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Cirrose biliar primária - Sociedade Brasileira de Hepatologia

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pacientes assintomáticos são diagnosticados quando se<br />

<strong>de</strong>tectam, em exames <strong>de</strong> rotina, elevações <strong>de</strong> FA ou GGT 8<br />

ou em investigações clínicas <strong>de</strong> causas <strong>de</strong> hepatomegalia<br />

ou esplenomegalia. É também frequente o diagnóstico <strong>de</strong><br />

CBP nos familiares <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> CBP.<br />

Doença sintomática<br />

O sintoma mais característico da CBP é o prurido cutâneo,<br />

presente em cerca <strong>de</strong> 50% dos pacientes ao diagnóstico. 8<br />

Em geral, ele prece<strong>de</strong> em meses ou até em anos a icterícia<br />

e po<strong>de</strong> melhorar com a progressão da doença. Acomete<br />

toda a superfície corpórea, especialmente as palmas das<br />

mãos e plantas dos pés. Costuma ser menos grave no verão<br />

e piorar ao anoitecer. 2,8 A icterícia ocorre nos estágios<br />

mais avançados da doença. 12 Atualmente, a icterícia está<br />

presente em menos <strong>de</strong> 5% dos pacientes no momento do<br />

diagnóstico. 8<br />

A fadiga é um sintoma muito frequente na CBP, em cerca<br />

<strong>de</strong> 80% dos pacientes. Não se correlaciona com ida<strong>de</strong>,<br />

duração e gravida<strong>de</strong> da hepatopatia. 8 Recentemente, sintomas<br />

<strong>de</strong> disfunção autonômica, como tonturas, hipotensão<br />

postural e insônia, foram observados em pacientes com<br />

CBP. Cerca <strong>de</strong> 10% dos pacientes queixam-se <strong>de</strong> dor vaga<br />

ou <strong>de</strong>sconforto no quadrante superior direito. 8<br />

Outras manifestações típicas da CBP incluem hiperpigmentação<br />

cutânea, xantelasmas e xantomas em conseqüência<br />

das alterações metabólicas do colesterol. Lesões cutâneas<br />

próprias do ato <strong>de</strong> coçar e a hiperpigmentação secundária<br />

a <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> melanina são comuns nas fases avançadas<br />

da doença.<br />

Com a progressão da CBP, surgem perda <strong>de</strong> peso, <strong>de</strong>snutrição,<br />

esteatorreia e osteoporose, associadas à má absorção<br />

<strong>de</strong> vitaminas lipossolúveis. 9 Complicações graves,<br />

como a cegueira, são, atualmente, excepcionais.<br />

A ascite e varizes esofagogástricas foram relatadas em<br />

5% a 7% dos pacientes. 8 O mecanismo <strong>de</strong> carcinogênese<br />

hepática na CBP não é completamente esclarecido e especula-se<br />

que a maior frequência do CHC na CBP po<strong>de</strong> ter<br />

relação com a maior sobrevida atual <strong>de</strong>sses pacientes. 3<br />

Doenças associadas<br />

Diversas doenças autoimunes po<strong>de</strong>m associar-se à CBP<br />

em cerca <strong>de</strong> 70% dos pacientes. 9 Entre elas, <strong>de</strong>stacamse<br />

a esclero<strong>de</strong>rmia, a síndrome <strong>de</strong> Sjögren e a síndrome<br />

<strong>de</strong> CREST (calcinose, fenômeno <strong>de</strong> Raynaud, dismotilida<strong>de</strong><br />

esofagiana, esclerodactilia, telangectasia).<br />

Tratamento dos sintomas e complicações<br />

A fadiga é um sintoma inespecífico. Na prática, é avaliado<br />

por métodos quantitativos indiretos e nenhum medicamento<br />

tem sido eficaz em aliviá-lo. 9<br />

A manifestação clínica do prurido é bastante variável, sugerindo<br />

a influência <strong>de</strong> fatores subjetivos <strong>de</strong> difícil quantificação<br />

na prática clínica. 10 A heterogeneida<strong>de</strong> das drogas<br />

utilizadas para aliviá-lo po<strong>de</strong> refletir as dificulda<strong>de</strong>s do<br />

tratamento <strong>de</strong>sse sintoma. Estudos clínicos controlados<br />

não <strong>de</strong>monstram a melhora do prurido com o uso do ácido<br />

urso<strong>de</strong>soxicólico (UDCA).<br />

Contudo, a menor freqüência da doença sintomática nas<br />

últimas duas décadas, período em que o UDCA tem sido<br />

mais amplamente utilizado, po<strong>de</strong> sugerir possível benefício<br />

do UDCA no seu alívio. 10<br />

A colestiramina, uma resina <strong>de</strong> troca iônica <strong>de</strong> uso oral,tem<br />

sido a base do tratamento do prurido na colestase. A<br />

dose inicial é <strong>de</strong> 4 gramas/dia, po<strong>de</strong>ndo ser aumentada<br />

até 16 gramas/dia, e <strong>de</strong>ve ser administrada antes das<br />

refeições. 11 Age poucos dias após o início do tratamento,<br />

mas é ineficaz em cerca <strong>de</strong> 10% a 20% dos pacientes.<br />

Seus efeitos colaterais são principalmente dispépticos,<br />

diarreia ou constipação, po<strong>de</strong>ndo diminuir a a<strong>de</strong>rência ao<br />

tratamento. 9<br />

A rifampicina é amplamente conhecida por aliviar o prurido<br />

na colestase. Seu mecanismo <strong>de</strong> ação sobre o prurido<br />

permanece <strong>de</strong>sconhecido, porém, acredita-se que altere a<br />

composição do ácido <strong>biliar</strong> e estimule o sistema <strong>de</strong> transporte<br />

hepato<strong>biliar</strong>. 12 A combinação <strong>de</strong> rifampicina e UDCA<br />

é potencialmente benéfica, mas não há estudos conclusivos<br />

a este respeito.<br />

Alguns autores sugerem o emprego dos antagonistas<br />

opioi<strong>de</strong>s, por via intravenosa ou oral, para aliviar o prurido.<br />

Três drogas tem sido utilizadas: a naloxona, a naltrexona e<br />

o nalmefeno. Estas substâncias, <strong>de</strong> comprovada ação antipruriginosa,<br />

po<strong>de</strong>m causar sintomas <strong>de</strong> abstinência após a<br />

suspensão, o que po<strong>de</strong> limitar o seu uso. 11<br />

A participação do sistema serotoninérgico na mediação<br />

da nocicepção parece ser o i<strong>de</strong>al no uso <strong>de</strong> drogas que<br />

atuam neste sistema. Assim, a sertralina, um inibidor da<br />

recaptação <strong>de</strong> serotonina, po<strong>de</strong> aliviar o prurido. 13 Da<br />

mesma forma, observações não controladas sugerem<br />

possíveis efeitos benéficos do dronabinol, um canabinoi<strong>de</strong><br />

receptor B1, no alívio do prurido, pela sua atuação no sistema<br />

canabiodérgico que também tem papel mediador na<br />

nocicepção. 11<br />

Em alguns pacientes, o prurido compromete seriamente a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> tentativas <strong>de</strong> alívio farmacológico,<br />

po<strong>de</strong>ndo levar a distúrbios do sono e <strong>de</strong>pressão<br />

grave e justificar o transplante hepático. 2<br />

A osteomalácia po<strong>de</strong> ser corrigida pela suplementação<br />

parenteral <strong>de</strong> vitamina D (vitamina D3, 100.000 UI mensalmente,<br />

por via intramuscular). A suplementação com<br />

carbonato <strong>de</strong> cálcio (1g/dia) tem sido amplamente recomendada<br />

com base nas consi<strong>de</strong>rações fisiopatológicas e<br />

em informações indiretas oriundas da experiência com a<br />

osteoporose pós-menopausa. Os benefícios da terapia <strong>de</strong><br />

reposição hormonal são controversos. Alguns autores<br />

são favoráveis, embora os resultados satisfatórios sejam<br />

contestados por outros. 14,15 Há evidências das vantagens<br />

do emprego do alendronato para este fim, 17 enquanto a<br />

calcitonina isolada não tem eficácia garantida e o UDCA<br />

não apresenta efeito específico no tratamento da perda<br />

óssea.<br />

O tratamento da hiperlipi<strong>de</strong>mia associada à CBP é questionável,<br />

já que a maior concentração <strong>de</strong> colesterol que<br />

ocorre na colestase não aumenta o risco <strong>de</strong> aterosclerose.<br />

Assim, o tratamento está indicado quando há concomitante<br />

hiperlipi<strong>de</strong>mia familiar ou <strong>de</strong> origem nutricional. Estudos

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