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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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coisa; em um outro tipo <strong>de</strong> memória. Talvez por isso ele venha a chamá-la <strong>de</strong> memória<br />

motora. Uma memória que dá origem a um Saber por meio <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem. Uma memória conhecida. Uma memória que já não “imagina" tanto, mas<br />

“repete” um movimento que já foi elaborado, aprendido. (ibi<strong>de</strong>m, p. 63) Ela vai, portanto,<br />

progressivamente, substituindo a memória propriamente dita, aquela que ainda não é<br />

conhecida pela consciência, a memória dos afetos, a única que permite ao ser “imaginar”,<br />

por construções abstratas já conhecidas que vão se repetindo nas associações com as<br />

imagens do presente.<br />

Após a fase <strong>de</strong> aprendizagem, o processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> representações vai<br />

progressivamente <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ativar a memória da afecção para substituí-la pelo hábito. A<br />

tendência natural seria uma atuação cada vez menos variada da memória dos afetos nos<br />

eventos do presente que continuam a atingir o ser vivo. Bergson nos fala dos “caprichos”<br />

da memória ao se associar às imagens do presente e, com elas, atualizar-se à consciência<br />

em forma <strong>de</strong> representações; um “capricho” <strong>de</strong>corrente da sua imprevisibilida<strong>de</strong>, da sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fugir ao controle da consciência, <strong>de</strong> não se sujeitar à vonta<strong>de</strong> do ser. Parece-<br />

nos que essa aparente “loucura” dos afetos inconscientes ten<strong>de</strong> a ser progressivamente<br />

domesticada pelo hábito, na medida em que ele passa a <strong>de</strong>finir quais <strong>de</strong>las, e com que<br />

imagens do presente, vão se atualizar em representações. Esse parece ser o esforço do<br />

corpo em domar o que Bergson <strong>de</strong>fine como seu espírito.<br />

Essa espécie <strong>de</strong> domesticação da memória pelo hábito po<strong>de</strong> ser comparada ao que<br />

Bergson chama <strong>de</strong> “lembrança aprendida”, sobre a qual ele diz que “sairá do tempo<br />

[duração] à medida que a lição for melhor sabida; tornar-se-á cada vez mais impessoal,<br />

cada vez mais estranha à nossa vida passada.” (ibi<strong>de</strong>m, p. 64)<br />

No reconhecimento, a memória motora complementa a percepção, oferecendo ao<br />

corpo uma resposta quase automática à situação. Nesse sentido, po<strong>de</strong>mos inferir que a<br />

memória motora não só afasta a memória propriamente dita, ou seja o passado, como<br />

também diminui a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imagens do presente a serem elaboradas pelo processo <strong>de</strong><br />

percepção consciente. Não é só o passado que vai progressivamente se afastando da<br />

consciência, mas inclusive o presente, na medida em que ele <strong>de</strong>dica cada vez menos<br />

atenção aos movimentos que o atingem. Basta captar alguns indícios <strong>de</strong>le para que o ser<br />

seja capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre sua ação diante do universo que o cerca. Uma economia gerada<br />

pelo hábito que enriquece o ser vivo com a eficiência da resposta automática, às custas,<br />

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