“Ecologia química de esponjas marinhas: multifuncionalidade ... - UFF
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Biologia Marinha<br />
Pós-Graduação - uff<br />
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE<br />
CENTRO DE ESTUDOS GERAIS<br />
INSTITUTO DE BIOLOGIA<br />
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA MARINHA<br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MARINHA<br />
<strong>“Ecologia</strong> <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>:<br />
multifuncionalida<strong>de</strong>, variação congenérica,<br />
intrapopulacional, latitudinal e estádios <strong>de</strong> vida”<br />
SUZI MENESES RIBEIRO<br />
2008<br />
i
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE<br />
CENTRO DE ESTUDOS GERAIS<br />
INSTITUTO DE BIOLOGIA<br />
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA MARINHA<br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA MARINHA<br />
<strong>“Ecologia</strong> <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>:<br />
multifuncionalida<strong>de</strong>, variação congenérica,<br />
intrapopulacional, latitudinal e estádios <strong>de</strong> vida”<br />
SUZI MENESES RIBEIRO<br />
ORIENTAÇÃO<br />
PROF. Dr. RENATO CRESPO PEREIRA<br />
PROF a . Dr a . VALÉRIA LANEUVILLE TEIXEIRA<br />
Niterói 2008<br />
ii
SUZI MENESES RIBEIRO<br />
<strong>“Ecologia</strong> <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>:<br />
multifuncionalida<strong>de</strong>, variação congenérica,<br />
intrapopulacional, latitudinal e estádios <strong>de</strong> vida”<br />
BANCA EXAMINADORA:<br />
__________________________________________________<br />
Prof. Dr. Renato Crespo Pereira<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />
__________________________________________________<br />
Prof a . Dr a . Valéria Laneuville Teixeira<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />
___________________________________________________<br />
Prof a Dr a. Gisele Lôbo Hajdu<br />
Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
__________________________________________________<br />
Prof. Dr. Abílio Soares Gomes<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
___________________________________________________<br />
Dr. Fernando Coreixas Moraes<br />
Museu Nacional<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
____________________________________________________<br />
Dr a. Diana Negrão Cavalcanti<br />
Fundação Oswaldo Cruz<br />
(Suplente)<br />
ABRIL 2008<br />
Tese apresentada ao Curso <strong>de</strong> Pós-<br />
Graduação em Biologia Marinha da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense<br />
como requisito parcial para a obtenção<br />
do grau <strong>de</strong> Doutor em Biologia<br />
Marinha.<br />
iii
R 484 Ribeiro, Suzi Meneses<br />
Ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>: multifuncionalida-<br />
<strong>de</strong>, variação congenérica, intrapopulacional, latitudinal e está<br />
-dios <strong>de</strong> vida./ Suzi Meneses Ribeiro.—Niterói, RJ : [s.n.] ,<br />
2008.<br />
132f<br />
Tese—(Doutorado em Biologia Marinha)—Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, 2008.<br />
1. Poríferos. 2 Ecologia Química. 3. Tethya sp. 4. Compo-<br />
sição <strong>química</strong>. I.Título.<br />
CDD.: 593.4<br />
iv
AGRADECIMENTOS<br />
Agra<strong>de</strong>ço ao Renato a orientação e todo apoio durante a execução <strong>de</strong>sse<br />
projeto. Agra<strong>de</strong>ço a Valéria por me apresentar o “incrível mundo da <strong>química</strong>” e ter<br />
paciência todas as vezes que precisei <strong>de</strong> muitas explicações. A Etiene Clavico por<br />
ter me incentivado a iniciar o doutorado e também todo o apoio na finalização<br />
<strong>de</strong>ssa tese, mesmo que longe, via MSN. Obrigada!<br />
Durante os quatro anos, foram muitas saídas <strong>de</strong> campo, seja para coletar ou<br />
fazer experimentos e muitas pessoas me ajudaram, espero não ter esquecido <strong>de</strong><br />
ninguém: Patricia Oliveira Silva, Etiene Clavico, Daniela Lopes, Marquinhos, Svenja<br />
Hampl, Bruno Lopes, Pedro Ribeiro, Amanda Ferreira, Mariana Melão, Camilla F.<br />
Souza, Ricardo Rogers, Magui Vallin, Juliana Ferrari, Bernardo P. da Gama,<br />
Ecidine Alves Barbosa (agra<strong>de</strong>ço em especial as coletas em dias <strong>de</strong> chuva), Aline<br />
Oliveira, Marcelo Vasconcelos, Wilton Ferreira, Fredy Ortiz, Gláucia Ank, Leonardo<br />
Lima, Amanda Ferreira, Eduardo Xavier, Carlos Brito e a nova geração do Lab,<br />
Rodrigo, Natália e Claudinha.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a Ludmila Bomeny, Joel <strong>de</strong> Paula, Odinéia Pamplona, Éverson M.<br />
Bianco que me ajudaram prontamente sempre que me senti perdida no laboratório<br />
<strong>de</strong> <strong>química</strong>. Aprendi muito com vocês. Obrigada!<br />
Ao Lab. <strong>de</strong> Ressonância Magnética (<strong>UFF</strong>), Lab. <strong>de</strong> Porifera (Museu<br />
Nacional/UFRJ).<br />
Alexandre Santos <strong>de</strong> Souza (IBAMA) pela i<strong>de</strong>ntificação dos paguros, Diana<br />
Calvalcanti (análises CG/MS), Prof. Keyla e Prof. Moisés (Instituto <strong>de</strong> Matemática,<br />
Departamento <strong>de</strong> Estatística) pelas análises estatísticas.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a minha família, José, Josefa, Pedro, Shele e Mariane por serem<br />
pessoas maravilhosas.<br />
v
A Eunice por todas (e foram muitas) vezes que apareci na secretaria<br />
precisando <strong>de</strong> algo, em especial, a paciência momentos antes do meu estágio no<br />
exterior quando eu não agüentava mais tantos papéis.<br />
Ao Dr. Guilherme Muricy pela ajuda prestada sempre que precisei e por ter<br />
sido meu gran<strong>de</strong> incentivador na carreira científica.<br />
Ao Dr.Mikel Becerro por me receber no Centro <strong>de</strong> Estudos Avançados <strong>de</strong><br />
Blanes (Catalunha, Espanha), a Dr. Ioshune Uriz, Adriana Villamor e Oriol Sacristan<br />
(CEAB) por tanta ajuda nos trabalhos <strong>de</strong> campo que não daria para enumerar, Dr.<br />
Cristobo e Dr a . Pilar (Galícia, ES) por serem pessoas tão maravilhosas além <strong>de</strong><br />
profissionais exemplares.<br />
A Ana Lumbreras e Marc Terradas pela inestimável amiza<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong><br />
torcida para finalização <strong>de</strong>sse trabalho. Todos os meus amigos do CEAB, pessoas<br />
tão especiais e que compartilharam comigo momentos que certamente nunca<br />
esquecerei.<br />
A Dulce Gilson Mantuano, pela inestimável amiza<strong>de</strong> e pelas inumeráveis,<br />
produtivas e engraçadíssimas discussões ao longo da vida. A Patrícia (minha irmã)<br />
por me dar a alegria <strong>de</strong> sua amiza<strong>de</strong> durante tantos anos...<br />
Ao meus amigos <strong>de</strong> Marambaia: Ester, Viviane e Tiago. Sempre passo<br />
ótimos momentos com vocês. Obrigada!<br />
Agra<strong>de</strong>ço ao Matthew J. Parker pelas figuras e revisão do inglês, além <strong>de</strong> ter<br />
me suportado nos difíceis momentos finais da tese.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a CAPES pela bolsa <strong>de</strong> doutorado e estágio <strong>de</strong> doutorando no<br />
exterior (PDEE) que foram fundamentais na execução <strong>de</strong>sse trabalho. A FAPERJ<br />
pelos recursos do laboratório.<br />
projeto.<br />
Ao IBAMA por conce<strong>de</strong>r as autorizações necessárias para execução <strong>de</strong>sse<br />
vi
SUMÁRIO<br />
Ficha catalográfica............................................................................................ iv<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos................................................................................................ v<br />
Resumo............................................................................................................. ix<br />
Abstract............................................................................................................. x<br />
Lista <strong>de</strong> figuras ................................................................................................. xi<br />
Lista <strong>de</strong> tabelas................................................................................................. xiv<br />
Introdução geral.............................................................................................. 1<br />
Esponjas <strong>marinhas</strong> e seu potencial químico.......................................... 1<br />
Capítulo 1 - Perfil químico e <strong>de</strong>fesas antipredação do gênero Tethya<br />
(Porifera: Demospongiae).................................................................................<br />
1. Introduçao............................................................................................ 12<br />
2. Materiais e métodos............................................................................ 17<br />
3. Resultados.......................................................................................... 26<br />
4. Discussão............................................................................................ 46<br />
5. Conclusões.......................................................................................... 52<br />
Capítulo 2 – Variação intrapopulacional nos metabólitos <strong>de</strong> Tethya sp. e<br />
perfil químico dos brotos...................................................................................<br />
1. Introdução............................................................................................ 55<br />
2. Materiais e métodos............................................................................ 58<br />
3. Resultados.......................................................................................... 68<br />
4. Discussão............................................................................................ 69<br />
5. Conclusões.......................................................................................... 71<br />
Capítulo 3 - Multifuncionalida<strong>de</strong> na <strong>química</strong> <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong> Hymeniacidon<br />
heliophila (Parker, 1910) contra predadores.....................................................<br />
11<br />
54<br />
72<br />
vii
1. Introduçao............................................................................................ 73<br />
2. Materiais e métodos............................................................................ 75<br />
3. Resultados........................................................................................... 78<br />
4. Discussão............................................................................................ 82<br />
5. Conclusões.......................................................................................... 85<br />
Capítulo 4 - Variação latitudinal na produção <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> em<br />
<strong>esponjas</strong> do Atlântico Sul, Atlântico Norte e Mediterrâneo...............................<br />
1. Introduçao........................................................................................... 89<br />
2. Materiais e métodos............................................................................ 93<br />
3. Resultados........................................................................................... 96<br />
4. Discussão............................................................................................ 98<br />
5. Conclusões.......................................................................................... 107<br />
Conclusões gerais........................................................................................... 108<br />
Referências bibliográficas.............................................................................. 110<br />
ANEXO I – Artigo: Variability on the <strong>de</strong>fensive strategies of two Tethya<br />
species (Porifera: Demospongiae)”, submetido ao periódico “Biological<br />
Bulletin”<br />
ANEXO II – Artigo: “Como as <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> interagem no meio em que<br />
vivem?”, aceito para publicação na revista “Ciência Hoje”<br />
88<br />
viii
RESUMO<br />
As <strong>esponjas</strong> estão entre os organismos marinhos dos quais se têm extraído<br />
diversos produtos naturais. Essa diversida<strong>de</strong> <strong>química</strong> estimulou o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>, porém, poucos trabalhos investigaram a ecologia<br />
<strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> na costa brasileira. Os objetivos <strong>de</strong>sse trabalho foram: a)<br />
<strong>de</strong>screver o perfil químico e as <strong>de</strong>fesas antipredação <strong>química</strong>s e físicas <strong>de</strong> duas<br />
espécies do gênero Tethya; b) <strong>de</strong>screver a variação nos metabólitos secundários<br />
da esponja Tethya sp.; c) <strong>de</strong>screver o perfil químico dos brotos <strong>de</strong> Tethya sp.; d)<br />
investigar se extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila com baixa, média e alta<br />
polarida<strong>de</strong>s reduzem o consumo <strong>de</strong> ouriços, peixes e paguros e e) avaliar a<br />
existência <strong>de</strong> variação latitudinal na eficiência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> contra o consumo<br />
por peixes em <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong> três regiões distintas (Atlântico Norte, Atlântico Sul e<br />
mar Mediterrâneo). Em ensaios <strong>de</strong> laboratório, o extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp. evitou<br />
a predação por paguros, o que não ocorreu com Tethya rubra. Em ambas espécies<br />
as espículas e a combinação <strong>de</strong> espículas com extrato bruto foram <strong>de</strong>fensivas. Os<br />
três extratos brutos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila foram repelentes a predação por<br />
paguros, enquanto apenas o <strong>de</strong> alta polarida<strong>de</strong> evitou a predação por ouriços e o<br />
<strong>de</strong> média polarida<strong>de</strong>, eficiente contra a predação por peixes generalistas. Concluiu-<br />
se que <strong>esponjas</strong> com perfis químicos muito semelhantes (Tethya sp. e Tethya<br />
rubra) po<strong>de</strong>m apresentar distintas estratégias <strong>de</strong>fensivas. A multiplicida<strong>de</strong> nas<br />
<strong>de</strong>fesas antipredação foram constatadas em extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila.<br />
Não foram encontradas tendências latitudinais em <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s antipredação<br />
contra peixes generalistas em <strong>esponjas</strong> do Mediterrâneo, Atlântico Norte e Atlântico<br />
sul.<br />
ix
ABSTRACT<br />
Sponges are amongst a group of marine organisms from which many, diverse,<br />
natural products have been extracted. This chemical diversity has stimulated the<br />
<strong>de</strong>velopment of the sponges’ chemical ecology, however, there have been few<br />
works investigating the chemical ecology of sponges from the Brazilian coastline.<br />
This work aims to: a) <strong>de</strong>scribe the chemical profile and the physical & chemical anti-<br />
predatory <strong>de</strong>fenses of two different Tethya species; b) <strong>de</strong>scribe the secondary<br />
metabolite variations in Tethya sp.; c) evaluate the chemical profile of the buds of<br />
Tethya sp.; d) investigate if extracts from Hymeniacidon heliophila, with low,<br />
medium and high polarities can reduce consumption by sea urchins, fishes and<br />
hermit crabs and e) evaluate the existence of latitudinal variation in the chemical<br />
<strong>de</strong>fense effectiveness of marine sponges in three distinct regions (North Atlantic,<br />
South Atlantic and the Mediterranean). In laboratory tests, the cru<strong>de</strong> extract of<br />
Tethya sp. avoids predatory attacks from hermit crabs, whilst this does not happen<br />
with Tethya rubra. In both Tethya species, the spicules and the combination of<br />
spicules with cru<strong>de</strong> extract, <strong>de</strong>monstrated <strong>de</strong>fensive properties. Of the three cru<strong>de</strong><br />
extracts of Hymeniacidon heliophila, all were a <strong>de</strong>terrent to hermit crabs. Only high<br />
polarities <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>d against sea urchins, whilst medium polarity, was efficient in<br />
<strong>de</strong>fending against generalist fish. In conclusion even sponges with similar chemical<br />
composition (Tethya sp. and Tethya rubra) may present different <strong>de</strong>fensive<br />
strategies. Multiple anti-predatory <strong>de</strong>fenses were recor<strong>de</strong>d in extracts of<br />
Hymeniacidon heliophila. In related sponges from North Atlantic, South Atlantic and<br />
the Mediterranean, consistent latitudinal inclination in anti-predatory chemical<br />
<strong>de</strong>fenses of sponges, against generalist fish, was not found.<br />
x
LISTA DE FIGURAS<br />
Capítulo 1<br />
Figura 1 Esqueleto básico <strong>de</strong> um esterol do tipo colestano. 14<br />
Figura 3<br />
Exemplar <strong>de</strong> Tethya sp. (A) e Praia <strong>de</strong> Tarituba, Paraty - RJ (B).<br />
Figura 4 Exemplar <strong>de</strong> Tethya rubra (A) e Ilha do Fra<strong>de</strong>, Baía <strong>de</strong> Todos os<br />
Santos – BA (B).<br />
Figura 5 Indivíduos <strong>de</strong> paguros Calcinus tibicen (A) e Clibanarius antillensis<br />
(B).<br />
18<br />
Figura 6 Praia <strong>de</strong> Itaipu (costão esquerdo), Niterói - Rio <strong>de</strong> Janeiro. 18<br />
Figura 7 (A) Incorporação do gel a matriz quadriculada, (B) <strong>de</strong>talhe do<br />
alimento após cortado na malha, contendo um controle e um<br />
tratamento e (C) unida<strong>de</strong> experimental utilizada: pote plástico com<br />
um paguro e alimento artificial.<br />
Figura 8 (A) unida<strong>de</strong> experimental contendo um alimento controle e um<br />
alimento tratamento, (B) mol<strong>de</strong> em acrílico utilizado para obtenção<br />
dos alimentos.<br />
Figura 9<br />
(A) limpeza das espículas a vácuo, (B) Espículas limpas.<br />
Figura 10 Partição com funil <strong>de</strong> bromo realizada com os extratos brutos em<br />
acetona <strong>de</strong> Tethya sp. e Tethya rubra.<br />
Figura 11 Filtração com funil <strong>de</strong> Büchner realizada com o extrato bruto <strong>de</strong><br />
Tethya sp.<br />
Figura 12 Cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada do extrato bruto em acetona<br />
<strong>de</strong> Tethya sp. (A) e Tethya rubra (B). Eluente: AcOEt/ Hexano 1:1.<br />
Figura 13 RMN 1 H (CDCl3, 300 MHz, TMS como referência interna) do<br />
extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp. coletada em Parati (RJ) (acima) e<br />
Tethya rubra coletada na Bahia (abaixo).<br />
Figura 14 CG/MS do extrato bruto em acetona <strong>de</strong> T. rubra, BA (1,4<br />
mg/1mL).<br />
Figura 15 CG/MS do extrato bruto em acetona <strong>de</strong> Tethya sp., BA (1,4<br />
mg/1mL).<br />
Figura 16 Extrato bruto em acetona <strong>de</strong> T. rubra (à esquerda), padrão <strong>de</strong><br />
colesterol (ao meio) e extrato bruto em acetona <strong>de</strong> Tethya sp. (à<br />
direita).<br />
Figura 17<br />
CCD das frações 1-63 <strong>de</strong> Tethya sp. Eluente: AcOt/Hexano 1:1<br />
Figura 18<br />
CCD das frações 1-41 Tethya rubra. Eluente: AcOt/Hexano 1:1<br />
Figura 19 Estrutura dos principais esteróis <strong>de</strong>tectados das espécies <strong>de</strong><br />
Tethya sp. (RJ) e Tethya rubra (BA).<br />
Figura 20 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo extratos<br />
brutos em acetona das <strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra e dos<br />
respectivos controles. N = número <strong>de</strong> réplicas. A barra vertical em<br />
cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
17<br />
18<br />
20<br />
21<br />
22<br />
24<br />
25<br />
26<br />
27<br />
28<br />
29<br />
30<br />
31<br />
32<br />
34<br />
35<br />
xi
Figura 21 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais controle e tratamento<br />
contendo espículas das <strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra pelo<br />
paguro Calcinus tibicen. N = número <strong>de</strong> réplicas. A barra vertical<br />
em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 22 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo controle e<br />
tratamento contendo espículas e extrato bruto das <strong>esponjas</strong><br />
Tethya sp. e Tethya rubra pelo paguro Calcinus tibicen. N =<br />
número <strong>de</strong> réplicas. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao<br />
<strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 23 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo extrato bruto<br />
das <strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra por peixes generalistas. N<br />
= número <strong>de</strong> réplicas. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao<br />
<strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 24 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo espículas das<br />
<strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra. N = número <strong>de</strong> réplicas. A<br />
barra vertical em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 25 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> frações <strong>de</strong> Tethya sp. N = número <strong>de</strong> 40<br />
réplicas. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 26 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo as frações 41<br />
obtidas com clorofórmio e água <strong>de</strong>stilada <strong>de</strong> Tethya sp. N =<br />
número <strong>de</strong> réplicas. A barra vertical em cada coluna correspon<strong>de</strong><br />
ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 27 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo as frações 42<br />
obtidas com clorofórmio e água <strong>de</strong>stilada <strong>de</strong> Tethya sp. N =<br />
número <strong>de</strong> réplicas. A barra vertical em cada coluna correspon<strong>de</strong><br />
ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 28 Comparação da fração ativa com as frações 37-39 e 42. 43<br />
Figura 29 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais contendo as frações 37-<br />
39 e 42 pelo paguro Calcinus tibicen. N = número <strong>de</strong> réplicas. A<br />
barra vertical em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
36<br />
37<br />
38<br />
39<br />
44<br />
xii
Capítulo 2<br />
Figura 1 (A) Um broto <strong>de</strong> Tethya sp. na extremida<strong>de</strong> da pinça. Escala = 1<br />
cm, (B) brotos vistos sob lupa.<br />
Figura 2 Estrutura dos principais esteróis <strong>de</strong>tectados das espécies <strong>de</strong><br />
Tethya sp. (RJ) e Tethya rubra da (BA).<br />
Figura 3 Concentração <strong>de</strong> colesta-4,6-dienol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya<br />
sp.<br />
Figura 4<br />
Concentração <strong>de</strong> colesterol em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
Figura 5 Concentração <strong>de</strong> ergosta-5,22-dienol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya<br />
sp.<br />
Figura 6 Concentração <strong>de</strong> ergosta-5,24(28)-dienol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong><br />
Tethya sp.<br />
Figura 7 Concentração <strong>de</strong> estigmasta-5-enol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya<br />
sp.<br />
Figura 8 Cromatograma do extrato bruto dos brotos <strong>de</strong> Tethya sp. (CG/MS).<br />
Figura 9 Cromatograma do extrato bruto <strong>de</strong> adultos <strong>de</strong> Tethya sp. (CG/MS). 68<br />
Figura 10<br />
Colesta-5-enol- 3-ona-7 (presente nos brotos, não <strong>de</strong>tectado nos<br />
69<br />
indivíduos adultos).<br />
Capítulo 3<br />
Figura 1 Esponja Hymeniacidon heliophila (Parker, 1910). Foto: G. Muricy. 75<br />
Figura 2 Praia <strong>de</strong> Itaipu, Niterói, Rio <strong>de</strong> Janeiro. A seta indica o local <strong>de</strong><br />
coleta dos organismos (Modificado <strong>de</strong> Salvador e Silva 2002).<br />
Figura 3 Enseada do Forno, Arraial do Cabo, Rio <strong>de</strong> Janeiro. A seta indica o<br />
local on<strong>de</strong> foram realizados experimentos (Modificado <strong>de</strong> Ribeiro et<br />
al. 2003).<br />
Figura 4 Método <strong>de</strong> obtenção dos três extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila<br />
(EB1, EB2, EB3).<br />
Figura 5 Cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada dos extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon<br />
heliophila. (A) Placa não revelada e (B) placa revelada com sulfato<br />
cérico.<br />
Figura 6 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo<br />
extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila pelo paguro Calcinus tibicen.<br />
O número <strong>de</strong> réplicas utilizados está indicado acima das colunas<br />
correspon<strong>de</strong>ntes assim como o valor <strong>de</strong> p. A barra em cada coluna<br />
correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Figura 7 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo<br />
extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila pelo ouriço Litechinus<br />
variegatus. O número <strong>de</strong> réplicas utilizados está indicado acima<br />
das colunas correspon<strong>de</strong>ntes assim como o valor <strong>de</strong> p. A barra em<br />
cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
61<br />
63<br />
64<br />
64<br />
65<br />
65<br />
66<br />
67<br />
76<br />
76<br />
77<br />
78<br />
79<br />
80<br />
xiii
Figura 8 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo<br />
extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila por peixes generalistas. O<br />
número <strong>de</strong> réplicas utilizados está indicado acima das colunas<br />
correspon<strong>de</strong>ntes assim como o valor <strong>de</strong> p. A barra em cada coluna<br />
correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Capítulo 4<br />
Figura 1 Os pontos vermelhos indicam os locais <strong>de</strong> coleta no Atlântico Norte<br />
e Mediterrâneo. 1 = Ria <strong>de</strong> Ferrol (La Coruña), 2 = Cabo <strong>de</strong> Creus<br />
(Catalunha), 3 = L’Estartit (Catalunha) e 4 = Blanes (Catalunha).<br />
Figura 2 Os pontos vermelhos indicam as localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> coleta no Atlântico<br />
Sul, Rio <strong>de</strong> Janeiro (Brasil).<br />
Figura 4 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo<br />
extrato bruto das <strong>esponjas</strong> do Atlântico Sul e Mediterrâneo. A barra<br />
em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão, o valor <strong>de</strong> p está<br />
ao lado <strong>de</strong> cada coluna e N = 20 em todos os casos.<br />
Figura 5 Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo<br />
extrato bruto das <strong>esponjas</strong>. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong><br />
ao <strong>de</strong>svio padrão, o valor <strong>de</strong> p está ao lado <strong>de</strong> cada coluna e N =<br />
20 em todos os casos.<br />
81<br />
90<br />
91<br />
96<br />
97<br />
xiv
Introdução geral<br />
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1. Trabalhos realizados na costa brasileira na área <strong>de</strong> ecologia<br />
<strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>.<br />
Capítulo 1<br />
Tabela 1 Tempo <strong>de</strong> retenção (Tr), massa molecular (M + ), principais<br />
fragmentos em CG/MS, fórmula molecular e código da<br />
estrutura dos esteróis <strong>de</strong>tectados.<br />
Tabela 2 Percentagens relativas (%) dos esteróis <strong>de</strong>tectados em<br />
CG/MS nos espécimes <strong>de</strong> Tethya sp. (RJ) e Tethya rubra<br />
(BA).<br />
Tabela 3 Pesos e porcentagens relativas resultantes da filtração do<br />
extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp. com diferentes solventes.<br />
Capítulo 2<br />
Tabela 1<br />
Capítulo 4<br />
Pesos e porcentagens resultantes da filtração do extrato<br />
bruto <strong>de</strong> Tethya sp. com diferentes solventes.<br />
Tabela 1 Esponjas <strong>marinhas</strong> estudadas. AN=Atlântico Norte,<br />
AS=Atlântico Sul e MED=Mediterrâneo.<br />
Tabela 2 Porcentagem <strong>de</strong> extrato em função do peso seco obtido das<br />
<strong>esponjas</strong> estudadas.<br />
10<br />
33<br />
33<br />
40<br />
69<br />
92<br />
95<br />
xv
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
Introdução geral<br />
Esponjas <strong>marinhas</strong> e seu potencial químico<br />
As <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> são animais multicelulares primitivos, com<br />
ocorrência registrada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Pré-Cambriano (Li et al. 1998, Hooper & van<br />
Soest 2002). As <strong>esponjas</strong> estão distribuídas em ambientes marinhos e<br />
dulciaquícolas, dos pólos às regiões tropicais. Em muitos habitats bênticos,<br />
incluindo costões rochosos, recifes <strong>de</strong> coral e grutas submarinas, <strong>de</strong>ntre outros,<br />
as <strong>esponjas</strong> são, freqüentemente, os organismos dominantes (Bergquist 1978,<br />
Hooper 1995, Diaz & Rutzler 2001). Elas se alimentam através <strong>de</strong> filtração por<br />
um sistema aquífero inalante e exalante com poros externos que são<br />
conectados à câmaras <strong>de</strong> coanócitos (Hooper et al. 2002) (Figura 1).<br />
Atualmente, existem 7.000 espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong>scritas, mas estima-se que<br />
este número possa chegar a 15.000 em todo o mundo (Hooper & van Soest,<br />
2002).<br />
Existem quatro Classes <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>: Calcarea, Hexactinellida,<br />
Demospongiae e Archaeocyatha. A Classe Calcarea reúne <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong><br />
com espículas constituídas por carbonato <strong>de</strong> cálcio e são distribuídas em todos<br />
os oceanos do mundo, mas a maioria ocorrendo em águas costeiras e rasas. A<br />
Classe Hexactinellida inclui <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> que possuem espículas<br />
1
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
silicosas hexactinais e são conhecidas vulgarmente como “<strong>esponjas</strong>-<strong>de</strong>-vidro”,<br />
muitas <strong>de</strong>las ocorrendo em gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s. A Classe Demospongiae é<br />
a que reúne o maior número <strong>de</strong> táxons, compreen<strong>de</strong>ndo 90% das espécies <strong>de</strong><br />
<strong>esponjas</strong>, <strong>marinhas</strong> e dulciaquícolas, e que possuem o esqueleto formado por<br />
espículas silicosas ou fibras <strong>de</strong> espongina, po<strong>de</strong>ndo possuir ambos ou, ainda,<br />
nenhum <strong>de</strong>les (Hooper et al. 2002) (Figura 2). A Classe Archeocyatha inclui<br />
<strong>esponjas</strong> fósseis que existiram no período Cambriano (Hooper et al. 2002).<br />
No Brasil, são conhecidas aproximadamente 350 espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>,<br />
porém, estima-se que existam mais 300 espécies a serem <strong>de</strong>scritas (Hajdu et<br />
al. 1999).<br />
Atualmente, as <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> são consi<strong>de</strong>radas alvos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
relevância na busca por moléculas com diversas ativida<strong>de</strong>s biológicas. No<br />
entanto, o potencial químico <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> começou a ser conhecido<br />
pela comunida<strong>de</strong> científica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 50, com os trabalhos realizados<br />
por Bergmann e colaboradores (Bergmann 1949, Bergmann & Feeney 1950,<br />
1951, Bergmann & Burke 1955a, b, Bergmann et al. 1957). Assim, po<strong>de</strong>mos<br />
consi<strong>de</strong>rar que os estudos químicos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> iniciaram-se com as<br />
pesquisas sobre os produtos naturais da esponja Tectitethya crypta (<strong>de</strong><br />
Laubenfels, 1953). Os nucleosí<strong>de</strong>os isolados <strong>de</strong>sta <strong>esponjas</strong>, assim como<br />
correspon<strong>de</strong>ntes metabólitos análogos, exibiram forte ativida<strong>de</strong> biológica que<br />
resultou na produção industrial do Ara-C (Cytosar-U ® Upjohn), que é usado<br />
para o tratamento <strong>de</strong> leucemia e do Ara-A (Vira-A ® Parke-Davis), utilizado no<br />
tratamento da herpes. Outros produtos antivirais como, por exemplo, a<br />
azidotimidina (AZT), usada internacionalmente<br />
2
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 1. Esquema do sistema aquífero <strong>de</strong> poríferos (Reproduzido <strong>de</strong> Muricy & Hajdu, 2006)<br />
Figura 2. Exemplos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> das Classes Calcarea (A), Demospongiae (B), Hexactinellida<br />
(C) e Archaeocyatha (D). Fonte: A e B - acd.ufrj.br/labpor/; C - www.apus.ru/ D -<br />
www.keyobs.be/.<br />
no tratamento <strong>de</strong> pacientes com Síndrome da Imu<strong>de</strong>ficiência Adquirida (Sida)<br />
foram sintetizados a partir <strong>de</strong> nucleosí<strong>de</strong>os extraídos <strong>de</strong> T. crypta. Mais<br />
recentemente, no mínimo quatro produtos extraídos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> estão em<br />
processo <strong>de</strong> testes clínicos <strong>de</strong> fase I para serem comercializados por sua forte<br />
3
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
ativida<strong>de</strong> antitumoral (e.g. KRN 7000, LAF389, Disco<strong>de</strong>rmolí<strong>de</strong>o e HTI286)<br />
(Thakur & Muller 2004).<br />
O potencial farmacológico <strong>de</strong> substâncias obtidas <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> constitui<br />
uma vasta área <strong>de</strong> investigação (e.g. Schmitz & Gopichand 1978, Stonard &<br />
An<strong>de</strong>rson 1980, Kashman et al. 1989, Faulkner 1992, Kelecom 1992). De fato,<br />
as <strong>esponjas</strong> estão entre os organismos dos quais se têm extraído um gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> produtos naturais (Figura 3). Mais <strong>de</strong> cinco mil substâncias foram<br />
isoladas <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> (Bakus et al. 1986, Scheuer 1990, Pawlik 1993,<br />
Faulkner 1998, Blunt & Munro 2003, Blunt et. al. 2006).<br />
Algas vermelhas<br />
5% Outros<br />
Tunicados<br />
7%<br />
6%<br />
Equino<strong>de</strong>rmas<br />
6%<br />
Microorganismos<br />
18%<br />
Celenterados<br />
21%<br />
Esponjas<br />
37%<br />
Figura 3. Distribuição <strong>de</strong> produtos naturais marinhos, por filo. Outros= moluscos, briozoários,<br />
algas ver<strong>de</strong>s e pardas (Fonte: Blunt et al. 2006)<br />
Geralmente, os produtos naturais provenientes <strong>de</strong> organismos marinhos<br />
possuem novas estruturas quando comparados àqueles encontrados em<br />
organismos terrestres (Fenical 1982). Esses metabólitos constituem exemplos<br />
<strong>de</strong> variados tipos <strong>de</strong> estruturas moleculares que incluem substâncias<br />
terpenoídicas, ácidos aminados, alcalói<strong>de</strong>s, substâncias <strong>de</strong> origem biossintética<br />
mista, entre outras (McClintock & Baker 2001). Assim, a proliferação <strong>de</strong><br />
estudos <strong>de</strong> <strong>química</strong> <strong>de</strong> produtos naturais, que buscavam principalmente a<br />
4
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas moléculas, impulsionou o <strong>de</strong>senvolvimento da ecologia<br />
<strong>química</strong> <strong>de</strong> organismos marinhos como um todo (Pereira 2002).<br />
Ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong><br />
A ecologia <strong>química</strong> marinha é uma área recente <strong>de</strong> investigação e<br />
possui caráter interdisciplinar. O enfoque biológico <strong>de</strong>sse campo <strong>de</strong> pesquisa<br />
avalia, por exemplo, como agem e quais as implicações ecológicas dos<br />
metabólitos secundários presentes nos organismos. Por outro lado, a<br />
elucidação <strong>de</strong> estruturas moleculares ativas, assim como as proposições<br />
biogenéticas na formação <strong>de</strong>ssas moléculas constituem algumas das<br />
abordagens possíveis no campo <strong>de</strong> estudo químico (Pereira 2002).<br />
Os metabolitos secundários, também comumente chamados <strong>de</strong> produtos<br />
naturais, po<strong>de</strong>m atuar em diversos tipos <strong>de</strong> interações biológicas no meio<br />
marinho, como <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> anti-herbivoria e anti-predação, como<br />
alelopático em interações competitivas, no estabelecimento <strong>de</strong> mutualismos, ou<br />
em processos reprodutivos (Engel & Pawlik 2000, Pereira 2002), inibição <strong>de</strong><br />
assentamento <strong>de</strong> larvas (Hirota et al. 1998) e <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> contra patógenos<br />
(McCaffrey & En<strong>de</strong>an 1985).<br />
Dentre os diversos tipos <strong>de</strong> interações biológicas, as <strong>esponjas</strong> são<br />
especialmente alvos <strong>de</strong> investigações sobre a presença e a atuação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s contra a predação. As <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> produzem <strong>de</strong>fesa<br />
<strong>química</strong> anti-predação, particularmente <strong>de</strong>vido à aparente ausência <strong>de</strong><br />
proteção física em seus tecidos e também por serem elas sésseis, não<br />
po<strong>de</strong>ndo assim escapar dos predadores (Pawlik 1993).<br />
5
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
Uma marcante característica da ocorrência <strong>de</strong> metabólitos secundários é<br />
a intensa variabilida<strong>de</strong> quali- e quantitativa nos organismos que os produzem<br />
(Van Alstyne et al. 2001). Em outras palavras, o teor <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />
metabólito secundário não é uma característica absoluta, mas um aspecto<br />
extremamente variável. Diversos fatores têm sido apontados como causadores<br />
<strong>de</strong> variação em teores <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> em organismos marinhos, tais como<br />
o nível <strong>de</strong> exposição dos organismos a consumidores (= pressão <strong>de</strong> predação),<br />
a profundida<strong>de</strong>, a época do ano, a localização geográfica da comunida<strong>de</strong> ou<br />
até mesmo a ação <strong>de</strong> consumidores po<strong>de</strong> alterar a <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> em<br />
organismos marinhos <strong>de</strong>ntre outros (Pereira 2002). A variação em diferentes<br />
partes <strong>de</strong> um organismo também po<strong>de</strong> ter forte influência na busca <strong>de</strong> padrões<br />
gerais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas em organismos marinhos e pouco se sabe sobre esse tema<br />
(Chanas & Pawlik 1997, Pawlik 1998, Becerro et al. 1995).<br />
Uma das interações mais estudadas no contexto da ecologia <strong>química</strong><br />
marinha é a predação. Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> po<strong>de</strong>m ser significativamente<br />
reduzidas quando inexiste uma estratégia <strong>de</strong> proteção eficiente (Hill et al. 2005,<br />
Wulff 2006). Durante muitas décadas os efeitos das <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s e físicas<br />
tiveram suas ações estudadas isoladamente. Porém, assim como ocorre em<br />
algas, po<strong>de</strong> haver um efeito <strong>de</strong> maximização da ativida<strong>de</strong> quando ambas<br />
estratégias <strong>de</strong>fensivas são usadas simultaneamente, reproduzindo o que po<strong>de</strong><br />
ocorrer na natureza. No entanto, a interação <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas tem<br />
sido pouco estudada no campo da ecologia <strong>química</strong> marinha (Jones et al.<br />
2005).<br />
Outro fator que afeta diretamente a distribuição e a abundância <strong>de</strong><br />
invertebrados é a redução da <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> larvas, causada pelo consumo por<br />
6
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
peixes, tanto em regiões temperadas como tropicais (Thorson 1946, 1950,<br />
Gaines & Roughgar<strong>de</strong>n 1987, Olson & McPherson 1987, Young & Chia 1987,<br />
Lindquist & Hay 1996). Durante muitas décadas acreditava-se que a maioria<br />
das larvas <strong>marinhas</strong> seriam presas vulneráveis à maior parte dos organismos<br />
planctívoros (Orians & Janzen 1974). No entanto, alguns poucos estudos<br />
constataram que, além <strong>de</strong> presentes em indivíduos adultos, as <strong>de</strong>fesas<br />
<strong>química</strong>s também ocorrem em suas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> propagação, constituindo uma<br />
importante estratégia <strong>de</strong> sobrevivência somadas a outras já conhecidas como,<br />
por exemplo, a transparência e o pequeno tamanho da larva (Brooks & Dobson<br />
1965, Zaret & Kerfoot 1975) e as <strong>de</strong>fesas morfológicas (Pennington & Chia<br />
1984).<br />
Poucas vezes na literatura avaliou-se a variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong><br />
entre espécies com gran<strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> taxonômica. Em geral, a presença <strong>de</strong><br />
certas classes <strong>de</strong> substâncias é conservativa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>,<br />
representando uma característica taxonômica (Bergquist & Wells 1983,<br />
Braekman et al. 1992, van Soest & Braekman 1999). Porém, a relação que<br />
po<strong>de</strong> existir em respostas antipredação em um grupo <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> com a<br />
mesma classe <strong>de</strong> substâncias ainda é pouco conhecida, ou seja, não se sabe<br />
ainda se <strong>esponjas</strong> com perfis químicos semelhantes exibiriam respostas<br />
semelhantes a predadores.<br />
As principais teorias em ecologia <strong>química</strong> são advindas <strong>de</strong> estudos<br />
realizados com plantas terrestres (Hay & Steinberg 1992). Dentre as principais<br />
teorias <strong>de</strong>stacam-se: a Teoria <strong>de</strong> Defesa Ótima (TDO) e a Hipótese <strong>de</strong> Balanço<br />
Crescimento-Diferenciação (HBCD).<br />
7
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
A TDO (McKey 1974, Rhoa<strong>de</strong>s 1976) prediz que a planta canaliza as<br />
<strong>de</strong>fesas para as partes do corpo que estão mais vulneráveis ou que são<br />
fundamentais para sua vida. Essa forma <strong>de</strong> alocação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas representaria<br />
uma economia no gasto energético para produzi-las, pois a maior concentração<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa alocada seria à regiões específicas. Em <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> esse<br />
tema é bastante controverso. Concordando com essa teoria, Schupp et al.<br />
(1999) constataram uma maior concentração <strong>de</strong> metabólitos nas partes mais<br />
visíveis da esponja Oceanapia sp. O mesmo tipo <strong>de</strong> variação foi encontrado na<br />
esponja antártica Latrunculia apicalis (Furrow et al. 2003) e em Ectyoplasia<br />
ferox (Kubanek et al. 2002). Em Cacospongia sp. também foi evi<strong>de</strong>nciada a<br />
existência <strong>de</strong> maior concentração dos sesterterpenos escalaradiol e<br />
<strong>de</strong>sacetilescalaradiol no extrato bruto das porções mais vulneráveis que<br />
incluíam as extremida<strong>de</strong>s e o ectossoma (Becerro et al. 1998). Porém, até as<br />
mais baixas concentrações do extrato encontrado no tecido da esponja foram<br />
eficazes para evitar a predação por peixes (Becerro et al. 1998), o que não<br />
corroboraria a TDO. Em <strong>de</strong>sacordo com essa teoria, nas <strong>esponjas</strong><br />
Xestospongia muta, Chondrilla nucula e Crambe crambe não foram<br />
encontradas evidências <strong>de</strong> maior concentração <strong>de</strong> metabólitos na superfície<br />
(Chanas & Pawlik 1997, Pawlik 1998, Becerro et al. 1995, respectivamente). Na<br />
esponja Dysi<strong>de</strong>a granulosa, a maior concentração <strong>de</strong> metabólitos secundários<br />
foi encontrada no endossoma, ou seja, o inverso do esperado <strong>de</strong> acordo com a<br />
TDO (Becerro & Paul 2004).<br />
O tipo <strong>de</strong> habitat também po<strong>de</strong> influenciar na produção <strong>de</strong> metabólitos.<br />
No caso da esponja mediterrânea Crambe crambe, foram <strong>de</strong>tectadas maiores<br />
8
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
concentrações <strong>de</strong> metabólitos secundários em indivíduos expostos quando<br />
comparados aos ciáfilos (Becerro et al. 1995).<br />
Variações sazonais foram encontradas na esponja Chondrilla nucula,<br />
on<strong>de</strong> exemplares coletados em época <strong>de</strong> inverno não possuíam <strong>de</strong>fesas<br />
<strong>química</strong>s contra predação por peixes, ao passo que exemplares coletados em<br />
outras épocas do ano elas estavam presentes (Swearingen & Pawlik 1998).<br />
Estudos iniciados na década <strong>de</strong> 60 registraram que organismos<br />
marinhos venenosos e peçonhentos ocorrem mais freqüentemente em águas<br />
quentes (Halstead & Mitchell 1963, Cleland & Southcott 1965, Russell 1965). A<br />
existência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumidores em regiões tropicais foi o<br />
ponto <strong>de</strong> partida para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> hipóteses para explicar essa<br />
relação (Levin & York 1978). Do ponto <strong>de</strong> vista ecológico, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas em organismos sujeitos à altos níveis <strong>de</strong> predação constitui um<br />
importante fator para a manutenção <strong>de</strong> populações nessas regiões.<br />
Estudos comparativos com algas <strong>marinhas</strong> tropicais e temperadas<br />
também constataram uma maior freqüência <strong>de</strong> <strong>química</strong> <strong>de</strong>fensiva relacionada<br />
com a gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> herbívoros existente em regiões tropicais (Gaines<br />
& Lubchenco 1982, Steneck 1986, Hay 1991, Coley & Ai<strong>de</strong> 1991). Inclusive,<br />
espécies <strong>de</strong> algas que vivem em locais <strong>de</strong> baixa e alta intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
herbivoria, possuem padrões similares <strong>de</strong> composição <strong>química</strong>, porém,<br />
concentrações maiores <strong>de</strong> substâncias repelentes são produzidas pelos<br />
indivíduos provenientes <strong>de</strong> locais com alta herbivoria (Paul & Fenical 1987,<br />
Paul & Van Alstyne 1988). Em contrapartida, a tolerância à <strong>química</strong>s<br />
<strong>de</strong>fensivas parece ser maior em consumidores tropicais do que em temperados<br />
(Cronin et al. 1997).<br />
9
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
Como po<strong>de</strong>-se observar, diversos fatores po<strong>de</strong>m influenciar a atuação e<br />
alocação das <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s em <strong>esponjas</strong>. O conhecimento <strong>de</strong>sses fatores é<br />
fundamental para a melhor compreensão <strong>de</strong> processos químicos, ecológicos e<br />
evolutivos que influenciam na biodiversida<strong>de</strong> bentônica marinha.<br />
No Brasil, apesar da gran<strong>de</strong> abundância e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>,<br />
poucos trabalhos se <strong>de</strong>dicaram ao estudo <strong>de</strong> ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong><br />
(Tabela 1).<br />
Tabela 1. Trabalhos realizados na costa brasileira na área <strong>de</strong> ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>esponjas</strong>.<br />
Espécie Local Aspecto estudado Referência<br />
Geodia corticostylifera RJ Antipredação<br />
Antiincrustação<br />
Quimiotaxia<br />
Clavico et alli, 2006<br />
Mycale microsigmatosa RJ Antiincrustação Pereira et alli, 2002a<br />
Aplysina fulva RJ Antiincrustação Pereira et alli, 2002a<br />
Ircinia strobilina BA Antipredação Epifânio et alli, 1999<br />
No capítulo 1 <strong>de</strong>sta Tese, é apresentado um estudo realizado com<br />
intuito <strong>de</strong> avaliar o perfil químico e a ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong> duas espécies<br />
congenéricas <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>, Tethya sp. e Tethya rubra. A atuação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesas conjugadas, por sinergia, também foi analisada nesse capítulo.<br />
No capítulo 2, foi investigada a variação intrapopulacional em alguns<br />
metabólitos <strong>de</strong> Tethya sp. e também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />
<strong>química</strong> nos brotos, que são estruturas <strong>de</strong> propagação vegetativa.<br />
10
Introdução geral<br />
______________________________________________________________________<br />
O capítulo 3 apresenta os resultados <strong>de</strong> um estudo realizado com<br />
extratos da esponja Hymeniacidon heliophila avaliados como <strong>de</strong>fesa frente à<br />
diferentes consumidores.<br />
No capítulo 4, o tema da hipótese latitudinal foi testado utilizando<br />
espécies aparentadas coletadas em regiões do Atlântico Sul, Atlântico Norte e<br />
Mediterrâneo.<br />
11
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Capítulo 1<br />
Perfil químico e <strong>de</strong>fesas antipredação do<br />
gênero Tethya (Porifera: Demospongiae)
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
1. Introdução<br />
Os metabólitos secundários, também chamados complementares ou<br />
especiais, fazem parte <strong>de</strong> diversas classes <strong>de</strong> substâncias orgânicas e são<br />
produzidas por vias sintéticas <strong>de</strong>rivadas do metabolismo primário (Teixeira<br />
2002). Esses metabólitos são elementos essenciais em estudos <strong>de</strong> ecologia<br />
<strong>química</strong>, em especial, por serem importantes mediadores <strong>de</strong> interações<br />
biológicas em organismos marinhos e terrestres (Schmitt et al. 1995, <strong>de</strong> Nys et<br />
al. 1995, 1998, Hay et al. 1998).<br />
Dentre os invertebrados marinhos, as <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> se <strong>de</strong>stacam<br />
como fonte <strong>de</strong> produtos naturais (Blunt et al. 2006). Mais <strong>de</strong> 40% dos<br />
metabolitos provenientes <strong>de</strong> organismos marinhos foram isolados <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong><br />
(Seo et al. 1997). Os metabólitos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> são substâncias que possuem<br />
diversas origens biogenéticas como: esterói<strong>de</strong>s, terpenói<strong>de</strong>s, peptí<strong>de</strong>os,<br />
poliquetí<strong>de</strong>os, purinas e pirimidinas, além <strong>de</strong> produtos biossintéticos mistos. É<br />
importante <strong>de</strong>stacar que numerosos compostos encontrados em <strong>esponjas</strong><br />
também exibiram potentes e diversas bioativida<strong>de</strong>s, o que propiciou o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos medicamentos (Newman & Cragg 2004, O´Keefe<br />
2001, Seo et al. 1997). Além disso, os estudos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> são responsáveis<br />
pelo aumento do conhecimento no campo dos produtos <strong>de</strong> organismos em<br />
associação simbióticas, pois muitos metabólitos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> são na realida<strong>de</strong><br />
produzidos por bactérias e fungos simbiontes (Teixeira 2002).<br />
13
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Apesar <strong>de</strong> estarem presentes em variados invertebrados, diversos<br />
estudos evi<strong>de</strong>nciaram que substâncias esteroídicas são especialmente<br />
freqüentes, abundantes e com gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> estrutural em <strong>esponjas</strong><br />
<strong>marinhas</strong> (Kanazawa 2001, Rudi et al. 2001, Lerch & Falkner 2001, Sheikh &<br />
Djerassi 1974, D’Áuria et al. 1993, Malik et al. 1988, Teshima et al. 1983).<br />
Esteróis <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>, também po<strong>de</strong>m possuir ativida<strong>de</strong> citotóxica,<br />
antiviral, antimicrobial e inibidora <strong>de</strong> enzimas (Seo et al. 1997).<br />
Os esteróis são micromoléculas <strong>de</strong> 27 a 39 átomos <strong>de</strong> carbono<br />
pertencentes ao grupo dos esterói<strong>de</strong>s. Apresentam, portanto, como esqueleto<br />
básico, um sistema tetracíclico (ciclopentano-peridrofenantrênico) substituído<br />
no carbono 17 por uma ca<strong>de</strong>ia lateral acíclica <strong>de</strong> 8 a 10 ou mais átomos <strong>de</strong><br />
carbono (Figura 1). Os esteróis provenientes <strong>de</strong> invertebrados marinhos<br />
diferem dos ficosteróis típicos (esteróis <strong>de</strong> algas) por possuírem 26 a 30<br />
átomos <strong>de</strong> carbono, envolvendo diferentes padrões <strong>de</strong> alquilações e<br />
insaturações na ca<strong>de</strong>ia lateral, modificações no núcleo tetracíclico e<br />
polioxigenações nos anéis e/ou na ca<strong>de</strong>ia lateral (D'Auria et al. 1993).<br />
Diferente dos esteróis terrestres é particularmente difícil estabelecer a<br />
origem correta <strong>de</strong>stas substâncias nos organismos marinhos. Elas po<strong>de</strong>m ter a<br />
sua origem a partir <strong>de</strong> processos <strong>de</strong>:<br />
1. Biossíntese <strong>de</strong> novo, ou seja, captação <strong>de</strong> precursores biossintéticos <strong>de</strong><br />
organismos produtores e posterior produção <strong>de</strong> esteróis por rota própria;<br />
2. Obtenção e armazenamento a partir da dieta alimentar, sem posteriores<br />
transformações <strong>química</strong>s;<br />
14
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
3. Obtenção e armazenamento a partir da dieta alimentar, com posteriores<br />
transformações <strong>química</strong>s;<br />
4. Obtenção e armazenamento a partir <strong>de</strong> simbiontes (ex: fungos, algas e<br />
bactérias)<br />
HO<br />
2<br />
3<br />
1<br />
4<br />
10<br />
19<br />
5<br />
11<br />
9<br />
H<br />
6<br />
12<br />
13<br />
H<br />
8<br />
7<br />
18<br />
H<br />
21 22<br />
Figura 1. Estrutura <strong>química</strong> básica <strong>de</strong> um esterol do tipo colestano.<br />
14<br />
15<br />
O estudo das proprieda<strong>de</strong>s bioativas dos metabólitos secundários <strong>de</strong> T.<br />
crypta resultaram na síntese <strong>de</strong> produtos análogos (Figura 2), o ARA-A<br />
(antiviral utilizado contra o vírus Herpes simplex) e o ARA-C (antitumoral<br />
utilizado no tratamento da leucemia linfói<strong>de</strong>). Posteriormente, o estudo <strong>de</strong><br />
esteróis foi evi<strong>de</strong>nciado em Tethya aurantia (Sheikh & Djerassi 1974,<br />
Gunatilaka et al. 1981). Nessa espécie foram isolados também o monoéter<br />
glicerol alquil (2S)-1-(hexa<strong>de</strong>ciloxi)-2,3-propanediol, (2S)-1-(16-metil-<br />
hepta<strong>de</strong>ciloxi)-2,3-propanediol e (2S)-1-(15-metil-hepta<strong>de</strong>ciloxi)-2,3-propanediol<br />
(Smith & Djerassi 1987), além <strong>de</strong> alantoína e a<strong>de</strong>nosina (Weber et al. 1981). O<br />
estudo <strong>de</strong> carotenói<strong>de</strong>s em Tethya amamensis registrou a presença da<br />
17<br />
20<br />
16<br />
23<br />
24<br />
26<br />
25<br />
27<br />
15
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
tethyanina (Tanaka & Yamamoto 1984). Proteínas citotóxicas foram extraídas<br />
<strong>de</strong> Tethya ingalli (O`Keefe 2001) e duas enzimas exopolifosfatases da esponja<br />
Tethya lyncurium foram purificadas e caracterizadas (Lorenz et al. 1995).<br />
Ativida<strong>de</strong> hemolítica e larvicida foram encontradas no extrato aquoso <strong>de</strong> uma<br />
espécie <strong>de</strong> Tethya não i<strong>de</strong>ntificada proveniente <strong>de</strong> Mumbai, India (Indap &<br />
Pathare 1998).<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento dos estudos químicos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> forneceu a base<br />
para o surgimento <strong>de</strong> pesquisas no campo <strong>de</strong> ecologia <strong>química</strong>. Nas últimas<br />
décadas, o conhecimento sobre <strong>de</strong>fesas contra predação tem sido ampliado,<br />
especialmente <strong>de</strong>vido à multiplicação <strong>de</strong> investigações no campo da ecologia<br />
marinha em ambientes tropicais, temperados e antárticos. Diversos organismos<br />
têm sido estudados, como ascídias (Davis 1991, Lindquist et al. 1992, Tarjuelo<br />
et al. 2002), algas (Paul & Van Alstyne 1988, Pereira et al. 2000, Pereira et al.<br />
2002), corais (Sammarco & Coll 1988, Harvell & Fenical 1989, O’Nell & Pawlik<br />
2002), equino<strong>de</strong>rmas (Ri<strong>de</strong>out et al. 1979, Bakus 1981, McClintock & Vernon<br />
1990), moluscos (Pawlik et al. 1988; Fontana et al. 1993) e <strong>esponjas</strong> (Puyana<br />
et al. 2003, Becerro & Paul 2004, Clavico et al. 2006).<br />
As <strong>esponjas</strong> são organismos conspícuos em comunida<strong>de</strong>s bentônicas,<br />
apesar da aparente vulnerabilida<strong>de</strong> a predação, pois possuem corpos macios<br />
supostamente sem <strong>de</strong>fesas. Até mesmo em ambientes com elevada pressão<br />
<strong>de</strong> predação, como recifes <strong>de</strong> corais, as <strong>esponjas</strong> po<strong>de</strong>m constituir populações<br />
representativas (Diaz et al. 1990, Alcolado 1991, Sarmento & Correia 2002,<br />
Ribeiro & Muricy 2004). No entanto, diversos organismos são conhecidos por<br />
consumirem <strong>esponjas</strong>, como peixes (Randall & Hartman 1968, Wulff 1994,<br />
Dunlap & Pawlik 1998), estrelas-do-mar (Schiebling 1982, Sheild & Witman<br />
16
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
1993, McClintock et al. 1994), ouriços (Birenhei<strong>de</strong> et al. 1993, Santos et al.<br />
2002), poliquetas (Pawlik 1983), tartarugas (Meylan 1988, 1990, León &<br />
Bjorndal 2002), caranguejos (Hazlett 1968, 1981, Schembri 1982) e anfípodas<br />
(Oshel & Steele 1985).<br />
Apesar da existência <strong>de</strong> trabalhos sobre ativida<strong>de</strong>s farmacológicas (Silva<br />
et al. 2006, Seleguim et al. 2007) <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong>sse gênero na costa brasileira,<br />
pouco se sabe sobre as características <strong>química</strong>s <strong>de</strong>ssas <strong>esponjas</strong>.<br />
O objetivo <strong>de</strong>sse capítulo foi <strong>de</strong>screver o perfil químico e as <strong>de</strong>fesas<br />
antipredação <strong>química</strong>s e físicas <strong>de</strong> duas espécies do gênero Tethya do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e da Bahia (Tethya sp. e Tethya rubra).<br />
17
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
2. Materiais e Métodos<br />
2.1. Coletas<br />
Os espécimes <strong>de</strong> Tethya sp. (Figura 3A) foram coletados através <strong>de</strong><br />
mergulho livre na Praia <strong>de</strong> Tarituba, Paraty - Rio <strong>de</strong> Janeiro (Figura 3B) nos<br />
meses <strong>de</strong> abril e setembro <strong>de</strong> 2004, julho <strong>de</strong> 2005, junho <strong>de</strong> 2006 e agosto <strong>de</strong><br />
2007. Nesse local, as <strong>esponjas</strong> habitam a faixa entre-marés. Após a coleta,<br />
estes foram congelados em freezer para posterior liofilização. Os exemplares<br />
<strong>de</strong> Tethya rubra (Figura 4A) foram coletados na Ilha do Fra<strong>de</strong>, Baía <strong>de</strong> Todos<br />
os Santos, Salvador – Bahia (Figura 4B) no mês <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2004, seguindo<br />
os mesmos procedimentos <strong>de</strong>scritos acima.<br />
Os paguros Calcinus tibicen e Clibanarius antillensis (Figura 5A e B,<br />
respectivamente) utilizados nos ensaios foram coletados na Praia <strong>de</strong> Itaipu,<br />
Niterói – RJ (Figura 6) e <strong>de</strong>volvidos no mesmo local ao fim <strong>de</strong> cada ensaio.<br />
Figura 3. Exemplar <strong>de</strong> Tethya sp. (A) e Praia <strong>de</strong> Tarituba, Paraty - RJ (B). Escala=1cm<br />
18
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 4. Exemplar <strong>de</strong> Tethya rubra (A) e Ilha do Fra<strong>de</strong>, Baía <strong>de</strong> Todos os Santos –<br />
BA (B). Escala = 1 cm.<br />
Figura 5. Indivíduos <strong>de</strong> paguros Calcinus tibicen (A) e Clibanarius antillensis (B).<br />
Escala = 1 cm.<br />
Figura 6. Praia <strong>de</strong> Itaipu (costão esquerdo), Niterói - Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
19
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
2.2. Ensaios biológicos<br />
Os alimentos artificiais para paguros e peixes foram preparados <strong>de</strong><br />
acordo com Wa<strong>de</strong>ll & Pawlik (2000a). A concentração natural dos extratos<br />
brutos foi reproduzida nos alimentos artificiais. Para a preparação <strong>de</strong> 9 ml <strong>de</strong><br />
alimento para paguros ou peixes utilizou-se 0,09 g <strong>de</strong> carragenana, 8,55 ml <strong>de</strong><br />
água <strong>de</strong>stilada, 0,45 g <strong>de</strong> lula liofilizada em pó, 1 ml <strong>de</strong> solvente e extrato bruto.<br />
O extrato bruto a ser testado foi solubilizado e a<strong>de</strong>rido à lula em pó liofilizada<br />
no alimento-tratamento. Nos alimentos-controle, apenas o solvente foi<br />
adicionado à lula em pó. Nos ensaios <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa física, as espículas foram<br />
adicionadas ao alimento-tratamento. A carragenana foi diluída na água e<br />
aquecida por 20 segundos em um forno <strong>de</strong> microondas, em seguida foi<br />
acrescentada à lula. O gel obtido através <strong>de</strong>ssa mistura foi a<strong>de</strong>rido a uma<br />
matriz plástica com volume <strong>de</strong> 9 ml, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da quantida<strong>de</strong> disponível <strong>de</strong><br />
extrato bruto (Figura 7 A e B). Em cada recipiente plástico com tampa (400 ml)<br />
foram colocados um paguro e um alimento controle e tratamento (Figura 7 C).<br />
20
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 7. (A) Incorporação do gel a matriz quadriculada, (B) <strong>de</strong>talhe do alimento após<br />
cortado na malha, contendo um controle e um tratamento e (C) unida<strong>de</strong> experimental<br />
utilizada: pote plástico com um paguro e alimento artificial.<br />
O tempo <strong>de</strong> consumo nesses ensaios variou <strong>de</strong> 24 a 72 horas. Os potes<br />
plásticos foram colocados em aquários (50 a 100 litros, com água natural do<br />
mar) no Laboratório Úmido <strong>de</strong> Ecologia Química Marinha, na Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral Fluminense.<br />
Nos ensaios <strong>de</strong> predação por peixes, o alimento artificial foi preparado<br />
com um mol<strong>de</strong> <strong>de</strong> 20ml (Figura 8 B), on<strong>de</strong> barbantes eram colocados <strong>de</strong> modo<br />
que estivessem no meio dos alimentos artificiais para que pu<strong>de</strong>ssem ser<br />
amarrados nas unida<strong>de</strong>s experimentais (Figura 8 A). As unida<strong>de</strong>s<br />
experimentais foram oferecidas em campo para peixes. O tempo <strong>de</strong> consumo<br />
dos alimentos durou <strong>de</strong> 5 a 15 minutos. Depois <strong>de</strong> recolhidos, cada alimento<br />
teve seu consumo quantificado em porcentagem.<br />
21
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 8. (A) unida<strong>de</strong> experimental contendo um alimento controle e um alimento<br />
tratamento, (B) mol<strong>de</strong> em acrílico utilizado para obtenção dos alimentos.<br />
2.3. Isolamento das espículas<br />
Pequenos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong> aproximadamente 1cm 3 foram aquecidos em<br />
ácido nítrico até completa dissolução da matéria orgânica. Posteriormente, foi<br />
realizada lavagem das espículas em água <strong>de</strong>stilada utilizando um funil <strong>de</strong><br />
Büchner em um kitasato conectado a uma bomba a vácuo (Figura 9). Esse<br />
procedimento <strong>de</strong> lavagem em água foi realizado 20 vezes para eliminar o ácido<br />
nítrico.<br />
Figura 9. (A) limpeza das espículas a vácuo, (B) Espículas limpas.<br />
22
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
2.4. Análises <strong>química</strong>s<br />
Análises <strong>de</strong> Ressonância Magnética Nuclear <strong>de</strong> Hidrogênio (RMN 1 H)<br />
comprovaram que não houve perda ou modificação dos componentes<br />
majoritários do extrato bruto obtido <strong>de</strong> material úmido ou liofilizado, assim<br />
optou-se por utilizar o material liofilizado.<br />
Os extratos brutos foram analisados através <strong>de</strong> RMN 1 H (300MHz,<br />
CDCl3) e cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrômetro <strong>de</strong> massas.<br />
Para separação <strong>de</strong> componentes foram feitas colunas cromatográficas em gel<br />
<strong>de</strong> sílica com misturas <strong>de</strong> solventes orgânicos como eluentes. Para<br />
i<strong>de</strong>ntificação dos produtos naturais puros foram feitas análises <strong>de</strong> RMN em 1D<br />
<strong>de</strong> 1 H e <strong>de</strong> carbono ( 13 C-APT) e experimentos <strong>de</strong> 2D <strong>de</strong> COSY ( 1 H x 1 H).<br />
A análise por cromatografia em fase gasosa (CG) foi realizada em<br />
equipamento HP 6890 acoplado a espectrofotômetro <strong>de</strong> massas (EM) a 70 eV,<br />
em aparelho HP 5973 (CGAR/EM), coluna DB-5 MS, 30 m <strong>de</strong> comprimento,<br />
0,25 µm <strong>de</strong> espessura <strong>de</strong> filme. O gás carreador foi hélio.<br />
As amostras foram injetadas com divisão <strong>de</strong> fluxo ("split"), na razão 1:10.<br />
A programação <strong>de</strong> temperatura foi iniciada a 50°C com rampa <strong>de</strong> 10°C/min até<br />
atingir 300°C, que foi mantida por 10 minutos. A temperatura do injetor foi<br />
fixada em 270°C e a do <strong>de</strong>tector em 300°C.<br />
A amostras foram diluídas em diclorometano e injetou-se 1 µl da amostra<br />
na concentração <strong>de</strong> 100 ppm.<br />
23
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
O isolamento <strong>de</strong> produtos foi feito a partir do fracionamento do extrato<br />
bruto em acetona (100% por 7 dias) em cromatografia <strong>de</strong> coluna (2 cm x 50<br />
cm) em gel <strong>de</strong> sílica (Merck 70 – 230 "mash"). O extrato bruto foi solubilizado<br />
em clorofórmio (CHCl3 100%) que também foi utilizado como primeiro eluente,<br />
sendo acrescido <strong>de</strong> acetato <strong>de</strong> etila (AcOEt), segundo um gradiente <strong>de</strong><br />
polarida<strong>de</strong>. Foram recolhidas 63 frações do extrato bruto da esponja marinha<br />
Tethya sp. Os solventes e misturas <strong>de</strong> solventes utilizados durante a coluna<br />
cromatográfica foram os seguintes: frações 0-42, CHCl3; 43-47, CHCl3 / AcOEt<br />
(9:1); 48-50, CHCl3 / AcOEt (8:2); 51-53, CHCl3 / AcOEt (7:3); 54-56, CHCl3 /<br />
AcOEt (1:1), 57-59, AcOEt (100%); 60-63 e metanol (MeOH) para limpeza da<br />
coluna. Na coluna cromatográfica do extrato bruto <strong>de</strong> Tethya rubra foram<br />
utilizados os seguintes solventes ou misturas <strong>de</strong> solventes: frações 0-15, CHCl3<br />
; 16-30, CHCl3 / AcOEt (9:1); 31-33, CHCl3 / AcOEt (7:3); 34-35, CHCl3 / AcOEt<br />
(1:1); 36-37, CHCl3 / AcOEt; 38-41, MeOH. Em ambos os casos foram<br />
recolhidos amostras <strong>de</strong> 100 ml.<br />
Para a preparação das frações utilizou-se cromatografia em camada<br />
<strong>de</strong>lgada (CCD) <strong>de</strong> gel <strong>de</strong> sílica 60 F254 marca Merck. As placas foram reveladas<br />
pelo borrifamento <strong>de</strong> sulfato cérico, seguido <strong>de</strong> aquecimento.<br />
2.5. Partição e filtração<br />
Para i<strong>de</strong>ntificação da fração ativa biologicamente contra predação foram<br />
utilizados dois métodos: partição e filtração.<br />
O extrato bruto foi particionado utilizando os seguintes solventes:<br />
clorofórmio, hexano, metanol e água <strong>de</strong> acordo com o esquema da Figura 10.<br />
24
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
A filtração foi feita em um funil <strong>de</strong> Büchner, utilizando os solventes<br />
hexano, diclorometano, acetato <strong>de</strong> etila e metanol (Figura 11).<br />
Figura 10. Partição com funil <strong>de</strong> bromo realizada com os extratos brutos em acetona<br />
<strong>de</strong> Tethya sp. e Tethya rubra.<br />
Água <strong>de</strong>stilada<br />
Clorofórmio Hexano<br />
Metanol (20%) + água <strong>de</strong>stiladada<br />
metanol<br />
acetato <strong>de</strong> etila<br />
diclorometano<br />
hexano<br />
Figura 11. Filtração com funil <strong>de</strong> Büchner realizada com o extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
25
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
2.6. Análises estatísticas<br />
Para testar a normalida<strong>de</strong> dos dados foi utilizado o teste <strong>de</strong> Kolmogorov<br />
Smirnov e para <strong>de</strong>tectar diferenças significativas (consi<strong>de</strong>rando p
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
3. Resultados<br />
3.1. Perfil químico <strong>de</strong> Tethya sp. e Tethya rubra<br />
A cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada (Figura 12), RMN <strong>de</strong> 1 H (Figura<br />
13) e CG/MS (Figura 14 e 15) dos extratos brutos em acetona <strong>de</strong> Tethya sp. e<br />
T. rubra evi<strong>de</strong>nciaram a semelhança nos componentes majoritários <strong>de</strong> ambas<br />
espécies .<br />
Figura 12. Cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada do extrato bruto em acetona <strong>de</strong> Tethya<br />
sp. (A) e Tethya rubra (B). Eluente: Hexano/AcOEt 1:1.<br />
27
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 13. RMN 1 H (CDCl3, 300 MHz, trimetilsilano como referência interna) do extrato<br />
bruto <strong>de</strong> Tethya sp. coletada em Parati (RJ) (acima) e Tethya rubra coletada na Bahia<br />
(abaixo).<br />
28
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Abundance<br />
240000<br />
220000<br />
200000<br />
180000<br />
160000<br />
140000<br />
120000<br />
100000<br />
80000<br />
60000<br />
40000<br />
20000<br />
0<br />
Time--><br />
26.09<br />
28.24<br />
26.61<br />
27.17<br />
27.27<br />
27.64<br />
25.58<br />
5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00<br />
Figura 14. CG/MS do extrato bruto em acetona <strong>de</strong> T. rubra, BA (1,4 mg/1mL).<br />
29
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Abundance<br />
1400000<br />
1300000<br />
1200000<br />
1100000<br />
1000000<br />
900000<br />
800000<br />
700000<br />
600000<br />
500000<br />
400000<br />
300000<br />
200000<br />
100000<br />
0<br />
Time--><br />
TIC: DSUZIRJ.D<br />
26.11<br />
26.62<br />
28.25<br />
27.17<br />
25.58 27.27<br />
27.64<br />
28.41<br />
5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00<br />
Figura 15. CG/MS do extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp., RJ (1,7 mg/1mL).<br />
30
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
A cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada dos extratos brutos juntos com o<br />
padrão do colesterol indicou que os esteróis constituem a classe majoritária em<br />
Tethya sp. e T. rubra (Figura 16).<br />
Figura 16. Extrato bruto em acetona <strong>de</strong> Tethya rubra (à esquerda), padrão do<br />
colesterol (ao meio) e extrato bruto em acetona <strong>de</strong> Tethya sp. (à direita).<br />
31
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 17. CCD das frações 1-63 <strong>de</strong> Tethya sp. Eluente: Hexano/AcOEt 1:1.<br />
32
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 18. Cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada das frações 1-41 <strong>de</strong> Tethya rubra (B).<br />
Eluente: Hexano/AcOEt1:1.<br />
Em CG/MS foram <strong>de</strong>tectadas e i<strong>de</strong>ntificadas oito substâncias<br />
majoritárias <strong>de</strong> natureza esteroidal (Figuras 14 e 15, Tabelas 1 e 2) tanto em<br />
Tethya sp. como em Tethya rubra.<br />
33
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Tabela 1. Tempo <strong>de</strong> retenção (Tr), massa molecular (M + ), principais<br />
fragmentos por CG/MS, fórmula molecular e código da estrutura dos esteróis<br />
<strong>de</strong>tectados.<br />
Esteróis<br />
i<strong>de</strong>ntificados<br />
colesta-5,22dienol-3<br />
(1b)<br />
Tr<br />
(em<br />
minutos)<br />
M + Principais fragmentos Fórmula<br />
molecular<br />
25,58 384 384 [M + ], 366, 351, 300,<br />
271, 265, 213, 159, 145,<br />
111, 95, 69, 55 , 41<br />
colesterol (1a) 26,11 386 386 [M + ], 368, 353, 326,<br />
301, 275, 255, 213, 159,<br />
ergosta-5,22dienol-3<br />
(1d)<br />
ergosta-5,24(28)dienol-3<br />
(1e)<br />
ergosta-5-enol-3<br />
(1c)<br />
estigmasta-5,22dienol-3<br />
(1g)<br />
estigmasta-5,enol-<br />
3(1f)<br />
estigmasta-<br />
5,24(28)-dienol-3<br />
(1h)<br />
145, 107, 95, 81, 43<br />
26,62 398 398 [M + ], 380, 365, 337,<br />
300, 255, 213, 159, 133,<br />
105, 69, 55, 41<br />
27,17 398 398 [M + ], 383, 380, 365,<br />
314, 281, 271, 229, 159,<br />
145, 105, 81, 55, 41<br />
27,27 400 400 [M + ], 382, 367, 340,<br />
315, 289, 281, 255, 207,<br />
159, 145, 107, 105, 81, 55,<br />
43<br />
27,64 412 412 [M + ], 394, 369, 351,<br />
300, 271, 256, 207, 159,<br />
133, 105, 69, 55<br />
28,25 414 414 [M + ], 396, 381, 329,<br />
303, 213, 161, 145, 107,<br />
81, 43<br />
28,41 412 414 [M + ],, 396, 381, 314,<br />
296, 281, 255, 229, 207,<br />
145, 119, 95, 81, 55<br />
Estrutura<br />
C27H44O 1b<br />
C27H46O 1a<br />
C28H46O 1d<br />
C28H46O 1e<br />
C28H48O 1c<br />
C29H48O 1g<br />
C29H50O 1f<br />
C29H48O 1h<br />
Tabela 2. Percentagens relativas (%) dos esteróis <strong>de</strong>tectados por CG/MS nos<br />
espécimes <strong>de</strong> Tethya sp. (RJ) e Tethya rubra (BA).<br />
Esteróis i<strong>de</strong>ntificados Fig. % relativa <strong>de</strong> esteróis % relativa <strong>de</strong> esteróis<br />
19 Tethya sp. (RJ) Tethya rubra (BA)<br />
colesta-5,22-dienol-3 1b 6,13 3,36<br />
colesterol 1a 45,57 45,82<br />
ergosta-5,22-dienol-3 1d 19,69 16,89<br />
ergosta-5,24(28)-dienol-3 1e 6,64 6,53<br />
ergosta-5-enol-3 1c 5,75 6,79<br />
estigmasta-5,22-dienol-3 1g 2,66 3,01<br />
estigmasta-5,enol-3 1f 9,39 17,59<br />
estigmasta-5,24(28)-dienol-3 1h 4,17 n.d.<br />
34
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
A análise <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> utilizando a presença e a percentagem relativa<br />
dos diferentes tipos <strong>de</strong> esteróis através do índice <strong>de</strong> Bray-Curtis indicou que a<br />
semelhança entre os dois extratos correspon<strong>de</strong> a 90%.<br />
HO<br />
2<br />
3<br />
HO<br />
2<br />
3<br />
1<br />
10<br />
4<br />
19<br />
5<br />
1<br />
4<br />
10<br />
11<br />
9<br />
19<br />
H<br />
6<br />
5<br />
1<br />
12<br />
13<br />
H<br />
11<br />
9<br />
H<br />
6<br />
8<br />
7<br />
2<br />
18<br />
H<br />
12<br />
21<br />
14<br />
13<br />
H<br />
8<br />
7<br />
18<br />
H<br />
15<br />
R<br />
21<br />
17<br />
14<br />
16<br />
15<br />
R<br />
17<br />
16<br />
21 22<br />
20<br />
21 22<br />
Figura 19. Estrutura dos principais esteróis <strong>de</strong>tectados das espécies <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
(RJ) e Tethya rubra da (BA).<br />
20<br />
23<br />
a<br />
b<br />
c<br />
d<br />
23<br />
a<br />
24<br />
24<br />
26<br />
25<br />
26<br />
27<br />
25<br />
27<br />
e<br />
f<br />
g<br />
h<br />
28<br />
29<br />
35
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
3.2. Ecologia <strong>química</strong><br />
Na avaliação do efeito do extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp. (RJ) como <strong>de</strong>fesa<br />
frente à predação, foi verificado que ele atua <strong>de</strong> modo significativo na<br />
repelência dos paguros Calcinus tibicen e Clibanarius antillensis (Figura 20). O<br />
mesmo efeito não ocorreu com o extrato bruto <strong>de</strong> Tethya rubra (BA) que foi<br />
consumido indiscriminadamente por ambas as espécies <strong>de</strong> paguros (Figura<br />
20). A concentração natural <strong>de</strong> extrato bruto calculada e utilizada nos<br />
experimentos foi <strong>de</strong> 0,0245 g/ml e 0,0294 g/ml, em Tethya sp. e T. rubra,<br />
respectivamente.<br />
Consumo em porcentagem<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
n=18<br />
p=0,204<br />
n=30<br />
p=0,152<br />
n=20<br />
p
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Nos testes com espículas incorporadas ao alimento artificial, o<br />
tratamento foi significativamente menos consumido pelo paguro Calcinus<br />
tibicen. As concentrações testadas em Tethya sp. e T. rubra foram 0,08684 e<br />
0,40164 g/ml, respectivamente (Figura 21).<br />
Consumo em porcentagem<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
n=22<br />
p=0,005<br />
Tethya rubra Tethya sp.<br />
Controle<br />
Tratamento<br />
n=21<br />
p< 0,001<br />
Figura 21. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo espículas<br />
das <strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra pelo paguro Calcinus tibicen. n = número <strong>de</strong><br />
réplicas. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
O efeito dos dois tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas (física e <strong>química</strong>) associados foi<br />
testado com a confecção <strong>de</strong> alimentos contendo espículas e extrato bruto das<br />
<strong>esponjas</strong> T. rubra e Tethya sp. (Figura 22). Em ambos os casos, o alimento<br />
tratamento foi significativamente menos consumido.<br />
37
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Consumo em porcentagem<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
n=13<br />
p
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Consumo (%)<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
n=10<br />
p=0,0101<br />
n=10<br />
p=0,0425<br />
Tethya sp. Tethya rubra<br />
Controle<br />
Tratamento<br />
Figura 23. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> peixes generalistas <strong>de</strong> alimentos contendo extrato<br />
bruto das <strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra. n = número <strong>de</strong> réplicas. A barra em<br />
cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Nos ensaios utilizando espículas <strong>de</strong> Tethya sp. e Tethya rubra, houve<br />
inibição do consumo por peixes generalistas apenas no caso <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
(p=0,0050 - Figura 24). As concentrações <strong>de</strong> espículas testadas foram<br />
proporcionalmente as mesmas utilizadas em testes <strong>de</strong> predação por paguros.<br />
39
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Consumo (%)<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
n=10<br />
p=0,0050<br />
n=10<br />
p=0,1235<br />
Tethya sp. Tethya rubra<br />
Controle<br />
Tratamento<br />
Figura 24. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> peixes generalistas <strong>de</strong> alimentos controle e<br />
tratamento contendo espículas das <strong>esponjas</strong> Tethya sp. e Tethya rubra. n = número <strong>de</strong><br />
réplicas. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
3.3. Fracionamento do extrato bruto<br />
A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,26 g <strong>de</strong> extrato bruto em acetona <strong>de</strong> Tethya sp. foi<br />
filtrado usando-se hexano, diclorometano, acetato <strong>de</strong> etila e metanol (Tabela<br />
3), segundo um gradiente <strong>de</strong> polarida<strong>de</strong>. As frações diclorometano (DCM) e<br />
acetato (ACET) inibiram significativamente o consumo pelos paguros, enquanto<br />
nas duas outras frações, hexano e metanol não houve consumo diferencial<br />
(Figura 25).<br />
40
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Tabela 3. Pesos e porcentagens relativas resultantes da filtração do extrato<br />
bruto <strong>de</strong> Tethya sp. com diferentes solventes.<br />
Consumo em porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
Solvente utilizado<br />
Massa obtida<br />
(em g)<br />
Porcentagem<br />
HEXANO<br />
0,10<br />
8,0<br />
DICLOROMETANO 0,89 71,2<br />
ACETATO DE ETILA 0,16 12,8<br />
METANOL 0,10 8,0<br />
0<br />
n=27<br />
p=0,6209<br />
n=19<br />
p
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Na primeira partição realizada utilizando os solventes clorofórmio e água<br />
<strong>de</strong>stilada, apenas os componentes da fração clorofórmica inibiram o consumo<br />
(Figura 26).<br />
Consumo (porcentagem)<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
n=20<br />
p
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Consumo em porcentagem<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
n=23<br />
p
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Fração hexânica<br />
Frações reunidas 37-39<br />
Fração 42<br />
Figura 28. Comparação da fração ativa com as frações 37-39 e 42.<br />
44
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Consumo (porcentagem)<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
n=18<br />
p=0,360930<br />
n=24<br />
p=0,236924<br />
fração 37-39 fração 42<br />
Controle<br />
Tratamento<br />
Figura 29. Média <strong>de</strong> consumo pelo paguro Calcinus tibicen <strong>de</strong> alimentos artificiais<br />
contendo as frações 37-39 e 42. n = número <strong>de</strong> réplicas. A barra em cada coluna<br />
correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
4. Discussão<br />
4.1. Perfil químico<br />
Os esterói<strong>de</strong>s são substâncias amplamente distribuídas em organismos<br />
marinhos, como algas, corais, ascídias e <strong>esponjas</strong> (Seo et al. 1997, Yu et al.<br />
2006). As <strong>esponjas</strong> são conhecidas por possuírem esterói<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alta<br />
complexida<strong>de</strong> e esqueletos incomuns (Paul & Puglisi 2004), no entanto, no<br />
presente estudo não encontramos esterói<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tipos raros ou incomuns.<br />
45
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
As diversas análises <strong>química</strong>s realizadas, corroboradas ainda pela<br />
estatística (alto índice <strong>de</strong> similarida<strong>de</strong>), apontam para uma gran<strong>de</strong> semelhança<br />
nos componentes esteroidais majoritários das duas espécies <strong>de</strong> Tethya<br />
estudadas, apesar <strong>de</strong> tratarem-se <strong>de</strong> espécies morfologicamente distintas<br />
(Ribeiro 2003, Ribeiro & Muricy 2004). É possível que exista diferença na<br />
composição <strong>química</strong> <strong>de</strong>ssas espécies, porém, isso <strong>de</strong>ve ser ao nível dos<br />
componentes minoritários.<br />
Os tipos <strong>de</strong> esteróis i<strong>de</strong>ntificados em T. rubra e Tethya sp. são<br />
semelhantes aos <strong>de</strong> algas ver<strong>de</strong>s ou cianobactérias. Inclusive esse tipo <strong>de</strong><br />
associação possui registros na literatura como, por exemplo, o caso <strong>de</strong> algas<br />
ver<strong>de</strong>s encontradas no coanossoma <strong>de</strong> Tethya seychellensis nas Ilhas<br />
Maldivas (Gaino & Sarà 1994). Essa associação em partes profundas do<br />
esqueleto da esponja é possibilitada através da transmissão <strong>de</strong> luz através do<br />
feixe <strong>de</strong> espículas coanossomais (Gaino & Sarà 1994). Na espécie Tethya<br />
orphei (também provenientes das Ilhas Maldivas), cianobactérias foram<br />
encontradas em associação mutualística (Gaino et al. 2006). Em um estudo<br />
comparativo foi registrada a existência <strong>de</strong> diferenças espaciais na composição<br />
das bactérias associadas em T. aurantium (Thiel et al. 2006). De outro modo,<br />
sabemos que T. aurantium possui a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sintetizar o colesterol e o<br />
24-metilenocolesterol, a partir do <strong>de</strong>mosterol. Sendo assim, é difícil <strong>de</strong>finir a<br />
possível origem dos esteróis nessas <strong>esponjas</strong>, que tanto possuem vasta gama<br />
<strong>de</strong> simbiontes como possuem capacida<strong>de</strong> metabólica <strong>de</strong> produzir essas<br />
substâncias.<br />
Na literatura po<strong>de</strong>mos encontrar a presença <strong>de</strong> esteróis altamente<br />
oxidados em <strong>esponjas</strong> Tethya (Sheikh & Djerassi 1974, Seo et al. 1997). No<br />
46
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
entanto, no presente estudo esse tipos químicos não foram encontrados. A<br />
semelhança entre os esterói<strong>de</strong>s encontrados nas duas espécies estudadas e<br />
outras espécies na literatura indica que esse grupo <strong>de</strong> substâncias não é um<br />
bom marcador químico-taxonômico ao nível <strong>de</strong> espécie, porém, é possível que<br />
seja importante em nível genérico.<br />
Embora, diversas funções farmacológicas sejam conhecidas em<br />
metabólitos secundários <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> do gênero Tethya (Barnett et al. 1980,<br />
Silva et al. 2006, Seleguim et al. 2007), pouco se conhece sobre as possíveis<br />
funções ecológicas <strong>de</strong>ssas substâncias. Isso motivou a investigação sobre as<br />
<strong>de</strong>fesas antipredação <strong>de</strong>ssas duas espécies.<br />
4.2. Ecologia <strong>química</strong><br />
O extrato <strong>de</strong> Tethya sp. inibiu o consumo dos paguros Calcinus tibicen e<br />
Clibanarius antillensis, o que confirma a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> <strong>de</strong>ssa<br />
espécie contra esses predadores. Como não existiu diferença <strong>de</strong> consumo<br />
entre as duas espécies, optou-se por utilizar apenas Calcinus tibicen nos<br />
ensaios posteriores.<br />
O extrato <strong>de</strong> Tethya rubra não inibiu o consumo <strong>de</strong>sses caranguejos.<br />
Apenas um trabalho na literatura científica utilizou paguros em testes <strong>de</strong><br />
predação: em Wad<strong>de</strong>ll & Pawlik (2000) o extrato bruto <strong>de</strong> 87% das espécies<br />
testadas foram significativamente pouco consumidas pelo paguro Paguristes<br />
punticeps.<br />
A hipótese <strong>de</strong> balanço crescimento-diferenciação (Rhoa<strong>de</strong>s 1979),<br />
consi<strong>de</strong>rada inicialmente para plantas terrestres, enfatiza que os recursos<br />
<strong>de</strong>vem ser alocados entre os processos <strong>de</strong> crescimento e diferenciação, sendo<br />
47
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
que o processo <strong>de</strong> crescimento prece<strong>de</strong> o processo <strong>de</strong> diferenciação,<br />
admitindo a existência <strong>de</strong> sobreposições (Cronin & Hay 1996). Embora não<br />
existam estudos sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Tethya, os indivíduos <strong>de</strong> T. rubra<br />
são nitidamente maiores que os indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp. (observação pessoal).<br />
Talvez, T. rubra compense a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> alocando energia<br />
para um crescimento mais eficiente, reforçando a hipótese <strong>de</strong> balanço<br />
crescimento-diferenciação. No entanto, os extratos brutos das duas espécies<br />
<strong>de</strong> Tethya não inibiram o consumo <strong>de</strong> peixes generalistas em experimentos <strong>de</strong><br />
campo, ao contrário, estimularam o consumo. O peixe Pomacanthus paru<br />
consome Tethya cf. nigra na costa brasileira (Batista 2006), po<strong>de</strong>ndo indicar<br />
mais uma espécie do gênero que não possui <strong>de</strong>fesas contra o consumo por<br />
peixes. No entanto, o extrato bruto <strong>de</strong> Tethya actinia foi consi<strong>de</strong>rado eficaz<br />
evitando o consumo do peixe Thalassoma bifasciatum (Pawlik et al. 1995). Isso<br />
evi<strong>de</strong>ncia as peculiarida<strong>de</strong>s específicas nas <strong>de</strong>fesas antipredação. Não<br />
sabemos se predadores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, como peixes são mais dificilmente<br />
afetados por <strong>química</strong>s <strong>de</strong>fensivas <strong>de</strong>ssas <strong>esponjas</strong>. No presente estudo, a<br />
concentração dos metabólitos foi bastante semelhante em Tethya sp. e Tethya<br />
rubra (0,0245 g/ml e 0,0294 g/ml, respectivamente), o que, nesse caso, nos fez<br />
concluir que a concentração dos metabólitos não está relacionado com a<br />
existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas ou não.<br />
Durante muito tempo não existiram evidências <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas físicas em<br />
<strong>esponjas</strong> (Chanas & Pawlik 1995). Esse mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa foi<br />
experimentalmente comprovado pela primeira vez em <strong>esponjas</strong> das Bahamas e<br />
Mar Vermelho (Burns & Ilan 2003) e mostrou que a função das espículas não<br />
apenas sustentam o corpo da esponja, mas também a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m contra<br />
48
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
predadores. Em trabalhos anteriores, as espículas não evitaram a predação<br />
pelo paguro Paguristes puticeps, nem pelas estrelas-do-mar Echinaster<br />
echinophorus e Echinaster sentus (Wad<strong>de</strong>ll & Pawlik 2000a, b). No presente<br />
estudo, as espículas foram bastante eficientes em evitar a predação por<br />
paguros Calcinus tibicen. Burns & Ilan (2003) concluíram que apenas espículas<br />
maiores que ~250 repeliam a predação pelos peixes generalistas Thalassoma<br />
klunzingeri e T. bifasciatum. Em Tethya sp. e T. rubra, existem espículas bem<br />
maiores (<strong>de</strong> 800 a 1.800 µm). Espículas maiores, possivelmente afetam mais<br />
eficientemente organismos <strong>de</strong> pequeno porte, como o paguro C. tibicen do que<br />
peixes e estrelas do mar, <strong>de</strong>vido aos tamanhos relativos do aparato bucal e<br />
estômago <strong>de</strong>sses animais.<br />
A concentração natural calculada <strong>de</strong> espículas em T. rubra foi cinco<br />
vezes maior que em Tethya sp. Por essa razão, não foi possível a<strong>de</strong>rir a<br />
concentração natural <strong>de</strong> espículas na matriz <strong>de</strong> carragenana que é a base do<br />
alimento artificial. O ensaio foi realizado com espículas em aproximadamente<br />
um terço da concentração natural e isso po<strong>de</strong> signicar que a repelência a<br />
predadores causadas por essas espículas po<strong>de</strong> ser ainda maior que a<br />
<strong>de</strong>tectada neste estudo. De maneira geral, as concentrações <strong>de</strong> espículas<br />
encontradas nessas espécies <strong>de</strong> Tethya são superiores aos encontrados em<br />
diversas espécies caribenhas (Tabela 4).<br />
49
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Tabela 4. Densida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espículas em espécies do Brasil e Caribe em or<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>crescente. * Jones et al. 2005. a <strong>de</strong> Bahamas, consistência macia. b <strong>de</strong> Florida Keys,<br />
consistência rígida. c <strong>de</strong> Bahamas, consistência rígida.<br />
Espécie Densida<strong>de</strong> (g/mL-1)<br />
Tethya rubra (presente estudo) 0,4016<br />
Tethya sp. (presente estudo) 0,0868<br />
*Xestospongia muta c 0,0692<br />
*Xestospongia muta b 0,0397<br />
*Cribrochalina infundibulum 0,0294<br />
*Cynachyrella alloclada 0,0276<br />
*Xestospongia muta a 0,0240<br />
*Tedania ignis 0,0146<br />
*Svenzea zeai 0,0116<br />
*Clathria virgultosa 0,0102<br />
*Niphates digitalis 0,0094<br />
*Agelas clathroi<strong>de</strong>s 0,0052<br />
A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espículas foi relacionada positivamente com o fluxo <strong>de</strong><br />
água (Palumbi 1986, McDonald et al. 2002). Além disso, <strong>de</strong>ntro do corpo da<br />
esponja, as espículas po<strong>de</strong>m ter uma distribuição diferenciada, se acumulando<br />
em algumas partes e apresentando menor <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> em outras. Por isso, para<br />
o cálculo da concentração natural foi utilizada a média <strong>de</strong> cinco fragmentos <strong>de</strong><br />
diferentes <strong>esponjas</strong> englobando tanto o ectossoma como o endossoma.<br />
50
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
A simulação da <strong>de</strong>fesa física em alimentos artificiais possui limitações uma vez<br />
que apresentam as espículas <strong>de</strong>sorganizadas e distribuídas <strong>de</strong> forma<br />
homogênea, diferentes da situação encontrada na natureza.<br />
Alguns trabalhos sugerem que as <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s são a principal<br />
forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas antipredação, enquanto as espículas e espongina possuem<br />
função estrutural principalmente (Chanas & Pawlik 1995, 1996, Pawlik et al.<br />
1995). Porém, estratégias físicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas representadas pelas espículas<br />
foram mais importantes que <strong>química</strong>s em T. rubra. Isso po<strong>de</strong> funcionar<br />
especialmente em espécies que não possuem <strong>química</strong> <strong>de</strong>fensiva. De qualquer<br />
forma, as <strong>de</strong>fesas parecem funcionar especificamente para um <strong>de</strong>terminado<br />
predador. Por exemplo, as espículas não funcionam bem para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
<strong>esponjas</strong> <strong>de</strong> peixes ou estrelas do mar (Pawlik et al. 1995, Chanas & Pawlik<br />
1996, Wad<strong>de</strong>ll & Pawlik 2000b). No entanto, as espículas po<strong>de</strong>m ser a<br />
principal <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> T. rubra contra o consumo por paguros e isso po<strong>de</strong> ocorrer<br />
em outras espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> em relação a outros predadores.<br />
O efeito da união das <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s e físicas em <strong>esponjas</strong> é ainda<br />
pouco estudado (Jones et al. 2005). No presente estudo, foi consi<strong>de</strong>rada a<br />
existência <strong>de</strong> aditismo em ambos os casos, uma vez que não houveram<br />
diferenças significativas no consumo das <strong>de</strong>fesas isoladas quando comparadas<br />
ao consumo dos dois elementos associados. A existência <strong>de</strong> aditismo nas<br />
<strong>de</strong>fesas antipredação já foi registrada para outras espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> como<br />
Cribrochalina infundibullum e Tedania ignis, por exemplo (Jones et al. 2005).<br />
Esponjas po<strong>de</strong>m apresentar diferentes estratégias contra a predação,<br />
mesmo apresentando gran<strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> taxonômica, como por exemplo, Tethya<br />
(presente estudo), Dysi<strong>de</strong>a, Niphates e Mycale (Pawlik et al. 1995).<br />
51
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
Recentemente, foi registrado que predadores po<strong>de</strong>m distinguir espécies<br />
congenéricas simpátricas, como foi o caso da estrela do mar Oreaster<br />
reticulatus que preda Tedania ignis, mas não Tedania klausi que ocorre no<br />
mesmo local (Wulff 2006). É importante <strong>de</strong>stacar que essas espécies possuem<br />
poucas diferenças externas, o que evi<strong>de</strong>ncia a existência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>tecção<br />
<strong>química</strong> apurada por parte dos predadores. Por outro lado, Pawlik et al. (1995)<br />
encontrou homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas antipredação ao nível <strong>de</strong><br />
or<strong>de</strong>m, como houve em Homosclerophorida e Axinellida, e também <strong>de</strong> gênero,<br />
Agelas e Plakortis.<br />
As duas espécies estudadas apresentaram semelhança quase total em<br />
seus componentes químicos majoritários e ainda assim possuem diferentes<br />
efeitos sobre paguros. Em duas espécies do gênero Mycale, pequenas<br />
diferenças <strong>de</strong>tectadas na composição <strong>de</strong> ácidos graxos foi sugerida como<br />
responsáveis pelas diferenças encontradas na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> impedir o<br />
assentamento <strong>de</strong> larvas do poliqueta Hydroi<strong>de</strong>s elegans (Lee et al. 2007). No<br />
caso <strong>de</strong> Tethya, é provável que a substância causadora da <strong>de</strong>fesa esteja<br />
contida na porção <strong>de</strong> elementos minoritários do extrato, dada a gran<strong>de</strong><br />
semelhança na composição dos componentes majoritários.<br />
Em Callyspongia spp. apesar da existência diferenças <strong>de</strong> composição<br />
nas bactérias associadas, análises em CG-MS encontraram mais <strong>de</strong> 60% dos<br />
compostos similares (Qian et al. 2006). Nas duas <strong>esponjas</strong> estudadas, C.<br />
plicifera e Callyspongia sp, o extrato bruto inibiu o assentamento das larvas da<br />
craca Balanus amphitrite e do poliqueta Hydroi<strong>de</strong>s elegans (Qian et al. 2006).<br />
Apesar da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> já comprovada em <strong>esponjas</strong> do<br />
gênero Tethya (Fishelson 1981, Nikel 2006) não existem evidências que essa<br />
52
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
característica po<strong>de</strong> atuar contra a predação, tornando <strong>de</strong> suma importância o<br />
papel exercido pelas <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s e físicas para manutenção <strong>de</strong>ssas<br />
populações.<br />
A partir do fracionamento do extrato bruto <strong>de</strong> Tethya sp. seguido por<br />
ensaios biológicos, encontramos que a fração ativa hexânica é rica em<br />
esteróis, como foi observado através <strong>de</strong> análises <strong>química</strong>s. Porém, nos testes<br />
biológicos realizados com as frações semi purificadas não foi possível indicar<br />
diferenças significativas no consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais (Figura 29). Isso<br />
po<strong>de</strong> ser atribuído ao fato <strong>de</strong> que a quantida<strong>de</strong> testada foi inferior a<br />
concentração natural esperada.<br />
5. Conclusões<br />
O perfil químico <strong>de</strong> Tethya sp. e Tethya rubra é bastante semelhante,<br />
especialmente no que diz respeito aos componentes majoritários. Apesar disso,<br />
as respostas antipredação <strong>de</strong>ssas espécies apresenta diferenças. Isso<br />
evi<strong>de</strong>nciou a importância dos metabolitos minoritários como responsáveis por<br />
<strong>de</strong>fesas antipredação nestas espécies.<br />
Ao contrário das <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s, as <strong>de</strong>fesas provenientes <strong>de</strong><br />
componentes estruturais (<strong>de</strong>fesas físicas) são geralmente vistas como menos<br />
eficientes e com papel secundário na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva, porém, no caso da<br />
esponja Tethya rubra, as espículas representaram maior eficácia que seu<br />
extrato bruto.<br />
O efeito sinergístico que po<strong>de</strong> existir quando consi<strong>de</strong>ramos a atuação<br />
das espículas em conjunto com as <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s não foi <strong>de</strong>tectada em<br />
53
Capítulo 1<br />
______________________________________________________________________<br />
nenhuma das duas espécies estudadas, sendo consi<strong>de</strong>rado aditismo o efeito<br />
encontrado.<br />
54
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Capítulo 2<br />
Variação intrapopulacional nos metabólitos <strong>de</strong><br />
Tethya sp. e perfil químico dos brotos
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
1.Introdução<br />
Diversos fatores têm sido apontados como causadores <strong>de</strong> variações na<br />
produção dos metabólitos secundários. Em ambientes terrestres sabe-se que a<br />
qualida<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong> da luz, <strong>de</strong>ficiências minerais, disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água,<br />
temperatura, estágio fisiológico, genética, estresse, predadores, patógenos e<br />
competidores são alguns dos fatores que regulam a produção <strong>de</strong> metabólitos<br />
secundários em plantas superiores (Rice 1984, Karban & Baldwin 1997, Wink<br />
1999).<br />
Em ambientes marinhos, o nível <strong>de</strong> exposição dos organismos a<br />
consumidores, a época do ano, a localização geográfica da comunida<strong>de</strong> ou até<br />
mesmo a ação <strong>de</strong> consumidores po<strong>de</strong> alterar a <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> dos organismos<br />
(Pereira 2002). A existência <strong>de</strong>ssa variação foi evi<strong>de</strong>nciada principalmente em<br />
trabalhos sobre algas, corais moles e moluscos (Ávila & Paul 1997, Meyer &<br />
Paul 1992, Van Alstyne & Paul 1992, Sudatti et al. 2006). Estudos também<br />
apontam a predação como um dos principais fatores que influenciam variações<br />
na produção <strong>de</strong> metabólitos (Paul & Van Alstyne 1992, Teeyapant & Proksch<br />
1993, Cronin & Hay 1996).<br />
Poucas vezes na literatura avaliou-se a variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas entre<br />
espécies com gran<strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> taxonômica. Inclusive, a presença <strong>de</strong> certas<br />
classes <strong>de</strong> substâncias é conservativa <strong>de</strong>ntre os grupos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>,<br />
representando uma característica taxonômica (Bergquist & Wells 1983;<br />
Braekman et al. 1992). Porém, a relação que po<strong>de</strong> existir em respostas<br />
antipredação em um grupo <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> com as mesmas classes <strong>de</strong><br />
56
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
substâncias ainda é <strong>de</strong>sconhecida, ou seja, não se sabe se <strong>esponjas</strong> com<br />
perfis químicos semelhantes têm respostas semelhantes à predação.<br />
Pawlik et al. (1995) encontrou uma gran<strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong> na resposta<br />
<strong>de</strong> repelência a predadores em extratos brutos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> pertencentes à<br />
uma mesma or<strong>de</strong>m e a um mesmo gênero. Apesar disso, algumas espécies do<br />
mesmo gênero po<strong>de</strong>m mostrar diferentes respostas a predadores, bem como<br />
Mycale laevis - sem <strong>de</strong>fesa e M. laxissima - com <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> (Pawlik et al.<br />
1995). Nesse estudo, porém, o perfil químico das espécies envolvidas não foi<br />
avaliado.<br />
Estudos indicaram que além <strong>de</strong> estarem presentes em indivíduos<br />
adultos, <strong>de</strong>fesas contra a predação po<strong>de</strong>m ocorrer em suas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
propagação, constituindo uma importante estratégia <strong>de</strong> sobrevivência,<br />
somadas a outras já conhecidas como a transparência e o pequeno tamanho<br />
da larva (Brooks & Dobson 1965, Zaret & Kerfoot 1975) e <strong>de</strong>fesas morfológicas<br />
(Pennington & Chia 1984, Morgan 1989).<br />
Durante muitas décadas acreditava-se que a maioria das larvas<br />
<strong>marinhas</strong> eram presas totalmente vulneráveis para a maior parte dos<br />
organismos planctívoros, inclusive foi proposta <strong>de</strong> incompatibilida<strong>de</strong> biológica<br />
no rápido <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos tecidos e a presença <strong>de</strong> substâncias<br />
tóxicas (Orians & Janzen 1974).<br />
Os primeiros trabalhos sobre este tema evi<strong>de</strong>nciaram a existência <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s em larvas <strong>de</strong> estrela-do-mar (Lucas et al. 1979), ascídias<br />
(Young & Bingham 1987, Lindquist et al. 1992) e em ovos <strong>de</strong> nudibrânquios<br />
(Pawlik et al. 1988). Uriz et al. (1996) constataram que larvas da esponja<br />
Dysi<strong>de</strong>a avara não eram consumidos pelo ouriço Paracentrotus lividus.<br />
57
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Lindquist & Hay (1996) pesquisaram as <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong><br />
<strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> e corais caribenhos. Eles concluíram que, <strong>de</strong> maneira geral,<br />
alguns grupos <strong>de</strong> invertebrados possuem larvas impalatáveis, enquanto outros<br />
não. Por exemplo, as larvas das 11 espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> testadas foram<br />
impalatáveis para peixes e, ao contrário, larvas <strong>de</strong> corais hermatípicos foram<br />
palatáveis. No entanto, larvas impalatáveis nem sempre são provenientes <strong>de</strong><br />
adultos impalatáveis, como foi o caso da esponja Callyspongia vaginalis<br />
(Lindquist & Hay 1996). A palatabilida<strong>de</strong> das larvas po<strong>de</strong> variar também entre<br />
espécies em um grupo e até mesmo entre indivíduos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma espécie,<br />
como foi o caso das gorgônias (Lindquist & Hay 1996). Outra interessante<br />
<strong>de</strong>scoberta é que as larvas impalatáveis, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> atacadas e rejeitadas não<br />
sofrem dano que prejudique o seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Algumas espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> se reproduzem <strong>de</strong> maneira assexuada,<br />
por brotamento, como Tethya e Chondrilla (Bergquist & Sinclair 1973, Fell<br />
1993). Não se sabe se, nesse caso, as unida<strong>de</strong>s reprodutivas também po<strong>de</strong>m<br />
apresentar <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s.<br />
As <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s presentes em estruturas <strong>de</strong> propagação po<strong>de</strong>m<br />
atuar contra consumidores e competidores, além <strong>de</strong> constituírem,<br />
presumivelmente, uma vantagem em caso <strong>de</strong> invasões (Pereira 2002).<br />
O gênero Tethya é caracterizado por <strong>esponjas</strong> com simetria radial,<br />
esqueleto composto por espículas e se reproduz sexuada e assexuadamente,<br />
o que a torna i<strong>de</strong>al para estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s, físicas, interações entre<br />
<strong>de</strong>fesas, assim como investigações sobre <strong>de</strong>fesas em suas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
propagação, os brotos. Esse gênero, representado por diversas espécies,<br />
possui ampla distribuição na costa brasileira (Ribeiro 2003), porém, ainda não<br />
58
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
foram alvos <strong>de</strong> estudos ecológicos, ou mesmo sobre efeitos aditivos, sinérgicos<br />
ou antagônicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s e físicas, seja em indivíduos adultos ou<br />
em suas estruturas reprodutivas, os brotos.<br />
O objetivo <strong>de</strong>sse capítulo foi investigar: (a) a variação nos metabólitos<br />
secundários da esponja Tethya sp. e (b) o perfil químico dos brotos <strong>de</strong> Tethya<br />
sp.<br />
2. Materiais e Métodos<br />
2.1. Coletas<br />
Ver sessão “Coletas” no Capítulo 1.<br />
Para obtenção dos brotos <strong>de</strong> Tethya sp., espécimes <strong>de</strong>sta esponja foram<br />
coletados e os brotos foram separados dos adultos com auxílio <strong>de</strong> lupa e pinça<br />
(Figura 3). Posteriormente, as amostras foram congeladas para liofilização.<br />
Figura 1. (A) Um broto <strong>de</strong> Tethya sp. na extremida<strong>de</strong> da pinça. Escala = 1 cm, (B)<br />
brotos vistos sob lupa.<br />
59
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
2.2. Extração <strong>química</strong> e isolamento <strong>de</strong> produtos naturais<br />
Os brotos liofilizados foram extraídos em acetona durante 3 dias,<br />
ocorrendo filtração e troca <strong>de</strong> solvente a cada 24 horas. Os extratos brutos em<br />
acetona dos brotos e dos adultos foram analisados em CG/MS (veja Capítulo<br />
1).<br />
60
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
3. Resultados<br />
3.1. Variação intrapopulacional <strong>de</strong> esteróis em Tethya sp.<br />
A concentração do colesta-4,6-dienol-3 (Figura 2 - 2a) variou <strong>de</strong> 1,35 %<br />
a 12,11% entre os <strong>de</strong>z indivíduos analisados (Figura 3). Dos oito metabólitos<br />
estudados, o colesterol (Figura 2 - 1a) alcançou as maiores porcentagens e<br />
variou <strong>de</strong> 11,39 % a 35,45% (Figura 2 - Figura 4). A concentração do ergosta-<br />
5,22-dienol-3 (Figura 2 - 1d) variou <strong>de</strong> 3,19 % a 10,55% (Figura 2 - Figura 5). A<br />
concentração do ergosta-5,24(28)-dienol-3 (Figura 2 - 1e) foi a menor <strong>de</strong>ntre as<br />
substâncias analisadas, variou <strong>de</strong> 1,95 % a 6,90% (Figura 6). A concentração<br />
do estigmasta-5-enol-3 (Figura 2 - 1f) variou <strong>de</strong> 4,56% a 11,92% (Figura 7).<br />
61
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
HO<br />
2<br />
3<br />
HO<br />
2<br />
3<br />
1<br />
10<br />
4<br />
19<br />
5<br />
1<br />
4<br />
10<br />
11<br />
9<br />
19<br />
H<br />
6<br />
5<br />
1<br />
12<br />
13<br />
H<br />
11<br />
9<br />
H<br />
6<br />
8<br />
7<br />
2<br />
18<br />
H<br />
12<br />
21<br />
14<br />
13<br />
H<br />
8<br />
7<br />
18<br />
H<br />
15<br />
R<br />
21<br />
17<br />
14<br />
16<br />
15<br />
R<br />
17<br />
16<br />
21 22<br />
20<br />
21 22<br />
Figura 2. Estrutura dos principais esteróis <strong>de</strong>tectados das espécies <strong>de</strong> Tethya sp. (RJ)<br />
e Tethya rubra da (BA).<br />
20<br />
23<br />
a<br />
b<br />
c<br />
d<br />
23<br />
a<br />
24<br />
24<br />
26<br />
25<br />
26<br />
27<br />
25<br />
27<br />
e<br />
f<br />
g<br />
h<br />
28<br />
29<br />
62
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
13%<br />
10%<br />
8%<br />
5%<br />
3%<br />
0%<br />
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10<br />
colesta-4,6-dienol-3<br />
Figura 3. Concentração <strong>de</strong> colesta-4,6-dienol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10<br />
colesterol<br />
Figura 4. Concentração <strong>de</strong> colesterol em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
63
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
12%<br />
10%<br />
8%<br />
6%<br />
4%<br />
2%<br />
0%<br />
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10<br />
ergosta-5,22-dienol-3<br />
Figura 5. Concentração <strong>de</strong> ergosta-5,22-dienol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
8%<br />
6%<br />
4%<br />
2%<br />
0%<br />
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10<br />
ergosta-5,24(28)-dienol-3<br />
Figura 6. Concentração <strong>de</strong> ergosta-5,24(28)-dienol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
64
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
15%<br />
12%<br />
9%<br />
6%<br />
3%<br />
0%<br />
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10<br />
estigmasta-5-enol-3<br />
Figura 7. Concentração <strong>de</strong> estigmasta-5-enol-3 em 10 indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
65
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 8. Cromatograma do extrato bruto dos brotos <strong>de</strong> Tethya sp. (CG/MS).<br />
Legenda:<br />
A = Colesta-5,22-dienol-3 (C27H44O; FM = 384.34), Figura 2 - 1b<br />
B = Colesterol (C27H46O; FM = 386.36), Figura 2 - 1a<br />
C = Ergosta-5,22-dienol-3 (C28H46O; FM = 398.36), Figura 2 - 1d<br />
D = Estigmasta-5,24-dienol-3 (C29H50O; FM = 414.39), Figura 2 - 1h<br />
E = (provável) Colesta-5-enol- 3-ona-7 (C27H44O2; FM = 400.33), Figura 10<br />
66
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 9. Cromatograma do extrato bruto <strong>de</strong> adultos <strong>de</strong> Tethya sp. (CG/MS).<br />
Legenda:<br />
A = Colesterol (PM = 386.36; FM = C27H46O) Figura 2 - 1a<br />
B = Ergosta-5,22-dienol-3 (PM = 398.36; FM = C28H46O) Figura 2 - 1d<br />
C = Ergosta-5, 24(28)-dienol-3 (PM = 398.36; FM = C28H46O) Figura 2 - 1e<br />
D = Estigmasta-5-enol-3 (PM = 414.39; FM = C29H50O) Figura 2 - 1f<br />
67
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Tabela 1. Concentração relativa (%) dos principais esteróis <strong>de</strong> Tethya sp. nos brotos e<br />
nos adultos. N.d. = não <strong>de</strong>tectado.<br />
Produto Concentração relativa (%)<br />
Adultos<br />
Concentração relativa (%)<br />
Brotos<br />
Colesta-5,22-dienol-3 n.d. 8,96<br />
Colesterol 45,57 22,12<br />
Ergosta-5,22-dienol-3 19,69 12,48<br />
Estigmasta-5,24-dienol-3 9,39 16,38<br />
Colesta-5-enol- 3-ona-7 n.d. 11,37<br />
Ergosta-5, 24(28)-dienol-3 6,64 n.d.<br />
HO O<br />
Figura 10. Colesta-5-enol- 3-ona-7 (presente nos brotos, não <strong>de</strong>tectado nos indivíduos<br />
adultos)<br />
4. Discussão<br />
Diversos fatores, tanto bióticos quanto abióticos têm sido indicados<br />
como responsáveis pela variação na concentração <strong>de</strong> metabólitos secundários<br />
em organismos marinhos (e.g. Lubchenco & Gaines 1981, Becerro et al. 1995,<br />
Pawlik 1997, 1998, Becerro & Paul 2004). No entanto, esse estudo foram<br />
encontradas significativas variações nas concentrações <strong>de</strong> metabólitos entre<br />
indivíduos <strong>de</strong> uma mesma população e coletados em um único evento, ou seja,<br />
68
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
sujeitos aos mesmos fatores abióticos (como nível <strong>de</strong> exposição, luminosida<strong>de</strong>,<br />
hidrodinamismo) e fatores bióticos (sujeitos a mesma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> predação<br />
e aos mesmos predadores, competidores e etc...). Isso indica que variações<br />
intra-individuais intrínsecas po<strong>de</strong>m ser tão importantes como as causadas por<br />
fatores externos ao organismo. No entanto, a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa variação não é<br />
conhecida entre populações, pois não existem outros dados na literatura para<br />
comparação.<br />
Embora se encontre na literatura algumas menções sobre variabilida<strong>de</strong><br />
intrapopulacional na produção <strong>de</strong> metabolitos secundários em organismos<br />
marinhos (Hay 1996, Pereira & da Gama 2008, como revisões), até bem pouco<br />
tempo não existia qualquer estudo que realmente tivesse analisada cada<br />
indivíduio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada população. Numa avaliação <strong>de</strong> 70 indivíduos da<br />
macroalga vermelha Laurencia obtusa foi constatado que existe uma gran<strong>de</strong><br />
variabilida<strong>de</strong> intrapopulacional na produção <strong>de</strong> um metabolito majoritário que<br />
atua como <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> contra herbívoros (Sudatti et al. 2006).<br />
Os estudos em ecologia <strong>química</strong>, sejam eles com espécies <strong>marinhas</strong> ou<br />
terrestres, começam pela obtenção <strong>de</strong> extratos brutos provenientes <strong>de</strong> um<br />
número variável <strong>de</strong> indivíduos submetidos à extração. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extrato<br />
obtida, em função da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material, revela o teor natural em uma<br />
espécie, mas per<strong>de</strong>-se a amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> natural, seja <strong>de</strong> um extrato<br />
ou mesmo <strong>de</strong> uma substância. No entanto, a variabilida<strong>de</strong> na produção <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>terminado metabolito é um aspecto extremamente importante uma vez que é<br />
nesta variabilida<strong>de</strong> que uma <strong>de</strong>terminada interação biológica é estabelecida. A<br />
variabilida<strong>de</strong> encontrada em indivíduos <strong>de</strong> Tethya sp., neste estudo, assim<br />
como a observada em Laurencia obtusa (Sudatti et al. 2006), po<strong>de</strong>m indicar ser<br />
69
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
essa uma variação comum e constitui aspecto fundamental para o<br />
entendimento da ecologia e evolução das interações mediadas quimicamente.<br />
As análises em CG/MS do extrato bruto dos brotos evi<strong>de</strong>nciaram sua<br />
semelhança com os produtos principais dos adultos, os esteróis. Apenas<br />
esteróis <strong>de</strong> ampla ocorrência foram observados nos brotos e nos adultos. No<br />
entanto, o colesterol, por exemplo, é muito mais abundante nos adultos<br />
(45,57%) do que nos brotos (22,12%), indicando que po<strong>de</strong> haver acumulação<br />
<strong>de</strong>ste esterol ao longo <strong>de</strong> seu ciclo <strong>de</strong> vida. Foi possível notar que esteróis<br />
mais oxidados são encontrados nos brotos, inclusive produtos contendo um<br />
grupamento acetona (Fig. 10).<br />
No presente estudo não foram realizados ensaios para verificação <strong>de</strong><br />
ação <strong>de</strong>fensiva antipredação do extrato bruto dos brotos, particularmente<br />
<strong>de</strong>vido à pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extrato obtida. Sem dúvidas, o reduzido<br />
tamanho <strong>de</strong>stes brotos requer um esforço enorme para que se tenha biomassa<br />
suficiente para obtenção <strong>de</strong> extrato a<strong>de</strong>quado para a realização <strong>de</strong> testes. No<br />
entanto, é possível pressupor a existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s antipredação<br />
nos brotos <strong>de</strong>vido a sua semelhança com o perfil os adultos analisados. Por<br />
outro lado, alguns estudos mostram a apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong><br />
bactérias dos adultos para os brotos. Se, <strong>de</strong> fato, as bactérias estão envolvidas<br />
na produção das substâncias <strong>de</strong>fensivas nesta espécie <strong>de</strong> esponja, a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas do broto é ainda maior (Thiel et al. 2006).<br />
70
Capítulo 2<br />
______________________________________________________________________<br />
Hoje sabemos que diversas estruturas <strong>de</strong> propagação são igualmente<br />
<strong>de</strong>fendidas como os adultos on<strong>de</strong> são gerados, incluem zigotos <strong>de</strong> macroalgas<br />
(Hay et al. 1998, Schnitzler et al. 1998) e larvas <strong>de</strong> diversos invertebrados<br />
como estrelas-do-mar (Lucas et al. 1979), ascídias <strong>esponjas</strong> e corais (Young &<br />
Bingham 1987, Lindquist et al. 1992, Lindquist & Hay 1996) e e ovos <strong>de</strong><br />
nudibrânquios (Pawlik et al. 1988). Se vir a ser confirmada futuramente, os<br />
brotos <strong>de</strong> Tethya sp. serão o primeiro exemplo <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> propagação<br />
vegetativa possuindo <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> antipredação.<br />
5. Conclusão<br />
A variação nas concentrações dos metabólitos secundários po<strong>de</strong> ocorrer<br />
não apenas <strong>de</strong>vido a fatores externos à esponja (biótico e abióticos), mas <strong>de</strong>ve<br />
ser consi<strong>de</strong>rado também fator intrínseco, uma vez que encontramos variações<br />
em diversos metabólitos <strong>de</strong> Tethya sp.<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nos brotos <strong>de</strong> Tethya sp. po<strong>de</strong> ser uma<br />
importante vantagem ecológica para essa espécie, uma vez que as taxas <strong>de</strong><br />
mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> larvas (=estruturas <strong>de</strong> propagação) é apontada como um dos<br />
fatores fundamentais no estabelecimento <strong>de</strong> populações <strong>marinhas</strong> bentônicas.<br />
71
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
Capítulo 3<br />
Multifuncionalida<strong>de</strong> na <strong>química</strong> <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong><br />
Hymeniacidon heliophila contra predadores
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
1. Introdução<br />
Defesas <strong>química</strong>s que inibem o consumo por predadores ocorrem em<br />
diversos organismos marinhos, inclusive em <strong>esponjas</strong> (Pawlik et al. 1995,<br />
Pereira et al. 2000, Wad<strong>de</strong>ll & Pawlik, 2000 a, b; Clavico et al. 2006)<br />
constituindo um dos aspectos mais estudados no âmbito da ecologia <strong>química</strong><br />
marinha (Wad<strong>de</strong>l & Pawlik 2000, Pawlik et al. 2002, Burns & Ilan 2003, Toms &<br />
Schupp 2007).<br />
As <strong>de</strong>fesas antipredação representam uma importante vantagem<br />
ecológica, pois possibilitam a permanência <strong>de</strong> populações <strong>de</strong> indivíduos que a<br />
produzem em ambientes com alta pressão <strong>de</strong> predação, como é o caso <strong>de</strong><br />
ambientes tropicais, on<strong>de</strong> muitas vezes, são organismos dominantes na<br />
comunida<strong>de</strong> (Reiswig 1973, Shuchanek et al. 1983, Wenner et al. 1983). Entre<br />
outros parâmetros, essa dominância po<strong>de</strong> ser causada pela presença <strong>de</strong><br />
metabólitos secundários que inibem a predação. Contudo, a produção <strong>de</strong><br />
metabólitos secundários preconiza um consi<strong>de</strong>rável gasto metabólico e uma<br />
medida para otimizar o custo energético <strong>de</strong> sua produção é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
múltiplas atuações para essas substâncias (Schmitt et al. 1995, Pereira et al.<br />
2003).<br />
Múltiplas funções <strong>de</strong> metabólitos secundários foram bem <strong>de</strong>monstradas<br />
no trabalho <strong>de</strong> Thompson et al. (1985) no qual os autores relatam que extratos<br />
<strong>de</strong> quarenta espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> <strong>de</strong> San Diego exibiram ativida<strong>de</strong>s<br />
biológicas e/ou ecológicas em relação a distintas ativida<strong>de</strong>s como: inibição <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fungos e bactérias, inibição <strong>de</strong> assentamento e<br />
metamorfose <strong>de</strong> larvas <strong>de</strong> invertebrados marinhos e, também, <strong>de</strong>fesa<br />
73
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
antipredação por diversos peixes. Neste estudo, a maior parte dos extratos foi<br />
eficiente em mais <strong>de</strong> um dos testes realizados, evi<strong>de</strong>nciando a<br />
multifuncionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas substâncias. Porém, quando tratamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas<br />
antipredação, pouco se sabe sobre a amplitu<strong>de</strong> do efeito dos metabólitos<br />
contra a ação <strong>de</strong> variados predadores. Quanto mais ampla a atuação <strong>de</strong>ssas<br />
substâncias, maior a vantagem ecológica adquirida pela esponja e mais<br />
chances <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> novas populações, uma vez que a predação é<br />
a principal interação responsável pela mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organismos bênticos e a<br />
distribuição <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> po<strong>de</strong> ser fortemente afetada pela atuação <strong>de</strong><br />
predadores (Pawlik 1997, 1998).<br />
Geralmente, as <strong>de</strong>fesas antipredação são testadas em ensaios<br />
utilizando apenas um tipo <strong>de</strong> predador, o que não permite dimensionar a<br />
magnitu<strong>de</strong> da proteção ao consumo representado pelas substâncias <strong>química</strong>s<br />
contidas em uma espécie <strong>de</strong> esponja. O entendimento <strong>de</strong>sse aspecto é muito<br />
importante para melhor compreensão do papel ecológico <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s<br />
nas interações presa-predador envolvendo <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>.<br />
O gênero Hymeniacidon é amplamente distribuído no mundo e no Brasil<br />
está restrito a região sul e su<strong>de</strong>ste, <strong>de</strong> Santa Catarina ao Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
(Mothes et al. 2003, Muricy & Hajdu, 2006) sendo representado apenas pela<br />
espécie H. heliophila (Figura 1). Essa espécie é umas das mais resistentes à<br />
poluição, sendo abundante em praias da Baía <strong>de</strong> Guanabara que recebem<br />
diariamente gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> poluição orgânica e inorgânica (Perri 2000).<br />
A esponja Hymeniacidon heliophila é encontrada comumente na faixa entre<br />
marés e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocupar ambientes com alta intensida<strong>de</strong> luminosa<br />
po<strong>de</strong> ser relacionada à presença <strong>de</strong> uma potente substância anti-oxidante que<br />
74
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
ocorre em abundância em H. heliophila, o L-5-hidroxitriptofano (Lysek et al.<br />
2003). Além disso, esta espécie possui substâncias com ativida<strong>de</strong><br />
antibacteriana (Muricy & Silva 1999) e suas células já foram utilizadas com<br />
sucesso em culturas, inclusive <strong>de</strong> espécies que produzem moléculas bioativas<br />
(Pomponi & Willoughby 1994, Custódio et al. 2004)<br />
f<br />
Figura 1. Esponja Hymeniacidon heliophila (Parker 1910). Foto: G. Muricy.<br />
O objetivo da pesquisa reunida neste capítulo foi investigar se extratos<br />
<strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila atuam como <strong>de</strong>fesa antipredação frente a ouriços,<br />
peixes e paguros, constituindo múltiplas funções ou expressões ecológicas.<br />
2. Materiais e Métodos<br />
2.1. Locais <strong>de</strong> coleta e experimentos<br />
Exemplares da esponja Hymeniacidon heliophila foram coletados<br />
através <strong>de</strong> mergulho livre na Praia <strong>de</strong> Itaipu, Niterói – Rio <strong>de</strong> Janeiro (Figura 2).<br />
Nesse local, H. heliophila é abundante e ocupa a faixa entre-marés. As<br />
<strong>esponjas</strong> foram mantidas congeladas até a liofilização. Os ouriços (Lytechinus<br />
75
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
variegatus) e paguros (Calcinus tibicen) utilizados em experimentos também<br />
foram coletados nesse local e <strong>de</strong>volvidos após o término <strong>de</strong> cada ensaio. Os<br />
experimentos com peixes generalistas foram realizados na Enseada do Forno,<br />
Arraial do Cabo – Rio <strong>de</strong> Janeiro (Figura 3).<br />
Figura 2. Praia <strong>de</strong> Itaipu, Niterói, Rio <strong>de</strong> Janeiro (Modificado <strong>de</strong> Salvador e Silva<br />
2002). A seta indica o local <strong>de</strong> coleta dos organismos.<br />
76
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 3. Enseada do Forno, Arraial do Cabo, Rio <strong>de</strong> Janeiro (Modificado <strong>de</strong> Ribeiro et<br />
al. 2003). A seta indica o local on<strong>de</strong> foram realizados experimentos.<br />
2.2. Obtenção <strong>de</strong> extratos brutos<br />
A extração dos espécimes <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila foi realizada <strong>de</strong><br />
modo seqüencial, a partir da esponja liofilizada, utilizando três solventes <strong>de</strong><br />
polarida<strong>de</strong> crescente (hexano (C6H14), acetato <strong>de</strong> etila (AcOEt) e uma mistura<br />
1:1 <strong>de</strong> Acetona (Me2CO)/MeoH (Figura 4).<br />
77
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 4. Método <strong>de</strong> obtenção dos três extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon heliophila (EB1-<br />
Haxano, EB2- Acetato <strong>de</strong> etila, e EB3- Metanol).<br />
2.3. Bioensaios<br />
Ver <strong>de</strong>talhes no Capítulo 1, página 19-21.<br />
2.4. Tratamento Estatístico<br />
A normalida<strong>de</strong> dos dados foi aferida com o teste <strong>de</strong> Kolmogorov-<br />
Smirnov. Os dados em porcentagem foram previamente transformados para<br />
arco-seno <strong>de</strong> acordo com a recomendação <strong>de</strong> Zar (1999). Para análise dos<br />
resultados dos bioensaios, foi utilizado o teste t para amostras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e<br />
consi<strong>de</strong>rado significativo p < 0,05.<br />
78
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
3. Resultados<br />
As cromatografias dos extratos <strong>de</strong> H. heliophila mostraram gran<strong>de</strong><br />
similarida<strong>de</strong> entre os componentes químicos dos extratos EB1 e EB2 (manchas<br />
cromatográficas similares), enquanto o extrato EB3 apresenta composição<br />
<strong>química</strong> distinta dos extratos anteriores, <strong>de</strong>vido a presença <strong>de</strong> componentes<br />
mais polares (Figura 5). A presença dos mesmos componentes nos extratos<br />
EB1 e EB2 <strong>de</strong>ve-se a utilização <strong>de</strong> um método seqüencial <strong>de</strong> extração não-<br />
exaustivo. A diferença entre os dois extratos, portanto, <strong>de</strong>ve ser atribuída a<br />
variação quantitativa dos componentes químicos.<br />
Figura 5. Cromatografia em Camada Delgada dos extratos <strong>de</strong> Hymeniacidon<br />
heliophila. (A) Placa não revelada e (B) placa revelada com sulfato cérico.<br />
79
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
No bioensaio com o paguro Calcinus tibicen, o consumo do extrato EB1<br />
e EB2 foi significativamente inferior ao controle (p < 0,001 e 0,035,<br />
respectivamente) caracterizando a ação <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong> ambos os extratos. No<br />
entanto, o extrato EB3 foi eficaz como <strong>de</strong>fesa frente a Calcinus tibicen apenas<br />
durante as primeiras 15 horas <strong>de</strong> experimento (p < 0,001, Figura 6) enquanto<br />
que nas horas subseqüentes a diferença <strong>de</strong> consumo entre controle e<br />
tratamento não foi significativa (p = 0,103).<br />
Consumo (%)<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
n=28<br />
p
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
ligeiramente mais consumidos do que seus respectivos controles, mas não<br />
estatisticamente significativos para caracterizar um estímulo ao consumo (p=<br />
0,43 e 0,42, respectivamente, Figura 7).<br />
Consumo (%)<br />
120<br />
110<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
n=23<br />
p=0,02313<br />
n=23<br />
p=0,4328<br />
EB1 EB2 EB3<br />
Controle<br />
Tratamento<br />
n=23<br />
p=0,4170<br />
Figura 7. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais, controle e tratamento (contendo<br />
extratos <strong>de</strong> H. heliophila) pelo ouriço Lytechinus variegatus. O número <strong>de</strong> réplicas<br />
utilizadas está indicado acima das colunas correspon<strong>de</strong>ntes assim como o valor <strong>de</strong> p.<br />
A barra vertical acima <strong>de</strong> cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
Em relação ao consumo por peixes, os extratos EB1 e EB3 não aturam<br />
como <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> (p= 0,4955 e 0,1590, respectivamente), mas apenas o<br />
EB2 (p= 0,0288, Figura 8).<br />
81
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
Consumo (%)<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
n=20<br />
p=0,4955<br />
n=20<br />
p=0,0288<br />
n=20<br />
p=0,1590<br />
EB1 EB2 EB3<br />
Controle<br />
Tratamento<br />
Figura 8. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos artificiais controle e tratamento (contendo<br />
extratos <strong>de</strong> H. heliophila) por peixes em campo. O número <strong>de</strong> réplicas utilizadas está<br />
indicado acima das colunas correspon<strong>de</strong>ntes assim como o valor <strong>de</strong> p. A barra vertical<br />
acima <strong>de</strong> cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão.<br />
82
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
4. Discussão<br />
A cromatografia evi<strong>de</strong>nciou a semelhança na composição das<br />
substâncias majoritárias dos extratos brutos em Hexano-EB1 e Acetato <strong>de</strong><br />
Etila-EB2, enquanto o extrato em Metanol-EB3, possui composição <strong>química</strong><br />
distinta. Estudos químicos mais aprofundados são necessários para um melhor<br />
conhecimento sobre a composição <strong>de</strong>sses extratos ou mesmo para que<br />
possam explicar as expressões ecológicas que possuem, seja como <strong>de</strong>fesa<br />
antipredação ou <strong>de</strong> qualquer outra natureza.<br />
Os três extratos testados (alta, média e baixa polarida<strong>de</strong>s) foram<br />
capazes <strong>de</strong> inibir o consumo por paguros. O extrato mais polar (Metanol-EB3)<br />
po<strong>de</strong> ter funcionado apenas nas primeiras 15 horas <strong>de</strong> experimento <strong>de</strong>vido a<br />
sua rápida dissolução na água do aquário, <strong>de</strong>vido à compatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
polarida<strong>de</strong> dos componentes extraídos por metanol. No entanto, os dois outros<br />
extratos (Hexano-EB1 e Acetato <strong>de</strong> Etila-EB2) mantiveram a ação <strong>de</strong>fensiva<br />
por razão oposta à resposta do EB3. Os paguros testados, da espécie Calcinus<br />
tibicen, ocorrem comumente na mesma faixa <strong>de</strong> H. heliophila na Praia <strong>de</strong> Itaipu<br />
e seriam capazes <strong>de</strong> consumir pequenos pedaços <strong>de</strong> esponja se esta não<br />
apresentar nenhum tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. A inibição causada pelos três extratos <strong>de</strong> H.<br />
heliophila significa uma importante proteção que po<strong>de</strong> estar representada por<br />
substâncias <strong>de</strong> classes <strong>química</strong>s distintas. Não sabemos se essas substâncias<br />
po<strong>de</strong>m atuar em conjunto e ter seu efeito potencializado (efeito sinergístico).<br />
De qualquer maneira, H. heliophila parece estar eficientemente protegida da<br />
predação por paguros.<br />
83
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
O extrato em hexano-EB-1 foi o único que atuou como <strong>de</strong>fesa frente ao<br />
ouriço Lytechinus variegatus. Os ouriços são importantes consumidores <strong>de</strong><br />
organismos bentônicos, em especial bancos <strong>de</strong> algas, mas sabe-se que ele<br />
apresenta hábito generalista por consumir uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
invertebrados (Barnes, 1987), inclusive <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> (Vance 1979, Ayling<br />
1981, Santos et al. 2002). Aparentemente, em H. heliophila, apenas<br />
substâncias apolares causam inibição <strong>de</strong> consumo por ouriços. Outra espécie<br />
<strong>de</strong>sse gênero, Hymeniacidon sp. também possui <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s contra a<br />
predação pelo ouriço Dia<strong>de</strong>ma setosum (Burns et al. 2003), no entanto, foi<br />
utilizado o extrato bruto total (não separado por polarida<strong>de</strong>s), o que não permite<br />
comparações em relação a polarida<strong>de</strong> da(s) substância(s) envolvida(s) na<br />
<strong>de</strong>fesa contra ouriços.<br />
De uma maneira geral, duas abordagens são empregadas na avaliação<br />
da ação <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong> metabólitos secundários no ambiente marinho. Na<br />
abordagem simpátrica <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contra-adaptação<br />
por parte do consumidor vivendo associado ao organismo produtor <strong>de</strong> alguma<br />
<strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> potencial (McClintock & Baker 1997). Ao contrário, na<br />
aborda<strong>de</strong>m alopátrica avalia-se a magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong>fensiva (Hay<br />
1996). No presente trabalho foi empregada uma abordagem simpátrica para os<br />
ensaios com o ouriço L. variegatus e o paguro Calcinus tibicen, mas a eficácia<br />
da ação <strong>de</strong>fensiva foi verificada, ou seja, estes consumidores não<br />
<strong>de</strong>senvolveram qualquer tipo <strong>de</strong> adaptação para minimizar esta ação. De fato,<br />
não basta ocorrer próximo, pois apenas consumidores que vivem diretamente<br />
associados a hospe<strong>de</strong>iros são conhecidos por consumirem seus hospe<strong>de</strong>iros e<br />
a ele viverem associados (Hay 1992). Os indivíduos <strong>de</strong> L. variegatus, ao<br />
84
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
contrário daqueles <strong>de</strong> Calcinus tibicen, ocorrem em faixa do litoral abaixo <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> ocorre H. heliophila. No entanto, a partir dos resultados obtidos, po<strong>de</strong>mos<br />
afirmar que H. heliophila possui <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> eficiente para protegê-la da<br />
ação <strong>de</strong> ambos consumidores simpátricos.<br />
Em relação ao consumo por peixes generalistas, apenas o extrato<br />
consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> média polarida<strong>de</strong> foi eficaz em inibir a predação por estes<br />
vertebrados. Durante o ensaio, era freqüente a observação <strong>de</strong> Stephanolepsis<br />
hispidus (família Monacanthidae) consumindo, preferencialmente, os alimentos<br />
artificiais. Isso po<strong>de</strong> ter ocorrido <strong>de</strong>vido a sua conhecida abundância na região<br />
<strong>de</strong> Arraial do Cabo, e também por possuir hábito alimentar onívoro (Ferreira et<br />
al. 2004, Ferreira et al. 2001). O extrato hidrofílico da esponja H. heliophila da<br />
costa dos Estados Unidos foi menos consumido pelo peixe generalista<br />
Lagodon rhomboi<strong>de</strong>s, enquanto o extrato lipofílico não inibiu o consumo por<br />
esse peixe (Stachowicz & Hay 2000). Inclusive, caranguejos do gênero Libinia<br />
utilizam-se <strong>de</strong> H. heliophila para se camuflar e evitar a predação sobre eles<br />
(Stachowicz & Hay 2000). A esponja intacta (in natura) também foi oferecida a<br />
L. rhomboi<strong>de</strong>s em ensaios e foi pouquíssimo consumida, em torno <strong>de</strong> 10% em<br />
média (Stachowicz & Hay 2000). O extrato bruto <strong>de</strong> H. heliophila também foi<br />
eficaz na inibição do consumo pelo peixe Thalassoma klunzingeri (Burns et al.<br />
2003) Curiosamente, em experimentos com estrelas-do-mar, Wad<strong>de</strong>ll & Pawlik<br />
(2000a) utilizaram H. heliophila para alimentá-las em tanques antes <strong>de</strong> iniciar<br />
experimentos <strong>de</strong> consumo com extratos <strong>de</strong> outras espécies <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong>,<br />
evi<strong>de</strong>nciando assim que contra as estrelas Echinaster echinophorus e E.<br />
sentus não existem <strong>de</strong>fesas eficazes em H. heliophila. Por outro lado, estes<br />
resultados expressam que a <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> não é uma característica absoluta<br />
85
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
<strong>de</strong> uma espécie. Ela po<strong>de</strong> variar em concentração, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do local on<strong>de</strong><br />
a espécie que a produz ocorre, assim como em ação frente diferentes<br />
consumidores (Pereira & da Gama 2008).<br />
A substância 5-hidroxitriptofano já foi isolada <strong>de</strong> extratos polares <strong>de</strong>ssa<br />
esponja, e possui ativida<strong>de</strong> antibiótica, no entanto, não se sabe se esta po<strong>de</strong><br />
ser responsável pela ativida<strong>de</strong> antipredação contra quaisquer consumidores<br />
(Pomponi & Willoughby 1994).<br />
A inibição <strong>de</strong> consumo por extratos <strong>de</strong> alta polarida<strong>de</strong> (ouriços, paguros),<br />
média e baixa polarida<strong>de</strong> (peixes, paguros) sugere que classes diferentes <strong>de</strong><br />
substâncias estejam relacionadas a ação <strong>de</strong>fensiva antipredação nesta<br />
esponja. Algumas substâncias esteroidais <strong>de</strong>ssa esponja já foram i<strong>de</strong>ntificadas,<br />
como: colesterol, colestanol, brassicasterol, 24-metilcolesterol, 24-etilcolesterol<br />
(Granato et al. 2000). Geralmente, substâncias <strong>de</strong>ssa natureza dificilmente<br />
estão especificamente relacionadas à <strong>de</strong>fesa do organismo, pois são<br />
amplamente distribuídas em <strong>esponjas</strong>. No entanto, estudos com a esponja<br />
Tethya sp. (ver capítulo 1 <strong>de</strong>sta tese) indicam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />
provenientes <strong>de</strong> substâncias esteroidais. Por outro lado, se as substâncias<br />
majoritárias fossem responsáveis pela <strong>de</strong>fesa, era <strong>de</strong> se esperar resultados <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa semelhantes entre EB1 e EB2, o que não ocorreu.<br />
Entretanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da natureza <strong>química</strong>, os metabólitos<br />
secundários contidos em H. heliophila possuem múltiplas atuações contra<br />
predação, o que po<strong>de</strong> compensar o gasto energético envolvido na produção<br />
e/ou armazenamento dos mesmos. A repelência <strong>de</strong> consumo contra distintos<br />
predadores po<strong>de</strong> conferir proteção e possibilitar a sobrevivência <strong>de</strong>ssa esponja<br />
em habitats com intensa predação.<br />
86
Capítulo 3<br />
______________________________________________________________________<br />
5. Conclusões<br />
A esponja Hymeniacidon heliophila possui diferentes classes <strong>de</strong><br />
substâncias envolvidas na inibição do consumo por distintos predadores. Essa<br />
característica po<strong>de</strong> representar uma importante vantagem para<br />
estabelecimento em locais com varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> predadores, o que comumente<br />
ocorre em ambientes tropicais.<br />
Análises <strong>química</strong>s mais <strong>de</strong>talhadas são necessárias para elucidação das<br />
substâncias envolvidas nas <strong>de</strong>fesas.<br />
87
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Capítulo 4<br />
Variação latitudinal na produção <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />
<strong>química</strong> em <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
1. Introdução<br />
As <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s são amplamente conhecidas em organismos<br />
marinhos (McClintock & Baker 2001). Essas <strong>de</strong>fesas não existem, porém, como<br />
algo constante po<strong>de</strong>ndo variar quali- ou quantitativamente em função <strong>de</strong> fatores<br />
ambientais ou <strong>de</strong>vido à características genéticas (Uriz et al. 1991, Becerro et al.<br />
1995, 1998).<br />
Um tipo <strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ampla escala, <strong>de</strong>nominada hipótese<br />
latitudinal, ainda permanece sem o <strong>de</strong>vido entendimento ou mesmo<br />
esclarecimento. Estudos iniciados na década <strong>de</strong> 60 constataram que<br />
organismos marinhos venenosos e peçonhentos ocorrem mais freqüentemente<br />
em águas quentes (Halstead & Mitchell 1963; Clealand & Southcott 1965,<br />
Russell 1965). A existência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumidores em regiões<br />
tropicais foi o ponto <strong>de</strong> partida para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> hipóteses para<br />
explicar essa relação. Por exemplo, a herbivoria é significativamente mais<br />
intensa em florestas tropicais do que temperadas e, <strong>de</strong> fato, isso se reflete na<br />
maior concentração <strong>de</strong> alcalói<strong>de</strong>s em plantas tropicais (Levin & York 1978) e<br />
substâncias fenólicas (Coley & Ai<strong>de</strong> 1991). Do ponto <strong>de</strong> vista ecológico, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas em organismos sujeitos a altos níveis <strong>de</strong> predação<br />
constitui um importante fator para a manutenção <strong>de</strong> populações nessas<br />
regiões.<br />
Estudos comparativos com algas <strong>marinhas</strong> tropicais e temperadas<br />
também relacionaram uma maior freqüência e abundância <strong>de</strong> <strong>química</strong><br />
<strong>de</strong>fensiva relacionada à gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> herbívoros existente em regiões<br />
tropicais (Gaines & Lubchenco 1982, Steneck 1986, Hay 1991, Bolser & Hay<br />
89
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
1996). Inclusive, espécies <strong>de</strong> algas que vivem em locais <strong>de</strong> baixa e alta<br />
intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> herbivoria, possuem padrões similares <strong>de</strong> substâncias <strong>química</strong>s,<br />
porém, concentrações maiores <strong>de</strong> substâncias repelentes são produzidas pelos<br />
indivíduos provenientes <strong>de</strong> locais com gran<strong>de</strong> pressão <strong>de</strong> herbivoria (Paul &<br />
Fenical 1987, Paul & Van Alstyne 1988a). A tolerância à <strong>química</strong>s <strong>de</strong>fensivas<br />
parece ser maior em consumidores tropicais do que aqueles <strong>de</strong> regiões<br />
temperadas (Steinberg et al. 1991, Cronin et al. 1997).<br />
A ictiotoxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extratos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong> diferentes latitu<strong>de</strong>s foi<br />
testada e, <strong>de</strong> fato, aqueles obtidos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> coletadas em locais próximos<br />
ao Equador tiveram mais <strong>de</strong> 60% do total <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> classificadas como<br />
tóxicas (Bakus & Green, 1974). O método utilizado neste estudo, no entanto,<br />
quase não é mais utilizado atualmente, pois reproduz uma situação<br />
ecologicamente pouco natural, on<strong>de</strong> os extratos são diluídos na água em um<br />
recipiente fechado, e nessa situação a tolerância do peixe é testada.<br />
Recentemente, Ruzicka & Gleason (2007) evi<strong>de</strong>nciaram uma diminuição nas<br />
<strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong> locais temperados quando comparadas<br />
àquelas <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s sub-tropicais utilizando o método <strong>de</strong> incorporação <strong>de</strong><br />
extratos em alimentos artificiais que são oferecidos à peixes.<br />
Por outro lado, diversos estudos não encontraram nenhuma relação<br />
entre latitu<strong>de</strong> do local <strong>de</strong> coleta com as proprieda<strong>de</strong>s químico-<strong>de</strong>fensivas <strong>de</strong><br />
<strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> (McCaffrey & En<strong>de</strong>an 1985, McClintock 1987, Van <strong>de</strong>r<br />
Vyver et al. 1990).<br />
Esponjas <strong>marinhas</strong> temperadas e tropicais foram comparadas em<br />
relação à <strong>química</strong> <strong>de</strong>fensiva, tanto com predadores simpátricos quanto<br />
alopátricos (Becerro et al. 2003). Tanto a <strong>química</strong> <strong>de</strong>fensiva quanto a eficácia<br />
90
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
entre predadores simpátricos e alopátricos foram consi<strong>de</strong>radas equivalentes<br />
em <strong>esponjas</strong> <strong>de</strong> regiões tropicais e temperadas. De fato, outros fatores po<strong>de</strong>m<br />
estar envolvidos na variação latitudinal <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas em <strong>esponjas</strong> como, por<br />
exemplo, o papel das <strong>de</strong>fesas físicas, a sinergia que po<strong>de</strong> haver entre <strong>de</strong>fesas<br />
<strong>química</strong>s e físicas, <strong>de</strong>ntre outros. A influência exercida pelo conteúdo<br />
energético assim como a composição das espículas <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> da Antártica<br />
foram analisados e não seguem um padrão hipotetizado para altas latitu<strong>de</strong>s<br />
(McClintock, 1987).<br />
O objetivo <strong>de</strong>sse capítulo foi avaliar a existência <strong>de</strong> variação latitudinal<br />
na eficiência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> em <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> <strong>de</strong> três regiões<br />
distintas: Atlântico Norte, Atlântico Sul e mar Mediterrâneo.<br />
91
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
2. Materiais e Métodos<br />
2.1. Coleta das <strong>esponjas</strong><br />
As <strong>esponjas</strong> utilizadas para comparação latitudinal foram coletadas<br />
através <strong>de</strong> mergulho autônomo no Atlântico Norte, Atlântico Sul e<br />
Mediterrâneo. No Atlântico Norte, as <strong>esponjas</strong> Dysi<strong>de</strong>a avara, Desmacidon<br />
fructicosum, Haliclona oculata, Polymastia robusta e Tedania pilarriosae foram<br />
coletadas na Ria <strong>de</strong> Ferrol (Galícia, Espanha - Figura 1). Na localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Punta Fornelos, essas <strong>esponjas</strong> foram coletadas na faixa <strong>de</strong> 5 até 18 metros <strong>de</strong><br />
profundida<strong>de</strong> em dois <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006.<br />
No mar Mediterrâneo, a esponja Chondrosia reniformis foi coletadas em<br />
Blanes e Aplysina aerophoba em L’Estartit e Cap <strong>de</strong> Creus (Cataluña, Espanha<br />
– Figura 1), em profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 8 a 13 metros, no mês <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006.<br />
No Atlântico Sul, as <strong>esponjas</strong> Amphimedon viridis, Desmapsamma<br />
anchorata, Chondrosia collectrix, Dysi<strong>de</strong>a etheria e Aplysina fulva foram<br />
coletadas em Angra dos Reis e Polymastia janeirensis em Arraial do Cabo<br />
(Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil) em profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 até 10 metros, no mês<br />
<strong>de</strong> junho e julho <strong>de</strong> 2006.<br />
2.2. Ensaios<br />
Os ensaios anti-predação por peixes foram realizados no costão<br />
esquerdo da Enseada do Forno, Arraial do Cabo (Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil).<br />
92
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 1. Os pontos vermelhos indicam os locais <strong>de</strong> coleta no Atlântico Norte e<br />
Mediterrâneo. 1 = Ria <strong>de</strong> Ferrol (La Coruña), 2 = Cabo <strong>de</strong> Creus (Catalunha), 3 =<br />
L’Estartit (Catalunha) e 4 = Blanes (Catalunha).<br />
93
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 2. Os pontos vermelhos indicam as localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> coleta no Atlântico Sul, Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro (Brasil).<br />
As <strong>esponjas</strong> foram pareadas <strong>de</strong> acordo com a afinida<strong>de</strong> taxonômica,<br />
compartindo o mesmo gênero, família ou or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do material<br />
coletado. Foram combinados 7 pares <strong>de</strong> espécies com afinida<strong>de</strong>s taxonômicas<br />
(Tabela 1).<br />
94
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Tabela 1. Esponjas <strong>marinhas</strong> estudadas. AN=Atlântico Norte, AS=Atlântico Sul e<br />
MED=Mediterrâneo.<br />
Or<strong>de</strong>m Família Gênero/Espécie Local<br />
Hadromerida Polymastiidae Polymastia janeirensis Boury-Esn., 1973<br />
Hadromerida Polymastiidae Polymastia robusta Bowerbank, 1866<br />
Poecilosclerida Tedaniidae Tedania ignis (Duch. & Mich, 1864) AS<br />
Poecilosclerida Tedaniidae Tedania pilarriosae Cristobo, 2002 AN<br />
Poecilosclerida Myxilidae Desmapsamma anchorata (Carter, 1882) AS<br />
Poecilosclerida Desmacididae Desmacidon fructicosum (Montagu, 1818) AN<br />
Haplosclerida Niphatidae Amphimedon viridis Duch. & Mich, 1864 AS<br />
Haplosclerida Chalinidae Haliclona oculata (Pallas, 1766)<br />
AN<br />
Dendroceratida Dysi<strong>de</strong>idae Dysi<strong>de</strong>a etheria <strong>de</strong> Laubenfels, 1936 AS<br />
Dendroceratida Dysi<strong>de</strong>idae Dysi<strong>de</strong>a avara (Schmidt, 1862)<br />
AN<br />
Verongida Aplysinidae Aplysina fulva (Pallas, 1766) AS<br />
Verongida Aplysinidae Aplysina aerophoba Schmidt, 1862 MED<br />
Hadromerida Chondrillidae Chondrosia collectrix (Schmidt, 1870) AS<br />
Hadromerida Chondrillidae Chondrosia reniformis (Nardo, 1847) MED<br />
2.2. Obtenção <strong>de</strong> extratos<br />
O volume <strong>de</strong> um pequeno pedaço <strong>de</strong> cada espécie <strong>de</strong> esponja foi<br />
medido por <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> água do mar em uma proveta. Foi obtida uma<br />
relação entre o peso seco e o volume da esponja para posterior cálculo da<br />
concentração <strong>de</strong> extratos a serem utilizados nos alimentos artificiais; ou seja, a<br />
concentração <strong>de</strong> extrato <strong>de</strong> cada esponja foi reproduzida volumetricamente nos<br />
alimentos artificiais. Antes da liofilização, as <strong>esponjas</strong> foram cortadas em<br />
pedaços e congeladas. Após, a liofilização as <strong>esponjas</strong> foram pesadas.<br />
AS<br />
AN<br />
95
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
As <strong>esponjas</strong> liofilizadas foram extraídas em acetona, com troca <strong>de</strong><br />
solvente 24 horas e 72 horas após o início da extração. Utilizou-se solvente<br />
suficiente para cobrir o volume <strong>de</strong> esponja a ser extraída e, após cada filtração,<br />
a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> solvente era colocada. O solvente foi evaporado em<br />
evaporador rotatório. A concentração natural dos extratos brutos foi calculada<br />
em função do volume <strong>de</strong> cada espécie.<br />
Para a realização <strong>de</strong> cromatografias em camada <strong>de</strong>lgada utilizou-se<br />
papel <strong>de</strong> sílica gel 60 F254 marca Merck e sulfato cérico como revelador.<br />
2.3. Ensaios <strong>de</strong> predação<br />
Os ensaios antipredação por peixes foram realizados no costão<br />
esquerdo da Enseada do Forno, Arraial do Cabo (Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil). Ver<br />
<strong>de</strong>talhes sobre o método no Capítulo 1, página 11.<br />
Os ensaios foram feitos por pares para garantir as mesmas condições<br />
abióticas <strong>de</strong> experimentos e possibilitar comparações.<br />
3. Resultados<br />
As cromatografias dos extratos brutos <strong>de</strong>ssas espécies evi<strong>de</strong>nciaram<br />
que, <strong>de</strong> maneira geral, os pares analisados e estabelecidos para comparação<br />
sobre variabilida<strong>de</strong> latitudinal na produção <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> antipredação<br />
possuem substâncias majoritárias correspon<strong>de</strong>ntes (Figura 3).<br />
96
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Figura 3. Cromatografia em camada <strong>de</strong>lgada dos extratos brutos das <strong>esponjas</strong> (1)<br />
Polymastia janeirensis, (2) Polymastia robusta - AN, (3) Tedania ignis - AS, (4)<br />
Tedania pilarriosae - AN, (5) Desmapsamma anchorata - AS, (6) Desmacidon<br />
fructicosum - AN, (7) Amphimedon viridis - AS, (8) Haliclona oculata - AN, (9) Dysi<strong>de</strong>a<br />
avara AN, (10) Dysi<strong>de</strong>a etheria - AS, (11) Aplysina fulva - AS, (12) Aplysina aerophoba<br />
- MED, (13) Chondrosia reniformis - MED, (14) Chondrosia collectrix - AS. Solvente:<br />
Acetato <strong>de</strong> Etila e Hexano 1:1, eluente: Diclorometano.<br />
As concentrações naturais dos extratos <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> variaram, em<br />
relação ao peso seco da esponja, <strong>de</strong> 0,27% em Tedania pilarriosae, a 4,95%<br />
em Polymastia robusta, sendo ambas espécies coletadas no Atlântico Norte<br />
(Tabela 2).<br />
97
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Tabela 2. Porcentagem <strong>de</strong> extrato em função do peso seco obtido das <strong>esponjas</strong><br />
estudadas.<br />
Espécie % <strong>de</strong> extrato Local<br />
Aplysina fulva 1,62 AS<br />
Aplysina aerophoba 4,63 MED<br />
Chondrosia collectrix 2,13 AS<br />
Chondrosia reniformis 0,59 MED<br />
Polymastia janeirensis 1,59 AS<br />
Polymastia robusta 4,95 AN<br />
Tedania ignis<br />
1,83<br />
AS<br />
Tedania pilarriosae<br />
0,27<br />
AN<br />
Desmapsamma anchorata 1,60 AS<br />
Desmacidon fructicosum 2,11 AN<br />
Amphimedon viridis 1,57 AS<br />
Haliclona oculata<br />
1,19<br />
AN<br />
Dysi<strong>de</strong>a etheria<br />
2,00<br />
AS<br />
Dysi<strong>de</strong>a avara<br />
1,53<br />
AN<br />
Nos dois pares <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> utilizados para comparação entre <strong>esponjas</strong><br />
do Atlântico Sul e do Mediterrâneo, apenas o extrato <strong>de</strong> Aplysina aerophoba<br />
(do Mediterrâneo) inibiu o consumo por peixes (p= 0,017 – Figura 4). Os<br />
extratos <strong>de</strong> Chondrosia não foram eficazes em inibir a predação (Figura 4).<br />
98
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Espécies<br />
C. reniformis<br />
MED<br />
C. collectrix<br />
AS<br />
A. aerophoba<br />
MED<br />
A. fulva<br />
AS<br />
Atlântico Sul X Mediterrâneo<br />
p=0,017<br />
p=0,372<br />
0 20 40 60 80 100 120<br />
Consumo (%)<br />
Tratamento<br />
Controle<br />
p=0,573<br />
p=0,098<br />
Figura 4. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo extrato<br />
bruto das <strong>esponjas</strong> do Atlântico Sul e Mediterrâneo. A barra em cada coluna<br />
correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão, o valor <strong>de</strong> p está ao lado <strong>de</strong> cada coluna e n = 20 em<br />
todos os casos.<br />
Dos cinco pares <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> utilizados para a comparação entre<br />
<strong>esponjas</strong> do Atlântico Norte e do Atlântico Sul, foi constatado ação <strong>de</strong>fensiva<br />
em apenas dois casos: Haliclona oculata do Atlântico Norte e Desmapsamma<br />
anchorata do Atlântico Sul (Figura 6). Os extratos <strong>de</strong> Dysi<strong>de</strong>a, Tedania e<br />
Polymastia não expressaram ativida<strong>de</strong> inibitória ao consumo <strong>de</strong> peixes (Figura<br />
5).<br />
99
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
D. avara - AN<br />
D. etheria - AS<br />
A. viridis - AS<br />
H. oculata - AN<br />
D. fructisosum - AS<br />
D. anchorata - AS<br />
T. pilarriosae - AN<br />
T. ignis - AS<br />
P. robusta - AN<br />
P. janeirensis - AS<br />
Atlântico Norte X Atlântico Sul<br />
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100110<br />
Consumo (%)<br />
Tratamento<br />
Controle<br />
p=0,7064<br />
p=0,3332<br />
p=0,9108<br />
p=0,0089<br />
p=0,6603<br />
p=0,0055<br />
p=0,7560<br />
p=0,0690<br />
p=0,5730<br />
p=0,0980<br />
Figura 5. Média <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> alimentos controle e tratamento contendo extrato<br />
bruto das <strong>esponjas</strong>. A barra em cada coluna correspon<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio padrão, o valor <strong>de</strong><br />
p está ao lado <strong>de</strong> cada coluna e N = 20 em todos os casos.<br />
100
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
4. Discussão<br />
Dos dois pares utilizados para comparações entre as <strong>esponjas</strong> do mar<br />
Mediterrâneo e do Atlântico Norte, apenas uma espécie teve extrato repelente:<br />
Aplysina aerophoba do Mediterrâneo. A porcentagem <strong>de</strong> extrato bruto obtido foi<br />
quatro vezes maior na esponja do Mediterrâneo em relação a seu par do<br />
Atlântico Sul. Porém, isso parece não estar diretamente relacionado a eficácia<br />
como <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> antipredação, pois no par formado pelo gênero<br />
Chondrosia, a esponja com maior porcentagem <strong>de</strong> extrato foi tão palatável<br />
quanto o seu par. As <strong>esponjas</strong> do gênero Aplysina são caracterizadas pela<br />
gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esterói<strong>de</strong>s que dão origem a uma série <strong>de</strong> metabólitos<br />
brominados (Thompson et al. 1983, Turon et al. 2000). Cinco espécies do<br />
gênero Aplysina do Caribe tiveram extratos altamente ativos como <strong>de</strong>fesa<br />
<strong>química</strong> frente ao peixe Talassoma bifasciatum (Pawlik et al. 1995). O consumo<br />
pelo peixe Blennius sphinx foi inibido em alimentos artificiais que continham o<br />
extrato bruto <strong>de</strong> A. cavernicola e A. aerophoba, ambas coletadas no<br />
Mediterrâneo (Thoms et al. 2003). A ativida<strong>de</strong> repelente foi atribuída<br />
principalmente às substâncias aerotianina, a aplysinamisina-1 e também ao<br />
ácido carboxílico 3,4-di-hidroxiquinolina presentes em A. cavernicola, e a<br />
aerophobina-2 e a isofistularina-3 encontradas em A. aerophoba (Thoms et al.<br />
2003). A isofistularina-3, também foi testada em relação ao assentamento <strong>de</strong><br />
larvas do cirripédio Balanus improvisus, porém não teve nenhum efeito (Ortlepp<br />
et al 2007). Deve-se consi<strong>de</strong>rar que metabolitos citados anteriormente são<br />
mais polares, diferentes dos obtidos nesse estudo. O extrato bruto <strong>de</strong> A.<br />
cauliformis e A. fistularis do Caribe também foi testado em relação ao consumo<br />
101
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
por paguros Paguristes punticeps, mas exibiu ação <strong>de</strong>fensiva variável (Wa<strong>de</strong>ll<br />
& Pawlik 2000). É importante <strong>de</strong>stacar que em A. fistularis da Califórnia<br />
(Estados Unidos), exemplares coletados na faixa entre 5 e 15 m <strong>de</strong><br />
profundida<strong>de</strong> possuíam altas concentrações <strong>de</strong> homoaerotionina e aerothianina<br />
(Thompson et al. 1985), enquanto que os espécimes coletados acima <strong>de</strong> 5 m<br />
sequer apresentaram esses metabólitos. Seria muito importante realizar<br />
comparações <strong>química</strong>s <strong>de</strong>talhadas para um melhor entendimento dos<br />
processos químico-evolutivos que po<strong>de</strong>m estar influenciando na ecologia<br />
<strong>de</strong>ssas <strong>esponjas</strong>.<br />
Geralmente, as <strong>esponjas</strong> do gênero Chondrosia possuem consistência<br />
cartilaginosa e colonizam faces inferiores <strong>de</strong> pedras e tocas (Muricy & Hajdu<br />
2006). Nenhum dos extratos das espécies testadas, C. collectrix e C.<br />
reniformis, foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter a predação por peixes. Thoms et al. (2003)<br />
também não encontraram ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva presente em C. reniformis do<br />
Mediterrâneo que a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse do consumo pelo peixe Blennius sphinx.<br />
Extratos <strong>de</strong>ssas duas espécies (C. collectrix e C. reniformis), do Caribe,<br />
também não inibiram o consumo pelo peixe Thalassoma bifasciatum (Pawlik et<br />
al. 1995), corroborando o resultado encontrado no presente estudo. A esponja<br />
Chondrosia collectrix, quando transplantada para locais com alta predação, foi<br />
altamente consumida por peixes (Pawlik 1998). Contrariando esses resultados,<br />
na região do Atol das Rocas, C. collectrix não foi consumida pelo peixe-fra<strong>de</strong><br />
(Batista 2006), o que estaria em acordo com a hipótese latitudinal. Mais <strong>de</strong> 57<br />
substâncias <strong>de</strong> C. reniformis das Ilhas Canárias (Espanha) foram i<strong>de</strong>ntificadas<br />
(Nechev et al. 2002). Porém, até agora nenhuma ativida<strong>de</strong> ecológica <strong>de</strong>ssas<br />
substâncias foi encontrada. É possível que a própria consistência cartilaginosa<br />
102
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
<strong>de</strong>ssas espécies, característica não reproduzida nos alimentos artificiais, seja<br />
uma maneira <strong>de</strong> evitar qualquer dano ao seu tecido, p. ex. consumo por<br />
predadores. Nessas <strong>esponjas</strong> analisadas, não houve tendências na <strong>de</strong>fesas<br />
que corroborem a hipótese latitudinal, como vimos nos resultados obtidos. No<br />
caso <strong>de</strong> Aplysina, inclusive, foi constatada <strong>de</strong>fesa apenas na espécie do<br />
Mediterrâneo, o que seria o inverso do esperado pela citada hipótese.<br />
Das <strong>esponjas</strong> utilizadas na comparação entre o Atlântico Sul e o<br />
Atlântico Norte possuíam extratos brutos ativos como <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> contra<br />
peixes: Haliclona oculata do Atlântico Norte e Desmapsamma anchorata do<br />
Atlântico Sul.<br />
As <strong>esponjas</strong> Desmacidon fructicosum e Desmapsamma anchorata<br />
pertencem à mesma or<strong>de</strong>m (Poeciosclerida) e possuem semelhanças em<br />
termos <strong>de</strong> metabolitos majoritários (Figura 3 C). Desmapsamma anchorata do<br />
Atlântico Sul possui extrato bruto ativo contra a predação por peixes, ao<br />
contrário <strong>de</strong> Desmacidon fruticosum do Atlântico Norte, apesar das<br />
semelhanças <strong>química</strong>s. Esse resultado está <strong>de</strong> acordo com a hipótese<br />
latitudinal <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas, porém dos 7 pares testados nesse estudo, esse foi o<br />
único que apresentou esse padrão. Desmapsamma anchorata apresenta<br />
rápido crescimento (Wulff 2005) e muitas vezes é encontrada em associação a<br />
corais na costa do Rio <strong>de</strong> Janeiro (observação pessoal), mas não existem<br />
ainda estudos sobre interações alelopáticas nessa região. No Caribe, D.<br />
anchorata causa a mortalida<strong>de</strong> do tecido da gorgônia Gorgonia ventalina<br />
(McLean 2006). Por sua abundância é uma excelente espécie <strong>de</strong> esponja para<br />
investigações químico-ecológicas, porém não existem mais dados na literatura<br />
sobre abordagens <strong>de</strong>sta natureza com esta espécie. Diversos metabólitos<br />
103
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
foram i<strong>de</strong>ntificados em D. anchorata (Quijano et al. 1994, Carballeira &<br />
Maldonado 1988, Carballeira & Shalabi 1994, Compagnone et al. 1999).<br />
Extratos das haploscleridas congenéricas Amphimedon compressa e A.<br />
erina do Caribe inibiram o consumo do peixe Thalassoma bifasciatum (Pawlik<br />
et al 1995). Amphimedon viridis é comumente predada pelo peixe P. paru ao<br />
longo da costa brasileira, Atol das Rocas, Abrolhos e Arraial do Cabo (Batista<br />
2006). Diversas substâncias foram isoladas <strong>de</strong> A. viridis, como por exemplo, a<br />
halitoxina e a amphitoxina, ambas exibindo substâncias com potente ativida<strong>de</strong><br />
antimicrobiana (Berlink et al 1996; Mitchell et al 1997, Kelman et al 2001).<br />
Alguns esteróis <strong>de</strong> Haliclona oculata já são conhecidos, como por exemplo, o<br />
oculatol (Fidlay & Patil 1985, Yu et al. 2006). A estrela do mar espongívora<br />
Perknaster fuscus não apresentou retração das estruturas sensitivas ao entrar<br />
em contato com extratos brutos hidrofílicos e lipofílicos <strong>de</strong> outra espécie<br />
congenérica, a Haliclona sco tti (McClintock et al. 2000), o que evi<strong>de</strong>ncia a<br />
ausência <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fensivas contra esse predador.<br />
Apesar da promissora ativida<strong>de</strong> antibacteriana e antiviral <strong>de</strong> extratos<br />
aquosos <strong>de</strong> P. janeirensis (Silva et al. 2006) nada se sabe em termos <strong>de</strong><br />
ecologia <strong>química</strong>. Esponjas do gênero Polymastia comumente habitam fundos<br />
on<strong>de</strong> são cobertas por sedimentos e apenas suas papilas ficam expostas, e<br />
esse hábito po<strong>de</strong> representar uma estratégia para estar menos exposta à<br />
predação ou colonizar ambientes menos competitivos. Polymastia janeirensis é<br />
conhecida por liberar substâncias <strong>de</strong> coloração amarela que possui ativida<strong>de</strong><br />
antibacteriana e possivelmente ictiotóxica (Muricy & Hajdu 2006). No entanto,<br />
não houve inibição da predação resultante da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu extrato bruto.<br />
De fato, P. janeirensis é consumida pelo peixe Pomacanthus paru em Arraial<br />
104
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
do Cabo (Batista 2006). Uma vez que a substância amarela liberada na água<br />
quando sofre algum dano é hidrofílica, é possível que possua algum efeito local<br />
e momentâneo contra predadores. No presente estudo não foi utilizado extratos<br />
hidrofílicos, o que po<strong>de</strong> explicar os resultados obtidos. Outra espécie<br />
congenérica, Polymastia croceus da Nova Zelândia, possui gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> sobreviver a danos feitos em seu tecido (Duckworth, 2003). Se P.<br />
janeirensis e P. robusta também possuem essa capacida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ser que essa<br />
característica seja suficiente para garantir a sobrevivência <strong>de</strong>ssas espécies a<br />
<strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua vulnerabilida<strong>de</strong> à predação por peixes. A estrela-do-mar<br />
antártica Odontaster meridionalis possui hábitos alimentares que inclui<br />
Polymastia invaginata, evi<strong>de</strong>nciando a ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> também<br />
contra a predação por esse equino<strong>de</strong>rma nessa região (McClintock, 1994).<br />
Esponjas do gênero Dysi<strong>de</strong>a foram objeto <strong>de</strong> diversos estudos químicos,<br />
diversas substâncias com ativida<strong>de</strong> antipredação já são conhecidas.<br />
Substâncias polibromadas em altas concentrações são comuns em espécies<br />
<strong>de</strong>sse gênero e essa produção é atribuida a bactérias simbiontes, assim como<br />
ocorre com outros metabólitos já i<strong>de</strong>ntificados (Unson & Falkner 1993, Falkner<br />
2001). Substâncias <strong>de</strong> D. avara do mar Mediterrâneo foram eficazes contra<br />
predação por ouriços (Uriz et al 1996). Em Dysi<strong>de</strong>a sp., duas substâncias<br />
foram capazes <strong>de</strong> inibir a predação por peixes (Duffy & Paul, 1992;Thaker et al.<br />
1998). No entanto, Duffy & Paul (1992) evi<strong>de</strong>nciaram a importância da<br />
qualida<strong>de</strong> nutricional do alimento como atrativo para peixes, pois substâncias<br />
<strong>de</strong> Dysi<strong>de</strong>a sp. apenas reduziram significativamente a predação em alimentos<br />
artificiais com baixa qualida<strong>de</strong> nutricional. Thaker et al. (1998) encontraram que<br />
o extrato bruto <strong>de</strong> Dysi<strong>de</strong>a sp. <strong>de</strong> Guam (Estados Unidos), assim como a<br />
105
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
substância 7-<strong>de</strong>sacetoxi-olepupuana são capazes <strong>de</strong> inibir o consumo <strong>de</strong><br />
Pomacanthus imperator em ensaios <strong>de</strong> laboratório. Dysi<strong>de</strong>a etheria do Caribe<br />
possui extrato bruto repelente ao peixe Thalassoma bifasciatum (Pawlik et al.<br />
1995). Seria interessante conduzir avaliações <strong>química</strong>s mais <strong>de</strong>talhadas no<br />
intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a composição <strong>química</strong> <strong>de</strong> D. etheria e D. avara e<br />
possibilitar a comparação das concentrações <strong>de</strong>ssas substâncias.<br />
As <strong>esponjas</strong> Tedania ignis e T. pilarriosae não mostraram tendências<br />
latitudinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas na predação por peixes. Tedania ignis <strong>de</strong> regiões <strong>de</strong><br />
mangue do Caribe possui extratos repelentes ao consumo pelo peixe<br />
Thalassoma bifasciatum (Pawlik et al. 1995). Extratos brutos <strong>de</strong> T. ignis da<br />
costa brasileira são eficientes em inibir o consumo pelo paguro Calcinus tibicen<br />
(observação pessoal), mas não evitaram o consumo por peixes generalistas<br />
em Arraial do Cabo, inclusive existem registros que indicam a preferência<br />
alimentar <strong>de</strong> P. paru no consumo <strong>de</strong> T. ignis (Batista 2006). Isso po<strong>de</strong> indicar<br />
que os metabólitos secundários po<strong>de</strong>m apresentar efeitos diferenciados frente<br />
a distintos predadores.<br />
Esponjas que não apresentam <strong>de</strong>fesa <strong>química</strong> evi<strong>de</strong>nte contra a<br />
predação certamente po<strong>de</strong>m possuir outras estratégias que a favoreçam diante<br />
<strong>de</strong>sta ação. Walters & Pawlik (2005) constataram que <strong>esponjas</strong> que não são<br />
eficientemente protegidas por meios químicos parecem ter mecanismos<br />
celulares eficientes para reparar danos em seu tecido, ao contrário das<br />
<strong>esponjas</strong> que possuem <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s contra o consumo por peixes. Outro<br />
fato interessante é que os metabólitos secundários são semelhantes em<br />
<strong>esponjas</strong> antárticas, temperadas e tropicais (Amsler et al. 2001).<br />
106
Capítulo 4<br />
______________________________________________________________________<br />
Nesse estudo, não foi constatado um padrão latitudinal <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Em<br />
<strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong>, as <strong>de</strong>fesas antipredação por peixes não seguem<br />
tendências latitudinais, sendo mais um reflexo <strong>de</strong> fatores intrínsecos <strong>de</strong> cada<br />
espécie. Neste estudo, foram encontradas tanto espécies do hemisfério norte,<br />
como do hemisfério sul que possuíam <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s. Nesse estudo, não<br />
existiu um padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Deve-se também consi<strong>de</strong>rar que o universo<br />
amostral foi bastante reduzido, o que não permite conclusões <strong>de</strong>finitivas sobre<br />
esse tema. Becerro et al. (2003) também não encontraram evidências <strong>de</strong><br />
gradientes latitudinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s em <strong>esponjas</strong>. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
tolerar metabólitos secundários (no caso dos predadores) assim como <strong>de</strong><br />
produzi-los (no caso da esponja) é um processo intrínseco relacionado a<br />
história evolutiva <strong>de</strong> cada espécie, provavelmente, por isso a literatura é tão<br />
controversa sobre a hipótese latitudinal.<br />
5. Conclusões<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva contra o consumo por peixes generalistas não<br />
segue nenhuma tendência latitudinal nas <strong>esponjas</strong> estudadas das regiões do<br />
Atlântico Sul, do Atlântico Norte e do Mar Mediterrâneo. Nesses organismos,<br />
a <strong>química</strong> evolutiva parece seguir características específicas, resultantes da<br />
história evolutiva <strong>de</strong> cada uma das espécies e não tendências latitudinais<br />
globais.<br />
107
Conclusões gerais<br />
______________________________________________________________________<br />
Conclusões gerais<br />
Esse estudo representa a primeira pesquisa <strong>de</strong>dicada exclusivamente a<br />
ecologia <strong>química</strong> <strong>de</strong> <strong>esponjas</strong> <strong>marinhas</strong> na costa brasileira, da qual foram<br />
extraídas as seguintes conclusões:<br />
O perfil químico das espécies co-genéricas Tethya sp. e Tethya rubra é<br />
bastante semelhante, especialmente no que diz respeito aos componentes<br />
majoritários. Apesar disso, a ação <strong>de</strong>fensiva dos extratos brutos <strong>de</strong>stas<br />
<strong>esponjas</strong> é bastante diferente. Isso evi<strong>de</strong>nciou a importância dos metabólitos<br />
minoritários como responsáveis por <strong>de</strong>fesas antipredação em organismos<br />
marinhos. Ao contrário das <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s, as <strong>de</strong>fesas provenientes <strong>de</strong><br />
componentes estruturais (<strong>de</strong>fesas físicas) são geralmente vistas como menos<br />
eficientes e com papel secundário na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva, porém, no caso da<br />
esponja Tethya rubra, as espículas representaram maior eficácia que seu<br />
extrato bruto. O efeito sinergístico que po<strong>de</strong> existir quando consi<strong>de</strong>ramos a<br />
atuação das espículas em conjunto com as <strong>de</strong>fesas <strong>química</strong>s não foi <strong>de</strong>tectada<br />
em nenhuma das duas espécies estudadas, mas apenas o efeito <strong>de</strong> adição na<br />
ação <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong> espículas e extratos <strong>de</strong> ambas as <strong>esponjas</strong>, Tethya sp e T.<br />
rubra.<br />
A variação nas concentrações dos metabólitos secundários po<strong>de</strong> ocorrer<br />
não apenas <strong>de</strong>vido a fatores externos (biótico e abióticos), mas <strong>de</strong>vem ser<br />
consi<strong>de</strong>rados também fatores intrínsecos, uma vez que encontramos variação<br />
intra-populacional na produção <strong>de</strong> metabólitos secundários em indivíduos <strong>de</strong><br />
Tethya sp.
Conclusões gerais<br />
______________________________________________________________________<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nos brotos <strong>de</strong> Tethya sp. po<strong>de</strong> ser uma<br />
importante vantagem ecológica para essa espécie, uma vez que as taxas <strong>de</strong><br />
mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> larvas (= estruturas <strong>de</strong> propagação) é apontada como um dos<br />
fatores fundamentais no estabelecimento <strong>de</strong> populações <strong>marinhas</strong> bentônicas.<br />
Por outro lado, constitui a primeira evidência <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> propagação<br />
vegetativa quimicamente <strong>de</strong>fendida.<br />
A esponja Hymeniacidon heliophila possui diferentes classes <strong>de</strong><br />
substâncias envolvidas na inibição do consumo por distintos predadores. Essa<br />
característica po<strong>de</strong> representar uma importante vantagem para<br />
estabelecimento em locais com varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> predadores, o que comumente<br />
ocorre em ambientes tropicais. Análises <strong>química</strong>s mais <strong>de</strong>talhadas são<br />
necessárias para elucidação das substâncias ativas como <strong>de</strong>fesa nesta<br />
esponja.<br />
A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensiva contra o consumo por peixes generalistas, não<br />
segue nenhuma tendência latitudinal nas <strong>esponjas</strong> estudadas das regiões do<br />
Atlântico Sul, Atlântico Norte e Mediterrâneo. Nesses organismos a capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fensiva <strong>química</strong> parece seguir características específicas, resultantes da<br />
história evolutiva <strong>de</strong> cada uma das espécies e não tendências latitudinais<br />
globais.<br />
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