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cAPITÃES DA AREIA - Dom Bosco

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<strong>cAPITÃES</strong> <strong>DA</strong> <strong>AREIA</strong><br />

jORGE aMaDO


o ModeRnisMo<br />

OL1b - 08 1. Contexto soCial e HistÓRiCo<br />

3<br />

capitães da areia<br />

O início do século XX foi marcado por profundas mudanças de ordem tecnológica<br />

e científica. No entanto, os artistas não ficaram à margem das transformações.<br />

A Europa se encontrava em intensa turbulência. Problemas de natureza<br />

política e conflitos entre países vizinhos contribuíram para o surgimento, em<br />

1914, da Primeira Guerra Mundial. Tais crises geraram um clima propício para<br />

a efervescência artística, favorecendo o aparecimento das chamadas vanguardas<br />

europeias. Essas manifestações artísticas eram formadas por intelectuais em geral<br />

que, não satisfeitos com o mundo turbulento à sua volta, buscaram novas soluções,<br />

novas formas de expressão artística, surgindo assim os famosos “ismos”:<br />

futurismo, expressionismo, cubismo, dadaísmo e surrealismo.<br />

Apesar de diferentes entre si, as vanguardas guardavam algumas semelhanças<br />

principalmente em se tratando do questionamento à herança cultural<br />

proveniente do século XIX. Havia um consenso contra a arte conservadora e<br />

cristalizada do passado, e se fazia urgente a construção de novos modelos de<br />

beleza e de arte.<br />

a situação HistÓRiCa<br />

A enorme crise econômica, social e moral que acontecia na Europa, durante<br />

o período “entreguerras”, estendeu-se aos países capitalistas na década de<br />

1920. Os liberais sofreram vários ataques e, a partir da Primeira Guerra (1914)<br />

e da Revolução Russa (1917), viram-se enfraquecidos e mais tarde derrotados.<br />

Toda essa instabilidade foi gerada por uma verdadeira insatisfação e por um<br />

forte rompimento com os ideais do século XIX. Tanto as correntes cientificistas


jorge amado<br />

surgidas no século anterior, como positivismo, determinismo e outras, quanto<br />

uma postura artística voltada para a forma pura não faziam mais sentido diante<br />

do caos estabelecido. O grande avanço tecnológico, que trazia o automóvel, o<br />

cinema, as fábricas e até as máquinas voadoras, enaltecia a velocidade, a energia,<br />

o movimento, o futuro, o progresso. Os conflitos mundiais geraram grandes<br />

transformações e acabaram por criar, em alguns países, um forte nacionalismo<br />

que se ramificou em novas correntes ideológicas, como o nazismo, o fascismo e<br />

o comunismo, que, sem dúvida, mudaram a face do mundo.<br />

o ModeRnisMo no BRasil<br />

No Brasil, a ideia de que era necessária uma mudança radical no meio<br />

artístico-cultural não era adotada por todos. A árdua tarefa ficou a encargo de um<br />

grupo de jovens artistas (escritores, pintores etc.) que promoviam e articulavam<br />

movimentos com o objetivo de agitar o ambiente cultural adormecido da época.<br />

Liderados por Oswald de Andrade e por Mário de Andrade, o grupo não<br />

sabia ainda bem o que queria, mas sabia exatamente o que não queria. São Paulo<br />

responsabilizou-se por essa empreitada de renovação artística. O grupo pretendia<br />

dar um novo grito de independência (1922 – 100 anos da independência do Brasil)<br />

contra o atraso cultural do país. Após meses e meses de preparo, entre apoios<br />

e críticas, os jovens, com a importante adesão de nomes como Graça Aranha,<br />

Paulo Prado e outros que financiaram o evento, apresentaram a Semana de Arte<br />

Moderna no Teatro Municipal de São Paulo.<br />

A partir desse momento, o Modernismo iniciou seu longo caminho de<br />

“abre-alas” cultural, estendendo-se por muitos anos. Sendo assim, costuma-se<br />

caracterizar o movimento por fases, de acordo com seus principais objetivos:<br />

Fase objetivos Representantes<br />

1ª fase (fase heroica)<br />

1922 a 1930<br />

2ª fase<br />

(fase de consolidação)<br />

1930 a 1945<br />

Pós-Modernismo<br />

a partir de 1945<br />

Rompimento com o<br />

passado. Caráter anárquico<br />

e destruidor.<br />

amadurecimento das<br />

con quistas da fase<br />

anterior.<br />

Engajamento político.<br />

Denúncia dos problemas<br />

sociais.<br />

Inovações na prosa e<br />

na poesia.<br />

Diversidade literária.<br />

4<br />

Oswald de andrade<br />

Mário de Andrade<br />

Manuel Bandeira<br />

Alcântara Machado<br />

Graciliano Ramos<br />

Rachel de Queirós<br />

jorge amado<br />

Carlos Drummond de Andrade<br />

Cecília Meireles<br />

Vinícius de Moraes<br />

Guimarães Rosa<br />

Clarice Lispector<br />

João Cabral de Melo Neto


OL1b - 08 2. estilo liteRáRio da éPoCa<br />

5<br />

capitães da areia


jorge amado<br />

3. o autoR<br />

A vida deu créditos enormes a ele, dos quais nunca se achou merecedor. São 39<br />

livros, cerca de 21 milhões de exemplares vendidos no Brasil nos últimos 25 anos e tradução<br />

em 52 países, de A, de Albânia, a V, de Vietnã.<br />

6<br />

Geraldo Mayrink<br />

Jorge Amado foi, até recentemente, o autor mais publicado e traduzido do<br />

Brasil, só sendo, atualmente, superado pelo escritor Paulo Coelho.<br />

“Amado Jorge” é, sem dúvida, o autor que mais teve a obra adaptada para<br />

a televisão e para o cinema brasileiros.<br />

Nasceu em Itabuna, na Bahia, em 10 de agosto de 1912. No ano seguinte,<br />

por conta de uma epidemia de varíola (dado presente na obra capitães da areia),<br />

foi obrigado a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus, onde viveu a maior<br />

parte da infância, que lhe serviu de inspiração para vários romances.<br />

De 1931 a 1935 frequentou a Faculdade Nacional de Direito, no Rio de<br />

Janeiro, onde estabeleceu seus primeiros contatos com o movimento comunista<br />

organizado. Formado, nunca exerceria a carreira jurídica. Em 1933, casou-se com<br />

Matilde Garcia Rosa. Durante esse período publicou seus primeiros livros.<br />

Já trabalhando como jornalista e filiado ao Partido Comunista, foi preso por<br />

diversas vezes, tendo seus livros queimados em praça pública, em Salvador.<br />

Viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), em Paris (1948 a<br />

1950) e em Praga (1951 a 1952). Escritor profissional, viveu exclusivamente dos<br />

direitos autorais dos seus livros.<br />

Em 1944, separou-se de Matilde, elegeu-se deputado federal pelo PCB e<br />

casou-se com Zélia Gattai, também escritora, com quem viveu até o fim da vida.<br />

Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril<br />

de 1961, ocupando a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar.<br />

Morreu em Salvador, a 6 de agosto de 2001, poucos dias antes de completar<br />

89 anos.


OL1b - 08<br />

JoRge: o Mais aMado do BRasil<br />

7<br />

capitães da areia<br />

Todos sabemos a enorme popularidade de Jorge Amado, não só no Brasil,<br />

como no mundo inteiro, mas por que ele é tão aceito pelo público leitor?<br />

Vejamos algumas de suas características principais e de sua obra, muitas<br />

delas afirmadas pelo próprio autor:<br />

– apresenta-se como o mais fecundo contador de histórias regionais da nossa<br />

literatura;<br />

– trabalha com a descrição de tipos marginais, pescadores, marinheiros,<br />

visando, através deles, a analisar toda sociedade;<br />

– usa e abusa de uma linguagem oral que retrata o falar do povo;<br />

– apresenta, com frequência, grandes painéis coloridos e de fácil percepção<br />

a todo tipo de leitor;<br />

– seus romances são fortemente marcados pelo lirismo e alguns deles por<br />

uma postura ideológica explícita;<br />

– segundo o próprio autor, sua extensa obra divide-se em dois grandes momentos:<br />

1º) a narrativa de denúncia da exploração dos trabalhadores e suas lutas<br />

políticas;<br />

2º) a narrativa colorida de costumes.<br />

Apresenta-se como marco divisório dessas duas etapas a publicação da<br />

obra Gabriela, cravo e canela, em 1959.<br />

Com a palavra o próprio autor:<br />

Não sei fazer outra coisa... Então, primeiro, eu escrevo porque, bem ou mal, é a<br />

única coisa que sei fazer; segundo, porque é um ofício que, sendo difícil, duro, por vezes<br />

dramático mesmo, é um ofício que dá também muita alegria, uma certa satisfação por<br />

ter feito alguma coisa. O que me toca realmente muito dentro do meu ofício é saber que<br />

houve em várias partes do mundo mulheres que, porque leram Teresa Batista, se sentiram<br />

com força para realizar determinadas coisas. Essas coisas são importantes para o escritor,<br />

essas são as coisas que te tocam, que significam alguma coisa. E é por isso que escrevo.<br />

Eu escrevo também porque não tenho outro meio de vida senão os direitos autorais dos<br />

meus livros, mas eu posso dizer-lhe que eu escrevo por não poder deixar de escrever, de<br />

escrever romances, de recriar a vida.<br />

oBRas do autoR<br />

jorge amado<br />

De acordo com alguns críticos, a obra do autor pode ser assim classificada:<br />

– Romances proletários: aqueles que retratam a vida urbana em Salvador,<br />

com forte coloração social: O país do carnaval, Suor e capitães da areia.


jorge amado<br />

– Ciclo do cacau: aqueles cujos temas são as fazendas de cacau de Ilhéus e<br />

Itabuna, a exploração do trabalhador rural e a presença dos exportadores<br />

que constituíam a nova força econômica da região: Cacau, Terras do sem fim<br />

e São Jorge dos Ilhéus.<br />

– depoimentos líricos e crônicas de costumes: aqueles em que o autor<br />

trabalha mais intensamente com o lirismo, como é o caso de Jubiabá e Mar<br />

morto, e aqueles em que apresenta um panorama humorístico de uma cidade,<br />

com tom ameno, descrevendo tipos humanos sensíveis e caricatos.<br />

Essa produção iniciou-se com Gabriela, cravo e canela, estendendo-se às<br />

últimas produções, exceção feita à obra Velhos marinheiros, na qual o autor,<br />

deixando a espontaneidade, busca um estilo de sabor clássico, para traduzir<br />

ironicamente seu humor.<br />

8


OL1b - 08 4. a oBRa<br />

9<br />

capitães da areia


jorge amado<br />

Publicada em 1937, a obra pertence à fase mais ideológica do autor, em que,<br />

como ele mesmo afirmava, a narrativa pendia para a denúncia da exploração dos<br />

trabalhadores, suas lutas sociais e o inevitável engajamento político.<br />

A obra apresenta de maneira bastante crítica e ilustrativa a vida dos menores<br />

abandonados que perambulavam pela ruas de Salvador na década de 1930.<br />

Curiosidade: como a obra foi publicada pouco depois de implantado o Estado<br />

Novo, sua primeira edição foi apreendida e os exemplares, queimados em praça pública de<br />

Salvador por autoridades da ditadura. Ela só retornaria de maneira definitiva sete anos<br />

depois, em uma nova edição datada de 1944.<br />

Antes da narrativa propriamente dita, a obra oferece uma seção denominada<br />

“Cartas à Redação”, em que se apresenta uma série de cartas enviadas à redação de<br />

um jornal por diferentes pessoas e segmentos da sociedade baiana, os quais emitem<br />

divergentes opiniões a respeito do reformatório que abrigava esses jovens.<br />

Temos ali uma aula sobre as diferentes intencionalidades, ora de quem<br />

escreve, ora do jornal, e principalmente do narrador, ao explicitar em quais condições<br />

(localização, clichês, foto etc.) os textos foram publicados.<br />

Os textos apresentados são os seguintes:<br />

– reportagem crianças ladronas;<br />

– carta do secretário de polícia ao jornal;<br />

– carta do dr. juiz de menores ao jornal;<br />

– carta de uma mãe, costureira, ao jornal;<br />

– carta do padre José Pedro ao jornal;<br />

– carta do diretor do reformatório ao jornal;<br />

– títulos da reportagem.<br />

Toda a série de cartas enviadas à redação do jornal baiano foi motivada pela<br />

reportagem crianças ladronas, na qual o jornal acusa a negligência por parte da<br />

polícia local, e do juizado de menores, em relação à ação dos “capitães da areia”.<br />

Essa reportagem se apresenta como um primor demagógico, preconceituoso<br />

e oportunista, uma vez que foi escrita pelo fato de a vítima ser o comendador<br />

José Ferreira, “um dos mais abastados e importantes negociantes de Salvador”.<br />

Ao se referir aos “capitães da areia”, assim os denomina: “grupo de meninos<br />

assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe”.<br />

Seguem-se as cartas do secretário de polícia e a do doutor juiz de menores;<br />

nelas há acusação mútua e nenhuma ação concreta.<br />

A carta da mãe costureira surpreende pela coragem e sugestão apresentadas:<br />

Se o jornal do senhor mandar uma pessoa lá, secreta, há de ver que comida eles<br />

comem, o trabalho de escravo que têm, que nem um homem forte aguenta, e as surras<br />

que tomam, no que é seguida pela do padre José Pedro reiterando as acusações<br />

da referida mãe ao reformatório: As crianças no aludido reformatório são tratadas<br />

como feras, essa é a verdade [...] com espancamentos seguidos e castigos físicos verdadeiramente<br />

desumanos.<br />

10


OL1b - 08<br />

11<br />

capitães da areia<br />

A última carta é a do diretor do reformatório, que, de maneira radical, rebate<br />

as críticas, assim se referindo a seus autores: Quanto à carta de uma mulherzinha<br />

do povo, não me preocupei com ela, não merece a minha resposta; e, mais adiante, O<br />

tal padre é apenas um instigador do mau caráter geral dos menores sob a minha guarda.<br />

E por isso vou fechar-lhe as portas desta casa de educação.<br />

Outro dado importante é observar em que parte do jornal e com qual destaque<br />

essas cartas foram publicadas. Enquanto a do secretário do chefe de polícia<br />

aparece na primeira página, complementada com um elogioso comentário, a da<br />

mãe costureira aparece na quinta página, entre anúncios, e sem comentários.<br />

a forte intencionalidade presente nesse material e na postura do narrador<br />

da obra em optar por iniciá-la dessa forma mostra-se como um recurso valioso<br />

para prender a atenção do leitor e fazer com que ele leia o romance para conhecer<br />

a verdade e poder, ao final, posicionar-se diante dela.<br />

estRutuRa da oBRa<br />

Após a seção “Cartas à Redação”, a narrativa propriamente dita se inicia<br />

apresentando uma divisão em três partes:<br />

1ª parte: Sob a lua num velho trapiche abandonado, parte mais longa (em<br />

média, 130 páginas), constituída por 11 capítulos. Apresenta o grupo dos<br />

Capitães da Areia, relata a vida de seus participantes e suas ações no grupo.<br />

Essa parte se finaliza com a epidemia de varíola que assola a cidade,<br />

matando centenas de pessoas.<br />

2ª parte: Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos, mais curta do<br />

que a anterior (em média, 55 páginas), é constituída por 8 capítulos. Foca<br />

maior atenção no chefe do grupo, Pedro Bala, que descobre o amor, Dora,<br />

a única menina do grupo. Essa parte se finaliza com a morte de Dora e a<br />

dor de todos.<br />

3ª parte: Canção da Bahia, Canção da liberdade, um pouco mais curta que<br />

a anterior (em média, 41 páginas), é constituída por 8 capítulos. Por ser a<br />

finalização da obra, apresenta o destino dos Capitães da Areia e o inevitável<br />

engajamento político de Pedro Bala na causa operária.<br />

FoCo naRRatiVo<br />

A obra faz uso de um narrador em 3ª pessoa onisciente que, mesmo relatando<br />

os crimes, os assaltos e toda sorte de delitos realizados pelos Capitães da<br />

Areia, não deixa de mostrar o lado doce e carente dessas crianças que se lançaram<br />

ao crime como última possibilidade de sobrevivência.<br />

esPaço<br />

A narrativa transcorre na cidade de salvador, capital da Bahia, e mais<br />

precisamente no velho trapiche que serve de esconderijo, moradia e ponto de<br />

encontro dos Capitães da Areia.


jorge amado<br />

Nos momentos de descrição do ambiente, o narrador apresenta forte lirismo<br />

e uma evidente admiração pela cidade de Salvador, suas ruas, seus becos,<br />

suas praias.<br />

A GRANDE NOITE DE PAZ <strong>DA</strong> BAHIA VEIO DO cAIS, envolveu os saveiros,<br />

o forte, o quebra-mar, se estendeu sobre as ladeiras e as torres das igrejas. Os sinos<br />

já não tocam as ave-marias que as seis horas há muito que passaram. E o céu está cheio<br />

de estrelas, se bem a lua não tenha surgido nesta noite clara. O trapiche se destaca na<br />

brancura do areal, que conserva as marcas dos passos dos capitães da Areia, que já se<br />

recolheram. Ao longe, a fraca luz da lanterna da Porta do Mar, botequim de marítimos,<br />

parece agonizar. (cap. 2)<br />

teMPo<br />

A narrativa apresenta tempo cronológico bem marcado, com inúmeras<br />

citações de horas, dias da semana etc. As citações de tempos passados só ocorrem<br />

para esclarecer algum dado presente ou para conhecermos melhor determinadas<br />

personagens.<br />

SOB A LUA, NUM VELHO TRAPIcHE ABANDONADO, as crianças dormem.<br />

Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche<br />

as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. [...]<br />

Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o<br />

areal do cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu<br />

tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a areia foi conquistando<br />

a frente do trapiche. (cap. 1)<br />

linguageM<br />

A narrativa apresenta linguagem coloquial, aproximando-se do mundo<br />

vivido pelas personagens. Em certos momentos, o narrador nos presenteia com<br />

imagens líricas e delicadas em meio àquele submundo. Quando o narrador dá<br />

voz às personagens, percebemos erros na fala e a utilização de palavrões e expressões<br />

duras.<br />

O lirismo na linguagem apresenta-se exacerbado nos momentos em que<br />

Pedro Bala e Dora descobrem o amor puro, verdadeiro e pueril.<br />

PeRsonagens<br />

As personagens, em geral, são moleques abandonados que se juntam na<br />

esperança de sobreviverem. O grupo chegou a ter mais de cem integrantes (entre<br />

9 e 16 anos) dos quais quarenta moravam no trapiche.<br />

Pedro Bala: grande líder dos Capitães da Areia. Era sensato, justo e sensível<br />

à causa de todos. Loiro, 15 anos, com uma cicatriz no rosto. Ao final, reconhece<br />

sua missão como líder do movimento comunista, lutando sempre em prol de<br />

uma vida melhor para os menos favorecidos.<br />

12


OL1b - 08<br />

13<br />

capitães da areia<br />

João grande: fiel companheiro de Pedro Bala, era um negro alto e forte.<br />

Pedro reconhecia naquele homenzarrão bondade e solidariedade enormes. Assumia<br />

o partido dos mais fracos e defendia os novatos do grupo.<br />

Professor: outro fiel companheiro de Pedro Bala, João José era o único que<br />

sabia ler no grupo. Inteligente e sensato, armava os planos e sempre agia de maneira<br />

ética. Apresentava um talento natural para a pintura e, ao final, consegue<br />

seguir a carreira de pintor no Rio de Janeiro.<br />

dora: única mulher do grupo, apaixona-se por Pedro Bala e ele por ela.<br />

Corajosa e prestativa, cuida de todos, principalmente de seu irmãozinho Zé<br />

Fuinha, de apenas 6 anos. Morre por conta de uma forte febre, deixando um<br />

enorme vazio em todo o grupo. Antes, porém, pede a Pedro que a possua para<br />

que morra como sua esposa.<br />

sem-Pernas: por ser coxo de uma perna inspirava confiança e piedade das<br />

pessoas, porém dentre todos os meninos era o que sentia mais ódio. Só amava<br />

o seu próprio ódio. Aproveitava-se da condição de coxo para se aproximar das<br />

pessoas de boa-fé para depois roubá-las. Torna-se o espião do grupo, estudando<br />

o terreno, infiltrando-se nas residências para depois instruir o bando sobre o<br />

exato lugar onde estavam objetos de valor. Ao final, prefere se matar a ser pego<br />

pela polícia.<br />

gato: vaidoso e esperto, era o “elegante” do grupo. Valorizava a boa aparência<br />

e se transformou num grande malandro mulherengo, sempre a trapacear<br />

e a roubar. Ao final, depois de inúmeros golpes em Ilhéus, parte para Aracaju<br />

atrás do dinheiro dos usineiros de açúcar.<br />

Pirulito: apelidado assim por ser muito alto e magro, desde cedo demonstrou<br />

vocação religiosa, embora roubasse e trapaceasse com o bando. Por influência<br />

do padre José Pedro, conseguiu ingressar na vida religiosa e se tornar frade.<br />

Volta seca: mulato sertanejo, sonhava em ingressar no bando do famoso<br />

cangaceiro Lampião (seu padrinho), façanha que conseguiu anos mais tarde,<br />

tornando-se um dos grandes matadores do cangaço.<br />

Boa-Vida: como o nome já indica, malandro profissional que sempre<br />

fugia de qualquer tipo de trabalho ou obrigação. Poucas vezes roubava alguma<br />

coisa, mas quando o fazia, logo entregava para Pedro Bala como forma de<br />

apoiar o grupo e garantir sua permanência junto a eles. Termina como fazedor<br />

de sambas.<br />

Padre José Pedro: homem bom e honesto, sempre que possível tentava<br />

ajudar os meninos do bando. Era o único que sabia o endereço dos Capitães da<br />

Areia e muitas vezes se arriscou por eles.<br />

João de adão: bem mais velho do que os meninos, esse estivador conhecera<br />

o pai de Pedro Bala e é quem conta a ele sobre seu passado. Revela a grande<br />

admiração que todos ali sentiam pelo “Loiro”, pai de Pedro, que lutava por<br />

melhores condições de vida de todos ali.


jorge amado<br />

Querido-de-deus: pescador, capoeirista dos bons. Mantinha relações com<br />

os Capitães da Areia e arrumava “clientes” para o bando.<br />

don’aninha: mãe de santo que não discriminava os Capitães da Areia.<br />

Sempre que chamada, tentava ajudá-los em suas necessidades.<br />

alberto: estudante universitário que luta pela causa operária. Por intermédio<br />

de João de Adão, reconhece em Pedro Bala um verdadeiro líder grevista<br />

e do movimento. Encanta Pedro ao chamá-lo de “companheiro” e ao dizer-lhe<br />

que “A greve é a festa dos pobres”.<br />

ResuMo<br />

Primeira parte<br />

Sob a lua, num velho trapiche abandonado<br />

Por ser o início da narrativa, essa parte relata a vida dos meninos que formam<br />

o bando Capitães da Areia. Logo no primeiro capítulo, já nos é apresentado<br />

Pedro Bala, que rapidamente se torna o líder do grupo.<br />

Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos, soltando palavrões e<br />

fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam<br />

totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas. (cap. O trapiche)<br />

Aos poucos, todos os membros do grupo são apresentados: João Grande,<br />

Professor, Sem-Pernas, Gato, Pirulito, Boa-Vida, Barandão, Volta Seca, Queridode-Deus,<br />

cada um com sua história, suas características, suas habilidades, suas<br />

carências etc.<br />

Fatos marcantes: o carrossel, o passado de Pedro Bala, a decisão do Sem-<br />

-Pernas, a varíola.<br />

• o carrossel<br />

Entre pequenos e grandes furtos, surge uma oportunidade diferente: andar<br />

de carrossel. Sem-Pernas e Volta Seca foram convidados por Nhozinho França<br />

(que já havia divertido o bando de cangaceiros de Lampião com seu carrossel)<br />

para ajudá-lo a vender ingressos e atrair clientela, agora que ele chegara à cidade.<br />

Todos no trapiche viram ali a possibilidade da realização de um sonho: após o<br />

expediente, Sem-Pernas ligaria o brinquedo só para eles. A alegria dos Capitães<br />

da Areia no carrossel era uma prova de que, embora cometessem furtos, eram<br />

genuinamente crianças e, como crianças, sonharam entre as luzes e a música do<br />

carrossel.<br />

Durante esse episódio, conhecemos o padre José Pedro, amigo e conselheiro<br />

dos Capitães da Areia, o único que se apiedava daqueles jovens e que chegara a<br />

retirar da quantia que uma senhora lhe deu para comprar velas o suficiente para<br />

os Capitães poderem ir ao carrossel, porém, como não se fazia mais necessário,<br />

ele não precisou cometer aquele delito.<br />

14


OL1b - 08<br />

15<br />

capitães da areia<br />

Pela madrugada os capitães da Areia vieram. O Sem-Pernas botou o motor para<br />

trabalhar. E eles esqueceram que não eram iguais às demais crianças, esqueceram que<br />

não tinham lar, nem pai, nem mãe, que viviam de furto como homens, que eram temidos<br />

na cidade como ladrões. Esqueceram a palavra da velha de lorgnon. Esqueceram tudo e<br />

foram iguais a todas as crianças, cavalgando os ginetes do carrossel, girando com as luzes.<br />

As estrelas brilhavam, brilhava a lua cheia. Mas, mais que tudo, brilhavam na noite da<br />

Bahia as luzes azuis, verdes, amarelas, roxas, vermelhas do Grande carrossel Japonês.<br />

(cap. As luzes do carrossel)<br />

• o passado de Pedro Bala<br />

Mais adiante na narrativa, Pedro Bala vai às docas e encontra João de Adão,<br />

um velho estivador e antigo grevista, e uma negra, comadre Luísa, que vendia<br />

doces por lá. Ambos revelam a Pedro Bala fatos importantes de seu passado:<br />

seu pai, Raimundo, o “Loiro”, tinha sido um importante grevista e havia morrido<br />

pela causa com um tiro no peito; sua mãe havia morrido quando ele tinha<br />

apenas seis meses.<br />

Seu pai fora um deles. Só agora o sabia. E por eles fizera discursos em um caixão,<br />

brigara, recebera uma bala no dia em que a cavalaria enfrentou os grevistas. Talvez ali<br />

mesmo, onde ele se sentava, tivesse caído o sangue de seu pai. (cap. Docas)<br />

• a decisão do sem-Pernas<br />

Sem-Pernas costumava se infiltrar nas casas das pessoas para depois<br />

roubá-las. Certa vez, por sorte, ao pedir comida, disse se chamar Augusto a<br />

uma senhora caridosa que havia perdido um filho com esse mesmo nome. Ela<br />

lhe pede que ele se vista com a roupa de marinheiro do filho falecido, Sem-<br />

-Pernas nem se reconhece ao espelho: lavado, penteado, com aquela roupa!<br />

Dona Ester o trata tão bem que ele começa a pensar em desistir dos planos do<br />

bando, como roubar aquela senhora? Por que não ficar para sempre naquela<br />

mordomia? Quando Raul, o marido, chega, também se encanta pelo Sem-<br />

-Pernas: “ Vamos fazer dele um homem...” . Levam-no ao cinema, à sorveteria,<br />

arrumam um quarto para ele...<br />

E se para alguém o Sem-Pernas abria exceção no seu ódio, que abrangia o mundo<br />

todo, era para as crianças que formavam os capitães da Areia. Estes eram seus companheiros,<br />

eram iguais a ele, eram as vítimas de todos os demais, pensava o Sem-Pernas.<br />

E agora sentia que os estava abandonando, que estava passando para o outro lado. com<br />

este pensamento se sobressaltou, sentou-se. Não, ele não os trairia. Antes de tudo estava<br />

a lei do grupo, a lei dos capitães da Areia. Os que a traíam eram expulsos e nada de bom<br />

os esperava no mundo. E nunca nenhum a havia traído do modo como o Sem-Pernas a<br />

ia trair. Para virar menino mimado, para virar uma daquelas crianças que eram eterno<br />

motivo de galhofa para eles. Não, não os trairia.<br />

[...]


jorge amado<br />

Lembrou-se que das outras vezes, quando dava o fora de uma casa para ela ser<br />

assaltada, era uma grande alegria que o invadia. Desta vez não tinha alegria nenhuma.<br />

Seu ódio para todos não desaparecera, é verdade. Mas abrira uma exceção para a gente<br />

daquela casa, porque dona Ester o chamava de filho e o beijava na face. O Sem-Pernas<br />

luta consigo mesmo. Gostaria de continuar naquela vida. Mas que adiantaria isso para os<br />

capitães da Areia? E ele era um deles, nunca poderia deixar de ser um deles porque uma<br />

vez os soldados o prenderam e o surraram enquanto um homem de colete ria brutalmente.<br />

E o Sem-Pernas se decidiu. (cap. Família)<br />

• a varíola (alastrim)<br />

Almiro foi o primeiro dos Capitães da Areia que contraiu a varíola.<br />

Sem--Pernas quis imediatamente que ele abandonasse o bando e ficasse na rua<br />

esperando que alguém da saúde pública o levasse para o lazareto (leprosário<br />

de onde ninguém saía vivo). Muitos meninos discordaram dele mas foi preciso<br />

Volta Seca intervir armado de revólver para impedir Sem-Pernas. Ficou resolvido<br />

que a decisão caberia a Pedro Bala. Quando este chegou, ponderou o caso, em<br />

seguida chegou o padre José Pedro, que fora chamado pelo devoto Pirulito, para<br />

ajudar na resolução. Decidiram que Almiro deveria voltar para casa e assim se<br />

fez. Porém, o padre não comunicou às autoridades e foi penalizado por isso junto<br />

a seus superiores da Igreja, que chegaram a acusá-lo de comunista.<br />

Em seguida, Boa-Vida também pega varíola e decide abandonar todos para<br />

o bem do bando e seguir para o lazareto.<br />

Seu vulto desapareceu no areal. Professor ficou com as palavras presas, um nó na<br />

garganta. Mas também achava bonito Boa-Vida andar assim para a morte para não contaminar<br />

os outros. Os homens assim são os que têm uma estrela no lugar do coração. E<br />

quando morrem o coração fica no céu, diz o Querido-de-Deus. Boa-Vida era um menino,<br />

não era um homem. Mas já tinha uma estrela no lugar do coração. Já desapareceu o seu<br />

vulto. E então a certeza de que não mais verá seu amigo encheu o coração do Professor.<br />

A certeza de que o outro ia para a morte. (cap. Alastrim)<br />

segunda parte<br />

Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos<br />

Iniciando a segunda parte, conhecemos a triste história de Dora (13 anos)<br />

e seu irmão Zé Fuinha (6 anos), que perderam os pais para a varíola. Como não<br />

conseguiu emprego, Dora aceita ir para o trapiche com João Grande e Professor,<br />

mas lá chegando foi motivo de briga entre os meninos que a cobiçavam. Pedro Bala,<br />

Professor e João Grande a protegeram e ela se tornou a primeira menina do bando,<br />

fazendo as vezes de irmã e mãezinha de todos. Até Pirulito, que a princípio não<br />

gostara dela por considerá-la um “pecado”, acaba se afeiçoando a ela, chegando<br />

ao ponto de lhe dar seu “Deus Menino”, como um filho que presenteia sua mãe.<br />

16


OL1b - 08<br />

17<br />

capitães da areia<br />

Pedro Bala e Dora se apaixonam de uma maneira extremamente ingênua<br />

e pueril, consideram-se noivos.<br />

Ele abanou a cabeça afirmando. Então ela chegou os lábios para junto dos<br />

de Pedro Bala, os beijou e depois fugiu. Ele saiu correndo atrás dela, mas ela se<br />

escondia, não se deixava pegar. Aos poucos foram chegando os outros. Ela de longe<br />

sorria para Pedro Bala. Não havia nenhuma malícia no seu sorriso. Mas seu olhar<br />

era diferente do olhar de irmã que lançava aos outros. Era um doce olhar de noiva,<br />

de noiva ingênua e tímida. Talvez mesmo não soubessem que era amor. Apesar de<br />

não ser noite de lua, havia um romântico romance no casarão colonial. Ela sorria<br />

e baixava os olhos, por vezes piscava com um olho porque pensava que isto era<br />

namorar. E seu coração batia rápido quando o olhava. Não sabia que isso era amor.<br />

Por fim a lua veio, estendeu sua luz amarela no trapiche. Pedro Bala se deitou na<br />

areia e mesmo de olhos fechados via Dora. Sentiu quando ela chegou e deitou a seu<br />

lado. Disse:<br />

– Tu agora é minha noiva. Um dia a gente se casa.<br />

continuou de olhos fechados. Ela disse baixinho:<br />

– Tu é meu noivo.<br />

Mesmo não sabendo que era amor, sentiam que era bom.<br />

O bando é perseguido pela polícia. Pedro Bala é preso e torturado,<br />

Dora é enviada para um orfanato. O bando liberta Pedro e depois Dora.<br />

De volta ao trapiche, todos temem pela vida de Dora, que arde de febre.<br />

À noite, ela pede a Pedro que a possua. Torna-se sua esposa e morre ao<br />

amanhecer. (p. 217)<br />

Se abraçam. O desejo é abrupto e terrível. Pedro não a quer magoar, mas ela não<br />

mostra sinais de dor. Uma grande paz em todo seu ser.<br />

– Tu é minha agora – fala ele com voz agitada.<br />

Ela parecia não sentir a dor da posse. Seu rosto acendido pela febre se enche de<br />

alegria. Agora a paz é só da noite, com Dora está a alegria. Os corpos se desunem. Dora<br />

murmura:<br />

– É bom... Sou tua mulher.<br />

Ele a beija. A paz voltou ao rosto dela. Fita Pedro Bala com amor.<br />

– Agora vou dormir – diz.<br />

Deita ao lado dela, segura sua mão ardente. Esposa.<br />

A paz da noite envolve os esposos. O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a<br />

morte está próxima. Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor. Mas nos corações<br />

dos dois meninos não há mais nenhum medo. Somente paz, a paz da noite da Bahia.<br />

(cap. Dora, Esposa)


jorge amado<br />

terceira parte<br />

Canção da Bahia, Canção da Liberdade<br />

Em oposição à primeira parte que apresenta a formação do grupo, esta<br />

última anuncia a desintegração do bando a partir da saída de importantes<br />

membros:<br />

Professor: vai para o Rio de Janeiro estudar pintura. Torna-se o conceituado<br />

pintor João José, que pinta quadros de meninos pobres juntamente com<br />

a figura de uma menina magra de cabelos loiros e faces febris que representa<br />

todos sentimentos bons.<br />

Pirulito: primeiramente, abandona os furtos e vai trabalhar vendendo<br />

jornal, engraxando sapatos, carregando bagagens. Dividido entre dois fortes<br />

apelos – Deus e os Capitães da Areia –, decide entregar-se a Deus e orar pelos<br />

Capitães. Torna-se frade e um dia poderá ordenar-se padre. 224<br />

Pirulito está marcado por Deus. Mas está marcado também pela vida dos capitães<br />

da Areia. Desiste da sua liberdade, de ver e ouvir o espetáculo do inundo, da marca de<br />

aventura dos capitães da Areia, para ouvir o chamado de Deus. Porque a voz de Deus<br />

que fala no seu coração é tão poderosa que não tem comparação. Rezará pelos capitães<br />

da Areia na sua cela de penitente. Porque tem que ouvir e seguir a voz que o chama. E<br />

uma voz que transfigura seu rosto na noite invernosa do trapiche. Como se lá fora fosse<br />

a primavera. (cap. Vocações)<br />

Padre José Pedro: recebe do arcebispo uma paróquia para conduzir, numa<br />

perdida vila do alto sertão.<br />

Boa-Vida: pouco aparece no trapiche, passa a vida tocando seu violão,<br />

fazendo sambas e se divertindo, torna-se um malandro típico.<br />

sem-Pernas: continua se infiltrando nas casas para depois roubá-las. Quando<br />

se vê encurralado pela polícia, prefere se matar a se deixar prender.<br />

Não o levarão. Vêm em seus calcanhares, mas não o levarão. Pensam que ele vai<br />

parar junto ao grande elevador. Mas Sem-Pernas não para. Sobe para o pequeno muro,<br />

volve o rosto para os guardas que ainda correm, ri com toda a força do seu ódio, cospe na<br />

cara de um que se aproxima estendendo os braços, se atira de costas no espaço como se<br />

fosse um trapezista de circo. (cap. como um trapezista de circo)<br />

gato: vai para Ilhéus com Dalva cavar a vida e enricar. Depois de inúmeros<br />

golpes e prisões, reencontra Pedro Bala e diz que embarcará para Aracaju porque<br />

o açúcar está dando dinheiro.<br />

Volta seca: sempre sonhou em ir para o cangaço, por isso decide se juntar<br />

aos Índios Maloqueiros, espécie de Capitães da Areia de Aracaju. Durante<br />

a viagem, encontra Lampião e realiza seu sonho tornando-se o mais temível<br />

cangaceiro daquele bando. Até que é preso e condenado a trinta anos de prisão<br />

por quinze mortes comprovadas, mas se sabia que o total era sessenta mortes<br />

(marcas em seu fuzil).<br />

18


OL1b - 08<br />

19<br />

capitães da areia<br />

João grande: depois de ajudar Pedro Bala contra os fura-greve, “embarcou<br />

como marinheiro num navio cargueiro do Lloyd.”<br />

Pedro Bala: finalmente, atende ao chamado da revolução. Torna-se<br />

líder de uma brigada de choque formada pelos Capitães da Areia em prol<br />

dos grevistas. Encanta-se com a expressão “companheiros” e adere ao ideal<br />

comunista.<br />

O destino deles mudou, tudo agora é diverso. Intervêm em comícios, em greves,<br />

em lutas obreiras. O destino deles é outro. A luta mudou seus destinos.<br />

[...]<br />

Ordens vieram para a organização dos mais altos dirigentes. Que Alberto ficasse<br />

com os capitães da Areia e Pedro Bala fosse organizar os Índios Maloqueiros de Aracaju<br />

em brigada de choque também. E que depois continuasse a mudar o destino das outras<br />

crianças abandonadas do país.<br />

5. exeRCíCios<br />

1. ueRJ<br />

nem a rosa, nem o cravo<br />

As frases perdem seu sentido, as palavras<br />

perdem sua significação costumeira, como dizer das<br />

árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas<br />

e do cais, das borboletas nas árvores, quando as<br />

crianças são assassinadas friamente pelos nazistas?<br />

como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades,<br />

quando as bestas soltas no mundo ainda destroem<br />

os campos e as cidades?<br />

Já viste um loiro trigal balançando ao vento?<br />

É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os<br />

trigais e os povos morrem de fome. como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e<br />

pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso<br />

falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão<br />

perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. (...)<br />

Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como u’a nuvem inesperada num<br />

céu azul e límpido. como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas,<br />

versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como<br />

uma traição neste momento.<br />

(...)<br />

Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento.<br />

Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as<br />

frases mais trabalhadas.


jorge amado<br />

Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao<br />

fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que<br />

nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer<br />

espetáculo – desde o crepúsculo aos olhos da amada – sem que junto a ele vejamos<br />

o perigo que os cerca.<br />

Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança.<br />

Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre<br />

toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o<br />

mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles<br />

tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a<br />

mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei<br />

palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor<br />

na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma<br />

contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama<br />

e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor<br />

e a liberdade!<br />

20<br />

AMADO, Jorge. Folha da Manhã, 22/04/1945.<br />

O enunciador do texto defende, como modo de reação às crueldades referidas,<br />

a utilização das mesmas armas dos agressores.<br />

O trecho em que essa ideia se apresenta mais claramente é:<br />

a) “Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão.”<br />

b) “Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces<br />

vocábulos,”<br />

c) “Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo.”<br />

d) “Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança.”<br />

2. ueRJ<br />

Para expressar um ponto de vista definido, o enunciador de Nem a rosa, nem o<br />

cravo emprega determinados recursos discursivos.<br />

Um desses recursos e a justificativa para seu uso estão presentes em:<br />

a) emprego da 1ª pessoa – discussão de um tema polêmico<br />

b) resgate de práticas pessoais passadas – conservação de uma visão de mundo<br />

c) interlocução direta com os possíveis leitores – fortalecimento de um pacto de<br />

omissão<br />

d) presença de um interlocutor em 2ª pessoa – desenvolvimento de uma estratégia<br />

de confissão


OL1b - 08<br />

21<br />

capitães da areia<br />

3. ueRJ<br />

O uso das palavras “rosa” e “cravo” é recusado pelo enunciador do texto de<br />

Jorge Amado.<br />

Essa recusa ocorre, pois essas palavras assumem, no texto, o sentido de:<br />

a) ameaça. c) infelicidade.<br />

b) alienação. d) cumplicidade.<br />

4. uFRs<br />

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir, referentes ao<br />

romance de 30.<br />

( ) A década de 1930 dá lugar a uma renovação do regionalismo brasileiro,<br />

associado, sobretudo, à ficção nordestina.<br />

( ) Os romancistas de 30 mostram-se mais preocupados com o questionamento<br />

da realidade do que com inovações formais.<br />

( ) Um dos temas da ficção de 30 diz respeito ao ciclo do cangaço, sendo O Quinze,<br />

de Raquel de Queiroz, o melhor exemplo de romance desse ciclo.<br />

( ) O desenvolvimento da economia rural, com a crescente modernização dos<br />

meios de produção no campo, é um dos focos principais das narrativas de 30.<br />

( ) Alguns romances de 30 mostram as primeiras consequências sociais do<br />

surgimento da industrialização, apontando o deslocamento da população<br />

do campo para a cidade.<br />

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:<br />

a) F – V – F – V – F. d) V – V – F – F – V.<br />

b) V – F – F – V – V. e) F – F – V – F – V.<br />

c) F – V – V – V – F.<br />

5. PuCCamp-sP<br />

O homem cospe no chão. Ele está bêbedo mas Antônio Balduíno o empurra com força e<br />

ele se estatela no cimento. Depois o negro limpa as mãos e começa a pensar no motivo por que<br />

este homem insulta assim os negros. A greve é de condutores de bondes, dos operários das oficinas<br />

de força e luz, da companhia telefônica. Tem até muito espanhol entre eles, muito branco<br />

mais alvo que aquele. Mas todo pobre agora já virou negro, é o que lhe explica Jubiabá.<br />

AMADO, Jorge. Jubiabá.<br />

A frase “Mas todo pobre agora virou negro”, que serve de argumento a Jubiabá,<br />

sugere, no contexto dado, que:<br />

a) os negros libertos se equiparam aos brancos.<br />

b) os grevistas são, em sua maioria, negros.<br />

c) na condição de pobreza, já não se distinguem brancos e negros.<br />

d) agora os brancos é que são os escravos.<br />

e) os trabalhadores negros são mais pobres que os brancos.


jorge amado<br />

6. PuCCamp-sP<br />

O trecho da questão anterior faz lembrar que o autor, além de escrever romances<br />

ambientados na região que viveu o ciclo econômico do cacau, também escreveu<br />

romances nos quais:<br />

a) lhe interessou aprofundar a análise mais intimista de personagens psicologicamente<br />

conflituosas.<br />

b) se apegou ao princípio cientificista segundo o qual a raça e a hereditariedade<br />

são determinantes na formação do caráter individual.<br />

c) há uma idealização de personagens populares, exaltadas pela espontaneidade<br />

e liberdade com que liberam seus instintos.<br />

d) a força do coronelismo emperra, no próprio espaço urbano, o desenvolvimento<br />

de um sistema político moderno.<br />

e) uma motivação socialista o leva a expor e analisar as tensões de classe de que<br />

participam suas personagens.<br />

7. uFR-RJ<br />

O preto Henrique tomou o caneco das mãos da preta velha e bebeu dois tragos.<br />

– Ainda tá quente, meu filho? É o restinho...<br />

– Tá, tia. Bota mais.<br />

Quando acabou, disse:<br />

– Você lembra dessas histórias que você sabe, minha tia?<br />

– Que histórias?<br />

– Essas histórias de escravidão...<br />

– O que é que tem?<br />

– Você vai esquecer elas todas.<br />

– Quando?<br />

– No dia em que nós for dono disso...<br />

– Dono de quê?<br />

– Disso tudo... Da Bahia... do Brasil...<br />

– Como é isso, meu filho?<br />

– Quando a gente não quiser mais ser escravo dos ricos, titia, e acabar com eles...<br />

– Quem é que vai fazer feitiço tão grande pros ricos ficar tudo pobre?<br />

– Os pobres mesmo, titia.<br />

– Negro é escravo. Negro não briga com branco. Branco é senhor dele.<br />

– O negro é liberto, tia.<br />

– Eu sei. Foi a Princesa Isabel, no tempo do Imperador. Mas negro continua a<br />

respeitar o branco...<br />

22


OL1b - 08<br />

– Mas a gente agora livra o preto de vez, velha.<br />

– Você sabe qual é a coisa mais melhor do mundo, Henrique?<br />

– Não.<br />

23<br />

capitães da areia<br />

– Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse cavalo, branco montava em negro...<br />

AMADO, Jorge. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1984, 43. ed., p. 43-44. Adaptado.<br />

O cenário predominante na obra do escritor Jorge Amado é o estado da Bahia.<br />

Sua produção é dividida pelos críticos literários em várias fases. O texto lido<br />

pode ser enquadrado na fase:<br />

a) do romance proletário, que denuncia a miséria e a opressão das classes populares.<br />

b) dos depoimentos sentimentais, baseados em rixas e amores de marinheiros.<br />

c) de pregação partidária, que inclui biografias de pessoas defensoras de maior<br />

justiça social.<br />

d) de textos de tom épico, que retratam as lutas entre coronéis e trabalhadores<br />

da região do cacau.<br />

e) do relato de costumes provincianos, que mostram o lado pitoresco do povo<br />

baiano.<br />

8. uFPe<br />

Os comentários a seguir foram publicados na imprensa por ocasião da morte de<br />

um romancista brasileiro famoso. Analise-os.<br />

1. Mais do que qualquer outro autor, ele deixou um legado literário, detentor de enorme carisma.<br />

Suas tramas parecem puxar um prazeroso fio condutor de imagens que remetem às<br />

praias, ladeiras e paisagem humana, gente, mitos africanos e sabores de seu estado natal.<br />

Schneider Carpegiani /JC<br />

2. Apesar de estar o autor situado dentro do romance regional de 30, esse gênero não<br />

o limita, pois é um enorme guarda-chuva, abarcando várias facções. Diferente dos<br />

demais autores desta fase, suas narrativas trazem uma mínima tensão entre mundo<br />

e personagem. Estes se resolvem bem, sabendo adaptar-se às situações.<br />

Lourival de Holanda/UFPE<br />

3. Quem nasceu primeiro, a mulher brasileira, tal como é divulgada, ou essa imagem<br />

retratada em vários personagens desse criador admirado pelas suas criaturas adoráveis,<br />

sensuais, brejeiras, que viraram mulheres-símbolos de uma nação cuja variedade racial<br />

é a maior característica?<br />

Flávia de Gusmão/JC<br />

O autor em questão é:<br />

a) José Lins do Rego. d) Guimarães Rosa.<br />

b) Gilberto Freyre. e) Graciliano Ramos.<br />

c) Jorge Amado.


jorge amado<br />

9. uFPe<br />

Irmão ... é uma palavra boa e amiga. Se acostumaram a chamá-la de irmã. Ela<br />

também os trata de mano, de irmão. Para os menores é como uma mãezinha. cuida deles.<br />

Para os mais velhos é como uma irmã que brinca inocentemente com eles e com eles passa<br />

os perigos da vida aventurosa que levam.<br />

Mas nenhum sabe que para Pedro Bala, ela é a noiva. Nem mesmo o Professor sabe.<br />

E dentro do seu coração Professor também a chama de noiva.<br />

24<br />

AMADO, Jorge. capitães da areia.<br />

Considerando a obra e o autor do texto, assinale a alternativa incorreta.<br />

a) O autor faz parte do romance regional de 30, quando se aprofundaram as<br />

radicalizações políticas na realidade brasileira.<br />

b) Jorge Amado representa a Bahia, “descobrindo” mazelas, violências e identificando<br />

grupos marginalizados e revolucionários em capitães da areia.<br />

c) Dora, Pedro Bala e Professor são alguns dos personagens da narrativa, que<br />

aborda a dramática vida dos camponeses das fazendas de cacau no sul da<br />

Bahia.<br />

d) O tom da narrativa aproxima-se do Naturalismo, alternando trechos de lirismo<br />

e crueza. O nível de linguagem é coloquial e popular.<br />

e) capitães da areia pertence à primeira fase da produção de Jorge Amado, quando<br />

era notório seu engajamento com a política de esquerda. Daí o esquematismo<br />

psicológico: o mundo dividido em heróis (o povo) e bandidos (a burguesia).<br />

10. uel-PR<br />

O Modernismo, em sentido amplo, tem fases distintas, havendo mesmo<br />

que se considerar o fato de que as influências de suas convicções mais fortes se<br />

fizeram sentir várias décadas depois da Semana de Arte Moderna. Pense-se, por<br />

exemplo, na inspiração que Oswald de Andrade e sua “antropofagia” ofereceram<br />

aos movimentos de contracultura da década de 60, entre eles o Tropicalismo.<br />

Na própria década de 20, a pluralidade já se faz sentir, por exemplo, nos<br />

vários “nacionalismos”: Macunaíma é mais problemático e menos cívico que<br />

Martim cererê. Também quanto à forma literária, há muita diferença entre o verso<br />

piadístico e lúdico de Oswald de Andrade e a intensidade subjetiva com a qual é<br />

filtrada, por um ângulo tido como “futurista”, a vida da metrópole nascente.<br />

Na década de 30, vencidos os impulsos mais arrebatados de experimentalismo<br />

estético, a poesia e o romance amadurecem com uma geração de artistas<br />

brilhantes. Na lírica, o sentimento da inadaptação ao mundo desemboca na figura<br />

do Gauche ou na do visionário em cujos versos não faltam imagens surrealistas.<br />

Na ficção, o peso da realidade se faz sentir em diversas obras regionalistas, sobretudo<br />

do Nordeste, muito marcadas pelos respectivos ciclos econômicos: da<br />

cana-de-açúcar e do cacau, por exemplo. Nem faltaram, nessa mesma década e


OL1b - 08<br />

25<br />

capitães da areia<br />

na seguinte, autores mais intimistas, dedicados à sondagem do interior humano,<br />

e autores revolucionários, cujas linguagens, particularizadas, deram novo fôlego<br />

à expressão literária no Brasil.<br />

Da leitura do terceiro parágrafo do texto, é ainda correto deduzir que:<br />

a) as obras de José Lins do Rego e Jorge Amado representam os ciclos econômicos<br />

referidos, na ordem dada.<br />

b) Jubiabá e capitães da areia exemplificam aquelas “tendências mais intimistas”.<br />

c) a ficção de Clarice Lispector deve ser arrolada entre aquelas “diversas obras<br />

regionalistas”.<br />

d) entre os “autores mais intimistas” não pode faltar o nome de Rachel de Queiroz.<br />

e) a ficção de Graciliano Ramos ilustra aqueles “impulsos mais arrebatados de<br />

experimentalismo estético”.<br />

11. Mackenzie-sP<br />

Assinale a alternativa na qual aparece um trecho que não pode ser creditado a<br />

qualquer escritor da prosa modernista dos anos trinta.<br />

a) Já não pareciam condenados a trabalhos forçados: assimilavam o interesse da produção.<br />

E o senhor de engenho premiava-lhes as iniciativas adquirindo-lhes os produtos a bom<br />

preço.<br />

b) chape-chape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se,<br />

as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco.<br />

Entristeceu. considerar-se plantado em terra alheia! Engano.<br />

c) Toda gente tinha achado estranha a maneira como o capitão Rodrigo cambará entrara<br />

na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde,<br />

com o chapéu barbicado puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente<br />

erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as<br />

pessoas.<br />

d) Explico ao senhor: o diabo vive dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem<br />

arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo<br />

nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco – é alta<br />

mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é<br />

de minha certa importância.<br />

e) Antônio Balduíno fala. Ele não está fazendo discurso, gente. Está é contando o que<br />

viu na sua vida de malandro. Narra a vida dos camponeses nas plantações de fumo, o<br />

trabalho dos homens sem mulheres, o trabalho das mulheres nas fábricas de charuto.<br />

Perguntem ao Gordo se pensarem que é mentira. conta o que viu. conta que não<br />

gostava de operário, de gente que trabalhava.


jorge amado<br />

12. uFRgs-Rs<br />

Assinale a afirmação correta sobre o romance de 30.<br />

a) Predominou, entre os autores, uma preocupação de renovação estética seguindo<br />

os padrões da vanguarda literária europeia.<br />

b) Na obra de José Lins do Rego, predomina a narrativa curta na recriação do<br />

modo de vida dos senhores de engenho.<br />

c) Os autores, em suas obras, tematizaram os problemas sociais com o intuito<br />

de denunciar as agruras das populações menos favorecidas.<br />

d) O caráter regionalista dos romances deste período deve-se à reprodução fiel<br />

do linguajar típico de cada região.<br />

e) A obra de Jorge Amado pode ser considerada uma exceção, no conjunto da<br />

época, porque seus romances apresentam uma grande inovação na estrutura<br />

narrativa.<br />

gaBaRito<br />

1. C<br />

2. D<br />

3. B<br />

4. D<br />

5. C<br />

6. E<br />

7. A<br />

8. C<br />

26<br />

9. C<br />

10. A<br />

11. D<br />

12. C

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