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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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Tempo real e experiência da duração da imagem móvel<br />

Resta-nos ainda uma questão: o que é o tempo? Partamos, pois, do princípio.<br />

Já em Matière et Mémoire, Bergson <strong>de</strong>fine a matéria como uma realida<strong>de</strong> em<br />

constante movimento; é a massa se escoando, tornando-se outra em seu <strong>de</strong>vir, vindo a ser.<br />

Ela é, portanto, dinâmica. É nela que encontramos o movimento. Anos mais tar<strong>de</strong>, em La<br />

Pensée et le Mouvant – última obra do filósofo, divulgada pela primeira vez em 1934 – ele<br />

afirma que “o tempo é mobilida<strong>de</strong>”, essa mobilida<strong>de</strong> da matéria. Ao longo <strong>de</strong> suas<br />

investigações filosóficas, Bergson nos conduz, portanto, a uma noção <strong>de</strong> tempo muito<br />

peculiar: o tempo real que remete ao dinamismo da matéria, ao seu movimento. Os<br />

cientistas, que se esmeram em <strong>de</strong>senvolver pesquisas sobre a matéria, também teceram<br />

uma noção clássica sobre o tempo. 60 Mas esta é bem diferente da noção que o filósofo<br />

propõe. Pois, segundo ele, os cientistas não levaram em conta a matéria viva. A questão do<br />

tempo, para Bergson, só po<strong>de</strong> ser bem compreendida quando se consi<strong>de</strong>ra aquilo que ele<br />

mesmo <strong>de</strong>fine como “vida interior”.<br />

“O tempo po<strong>de</strong>rá acelerar-se enormemente, e mesmo infinitamente: nada terá<br />

mudado para o matemático, para o físico, para o astrônomo. Entretanto, seria<br />

profunda a diferença para o olhar <strong>de</strong> uma consciência”. (Bergson, 1984, p.<br />

102)<br />

Para que seja possível agir sobre a matéria, a consciência se esforça por elaborar<br />

intelectualmente os movimentos que o atingem. A percepção consciente resulta, pois, <strong>de</strong>ssa<br />

ativida<strong>de</strong> do pensamento <strong>de</strong> transformar os estímulos sensoriais em representações. Uma<br />

ativida<strong>de</strong> do pensamento que, segundo Bergson, fundamenta-se em todo um esquema<br />

conhecida, ela <strong>de</strong>creta notável aquilo que ela fotografa. O “não importa o que‟ se torna então o ponto mais<br />

sofisticado do valor.” (Barthes, 1984, p. 57)<br />

60 Dentro <strong>de</strong> uma perspectiva histórica, po<strong>de</strong>-se observar que a concepção <strong>de</strong> tempo comungada pela<br />

socieda<strong>de</strong> varia <strong>de</strong> acordo com a época. Segundo Mircea Elia<strong>de</strong> (2000), com o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

Cristianismo, o tempo foi progressivamente <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser compreendido como cíclico e passando a ser<br />

percebido como irreversível e linear. O tempo mítico ia dando lugar ao tempo histórico. Como sugere o físico<br />

Géza Szamosi (1988), acontecimentos como “a criação do mundo” e a “salvação da humanida<strong>de</strong>” só<br />

po<strong>de</strong>riam ser compreendidos como únicos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> tempo que o compreen<strong>de</strong> como histórico e<br />

linear. Segundo Szamozi (1988), a idéia <strong>de</strong> tempo cíclico era incompatível com o espírito da Bíblia. Com a<br />

Revolução Científica, promovida principalmente durante o século XVII, o tempo passa a ser compreendido<br />

também como absoluto e mensurável. Galileu, ao estudar o movimento dos corpos, distingue o tempo do<br />

movimento. Para ele, o movimento <strong>de</strong> um corpo qualquer não <strong>de</strong>veria ser confundido com o tempo <strong>de</strong>corrido<br />

durante seu <strong>de</strong>slocamento no espaço. Assim, ele <strong>de</strong>screveu matematicamente o movimento como um<br />

acontecimento que se dá no tempo e no espaço. Alguns anos mais tar<strong>de</strong>, Isaac Newton codificou esse novo<br />

conceito <strong>de</strong> tempo para a Física Clássica. Enfim, uma noção clássica <strong>de</strong> tempo, compreendido como um<br />

fluxo mensurável, constante, arbitrário e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do ambiente.<br />

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