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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Ao invés <strong>de</strong> manter sua intensida<strong>de</strong>, ele passa a ser representado em extensão. A orientação<br />

espacial passa a se sugerir na representação do tempo à medida que o movimento é<br />

<strong>de</strong>composto em partes imóveis que se suce<strong>de</strong>m e se justapõem.<br />

“O filme po<strong>de</strong>ria passar <strong>de</strong>z, cem, mil vezes mais <strong>de</strong>pressa sem que nada<br />

fosse modificado: se ele se <strong>de</strong>senrolasse a uma velocida<strong>de</strong> infinita, se o<br />

<strong>de</strong>senrolar (<strong>de</strong>sta vez fora do aparelho) se tornasse instantâneo, seriam ainda<br />

as mesmas imagens. A sucessão assim entendida não acrescenta nada; ao<br />

contrário, ela suprime alguma coisa; marca um déficit; traduz uma<br />

<strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> nossa percepção, con<strong>de</strong>nada a <strong>de</strong>talhar o filme, imagem por<br />

imagem, em vez <strong>de</strong> apreendê-lo globalmente. Em suma, o tempo assim<br />

consi<strong>de</strong>rado não é mais do que um espaço i<strong>de</strong>al on<strong>de</strong> supomos alinhados<br />

todos os acontecimentos passados, presentes e futuros, que estão, ainda mais,<br />

impedidos <strong>de</strong> aparecer em bloco: o fluir da duração seria esta própria<br />

imperfeição, a adição <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong> negativa.” (Bergson, 1984, p. 105)<br />

Não há, portanto, duração no filme. Os fotogramas representam visualmente<br />

instantes imóveis do movimento. Na verda<strong>de</strong>, seguindo o pensamento <strong>de</strong> Bergson, o que a<br />

parte visível da imagem cinematográfica manifesta mesmo é uma noção particular <strong>de</strong><br />

espaço. Sobre a inscrição do tempo nessa imagem, Arlindo Machado nos traz algumas<br />

palavras:<br />

“O cinema po<strong>de</strong> fazer um homem andar mais rápido ou mais lentamente,<br />

po<strong>de</strong> fazê-lo também andar ao contrário ou até mesmo se mover por elipses,<br />

pulando porções do espaço; o que ele em geral não po<strong>de</strong> é fazer com que a<br />

própria representação <strong>de</strong>sse homem seja alterada em razão <strong>de</strong> tais<br />

manipulações do tempo. Isso quer dizer que a inscrição do tempo no cinema<br />

não afeta as imagens, não as transfigura, não gera, portanto, anamorfoses. A<br />

imagem cinematográfica que se „movimenta‟ numa tela conserva a mesma<br />

integrida<strong>de</strong> e a mesma consistência <strong>de</strong> uma imagem fotográfica obtida nas<br />

mesmas condições.” (id., 1993, 61)<br />

Certamente, os fotogramas que se enfileiram na película cinematográfica mantém<br />

as mesmas características do fotográfico. Há inscrição do tempo nas imagens, mas ele não<br />

lhes permite <strong>de</strong>sdobrar-se, transformar-se, visto que ficou congelado em estados imóveis.<br />

Extraídos da duração, esses fotogramas não po<strong>de</strong>m evoluir. Contudo, essas imagens fixas<br />

que se projetam na tela não são ainda a imagem cinematográfica. Se a imagem móvel só<br />

surge na “situação cinematográfica”, quando o dispositivo técnico encontra-se com o<br />

espaço são colocados juntos e tratados como coisas do mesmo gênero. Estuda-se então o espaço, <strong>de</strong>terminase<br />

sua natureza e função, <strong>de</strong>pois transporta-se para o tempo as conclusões obtidas. As teorias do espaço e as<br />

do tempo são, assim, paralelas. Para passar <strong>de</strong> uma a outra foi suficiente mudar uma palavra: substituiu-se<br />

„justaposição‟ por „extensão‟. (...) a duração se exprime sempre em extensão. Os termos que exprimem o<br />

tempo são tomados à linguagem do espaço. Quando evocamos o tempo, é o espaço que respon<strong>de</strong> ao<br />

chamado.” (Bergson, 1984, p. 105)<br />

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