Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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fotografia a vinte e quatro quadros por segundo, com o realismo da imagem. Em resposta a<br />
esses <strong>de</strong>vaneios, elaborava simultaneamente um outro projeto <strong>de</strong> curta metragem, no qual<br />
pu<strong>de</strong>sse extravasar o que não encontrava expressão no <strong>de</strong>senho. Um filme com atores,<br />
on<strong>de</strong> eu pensaria não mais fotograma por fotograma, mas plano por plano. Com ritmos<br />
diferentes para cada plano, para cada conjunto <strong>de</strong> planos, ou cena. Uma modulação do<br />
tempo fundada em uma experiência <strong>de</strong> outra natureza com a imagem cinematográfica.<br />
Sonhava, enfim, com outras possibilida<strong>de</strong>s expressivas, próprias às fotografias animadas.<br />
Três anos <strong>de</strong>pois viria a realizar esse projeto: “Carrapicho”. Qual foi minha surpresa<br />
quando, nos intervalos das filmagens, em instantes <strong>de</strong> <strong>de</strong>vaneio, surpreendia-me com a<br />
lembrança da câmera rodando a vinte e quatro quadros por segundo, em um ritmo<br />
constante, enquanto eu tentava modular o tempo plano por plano, na atuação dos<br />
personagens, no tipo <strong>de</strong> enquadramento, na angulação. Sim, pois o tempo em um plano<br />
aberto é muito diferente do tempo em um plano fechado, um close, um <strong>de</strong>talhe. A<br />
expressão do movimento muda completamente. Mas isto, só pu<strong>de</strong> perceber mesmo ao<br />
longo das filmagens. Uma breve experiência que, espero, possa ainda voltar a vivenciar em<br />
outra oportunida<strong>de</strong>, por meio da qual, quem sabe, consiga <strong>de</strong>svendar novas nuances.<br />
De qualquer modo, encontro-me hoje diante <strong>de</strong> um novo contexto, <strong>de</strong> reflexão<br />
teórica, no qual algumas questões, que surgiram ao longo <strong>de</strong>ssas experiências com a<br />
produção cinematográfica, insistem, sorrateiras, em me ditar o caminho a ser seguido pelo<br />
pensamento, como idéias que ainda não conseguiram ser ditas. Elas parecem pressionar o<br />
discurso na tentativa <strong>de</strong> encontrar algum espaço <strong>de</strong> expressão, e esforçam-se por expulsar<br />
da fala o que lhe é estrangeiro.<br />
A experiência com o movimento em situações distintas. A diferença entre um<br />
<strong>de</strong>senho e uma fotografia em movimento. Percepções e intuições que me afetaram no<br />
contexto <strong>de</strong> produção da imagem, mas que, até então, fugiam a qualquer tentativa <strong>de</strong><br />
tradução em conceitos, a qualquer <strong>de</strong>scrição ou interpretação. Agora, elas estão <strong>de</strong> volta. E<br />
me <strong>de</strong>safiam a falar sobre elas.<br />
Dentre os dois tipos <strong>de</strong> imagem – o <strong>de</strong>senho e a fotografia – priorizo a última e,<br />
então, questiono: o que a particulariza? Quais são as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> imagem?<br />
Em outras palavras, o que <strong>de</strong>fine o fotográfico? Por outro lado, o que possibilita a<br />
passagem do fotográfico para o cinematográfico? A experiência cotidiana nos permite<br />
inferir, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, que é a possibilida<strong>de</strong> do movimento que viabiliza o surgimento <strong>de</strong>ssa<br />
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