontar para alguma diferença qualitativa entre uma imagem e outra? Detenhamo-nos nas imagens fotográfica e cinematográfica: haveria algum traço fundamental no seu modo de produção capaz de definir uma diferença qualitativa entre ambas? 16
O funcionamento da câmera e do projetor Em uma descrição bem simplificada do funcionamento da câmera, pode-se observar que, quando o obturador está aberto, a luz externa atravessa o orifício, preenchido pela objetiva, penetra na caixa escura e atinge a superfície do material sensível a ela, onde se produz uma imagem latente que será posteriormente revelada e fixada no laboratório por processos químicos. No caso do projetor, a luz age em um percurso inverso. Uma fonte de luz interna ao aparato é acionada, atinge a película, com imagens já reveladas e fixadas, atravessa depois a objetiva e, finalmente, deixa o aparato, seguindo em direção à tela, em ambiente escuro, onde será projetada uma imagem luminosa com dimensões bem maiores do que aquelas impressas em cada fotograma. Do que foi dito, pode-se inferir, desde já, que os processos óticos e químicos envolvidos no funcionamento da câmera cinematográfica reproduzem a estrutura básica do dispositivo fotográfico. Mas há um aspecto peculiar no modo de produção da imagem cinematográfica. Uma diferença fundamental que se concentra no processo mecânico da câmera cinematográfica, responsável pelo movimento intermitente da película. Vejamos como ele funciona: esse mecanismo movimenta a película por dentro da câmera e imobiliza a mesma por algumas frações de segundo diante do obturador, o qual se abre para permitir que a película seja exposta à luz por um determinado período de tempo e, logo em seguida, volta a se fechar, interrompendo a exposição do negativo; o mecanismo volta a mover essa película, carregando a parte exposta para um outro compartimento do dispositivo, uma caixa escura onde será armazenado o negativo já exposto; o mecanismo volta a imobilizar a película, o obturador se abre novamente, permitindo a produção de uma nova imagem latente, o obturador se fecha, o mecanismo volta a puxar a película, avançando-a para diante e disponibilizando uma outra parte dela ainda não exposta à luz, e assim prossegue ininterruptamente, enquanto o dispositivo se mantiver acionado. Produz- se assim uma sucessão de instantâneos fotográficos, cuja composição visual distingue o anterior do posterior por aquilo que Jean-Louis Baudry (1983) chama de “diferença mínima”. Contudo, ainda assim, temos apenas várias imagens fixas impressas na película. Sabemos que, para que a imagem cinematográfica surja, não basta a utilização da câmera. É preciso ainda inserir essa película naquele outro instrumento: o projetor. É justamente 17
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