Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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simétrico <strong>de</strong> sua causa mais ou menos próxima, <strong>de</strong>ixaria escoar para essas<br />
percepções as lembranças que a irão recobrir.” (ibi<strong>de</strong>m, p. 94)<br />
Essa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração equivaleria assim a uma espécie <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> mental que<br />
viria a se juntar à atitu<strong>de</strong> corporal. Estimulada por esta, o pensamento viria em apoio à<br />
percepção, colaborando ativamente no processo <strong>de</strong> interpretação do movimento. Mas ele<br />
só se ativaria diante <strong>de</strong> um estímulo que o prece<strong>de</strong>: os movimentos oriundos <strong>de</strong> fora do<br />
corpo. É o esforço do corpo por uma percepção mais atenta que ativa o pensamento. São<br />
esses estímulos sensoriais, portanto, que irão <strong>de</strong>finir a direção <strong>de</strong> suas evoluções. Uma vez<br />
mais nos encontramos diante da tese <strong>de</strong> Bergson <strong>de</strong> que a memória só é ativada quando é<br />
chamada para participar da percepção.<br />
É o que, <strong>de</strong> fato, acontece na “situação cinematográfica”. Quando o público é<br />
atingido por estímulos luminosos, ele se esforça por elaborar esse movimento que o afetou<br />
e se transformou em imagens da matéria. Ele interpreta, portanto, esses estados do<br />
movimento por meio da análise das partes, e restabelece a continuida<strong>de</strong> entre elas através<br />
<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> síntese capaz <strong>de</strong> lhe oferecer uma noção abstrata do conjunto, no qual,<br />
enfim, o movimento é restituído. Tais processos <strong>de</strong> análise e <strong>de</strong> síntese, envolvidos na<br />
produção da imagem cinematográfica, resultam, portanto, <strong>de</strong> um esforço intelectual do<br />
público, no qual o pensamento restabelece o movimento à representação por um esforço <strong>de</strong><br />
abstração. O movimento <strong>de</strong>ssa imagem resulta, portanto, <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> inteligente <strong>de</strong><br />
atenção, reconhecimento e interpretação promovidos pelo público. Ele resulta da<br />
intervenção do público no processo <strong>de</strong> elaboração da imagem. Requer, enfim, a ativida<strong>de</strong><br />
do pensamento.<br />
Contudo, à medida que as associações entre os estímulos e as respostas vão se<br />
repetindo em movimentos similares, ou seja, vão se tornando conhecidas pelo ser, elas<br />
passam a requerer menos atenção. O esforço criativo do ser em aprendizagem vai sendo<br />
substituído por hábitos, por respostas mais automáticas aos estímulos. Os “mecanismos<br />
imaginativos da atenção voluntária” vão sendo menos requisitados. Nesse sentido,<br />
representações que, em sua primeira construção, foram formuladas a partir <strong>de</strong> associações<br />
<strong>de</strong> imagens do presente com outras do passado, po<strong>de</strong>rão ser reativadas na consciência<br />
através <strong>de</strong> um esforço cada vez menor. Com o hábito, elas po<strong>de</strong>rão ser reformuladas quase<br />
que instantaneamente pelo pensamento consciente. É o caso, por exemplo, da<br />
aprendizagem <strong>de</strong> uma língua. Mas o passado requerido para tanto é agora <strong>de</strong> outra<br />
natureza. A memória <strong>de</strong>finida por Bergson transforma-se, nesse processo, em uma outra<br />
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