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06.06.2013 Views

público, cuja percepção consciente possibilita a aparição da representação móvel através dos intervalos do visível, então, a imagem cinematográfica não se confunde com esses instantâneos fotográficos que se enfileiram na película. Ela, na verdade, surge desse encontro entre o visível e o invisível, entre o real e o virtual, no qual a duração é restituída à representação. Como resultado desse encontro, a imagem deixa, enfim, de ser imóvel para recuperar sua mobilidade transformadora, sua temporalidade, através da participação afetiva e imaginativa do público. A duração não está, portanto, nos fotogramas. Eles constituem a parte visível da imagem cinematográfica. Mas ela não se restringe a esses fotogramas. Se, como dissemos, ela resulta do encontro entre o visível e o invisível, são os intervalos entre cada fotograma visível que possibilitam a passagem da fotografia para a imagem cinematográfica. Pois é por meio deles que o público encontra a chance de restituir o movimento à imagem. A passagem de um estado a outro do visível – sua transformação visual – não se dá apenas por um efeito visual de síntese das várias partes imóveis, mas sobretudo pela intuição do todo que indica que essa imagem vai além daquilo que os olhos percebem. Não são mais várias partes imóveis do visível, mas apenas uma única imagem maior que dura, que se desdobra, que se transforma no tempo. E essa transformação acontece graças aos intervalos do visível. A mudança acontece nos intervalos. São eles que viabilizam o encontro entre as imagens da matéria e as imagens da memória, possibilitando o surgimento dessa imagem como um todo que se move no tempo, que se transforma. É no silencio que a “vida interior”, de que fala Bergson, emerge e viabiliza o movimento às imagens. É dela que surge a possibilidade de animação das imagens captadas pela percepção consciente. O acontecimento está nos intervalos, onde a ausência de imagem possibilita a emergência da memória. É de lá que se origina o movimento, quando o ser entra em atuação. Se o dispositivo atua na parte visível da imagem cinematográfica, o público atua nos intervalos. Eis a origem do movimento. Eis a fonte mágica dessa imagem. Seu encanto. Seu valor. De lá, a minha surpresa ... 118

Conclusão Após todo esse percurso de pesquisa e reflexão, chegamos ao ponto em que nos encontramos em condições de distinguir com mais clareza o fotográfico do cinematográfico. O “paradigma fotográfico”, definido por Santaella (1998), indicava-nos já o caminho a ser percorrido. Ao levar em conta o modo de produção da imagem, no qual instrumentos e técnicas específicos são manipulados, a pesquisadora apontava já para o que há de especifico na fotografia: a utilização de uma “máquina de registro”, a qual se responsabilizaria pelo estabelecimento de uma espécie de “conexão” entre a imagem e o real que lhe deu origem. Bazin já havia comentado sobre a capacidade da imagem fotográfica em apresentar algo sobre o real que escapa à intervenção da subjetividade do produtor, quando afirmava sobre sua “objetividade essencial”, garantida pelo processo automático de produção da imagem. Mas é Barthes quem demonstra que essa “objetividade essencial”, na verdade, diz respeito ao tempo. Ele nos mostra que há algo do real que se apresenta na fotografia e que não se confunde com sua parte codificada: algo que escapa ao seu processo de codificação: o punctum da imagem, o noema isso foi. A fotografia tem o poder de apresentar o instante de uma cena que foi real. Mas por que o punctum “fere” o espectador? Através de um retorno ao pensamento do filósofo Henri Bergson, encontramos a oportunidade de promover um desdobramento da noção de punctum associada à imagem fotográfica proposta por Barthes. Constatamos que, na verdade, ele remete tanto à realidade física que deu origem à imagem, quanto àquilo que o espectador traz consigo, sua memória. Para empregar termos de Bergson, o punctum resulta de uma espécie de cruzamento entre o “tempo real”, ao qual a imagem remete, e a “vida interior” do apreciador da imagem. Todavia, constatamos que esse cruzamento ocorre fora da imagem. A fotografia tem esse poder de trazer de volta para o apreciador da 119

Conclusão<br />

Após todo esse percurso <strong>de</strong> pesquisa e reflexão, chegamos ao ponto em que nos<br />

encontramos em condições <strong>de</strong> distinguir com mais clareza o fotográfico do<br />

cinematográfico. O “paradigma fotográfico”, <strong>de</strong>finido por Santaella (1998), indicava-nos<br />

já o caminho a ser percorrido. Ao levar em conta o modo <strong>de</strong> produção da imagem, no qual<br />

instrumentos e técnicas específicos são manipulados, a pesquisadora apontava já para o<br />

que há <strong>de</strong> especifico na fotografia: a utilização <strong>de</strong> uma “máquina <strong>de</strong> registro”, a qual se<br />

responsabilizaria pelo estabelecimento <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> “conexão” entre a imagem e o<br />

real que lhe <strong>de</strong>u origem. Bazin já havia comentado sobre a capacida<strong>de</strong> da imagem<br />

fotográfica em apresentar algo sobre o real que escapa à intervenção da subjetivida<strong>de</strong> do<br />

produtor, quando afirmava sobre sua “objetivida<strong>de</strong> essencial”, garantida pelo processo<br />

automático <strong>de</strong> produção da imagem. Mas é Barthes quem <strong>de</strong>monstra que essa<br />

“objetivida<strong>de</strong> essencial”, na verda<strong>de</strong>, diz respeito ao tempo. Ele nos mostra que há algo do<br />

real que se apresenta na fotografia e que não se confun<strong>de</strong> com sua parte codificada: algo<br />

que escapa ao seu processo <strong>de</strong> codificação: o punctum da imagem, o noema isso foi. A<br />

fotografia tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> apresentar o instante <strong>de</strong> uma cena que foi real. Mas por que o<br />

punctum “fere” o espectador? Através <strong>de</strong> um retorno ao pensamento do filósofo Henri<br />

Bergson, encontramos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover um <strong>de</strong>sdobramento da noção <strong>de</strong><br />

punctum associada à imagem fotográfica proposta por Barthes. Constatamos que, na<br />

verda<strong>de</strong>, ele remete tanto à realida<strong>de</strong> física que <strong>de</strong>u origem à imagem, quanto àquilo que o<br />

espectador traz consigo, sua memória. Para empregar termos <strong>de</strong> Bergson, o punctum<br />

resulta <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> cruzamento entre o “tempo real”, ao qual a imagem remete, e a<br />

“vida interior” do apreciador da imagem. Todavia, constatamos que esse cruzamento<br />

ocorre fora da imagem. A fotografia tem esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> trazer <strong>de</strong> volta para o apreciador da<br />

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