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Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...

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aprendizagem do corpo pela repetição <strong>de</strong> um movimento percebido. Mas, para que ela se<br />

constitua, é necessária uma participação intensa do ser, não apenas em uma intensificação<br />

<strong>de</strong> sua atenção ao longo do processo <strong>de</strong> percepção, como também no acionamento da<br />

memória propriamente dita, visto que a análise do movimento requer, em certa medida,<br />

uma interpretação do mesmo, em busca <strong>de</strong> uma síntese capaz <strong>de</strong> acentuar-lhe os traços<br />

mais importantes. Esse esforço em interpretar o movimento que se percebe aciona a<br />

memória em todos os seus níveis, tanto aquele mais próximo da percepção, a memória<br />

motora, quanto a memória propriamente dita, os afetos ainda não atualizados no presente<br />

pela percepção. Ele dinamiza a memória. É um momento doloroso para o corpo, na medida<br />

em que gera nele novos estados afetivos, mas rico em oportunida<strong>de</strong>s que lhe permitam<br />

<strong>de</strong>ixar algo novo acontecer-lhe. Um novo que surge tanto do presente que se percebe com<br />

intensida<strong>de</strong>, quanto pelo passado que participa da percepção no processo <strong>de</strong> interpretação<br />

do movimento. Nesse esforço <strong>de</strong> aprendizagem, estão envolvidos o que Bergson chama <strong>de</strong><br />

“mecanismos imaginativos da atenção voluntária”. 54<br />

Bergson afirma ainda que os “movimentos interiores <strong>de</strong> repetição são como um<br />

prelúdio à atenção voluntária. Assinalam o limite entre a vonta<strong>de</strong> e o automatismo.” Os<br />

processos <strong>de</strong> análise e <strong>de</strong> síntese, nesse sentido, indicam já uma ativida<strong>de</strong> intelectual.<br />

Don<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos inferir que é o pensamento que liga as partes e restitui o movimento às<br />

imagens captadas e transformadas ora em ação, ora em representação. É ele o responsável<br />

pelo restabelecimento do movimento, implicado no processo <strong>de</strong> interpretação dos<br />

estímulos sensoriais. É ele também que, por um lado, distingue, as diferenças que<br />

caracterizam um movimento único, e, por outro lado, extrai <strong>de</strong>le os traços mais<br />

importantes, os quais passarão a ser reconhecidos em outros movimentos similares. O<br />

reconhecimento implica, pois, em uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração do geral diante do singular,<br />

tanto entre as imagens oriundas da memória, quanto entre aquelas oriundas da percepção.<br />

“(...) prestar atenção, reconhecer com inteligência, interpretar, constituiriam<br />

uma única e mesma operação pela qual o espírito, tendo fixado seu nível,<br />

tendo escolhido em si mesmo, com relação às percepções brutas, o ponto<br />

54 “Uma coisa é compreen<strong>de</strong>r um movimento difícil, outra é po<strong>de</strong>r executá-lo. Para compreendê-lo, basta<br />

perceber o essencial, o suficiente para distingui-lo dos outros movimentos possíveis. Mas para saber executálos<br />

é preciso também que o corpo tenha compreendido. Ora a lógica do corpo não admite os subentendidos.<br />

Ela exige que todas as partes constitutivas do movimento pedido sejam mostradas uma a uma, e <strong>de</strong>pois<br />

recompostas juntamente. Uma análise completa torna-se aqui necessária, sem negligenciar nenhum <strong>de</strong>talhe,<br />

acompanhada <strong>de</strong> uma síntese atual em que não se abrevia nada. O esquema imaginativo, composto <strong>de</strong><br />

algumas sensações musculares nascentes, era apenas um esboço. As sensações musculares real e<br />

completamente experimentadas dão-lhe o colorido e a vida.” (Bergson, 1990, p. 90)<br />

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