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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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imagem o instante <strong>de</strong> uma cena real que, para ele, já é passado. Mas o passado só volta, na<br />

fotografia, em uma forma visual congelada, que insiste em se fazer presente e imutável<br />

diante do espectador. Este é atingido pela imagem quando o punctum provoca nele algum<br />

rebuliço interior. Mas ele não po<strong>de</strong> atingir a imagem, provocando, também nela, rebuliços<br />

e alterações internas. Nesse sentido, não há reciprocida<strong>de</strong> na fotografia. Ela não se<br />

transforma, não se altera com esse turbilhão interior que eventualmente ela provoca no<br />

espectador. Efeito perturbador próprio ao fotográfico. No cinema, por outro lado,<br />

observamos que algo novo acontece. A fotografia se anima. As formas adquirem<br />

movimento. Mas, segundo nossas especulações, não é essa animação das formas visíveis o<br />

aspecto <strong>de</strong> maior relevância. O que a imagem cinematográfica realmente apresenta <strong>de</strong><br />

diferente e inovador em relação à fotografia é justamente a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser atingida<br />

pelo público que a aprecia, <strong>de</strong> sofrer alterações com sua intervenção psíquica. Não é<br />

apenas no nível do sentido que ela po<strong>de</strong> sofrer transformações, <strong>de</strong>sdobrar-se, mas em sua<br />

própria constituição enquanto imagem móvel. Pois, em uma perspectiva fenomenológica,<br />

ela só po<strong>de</strong> se tornar uma imagem mutável através do encontro entre os estímulos<br />

luminosos promovidos pelo dispositivo técnico – imagens do presente – e as imagens<br />

emergentes da memória <strong>de</strong> cada espectador – imagens do passado. A imagem<br />

cinematográfica não resulta apenas <strong>de</strong> uma aparição, <strong>de</strong> uma presença insistente, como<br />

ocorre com a fotografia. Ela é fruto <strong>de</strong> uma alternância entre aparição e <strong>de</strong>saparecimento,<br />

entre presença e ausência, na qual o espectador conquista o direito <strong>de</strong> se tornar um co-<br />

produtor. Para além do espectador da foto, ele participa do processo <strong>de</strong> elaboração da<br />

imagem mutável. O produtor continua a traçar diretrizes para a imagem, mas, na “situação<br />

cinematográfica” (Michotte), o público é convidado a participar <strong>de</strong> sua constituição por<br />

meio <strong>de</strong> uma interação maior com o dispositivo técnico que a viabiliza. Nesse sentido,<br />

constatamos que o papel do produtor da imagem é redimensionado na “situação<br />

cinematográfica”, quando o público e a máquina adquirem um novo status no processo <strong>de</strong><br />

constituição da imagem. A imagem cinematográfica, por outro lado, passa a apresentar<br />

uma formação híbrida na qual o real e o virtual se agregam para a formação da<br />

representação; ela é sustenta tanto por um suporte físico – a película que se articula no<br />

dispositivo técnico, o projetor – , quanto por uma intervenção do virtual – a memória do<br />

espectador. Ela resulta, portanto, do encontro entre o real e o virtual. Se na fotografia uma<br />

imagem do passado insiste em se fazer atual, mantendo-se perante nosso olhar, no cinema,<br />

as imagens atualizadas pelo dispositivo técnico logo <strong>de</strong>saparecem da tela, permitindo que o<br />

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