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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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sensório-motor montado no corpo para captar esses movimentos, transformá-los em<br />

estímulos nervosos que serão encaminhados ao cérebro, on<strong>de</strong> finalmente darão origem a<br />

estados psíquicos que permitirão ao ser produzir representações. Mas, como vimos, essas<br />

representações surgem já embrenhadas <strong>de</strong> afetos que emergem da memória. Nesse sentido,<br />

cada ser vivo traz consigo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir nos movimentos da matéria e alterar<br />

os rumos dos acontecimentos <strong>de</strong> uma maneira inusitada e imprevisível, pois a interpretação<br />

que ele dará aos movimentos que o atingem resulta já <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> imaginativa e<br />

criadora promovida pelo ser através da ativação <strong>de</strong> afetos que são únicos e singulares. O<br />

ser vivo funciona assim como uma “zona <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação do movimento”.<br />

A matéria é móvel. E o corpo vivo, sendo também matéria, participa <strong>de</strong>ssa<br />

dinâmica. Inserido na realida<strong>de</strong> material, ele é incessantemente atravessado pelo<br />

movimento. Mas ele vivencia esse movimento da matéria <strong>de</strong> uma maneira singular. Pois<br />

este gera no ser novos estados afetivos, além <strong>de</strong> ativar outros do passado. A vivência do<br />

tempo real pelo ser vivo é intensificada, portanto, pelos afetos. Ela é experimentada <strong>de</strong><br />

maneira singular e imprevisível. O acúmulo <strong>de</strong>ssa vivência, por outro lado, po<strong>de</strong> lhe<br />

proporcionar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “crescimento interior”, à medida que lhe permite realizar<br />

“modificações internas”. É essa vivência do tempo real pelo ser consciente que Bergson<br />

chama <strong>de</strong> duração.<br />

Quando os cientistas ignoram a “vida interior” do ser consciente, eles, na verda<strong>de</strong>,<br />

ignoram a duração. O “crescimento interior” que Bergson reconhece no ser vivo que<br />

vivencia o tempo real é negado pela visão clássica da ciência que consi<strong>de</strong>ra o tempo <strong>de</strong><br />

uma maneira in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e abstrata. Ao invés do seu acúmulo em uma vivência única,<br />

que vai se ampliando, que vai evoluindo criativamente por “modificações internas” geradas<br />

pelo tempo como um todo, a visão clássica propõe uma justaposição <strong>de</strong> fases distintas que<br />

se suce<strong>de</strong>m como pontos a formar uma linha. A visão clássica do tempo real não abarca,<br />

portanto, a potência criativa e transformadora do tempo real para o ser. Toda a<br />

singularida<strong>de</strong> do ser ten<strong>de</strong> a ser suprimida em uma noção abstrata e matemática <strong>de</strong> tempo<br />

linear, constante e mensurável, que existiria em uma suposta realida<strong>de</strong> objetiva e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do ser.<br />

É essa noção matemática <strong>de</strong> um tempo que se <strong>de</strong>compõe em instantes fixos que se<br />

suce<strong>de</strong>m uns aos outros que fundamenta o dispositivo técnico que dará origem aos<br />

fotogramas da película cinematográfica. Os instantes congelados em cada fotograma são,<br />

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