Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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a mesma diante do olhar do público, que não se submete a nenhuma transformação, a<br />
nenhum <strong>de</strong>sdobramento capaz <strong>de</strong> restituir-lhe o movimento. E, no entanto, insiste em se<br />
manter presente, ali, diante do olhar, enquanto uma imagem imóvel do móvel, uma<br />
representação fixa do real movente. Mais uma vez, eis que nos encontramos diante da idéia<br />
sugerida por Barthes (1984) <strong>de</strong> que a fotografia é uma “contra-lembrança”. É a “violência”<br />
que, segundo Barthes (1984), ela promove ao ser. 65 Na acepção <strong>de</strong> Bazin (1983), ela<br />
perpetua o “complexo da múmia” ao “exorcizar o tempo” na imagem fixa e, com isso,<br />
“salvar o ser pela aparência”. Ela “substitui o mundo exterior pelo seu duplo”. Mas esse<br />
duplo está fora da duração, está protegido “contra o tempo”. Essa “<strong>de</strong>fesa do ser conta o<br />
tempo” só se dá às custas da perda da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evoluir, <strong>de</strong> crescer internamente por<br />
modificações interiores. Pois é Bergson (1990) mesmo quem nos mostra que a “evolução<br />
criadora” só é possível na duração. Assim, quando Barthes afirma que o instantâneo<br />
fotográfico “não po<strong>de</strong> transformar-se, mas apenas repetir-se sob as espécies da insistência”<br />
66 , ele reconhece que a imobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse momento que foi extraído do tempo real para a<br />
constituição <strong>de</strong> um duplo fora do tempo impe<strong>de</strong> à imagem <strong>de</strong>sdobrar-se perante o olhar,<br />
evoluir em movimentos internos. Na verda<strong>de</strong>, a expressão fotográfica do tempo real acaba<br />
por convertê-lo em uma imobilida<strong>de</strong> extremamente perturbadora. 67<br />
A imagem cinematográfica se sustenta justamente nesses instantes congelados do<br />
tempo real. A <strong>de</strong>composição do movimento em instantes fixos dá origem aos fotogramas<br />
que se suce<strong>de</strong>m na película. A representação fotográfica dá visibilida<strong>de</strong> ao movimento às<br />
custas <strong>de</strong> sua extração da duração. São vários instantes congelados do tempo que se<br />
suce<strong>de</strong>m, fotograma a fotograma. A mobilida<strong>de</strong> dá lugar à imobilida<strong>de</strong>. É uma<br />
representação imóvel do movimento. O tempo é representado segundo critérios espaciais. 68<br />
65 “A fotografia é violenta: não porque mostra violências, mas porque a cada vez enche <strong>de</strong> força a vista e<br />
porque nela nada po<strong>de</strong> se recusar, nem se transformar (que às vezes se possa dizer que é doce não contradiz<br />
sua violência; muitos dizem que o açúcar é doce; mas eu o acho, o açúcar, violento.)” (Barthes, 1984, p. 136,<br />
137)<br />
66 “Diz-se „<strong>de</strong>senvolver uma foto‟ [revelar uma foto], mas o que a ação química <strong>de</strong>senvolve [revela] é o<br />
in<strong>de</strong>senvolvível [irrevelável], uma essência (<strong>de</strong> ferida), o que não po<strong>de</strong> transformar-se [<strong>de</strong>sdobrar-se], mas<br />
apenas repetir-se sob as espécies da insistência (do olhar insistente)”. (Barthes, 1984, p. 78)<br />
67 A fotografia é normalmente encarada como um sistema significante <strong>de</strong> suspensão do tempo, <strong>de</strong><br />
congelamento da imagem num instante mínimo e único. Mas é justamente porque toda a tecnologia da<br />
fotografia se orienta no sentido <strong>de</strong> uma eliminação do tempo que a inscrição <strong>de</strong>ste último na fotografia tem<br />
um po<strong>de</strong>r superlativamente <strong>de</strong>sestabilizador e, e por, conseqüência, <strong>de</strong>formante.” (Machado, 1997, p. 61)<br />
68 Esse modo <strong>de</strong> representar o movimento em formas imóveis não é exclusivo ao cinema. Na verda<strong>de</strong>,<br />
segundo Bergson, ele é encontrado na própria filosofia: “Ao longo <strong>de</strong> toda a história da filosofia, tempo e<br />
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