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Livro Contadores de Histórias Encantadas

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Os temas são os mais variados. A maior parte trata do repertório clássico<br />

do nosso folclore e do universo da “contação” <strong>de</strong> estórias: lendas, encantos,<br />

assombrações, mistérios, personagens como a mula-sem-cabeça, o homemcobra<br />

etc. Mas <strong>de</strong>stacam-se aquelas narrativas com tratamento original como<br />

a excêntrica “As galinhas magricelas <strong>de</strong> Júpiter” ou a impagável “A vingança das<br />

formigas”, <strong>de</strong> Giovanna Marchi Siani Haidar, que transcrevo aqui na íntegra:<br />

Como sabemos as formigas são trabalhadoras, sempre construindo suas<br />

casinhas sofriam o <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> perdê-las pelas pisadas <strong>de</strong> um elefante.<br />

Um dia as formiguinhas resolveram se vingar, subiram numa árvore e quando<br />

o elefante passou elas pularam em suas costas, assustado ele se balançou<br />

<strong>de</strong>ixando apenas uma formiguinha em seu pescoço.<br />

Lá embaixo as outras formiguinhas gritavam:<br />

– Enforca ele!!! Enforca ele!!!<br />

Esta estorinha é um exemplo encantador <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong> e concisão, sem falar<br />

no saboroso senso <strong>de</strong> humor meio nonsense, meio sarcástico. O contraste<br />

entre as formiguinhas e o elefante estão no mesmo registro cômico e lírico d’<br />

O gordo e o magro – aquele limite do absurdo que só a literatura e o cinema<br />

conseguem alcançar. O fluxo narrativo contínuo, pela falta <strong>de</strong> pontuação<br />

intencional ou não, nos leva sem atalho para o <strong>de</strong>sconcertante momento final:<br />

“enforca ele!!!”. Tiro certeiro. Essencial como haikai.<br />

Por tudo isso, essas estórias, ou histórias, são repletas <strong>de</strong> pequenas sabedorias.<br />

Reveladoras, também, <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta do mundo através das<br />

palavras. Mundo em que o que houve parece menos importante do que o que<br />

se ouve. Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> tinha razão, a gente escreve o que ouve mesmo.<br />

Taí a prova.<br />

Cacá Machado<br />

Músico e historiador, doutor em literatura brasileira pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo,<br />

on<strong>de</strong> leciona como professor convidado. Autor <strong>de</strong> “O enigma do homem célebre:<br />

ambição e vocação <strong>de</strong> Ernesto Nazareth” (Instituto Moreira Salles, 2007) e “Tom<br />

Jobim” (Publifolha, 2008), entre outros. Compõe para cinema, teatro e televisão.<br />

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