Cristina Toshie Lucena Nishio - Biblioteca Digital de Teses e ...
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precisou estar diante do dispositivo para a inscrição da representação, o referente. Um<br />
vínculo que lhe confere uma “objetivida<strong>de</strong> essencial” (Bazin, 1983, passim) Por outro lado,<br />
esse modo particular <strong>de</strong> articulação entre o presente e o passado na “situação<br />
cinematográfica”, o qual prevê uma imbricação entre os estímulos luminosos produzidos<br />
pelo dispositivo e os estados afetivos que emergem no público, a própria imagem do<br />
presente transformando-se já em memória pela velocida<strong>de</strong> com que elas aparecem e<br />
<strong>de</strong>saparecem da tela, todo esse contexto <strong>de</strong> projeção favorece a emergência da memória em<br />
cada espectador, a dinamização do inconsciente, conferindo a essa imagem um alto grau <strong>de</strong><br />
subjetivida<strong>de</strong>.<br />
“[no caso do cinema] Será que no cinema acrescento à imagem? Acho que<br />
não; não tenho tempo: diante da tela, não estou livre para fechar os olhos;<br />
senão, ao reabri-los, não reencontraria a mesma imagem: estou submetido a<br />
uma voracida<strong>de</strong> contínua; Muitas outras qualida<strong>de</strong>s, mas não pensativida<strong>de</strong>,<br />
don<strong>de</strong> o interesse, para mim, do fotográfico” (Barthes, 1984, p. 85, 86)<br />
Na imagem cinematográfica, há “pensativida<strong>de</strong>”. Mas é uma “pensativida<strong>de</strong>” <strong>de</strong><br />
outra natureza. Ela está imbricada no inconsciente. Não nos permite o mesmo tipo <strong>de</strong><br />
reflexão que uma imagem mais permanente; uma reflexão mais consciente. Na “situação<br />
cinematográfica”, o inconsciente é dinamizado, mas <strong>de</strong> maneira tão rápida que os afetos<br />
ficam borbulhando por entre os estímulos luminosos sem que consigam todos chegar à<br />
consciência em forma <strong>de</strong> representação. Tudo é movimento. Tudo é passagem. Esta parece<br />
ser, na verda<strong>de</strong>, a gran<strong>de</strong> riqueza do cinema: sua precarieda<strong>de</strong>. Pois ela é uma<br />
representação que não se fixa, que não sai do movimento, que mantém seu fluxo. Talvez<br />
<strong>de</strong>vêssemos reconhecer, no inconsciente, qualida<strong>de</strong>s que lhes são próprias, distintas,<br />
portanto, das elaborações promovidas pela consciência.<br />
Contudo, essa ativação do inconsciente na “situação cinematográfica” po<strong>de</strong> ser<br />
minimizada por hábitos que <strong>de</strong>senvolvemos ao longo <strong>de</strong> sucessivas repetições nessas<br />
articulações entre o passado e as imagens do presente. A intensida<strong>de</strong> afetiva da imagem<br />
cinematográfica ten<strong>de</strong>, portanto, a se esvaziar em representações que se tornam cada vez<br />
mais conhecidas do público; significantes cujos significados são <strong>de</strong>finidos por hábitos que<br />
o público adquiriu em sucessivas repetições. A memória virtual que cada um traz consigo<br />
ten<strong>de</strong> a ser substituída, neste caso, pela atualização <strong>de</strong> um outro tipo <strong>de</strong> memória que se<br />
origina do hábito. Vejamos, então, o que as distingue, como elas funcionam, e que<br />
implicações elas trazem à imagem cinematográfica.<br />
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