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Curso de Verão em FARMACOLOGIA - Insight Equipamentos ...

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III<br />

<strong>Curso</strong> <strong>de</strong> <strong>Verão</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>FARMACOLOGIA</strong><br />

14 a 19 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2011


SUMÁRIO<br />

FARMACOCINÉTICA ............................................................................................................... 3<br />

<strong>FARMACOLOGIA</strong> DE PRODUTOS NATURAIS ...................................................................... 23<br />

Produtos com ação sobre o trato gastrointestinal .......................................................... 23<br />

Sist<strong>em</strong>a cardiovascular .................................................................................................... 34<br />

SISTEMA NERVOSO CENTRAL ............................................................................................. 44<br />

Doença <strong>de</strong> Parkinson ....................................................................................................... 44<br />

Aprendizag<strong>em</strong> e m<strong>em</strong>ória ............................................................................................... 50<br />

Transtornos <strong>de</strong> humor e <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> ............................................................................ 55<br />

Drogas <strong>de</strong> abuso .............................................................................................................. 81<br />

INFLAMAÇÃO ...................................................................................................................... 89<br />

RESPOSTA FEBRIL ................................................................................................................ 94<br />

TOXICOLOGIA ...................................................................................................................... 99<br />

Introdução à toxicologia .................................................................................................. 99<br />

Toxicologia reprodutiva ................................................................................................. 107<br />

Toxicologia ambiental .................................................................................................... 116<br />

Toxicologia, toxinologia e metabolismo ........................................................................ 123<br />

2


INTRODUÇÃO À <strong>FARMACOLOGIA</strong><br />

FARMACOCINÉTICA<br />

Aline Stolf<br />

Arturo Dreifuss<br />

Francislaine LíveroVieira<br />

A farmacologia po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como o estudo das substâncias que<br />

interag<strong>em</strong> com sist<strong>em</strong>as vivos por meio <strong>de</strong> processos químicos, ligando-se<br />

especificamente a moléculas reguladoras e ativando ou inibindo processos<br />

corporais normais.<br />

FARMACOCINÉTICA<br />

A farmacocinética é o estudo do movimento <strong>de</strong> uma substância química,<br />

<strong>em</strong> particular, um medicamento no interior <strong>de</strong> um organismo vivo, ou seja, estudo<br />

dos processos <strong>de</strong> absorção, distribuição, biotransformação e excreção.<br />

Para produzir seus efeitos característicos, uma substância precisa estar<br />

presente <strong>em</strong> concentrações a<strong>de</strong>quadas <strong>em</strong> seus locais <strong>de</strong> ação. Embora as<br />

concentrações obtidas sejam <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da dose administrada, elas também<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da magnitu<strong>de</strong> e velocida<strong>de</strong> dos processos supracitados.<br />

Em uma ampla visão, a compreensão da farmacocinética po<strong>de</strong> aumentar a<br />

segurança e eficácia da terapêutica medicamentosa. Um mesmo medicamento<br />

po<strong>de</strong> produzir um efeito terapêutico ou tóxico, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da dose. Ao aumentar<br />

a concentração po<strong>de</strong>m verificar-se efeitos tóxicos. Surge assim, o conceito <strong>de</strong><br />

índice terapêutico, que é o fator que relaciona a concentração na qual o fármaco<br />

produz efeitos tóxicos (dose tóxica) com a concentração na qual o fármaco é<br />

terapêutico (dose terapêutica).<br />

3


Assim, para que um fármaco seja seguro, é preciso que ele tenha um<br />

índice terapêutico elevado. Por outras palavras, um fármaco seguro é aquele que<br />

precisa ser administrado numa alta concentração para ter um efeito tóxico.<br />

Ainda é importante ressaltar que a farmacocinética estabelece estreita<br />

relação com a farmacodinâmica, que <strong>de</strong>termina o efeito ou resposta terapêutica, e<br />

é o resultado dos fenômenos que ocorr<strong>em</strong> após a administração <strong>de</strong> um<br />

medicamento. Ambos os fenômenos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> características do fármaco,<br />

das características do indivíduo e, o mais importante, da interação entre estes<br />

dois fatores: fármaco e indivíduo.<br />

Outros conceitos importantes na farmacocinética:<br />

Depuração - É a medida da eficácia do organismo na eliminação do fármaco. É<br />

um conceito importante a ser levado <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração quando se planeja um<br />

esqu<strong>em</strong>a racional <strong>de</strong> administração prolongada <strong>de</strong> um fármaco.<br />

Em níveis mais simples, a <strong>de</strong>puração é a taxa <strong>de</strong> eliminação por todas as<br />

vias normalizadas <strong>de</strong> acordo com a concentração do fármaco <strong>em</strong> algum líquido<br />

biológico.<br />

A <strong>de</strong>puração através <strong>de</strong> vários órgãos <strong>de</strong> eliminação é aditiva. A eliminação<br />

do fármaco po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>corrente dos processos que ocorr<strong>em</strong> nos rins, no fígado e<br />

<strong>em</strong> outros órgãos. Em conjunto, tais <strong>de</strong>purações serão iguais à <strong>de</strong>puração<br />

sistêmica total. As outras vias <strong>de</strong> eliminação po<strong>de</strong>m incluir a saliva e o suor, a<br />

distribuição para o intestino e a metabolização <strong>em</strong> outros locais<br />

Volume <strong>de</strong> distribuição - É a medida do espaço aparent<strong>em</strong>ente disponível no<br />

organismo para conter o fármaco. Relaciona a concentração <strong>de</strong> fármaco no<br />

organismo com a concentração no sangue e no plasma, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do líquido<br />

medido. Este volume não se refere necessariamente a um volume fisiológico<br />

i<strong>de</strong>ntificável, mas apenas ao volume <strong>de</strong> líquido que seria necessário para conter<br />

todo o fármaco no organismo na mesma concentração <strong>em</strong> que se encontra no<br />

sangue ou no plasma. O volume <strong>de</strong> distribuição varia com o grau <strong>de</strong> ligação às<br />

4


proteínas plasmáticas, o coeficiente <strong>de</strong> partição do fármaco no tecido adiposo, o<br />

grau <strong>de</strong> ligação <strong>em</strong> outros tecidos. O volume <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

substância po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> acordo com a ida<strong>de</strong>, sexo, existência <strong>de</strong> doença e<br />

composição orgânica.<br />

Meia-Vida – É o t<strong>em</strong>po que leva para a concentração plasmática ou a<br />

concentração da substância no corpo ser reduzida a 50%.<br />

Biodisponibilida<strong>de</strong> – me<strong>de</strong> a fração do fármaco que ao ser administrado a um<br />

organismo vivo atinge <strong>de</strong> forma inalterada a circulação sanguínea. Um conceito<br />

mais abrangente consi<strong>de</strong>ra ainda a biodisponibilida<strong>de</strong> como a quantida<strong>de</strong> do<br />

medicamento que atinge não só a circulação sanguínea, mas também o seu local<br />

<strong>de</strong> ação (biofase).<br />

As fases farmacocinéticas, esqu<strong>em</strong>atizadas na figura 1, são explicadas<br />

com mais <strong>de</strong>talhes a seguir.<br />

5


Figura 1. Fases farmacocinéticas pelas quais as drogas passam ao ser<strong>em</strong> administradas a um<br />

organismo.<br />

1. ABSORÇÃO, BIODISPONIBILIDADE E VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS<br />

FÁRMACOS<br />

A absorção é <strong>de</strong>finida como a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma droga <strong>de</strong> seu local <strong>de</strong><br />

administração para o plasma sanguíneo.<br />

As moléculas dos fármacos se movimentam pelo organismo através da<br />

corrente sanguínea e através do processo <strong>de</strong> difusão (molécula a molécula por<br />

curtas distâncias).<br />

Nestes fenômenos, são <strong>de</strong> vital importância a constituição das m<strong>em</strong>branas<br />

celulares, o pH do meio, o pK do medicamento e o transporte transm<strong>em</strong>brana.<br />

Os medicamentos, <strong>em</strong> sua maioria, são compostos orgânicos com<br />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ácidos fracos ou bases fracas, portanto, <strong>em</strong> solução aquosa<br />

apresentam-se parcialmente ionizados. A proporção entre a parte ionizada e a<br />

não ionizada <strong>de</strong> um medicamento será <strong>de</strong>terminada pelo pH do meio on<strong>de</strong> ele se<br />

encontra dissolvido e da constante <strong>de</strong> dissociação do medicamento.<br />

Quando o pH <strong>de</strong> uma solução aquosa <strong>de</strong> um ácido ou uma base estiver<br />

ajustado <strong>de</strong> modo que meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado medicamento exista nesta<br />

solução na forma não ionizada e meta<strong>de</strong> na forma ionizada, este pH representa a<br />

constante <strong>de</strong> dissociação ou o pK do composto.<br />

A parte não ionizada das moléculas <strong>de</strong> um medicamento t<strong>em</strong> característica<br />

menos polar e mais lipossolúvel que a parte ionizada. Como as m<strong>em</strong>branas<br />

celulares são predominant<strong>em</strong>ente lipídicas, a parte não ionizada, isto é,<br />

lipossolúvel, é mais facilmente absorvida.<br />

Conclui-se, portanto que as cargas <strong>de</strong> elétrons existentes na molécula <strong>de</strong><br />

um medicamento têm primordial importância na <strong>de</strong>terminação da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sua absorção através das m<strong>em</strong>branas celulares e das barreiras tissulares.<br />

Substâncias químicas s<strong>em</strong> carga (apolares) não sofr<strong>em</strong> influência do pH do<br />

meio <strong>em</strong> que estão dissolvidas, mantendo-se s<strong>em</strong>pre apolares. Essas<br />

substâncias atravessam qualquer m<strong>em</strong>brana biológica.<br />

6


Para o grupo dos ácidos orgânicos, o pH do meio é o fator que <strong>de</strong>termina a<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção. Em pH ácido, a concentração hidrogeniônica da solução<br />

é alta e os ácidos orgânicos dissolvidos neste meio estão na sua forma molecular,<br />

s<strong>em</strong> carga e portanto lipossolúveis. Desse modo são mais b<strong>em</strong> absorvidos no<br />

estômago.<br />

Medicamentos que contém <strong>em</strong> sua estrutura um grupamento do tipo amina<br />

terciária, ou seja, uma base fraca, ficam s<strong>em</strong> carga <strong>em</strong> meio contendo poucos<br />

prótons, como o fluido encontrado no duo<strong>de</strong>no. Essa forma é suficient<strong>em</strong>ente<br />

apolar para ser absorvida neste local.<br />

As barreiras celulares precisam ser ultrapassadas para que o fármaco<br />

chegue ao seu local <strong>de</strong> ação. Essa passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> moléculas, ou seja, a absorção<br />

propriamente dita, po<strong>de</strong> ocorrer pelos seguintes processos: difusão simples;<br />

difusão aquosa; difusão mediada por carreador; e endocitose. Tais processos, no<br />

entanto, também são importantes para a distribuição <strong>de</strong> drogas (segunda fase<br />

farmacocinética), conforme <strong>de</strong>scrito a seguir.<br />

a) Difusão simples: a m<strong>em</strong>brana biológica funciona como uma estrutura inerte e<br />

porosa, que as moléculas transpõ<strong>em</strong> por simples difusão. Neste caso, a<br />

polarida<strong>de</strong> da molécula assume gran<strong>de</strong> importância. As moléculas do soluto<br />

distribu<strong>em</strong>-se da região <strong>em</strong> que estejam mais concentradas para as regiões<br />

menos concentradas. Para que esse processo ocorra é necessário que as<br />

moléculas sejam apolares e apresent<strong>em</strong> peso molecular compatível com a<br />

camada dupla lipídica a ser atravessada.<br />

b) Difusão aquosa (poros): moléculas pequenas e hidrossolúveis po<strong>de</strong>m se<br />

mover através das m<strong>em</strong>branas celulares por canais aquosos que ficam inseridos<br />

na bicamada lipídica. O diâmetro dos canais é variável. Nos capilares os canais<br />

são gran<strong>de</strong>s (4 a 8 nm), ao passo que no endotélio intestinal e na maioria das<br />

m<strong>em</strong>branas celulares o diâmetro é <strong>de</strong> apenas 0,4 nm. A permeabilida<strong>de</strong> às<br />

substâncias químicas através dos canais é importante na excreção renal, na<br />

7


<strong>em</strong>oção <strong>de</strong> substâncias químicas do líquido cerebroespinal e na passag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

substâncias químicas através da m<strong>em</strong>brana sinusoidal hepática.<br />

c) Difusão mediada por carreador: além dos transportes mencionados, as<br />

m<strong>em</strong>branas celulares possu<strong>em</strong> outros mecanismos <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> substâncias<br />

que são fundamentais para a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> moléculas, como aminoácidos,<br />

neurotransmissores, açúcares, íons <strong>de</strong> metais e algumas drogas. Em geral,<br />

drogas pouco lipossolúveis po<strong>de</strong>m atravessar a m<strong>em</strong>brana através <strong>de</strong><br />

carreadores protéicos, ou seja, proteínas transm<strong>em</strong>branas que se ligam a uma ou<br />

mais moléculas da droga ou íons, sofr<strong>em</strong> uma modificação na sua conformação e<br />

os liberam do outro lado da m<strong>em</strong>brana. Esse sist<strong>em</strong>a po<strong>de</strong> operar <strong>de</strong> modo<br />

passivo ou ativo.<br />

c1) Passivo ou Difusão facilitada: ocorre s<strong>em</strong> gasto <strong>de</strong> energia e é mediado por<br />

um carreador. O substrato se move a favor do gradiente <strong>de</strong> concentração. A<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> difusão é consi<strong>de</strong>ravelmente maior que a da difusão simples. Ex:<br />

entrada <strong>de</strong> glicose nas células.<br />

c2) Trasporte ativo: a substância é movida através <strong>de</strong> carreadores contra o<br />

gradiente <strong>de</strong> concentração, necessitando <strong>de</strong> energia <strong>de</strong>rivada da hidrólise <strong>de</strong> ATP<br />

ou <strong>de</strong> outras ligações ricas <strong>em</strong> energia. Na maior parte dos casos este processo<br />

exibe alto grau <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> estrutural e estereoquímica. Assim, durante o<br />

transporte, se duas substâncias correlatas se oferecer<strong>em</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po uma<br />

po<strong>de</strong>rá inibir o transporte da outra.<br />

d) Endocitose: envolve a invaginação <strong>de</strong> uma parte da m<strong>em</strong>brana celular,<br />

formando uma pequena vesícula contendo componentes extracelulares. Na<br />

seqüência, o conteúdo da vesícula po<strong>de</strong> ser liberado no interior da célula. Exig<strong>em</strong><br />

energia celular e não utilizam transportadores.<br />

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1.1 PRINCIPAIS VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS<br />

A escolha da via <strong>de</strong> administração é <strong>de</strong>terminada principalmente pelas<br />

proprieda<strong>de</strong>s do fármaco (como por ex<strong>em</strong>plo, grau <strong>de</strong> ionização, solubilida<strong>de</strong>) e<br />

pelos objetivos terapêuticos (início <strong>de</strong> ação rápido ou lento, ação sistêmica ou<br />

local). As principais vias <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> drogas são: enteral (oral, retal,<br />

sublingual) e parenteral (subcutânea, intramuscular, endovenosa ou<br />

intravascular). Há outras vias também importantes: intratecal, intranasal,<br />

inalatória, tópica, transdérmica e intraperitonial.<br />

ENTERAL<br />

a) Administração oral: É a via <strong>de</strong> administração mais utilizada <strong>de</strong>vido<br />

principalmente à a<strong>de</strong>são do paciente ao tratamento e a fatores econômicos. É<br />

utilizada como uma forma <strong>de</strong> acesso à circulação sistêmica através do trato<br />

gastrointestinal. Entretanto, alguns fatores importantes como a motilida<strong>de</strong><br />

gastrintestinal, a presença <strong>de</strong> alimentos, o fluxo sanguíneo esplâncnico, o<br />

tamanho das partículas, a formulação e fatores físico-químicos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rados. Além disso, boa parte dos fármacos administrada via oral entra na<br />

circulação porta e passa pelo fígado, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> sofrer algum tipo <strong>de</strong> modificação<br />

(metabolismo <strong>de</strong> primeira passag<strong>em</strong>), o que po<strong>de</strong> comprometer a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fármaco biodisponível no local <strong>de</strong> ação. Outra <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> da via <strong>em</strong> questão é<br />

a irritação gástrica <strong>de</strong> algumas formulações. Devido às necessida<strong>de</strong>s<br />

terapêuticas, as preparações farmacêuticas são formuladas <strong>de</strong> modo a produzir<br />

as características <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong>sejadas. Assim, as cápsulas po<strong>de</strong>m ser<br />

elaboradas <strong>de</strong> modo a permanecer intactas por algumas horas, após a ingestão,<br />

para retardar a absorção. Da mesma forma, os comprimidos po<strong>de</strong>m ter um<br />

revestimento resistente com a mesma finalida<strong>de</strong>.<br />

b) Administração sublingual: É usada quando é necessária uma resposta<br />

rápida, uma vez que a região sublingual é extr<strong>em</strong>amente irrigada e conectada aos<br />

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vasos <strong>de</strong> bom calibre. Utilizada principalmente se o fármaco for instável ao pH<br />

gástrico ou sofrer metabolização hepática. De modo geral, os fármacos<br />

administrados via sublingual são apresentados na forma <strong>de</strong> comprimidos<br />

pequenos que se dissolv<strong>em</strong> rapidamente. Um bom ex<strong>em</strong>plo é a nitroglicerina<br />

(trinitrato <strong>de</strong> glicerila), um fármaco utilizado no tratamento da angina, é eficaz via<br />

sublingual <strong>de</strong>vido a sua lipossolubilida<strong>de</strong> e característica não-iônica, assim sua<br />

absorção é rápida.<br />

c) Administração retal: A administração retal é utilizada para fármacos cujo<br />

efeito po<strong>de</strong> ser local (ex: h<strong>em</strong>orróidas) ou sistêmico. A absorção por via retal<br />

muitas vezes é irregular e incompleta, mesmo assim essa via po<strong>de</strong> ser útil <strong>em</strong><br />

pacientes incapazes <strong>de</strong> receber fármaco pela via oral (por ex<strong>em</strong>plo, se a droga<br />

induzir vômito, ou se o paciente já estiver <strong>em</strong> crise <strong>em</strong>ética ou <strong>em</strong> coma). Outra<br />

vantag<strong>em</strong> é que o fármaco não sofre ação das enzimas digestivas e do pH<br />

gástrico, n<strong>em</strong> efeito <strong>de</strong> primeira passag<strong>em</strong> (<strong>em</strong>bora possa sofrer <strong>em</strong> parte).<br />

PARENTERAL<br />

Essas vias po<strong>de</strong>m ser usadas para administração <strong>de</strong> fármacos que são<br />

<strong>de</strong>gradados pelo suco gástrico ou que não são absorvidas pelo TGI. Po<strong>de</strong> ser a<br />

via <strong>de</strong> escolha para administração <strong>de</strong> fármacos <strong>em</strong> pacientes inconscientes ou<br />

quando se <strong>de</strong>seja um efeito rápido.<br />

a) Administração intravascular ou endovenosa: A administração endovenosa é<br />

a via mais rápida e mais precisa para administração <strong>de</strong> um fármaco. Possibilita a<br />

administração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes <strong>em</strong> infusão lenta e <strong>de</strong> substâncias irritantes<br />

<strong>de</strong>vidamente diluídas. É imprópria para substâncias oleosas ou insolúveis.<br />

b) Administração subcutânea: É usada para fármacos cujo objetivo seja uma<br />

absorção lenta e constante. Os medicamentos são absorvidos por difusão,<br />

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atravessando os poros e fenestrações existentes nos capilares e vasos linfáticos.<br />

Po<strong>de</strong> ocorrer dor e necrose quando utilizadas substâncias irritantes.<br />

c) Administração intramuscular: Fármacos administrados por essa via<br />

geralmente apresentam um efeito mais rápido que a administração oral, mas a<br />

taxa <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito do local <strong>de</strong> injeção e <strong>de</strong> fatores fisiológicos,<br />

especialmente do fluxo sanguíneo local. As drogas comumente utilizadas po<strong>de</strong>m<br />

ser preparadas na forma <strong>de</strong> soluções aquosas (absorção rápida) ou preparações<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito especiais (absorção lenta). É a<strong>de</strong>quada para volumes mo<strong>de</strong>rados.<br />

OUTRAS VIAS<br />

a) Administração tópica: Po<strong>de</strong> ser utilizada para administrar fármacos sobre as<br />

m<strong>em</strong>branas mucosas como, por ex<strong>em</strong>plo, conjuntiva, orofaringe, nasofaringe,<br />

vagina, cólon e uretra. Além disso, alguns fármacos po<strong>de</strong>m ser aplicados sobre a<br />

pele íntegra, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da preparação (cr<strong>em</strong>es e pomadas). De modo geral, a<br />

absorção é proporcional à área da aplicação, mas os efeitos po<strong>de</strong>m ser locais ou<br />

sistêmicos.<br />

b) Administração transdérmica: T<strong>em</strong>-se aumentado o uso <strong>de</strong> formas <strong>de</strong><br />

administração transdérmica, <strong>em</strong> que o fármaco é incorporado a uma <strong>em</strong>balag<strong>em</strong><br />

presa com fita a<strong>de</strong>siva a uma área <strong>de</strong> pele fina. Essas <strong>em</strong>balagens a<strong>de</strong>sivas<br />

produz<strong>em</strong> um estado <strong>de</strong> equilíbrio estável e têm diversas vantagens,<br />

especialmente a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retirada no caso <strong>de</strong> efeitos in<strong>de</strong>sejáveis. A<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> acordo com as características físicas da<br />

pele e físico-químicas do fármaco. Geralmente, o método é mais recomendado<br />

para certos fármacos relativamente lipossolúveis. Alguns ex<strong>em</strong>plos são:<br />

nitroglicerina (para angina), escopolamina (contra enjôo <strong>de</strong> viag<strong>em</strong>), nicotina (para<br />

a cessação do hábito <strong>de</strong> fumar) e clonidina (contra hipertensão).<br />

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c) Administração inalatória: É a via usada para anestésicos voláteis e gasosos<br />

(efeito sistêmico) ou <strong>em</strong> medicamentos utilizados para o tratamento <strong>de</strong> distúrbios<br />

respiratórios (ação mais localizada no trato respiratório). O início da ação é<br />

rápido, pois o fármaco t<strong>em</strong> contato com toda a mucosa do trato respiratório e<br />

rapidamente é absorvido.<br />

d) Administração intranasal: Essa via po<strong>de</strong> ser usada tanto para se obter um<br />

efeito local (como, por ex<strong>em</strong>plo, o tratamento da rinite alérgica) quanto para a<br />

obtenção <strong>de</strong> efeito sistêmico (algumas preparações terapêuticas usadas para<br />

tratamento <strong>de</strong> enxaqueca).<br />

e) Administração intratecal: Usada quando o objetivo é um efeito rápido e local<br />

<strong>de</strong> fármacos nas meninges e no eixo cérebro-espinhal. Po<strong>de</strong> ser utilizada no<br />

tratamento <strong>de</strong> infecções agudas e no tratamento da leuc<strong>em</strong>ia linfocítica aguda.<br />

f) Administração intraperitoneal: Essa via é muito utilizada na experimentação<br />

animal, <strong>em</strong> laboratórios <strong>de</strong> pesquisa. A absorção é rápida <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong><br />

superfície <strong>de</strong> absorção da cavida<strong>de</strong> abdominal. Há, porém, um gran<strong>de</strong> risco <strong>de</strong><br />

infecção e, por isso, não é utilizada para a administração <strong>de</strong> drogas <strong>em</strong> seres<br />

humanos.<br />

1.2 FATORES QUE ALTERAM A ABSORÇÃO DE FÁRMACOS<br />

a) Metabolismo hepático <strong>de</strong> primeira passag<strong>em</strong>: Um fármaco absorvido pelo<br />

trato gastrintestinal, antes <strong>de</strong> chegar à circulação sistêmica, passa pelo sist<strong>em</strong>a<br />

porta-hepático. Se o fármaco for metabolizado pelo fígado, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

moléculas na circulação sistêmica po<strong>de</strong> ser alterada, comprometendo a<br />

biodisponibilida<strong>de</strong> da droga no local <strong>de</strong> ação.<br />

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) Solubilida<strong>de</strong> do fármaco: Fármacos muito hidrofílicos são incapazes <strong>de</strong><br />

atravessar a m<strong>em</strong>brana celular e fármacos muito hidrofóbicos são insolúveis nos<br />

líquidos orgânicos (ambiente aquoso). Para que ocorra a absorção <strong>de</strong> um fármaco<br />

é preciso que ele seja hidrofóbico, entretanto <strong>de</strong>ve ter certa solubilida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

soluções aquosas.<br />

c) Instabilida<strong>de</strong> química: Alguns fármacos po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>struídos quando<br />

expostos às enzimas digestivas do trato gastrintestinal. Outras drogas po<strong>de</strong>m ser<br />

instáveis <strong>em</strong> pH ácido, isso compromete a sua administração pela via oral, <strong>de</strong>vido<br />

à aci<strong>de</strong>z do ambiente gástrico.<br />

d) Vias <strong>de</strong> administração: A escolha da via é fundamental para o efeito<br />

<strong>de</strong>sejado, pois a velocida<strong>de</strong> e a eficiência <strong>de</strong> absorção estão diretamente<br />

relacionadas à via <strong>de</strong> administração.<br />

e) Fluxo sanguíneo no local <strong>de</strong> absorção: Quanto maior o fluxo sanguíneo no<br />

local <strong>de</strong> absorção, mais rápido o fármaco chega à circulação sistêmica.<br />

f) Natureza da formulação do fármaco: Alguns fatores como tamanho das<br />

partículas, forma do sal, polimorfismo do cristal e presença <strong>de</strong> excipientes<br />

(aglutinantes e dispersantes) po<strong>de</strong>m influenciar na facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dissolução e,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, alterar a velocida<strong>de</strong> da absorção.<br />

g) Área <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> absorção: Quanto maior a área <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong><br />

absorção, maior será a velocida<strong>de</strong> da absorção.<br />

i) Concentração: Quanto mais concentrado o fármaco, maior a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

absorção.<br />

13


2. DISTRIBUIÇÃO<br />

A distribuição é o processo pelo qual um fármaco abandona<br />

reversivelmente a corrente circulatória, passando para o interstício e/ou interior<br />

das células. Depen<strong>de</strong> do fluxo sanguíneo, da permeabilida<strong>de</strong> capilar, das<br />

características químicas (polarida<strong>de</strong>/hidrofobicida<strong>de</strong>) do composto e do grau <strong>de</strong><br />

ligação do fármaco às proteínas plasmáticas.<br />

Os principais compartimentos <strong>de</strong> distribuição dos fármacos são: o plasma,<br />

o líquido intersticial, o líquido intracelular, o líquido transcelular e a gordura. O<br />

líquido extracelular compreen<strong>de</strong> o plasma sanguíneo (cerca <strong>de</strong> 4,5% do peso<br />

corporal), o líquido intersticial (16%) e a linfa (1,2%). O líquido intracelular (30-<br />

40%) é a soma do conteúdo <strong>de</strong> líquido <strong>de</strong> todas as células do corpo. O líquido<br />

transcelular (2,5%) compreen<strong>de</strong> os líquidos cefalorraquidiano, intra-ocular,<br />

peritoneal, pleural e sinovial, b<strong>em</strong> como as secreções digestivas. O feto também<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como um tipo especial <strong>de</strong> compartimento transcelular. Para<br />

penetrar nos compartimentos transcelulares a partir do compartimento<br />

extracelular, um fármaco <strong>de</strong>ve atravessar uma barreira celular, sendo a barreira<br />

h<strong>em</strong>atoencefálica um ex<strong>em</strong>plo particularmente importante no contexto da<br />

farmacocinética. A barreira h<strong>em</strong>atoencefálica consiste numa camada contínua <strong>de</strong><br />

células endoteliais unidas por zônulas <strong>de</strong> oclusão. Conseqüent<strong>em</strong>ente, o cérebro<br />

é inacessível a muitos fármacos <strong>de</strong> ação sistêmica, incluindo muitos agentes<br />

antineoplásicos e alguns antibióticos. A ocorrência <strong>de</strong> inflamação, como a<br />

meningite, po<strong>de</strong> comprometer a integrida<strong>de</strong> da barreira, possibilitando a entrada<br />

<strong>de</strong> substâncias normalmente impermeantes no cérebro.<br />

As moléculas <strong>de</strong> fármacos po<strong>de</strong>m ser encontradas na forma livre ou<br />

ligadas <strong>em</strong> cada compartimento <strong>de</strong> líquido corporal, porém apenas o fármaco livre<br />

é capaz <strong>de</strong> mover-se entre os compartimentos e exercer seus efeitos<br />

farmacológicos, ser metabolizada e excretada.<br />

Assim, o padrão <strong>de</strong> equilíbrio da distribuição entre os vários<br />

compartimentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da:<br />

14


• Permeabilida<strong>de</strong> através das barreiras teciduais;<br />

• Ligação no interior dos compartimentos;<br />

• Partição <strong>de</strong> pH;<br />

• CPOA (coeficiente <strong>de</strong> partição óleo-água).<br />

O Volume <strong>de</strong> distribuição (Vd) é <strong>de</strong>finido como volume <strong>de</strong> líquido<br />

necessário para conter a quantida<strong>de</strong> total (Q) do fármaco no corpo, na mesma<br />

concentração presente no plasma (Cp). Assim, Vd = Q/Cp.<br />

Fármacos que são moléculas muito gran<strong>de</strong>s ficam confinados ao<br />

compartimento plasmático, uma vez que não consegu<strong>em</strong> atravessar com<br />

facilida<strong>de</strong> a pare<strong>de</strong> capilar. A retenção <strong>de</strong> um fármaco no plasma após a<br />

administração <strong>de</strong> uma dose única reflete sua forte ligação às proteínas<br />

plasmáticas e, geralmente, um baixo Vd. Os fármacos insolúveis <strong>em</strong> lipídios estão<br />

confinados principalmente ao plasma e ao líquido intersticial; a maioria não<br />

penetra no cérebro após a administração aguda. Já os fármacos lipossolúveis<br />

alcançam todos os compartimentos e po<strong>de</strong>m acumular-se no tecido adiposo,<br />

apresentando alto Vd.<br />

Os compartimentos orgânicos nos quais o fármaco se acumula são seus<br />

reservatórios potenciais. Quando um fármaco armazenado está <strong>em</strong> equilíbrio com<br />

sua concentração plasmática ele é liberado à medida que a concentração<br />

plasmática cai, assim, a concentração plasmática do agente no seu local <strong>de</strong> ação<br />

é mantida e os seus efeitos farmacológicos são prolongados. Dentre os<br />

reservatórios dos fármacos citam-se as proteínas plasmáticas (albumina, β-<br />

globulina e glicoproteína), os reservatórios celulares (musculatura e outras<br />

células), o tecido adiposo, os ossos e os componentes transcelulares (líquor,<br />

humor aquoso, líquidos articulares).<br />

Como a ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas é um processo não<br />

muito seletivo, muitos agentes com características físicas s<strong>em</strong>elhantes po<strong>de</strong>m<br />

competir uns com os outros e com substâncias endógenas por outros locais <strong>de</strong><br />

ligação.<br />

15


Os fármacos ácidos se ligam principalmente à albumina, e os fármacos<br />

básicos, com freqüência, à β-globulina e a uma glicoproteína ácida. Uma gran<strong>de</strong><br />

taxa <strong>de</strong> ligação às proteínas faz com que o sangue atue como reservatório<br />

circulante do fármaco. À medida que o fármaco livre é eliminado do organismo,<br />

uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fármaco é <strong>de</strong>slocada para os tecidos, on<strong>de</strong> será distribuído<br />

para substituir o fármaco livre eliminado. A fração do fármaco total no plasma que<br />

está ligada às proteínas plasmáticas é <strong>de</strong>terminada pela concentração do<br />

fármaco, por sua afinida<strong>de</strong> pelos locais <strong>de</strong> ligação e pelo número <strong>de</strong> locais <strong>de</strong><br />

ligação. A ligação <strong>de</strong> um fármaco às proteínas plasmáticas limita-se à<br />

concentração nos tecidos e nos seus locais <strong>de</strong> ação, porque apenas a forma livre<br />

está <strong>em</strong> equilíbrio através das m<strong>em</strong>branas. Além disso, a ligação limita a filtração<br />

glomerular porque este processo não modifica <strong>de</strong> imediato a concentração<br />

plasmática do fármaco livre (a água também é filtrada). Não obstante, a ligação<br />

com as proteínas plasmáticas geralmente não limita a biotransformação ou a<br />

secreção tubular renal, porque tais processos reduz<strong>em</strong> a concentração <strong>de</strong><br />

fármaco livre e isto é seguido rapidamente <strong>de</strong> dissociação do complexo fármaco-<br />

proteína.<br />

A distribuição dos fármacos para o sist<strong>em</strong>a nervoso central (SNC) a partir<br />

da corrente sanguínea é especial, principalmente porque sua entrada no líquido<br />

cefalorraquidiano e no espaço extracelular é pequena. No cérebro, a estrutura do<br />

capilar é contínua, não havendo fendas. Portanto, para ultrapassar a barreira<br />

h<strong>em</strong>atoencefálica, os fármacos precisam transpor as células endoteliais dos<br />

capilares do SNC. A taxa <strong>de</strong> difusão dos fármacos para o SNC é proporcional à<br />

lipossolubilida<strong>de</strong> da forma não-ionizada do fármaco, po<strong>de</strong>ndo, portanto, ser<br />

afetada pelo pH sanguíneo.<br />

A transferência potencial dos fármacos através da placenta é importante<br />

porque eles po<strong>de</strong>m provocar anomalias congênitas. Os fármacos que atravessam<br />

a placenta faz<strong>em</strong>-no basicamente por difusão simples. Os agentes lipossolúveis<br />

não-ionizados penetram facilmente no sangue fetal a partir da circulação materna.<br />

A penetração é menor no caso dos agentes com dissociação elevada e baixa<br />

16


lipossolubilida<strong>de</strong>. Desse modo, a noção <strong>de</strong> que a placenta é uma barreira contra<br />

os fármacos é inexata.<br />

A distribuição dos fármacos no leite materno também é importante, não<br />

somente pela quantida<strong>de</strong> eliminada, mas porque os fármacos excretados são<br />

possíveis causas <strong>de</strong> efeitos farmacológicos in<strong>de</strong>sejados no lactente. Muitos<br />

fármacos presentes no sangue da lactante são <strong>de</strong>tectáveis <strong>em</strong> seu leite. A<br />

concentração final dos compostos específicos no leite <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos fatores,<br />

incluindo a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fármaco no sangue materno, sua lipossolubilida<strong>de</strong>, seu<br />

grau <strong>de</strong> ionização e a extensão <strong>de</strong> sua secreção ativa. Como ex<strong>em</strong>plos dos<br />

efeitos da transferência placentária <strong>de</strong> drogas, po<strong>de</strong>-se citar o uso <strong>de</strong><br />

anticonvulsivantes, cuja incidência <strong>de</strong> malformações <strong>em</strong> recém-nascidos expostos<br />

é <strong>de</strong> 4 a 6%, comparado com 2 a 4% na população geral. Ainda, o fentanil,<br />

anestésico opiói<strong>de</strong> utilizado por via epidural <strong>em</strong> cesariana, na dose <strong>de</strong> 0,10 mg,<br />

apresenta taxa <strong>de</strong> transferência placentária na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 90%, o que indica<br />

cautela no uso <strong>de</strong> doses repetidas <strong>em</strong> analgesia durante o trabalho <strong>de</strong> parto.<br />

3. BIOTRANSFORMAÇÃO DE FÁRMACOS NO ORGANISMO<br />

A biotransformação (metabolização) enzimática <strong>de</strong> fármacos <strong>em</strong><br />

metabólitos mais polares e menos lipossolúveis aumenta sua excreção e reduz<br />

seu volume <strong>de</strong> distribuição. Tal biotransformação ‘alivia’ a carga <strong>de</strong> substâncias<br />

químicas estranhas e é essencial à sobrevida do organismo.<br />

Em geral, as reações <strong>de</strong> biotransformação geram metabólitos mais polares<br />

que são mais facilmente eliminados do organismo. Contudo, <strong>em</strong> alguns casos,<br />

são produzidos metabólitos com ativida<strong>de</strong> biológica potente ou com proprieda<strong>de</strong>s<br />

tóxicas.<br />

Os sist<strong>em</strong>as enzimáticos participantes da biotransformação dos fármacos<br />

concentram-se principalmente no retículo endoplasmático liso do fígado, <strong>em</strong>bora<br />

todos os tecidos tenham alguma ativida<strong>de</strong> metabólica. Outros órgãos com<br />

capacida<strong>de</strong> metabólica significativa são: os rins, o epitélio gastrointestinal e os<br />

17


pulmões. Maiores <strong>de</strong>talhes dos mecanismos metabólicos <strong>de</strong> biotransformação<br />

estão cont<strong>em</strong>plados no capítulo “Toxicologia, Toxinologia e Metabolismo”.<br />

Os fármacos absorvidos pelo intestino estão sujeitos ao metabolismo <strong>de</strong><br />

primeira passag<strong>em</strong> ou pré-sistêmico, anteriormente mencionado. O fígado (ou<br />

algumas vezes a pare<strong>de</strong> intestinal) extrai e metaboliza alguns fármacos com tanta<br />

eficiência que a quantida<strong>de</strong> do fármaco que chega à circulação sistêmica é<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente menor do que a quantida<strong>de</strong> absorvida. Esse processo é<br />

significativo para muitos fármacos clinicamente importantes e é inconveniente na<br />

prática porque é necessária uma dose muito maior do fármaco quando este é<br />

administrado por via oral do que quando é administrado por outras vias e também<br />

porque ocorr<strong>em</strong> variações individuais acentuadas na extensão do metabolismo <strong>de</strong><br />

primeira passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado fármaco, resultando numa situação<br />

imprevisível quando esses fármacos são administrados por via oral.<br />

O metabolismo dos fármacos envolve dois tipos <strong>de</strong> reações bioquímicas,<br />

conhecidos como reação <strong>de</strong> fase I e reações <strong>de</strong> fase II, que <strong>de</strong> forma variada<br />

po<strong>de</strong>m ocorrer seqüencialmente:<br />

a) Reações <strong>de</strong> fase I (catabólicas): ocorr<strong>em</strong> no retículo endoplasmático e<br />

introduz<strong>em</strong> ou expõ<strong>em</strong> um grupo funcional (grupo reativo) no composto original,<br />

convertendo-o <strong>em</strong> um metabólito mais polar. As reações que ocorr<strong>em</strong> nessa fase<br />

são: reações <strong>de</strong> oxidação, hidrólise e redução. As reações oxidativas são<br />

catalisadas por um complexo enzimático <strong>de</strong>nominado citocromo P450. Essas<br />

enzimas são freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>nominadas enzimas “microssomais” e para atingir<br />

essas enzimas o fármaco <strong>de</strong>ve atravessar a m<strong>em</strong>brana plasmática do hepatócito.<br />

As moléculas polares faz<strong>em</strong> isso mais lentamente do que as moléculas não<br />

polares, exceto quando exist<strong>em</strong> mecanismos específicos <strong>de</strong> transporte, <strong>de</strong> modo<br />

que o metabolismo hepático é, <strong>em</strong> geral, menos importante para fármacos polares<br />

do que para os fármacos lipossolúveis, com excreção <strong>de</strong> maior proporção do<br />

fármaco na forma inalterada na urina. As reações hidrolíticas não envolv<strong>em</strong><br />

enzimas microssômicas hepáticas, mas ocorr<strong>em</strong> no plasma e <strong>em</strong> muitos tecidos,<br />

18


inclusive no citoplasma dos hepatócitos. As reações <strong>de</strong> redução envolv<strong>em</strong><br />

enzimas microssômicas. Os produtos <strong>de</strong>ssa reação são, com freqüência, mais<br />

reativos quimicamente, e, portanto, paradoxalmente, algumas vezes mais tóxicos<br />

ou carcinogênicos do que o fármaco original. A produção <strong>de</strong> um metabólito ativo<br />

influencia diretamente na posologia da administração. Isso porque, apesar <strong>de</strong> o<br />

fármaco original já ter sido metabolizado, seu efeito farmacológico permanece<br />

<strong>de</strong>vido ao metabólito. Como estratégica terapêutica, po<strong>de</strong>-se administrar a<br />

chamada pró-droga, que consiste <strong>de</strong> uma substância s<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> que, após o<br />

metabolismo da fase I, adquire ativida<strong>de</strong> terapêutica.<br />

b) Reações <strong>de</strong> conjugação da fase II (anabólicas): As reações <strong>de</strong>ssa fase<br />

envolv<strong>em</strong> a conjugação, que normalmente resulta <strong>em</strong> compostos inativos.<br />

Ocorr<strong>em</strong> no citoplasma e <strong>de</strong>terminam a formação <strong>de</strong> uma ligação covalente entre<br />

um grupo funcional do composto original e um composto endógeno, <strong>em</strong> geral,<br />

muito polar. Entre os compostos endógenos estão: o ácido glicurônico, o sulfato, o<br />

glutation, aminoácidos, o acetato, e outros. Esses conjugados altamente polares<br />

são excretados com rapi<strong>de</strong>z na urina e nas fezes. Entre todas as reações <strong>de</strong><br />

conjugação a mais importante é a glicuronidação, catalisada pela enzima UDP–<br />

glucoronil-transferase.<br />

Entre os principais fatores que afetam a biotransformação <strong>de</strong> fármacos<br />

po<strong>de</strong>mos citar: indução enzimática (como ex<strong>em</strong>plo o etanol que aumenta a<br />

ativida<strong>de</strong> dos sist<strong>em</strong>as microssomais <strong>de</strong> oxidação e conjugação, po<strong>de</strong>ndo<br />

aumentar a toxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um fármaco), inibição enzimática, polimorfismo<br />

genético, ida<strong>de</strong>, estado nutricional, doenças agudas ou crônicas. Ainda, a inibição<br />

das enzimas responsáveis pela biotransformação po<strong>de</strong> potencializar o efeito do<br />

fármaco. Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> biotransformação <strong>de</strong> drogas po<strong>de</strong> ser visto na figura 2.<br />

19


Figura 2. Reações <strong>de</strong> fase I e fase II na biotransformação da Aspirina.<br />

4. EXCREÇÃO DE FÁRMACOS NO ORGANISMO<br />

A excreção dos fármacos é o processo que envolve a saída <strong>de</strong>stes por<br />

meio da urina, do ar exalado, da bile e fezes, do leite materno, do suor e da<br />

saliva. Como já dito anteriormente, os rins são os principais órgãos envolvidos<br />

neste processo, pois são responsáveis pela eliminação dos compostos<br />

lipossolúveis (após os processos <strong>de</strong> biotransformação previamente <strong>de</strong>scritos) e<br />

dos compostos não voláteis. A excreção <strong>de</strong> fármacos e metabólitos na urina<br />

envolve três processos:<br />

• Filtração<br />

Glomerular: Consiste na<br />

filtração do plasma, através<br />

das pare<strong>de</strong>s capilares do<br />

glomérulo <strong>em</strong> cada néfron, até<br />

o túbulo contorneado proximal.<br />

Apenas são filtrados os<br />

compostos <strong>de</strong> peso molecular<br />

20


aixo a mo<strong>de</strong>rado. Outros fatores também são importantes, como o tamanho,<br />

carga e estrutura das moléculas, b<strong>em</strong> como o débito cardíaco do paciente.<br />

Também importa o fato do composto estar ou não ligado a proteínas plasmáticas,<br />

pois apenas po<strong>de</strong>rão ser filtradas as moléculas livres no plasma.<br />

• Secreção Tubular Ativa: Acontece no túbulo proximal logo <strong>de</strong>pois da<br />

filtração glomerular. Consiste na adição ao túbulo proximal <strong>de</strong> vários compostos<br />

polares como ácidos e glicuronatos (ou glicuroní<strong>de</strong>os), por via da secreção tubular<br />

ativa mediada por um carreador e com gasto energético. Exist<strong>em</strong> também<br />

carreadores específicos para as bases orgânicas, no entanto os sist<strong>em</strong>as<br />

carreadores são relativamente não-seletivos. Isto confere um caráter <strong>de</strong><br />

competitivida<strong>de</strong> dos íons orgânicos <strong>de</strong> carga s<strong>em</strong>elhante pelo transporte.<br />

• Reabsorção Tubular Passiva: O último passo na excreção renal dos<br />

fármacos é a reabsorção tubular passiva, que é responsável pelo retorno ao<br />

sangue <strong>de</strong> vários fármacos b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s da água<br />

previamente filtrada. O fator mais importante que <strong>de</strong>termina este retorno à<br />

circulação é a lipossolubilida<strong>de</strong> das moléculas, o que explica que os fármacos<br />

lipossolúveis <strong>de</strong>vam passar pelos processos <strong>de</strong> biotransformação antes <strong>de</strong> ser<strong>em</strong><br />

excretados. Também é importante a reabsorção tubular passiva dos fármacos<br />

ionizados, sendo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para eles o pH urinário <strong>em</strong> comparação<br />

ao pH sanguíneo. Os ácidos fracos são excretados com maior rapi<strong>de</strong>z quando a<br />

urina tubular fica alcalina, principalmente porque se tornam mais ionizadas e a<br />

reabsorção passiva diminui. A alcalinização e acidificação da urina têm efeitos<br />

opostos na excreção das bases fracas.<br />

Outros órgãos <strong>de</strong> importância nos processos <strong>de</strong> excreção dos fármacos<br />

são os pulmões e o sist<strong>em</strong>a gastrintestinal. O primeiro é particularmente<br />

importante para substâncias voláteis, usualmente <strong>em</strong> forma dos seus compostos<br />

originais intactos. Também po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong> alguns metabólitos dos fármacos<br />

(geralmente glicuroní<strong>de</strong>os) ser<strong>em</strong> secretados para a bile após os processos <strong>de</strong><br />

biotransformação hepáticos, chegando ao trato gastrintestinal e sendo excretados<br />

junto com as fezes. Ocasionalmente, no interior do trato gastrintestinal po<strong>de</strong>m<br />

21


acontecer reações <strong>de</strong> hidrólise que liber<strong>em</strong> novamente o fármaco ativo para a luz<br />

intestinal para ser novamente reabsorvido para o sangue, conformando a<br />

<strong>de</strong>nominada circulação entero-hepática.<br />

Por último <strong>de</strong>ve-se enfatizar a importância da excreção <strong>de</strong> fármacos pelo<br />

leite materno, pois eles po<strong>de</strong>m ser transmitidos ao lactante, com possíveis efeitos<br />

tóxicos ou prejudiciais. A excreção das drogas pelo suor e pela saliva t<strong>em</strong><br />

importância menor do que as outras formas <strong>de</strong> eliminação, pois a proporção do<br />

fármaco excretado é mínima.<br />

Deste modo, o ciclo farmacocinético se completa. Ou seja, a droga é<br />

administrada por <strong>de</strong>terminada via, absorvida para chegar na circulação, pela qual<br />

é distribuída a diversos órgãos (inclusive local-alvo), biotransformada e finalmente<br />

eliminada do organismo.<br />

Referências<br />

BRUNTON L.L., LAZO J.S., PARKER K.L. GOODMAN & GILMAN. As bases<br />

farmacológicas da terapêutica. 11ª edição. Editora Mc Graw Hill, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

2006.<br />

FUCHS, F. D. WANNMACHER, L. Farmacologia Clínica: Fundamentos da<br />

Terapêutica Racional. 3ª edição, Editora: Guanabara Koogan, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

RJ, 2004.<br />

KATZUNG, B.G. Farmacologia básica e clínica. 9.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 2006.<br />

RANG, H.P.; DALE, M.M.; TITTER, J. M. Farmacologia. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 2007.<br />

SPINOSA, H.S.; GORNIAK, S.L.; BERNARDI, M.M. Farmacologia aplicada à<br />

Medicina Veterinária. 3ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.<br />

CAVALLI, R.C., BARALDI, C.O., CUNHA, S.P. Transferência placentária <strong>de</strong><br />

drogas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2006; 28(9): 557-64.<br />

22


<strong>FARMACOLOGIA</strong> DE PRODUTOS NATURAIS<br />

PRODUTOS COM AÇÃO SOBRE O TRATO GASTROINTESTINAL<br />

Lígia Moura Burci<br />

Luísa Mota da Silva<br />

Por <strong>de</strong>finição, úlceras são lesões da mucosa gastrointestinal que consist<strong>em</strong><br />

na perda circunscrita <strong>de</strong> tecido, penetrando na camada muscular da mucosa.<br />

Quando formadas no estômago são chamadas úlceras estomacais ou gástricas e<br />

quando formadas no duo<strong>de</strong>no são chamadas <strong>de</strong> úlceras duo<strong>de</strong>nais. Contudo,<br />

tanto as úlceras gástricas como as úlceras duo<strong>de</strong>nais são comumente chamadas<br />

<strong>de</strong> úlceras pépticas. A úlcera péptica é uma doença heterogênea, com múltiplos<br />

fatores envolvidos <strong>em</strong> sua gênese. As hipóteses mais prováveis da causa das<br />

doenças ulcerosas agrupam fatores genéticos, estilo <strong>de</strong> vida (fatores <strong>em</strong>ocionais,<br />

estresse, dieta alimentar, ingestão <strong>de</strong> álcool), tabagismo, consumo <strong>de</strong><br />

antiinflamatórios não esteroidais (AINEs), infecção por Helicobacter pylori, entre<br />

outros (CARVALHO, 2000).<br />

Nos últimos anos, distúrbios gastrointestinais como úlceras pépticas,<br />

refluxo gastroesofágico, síndrome <strong>de</strong> Zollinger-Ellison e gastrite têm assumido<br />

<strong>de</strong>cididamente altas proporções nas populações, tornando-se um importante foco<br />

<strong>de</strong> investigação experimental e clínica. Nesse sentido, o estudo <strong>de</strong> produtos<br />

naturais que apresent<strong>em</strong> ação sobre o TGI assume interesse social, terapêutico,<br />

botânico, <strong>em</strong>presarial e acadêmico na tentativa <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> protótipos para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos fármacos b<strong>em</strong> como na validação da segurança,<br />

eficácia e mecanismos <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> plantas medicinais.<br />

1. Fisiologia Gástrica<br />

23


Anatomicamente o estômago po<strong>de</strong> ser dividido <strong>em</strong> fundo, corpo e antro<br />

pilórico, sendo limitado por dois sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> esfíncteres: o esfíncter esofagiano,<br />

localizado na parte superior do estômago e o esfíncter pilórico ou piloro, na parte<br />

inferior ou distal do estômago (Fig. 1) (HOGBEN et al, 1974).<br />

Figura 1. Divisão anatômica do estômago humano.<br />

(www.commonswikimedia.org/wiki/File:Estomago.svg)<br />

Funcionalmente, a mucosa gástrica po<strong>de</strong> ser dividida <strong>em</strong> duas regiões<br />

glandulares, <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> mucosa oxíntica e mucosa antral. A mucosa<br />

oxíntica é mais extensa, ocupando o corpo e o fundo, e é o sítio da secreção <strong>de</strong><br />

ácido clorídrico (HCl). É formada por glândulas oxínticas, cujo principal tipo celular<br />

é a célula parietal ou oxíntica, responsável pela secreção <strong>de</strong> HCl e fator intrínseco<br />

(associado a absorção <strong>de</strong> vitamina B12). Outras células que se encontram nesta<br />

glândula são células principais produtoras <strong>de</strong> pepsinogênio (o pró-zimógeno da<br />

pepsina), células D produtoras <strong>de</strong> somatostatina e células do tipo enterocromafins<br />

(ECL), as quais liberam histamina (para revisão ver JAIN et al 2006). As glândulas<br />

da mucosa antral apresentam os mesmos tipos celulares que as glândulas<br />

oxínticas, exceto pela ausência <strong>de</strong> células parietais e presença <strong>de</strong> células G<br />

produtoras <strong>de</strong> gastrina (LLOYD e DEBAS, 1994). No colo glandular, predominam<br />

as células produtoras <strong>de</strong> muco, que proteg<strong>em</strong> a mucosa gástrica da ação<br />

corrosiva das secreções originadas pelas glândulas produtoras <strong>de</strong> ácido (para<br />

revisão ver JAIN et al 2006).<br />

24


A inervação do estômago po<strong>de</strong> ser extrínseca ou intrínseca. A inervação<br />

extrínseca é mediada por fibras parassimpáticas do nervo vago que terminam no<br />

plexo mioentérico da pare<strong>de</strong> do estômago; e a inervação intrínseca compreen<strong>de</strong> o<br />

sist<strong>em</strong>a nervoso entérico (SNE). O SNE é formado pelo plexo mioentérico ou <strong>de</strong><br />

Auerbach, que inerva as camadas musculares e é responsável pela regulação<br />

motora (peristaltismo), e pelo plexo submucoso ou <strong>de</strong> Meissner, que inerva a<br />

mucosa e regula a absorção e as secreções gastrintestinais (GUYTON & HALL,<br />

2006; LACERDA et al, 2004; CHRISTENSEN et AL, 2005). Embora o sist<strong>em</strong>a<br />

nervoso entérico não <strong>de</strong>penda <strong>de</strong> inervação extrínseca para funcionar, a<br />

estimulação dos sist<strong>em</strong>as parassimpático e simpático po<strong>de</strong> ativar, ou inibir, ainda<br />

mais as funções gastrointestinais (GUYTON & HALL, 2002).<br />

2. Secreção ácida<br />

O suco ácido gástrico é uma mistura das secreções das células epiteliais e<br />

glândulas gástricas e compreen<strong>de</strong> o HCl, pepsina, fator intrínseco, muco,<br />

bicarbonato, água e sais (BERNE ET AL., 2004). A regulação da secreção ácida<br />

gástrica é um processo complexo mediado por mecanismos:<br />

maneira:<br />

• neurais - o neurotransmissor é liberado dos terminais<br />

nervosos - acetilcolina,<br />

• hormonais ou endócrinos: o neurotransmissor alcança a<br />

célula através do fluxo sanguíneo – gastrina<br />

• parácrinos :a liberação do transmissor ocorre <strong>de</strong>ntro da<br />

circulação local ou no fluido intersticial - histamina.<br />

Resumidamente, a secreção ácida gástrica po<strong>de</strong> ser regulada da seguinte<br />

1) A acetilcolina, liberada <strong>de</strong> neurônios pós-ganglionares do nervo vago interage<br />

com receptores muscarínicos M3 das células parietais, estimulando diretamente a<br />

secreção do ácido. Em adição, a acetilcolina também interage com receptores<br />

25


muscarínicos M1 das células parácrinas, mastócitos e ECL promovendo a<br />

liberação <strong>de</strong> histamina, que por sua vez estimula diretamente a célula parietal.<br />

2) A gastrina, sintetizada e estocada nas células G, t<strong>em</strong> sua secreção para a<br />

corrente sanguínea estimulada pelos aminoácidos dos alimentos. A gastrina<br />

interage com receptores CCK2 nas células parietais e estimula diretamente a<br />

produção <strong>de</strong> ácido. Além disso, po<strong>de</strong> atuar indiretamente por interagir com<br />

receptores CCK2 presentes nas células ECL, resultando na liberação <strong>de</strong><br />

histamina.<br />

3) A histamina, originária <strong>de</strong> neurônios histaminérgicos, mastócitos ou células<br />

ECL, quando liberada estimula diretamente a secreção ácida através da interação<br />

com receptores H2 das células parietais. Por outro lado, a histamina po<strong>de</strong> inibir<br />

indiretamente a secreção ácida ao interagir com receptores H3 presentes nas<br />

células D secretoras <strong>de</strong> somatostatina, o principal inibidor da secreção ácida<br />

gástrica (POMMIER et al, 2003, SCHUBERT, 2005).<br />

A H + /K + /ATPase é a enzima responsável pela secreção ácida gástrica. Os<br />

prótons para a formação do ácido são gerados nos canalículos intracelulares pela<br />

ação da anidrase carbônica. O Cl - é transportado ativamente para <strong>de</strong>ntro dos<br />

canalículos que se comunicam com a luz das glândulas gástricas e<br />

consequent<strong>em</strong>ente com a luz do estômago. O K + acompanha o Cl - , sendo trocado<br />

pelo H + intracelular, com gasto energético fornecido pela catalisação do ATP. O<br />

bicarbonato formado a partir <strong>de</strong> CO2 e H2O pela anidrase carbônica dissocia-se<br />

para formar H + e HCO3 - , o qual é trocado por CL - na m<strong>em</strong>brana apical. Nas<br />

células parietais <strong>em</strong> repouso, a bomba <strong>de</strong> H + /K + /ATPase é armazenada <strong>em</strong><br />

tubulovesículas citoplasmáticas. Quando os receptores das células parietais são<br />

estimulados por seus agonistas, são gerados segundos mensageiros, que através<br />

<strong>de</strong> cascatas <strong>de</strong> fosforilação farão com que as tubulovesículas contendo as<br />

enzimas se fundam com a m<strong>em</strong>brana apical, permitindo que a enzima<br />

26


transm<strong>em</strong>brânica se torne ativa. Na ausência do estímulo as bombas são<br />

recicladas <strong>de</strong> volta para o compartimento citoplasmático (SCHUBERT, 2005).<br />

3. Úlcera gástrica<br />

A úlcera gástrica é um dos distúrbios mais comuns que afetam o sist<strong>em</strong>a<br />

gastrintestinal. Po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como uma lesão na mucosa do trato digestivo,<br />

que se esten<strong>de</strong> através da camada muscular da mucosa até a submucosa, ou<br />

ainda mais profundamente (CONTRAN et al., 1996). Nessa lesão profunda tanto<br />

os componentes do tecido epitelial e conectivo, incluindo miofibroblastos<br />

subepiteliais, células do músculo liso, vasos e nervos, po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>struídos<br />

(MILANI E CALABRÒ, 2001).<br />

As úlceras provavelmente resultam <strong>de</strong> diferentes mecanismos patogênicos<br />

e, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua etiologia, são formadas quando ocorre um <strong>de</strong>sequilíbrio<br />

entre fatores agressores da mucosa, sejam eles endógenos (HCl e pepsina) ou<br />

exógenos (etanol, AINEs, fumo), e os fatores protetores da mucosa gástrica<br />

(muco, bicarbonato, prostaglandinas, fluxo sanguíneo, óxido nítrico) (Revisado por<br />

GLAVIN E SZABO, 1992). Teoricamente, este <strong>de</strong>sequilíbrio ocorre <strong>em</strong> 3<br />

condições: (i) com a redução dos mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, (ii) com o aumento dos<br />

fatores agressores ou (iii) com a associação <strong>de</strong> ambos (CHAPADEIRO et al.,<br />

1987).<br />

Os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que atuam na porta <strong>de</strong> entrada dos xenobióticos<br />

no organismo são diversos, e entre eles encontram-se:<br />

• Os mastócitos e macrófagos resi<strong>de</strong>ntes na lamina própria que atuam<br />

como células sinalizadoras da presença <strong>de</strong> substâncias estranhas. Essas células<br />

são capazes <strong>de</strong> liberar uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mediadores inflamatórios e<br />

citocinas que po<strong>de</strong>m alterar o fluxo sanguineo da mucosa e aumentar o<br />

recrutamento <strong>de</strong> granulócitos para a região afetada (HAGABOAM et al, 1993).<br />

• O epitélio que é especializado <strong>de</strong> forma a manter s<strong>em</strong>pre as suas<br />

funções como barreira ao ácido gástrico e a outros agressores. A gran<strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proliferação do epitélio lhe confere habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reparação ao<br />

27


dano epitelial e contribui para a resistência da mucosa gástrica às lesões<br />

(WALLACE, 2001).<br />

• O muco também t<strong>em</strong> importante papel na prevenção da agressão<br />

mecânica ao epitélio, e fornece um microambiente sobre a área lesionada, que é<br />

rapidamente restituída (WALLACE et al, 2001), atua principalmente como barreira<br />

física.<br />

• O fluxo sanguineo contribui para a proteção gástrica por fornecer à<br />

mucosa: oxigênio, bicarbonato, substâncias nutritivas e por r<strong>em</strong>over o dióxido <strong>de</strong><br />

carbono, íons hidrogênio e difundir agentes tóxicos do lúmen gástrico (SORBYE &<br />

SVANES, 1994).<br />

• As prostaglandinas apresentam efeito na motilida<strong>de</strong>, secreção e<br />

citoproteção do trato gastrintestinal. A secreção do muco e bicarbonato, a<br />

vasodilatação e a rápida regeneração epitelial são alguns dos componentes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa da mucosa que são regulados pelas prostaglandinas (WALLACE &<br />

GRANGER, 1996).<br />

• O óxido nítrico apresenta papel chave na perfusão e regulação<br />

vascular por promover a vasodilatação pela sinalização da célula muscular lisa via<br />

cGMP (SHAH et al, 2004). A produção constitutiva <strong>de</strong> NO é importante para<br />

manter a barreira protetora da mucosa gastrintestinal, e esse mecanismo protetor<br />

é <strong>de</strong>vido à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar o fluxo sanguíneo da mucosa e<br />

estabilizar a influência dos mastócitos (ALICAN et al, 1996).<br />

O sintoma mais comum da úlcera gástrica é uma sensação <strong>de</strong> dor tipo<br />

queimação. A dor geralmente ocorre entre as refeições e algumas vezes durante<br />

a noite, po<strong>de</strong>ndo durar minutos ou horas e geralmente é aliviada quando o<br />

paciente se alimenta ou faz uso <strong>de</strong> anti-ácidos. Outros sintomas menos comuns<br />

inclu<strong>em</strong> náusea, vômitos, perda do apetite e peso.<br />

4. Farmacoterapêutica da úlcera péptica<br />

As drogas utilizadas no tratamento das úlceras ou distúrbios ácido-pépticos<br />

promov<strong>em</strong> a cicatrização da lesão. Po<strong>de</strong>m ser utilizados vários tipos <strong>de</strong> fármacos<br />

28


isolados, ou <strong>em</strong> associações. As terapias estão diretamente ligadas à diminuição<br />

da secreção ácida.<br />

Antagonistas <strong>de</strong> receptores H2 – cimetidina, ranitidina, famotidina,<br />

nizatidina - Os antagonistas H2 ag<strong>em</strong> competindo com a histamina pela ligação<br />

com o receptor H2, o que também contribui para a diminuição da secreção ácida<br />

gástrica. Recent<strong>em</strong>ente, essa classe <strong>de</strong> fármacos v<strong>em</strong> sendo substituída pelos<br />

inibidores da bomba <strong>de</strong> prótons, contudo <strong>de</strong>vido ao seu custo mais acessível<br />

ainda é utilizada.<br />

Inibidores da bomba <strong>de</strong> prótons (H + /K + APTase) – Omeprazol,<br />

lansoprazol, rabeprazol, esomerazol, pantoprazol. Atualmente estes são os<br />

fármacos <strong>de</strong> primeira escolha. Após a sua absorção se difun<strong>de</strong>m até as células<br />

parietais on<strong>de</strong> se acumulam nos canalículos secretores <strong>de</strong> ácido. (BRUNTON, L.,<br />

et al, 2007). Devido ao seu mecanismo <strong>de</strong> ação diminu<strong>em</strong> a secreção <strong>de</strong> HCl pela<br />

mucosa gástrica. Em casos <strong>de</strong> secreção ácida aumentada a mesma retorna ao<br />

nível normal com a administração <strong>de</strong>sses inibidores irreversíveis da bomba <strong>de</strong><br />

prótons (SCHUBERT, 2005), que po<strong>de</strong>m ser associados ou não a antimicrobianos<br />

(<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da presença <strong>de</strong> H. pylori).<br />

Antiácidos – são fármacos utilizados <strong>de</strong> forma a aumentar as<br />

<strong>de</strong>fesas da mucosa. São usados para aliviar a pirose e o <strong>de</strong>sconforto abdominal.<br />

Neutralizam o ácido secretado, e são rapidamente absorvidos <strong>de</strong>vido à sua alta<br />

solubilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> água. Po<strong>de</strong>m ser utilizados <strong>de</strong> forma isolada (hidróxido <strong>de</strong><br />

alumínio, hidróxido <strong>de</strong> magnésio, magaldrato - hidróxido <strong>de</strong> alumínio e magnésio),<br />

<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> antiácidos ou associados a outros fármacos.<br />

Análogos <strong>de</strong> Prostaglandinas – Misoprostol, análogo sintético da<br />

PGE1. Atua protegendo a mucosa gástrica através <strong>de</strong> efeitos que inclu<strong>em</strong>:<br />

estimulação <strong>de</strong> secreção <strong>de</strong> muco e bicarbonato e aumento do fluxo sanguíneo<br />

no estômago (BRUNTON, L., et al , 2007). O misoprostol aumenta a produção <strong>de</strong><br />

muco no estômago, contudo provoca também um aumento acentuado na<br />

contração <strong>de</strong> músculos lisos, principalmente no útero, o que culminou com vários<br />

29


abortos provocados pela sua utilização, e por isso a sua retirada <strong>de</strong> mercado e<br />

restrição <strong>de</strong> uso.<br />

Outros – Sucralfato, trata-se <strong>de</strong> um polímero que a<strong>de</strong>re às células<br />

epiteliais e à área lesada formando uma barreira física <strong>de</strong> proteção, além <strong>de</strong><br />

estimular a produção local <strong>de</strong> prostaglandinas e fator <strong>de</strong> crescimento epidérmico<br />

(BRUNTON, L., et al, 2007).<br />

Tratamento da infecção por Helicobacter Pylori- os principais<br />

tratamentos indicados para a erradiação da bactéria e para a recuperação da<br />

mucosa gástrica po<strong>de</strong>m ser divididos <strong>em</strong>:<br />

• Terapia tripla – com a utilização <strong>de</strong> um inibidor da bomba <strong>de</strong> próton,<br />

um antibiótico e um antiprotozoário.<br />

• Terapia quádrupla – com a utilização <strong>de</strong> um inibidor da bomba <strong>de</strong><br />

prótons, um antiprotozoário, um antibiótico e um antiácido;<br />

• Terapia quádrupla – com a utilização <strong>de</strong> um antagonista <strong>de</strong> receptor<br />

H2, um antiácido, um antiprotozoários, e um antibiótico (BRUNTON,<br />

L., et al, 2007).<br />

AULA PRÁTICA<br />

Determinação da ativida<strong>de</strong> anti-úlcera no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> lesões gástricas<br />

1. Introdução<br />

induzidas por etanol <strong>em</strong> ratos<br />

Alguns estudos recentes têm relatado uma hipergastren<strong>em</strong>ia causada por<br />

inibidores irreversíveis da bomba <strong>de</strong> próton e que pacientes H. pylori <strong>em</strong><br />

tratamento com esses inibidores apresentam mudanças no padrão da gastrite,<br />

com ativação <strong>de</strong> neutrófilos no corpo gástrico, contribuindo “in vivo” para a<br />

inflamação causada por essa bactéria. Devido a esses probl<strong>em</strong>as com o uso<br />

crônico <strong>de</strong> inibidores da bomba é importante o estudo <strong>de</strong> novas drogas para o<br />

tratamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns ácido-pépticas.<br />

30


A ativida<strong>de</strong> anti-úlcera <strong>de</strong> uma substância <strong>de</strong>sconhecida po<strong>de</strong> ser avaliada<br />

<strong>em</strong> animais <strong>de</strong> experimentação frente a diferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> indução <strong>de</strong> lesão<br />

gástrica, os quais po<strong>de</strong>m envolver medicamentos (ácido acetilsalicílico, AINEs),<br />

estresse ou agentes necrotizantes da mucosa (etanol). Devido ao fato <strong>de</strong> esses<br />

agentes provocar<strong>em</strong> a lesão gástrica por diferentes mecanismos para a validação<br />

<strong>de</strong> uma planta medicinal é necessário o estudo da ação anti-ulcera do extrato nos<br />

diferentes mo<strong>de</strong>los, contudo, por não ser possível o estudo <strong>de</strong> todos, para a aula<br />

o mo<strong>de</strong>lo selecionado foi o mo<strong>de</strong>lo animal <strong>de</strong> úlcera induzida por etanol, o qual se<br />

confirma como um método simples <strong>de</strong> produção experimental <strong>de</strong> úlcera aguda<br />

gástrica <strong>em</strong> ratos.<br />

2. Animais<br />

Ratos: Rattus norvegicus, varieda<strong>de</strong> Wistar, adultos, fêmeas, pesando <strong>de</strong><br />

150 a 300g. Os animais são provenientes do Biotério Central da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Paraná (UFPR). E antes do procedimento <strong>de</strong>verão ser mantidos <strong>em</strong><br />

uma sala com umida<strong>de</strong> e t<strong>em</strong>peratura controladas (22 ± 2°C), <strong>em</strong> um ciclo <strong>de</strong><br />

claro-escuro <strong>de</strong> 12h (7:00-19:00 h). Água será fornecida à vonta<strong>de</strong> aos animais<br />

durante todos os experimentos. Os procedimentos utilizados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar <strong>de</strong><br />

acordo com as normas do CEEA (Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Experimentação Animal) da<br />

UFPR.<br />

3. Material e Drogas<br />

Seringas;<br />

Cânulas para gavag<strong>em</strong>;<br />

Material cirúrgico<br />

Placas <strong>de</strong> isopor;<br />

Alfinetes;<br />

Água;<br />

Etanol;<br />

Omeprazol (40 mg/kg);<br />

Máquina fotográfica;<br />

Programa Image Tool <strong>em</strong><br />

computador para a avaliação da<br />

área <strong>de</strong> lesão gástrica.<br />

Extrato hidroalcoolico <strong>de</strong><br />

Vochysia bifalcata dose <strong>de</strong><br />

100mg/kg<br />

31


4. Procedimentos<br />

Separar os animais <strong>em</strong> quatro grupos: Controle Negativo, Controle<br />

Positivo, Grupo Teste, e Grupo Naive. Em cada grupo <strong>de</strong>ve haver 5 animais que<br />

<strong>de</strong>verão ser mantidos <strong>em</strong> jejum <strong>de</strong> alimentos sólidos por 24 horas, com água<br />

disponível ad libitum;<br />

Os animais <strong>de</strong> cada grupo <strong>de</strong>verão ser tratados com:<br />

Grupo Controle Negativo: água<br />

Grupo Controle Positivo: omeprazol<br />

Grupo Teste: extrato da planta<br />

Grupo Naive: água<br />

1 hora após o tratamento se fará a indução das lesões gástricas<br />

através da administração <strong>de</strong> 0,5ml <strong>de</strong> Etanol P.A. por via oral com o auxílio <strong>de</strong><br />

uma sonda <strong>de</strong> gavag<strong>em</strong>;<br />

1 hora após a administração do etanol, os animais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

sacrificados, tendo seus estômagos r<strong>em</strong>ovidos para a inspeção das lesões<br />

gástricas.<br />

Referências<br />

ALICAN, I.; KUBES, P. A critical role for nitric oxi<strong>de</strong> in intestinal barrier<br />

function and dysfunction. The American Journal of Physiology. V. 270, p. 225-<br />

237, 1996.<br />

BRUNTON, L., et al. Goodman & Gilman’s – Manual of Pharmacology and<br />

Therapeutics. 11.ed. 2007<br />

CHAPADEIRO, E.; LOPES, E. R.; RASO, P.; TAFURI, W. L. Bogliolo<br />

PATOLOGIA. 4 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.<br />

CHRISTENSEN, J.; COELHO, J. C. U.; GONÇALVES, C. G.; GROTH, A. K.<br />

Distúrbios da Motilida<strong>de</strong> do Intestino Grosso e Síndrome do Intestino<br />

Irritável. In: Aparelho Digestivo Clínica e Cirúrgica. p. 886-901, 2005.<br />

CONTRAN, R.S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S.L. Patologia Estrutural e Funcional.<br />

5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1996.<br />

32


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HAGABOAM, C.M.; BISSONNETTE, E.V.; CHIN, B.C.; BEFUS, A.D.; WALLACE,<br />

J.L. Prostaglandins inhibit inflammatory mediator release from rat mast<br />

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JAIN, K.S.; SHAH, A.K. et al. Recent advances in proton pump inhibitors and<br />

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Wikimedia Commons, Disponível <strong>em</strong>:<br />

www.commonswikimedia.org/wiki/File:Estomago.svg<br />

33


<strong>FARMACOLOGIA</strong> DE PRODUTOS NATURAIS<br />

SISTEMA CARDIOVASCULAR<br />

Sandra Crestani<br />

Priscila <strong>de</strong> Souza<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia M.V.A.F. da Silva<br />

Aspectos Fisiológicos da Pressão Sanguínea e Hipertensão Arterial<br />

O sist<strong>em</strong>a cardiovascular consiste no sangue, coração e vasos<br />

sanguíneos. Para que o sangue possa atingir as células corporais e trocar<br />

materiais com elas, ele <strong>de</strong>ve ser constant<strong>em</strong>ente propelido ao longo dos vasos<br />

sanguíneos. A função básica <strong>de</strong>ste sist<strong>em</strong>a é a <strong>de</strong> levar material nutritivo e<br />

oxigênio às células, além <strong>de</strong> transportar produtos finais do metabolismo e<br />

hormônios <strong>de</strong> uma parte do corpo a outra. Assim, o sist<strong>em</strong>a cardiovascular<br />

compõe-se das seguintes estruturas: a) coração; b) vasos arteriais; c)<br />

microcirculação; d) vasos venosos; e) vasos linfáticos.<br />

A oferta e manutenção do fluxo sanguíneo aos tecidos do organismo, que<br />

constitu<strong>em</strong> os objetivos funcionais fundamentais do aparelho cardiovascular,<br />

estão na <strong>de</strong>pendência básica <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado volume <strong>de</strong> sangue e <strong>de</strong> certo<br />

gradiente <strong>de</strong> pressão existente no interior do órgão. O sangue é ejetado a cada<br />

batimento cardíaco do ventrículo esquerdo para a aorta, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> flui rapidamente<br />

para os órgãos através <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s artérias <strong>de</strong> condução. Sucessivas<br />

ramificações levam, através <strong>de</strong> artérias musculares, a arteríolas e capilares, on<strong>de</strong><br />

ocorr<strong>em</strong> trocas gasosas e <strong>de</strong> nutrientes. Os capilares coalesc<strong>em</strong> para formar<br />

vênulas pós-capilares, vênulas e veias cada vez maiores, levando o sangue,<br />

através da veia cava, ao coração direito. O sangue <strong>de</strong>soxigenado ejetado do<br />

ventrículo direito percorre a artéria pulmonar, os capilares pulmonares e as veias<br />

pulmonares <strong>de</strong> volta ao átrio esquerdo. Pequenas artérias musculares e arteríolas<br />

34


são os principais vasos <strong>de</strong> resistência, enquanto as veias são vasos <strong>de</strong><br />

capacitância que contêm uma gran<strong>de</strong> fração do volume sanguíneo total. Em<br />

termos <strong>de</strong> função cardíaca, portanto, as artérias e as arteríolas regulam a pós-<br />

carga, enquanto as veias e os vasos pulmonares regulam a pré-carga dos<br />

ventrículos. Ver representação ilustrativa (figura 1).<br />

Figura 1. Esqu<strong>em</strong>a simplificado do sist<strong>em</strong>a cardiovascular. O aparelho circulatório é formado por<br />

um sist<strong>em</strong>a fechado <strong>de</strong> vasos sanguíneos, cujo centro funcional é o coração.<br />

Fonte: http://pasuzana.pbworks.com/<br />

.<br />

35


Diversos são os mecanismos reguladores cardiovasculares, que atuam<br />

isoladamente ou combinadamente, com o propósito final <strong>de</strong> garantir a<strong>de</strong>quado<br />

volume <strong>de</strong> sangue circulante e pressões arterial e venosa as mais estáveis<br />

possíveis <strong>de</strong>ntro dos limites fisiológicos, visando a manutenção do fluxo<br />

sangüíneo tissular. Assim, o volume sangüíneo e a pressão circulatória são as<br />

duas variáveis h<strong>em</strong>odinâmicas que se constitu<strong>em</strong> nos alvos finais da regulação<br />

cardiovascular.<br />

Em seres humanos, a pressão sanguínea varia constant<strong>em</strong>ente, porém,<br />

raramente <strong>de</strong>svia dos valores referenciais (120 mm Hg para a pressão sistólica e<br />

80 mm Hg para a diastólica) mais do que 10 a 15% durante o dia. Isto é possível<br />

porque o organismo possui mecanismos <strong>de</strong> controle que consegu<strong>em</strong> promover<br />

uma resposta a<strong>de</strong>quada frente às ocasiões que a alteram.<br />

Os mecanismos <strong>de</strong> regulação da pressão arterial po<strong>de</strong>m ser responsivos<br />

<strong>em</strong> curto, médio e longo prazo. Em curto prazo (resposta <strong>em</strong> segundos), esse<br />

controle é <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhado pelos barorreceptores, quimiorreceptores e sist<strong>em</strong>a<br />

nervoso central (SNC). Os rins exerc<strong>em</strong> o controle da pressão arterial <strong>em</strong> longo<br />

prazo (horas ou dias). E <strong>em</strong> médio prazo (minutos), a regulação ou modulação<br />

ocorr<strong>em</strong> principalmente por ação dos sist<strong>em</strong>as hormonais (sist<strong>em</strong>a renina-<br />

angiotensina, sist<strong>em</strong>a calicreína-cinina, vasopressina e mediadores endoteliais).<br />

Ver esqu<strong>em</strong>a representativo (figura 2).<br />

36


Figura 2. Os principais sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> regulação da pressão arterial inclu<strong>em</strong> a divisão simpática do<br />

sist<strong>em</strong>a nervoso, o sist<strong>em</strong>a renina-angiotensina-aldosterona e autacói<strong>de</strong>s <strong>de</strong>rivados do endotélio<br />

tonicamente ativos. Fonte: Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipertensão, 2010<br />

Alterações <strong>em</strong> um ou ambos os mecanismos <strong>de</strong> controle da pressão<br />

arterial (neural e/ou humoral), po<strong>de</strong>rão resultar <strong>em</strong> elevação dos níveis<br />

pressóricos, instalando-se assim um quadro <strong>de</strong> hipertensão arterial. Para adultos,<br />

quando ultrapassa a máxima <strong>de</strong> 130 mm Hg e a mínima <strong>de</strong> 85 mm Hg.<br />

A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente <strong>em</strong> nosso meio,<br />

atingindo cerca <strong>de</strong> 20% da população adulta com mais <strong>de</strong> 18 anos, chegando a<br />

alcançar índices <strong>de</strong> 50% nos idosos, estando entre as principais causas <strong>de</strong><br />

morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> muitos países do mundo. Associa-se<br />

frequent<strong>em</strong>ente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração,<br />

encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente<br />

aumento do risco <strong>de</strong> eventos cardiovasculares fatais e não-fatais.<br />

37


É importante salientar que exist<strong>em</strong> causas orgânicas para a hipertensão<br />

arterial, que são responsáveis por 10 a 15% na população <strong>em</strong> geral. Em<br />

indivíduos jovens ou crianças, esse número sobe para mais <strong>de</strong> 80%.<br />

As causas orgânicas, e potencialmente curáveis, <strong>de</strong> hipertensão arterial<br />

são: causas renais, particularmente uma obstrução da artéria renal, provocando<br />

baixa perfusão renal, estímulo da renina, etc. A obstrução po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong><br />

um hipo<strong>de</strong>senvolvimento ou adquirida por uma trombose ou arteriosclerose; os<br />

indivíduos po<strong>de</strong>m ser curados por cirurgia, sendo a artéria substituída por uma<br />

prótese.<br />

O feocromocitoma, um tumor <strong>de</strong> células cromafins secretoras <strong>de</strong><br />

catecolaminas que exist<strong>em</strong> no córtex das supra-renais, provoca crescimento<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado <strong>de</strong>ssas células e gran<strong>de</strong> secreção <strong>de</strong> catecolaminas na circulação,<br />

fazendo com que haja aumento da pressão arterial e vermelhidão <strong>em</strong> vários<br />

momentos do dia; são picos <strong>de</strong> hipertensão, com vermelhidão e sensação <strong>de</strong><br />

angústia. Não é o que acontece <strong>em</strong> um indivíduo hipertenso, que apresenta os<br />

sintomas continuamente.<br />

Os outros 85% dos casos <strong>de</strong> hipertensão arterial são idiopáticos, ou seja,<br />

não se sabe a causa, mas apenas os fatores <strong>de</strong> risco.<br />

Pressão arterial persistent<strong>em</strong>ente elevada leva à hipertrofia do ventrículo<br />

esquerdo e r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação das artérias <strong>de</strong> resistência, com estreitamento da luz. A<br />

resistência vascular periférica elevada põe <strong>em</strong> ação várias respostas fisiológicas<br />

envolvendo o sist<strong>em</strong>a cardiovascular, o sist<strong>em</strong>a nervoso e o rim. Tais círculos<br />

viciosos constitu<strong>em</strong> potenciais alvos para ataque farmacológico.<br />

A r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação das artérias <strong>de</strong> resistência <strong>em</strong> resposta à elevação da<br />

pressão reduz a proporção entre o diâmetro da luz e a espessura da pare<strong>de</strong> e<br />

aumenta a resistência vascular periférica. O papel dos fatores <strong>de</strong> crescimento<br />

celulares (inclusive a angiotensina II) e inibidores do crescimento (p.ex., óxido<br />

nítrico) na evolução <strong>de</strong>stas alterações estruturais é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o<br />

uso terapêutico <strong>de</strong> fármacos como os inibidores da enzima conversora <strong>de</strong><br />

angiotensina.<br />

38


O tratamento envolve medidas não-farmacológicas, como redução da<br />

ingestão <strong>de</strong> sal e gorduras da dieta, redução do peso e do consumo do álcool,<br />

prática <strong>de</strong> exercícios, seguidas pela introdução gradual <strong>de</strong> fármacos, iniciando<br />

com aqueles que tenham benefício comprovado e que tenham a menor<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir efeitos colaterais.<br />

Anti-hipertensivos<br />

Figura 3. Diagrama mostrando os principais mecanismos envolvidos na regulação da pressão<br />

arterial. Fonte: Adaptado <strong>de</strong> RANG & DALE, 2007<br />

Dentre os anti-hipertensivos que são utilizados na clínica para o tratamento<br />

da hipertensão e suas complicações, <strong>de</strong>stacam-se os diuréticos, os beta-<br />

bloqueadores, os bloqueadores <strong>de</strong> canais <strong>de</strong> cálcio, os inibidores da enzima<br />

conversora <strong>de</strong> angiotensina, os bloqueadores <strong>de</strong> receptor da angiotensina II, os<br />

antagonistas da aldosterona e os inibidores <strong>de</strong> renina. Ver ilustração (figura 3).<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista fisiopatológico, a hipertensão é uma doença que envolve<br />

mudanças persistentes <strong>em</strong> pelo menos uma das variáveis h<strong>em</strong>odinâmicas (débito<br />

cardíaco, rigi<strong>de</strong>z arterial, ou resistência periférica) que <strong>de</strong>terminam a mensuração<br />

da pressão arterial. Cada uma <strong>de</strong>ssas variáveis t<strong>em</strong> um potencial alvo<br />

terapêutico, e é provável que alterações nestas variáveis também contribuam<br />

39


para a heterogeneida<strong>de</strong> da resposta farmacológica dos pacientes com<br />

hipertensão. Além disso, o tratamento atual adota estratégias que visam não só<br />

focar na redução da pressão arterial, mas também <strong>em</strong> normalizar a estrutura e<br />

função vascular.<br />

A redução da pressão arterial t<strong>em</strong> sido associada com uma redução <strong>em</strong><br />

cerca <strong>de</strong> 40% do risco <strong>de</strong> ataques súbitos e <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 20% <strong>de</strong> redução do risco<br />

<strong>de</strong> infarto do miocárdio. Além disso, as diretrizes <strong>de</strong> práticas clínicas atuais<br />

i<strong>de</strong>ntificam a redução da pressão arterial como priorida<strong>de</strong> no tratamento <strong>de</strong><br />

pessoas com hipertensão. Porém, uma das maiores dificulda<strong>de</strong>s encontradas nas<br />

terapias farmacológicas refere-se ao fato <strong>de</strong> que alguns pacientes mostram-se<br />

refratários aos tratamentos convencionais, além <strong>de</strong> outros apresentar<strong>em</strong> gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> efeitos adversos, tornando cada vez mais necessário o avanço das<br />

pesquisas <strong>em</strong> foco <strong>de</strong> novas alternativas terapêuticas, assim, uma opção<br />

tradicionalmente b<strong>em</strong> aceita provém dos produtos naturais, especialmente<br />

aqueles habitualmente utilizados <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> apelo popular. Estes produtos<br />

po<strong>de</strong>m representar, potencialmente, uma fonte alternativa no fornecimento <strong>de</strong><br />

novas estruturas químicas, assim como um recurso ativo na forma <strong>de</strong> fitoterápico<br />

padronizado e eficaz.<br />

Como ex<strong>em</strong>plos relevantes <strong>de</strong> medicamentos obtidos <strong>de</strong> plantas, po<strong>de</strong>mos<br />

mencionar a digoxina (Digitalis sp.), o quinino (casca da Chinchona sp), a<br />

pilocarpina (Pilocarpus jaborandi), a vincristina e a vinblastina (Catharanthus<br />

roseus), <strong>de</strong>ntre outros. É muito restrito o número <strong>de</strong> produtos naturais com<br />

ativida<strong>de</strong> comprovada sobre o sist<strong>em</strong>a cardiovascular. Um dos poucos ex<strong>em</strong>plos<br />

são o pó e o extrato das raízes da Rauwolfia serpentina Benth. ex Kurz usados<br />

principalmente <strong>em</strong> países asiáticos por sua ação hipotensora, <strong>de</strong>vido a presença<br />

do alcalói<strong>de</strong> reserpina, um simpaticolítico, outrora comercializado, e muito usado<br />

como anti-hipertensivo. Atualmente encontra-se <strong>em</strong> <strong>de</strong>suso <strong>de</strong>vido a elevada<br />

prevalência <strong>de</strong> efeitos colaterais, sendo mais utilizado como ferramenta<br />

experimental.<br />

40


No <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Farmacologia da UFPR, o grupo <strong>de</strong> pesquisa<br />

“Farmacologia e Toxicologia Pré-Clínica <strong>de</strong> Produtos Naturais”, <strong>de</strong>senvolve<br />

trabalhos com o objetivo <strong>de</strong> estudar plantas medicinais utilizadas popularmente<br />

com base <strong>em</strong> informações etnofarmacológicas e etnobotânicas, buscando<br />

contribuir com a verificação da sua eficácia, <strong>em</strong> conjunto com a <strong>de</strong>terminação da<br />

toxicida<strong>de</strong> e do estudo dos mecanismos <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>stes produtos.<br />

AULA PRÁTICA<br />

Mo<strong>de</strong>los experimentais <strong>em</strong> farmacologia cardiovascular: Efeito do<br />

composto XY (produto natural) sobre a pressão arterial <strong>de</strong> ratos<br />

anestesiados<br />

Material: pinças, tesouras, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> pressão arterial, cateteres,<br />

cânulas, seringas, agulhas, pipetas <strong>de</strong> precisão e bomba <strong>de</strong> infusão.<br />

Sais e drogas: heparina, solução salina isotônica, acetilcolina, composto XY, N-<br />

ω-Nitro-L-Arginina Metil Ester (L-NAME).<br />

Animais: 02 ratos Wistar, machos, peso entre 250-300 gramas.<br />

Procedimento para o registro direto da pressão arterial <strong>em</strong> ratos<br />

anestesiados.<br />

Os animais <strong>de</strong>verão ser anestesiados e permanecer sob anestesia<br />

profunda durante todo o período <strong>de</strong> experimentação. Para isso, será utilizada a<br />

mistura <strong>de</strong> cetamina (100 mg/kg) e xilazina (20 mg/kg), administrada pela via<br />

intramuscular e supl<strong>em</strong>entada a intervalos <strong>de</strong> 45–60 minutos, se necessário pela<br />

via intramuscular, intraperitoneal ou intravenosa. Uma vez anestesiados os<br />

animais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser fixados <strong>em</strong> <strong>de</strong>cúbito dorsal. Em todos os protocolos, a veia<br />

f<strong>em</strong>oral esquerda será localizada e dissecada para inserção <strong>de</strong> uma agulha<br />

41


conectada a um cateter <strong>de</strong> polietileno (PE20). Imediatamente após a canulação<br />

da veia f<strong>em</strong>oral, 0,1 mL <strong>de</strong> heparina sódica diluída <strong>em</strong> 100 mL <strong>de</strong> solução salina<br />

isotônica, será injetada pela via intravenosa (300 uL) para prevenir a formação <strong>de</strong><br />

coágulos e a obstrução das cânulas. A canulação da veia f<strong>em</strong>oral também se<br />

<strong>de</strong>stina à administração das drogas a ser<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregadas neste estudo. Todos os<br />

animais serão submetidos à traqueostomia e mantidos sob respiração<br />

espontânea. A artéria carótida esquerda <strong>de</strong> cada animal será localizada e<br />

cuidadosamente isolada do nervo vago e tecidos adjacentes. Com auxílio <strong>de</strong> linha<br />

<strong>de</strong> sutura, o fluxo sangüíneo da artéria carótida será interrompido na altura <strong>de</strong> sua<br />

extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> distal, enquanto o fluxo <strong>em</strong> sua extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> proximal será<br />

t<strong>em</strong>porariamente suprimido pela compressão com uma pinça curva. Utilizando-se<br />

uma tesoura oftalmológica, um pequeno corte será realizado na região medial da<br />

porção da artéria carótida clampeada, servindo como via para inserção <strong>de</strong> um<br />

catéter <strong>de</strong> polietileno (PE 20), <strong>de</strong>vidamente heparinizado, que será firm<strong>em</strong>ente<br />

conectado à artéria e conectado ao transdutor <strong>de</strong> pressão interligado ao polígrafo<br />

computadorizado da ADI instruments para a mensuração continua da pressão<br />

arterial.<br />

Após a preparação dos animais, conforme <strong>de</strong>scrito anteriormente, e a<br />

primeira parte do protocolo experimental finalizada (it<strong>em</strong> a), a veia f<strong>em</strong>oral contra-<br />

lateral àquela utilizada para a administração <strong>em</strong> bolus será igualmente canulada e<br />

conectada a uma bomba <strong>de</strong> infusão contínua. Os animais receberão infusão<br />

contínua com L-NAME; 7 mg/kg/min (correspon<strong>de</strong>nte a 10 µl/min) até elevação e<br />

estabilização da pressão (it<strong>em</strong> b). Após esse período serão administradas, as<br />

substâncias <strong>em</strong> teste (it<strong>em</strong> c).<br />

Os registros serão obtidos por meio <strong>de</strong> transdutores <strong>de</strong> pressão acoplados<br />

a um amplificador <strong>de</strong> sinais (Mo<strong>de</strong>lo ML 130, MacLab ADI19 Instruments, EUA)<br />

conectados a um computador Macintosh contendo um software específico <strong>de</strong><br />

integração (Chart v4.0, PowerLab/MacLab, ADI Instruments,EUA).<br />

42


Observação: Após a canulação, os animais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter a pressão arterial<br />

registrada por pelo menos 15 minutos antes da administração <strong>de</strong> qualquer<br />

substância. Ao final dos experimentos, todos os animais serão sacrificados<br />

através <strong>de</strong> uma overdose <strong>de</strong> tiopental (superior a 40 mg/Kg, i.v.).<br />

Animal 1:<br />

a. Administrar acetilcolina (10 nmol/kg, i.v.)<br />

b. Administrar L-NAME (infusão 7 mg/kg/min, i.v.)<br />

c. Administrar acetilcolina (10 nmol/kg, i.v.)<br />

Animal 2:<br />

a. Administrar composto XY (30 mg/kg, i.v.)<br />

b. Administrar L-NAME (infusão 7 mg/kg/min, i.v.)<br />

c. Administrar composto XY (30 mg/kg, i.v.)<br />

Bibliografia:<br />

BRUNTON L. L., LAZO J.S., PARKER K.L. Goodman & Gilman. As bases<br />

farmacológicas da terapêutica. 11ª edição. Editora Mc Graw Hill, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

2006.<br />

GUYTON, A.C., HALL, J.E. Tratado <strong>de</strong> Fisiologia Médica. Elsevier, 11ª edição.<br />

2006.<br />

RANG, H.P.; DALE, M.M.; TITTER, J. M. Farmacologia. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Guanabara Koogan, 2007.<br />

VI Diretrizes Brasileiras <strong>de</strong> Hipertensão - Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hipertensão,<br />

2010.<br />

43


SISTEMA NERVOSO CENTRAL<br />

DOENÇA DE PARKINSON<br />

Janaína Barbiero<br />

Ronise Martins Santiago<br />

A doença <strong>de</strong> Parkinson (DP) é o segundo distúrbio neuro<strong>de</strong>generativo mais<br />

comum <strong>de</strong>pois da doença <strong>de</strong> Alzheimer com elevada prevalência nas últimas<br />

décadas <strong>de</strong> vida. Em 1817, o médico inglês James Parkinson <strong>de</strong>screveu a DP <strong>em</strong><br />

um ensaio que ele <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> “Ensaio da paralisia agitante” que mais tar<strong>de</strong><br />

recebeu seu nome. O início da doença manifesta-se <strong>em</strong> média aos 55 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> e a sua incidência aumenta marcadamente com o envelhecimento e ainda,<br />

é aproximadamente 1.5 vezes maior no hom<strong>em</strong> que nas mulheres <strong>em</strong> todas as<br />

ida<strong>de</strong>s. Há quatro classificações <strong>de</strong> parkinsonismo: 1) parkinsonismo primário (DP<br />

idiopática), que é a forma mais comum <strong>de</strong> parkinsonismo; 2) parkinsonismo<br />

secundário, causado por drogas indutoras <strong>de</strong> parkinsonismo, como por ex<strong>em</strong>plo,<br />

antagonistas dopaminérgicos, e pós-encefalite; 3) parkinsonismo associado a<br />

outros distúrbios neurológicos como, por ex<strong>em</strong>plo, paralisia supraventricular<br />

progressiva e atrofia <strong>de</strong> múltiplos sist<strong>em</strong>as; 4) distúrbios neuro<strong>de</strong>generativos que<br />

apresentam o parkinsonismo como uma <strong>de</strong> suas características, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

doença <strong>de</strong> Huntington e doença <strong>de</strong> Wilson. A causa da DP idiopática ainda é<br />

<strong>de</strong>sconhecida, mas sabe-se que diversos fatores estão envolvidos, tais como o<br />

estresse oxidativo, erros no enovelamento <strong>de</strong> proteínas como a parkina, ubiquitina<br />

e a-sinucleína, neuroinflamação, envelhecimento, fatores genéticos, <strong>de</strong>ntre<br />

outros.<br />

1. Sinais e Sintomas da Doença <strong>de</strong> Parkinson<br />

44


São observados na DP sinais característicos conhecidos como “sinais<br />

cardinais” da doença. Estes sinais resum<strong>em</strong>-se principalmente <strong>em</strong> tr<strong>em</strong>ores <strong>em</strong><br />

repouso, instabilida<strong>de</strong> postural, bradicinesia e rigi<strong>de</strong>z, todos confluindo para uma<br />

severa alteração na marcha do paciente. O tr<strong>em</strong>or parkinsoniano é o sintoma<br />

inicial <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 60-70% dos pacientes, sendo a característica mais evi<strong>de</strong>nte<br />

da DP, <strong>em</strong>bora não seja necessariamente a mais incapacitante, uma vez que<br />

po<strong>de</strong> ser suprimido pela execução <strong>de</strong> movimentos voluntários e reduzido com o<br />

uso <strong>de</strong> anticolinérgicos. Pacientes com DP também apresentam dificulda<strong>de</strong>s na<br />

programação e execução <strong>de</strong> movimentos, e <strong>em</strong> estágio mais avançado exib<strong>em</strong><br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> iniciar movimentos. Da mesma forma, o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong>sses<br />

pacientes <strong>em</strong> tarefas que requer<strong>em</strong> a realização <strong>de</strong> movimentos seqüenciais e<br />

simultâneos é prejudicado.<br />

A rigi<strong>de</strong>z muscular po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como um aumento da resistência da<br />

articulação durante um movimento passivo e frequent<strong>em</strong>ente é relatada pelos<br />

pacientes como “sensação <strong>de</strong> dureza” e capacida<strong>de</strong> reduzida <strong>de</strong> relaxar os<br />

músculos dos m<strong>em</strong>bros. A instabilida<strong>de</strong> postural é um sintoma comum da DP e<br />

compromete a capacida<strong>de</strong> do paciente <strong>de</strong> manter o equilíbrio durante as tarefas<br />

diárias, tais como levantar, andar e curvar-se, aumentando o risco <strong>de</strong> quedas do<br />

paciente (MORRIS, 2000).<br />

Além dos prejuízos motores, pacientes com DP apresentam outros<br />

sintomas como ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pressão, distúrbios do sono, fadiga, constipação,<br />

distúrbio olfatório e <strong>de</strong>clínio cognitivo (FAHN e SULZER, 2004; YANAGISAWA,<br />

2006; ZIEMSSEN e REICHMANN, 2007). É importante salientar que atualmente a<br />

literatura mostra que gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sses sinais e sintomas não-motores<br />

possu<strong>em</strong> um peso quase igual aos sinais e sintomas motores no que diz respeito<br />

à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida do paciente. Diante disso, inúmeros estudos têm voltado suas<br />

atenções no intuito <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as relações entre os aspectos motores e não-<br />

motores assim como os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> neurotransmissão responsáveis pela<br />

regulação <strong>de</strong>ssas funções, então comprometidas pela doença.<br />

45


2. Fisiopatologia da Doença <strong>de</strong> Parkinson<br />

A DP consiste <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>generação progressiva <strong>de</strong> neurônios<br />

dopaminérgicos que apresentam seus corpos celulares na substância negra pars<br />

compacta (SNpc) e projetam seus axônios <strong>em</strong> direção ao estriado dorsal.<br />

Acredita-se que a redução nos níveis <strong>de</strong> dopamina estriatais seja a principal<br />

responsável pelas alterações motoras oriundas da neuro<strong>de</strong>generação da SNpc.<br />

Embora essa teoria explique a ocorrência das alterações motoras, ela v<strong>em</strong><br />

sendo questionada por inúmeros pesquisadores que t<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrado que há<br />

morte <strong>de</strong> neurônios <strong>em</strong> outras regiões não-dopaminérgicas que antece<strong>de</strong>m os<br />

acontecimentos nigrais. Em resumo, neurônios noradrenérgicos do lócus<br />

coeruleus, colinérgicos do tronco encefálico, serotoninérgicos dos núcleos da rafe,<br />

glutamatérgicos do córtex entorrinal e da formação hipocampal, morr<strong>em</strong> antes dos<br />

neurônios dopaminérgicos da SNpc. A partir <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>scobertas recentes têm-se<br />

postulado a ocorrência <strong>de</strong> diferentes estágios (seis no total) para a DP, sendo que<br />

durante os três primeiros observam-se apenas alterações não-motoras, e apenas<br />

nos três últimos estágios (a neuro<strong>de</strong>generação da SNpc apenas no quarto<br />

estágio) <strong>de</strong>tectam-se os sinais e sintomas motores clássicos (BRAAK ET AL.,<br />

2003).<br />

3. Mo<strong>de</strong>los Animais da Doença <strong>de</strong> Parkinson<br />

Exist<strong>em</strong> diversos mo<strong>de</strong>los animais para o estudo da DP, <strong>de</strong>ntre eles estão<br />

o mo<strong>de</strong>lo da 6-OHDA, MPTP, rotenona, paraquat, LPS e reserpina. Além <strong>de</strong>sses<br />

mo<strong>de</strong>los farmacológicos, há também mo<strong>de</strong>los que utilizam animais transgênicos,<br />

como por ex<strong>em</strong>plo, animais nocaute para o transportador <strong>de</strong> dopamina. Tais<br />

mo<strong>de</strong>los são bastante importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos agentes<br />

antiparkinsonianos, mas também como ferramenta na elucidação da patogênese<br />

da DP.<br />

AULA PRÁTICA<br />

CIRURGIA ESTEREOTÁXICA: infusão <strong>de</strong> toxinas na SNpc <strong>de</strong> ratos<br />

46


A cirurgia estereotáxica é um procedimento eficaz para atingir,<br />

precisamente, áreas individualizadas do encéfalo com menor lesão possível <strong>de</strong><br />

estruturas adjacentes. Esta manobra também é utilizada para a introdução <strong>de</strong><br />

cânulas guia para que posteriormente, ocorra a aplicação rápida e/ou<br />

repetidamente <strong>de</strong> microquantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> drogas diretamente na estrutura <strong>de</strong>sejada.<br />

O aparelho estereotáxico é composto basicamente por barras ajustáveis as<br />

quais irão formar um conjunto que irá fixar a cabeça do rato. A barra esquerda ou<br />

direita inicialmente é mantida fixa, sendo posicionada no conduto auditivo externo<br />

com cautela. Em seguida, a barra que ficou móvel é posicionada na mesma<br />

região da orelha direita/esquerda, fixando completamente a cabeça do animal.<br />

Para a fixação da barra dos incisivos, é necessário abrir a boca do animal,<br />

inserindo a barra e fixando o focinho. A assepsia po<strong>de</strong> ser feita após a cabeça<br />

estar <strong>de</strong>vidamente presa.<br />

O aparelho estereotáxico possui também uma torre capaz <strong>de</strong> locomover-se<br />

sobre um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas tridimensionais e alcançar qualquer ponto do<br />

encéfalo, alvo da cirurgia, com a precisão <strong>de</strong> décimos <strong>de</strong> milímetros. Nesta torre é<br />

acoplada a cânula que será introduzida.<br />

Animais: ratos Wistar machos, peso entre 280 - 320 g<br />

Material: luvas cirúrgicas; seringas; agulhas; papel-toalha; pinça anatômica; pinça<br />

h<strong>em</strong>ostática; tesoura cirúrgica; agulha e linha <strong>de</strong> sutura; bisturi; cotonetes;<br />

equipamento com broca <strong>de</strong> baixa rotação; bomba <strong>de</strong> infusão; microsseringa<br />

(Hamilton); tubo <strong>de</strong> polietileno + agulha 30 gauge (agulha gengival); aparelho<br />

estereotáxico (Kopf).<br />

Drogas e Soluções: solução salina estéril; água <strong>de</strong>stilada; equitesin (45,7 ml<br />

água <strong>de</strong>stilada; 4,25g hidrato <strong>de</strong> cloral; 2,13g <strong>de</strong> sulfato <strong>de</strong> magnésio; 11,5 ml <strong>de</strong><br />

47


álcool; 0,972 g tiopental e 42,8 ml propilenoglicol); toxina: MPTP (Sigma)<br />

dissolvido <strong>em</strong> solução salina na concentração <strong>de</strong> 100 mg/ml.<br />

Procedimento<br />

Os animais, antes da cirurgia, <strong>de</strong>verão ser mantidos <strong>em</strong> uma sala com<br />

umida<strong>de</strong> e t<strong>em</strong>peratura controladas (22 ± 2°C), <strong>em</strong> um ciclo <strong>de</strong> claro-escuro <strong>de</strong><br />

12h (7:00-19:00 h). Água e comida são fornecidas à vonta<strong>de</strong> aos animais durante<br />

todos os experimentos. Os procedimentos utilizados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar <strong>de</strong> acordo com<br />

as normas do CEEA (Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Experimentação Animal) da UFPR.<br />

Todos os cuidados são tomados no intuito <strong>de</strong> minimizar o número <strong>de</strong> animais<br />

utilizados ao longo dos experimentos s<strong>em</strong>, no entanto, comprometer a análise<br />

estatística dos resultados. Além disso, esforços máximos são tomados no intuito<br />

<strong>de</strong> reduzir eventuais <strong>de</strong>sconfortos causados aos animais durante os<br />

experimentos. Tais preocupações se a<strong>de</strong>quam às mo<strong>de</strong>rnas práticas bioéticas <strong>de</strong><br />

experimentação animal que visam o b<strong>em</strong>-estar animal levando <strong>em</strong> conta três<br />

metas principais: redução, r<strong>em</strong>anejamento e refinamento.<br />

Previamente à cirurgia, os animais são anestesiados. Os animais do grupo<br />

que receb<strong>em</strong> a toxina e grupo sham são colocados <strong>em</strong> um aparelho estereotáxico<br />

(David Kopf, mo<strong>de</strong>lo 957L). A <strong>de</strong>sinfecção do local da incisão po<strong>de</strong> ser feita com<br />

solução <strong>de</strong> álcool iodado. Em seguida aplica-se anestésico local (lidocaína 0,2 mL<br />

com 2% <strong>de</strong> vasoconstritor) via s.c. na <strong>de</strong>rme que recobre o crânio dos ratos. Com<br />

auxílio <strong>de</strong> um bisturi, os músculos do crânio são afastados para a exposição dos<br />

ossos da caixa craniana. As coor<strong>de</strong>nadas são <strong>de</strong>terminadas a partir do bregma: -<br />

5,0 mm do bregma; latero-lateral (LL) ± 2,1 mm da linha média; dorsoventral (DV),<br />

- 8,0 mm do crânio (Paxinos e Watson, 2005), e <strong>em</strong> seguida são feitas<br />

perfurações no crânio dos animais com uma broca <strong>de</strong> baixa rotação, permitindo a<br />

microinfusão bilateral da toxina (MPTP), na dose <strong>de</strong> 0,33 µL/min por 3 minutos<br />

(totalizando 1µL), diretamente na SN. A microinfusão das toxinas é realizada com<br />

o auxílio <strong>de</strong> uma agulha (30 gauge) conectada a um tubo <strong>de</strong> polietileno adaptado<br />

48


a uma micro-seringa <strong>de</strong> 10 ml (Hamilton, EUA) que, por sua vez, é encaixada na<br />

bomba <strong>de</strong> infusão (<strong>Insight</strong>, EUA). Seguida à infusão das toxinas (3 minutos), a<br />

agulha <strong>de</strong>ve permanecer no local por mais 2 minutos para evitar o refluxo da<br />

substância. A seguir, o escalpo é suturado e os animais são retirados do<br />

estereotáxico e colocados <strong>em</strong> caixas individuais com ambiente aquecido para<br />

recuperação da anestesia e posteriormente são encaminhados à sala <strong>de</strong><br />

manutenção dos animais.<br />

Outro grupo, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> grupo sham, é submetido ao mesmo<br />

procedimento cirúrgico, entretanto, não recebe a infusão <strong>de</strong> nenhuma toxina,<br />

sendo infundida somente salina nas mesmas coor<strong>de</strong>nadas estereotáxicas.<br />

Referências<br />

BRAAK H, DEL TREDICI K, RUB U, DE VOS R A, JANSEN STEUR E N and<br />

BRAAK E. Staging of brain pathology related to sporadic Parkinson´s<br />

disease. Neurobiol Aging 24: 197-211.<br />

DAUER, W.; PRZEDBORSKI, S. Parkinson’s disease: Mechanisms and<br />

mo<strong>de</strong>ls. Neuron 39: 889-909, 2003.<br />

DUNNET, S.B.; BJÖRKLUND, A. Prospects for new restorative and<br />

neuroprotective treatments in Parkinson’s disease. Nature 399:A32-A39, 1999.<br />

EMERIT, J.; EDEAS, M.; BRICAIRE, F. Neuro<strong>de</strong>generative diseases and<br />

oxidative stress. Biomedicine & Pharmacotherapy 58(1): 39-46, 2004.<br />

FAHN, S.; SULZER, D. Neuro<strong>de</strong>generation and neuroprotection in Parkinson<br />

disease. NeuroRX: The journal of the American Socity for Experimental<br />

NeuroTherapeutics 1: 139-154, 2004<br />

PRZEDBORSKI, S. Pathogenesis of nigral cell <strong>de</strong>ath in Parkinson’s disease.<br />

Parkinsonism and Related Disor<strong>de</strong>rs 11: S3-S7, 2005.<br />

49


O que é M<strong>em</strong>ória?<br />

APRENDIZAGEM E MEMÓRIA<br />

Léa Chioca<br />

Lucélia Men<strong>de</strong>s dos Santos<br />

Patrícia Andréia Dombrowski<br />

Por que você se l<strong>em</strong>bra <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado episódio que ocorreu na sua<br />

infância? Você é capaz <strong>de</strong> citar cinco nomes <strong>de</strong> estados do Brasil? Imagine a<br />

seguinte situação: você <strong>de</strong>veria ter preparado um s<strong>em</strong>inário para apresentar<br />

numa aula <strong>de</strong> Fisiologia. O professor iria sortear o nome <strong>de</strong> um dos alunos para<br />

apresentar e você, acreditando que a chance <strong>de</strong> ser chamado era mínima, não se<br />

preparou, sequer estudou. No entanto, você foi o sorteado. Qual seria a sua<br />

reação? Por outro lado, se você tivesse estudado, sua reação seria outra? Por<br />

quê?<br />

Nossa reação frente a <strong>de</strong>terminadas situações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> daquilo que<br />

apren<strong>de</strong>mos no <strong>de</strong>correr da vida. Adquirir informações codificá-las, conservá-las e<br />

po<strong>de</strong>r evocá-las são processos que faz<strong>em</strong> parte do que chamamos <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória.<br />

Por isso, os mecanismos mais importantes através dos quais o ambiente altera o<br />

comportamento são a aprendizag<strong>em</strong> e a m<strong>em</strong>ória.<br />

Tipos <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

Se alguém lhe pedir para fazer uma ligação telefônica, você consegue<br />

discar o número logo após <strong>de</strong> tê-lo lido num papel. Algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois, você<br />

po<strong>de</strong>rá não se l<strong>em</strong>brar mais do número. Isso é normal porque existe a m<strong>em</strong>ória<br />

<strong>de</strong> trabalho, pois ela dura o t<strong>em</strong>po suficiente para o seu cérebro “trabalhar” a<br />

informação (o número discado). Dificilmente essa m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> trabalho dura mais<br />

que dois minutos ou arquiva mais que sete dígitos. O cérebro forma também<br />

m<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> curta duração <strong>de</strong> maior capacida<strong>de</strong> e que po<strong>de</strong>m durar <strong>de</strong> horas a<br />

um par <strong>de</strong> dias. Sua função é nos dar acesso a essa infomação até que uma<br />

m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> longa duração possa ser consolidada. Esse processo <strong>de</strong><br />

50


consolidação po<strong>de</strong> durar <strong>de</strong> dias a meses e essas m<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> longa duração<br />

po<strong>de</strong>m durar para o resto da vida. Os mecanismos que envolv<strong>em</strong> a formação <strong>de</strong><br />

ambos os tipos <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória são diferentes, mas po<strong>de</strong>m envolver as mesmas<br />

estruturas cerebrais.<br />

Quando você citou cinco estados do Brasil, foi preciso que você<br />

recordasse algo que apren<strong>de</strong>u. E você po<strong>de</strong>ria se l<strong>em</strong>brar do momento <strong>em</strong> que<br />

apren<strong>de</strong>u isso? On<strong>de</strong> você estava? Em que época foi? L<strong>em</strong>brar-se <strong>de</strong> algum<br />

conhecimento geral (s<strong>em</strong>ântico) ou <strong>de</strong> algum episódio implica um tipo <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

a qual chamamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarativa (ou explícita). A m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong>clarativa é aquela<br />

que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>clarar que sab<strong>em</strong>os e ela po<strong>de</strong> ser classificada como s<strong>em</strong>ântica,<br />

como no primeiro ex<strong>em</strong>plo, ou episódica, como a l<strong>em</strong>brança do momento <strong>em</strong> que<br />

se <strong>de</strong>u o aprendizado. É o saber que algo é assim ou aconteceu assim. Ao<br />

conhecimento <strong>de</strong> saber como fazer alguma coisa chamamos <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória não-<br />

<strong>de</strong>clarativa (ou implícita). Via <strong>de</strong> regra, precisamos executar um procedimento<br />

para mostrar que o sab<strong>em</strong>os, por isso esse tipo <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória é também chamada<br />

<strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> procedimentos. Exist<strong>em</strong> várias categorias <strong>de</strong> m<strong>em</strong>órias não-<br />

<strong>de</strong>clarativas, <strong>de</strong>ntre elas as habilida<strong>de</strong>s e os hábitos, como ex<strong>em</strong>plo dirigir um<br />

automóvel,dançar, andar <strong>de</strong> bicicleta, falar inglês).<br />

Consolidação da M<strong>em</strong>ória<br />

A consolidação <strong>de</strong> uma m<strong>em</strong>ória envolve vários processos neuroquímicos<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas estruturas encefálicas. Durante esses processos, po<strong>de</strong> haver a<br />

interferência <strong>de</strong> agentes (drogas) ou um traumatismo craniano, qualquer dano que<br />

atinja uma estrutura envolvida na consolidação, <strong>de</strong> forma a prejudicar a<br />

consolidação da m<strong>em</strong>ória. A m<strong>em</strong>ória vai se formando à medida que se excitam<br />

neurônios que são <strong>de</strong>spolarizados ao mesmo t<strong>em</strong>po. Nessas circunstâncias, a<br />

facilida<strong>de</strong> com que um <strong>de</strong>sses neurônios po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spolarizar os outros aumenta.<br />

Os mecanismos conhecidos que po<strong>de</strong>m produzir este tipo <strong>de</strong> plasticida<strong>de</strong><br />

sináptica são chamados <strong>de</strong> potenciação <strong>de</strong> longa duração, ou LTP, do inglês, long<br />

term potentiation. Na maioria dos casos <strong>de</strong> LTP estudados, os neureceptores para<br />

51


o neurotransmissor glutamato estão envolvidos. Com a repetida estimulação, a<br />

m<strong>em</strong>brana dos neurônios permanece <strong>de</strong>spolarizada. Em resposta a essa<br />

<strong>de</strong>spolarização, entra sódio na célula via receptor AMPA. O receptor<br />

glutamatérgico do tipo NMDA abre-se (é <strong>de</strong>sbloqueado pela r<strong>em</strong>oção do íon<br />

magnésio) e permite a entrada dos íons cálcio. A partir daí, uma série <strong>de</strong> eventos<br />

ocorre, levando à fosforilação e produção <strong>de</strong> proteínas nessas sinapses. Essas<br />

proteínas irão alterar as proprieda<strong>de</strong>s das m<strong>em</strong>branas pré- e pós-sinápticas<br />

causando, assim, a potenciação da neurotransmissão glutamatérgica. Por esse<br />

fenômeno, muitas vezes, há um aumento no número <strong>de</strong> sinapses quando<br />

apren<strong>de</strong>mos algo. Em outras palavras, a LTP é uma forma <strong>de</strong> modificação<br />

sináptica persistente e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> ser induzida por<br />

estimulação breve e <strong>de</strong> alta freqüência dos neurônios. Em <strong>de</strong>terminadas<br />

circunstâncias, po<strong>de</strong> ocorrer uma diminuição da eficácia sináptica. Esse é um<br />

processo chamado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong> longa duração, ou LTD, do inglês long term<br />

<strong>de</strong>pretion.<br />

Estruturas envolvidas na formação e armazenamento da m<strong>em</strong>ória<br />

Conforme o tipo <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória, alguma(s) estrutura(s) está(ão) envolvida(s).<br />

Assim, com a m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> trabalho, o córtex pré-frontal estará envolvido. As<br />

m<strong>em</strong>órias <strong>de</strong>clarativas são formadas <strong>em</strong> áreas do lobo t<strong>em</strong>poral tais como o<br />

hipocampo e o córtex entorrinal. Já nas não-<strong>de</strong>clarativas o estriado e o cerebelo<br />

estão envolvidos. Como os neurônios comunicam-se entre as várias áreas<br />

cerebrais, há a influência <strong>de</strong> estruturas que acabam modulando a formação e o<br />

armazenamento <strong>de</strong> um ou outro tipo <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória. Os estados <strong>de</strong> ânimo, as<br />

<strong>em</strong>oções o nível <strong>de</strong> alerta, a ansieda<strong>de</strong> e o estresse são fatores que afetam as<br />

m<strong>em</strong>órias.<br />

Qualquer falha que ocorra na transmissão <strong>de</strong> informações irá afetar a<br />

formação da m<strong>em</strong>ória. Há casos <strong>de</strong> doenças neuro<strong>de</strong>generativas, como a doença<br />

<strong>de</strong> Alzheimer, a DP e outras patologias, b<strong>em</strong> como lesões, que po<strong>de</strong>m levar a<br />

prejuízos cognitivos.<br />

52


Princípio<br />

AULA PRÁTICA<br />

Esquiva Ativa <strong>de</strong> Duas Vias<br />

A esquiva ativa <strong>de</strong> duas vias consiste <strong>em</strong> um aparato com gra<strong>de</strong><br />

eletrificada e uma divisão entre dois lados da caixa. Nesta tarefa, o animal <strong>de</strong>ve<br />

associar um estímulo sonoro ou luminoso (estímulo condicionado) com um<br />

choque (estímulo incondicionado). Ao ouvir o som o animal po<strong>de</strong> escapar do<br />

choque ao atravessar para o outro compartimento, sendo este comportamento<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> esquiva. O comportamento <strong>de</strong> fuga é a passag<strong>em</strong> para o outro<br />

compartimento enquanto o animal recebe o choque nas patas. A não resposta<br />

caracteriza-se pelo animal permanecer no mesmo compartimento enquanto<br />

recebe o choque.<br />

Esqu<strong>em</strong>a do treinamento<br />

Cada sessão <strong>de</strong> treinamento consiste <strong>em</strong> 10 minutos <strong>de</strong> habituação<br />

seguidos <strong>de</strong> 50 pistas sonoras (1,5 KHz, 60db, duração máxima <strong>de</strong> 10 segundos)<br />

pareadas com um choque nas patas 5 segundos após o início do estímulo sonoro<br />

(0,5 mA, duração máxima <strong>de</strong> 5 segundos). Caso o animal atravesse para o<br />

compartimento <strong>em</strong> menos <strong>de</strong> 5 segundos, ele evita o choque e o som cessa, caso<br />

atravesse entre 5 e 10 segundos após o início do som, o choque cessa.<br />

Verificação do aprendizado<br />

Um rato Wistar será previamente treinado um dia antes da aula prática e<br />

durante a mesma. Ou rato será treinado apenas durante a aula prática. Os<br />

resultados <strong>de</strong> ambos serão comparados e discutidos com base na linha <strong>de</strong><br />

pesquisa do laboratório.<br />

53


Referências<br />

IZQUIERDO, I. M<strong>em</strong>ória. Artmed. Porto Alegre, 2002.<br />

SQUIRE, L.R. & KANDEL, E.R. M<strong>em</strong>ória: da mente às moléculas. Artmed.<br />

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54


TRANSTORNOS DE HUMOR E DE ANSIEDADE<br />

Léa Chioca<br />

Marcela Pereira<br />

Bruno Jacson Martynhak<br />

Rodrigo Batista <strong>de</strong> Almeida<br />

Ansieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pressão são transtornos mentais diagnosticados pelo DSM-<br />

IV <strong>em</strong> categorias distintas. A comorbida<strong>de</strong> entre ambas as condições é elevada e<br />

exist<strong>em</strong> similarida<strong>de</strong>s com relação ao tratamento. Dessa forma, po<strong>de</strong>-se pensar<br />

que uma alteração neurobiológica po<strong>de</strong>ria provocar, <strong>em</strong> diferentes circuitos<br />

neuroniais, diferentes características patológicas.<br />

A seguir, serão apresentados <strong>de</strong> forma separada e mais didática a<br />

<strong>de</strong>pressão unipolar, o transtorno bipolar e os transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>.<br />

1. TRANSTORNOS DE HUMOR<br />

Os transtornos <strong>de</strong> humor po<strong>de</strong>m ser basicamente divididos <strong>em</strong> <strong>de</strong>pressão<br />

unipolar e transtorno bipolar. No transtorno bipolar ocorre a alternância entre<br />

estados <strong>de</strong>pressivos com estados <strong>de</strong> mania.<br />

1.1 Depressão Maior<br />

A <strong>de</strong>pressão é uma síndrome caracterizada basicamente pelo déficit <strong>de</strong><br />

humor. Entretanto, um diagnóstico preciso necessita preencher outros sintomas<br />

que perdur<strong>em</strong> por pelo menos duas s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> modo ininterrupto, sendo<br />

necessário para o diagnóstico o humor <strong>de</strong>primido ou também a perda do<br />

prazer/motivação. Os sintomas que geralmente acompanham o déficit <strong>de</strong> humor<br />

são ganho ou perda <strong>de</strong> peso, alterações no sono e na ativida<strong>de</strong> motora, sensação<br />

55


<strong>de</strong> perda <strong>de</strong> energia, alterações cognitivas, sentimentos <strong>de</strong> culpa, <strong>de</strong>svalia e até<br />

i<strong>de</strong>ação suicida.<br />

A prevalência da <strong>de</strong>pressão é <strong>de</strong> 21% na população geral (WONG &<br />

LICINIO, 2001) e dados da Organização Mundial da Saú<strong>de</strong> (OMS) estimam que a<br />

<strong>de</strong>pressão será a doença incapacitante mais comum <strong>em</strong> 2020.<br />

1.1.2. Neurobiologia da Depressão<br />

A primeira teoria sobre a etiologia biológica da <strong>de</strong>pressão enten<strong>de</strong> a causa<br />

como uma <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> neurotransmissores monoaminérgicos, principalmente<br />

noradrenalina (NA) e serotonina (5-HT) (SHAFFERY et al., 2003; KALIA, 2005).<br />

As evidências para tal hipótese foram o fato <strong>de</strong> que fármacos que <strong>de</strong>pletavam<br />

esses neurotransmissores po<strong>de</strong>riam induzir <strong>de</strong>pressão, além <strong>de</strong> os<br />

anti<strong>de</strong>pressivos conhecidos na época (ADTs e IMAO) ter<strong>em</strong> ações farmacológicas<br />

que potencializavam tais neurotransmissores (NESTLER, 2002).<br />

Entretanto, há várias evidências contra a hipótese <strong>de</strong> déficit<br />

monoaminérgico e, talvez, a evidência crucial seja o fato <strong>de</strong> que o t<strong>em</strong>po para os<br />

anti<strong>de</strong>pressivos regularizar<strong>em</strong> os níveis das monoaminas cerebrais é muito<br />

diferente do t<strong>em</strong>po para os efeitos anti<strong>de</strong>pressivos sobre o humor. Em outras<br />

palavras, um anti<strong>de</strong>pressivo normaliza as concentrações dos neurotransmissores<br />

diminuídos na <strong>de</strong>pressão <strong>em</strong> questão <strong>de</strong> horas, mas a melhora clínica (melhora<br />

do humor) só ocorre após três a quatro s<strong>em</strong>anas do início do tratamento<br />

(DUMAN, 1997).<br />

Com tantas fragilida<strong>de</strong>s, a hipótese monoaminérgica <strong>de</strong>u lugar a uma série<br />

<strong>de</strong> outras teorias para o entendimento da etiologia da <strong>de</strong>pressão. Em mo<strong>de</strong>los<br />

animais <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão o fator neurotrófico BDNF e o fator <strong>de</strong> transcrição CREB<br />

encontram-se diminuídos no hipocampo e os níveis retornam ao normal ao se<br />

tratar cronicamente os animais com anti<strong>de</strong>pressivos (KRISHNAN & NESTLER,<br />

2008).<br />

Similarmente, o volume e a neurogênese hipocampal encontram-se<br />

reduzidos <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los animais <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e são restaurados com o<br />

56


tratamento. Essas observações auxiliam a explicar o retardo do início da melhora<br />

dos sintomas com o tratamento farmacológico convencional. O aumento dos<br />

níveis <strong>de</strong> monoaminas provocado pelos anti<strong>de</strong>pressivos levaria a alterações<br />

plásticas, que estas sim, seriam responsáveis pela melhora dos sintomas<br />

<strong>de</strong>pressivos (KRISHNAN & NESTLER, 2008).<br />

Dentre outras teorias para a neurobiologia da <strong>de</strong>pressão encontra-se a que<br />

relaciona a patologia com alterações do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA).<br />

Uma evidência para a teoria é o efeito anedônico provocado <strong>em</strong> ratos quando<br />

tratados com corticói<strong>de</strong>s. Visto que eventos estressantes po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o<br />

quadro <strong>de</strong>pressivo e são acompanhados <strong>de</strong> aumento dos níveis <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s, a<br />

indução do quadro <strong>de</strong>pressivo <strong>em</strong> animais sendo provocado diretamente pela<br />

administração <strong>de</strong> corticói<strong>de</strong>s reforça esta teoria.<br />

Como visto anteriormente, alterações do sono constitu<strong>em</strong> um dos sintomas<br />

da <strong>de</strong>pressão. Além do sono, vários outros parâmetros fisiológicos que<br />

apresentam ritimicida<strong>de</strong> circadiana (próximo <strong>de</strong> 24h) estão alterados. Os ritmos<br />

biológicos nos pacientes <strong>de</strong>primidos po<strong>de</strong>m estar <strong>de</strong>slocados para horários mais<br />

tardios ou mais adiantados, levando a horários <strong>de</strong> sono muito tar<strong>de</strong>, à noite, ou<br />

<strong>de</strong>spertares muito cedos, pela manhã. A t<strong>em</strong>peratura corporal pouco diminui à<br />

noite, contribuindo para a insônia. Apesar <strong>de</strong> heterogêneas entre os <strong>de</strong>primidos,<br />

as alterções dos ritmos biológicos compõ<strong>em</strong> uma importante gama <strong>de</strong> sintomas<br />

do quadro e po<strong>de</strong>m estar envolvidos diretamente com o transtorno<br />

(MONTELEONE, 2008). Fármacos anti<strong>de</strong>pressivos têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adiantar<br />

os ritmos circadianos (e.g. iniciar a secreção <strong>de</strong> melatonina noturna mais cedo). O<br />

adiantamento dos ritmos também já <strong>de</strong>monstrou efeito anti<strong>de</strong>pressivo com o uso<br />

da exposição à luz intensa no início da manhã, tanto para a <strong>de</strong>pressão sazonal do<br />

inverno como para a <strong>de</strong>pressão maior.<br />

1.1.3 Tratamento Farmacológico<br />

57


Atualmente, a maioria das drogas anti<strong>de</strong>pressivas atua <strong>de</strong> forma a<br />

aumentar a neurotransmissão monoaminérgica <strong>de</strong> noradrenalina/dopamina e/ou<br />

serotonina, porém apresentam alguns inconvenientes, como:<br />

- levar <strong>de</strong> quatro a seis s<strong>em</strong>anas para produzir melhora clínica (latência<br />

farmacológica), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> sua estrutura química, proprieda<strong>de</strong>s<br />

farmacocinéticas e alvo celulares no encéfalo (ADDEL et. al., 2005);<br />

- apresentar efeitos colaterais diversos como: sedação, retenção urinária,<br />

arritmias cardíacas, hipotensão postural, boca seca (principalmente os<br />

anti<strong>de</strong>pressivos <strong>de</strong> estrutura tricíclica), náuseas, enjôos e disfunção sexual<br />

(principalmente entre os inibidores seletivos da recaptação <strong>de</strong> serotonina).<br />

Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sses efeitos in<strong>de</strong>sejados, pesquisas têm sido realizadas<br />

com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir novos anti<strong>de</strong>pressivos, com uma ação mais rápida e<br />

com baixa incidência <strong>de</strong> efeitos colaterais.<br />

1.1.3.1 Inibidores da Monoaminoxidase (IMAOs)<br />

Os inibidores da monoaminoxidase foram os primeiros anti<strong>de</strong>pressivoss<br />

clinicamente efetivos <strong>de</strong>scobertos (ao acaso).<br />

Há duas isoformas da MAO, a MAO-A, que metaboliza os<br />

neurotransmissores monoaminérgicos mais ligados à <strong>de</strong>pressão, e a MAO-B, que<br />

se acredita que converta alguns substratos das aminas (pró-toxinas) <strong>em</strong> toxinas<br />

que po<strong>de</strong>m danificar os neurônios. A inibição da MAO-A está associada tanto à<br />

ação anti<strong>de</strong>pressiva quanto aos incômodos efeitos colaterais hipertensivos dos<br />

IMAOs, ao passo que a inibição da MAO-B está associada à prevenção dos<br />

processos neuro<strong>de</strong>generativos, como o mal <strong>de</strong> Parkinson. Entre os fármacos<br />

t<strong>em</strong>os a moclob<strong>em</strong>ida, um inibidor reversível da MAO-A.<br />

1.1.3.2 Anti<strong>de</strong>pressivos Tricíclicos (ADT)<br />

O grupo dos ADTs teve sua síntese na época dos primeiros neurolépticos,<br />

como a clorpromazina, quando alguns compostos mostraram-se inúteis no<br />

58


tratamento da esquizofrenia, mas apresentaram efeitos anti<strong>de</strong>pressivos (STAHL,<br />

2002).<br />

Muito t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>scobriu-se que os ADTs bloqueavam as bombas <strong>de</strong><br />

recaptação <strong>de</strong> serotonina (5-HT) e da noradrenalina (NA) e, <strong>em</strong> menor extensão,<br />

da dopamina (DA).<br />

A nomenclatura é <strong>de</strong>rivada da estrutura química contendo três eianeis, mas<br />

se constitui um termo arcaico, pois entre os ADs que bloqueiam a recaptação das<br />

aminas biogênicas n<strong>em</strong> todos são tricíclicos (os novos agentes têm um, dois, três<br />

ou quatro eianeis), b<strong>em</strong> como os ADTs não são apenas anti<strong>de</strong>pressivos, já que<br />

alguns são antiobsessivo-compulsivos ou antipânicos.<br />

Alguns têm seletivida<strong>de</strong>/ mais potência para inibir a bomba <strong>de</strong> recaptação<br />

<strong>de</strong> 5-HT (clomipramina), outros são mais seletivos para a NA (<strong>de</strong>sipramina,<br />

maprotilina, nortriptilina e protriptilina).<br />

Além da ação anti<strong>de</strong>pressiva, possu<strong>em</strong> outros efeitos (responsáveis pelos<br />

efeitos colaterais).<br />

1. bloqueio <strong>de</strong> receptores colinérgicos muscarínicos → boca seca, visão<br />

turva, retenção urinária e constipação intestinal, distúrbios <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória;<br />

tontura;<br />

2. bloqueio <strong>de</strong> receptores <strong>de</strong> histamina H1 → sedação e ganho <strong>de</strong> peso;<br />

3. bloqueio <strong>de</strong> receptores adrenérgicos α1 → hipotensão ortostática e<br />

4. alguns também bloqueiam receptores serotoninérgicos 2A (po<strong>de</strong>m<br />

contribuir com o efeito);<br />

5. bloqueio dos canais <strong>de</strong> sódio no coração e no cérebro → po<strong>de</strong> causar<br />

arritmias e parada cardíaca <strong>em</strong> superdosag<strong>em</strong>, assim como convulsão.<br />

1.1.3.3 Inibidores Seletivos da Recaptação <strong>de</strong> Serotonina (ISRS),<br />

Noradrenalina(ISRN)<br />

59


São os fármacos mais seletivos e mais potentes na inibição da recaptação<br />

<strong>de</strong> 5-HT, além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> mais seguros (alto índice terapêutico) e s<strong>em</strong> os efeitos<br />

colaterais in<strong>de</strong>sejáveis dos ADTs.<br />

O efeito AD é <strong>de</strong>vido à estimulação <strong>de</strong> 5-HT1A, ao passo que a estimulação<br />

<strong>de</strong> 5-HT2A, 5-HT2C, 5-HT3 e 5-HT4 causa os efeitos in<strong>de</strong>sejáveis agudos, tendo<br />

início com a primeira dose e diminuindo com o passar do t<strong>em</strong>po (STAHL, 2002).<br />

citalopram.<br />

Os fármacos representantes são fluoxetina, sertralina, paroxetina,<br />

A reboxetina foi o primeiro verda<strong>de</strong>iramente ISRN (STAHL, 2002). Alguns<br />

tricíclicos (<strong>de</strong>sipramina, maprotilina, p. ex.) bloqueiam a recaptação <strong>de</strong> NA <strong>de</strong><br />

forma mais potente que a recaptação <strong>de</strong> 5-HT, mas também bloqueiam<br />

adrenérgicos 1, receptor histaminérgico H1 e receptor muscarínico.<br />

serotonina.<br />

A venlafaxina inibe a recaptação tanto <strong>de</strong> noradrenalina como <strong>de</strong><br />

1.1.3.4 Agomelatina<br />

A agomelatina é o anti<strong>de</strong>pressivo mais recente com um novo mecanismo<br />

<strong>de</strong> ação. Possui ação agonista nos receptores <strong>de</strong> melatonina MT1 e MT2, b<strong>em</strong><br />

como ação antagonista no receptor 5-HT2C (SOUMIER et al., 2009).<br />

Estudos clínicos comprovaram a eficácia do tratamento e apontaram para<br />

uma menor taxa <strong>de</strong> recaída <strong>em</strong> pacientes tratados com agomelatina <strong>em</strong><br />

comparação com a venlafaxina (GOODWIN et al., 2009).<br />

1.1.3.5 Os Anti<strong>de</strong>pressivos funcionam?<br />

A eficácia do tratamento com inibidores da recaptação <strong>de</strong><br />

monoaminas foi posta <strong>em</strong> cheque ao menos para os casos leves e mo<strong>de</strong>rados <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pressão. Dados indicam que só existe diferença entre os grupos placebo e<br />

tratado nos estudos quando os sujeitos apresentam inicialmente um quadro mais<br />

severo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, como mostrado na figura abaixo: (Kirsch et al., 2008)<br />

60


Figura1 - O Gráfico mostra o grau <strong>de</strong> melhora do quadro <strong>de</strong>pressivo nos grupos placebo e tratado<br />

<strong>em</strong> relação à severida<strong>de</strong> inicial do quadro. Apenas quando a severida<strong>de</strong> inicial é elevada as<br />

diferenças entre os grupos aparec<strong>em</strong> (região pintada entre as duas curvas).<br />

Ainda mais impactante, é uma análise recente, na qual sugere-se que<br />

quando o placebo utilizado no estudo é dito “turbinado” (com efeitos colaterais,<br />

mas s<strong>em</strong> o princípio ativo), as diferenças entre placebo e tratado, mesmo nos<br />

casos graves, <strong>de</strong>saparece.<br />

Po<strong>de</strong>mos ver assim que <strong>em</strong>bora não seja ainda certo afirmar que<br />

“anti<strong>de</strong>pressivos não funcionam”, as controvérsias do tratamento farmacológico<br />

nos incitam as buscar por drogas com mecanismos <strong>de</strong> ação distintos e utilizar<br />

mo<strong>de</strong>los animais que simul<strong>em</strong> melhor o quadro <strong>de</strong>pressivo.<br />

1.1.4 Mo<strong>de</strong>los Animais <strong>de</strong> Depressão<br />

A <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas drogas para o tratamento da <strong>de</strong>pressão t<strong>em</strong> sido<br />

limitada pela falta <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo animal universalmente aceito na triag<strong>em</strong> dos<br />

efeitos anti<strong>de</strong>pressivos. Isso <strong>de</strong>corre da dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> “mo<strong>de</strong>lar” nos animais<br />

alguns componentes comportamentais da <strong>de</strong>pressão nos humanos como humor<br />

<strong>de</strong>primido, pensamentos negativos e <strong>de</strong> suicídio, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Os mo<strong>de</strong>los animais <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão, basicamente, reproduz<strong>em</strong> alguns<br />

traços da <strong>de</strong>pressão num contexto <strong>de</strong> estresse ou separação (WONG & LICINIO,<br />

2004). Algumas das metodologias mais utilizadas são os testes da suspensão<br />

61


pela cauda, teste da natação forçada e teste da preferência por solução <strong>de</strong><br />

sacarose.<br />

No teste da suspensão pela cauda, camundongos ficam suspensos a 50<br />

cm do chão por uma fita fixada a 1 cm a partir da ponta da cauda e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

imobilida<strong>de</strong> durante uma sessão <strong>de</strong> 5 min será registrado (STERU et al., 1985;<br />

BAI et al., 2001; CUNHA et al., 2008; GEHLERT et al., 2009; MASON et al.,<br />

2009). Os animais serão testados individualmente 30 min após a administração<br />

<strong>de</strong> tratamento ou veículo, sendo consi<strong>de</strong>rado imóvel apenas quando permanecer<br />

passivamente suspenso.<br />

Na técnica da natação forçada, os animais são colocados no centro <strong>de</strong> um<br />

cilindro <strong>de</strong> vidro preenchido com água a, aproximadamente, 24 ± 2 ºC, após a<br />

administração da droga ou veículo. O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> nos últimos 4 min, <strong>de</strong><br />

um total 6 min <strong>de</strong> teste, será registrado (PORSOLT et al. 1977; BORSINI & MELI,<br />

1988; SKALISZ et al., 2004). O animal é julgado imóvel quando parar <strong>de</strong> nadar e<br />

executar movimentos mínimos apenas para permanecer flutuando com a cabeça<br />

acima do nível da água. A água é mudada após o teste <strong>de</strong> cada animal, sendo o<br />

mesmo seco e colocado <strong>em</strong> ambiente aquecido. É consi<strong>de</strong>rado efeito<br />

anti<strong>de</strong>pressivo uma redução do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> dose que não aumente<br />

a ativida<strong>de</strong> locomotora (PORSOLT et al. 1977; BORSINI & MELI, 1988). O teste<br />

da natação forçada possui gran<strong>de</strong> valida<strong>de</strong> preditiva, pois consegue <strong>de</strong>tectar<br />

drogas com potencial ação anti<strong>de</strong>pressiva, ainda que acabe por <strong>de</strong>tectar<br />

fármacos com mecanismos <strong>de</strong> ação possivelmente já conhecidos, como os<br />

inibidores da recaptação <strong>de</strong> monoaminas (também chamados <strong>de</strong> drogas “me<br />

too”).<br />

O teste da preferência <strong>de</strong> consumo por solução <strong>de</strong> sacarose explora o<br />

componente da anedonia relacionado com a <strong>de</strong>pressão (MONLEON, 1995). Entre<br />

os pacientes <strong>de</strong>pressivos é muito comum esse sentimento <strong>de</strong> anedonia, <strong>em</strong> que<br />

os indivíduos se mostram <strong>de</strong>sinteressados por ativida<strong>de</strong>s anteriormente<br />

prazerosas. A metodologia do teste é variável, mas consiste basicamente <strong>em</strong><br />

colocar os animais <strong>em</strong> caixas individuais com água e solução <strong>de</strong> sacarose à<br />

62


disposição e medir a preferência por solução doce <strong>em</strong> relação ao total da ingestão<br />

<strong>de</strong> líquido. Animais anedônicos não apresentam preferência por nenhuma das<br />

garrafas, sendo a preferência resgatada por tratamento crônico, mas não agudo,<br />

com anti<strong>de</strong>pressivos. A similarida<strong>de</strong> da latência para o efeito do tratamento e o<br />

componente anedônico a ser comparável ao ser humano tornam o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

preferência por sacarose bastente válido, tanto com relação à face e predição,<br />

quanto com relação ao constructo, que se refere às bases neurobiológicas do<br />

transtorno.<br />

Referências<br />

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1.2 Transtorno Bipolar<br />

Assim como a <strong>de</strong>pressão, a mania também se caracterizada por alterações<br />

no humor, na cognição, na psicomotricida<strong>de</strong> e nas funções vegetativas, porém<br />

com características opostas àquelas alterações observadas na <strong>de</strong>pressão, ou<br />

seja, o paciente apresenta elevação do humor (com características expansivas,<br />

geral e facilmente irritável e <strong>de</strong>sinibido), aceleração da psicomotricida<strong>de</strong>, aumento<br />

<strong>de</strong> energia e da sexualida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za (gran<strong>de</strong> entusiasmo tanto<br />

profissional quanto social), as quais po<strong>de</strong>m ser até <strong>de</strong>lirantes. As formas clínicas<br />

da mania variam <strong>de</strong> acordo com a intensida<strong>de</strong> e o predomínio dos sintomas<br />

afetivos, das alterações psicomotoras e da presença <strong>de</strong> sintomas psicóticos. Em<br />

sua forma clássica, a mania se caracteriza por humor exageradamente expansivo<br />

(chamado <strong>de</strong> elação), aceleração no ritmo do pensamento, agitação psicomotora<br />

e pensamentos <strong>de</strong>lirantes <strong>de</strong> grandiosida<strong>de</strong>, sendo que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da<br />

“gravida<strong>de</strong>” do episódio maníaco, esse po<strong>de</strong> ser confundido com um surto<br />

psicótico, por causa do comportamento <strong>de</strong>lirante do paciente.<br />

No que concerne à cognição, o pensamento durante um quadro maníaco<br />

costuma ser repleto <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, autoconfiança incomodamente<br />

elevada, otimismo exagerado, falta <strong>de</strong> juízo crítico e da inibição social normal.<br />

Porém é importante ressaltar que esta impulsivida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> levar a consequências<br />

<strong>de</strong>sastrosas. Po<strong>de</strong>m existir i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>lirantes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> riqueza e<br />

<strong>de</strong> irreal inteligência. No tipo grave com sintomas psicóticos, a euforia é<br />

acompanhada <strong>de</strong> alucinações, sentimentos <strong>de</strong> influência e <strong>de</strong> inspiração profética,<br />

caracterizando assim o verda<strong>de</strong>iro estado <strong>de</strong> elação. A aceleração do<br />

pensamento produz um dos sintomas mais clássicos da mania que e a “fuga <strong>de</strong><br />

eii<strong>de</strong>ias”, <strong>em</strong> que o paciente começa um assunto novo s<strong>em</strong> terminar o anterior.<br />

Há também uma hipermnésia, com l<strong>em</strong>brança fácil <strong>de</strong> eventos passados, porém,<br />

prejudicado por excesso da distrabilida<strong>de</strong>.<br />

65


Quanto ao quesito psicomotricida<strong>de</strong>, o paciente <strong>em</strong> quadro <strong>de</strong> mania<br />

apresenta-se s<strong>em</strong>pre muito b<strong>em</strong>-disposto e capaz <strong>de</strong> alcançar qualquer objetivo,<br />

cheio <strong>de</strong> energia e s<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repouso ou sono (outra característica<br />

típica do quadro <strong>de</strong> mania, que é a perda do sono (Moreno e Moreno, 1994).<br />

Durante a fase <strong>de</strong> euforia do Transtorno Bipolar <strong>de</strong> Humor, a autoestima, o<br />

vigor e a energia física aumentam e a pessoa passa a agir <strong>em</strong> ritmo acelerado,<br />

fica inquieta e agitada, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sono diminui. Começa a ter sentimentos<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za, consi<strong>de</strong>ra-se especial e se sente como se não tivesse limites. Os<br />

planos grandiosos e mirabolantes se multiplicam, as i<strong>de</strong>ias flu<strong>em</strong> rapidamente e<br />

não se consegue concluir as i<strong>de</strong>ias, pulando rapidamente para outros assuntos.<br />

Por causa da impulsivida<strong>de</strong>, da <strong>de</strong>sinibição, do aumento <strong>de</strong> energia e da ausência<br />

<strong>de</strong> crítica, a pessoa <strong>em</strong> mania acaba se envolvendo <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s perigosas e<br />

insensatas, tais como dirigir <strong>em</strong> alta velocida<strong>de</strong>, praticar sexo inseguro, gastar<br />

além das possibilida<strong>de</strong>s. Desse jeito é difícil convencer o paciente <strong>de</strong> sua doença<br />

já que o b<strong>em</strong> estar (patológico) é muito contun<strong>de</strong>nte.<br />

Quando os sintomas são relativamente mais brandos, diz-se que o<br />

paciente se encontra <strong>em</strong> quadro <strong>de</strong> hipomania, este quadro normalmente prece<strong>de</strong><br />

o quadro <strong>de</strong> mania, ou nos casos e bipolar do tipo I ou dos pacientes ciclotímicos,<br />

que são a típica fase eufórica do paciente. Há, também, na hipomania,<br />

hiperativida<strong>de</strong>, tagarelice, diminuição da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sono, aumento da<br />

sociabilida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong> física, iniciativa, ativida<strong>de</strong>s prazerosas, libido e sexo, e<br />

impaciência. A hipomania não se apresenta com sintomas psicóticos, não precisa<br />

<strong>de</strong> internação e o prejuízo ao paciente não é tão intenso quanto no episódio <strong>de</strong><br />

mania.<br />

O Transtorno Bipolar po<strong>de</strong> ser classificado <strong>em</strong>:<br />

- Transtorno Bipolar Tipo I: – Períodos <strong>de</strong> mania. Comumente, o estado<br />

maníaco po<strong>de</strong> durar vários dias ou pelo menos uma s<strong>em</strong>ana, e os períodos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pressão duram <strong>de</strong> algumas s<strong>em</strong>anas a vários meses.<br />

66


Transtorno Bipolar Tipo II: Com períodos <strong>de</strong> hipomania, mas menos<br />

prejuízos familiares, sociais e no trabalho.<br />

Para o DSM-V, será acrescentado o Transtorno Bipolar Tipo III, que seriam<br />

aquelas pessoas inicialmente diagnosticadas como com <strong>de</strong>pressão maior e que<br />

apresentariam uma virada maníaca <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pelo uso <strong>de</strong> anti<strong>de</strong>pressivos.<br />

Como diss<strong>em</strong>os, <strong>em</strong> uma socieda<strong>de</strong> que valoriza <strong>de</strong>mais a extroversão e<br />

eloquência, pacientes e familiares po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rar a hipomania como se fosse<br />

uma atitu<strong>de</strong> normal e até <strong>de</strong>sejável. Assim, a hipomania po<strong>de</strong> ser confundida com<br />

estados <strong>de</strong> alegria <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada por eventos positivos, não percebidos pelos<br />

outros como exagerados, comparados com o padrão habitual <strong>de</strong> humor da<br />

pessoa. Já a irritabilida<strong>de</strong> da hipomania po<strong>de</strong> ser confundida, também, com<br />

reações normais aos eventos negativos, como por ex<strong>em</strong>plo, uma má notícia. Mas<br />

a hipomania po<strong>de</strong> ou não ter fatores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>antes, sejam positivos ou<br />

negativos. Se esses pacientes não for<strong>em</strong> tratados, po<strong>de</strong>m apresentar ausência do<br />

juízo crítico e proporcionar para si ou para seus familiares, severos prejuízos<br />

morais e materiais.<br />

1.2.1 Incidência<br />

Mais recent<strong>em</strong>ente, pesquisas epi<strong>de</strong>miológicas procuraram <strong>de</strong>terminar a<br />

magnitu<strong>de</strong> do TB avaliando sua ocorrência na população geral. O conceito <strong>de</strong> TB<br />

t<strong>em</strong> sofrido modificações ao longo dos últimos anos, refletidas nas classificações<br />

diagnósticas como DSM e CID. O conceito <strong>de</strong> espectro, que amplia<br />

significativamente a prevalência <strong>de</strong>sses transtornos, é ainda polêmico e sua<br />

validação na população geral é essencial para que ações específicas <strong>em</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública possam ser conduzidas, visando à a<strong>de</strong>quada prevenção e ao tratamento<br />

do TB.<br />

O Transtorno Bipolar é relativamente comum e tratável, atinge <strong>de</strong> igual<br />

maneira homens e mulheres <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 1% a 4,9% da população, se<br />

consi<strong>de</strong>rarmos também a hipomania. Caso esta não seja consi<strong>de</strong>rada, a<br />

67


incidência do Transtorno Bipolar cai para 1 a 2% da população e, geralmente, se<br />

inicia entre os 20 e 30 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Homens e mulheres são afetados pelo<br />

Transtorno Bipolar quase da mesma maneira. Há poucos casos do transtorno<br />

afetando crianças e pessoas mais idosas.<br />

1.2.2 Tratamento<br />

O objetivo do tratamento da mania aguda é controlar sinais e sintomas <strong>de</strong><br />

forma rápida e segura, e restabelecer o funcionamento psicossocial a níveis<br />

normais. A escolha do tratamento inicial leva <strong>em</strong> conta fatores clínicos, como<br />

gravida<strong>de</strong>, presença <strong>de</strong> psicose, ciclag<strong>em</strong> rápida ou episódio misto e preferência<br />

do paciente, quando possível, levando <strong>em</strong> conta os efeitos colaterais. Critérios<br />

clínicos como uso <strong>de</strong> antipsicótico intramuscular <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> agitação e maior<br />

número <strong>de</strong> evidências da literatura sobre eficácia também <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser utilizados<br />

para nortear a seleção do medicamento.<br />

Ao selecionar um medicamento antimaníaco, <strong>de</strong>ve-se dar preferência às<br />

medicações com maiores evidências <strong>de</strong> ação: lítio, valproato (ácido valproico,<br />

divalproato) e carbamazepina (CBZ), além dos antipsicóticos típicos, como<br />

clorpromazina e haloperidol, e dos atípicos olanzapina e risperidona; por ser<strong>em</strong><br />

mais novos, há menos estudos com ziprasidona, quetiapina e aripiprazole. A<br />

combinação <strong>de</strong> um antipsicótico com lítio ou valproato po<strong>de</strong> ser mais efetiva do<br />

que cada um <strong>de</strong>les isoladamente. Em casos <strong>de</strong> mania grave, recomenda-se como<br />

primeira opção a combinação <strong>de</strong> lítio e um antipsicótico atípico ou valproato com<br />

antipsicótico atípico. Para pacientes menos graves, a monoterapia com lítio,<br />

valproato ou um antipsicótico atípico, como a olanzapina, po<strong>de</strong> ser suficiente.<br />

Exist<strong>em</strong> menos evidências sustentando a indicação <strong>de</strong> aripiprazole, ziprasidona e<br />

quetiapina <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> outro antipsicótico atípico e <strong>de</strong> CBZ ou oxcarbazepina<br />

(OXC) <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> lítio ou valproato. Embora os dados sobre a eficácia da OXC<br />

permaneçam limitados, este medicamento po<strong>de</strong> ter eficácia equivalente e melhor<br />

tolerabilida<strong>de</strong> que a CBZ. O uso concomitante <strong>de</strong> benzodiazepínicos (BDZ) po<strong>de</strong><br />

ser útil se comparado com o <strong>de</strong> anti<strong>de</strong>pressivos (AD), que po<strong>de</strong>m precipitar ou<br />

68


exacerbar mania/hipomania ou estados mistos e, <strong>de</strong> modo geral, <strong>de</strong>veriam ser<br />

<strong>de</strong>scontinuados e evitados quando possível.<br />

1.2.3 Neurobiologia<br />

Acredita-se que o <strong>de</strong>senvolvimento do quadro <strong>de</strong> mania esteja relacionado<br />

à alteração na concentração <strong>de</strong> PKC (proteína quinase C intracelular). Denomina-<br />

se proteína quinase C (PKC) um grupo <strong>de</strong> enzimas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> cálcio e<br />

fosfolipí<strong>de</strong>os que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha papel importante nos mecanismos intracelulares<br />

<strong>de</strong> receptores monoaminérgicos (a1, 5-HT2A e 5-HT2C ), colinérgicos (M1, M3 e M5),<br />

para vasopressina e substância P. Estudos clínicos e pré-clínicos têm associado<br />

alterações da PKC (ou <strong>de</strong> suas subespécies) com o transtorno bipolar. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo, pacientes com quadro maníaco apresentam aumento da translação<br />

induzida da PKC nas plaquetas, alteração revertida pela administração <strong>de</strong><br />

estabilizadores <strong>de</strong> humor como lítio e ácido valpróico (Hahn et al. 2005). Além<br />

disso, <strong>em</strong> cérebros <strong>de</strong> pacientes bipolares, foi observado um aumento da PKC<br />

ligada à m<strong>em</strong>brana e da translação da PKC do citosol para a m<strong>em</strong>brana. Os<br />

estabilizadores <strong>de</strong> humor apresentam, entre outras ações, ativida<strong>de</strong> inibitória<br />

sobre a PKC <strong>em</strong> sítios diferentes. Esses dados suportam a proposição <strong>de</strong><br />

aumento da ativida<strong>de</strong> da PKC no transtorno bipolar e que as drogas<br />

estabilizadoras <strong>de</strong> humor exerc<strong>em</strong>, ao menos <strong>em</strong> parte, suas ações clínicas pela<br />

diminuição da ativida<strong>de</strong> da PKC (Hahn e Friedman, 1999; Manji e Lenox, 1999;<br />

Manji e Chen, 2002).<br />

1.2.4 Mo<strong>de</strong>los Animais<br />

Normalmente, os testes <strong>em</strong>pregados são os padronizados para ação <strong>de</strong><br />

antipsicóticos, uma vez que se carece <strong>de</strong> testes específicos para a mania <strong>em</strong> si.<br />

Porém tais testes apresentam boa valida<strong>de</strong>, uma vez que o quadro <strong>de</strong> mania é<br />

caracterizado por agitação e diminuição cognitiva e <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>, <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>corrência da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o foco <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>a, quadros<br />

69


esses b<strong>em</strong> similares aos observados <strong>em</strong> esquizofrênicos. As alterações <strong>em</strong><br />

padrão <strong>de</strong> sono e irritabilida<strong>de</strong> exacerbada também são comuns a ambos.<br />

Alguns testes utilizados para o estudo <strong>de</strong> possíveis drogas antimaníacas<br />

são: hiperlocomoção induzida pela anfetamina, estereotipia e climbing induzidos<br />

por apomorfina, teste da pata, catatonia e teste <strong>de</strong> pré-pulso.<br />

Referências<br />

Lima, M.S. <strong>de</strong>; Tassi, J.; Novo, I.P.; Mari, J.J. Epi<strong>de</strong>miologia do transtorno bipolar.<br />

Rev. Psiq. Clín. 32, supl 1; 15-20, 2005.<br />

Dias, R.S.; Kerr-Corrêa, F.; Torresan, R.C.; Santos, C.H.R. Transtorno bipolar do<br />

humor e gênero. Rev. Psiq. Clín. 33 (2); 80-91, 2006.<br />

Hahn C-G, Friedman E. Abnormalities in protein kinase C signaling and the<br />

pathophysiology of bipolar disor<strong>de</strong>r. Bipolar disord. 1999; 2: 81-86.<br />

Hahn CG, Umapathy, Wang HY, Koneru R, Levinson DF, Friedman E. Lithium and<br />

valproic acid treatments reduce PKC activation and receptor-G protein coupling in<br />

platelets of bipolar manic patients. J Psychiatr Res. 2005; 39(4):355-63.<br />

Manji HK, Chen G. PKC, MAP kinses and the bcl-2 family of proteins as long-term<br />

targets for mood stabilizers. Mol Psychiatry. 2002; 7 Suppl 1: S46-56.<br />

Manji HK, Lenox RH. Ziskind-Somerfeld Research Award. Protein kinase C<br />

signaling in the brain: molecular transduction of mood stabilizationin the treatment<br />

of manic-<strong>de</strong>pressive illness. Biol Psychiatry. 1999;46(10):1328-51.<br />

Moreno, D.H.; Moreno, R.A. Estados mistos e quadros <strong>de</strong> ciclag<strong>em</strong> rápida no<br />

transtorno bipolar. Rev. Psiq. Clín. 32, supl 1; 56-62, 2005.<br />

70


2. TRANSTORNOS DE ANSIEDADE<br />

Os transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, assim como a maioria das patologias<br />

neuropsiquiátricas, são <strong>de</strong> caráter multifatorial, crônicos, <strong>de</strong> prevalência<br />

elevada e <strong>de</strong> alta morbida<strong>de</strong>, resultando <strong>em</strong> custos individuais e sociais<br />

elevados (Andreatini et. al. 2001). Epi<strong>de</strong>miologicamente, o transtorno da<br />

ansieda<strong>de</strong> t<strong>em</strong> sido apontado entre os transtornos psiquiátricos mais comuns,<br />

sendo na maioria dos casos acompanhado por comorbida<strong>de</strong>s médicas e<br />

psicológicas. Logo, têm crescido a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pesquisar novos<br />

tratamentos efetivos que promovam alívio dos sintomas (Ravindran e Stein<br />

2010).<br />

De acordo com as características sintomatológicas, a quarta edição do<br />

Manual <strong>de</strong> Diagnóstico e Estatística (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica<br />

Americana, classifica os transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> <strong>em</strong>:<br />

- Transtorno <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong> Generalizada<br />

- Transtorno <strong>de</strong> Pânico<br />

- Transtorno Obsessivo-Compulsivo<br />

- Transtornos <strong>de</strong> Estresse Pós-Traumático<br />

- Transtorno <strong>de</strong> Ansieda<strong>de</strong> Social<br />

- Fobia Simples<br />

De uma forma resumida, t<strong>em</strong> sido sugerido que os transtornos <strong>de</strong><br />

ansieda<strong>de</strong> são causados por uma <strong>de</strong>tecção falha e por consequência a<br />

expressão ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> comportamentos <strong>de</strong>fensivos, <strong>de</strong> forma a gerar<br />

respostas fisiológicas (taquicardia, sudorese, midríase, etc) e psicológicas<br />

(medo, por ex<strong>em</strong>plo) intensas. Comportamentos <strong>de</strong>fensivos são as reações do<br />

organismo a perigos presentes ou potenciais, são mo<strong>de</strong>lados pela seleção<br />

natural e po<strong>de</strong>m ser modificados para que atu<strong>em</strong> somente quando for<strong>em</strong> úteis<br />

(Carobrez, 2003).<br />

Tratamento Farmacológico da Ansieda<strong>de</strong><br />

71


Des<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scoberta da primeira droga benzodiazepínica, o<br />

clordiazepóxido <strong>em</strong> 1961, esforços têm sido conduzidos com o intuito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver ansiolíticos mais efetivos e com efeitos colaterais reduzidos. Os<br />

benzodiazepínicos se ligam a um sítio regulatório do receptor GABAA, que é<br />

um sitio distinto do sítio <strong>de</strong> ligação do neurotransmissor GABA. Sendo assim,<br />

os benzodiazepínicos atuam alostericamente aumentando a afinida<strong>de</strong> do<br />

GABA pelo receptor GABAA. Como o receptor GABAA é um canal <strong>de</strong> cloreto,<br />

essa ligação intensifica a transmissão sináptica inibitória (Rang et. al. 2007).<br />

Atualmente os benzodiazepínicos continuam a ser amplamente prescritos,<br />

principalmente para o transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> generalizada e pânico (neste<br />

caso, os benzodiazepínicos <strong>de</strong> alta potência como o clonazepan). Os<br />

benzodiazepínicos são ansiolíticos eficazes, porém apresentam efeitos<br />

colaterais graves como sedação, <strong>de</strong>pendência e ainda o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

tolerância. (Rang et. al. 2007)<br />

Nos últimos anos, t<strong>em</strong> ocorrido um gran<strong>de</strong> avanço no tratamento<br />

farmacológico dos transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, com a introdução <strong>de</strong> novas<br />

drogas como os anti<strong>de</strong>pressivos e a buspirona (Andreatini et. al. 2001,<br />

Ravindran e Stein 2010).<br />

A buspirona é agonista parcial dos receptores serotoninérgicos 5HT1A,<br />

apresentando eficácia para o tratamento do transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong><br />

generalizada. (Rang et. al. 2007)<br />

Os anti<strong>de</strong>pressivos têm sido <strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> diversos transtornos <strong>de</strong><br />

ansieda<strong>de</strong>. Sendo a classe dos inibidores seletivos da recaptação <strong>de</strong><br />

serotonina (ISRS), como por ex<strong>em</strong>plo a fluoxetina, sertralina, escitalopram e<br />

clomipramina, os mais amplamente utilizados, apresentando eficácia para o<br />

tratamento <strong>de</strong> praticamente todos os transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong><br />

possuír<strong>em</strong> efeitos colaterais menos severos do que os dos benzodiazepínicos.<br />

(Ravindran e Stein 2010).<br />

Novos alvos potenciais para o tratamento da ansieda<strong>de</strong> têm surgido<br />

como agonistas glutamatérgicos metabotrópicos do gupo I e antagonistas<br />

glutamatérgicos metabotrópicos do grupo II e III, antagonistas do receptor<br />

glutamatérgico NMDA, antagonistas do fator <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> corticotrofina<br />

(CRF), <strong>de</strong>ntre outros.<br />

72


Mas gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssa evolução, assim como nos transtornos <strong>de</strong><br />

humor, esbarra na ausência <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> análogos nos animais.<br />

Uma vez que a ansieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>screve um estado subjetivo, ela é consi<strong>de</strong>rada<br />

uma característica humana, portanto, ela só po<strong>de</strong> ser mo<strong>de</strong>lada e não<br />

reproduzida <strong>em</strong> animais (Andreatini et. al. 2001).<br />

Uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los animais <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> t<strong>em</strong> sido validada<br />

farmacologicamente, usando os ansiolíticos clássicos benzodiazepínicos. Uma<br />

crítica é que a maioria dos mo<strong>de</strong>los avalia fenômenos que são modificados<br />

pelos benzodiazepínicos e não características da ansieda<strong>de</strong> propriamente dita,<br />

<strong>de</strong> modo que serão necessários <strong>de</strong>senvolver mo<strong>de</strong>los específicos para cada<br />

transtorno ou reavaliar os mo<strong>de</strong>los já existentes, correlacionando-os a<br />

<strong>de</strong>terminado transtorno.<br />

Neurobiologia da Ansieda<strong>de</strong><br />

A ansieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser vista como um conflito entre informações, que<br />

gera a inibição do comportamento. Através <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> lesão e estimulação,<br />

uma estrutura próxima ao hipocampo <strong>de</strong>nominada subículo foi arrolada como<br />

importante para a comparação <strong>de</strong> informações, que seriam levadas ao sist<strong>em</strong>a<br />

septo-hipocampal, fazendo parte <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> inibição comportamental.<br />

(Het<strong>em</strong> e Graeff, 2004)<br />

A amígdala também estaria envolvida com a ansieda<strong>de</strong> visto ser<br />

tradicionalmente uma estrutura ligada à <strong>em</strong>oções como o medo. A amígdala<br />

receberia estímulos sensoriais e comunicaria a outras áreas, como por<br />

ex<strong>em</strong>plo, à matéria cinzenta periaquedutal (Millan, 2003).<br />

Alterações na estrutura ou na função cerebral ou na sinalização através<br />

<strong>de</strong> neurotransmissores po<strong>de</strong> resultar <strong>de</strong> experiências vivenciadas, da influencia<br />

do meio-ambiente ou ainda uma predisposição genética, tais alterações<br />

po<strong>de</strong>riam aumentar o risco para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> transtornos psiquiátricos<br />

(Martin et. al. 2009).<br />

Os transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> apresentam o envolvimento <strong>de</strong> alterações<br />

neuroendócrinas, neuroanatomicas e <strong>de</strong> neurotransmissores. Dentre as<br />

alterações relacionadas com neurotransmissores é estudada a possibilida<strong>de</strong> do<br />

envolvimento <strong>de</strong> uma diminuição na sinalização gabaérgica, ou um aumento da<br />

73


sinalização glutamatérgica, o envolvimento das monoaminas 5-HT, NA, DA, e<br />

também dos neuropepti<strong>de</strong>os nos transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> (Martin et. al. 2009).<br />

Estudos t<strong>em</strong> mostrado um papel dual da serotonina na ansieda<strong>de</strong>. Os<br />

corpos celulares dos neurônios serotoninérgicos se localizam nos núcleos da<br />

rafe, e enviam projeções para outras estruturas cerebrais. Quando essas<br />

projeções liberam serotonina na amígdala é observado um aumento da<br />

ansieda<strong>de</strong>, porém quando projeções liberam serotonina na matéria cinzenta<br />

periaquidutal ocorre inibição do pânico. Dessa forma, um <strong>de</strong>sequilíbrio nesse<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> transmissão, como o uma ativação aumentada da amígdala po<strong>de</strong>ria<br />

levar ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> generalizada, ou um<br />

redução na ativação na matéria cinzenta periaquedutal po<strong>de</strong>ria levar ao<br />

transtorno <strong>de</strong> pânico, por ex<strong>em</strong>plo. (Het<strong>em</strong> e Graeff, 2004).<br />

Referências<br />

ANDREATINI, R.; BOERNGEN-LACERDA, R.; FILHO, D.Z. Tratamento<br />

farmacológico do transtorno <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> generalizada: perspectivas futuras.<br />

Rev. Bras.Psiquiatr. v.23, p.233-242, 2001.<br />

CAROBREZ, A.P. Transmissão pelo glutamato como alvo molecular na<br />

ansieda<strong>de</strong>. Rev. Bras.Psiquiatr. v.25, p.52-58, 2003.<br />

HETEM, L.A.; GRAEFF, F.G. Transtornos <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>. São Paulo: Ed.<br />

Atheneu, 2004.<br />

NICOLAS LB, KOLB Y, PRINSSEN EPM. A combined marble burying–<br />

locomotor activity test in mice: A practical screening test with sensitivity to<br />

different classes of anxiolytics and anti<strong>de</strong>pressants. European Journal of<br />

Pharmacology 547 (2006) 106–115<br />

MARTIN EI, RESSLER KJ, BINDER E, NEMEROFF CB. The neurobiology of<br />

anxiety disor<strong>de</strong>rs: brain imaging, genetics, and psychoneuroendocrinology.<br />

Psychiatr Clin North Am. 2009 Sep;32(3):549-75.<br />

MILLAN, M. The Neurobiology and control of anxious states. Prog. Neurobiol.<br />

v.70, p.83-244.<br />

Rang HP, Dale MM, Ritter JM, Flower RJ. Farmacologia. 6º ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Elsevier editora Ltda; 2007. p. 535-544.<br />

RAVINDRAN LN, STEIN MB. The pharmacologic treatment of anxiety<br />

disor<strong>de</strong>rs: a review of progress. J Clin Psychiatry. 2010 Jul;71(7):839-54.<br />

74


AULA PRÁTICA<br />

1. AVALIAÇÃO DE DROGAS COM AÇÃO ANTIDEPRESSIVA<br />

Alguns mo<strong>de</strong>los animais se prestam para observação <strong>de</strong> efeitos<br />

produzidos pelas drogas anti<strong>de</strong>pressivas, após uso agudo. Metodologias como<br />

a natação forçada e o <strong>de</strong> suspensão pela cauda são testes <strong>de</strong> triag<strong>em</strong> para a<br />

<strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> efeitos anti<strong>de</strong>pressivos <strong>de</strong> diferentes drogas. O princípio do teste<br />

baseia-se no fato <strong>de</strong> que animais submetidos a um estresse intenso<br />

<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> um comportamento <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong>, que seria compatível com um<br />

quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo ou <strong>de</strong>sesperança. Os anti<strong>de</strong>pressivos reduz<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>po<br />

<strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> apresentado pelos animais, aumentando, por consequência, os<br />

movimentos dirigidos ao escape.<br />

Objetivo: observar o efeito anti<strong>de</strong>pressivo da imipramina no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

suspensão pela cauda.<br />

Material: seringas centesimais <strong>de</strong> 1,0 mL; agulhas 10x5; cronômetros<br />

Soluções: solução <strong>de</strong> imipramina (4 mg/mL) e solução <strong>de</strong> NaCl (0,9%)<br />

Animais: camundongos machos, peso entre 25 - 30g<br />

Procedimento<br />

Injetar, via intraperitoneal, 40 mg/kg <strong>de</strong> imipramina <strong>em</strong> um camundongo;<br />

um segundo animal receberá volume correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> salina (veículo =<br />

controle negativo). Aguardar 30 min e pren<strong>de</strong>r os animais com fita a<strong>de</strong>siva na<br />

beirada da bancada. A duração total da imobilida<strong>de</strong> será registrada durante os<br />

últimos 4 min, <strong>de</strong> um período total <strong>de</strong> 6 min. Cada animal será julgado imóvel<br />

quando não apresentar movimentos dirigidos ao escape. A diminuição da<br />

duração (t<strong>em</strong>po) da imobilida<strong>de</strong> é indicativa <strong>de</strong> um efeito anti<strong>de</strong>pressivo.<br />

75


Resultados<br />

Nº Tratamento T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Imobilida<strong>de</strong><br />

2. Mo<strong>de</strong>los para Avaliação <strong>de</strong> Drogas com Ação Antipsicótica<br />

Objetivo: Observar o efeito antipsicótico da olanzapina nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

estereotipia e climbing induzidos por apomorfina.<br />

Material: Seringas centesimais <strong>de</strong> 1,0 ml; agulhas 10x5; cronômetros; aparatos<br />

<strong>de</strong> teste (gaiolas)<br />

Soluções: Solução <strong>de</strong> olanzapia a 10mg/kg; solução <strong>de</strong> apomorfina a 1mg/kg;<br />

solução <strong>de</strong> NaCl a 0,9%.<br />

Animais: camundongos, peso entre 25 - 30g<br />

Procedimento<br />

1. Injetar, via i.p., 10 mg/kg <strong>de</strong> olanzapina <strong>em</strong> quatro camundongos; quatro<br />

animais seguintes receberão volume correspon<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> salina (veículo). O<br />

volume a ser injetado <strong>em</strong> camundongos será relativo a seu peso corpóreo.<br />

76


2. Aguardar 30 (trinta) minutos e colocar os animais individualmente <strong>em</strong><br />

gaiolas.<br />

3. Injetar, via sc, 1mg/kg <strong>de</strong> apomorfina ou salina nos oito camundongos. A<br />

aplicação será seriada, assim, um animal receberá apomorfina e o<br />

outro/seguinte, receberá salina, s<strong>em</strong>pre.<br />

4. Após <strong>de</strong>z minutos, o comportamento do animal <strong>de</strong>verá ser analisado, a<br />

análise será baseada nas tabelas abaixo para climbing e estereotipia. A análise<br />

<strong>de</strong>verá ser feita a cada <strong>de</strong>z minutos, por <strong>de</strong>z segundos e, após esses, um<br />

escore <strong>de</strong>verá ser dado baseado no comportamento do animal. O teste <strong>em</strong> si<br />

t<strong>em</strong> duração <strong>de</strong> nove análises, ou seja, 1h30min, porém, para esta aula prática,<br />

far<strong>em</strong>os uma versão apenas ilustrativa <strong>de</strong> 30 minutos.<br />

ESTEROTIPIA<br />

Nível Comportamento<br />

0 Animal parado<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

Animal normal e <strong>em</strong> movimento, não apresentando<br />

comportamento estereotipado<br />

Animal lev<strong>em</strong>ente estereotipado, com comportamento <strong>de</strong> lamber<br />

gra<strong>de</strong>s e cheirar estereotipado<br />

Animal estereotipado, mas ainda se movimentado.<br />

Comportamento <strong>de</strong> lamber e mor<strong>de</strong>r gra<strong>de</strong>s<br />

Animal completamente estereotipado e parado. Comportamento<br />

<strong>de</strong> lamber e mor<strong>de</strong>r gra<strong>de</strong>s<br />

CLIMBING<br />

Nível Comportamento<br />

0 Animal com quatro patas no piso da gaiola.<br />

1 Animal com duas patas dianteiras com patas na gra<strong>de</strong> (na<br />

pare<strong>de</strong> da gaiola).<br />

2 Animal com as quatro patas na gra<strong>de</strong> (na pare<strong>de</strong> da gaiola,<br />

escalando).<br />

77


Resultados<br />

Tabela <strong>de</strong> estereotipia e climbing<br />

Animal Tratamento 10’ 20’ 30’ Total<br />

1- Olan + Apo<br />

2- Olan + Sal<br />

3- Olan + Apo<br />

4- Olan + Sal<br />

5- Sal + Apo<br />

6- Sal + Sal<br />

7- Sal + Apo<br />

8- Sal + Sal<br />

Mo<strong>de</strong>lo para Avaliação <strong>de</strong> Drogas com Ação Ansiolítica<br />

Objetivo: Avaliar a ação ansiolítica do benzodiazepínico diazepam e do óleo<br />

essencial <strong>de</strong> lavanda, utilizando o mo<strong>de</strong>lo animal <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r esferas.<br />

O teste <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r esferas avalia o número <strong>de</strong> esferas com no mínimo<br />

2/3 <strong>de</strong> sua superfície coberta por cepilho após 20 minutos. Em uma caixa<br />

plástica (gaiola padrão <strong>de</strong> manutenção dos animais 30 x 20 cm) é colocado<br />

sobre o cepilho 24 esferas <strong>de</strong> vidro, as quais são distribuídas uniform<strong>em</strong>ente<br />

na periferia da caixa. Esse teste avalia o comportamento <strong>de</strong> cavar o cepilho,<br />

que é um comportamento normal apresentado pelos camundongos que<br />

também é observado quando o animal se <strong>de</strong>para com algum objeto aversivo<br />

(comportamento <strong>de</strong> cavar <strong>de</strong>fensivo que se relaciona com o estado <strong>de</strong><br />

ansieda<strong>de</strong> do animal). Quando o camundongo recebe uma droga ansiolítica<br />

esse comportamento <strong>de</strong> cavar é reduzido, logo o número <strong>de</strong> esferas<br />

escondidas também é reduzido. É colocado um animal por caixa e as esferas<br />

são lavas com álcool 10% após ser<strong>em</strong> usadas (Nicolas et.al. 2006)<br />

78


Material: seringas centesimais <strong>de</strong> 1,0 ml; agulhas 10x5; cronômetro; caixas<br />

plásticas com cepilho e 24 esferas <strong>de</strong> vidro por caixa.<br />

Soluções: solução <strong>de</strong> diazepam 1 mg/kg; solução <strong>de</strong> NaCl a 0,9%, solução <strong>de</strong><br />

óleo essencial <strong>de</strong> lavanda 5%<br />

Animais: camundongos, peso entre 25 - 30g<br />

Procedimento<br />

Injetar 1 mg/kg, via ip, <strong>de</strong> diazepam ou salina nos camundongo.<br />

Administração por via inalatória do óleo essencial <strong>de</strong> lavanda 5% -<br />

duração <strong>de</strong> 15 minutos.<br />

Trinta minutos após a administração do diazepam, ou 15 minutos após a<br />

administração do óleo essencial <strong>de</strong> lavanda, os animais serão colocados<br />

individualmente nas caixas com as esferas. As esferas com no mínimo <strong>de</strong> 2/3<br />

<strong>de</strong> sua superfície coberta com cepilho serão registradas ao final <strong>de</strong> 20 minutos.<br />

Resultados<br />

Nº Tratamento Número <strong>de</strong> Esferas Escondidas<br />

1 azul Salina<br />

2 azul Salina<br />

3 azul Salina<br />

4 azul Diazepam 1mg/kg<br />

5 azul Diazepam 1mg/kg<br />

1 vermelho Diazepam 1mg/kg<br />

2 vermelho OE lavanda 5%<br />

3 vermelho OE lavanda 5%<br />

4 vermelho OE lavanda 5%<br />

79


DROGAS DE ABUSO<br />

Diego Correia<br />

O uso <strong>de</strong> drogas psicoativas (com ação sobre o sist<strong>em</strong>a nervoso central)<br />

r<strong>em</strong>onta aos ancestrais dos homens. Seja pelo seu uso <strong>em</strong> rituais religiosos,<br />

como medicamento, ou simplesmente pelo prazer que po<strong>de</strong>m propiciar ao<br />

usuário. Durante a história, esse uso passou por períodos <strong>de</strong> aceitação e <strong>de</strong><br />

total proibição, sendo por isso que algumas drogas são aceitas <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas culturas e <strong>em</strong> outras são utilizadas somente na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong><br />

(SILVEIRA; MOREIRA, 2006). doença <strong>de</strong> Parkinson (DP) é o segundo distúrbio<br />

neuro<strong>de</strong>generativo mais<br />

Classificação <strong>de</strong> Chalout (1971) dos Psicoativos<br />

• Depressores ou Psicolépticos<br />

• Álcool, benzodiazepínicos ansiolíticos, hipnóticos, inalantes,<br />

oiopioi<strong>de</strong>s, antipsicóticos.<br />

• Estimulantes ou Psicoanalépticos<br />

• Cocaína, anfetaminas, nicotina, xantinas, outros.<br />

• Inibidores da MAO, tricíclicos, ISRmonoaminas.<br />

• Perturbadores ou Psicodislépticos (Alucinógenos)<br />

• Naturais: maconha, mescalina, psilocibina, outros.<br />

• Sintéticos: LSD, MDMA (ecstasy), fenciclidina, quetamina,<br />

anticolinérgicos, outros.<br />

Entre as drogas psicoativas, algumas possu<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s<br />

reforçadoras. Reforço ou estímulo reforçador é a capacida<strong>de</strong> que a droga t<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> criar e manter hábitos e comportamentos. Essa característica é consi<strong>de</strong>rada<br />

fundamental para que a droga seja capaz <strong>de</strong> induzir <strong>de</strong>pendência. O reforço<br />

po<strong>de</strong> ser positivo ou negativo. Reforço positivo é a capacida<strong>de</strong> da droga <strong>de</strong><br />

produzir efeitos agradáveis e sensações prazerosas. Reforço negativo é a<br />

81


capacida<strong>de</strong> da droga <strong>de</strong> diminuir sensações <strong>de</strong>sagradáveis. Em muitos casos é<br />

difícil separar qual o tipo <strong>de</strong> reforço predomina <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada situação<br />

(ALMEIDA, 2006). Por ex<strong>em</strong>plo, o etanol apresenta reforço positivo pela sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir euforia e reforço negativo pelo seu efeito ansiolítico e<br />

por evitar a síndrome <strong>de</strong> abstinência.<br />

Essas drogas com proprieda<strong>de</strong> reforçadora, por induzir<strong>em</strong> a<br />

autoadministração, po<strong>de</strong>m levar a estados <strong>de</strong> uso abusivo, <strong>de</strong>pendência e<br />

adição. O termo adição é usado no DSM-IV (APA, 1994) preferencialmente ao<br />

termo <strong>de</strong>pendência, para evitar confusão com o termo <strong>de</strong>pendência física.<br />

Dependência física se refere às adaptações que levam a sintomas <strong>de</strong><br />

abstinência na interrupção abrupta do uso <strong>de</strong> uma droga, que recebe a<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Síndrome <strong>de</strong> Abstinência. Essas adaptações são diferentes<br />

das adaptações que ocorr<strong>em</strong> na adição, na qual a principal característica é a<br />

perda <strong>de</strong> controle sobre o uso da droga, mesmo sob consequências adversas<br />

intensas (VOLKOW; LI, 2005). No padrão <strong>de</strong> comportamento abusivo, exist<strong>em</strong>,<br />

<strong>de</strong> forma recorrente e significativa, consequências negativas do uso da droga,<br />

mas ainda não existe a presença <strong>de</strong> tolerância, síndrome <strong>de</strong> abstinência e<br />

perda do controle sobre o uso da droga (KAPLAN; SADOCK, 1995).<br />

A progressão do uso inicial à adição é influenciada por muitos fatores.<br />

Entre eles, a droga <strong>em</strong> si, a personalida<strong>de</strong> do usuário, e influências <strong>de</strong> outras<br />

pessoas e ambientais. A interação entre esses fatores é complexa e <strong>de</strong>termina<br />

por que alguns indivíduos apresentam comportamentos aditivos e outros não.<br />

O uso inicial da droga po<strong>de</strong> ser voluntário, na busca <strong>de</strong> prazer, das suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s reforçadoras, mas, para a pessoa que apresenta adição, a<br />

escolha pelo uso da droga não é mais voluntária. Ocorre uma neuroadaptação<br />

s<strong>em</strong>elhante ao que ocorre no aprendizado <strong>de</strong> uma tarefa e o indivíduo procura<br />

a droga mesmo na evidência <strong>de</strong> consequências pessoais negativas e graves<br />

(CHOU; NARASIMNHAN, 2005). No entanto, os mecanismos neurobiológicos<br />

que <strong>de</strong>terminam essa transição do uso controlado para o <strong>de</strong>scontrolado ainda<br />

não estão totalmente esclarecidos. As recaídas no uso das drogas é o fator<br />

clínico mais difícil <strong>de</strong> ser controlado no tratamento da adição. Após longo<br />

período <strong>de</strong> abstinência, o craving (<strong>de</strong>sejo compulsivo) pela droga ou a recaída<br />

82


po<strong>de</strong> ser iniciado pela presença da droga <strong>em</strong> si, por pistas ambientais que<br />

estejam associadas à droga ou pelo estresse (SHAHAN; HOPE, 2005).<br />

As drogas <strong>de</strong> abuso são substâncias com diversas estruturas químicas e<br />

mecanismos <strong>de</strong> ação. Na administração aguda, cada droga se liga a um sítio<br />

<strong>de</strong> ação próprio e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia uma série <strong>de</strong> comportamentos, sensações e<br />

efeitos fisiológicos. Entretanto, no uso crônico, alguns efeitos são<br />

compartilhados pelas diferentes drogas <strong>de</strong> abuso. Essas drogas são todas<br />

agudamente recompensadoras (o que leva à repetição do seu uso), produz<strong>em</strong><br />

sintomas <strong>em</strong>ocionais negativos na sua abstinência, produz<strong>em</strong> um longo<br />

período <strong>de</strong> sensibilização e ocorre um aprendizado associativo entre a droga e<br />

as pistas ambientais relacionadas a ela. Acredita-se que essas adaptações<br />

contribuam para o craving pela droga e pelas recaídas, mesmo após longos<br />

períodos <strong>de</strong> abstinência.<br />

Exist<strong>em</strong> várias evidências que todas as drogas <strong>de</strong> abuso converg<strong>em</strong> a<br />

um circuito comum no sist<strong>em</strong>a límbico cerebral. A principal via que t<strong>em</strong> sido<br />

investigada é a via dopaminérgica que se inicia na área tegmentar ventral<br />

(ATV) e vai <strong>em</strong> direção ao núcleo accumbens (NAcc). Esse circuito é o mais<br />

importante para os efeitos recompensadores agudos <strong>de</strong> todas as drogas <strong>de</strong><br />

abuso, e várias pesquisas têm mostrado como, apesar <strong>de</strong> seus diferentes<br />

mecanismos <strong>de</strong> ação, todas as drogas converg<strong>em</strong> a essa via, tendo assim<br />

efeitos agudos reforçadores comuns (NESTLER, 2005).<br />

No Brasil e no mundo, o uso <strong>de</strong> drogas psicoativas é muito alto. A<br />

prevalência <strong>de</strong> uso na vida <strong>de</strong> qualquer droga, exceto tabaco e álcool, foi maior<br />

na região Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, on<strong>de</strong> alcançou 27,6%. A região com menos uso<br />

na vida foi a Norte com 14,4%. Consi<strong>de</strong>rando-se o país como um todo, a taxa<br />

foi <strong>de</strong> 22,8% da população. O menor uso na vida <strong>de</strong> álcool ocorreu na Região<br />

Norte (53,9%) e o maior na Su<strong>de</strong>ste (80,4%). Ainda, são observados mais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> álcool para o sexo masculino (CARLINI et al, 2007).<br />

O abuso no consumo <strong>de</strong> álcool e a sua <strong>de</strong>pendência são probl<strong>em</strong>as que<br />

afetam mais <strong>de</strong> 25 milhões <strong>de</strong> brasileiros e representam um dos maiores<br />

probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, tanto no Brasil como no resto do mundo (CARLINI<br />

et al., 2007). Além disso, os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>correntes direta e indiretamente do<br />

83


consumo <strong>de</strong> álcool como aci<strong>de</strong>ntes, violência e perda <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, geram<br />

gran<strong>de</strong>s prejuízos econômicos (WHO, 2002).<br />

Etanol<br />

O álcool é a substância psicoativa <strong>de</strong> maior uso no Brasil. Vários fatores<br />

influenciam para isso, principalmente: o fato <strong>de</strong> ser uma droga lícita,<br />

socialmente aceita e muitas vezes ter seu uso incentivado pela socieda<strong>de</strong>, o<br />

que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> “ritos <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>” como, por ex<strong>em</strong>plo, a primeira<br />

intoxicação do adolescente. Além disso, há o fácil acesso, baixo preço e<br />

<strong>de</strong>ficiência na fiscalização (venda para menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo), entre<br />

outros.<br />

O etanol é rápida e quase totalmente absorvido pelo estômago e<br />

intestino. Aproximadamente, 90% são metabolizados e 5-10% são excretados<br />

inalterados no ar expirado e na urina. A metabolização do etanol é<br />

principalmente hepática e envolve sucessivas oxidações, primeiro a<br />

acetal<strong>de</strong>ído, <strong>de</strong>pois a acetato. A álcool <strong>de</strong>sidrogenase é uma enzima<br />

citoplasmática que oxida o álcool ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que reduz o NAD+ à<br />

NADH. Normalmente, apenas uma pequena parcela do etanol é metabolizada<br />

pela citocromo P450 (CYP2E1), mas <strong>em</strong> usuários pesados esse sist<strong>em</strong>a po<strong>de</strong><br />

ser induzido. Praticamente todo o acetal<strong>de</strong>ído produzido é convertido a acetato,<br />

pela al<strong>de</strong>ído <strong>de</strong>sidrogenase. Essa enzima é inibida pela droga dissulfiram.<br />

O consumo agudo e crônico <strong>de</strong> etanol interfere diferent<strong>em</strong>ente com os<br />

processos <strong>de</strong> transmissão no sist<strong>em</strong>a nervoso central, afetando muitos, se não<br />

todos, sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> neurotransmissão conhecidos (NEVO; HAMON, 1995)<br />

Agudamente, o álcool produz aumento da ativida<strong>de</strong> dos receptores<br />

GABAA e esse aumento varia <strong>de</strong> acordo com a combinação <strong>de</strong> subunida<strong>de</strong>s<br />

que constitu<strong>em</strong> o receptor. Agudamente, o álcool também aumenta a liberação<br />

<strong>de</strong> GABA <strong>em</strong> muitas sinapses. A potencialização da transmissão gabaérgica<br />

parece contribuir para vários dos aspectos da intoxicação aguda por etanol,<br />

incluindo incoor<strong>de</strong>nação motora, efeitos ansiolíticos e sedação. O sist<strong>em</strong>a<br />

gabaérgico t<strong>em</strong> também modificações <strong>de</strong>correntes da exposição crônica ao<br />

etanol. Algumas <strong>de</strong>ssas adaptações parec<strong>em</strong> ocorrer no sentido <strong>de</strong> diminuir<br />

84


aquela potencialização do sist<strong>em</strong>a observada na exposição aguda ao etanol. A<br />

mudança crônica mais b<strong>em</strong> caracterizada é a alteração nas subunida<strong>de</strong>s que<br />

compõ<strong>em</strong> o receptor GABAA. Ocorre, também, aumento ou diminuição da<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> GABA liberado, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da região cerebral. O efeito<br />

predominante <strong>de</strong>ssas adaptações à presença crônica do etanol é fazer o<br />

encéfalo se tornar hiperexcitável na ausência do etanol, o que po<strong>de</strong> levar à<br />

ansieda<strong>de</strong> elevada e até mesmo convulsões durante a abstinência. Por isso,<br />

benzodiazepínicos po<strong>de</strong>m ser usados durante a abstinência do etanol<br />

(LOVINGER, 2008)<br />

O etanol agudamente inibe a transmissão sináptica glutamatérgica,<br />

principalmente a mediada por receptores NMDA. Essa inibição do NMDA<br />

provavelmente contribui para os efeitos <strong>de</strong>letérios do etanol sobre a m<strong>em</strong>ória,<br />

que é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses receptores. A exposição crônica ao<br />

etanol aumenta o número e a ativida<strong>de</strong> do receptor NMDA, o que também<br />

contribui para o estado <strong>de</strong> hiperexcitabilida<strong>de</strong> durante a abstinência, assim<br />

como para o dano neural causado pelo etanol (excitotoxicida<strong>de</strong>). (LOVINGER,<br />

2008).<br />

Agudamente, o etanol t<strong>em</strong> efeitos mistos sobre a transmissão<br />

serotoninérgica. É observada uma maior <strong>de</strong>mora para que ocorra a recaptação<br />

da serotonina da fenda sináptica, e a potencialização da função do receptor 5-<br />

HT3. Cronicamente, o etanol interage <strong>de</strong> váriasvárias formas com esse sist<strong>em</strong>a,<br />

o que po<strong>de</strong> alterar a ansieda<strong>de</strong> e o estado afetivo. (LOVINGER, 2008)<br />

O etanol t<strong>em</strong>, ainda, ação sobre outros sist<strong>em</strong>as como o opioidérgico, o<br />

endocanabinoi<strong>de</strong> (aumento <strong>de</strong> araquinodoil etanolamina e 2-araquinodoil<br />

etanolamina; downregulation <strong>de</strong> receptores CB1). O etanol agudamente diminui<br />

a sinalização mediada pelo BDNF (brain <strong>de</strong>rived neurotrophic factor) e<br />

cronicamente leva ao aumento <strong>de</strong> BDNF <strong>em</strong> várias regiões cerebrais. A<br />

exposição aguda e crônica ao etanol po<strong>de</strong>m, também, aumentar os níveis <strong>de</strong><br />

cortisol, progesterona e alopregnolona. Além disso, leva à liberação <strong>de</strong><br />

dopamina na via dopaminérgica mesocorticolímbica. (LOVINGER, 2008)<br />

O álcool leva a diversas complicações clínicas <strong>de</strong>correntes do seu uso.<br />

Tendo efeitos <strong>de</strong>letérios sobre o trato gastrointestinal (gastrites, úlceras,<br />

cânceres <strong>de</strong> boca, <strong>de</strong> esôfago, <strong>de</strong> laringe e <strong>de</strong> faringe, esteatose hepática,<br />

85


hepatite, cirrose hepática, pancreatite aguda), sist<strong>em</strong>a nervoso (distúrbios<br />

neurológicos graves, alterações <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória e lesões no sist<strong>em</strong>a nervoso<br />

central), sist<strong>em</strong>a cardiovascular (arritmias cardíacas agudas, aumento da<br />

pressão arterial), sist<strong>em</strong>a h<strong>em</strong>atológico (diminui a produção <strong>de</strong> todos os<br />

el<strong>em</strong>entos figurados do sangue), sist<strong>em</strong>a reprodutor (impotência e<br />

infertilida<strong>de</strong>). Po<strong>de</strong>, também, levar a complicações psiquiátricas (quadros<br />

psicóticos, <strong>de</strong>pressão, síndrome <strong>de</strong> abstinência, síndromes <strong>de</strong>menciais,<br />

distúrbios <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>, entre outras) e à Síndrome Fetal Alcoólica, quando<br />

consumido <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s por gestantes (SILVEIRA; MOREIRA,<br />

2006). O termo Síndrome Fetal Alcoólica foi introduzido por Jones e Smith <strong>em</strong><br />

1973. Essa síndrome é caracterizada por anomalias craniofaciais<br />

características (Ex.: fissura palpebral curta, lábio superior achatado, nariz curto,<br />

pequena circunferência da cabeça, pequena abertura dos olhos), retardo <strong>de</strong><br />

crescimento pré- e pós-natal e <strong>de</strong>senvolvimento anormal do sist<strong>em</strong>a nervoso<br />

central (ex.: tamanho da cabeça pequeno ao nascer, prejuízo <strong>em</strong> funções<br />

motoras finas, anormalida<strong>de</strong>s estruturais do cérebro como microcefalia). Existe<br />

também a Síndrome dos Efeitos do Álcool, <strong>em</strong> que apenas alguns dos critérios<br />

para a síndrome alcoólica fetal são preenchidos. Sendo assim, não existe<br />

quantida<strong>de</strong> segura que possa ser ingerida por gestantes (WARREN; FOUDIN,<br />

2001).<br />

Maconha<br />

A Cannabis (Cannabis sativa) é uma planta oidioica, com sexos<br />

separados. A planta f<strong>em</strong>inina contém mais princípios ativos. As flores e folhas<br />

secretam uma resina que contém mais <strong>de</strong> 400 compostos químicos, sendo que<br />

aproximadamente 60 <strong>de</strong>les são princípios ativos chamados oicanabinoi<strong>de</strong>s,<br />

entre eles o tetraidrocanabinol (THC), que possui proprieda<strong>de</strong>s psicoativas.<br />

Exist<strong>em</strong> referências ao uso da maconha, há mais <strong>de</strong> 12000 anos. As<br />

suas proprieda<strong>de</strong>s euforizantes foram <strong>de</strong>scobertas na Índia (2000-1400 a.C.),<br />

on<strong>de</strong> era usada para estimular o apetite, curar doenças venéreas e induzir o<br />

sono. No Brasil, as s<strong>em</strong>entes foram trazidas pelos escravos, introduzidas<br />

inicialmente para fins têxteis. Logo, o seu uso como euforizante passou a<br />

predominar.<br />

86


Os oicanabinoi<strong>de</strong>s são agonistas <strong>de</strong> receptores oicanabinoi<strong>de</strong>s<br />

endógenos CB1 (SNC) e CB2 (periferia). Sendo assim, mimetizam a ação <strong>de</strong><br />

oicanabinoi<strong>de</strong>s endógenos (anandamida). A presença <strong>de</strong>sses receptores nas<br />

diversas regiões cerebrais se relaciona com os efeitos do uso da droga:<br />

hipocampo (m<strong>em</strong>ória), cerebelo e substância negra (controle motor), vias<br />

dopaminérgicas mesolímbicas (reforço), córtex (percepção, cognição).<br />

O THC é altamente lipossolúvel, por isso, é armazenado no tecido<br />

adiposo e é liberado gradualmente, po<strong>de</strong>ndose encontrar traços na urina,<br />

permitindo a <strong>de</strong>tecção do uso por s<strong>em</strong>anas ou até meses após o uso. O THC é<br />

metabolizado <strong>em</strong> 11-hidroxi THC, que é mais potente que o THC. Po<strong>de</strong> ser<br />

administrado por via oral (efeitos <strong>em</strong> 30 a 40 minutos) ou fumado (efeitos <strong>em</strong> 5<br />

a 10 minutos).<br />

Os principais efeitos são: boca seca, taquicardia, olhos vermelhos,<br />

paranoia, hilarieda<strong>de</strong> e o uso continuado interfere na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> e concentração e po<strong>de</strong> levar à síndrome amotivacional.<br />

O uso regular <strong>de</strong> maconha por períodos prolongados <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po está<br />

associado com (Boerngen-Lacerda 2008):<br />

• Ansieda<strong>de</strong>, paranoia, pânico, <strong>de</strong>pressão e psicose entre as<br />

pessoas com histórico familiar <strong>de</strong> esquizofrenia<br />

• Prejuízo <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória/ concentração: compromete <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>de</strong><br />

tarefas complexas e rendimento intelectual<br />

• Prejuízo <strong>de</strong> motivação, síndrome amotivacional<br />

• Redução da testosterona (redução transitória da fertilida<strong>de</strong><br />

masculina)<br />

Referências<br />

• Pressão arterial alta<br />

• Asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica<br />

• Cânceres<br />

ALMEIDA, R. N. Psicofarmacologia Fundamentos práticos. Guanabara Koogan,<br />

2006.<br />

87


APA - American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of<br />

mental disor<strong>de</strong>rs. 4th edition. Washington: The American Psychiatry<br />

Association; 1994.<br />

BOERNGEN-LACERDA, R. (coor<strong>de</strong>nação do modulo). Efeito <strong>de</strong> substancias<br />

psicoativas no organismo: modulo 2 / – Brasília: Secretaria Nacional <strong>de</strong> Política<br />

Sobre Drogas, 2008.<br />

(SUPERA: Sist<strong>em</strong>a para <strong>de</strong>tecção do uso abusivo e <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />

substancias psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, reinserção social<br />

e acompanhamento / coor<strong>de</strong>nação geral Paulina do Carmo Arruda Vieira<br />

Duarte e Maria Lucia Oliveira <strong>de</strong> Souza Formigoni)<br />

CARLINI, E.A.; GALDUROZ, J.C.F.; NOTO, A.R.; FONSECA, A.M.; CARLINI,<br />

C.M.; OLIVEIRA, L.G.; NAPPO, S.A.; MOURA, Y.G.; SANCHEZ, Z.V.D.M. II<br />

Levantamento domiciliar sobre o uso <strong>de</strong> drogas psicotrópicas no Brasil: estudo<br />

envolvendo as 108 maiores cida<strong>de</strong>s do país – 2005. Supervisão E.A.Carlini;<br />

Coor<strong>de</strong>nação J.C.F. Galduróz; Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2007.<br />

LOVINGER, D.M. Communication networks in the brain. Alcohol research and<br />

health, v.31, n.3, p. 196-214, 2008.<br />

NESTLER, E. J.; Is there a common molecular pathway for addiction? Nature<br />

neuroscience, v.8, n.11, p. 1445 – 1449, 2005.<br />

NEVO, I.; HAMON, M. Neurotrasmitter and neuromodulatory mechanisms<br />

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International, v.26, n.4, p. 305-336, 1995.<br />

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seeking. Nature neuroscience, v.8, n.11, p. 1437 – 1439, 2005.<br />

SILVEIRA, D.X.; MOREIRA, F.G. Panorama atual <strong>de</strong> drogas e <strong>de</strong>pendências.<br />

Atheneu, 2006.<br />

VOLKOW, N.; LI, T. The neuroscience of addiction. Nature neuroscience, v.8,<br />

n.11, p. 1429 – 1430, 2005.<br />

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. S. Comprehensive textbook of psychiatry. Willians<br />

e Wilkins, 1995.<br />

WARREN, K.R.; FOUDIN, L.L. Alcohol-related birth <strong>de</strong>fects – the past, present<br />

and future. Alcohol Research and health, v.25, n.3, 2001.<br />

WORLD HEALTH ORGANISATION (WHO). The World Health Report 2002.<br />

Reducing Risks, promoting healthy life. WHO. Geneva, 2002.<br />

88


INFLAMAÇÃO<br />

Camila Guimarães Moreira<br />

Arthur da Silveira Pru<strong>de</strong>nte<br />

Cíntia Delai da Silva Horinouchi<br />

Daniel Augusto Gasparin Bueno Men<strong>de</strong>s<br />

“Inflamação, por si própria, não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como uma<br />

doença, mas sim como um processo saudável consequente a alguma lesão ou<br />

alguma doença”<br />

John Hunter, 1974<br />

A inflamação po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como uma reação do organismo, mais<br />

especificamente do tecido vivo vascularizado, a uma <strong>de</strong>terminada injúria local,<br />

que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> natureza química, física ou biológica. O processo nada mais é<br />

do que uma resposta <strong>de</strong> proteção do organismo, muito complexa e caracteriza-<br />

se, basicamente, pela reação <strong>de</strong> vasos sanguíneos, levando ao acúmulo <strong>de</strong><br />

fluidos e células sanguíneas no local. Deve-se ressaltar, entretanto, que o<br />

processo inflamatório envolve o organismo como um todo.<br />

O processo inflamatório, sob <strong>de</strong>terminado ponto <strong>de</strong> vista, po<strong>de</strong> ser<br />

encarado como um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do organismo e, como tal, atua<br />

<strong>de</strong>struindo (fagocitose e anticorpos), diluindo (plasma extravasado) e isolando<br />

ou sequestrando (malha <strong>de</strong> fibrina) o agente agressor, além <strong>de</strong> abrir caminho<br />

para os processos reparativos (cicatrização e regeneração) do tecido afetado.<br />

A inflamação é caracterizada por cinco sinais clássicos: dor, calor, rubor,<br />

tumor (e<strong>de</strong>ma) e, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da progressão da resposta inflamatória, perda<br />

da função. De um modo geral, <strong>em</strong> resposta a um estímulo lesivo, o organismo<br />

animal reage com a liberação, ativação ou síntese <strong>de</strong> substâncias conhecidas<br />

como mediadores químicos ou farmacológicos da inflamação, que <strong>de</strong>terminam<br />

uma série <strong>de</strong> alterações locais, manifestando-se, inicialmente, por dilatação <strong>de</strong><br />

vasos da microcirculação, aumento do fluxo sangüíneo e da permeabilida<strong>de</strong><br />

vascular, com extravasamento <strong>de</strong> líquido plasmático e formação <strong>de</strong> e<strong>de</strong>ma,<br />

89


diape<strong>de</strong>se <strong>de</strong> células para o meio extravascular, fagocitose, aumento da<br />

viscosida<strong>de</strong> do sangue e diminuição do fluxo sangüíneo, po<strong>de</strong>ndo ocorrer até<br />

uma estase. Assim, o processo inicial, agudo, se manifesta localmente <strong>de</strong><br />

forma uniforme, padronizada ou estereotipada, qualquer que seja a natureza do<br />

estímulo lesivo.<br />

A baixa permeabilida<strong>de</strong> das pare<strong>de</strong>s das microvênulas às proteínas é<br />

um fator importante para o equilíbrio dos fluidos teciduais. Em resposta a um<br />

estímulo inflamatório, essa permeabilida<strong>de</strong> aumenta drasticamente e o fluido<br />

rico <strong>em</strong> proteínas <strong>de</strong>sloca-se do sangue para o espaço extravascular. O fluido<br />

extravasado sobrecarrega os vasos linfáticos, resultando <strong>em</strong> inchaço (e<strong>de</strong>ma)<br />

do tecido. O e<strong>de</strong>ma inflamatório é uma conseqüência da lesão do endotélio.<br />

Exist<strong>em</strong> mediadores que atuam <strong>em</strong> receptores nas células endoteliais<br />

das vênulas, induzindo um aumento da permeabilida<strong>de</strong> às proteínas<br />

plasmáticas, tais como histamina, bradicinina, leucotrieno D4 (LTD4),<br />

leucotrieno C4 (LTC4), fator ativador <strong>de</strong> plaquetas (PAF), fatores do<br />

compl<strong>em</strong>ento e substância P.<br />

Em resposta ao estímulo inflamatório, mediadores, tais como PAF,<br />

leucotrieno B4 (LTB4), prostaglandinas (PGs) e citocinas são produzidos por<br />

células resi<strong>de</strong>ntes próximas ao foco inflamatório, induzindo migração <strong>de</strong><br />

leucócitos. Estes mediadores ativam as células endoteliais e induz<strong>em</strong> a<br />

expressão <strong>de</strong> moléculas <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, as quais promov<strong>em</strong> interações a<strong>de</strong>sivas,<br />

facilitando a passag<strong>em</strong> dos leucócitos através das pare<strong>de</strong>s dos vasos<br />

sanguíneos. A a<strong>de</strong>são dos leucócitos circulantes ao endotélio vascular é um<br />

passo crucial para a efetiva <strong>de</strong>fesa do organismo contra infecções. As<br />

interações a<strong>de</strong>sivas entre os leucócitos e as células endoteliais são mediadas<br />

por receptores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são (moléculas <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são) localizados na superfície <strong>de</strong><br />

ambas as células. A interação leucócito-endotélio é regulada por eventos<br />

moleculares que induz<strong>em</strong> mudanças morfológicas, resultando na a<strong>de</strong>são.<br />

Esses eventos po<strong>de</strong>m ser divididos <strong>em</strong> fixação, ativação, a<strong>de</strong>são e passag<strong>em</strong><br />

através da pare<strong>de</strong> vascular.<br />

A fixação é mediada por moléculas <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, tais como as selectinas,<br />

integrinas, as quais são expressas principalmente por leucócitos ativados e<br />

causam a a<strong>de</strong>são leucocitária aos receptores no endotélio.<br />

90


Após forte a<strong>de</strong>são ao endotélio, os leucócitos migram para o tecido sob<br />

a influência <strong>de</strong> fatores quimiotáticos. Os leucócitos polimorfonucleares, que<br />

inclu<strong>em</strong> os neutrófilos (presentes na fase aguda do processo), macrófagos<br />

(presentes na fase tardia ou <strong>de</strong> cronificação), eosinófilos (os quais participam<br />

<strong>de</strong> processos alérgicos ou infecções parasitárias) e linfócitos (importantes <strong>em</strong><br />

respostas imunológicas), presentes no sítio da inflamação, são responsáveis<br />

pela eliminação do estímulo nocivo e restos celulares, mas, por outro lado,<br />

po<strong>de</strong>m provocar lesão tecidual local <strong>de</strong>vido à liberação <strong>de</strong> enzimas e outras<br />

substâncias citoplasmáticas.<br />

Deve-se, no entanto, ter <strong>em</strong> mente, que se trata <strong>de</strong> um processo único e<br />

que estes fatores estão intimamente relacionados, e é a natureza do estímulo<br />

que originou a inflamação que irá <strong>de</strong>terminar o curso <strong>de</strong> sua evolução, agudo<br />

ou crônico, b<strong>em</strong> como o tipo <strong>de</strong> exsudato inflamatório agudo, se purulento,<br />

h<strong>em</strong>orrágico, fibrinoso, mucoso, seroso, ou misto. E, muito <strong>em</strong>bora a reação<br />

inflamatória se manifeste localmente, ela envolve o organismo como um todo,<br />

com a participação dos sist<strong>em</strong>as nervoso e endócrino na regulação do<br />

processo e o aparecimento <strong>de</strong> manifestações gerais, <strong>de</strong>ntre outras a febre,<br />

leucocitose, taquicardia, fibrinólise, alterações na bioquímica do sangue.<br />

As classes <strong>de</strong> fármacos utilizados para o controle da resposta<br />

inflamatória po<strong>de</strong>m ser divididas <strong>em</strong> duas: anti-inflamatórios esteroidais (ex:<br />

<strong>de</strong>xametasona) e anti-inflamatórios não-esteroidais (ex: indometacina). Estas<br />

classes <strong>de</strong> fármacos apresentam proprieda<strong>de</strong>s similares, porém com distintos<br />

mecanismos <strong>de</strong> ação.<br />

Os efeitos dos anti-inflamatórios esteroidais (glicocorticói<strong>de</strong>s) envolv<strong>em</strong><br />

interações entre os esterói<strong>de</strong>s e os receptores intracelulares que pertenc<strong>em</strong> à<br />

superfamília dos receptores que controlam a transcrição gênica.<br />

As agentes anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs) estão entre os<br />

agentes terapêuticos mais utilizados no mundo inteiro. Abrang<strong>em</strong> uma<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> agentes que pertenc<strong>em</strong> a diferentes classes químicas e,<br />

normalmente, apresentam três tipos <strong>de</strong> efeitos principais: efeitos anti-<br />

inflamatórios (modificação da reação inflamatória), efeito analgésico (redução<br />

<strong>de</strong> certos tipos <strong>de</strong> dor) e efeito antipirético (redução da t<strong>em</strong>peratura corporal<br />

elevada). Em geral, todos estes efeitos estão relacionados à ação primária dos<br />

91


fármacos – inibição da ciclooxigenase (COX) e, portanto, inibição das<br />

prostaglandinas e tromboxanos. Praticamente todos os AINEs disponíveis,<br />

sobretudo os “clássicos”, po<strong>de</strong>m apresentar efeitos in<strong>de</strong>sejáveis significativos.<br />

Inibidores não-seletivos da COX: ibuprofeno, paracetamol, ácido acetilsalicílico,<br />

meloxicam. Inibidores da COX-2: celecoxibe, rofecoxibe.<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se que o e<strong>de</strong>ma tecidual é um dos sinais clássicos da<br />

resposta inflamatória, o objetivo da aula prática proposta neste módulo é<br />

investigar o efeito da indometacina e <strong>de</strong>xametasona <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> orelha<br />

induzido por óleo <strong>de</strong> cróton. Ao final <strong>de</strong>sta aula, serão discutidos os<br />

mecanismos envolvidos na indução do e<strong>de</strong>ma pelo óleo <strong>de</strong> cróton, b<strong>em</strong> como<br />

os mecanismos <strong>de</strong> ação dos medicamentos anti-inflamatórios esteroidais e<br />

não-esteroidais.<br />

AULA PRÁTICA<br />

Efeito dos anti-inflamatórios <strong>de</strong>xametasona e indometacina quando<br />

aplicados por via tópica no e<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> orelha induzido por óleo <strong>de</strong> cróton<br />

Drogas:<br />

- óleo <strong>de</strong> cróton (0,4 mg/orelha)<br />

- <strong>de</strong>xametasona (0,05 mg/orelha)<br />

- indometacina (2 mg/orelha)<br />

* Todas as drogas serão aplicadas no volume <strong>de</strong> 20 μl.<br />

Animais:<br />

Camundongos Swiss (fêmeas pesando entre 25 a 30 gramas).<br />

Procedimento:<br />

Para a avaliação da resposta e<strong>de</strong>matogênica na orelha <strong>de</strong><br />

camundongos, será avaliada a variação da espessura da orelha por meio <strong>de</strong><br />

micrômetro. A avaliação do e<strong>de</strong>ma será feita antes e 6 horas após a indução<br />

do e<strong>de</strong>ma, e a variação da espessura das orellhas será calculada subtraindo-<br />

92


se o valor obtido na primeira medida do valor obtido na segunda medida (6<br />

horas após a indução).<br />

Tabela:<br />

Referências<br />

Basal 6ª hora EDEMA FINAL<br />

C<br />

ontrole exa ndo<br />

C<br />

ontrole exa ndo<br />

C<br />

ontrole exa ndo<br />

RANG, H. P.; DALE, M.M; RITTER, J.M.; FLOWER, R.J. Farmacologia. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Elsevier, 6 ed., 2007.<br />

SHERWOOD, E. R., TOLIVER-KINSKY, T. Mechanisms of the inflammatory<br />

response. Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology, 18 (3): 385–<br />

405, 2004.<br />

SIMMONS, D.L. What makes a good anti-inflammatory drug target? Drug<br />

Discovery Today, v.11(5/6), p. 210-219, 2006.<br />

Tincani, A., Andreoli, L., Bazzani, C., Bosiso, D., Sozzani, S. Inflammatory<br />

molecules: A target for treatment of syst<strong>em</strong>ic autoimmune diseases<br />

Autoimmunity Reviews 7: 1–7, 2007.<br />

93


RESPOSTA FEBRIL<br />

Amanda Leite Bastos Pereira<br />

A febre, comum a várias doenças, é uma resposta sistêmica iniciada<br />

quando um organismo sofre dano tecidual inflamatório e/ou infeccioso. Diante<br />

<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio, o cérebro lança mão <strong>de</strong>ssa po<strong>de</strong>rosa resposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

(Ivanov & Romanovsky, 2004). Po<strong>de</strong> ser também <strong>de</strong>finida como um aumento<br />

controlado da t<strong>em</strong>peratura corporal, ocasionado por uma elevação do ponto <strong>de</strong><br />

regulag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>peratura, que se localiza no hipotálamo. Esta mudança,<br />

por sua vez, é induzida por mediadores produzidos durante uma inflamação ou<br />

processo infeccioso (Kluger, 1991; Roth & De Souza, 2001).<br />

A atuação do hipotálamo na resposta febril é <strong>de</strong> fundamental importância<br />

e uma das características primárias que a difere <strong>de</strong> hipertermia. Nesta última,<br />

caracterizada pela incapacida<strong>de</strong> do organismo <strong>de</strong> dissipar calor na mesma<br />

intensida<strong>de</strong> que este foi produzido, não há alteração hipotalâmica. Ainda, na<br />

hipertermia, uma das principais alterações fisiológicas é a vasodilatação<br />

periférica, com o objetivo <strong>de</strong> dissipar o calor. Na resposta febril, o que se busca<br />

é conservar a t<strong>em</strong>peratura, <strong>de</strong>corrente da alteração do termostato orgânico,<br />

caracterizando-se, portanto, <strong>em</strong> vasoconstrição periférica.<br />

A administração <strong>de</strong> lipopolissacarí<strong>de</strong>o (LPS), proveniente <strong>de</strong> pare<strong>de</strong><br />

celular <strong>de</strong> bactérias Gram-negativas, a animais <strong>de</strong> laboratório representa um<br />

dos mo<strong>de</strong>los clássicos <strong>de</strong> indução da resposta febril, mimetizando o que ocorre<br />

naturalmente <strong>em</strong> processos infecciosos por este tipo <strong>de</strong> bactéria. O LPS<br />

estimula receptores do tipo Toll-4 <strong>em</strong> células fagocíticas (particularmente <strong>em</strong><br />

macrófagos) (A<strong>de</strong>r<strong>em</strong> & Ulevitch, 2000) induzindo a liberação <strong>de</strong> citocinas (no<br />

caso da resposta febril chamadas <strong>de</strong> pirógenos endógenos), que por sua vez<br />

atuam levando a mensag<strong>em</strong> ao hipotálamo para indução <strong>de</strong> febre (Kluger,<br />

1991). Outros agentes também po<strong>de</strong>m ser utilizados para a indução <strong>de</strong> febre,<br />

incluindo materiais provenientes <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> celular <strong>de</strong> bactérias Gram-positivas<br />

e fragmentos virais. No entanto, as vias <strong>de</strong> indução melhor estabelecidas até o<br />

momento presente utilizam o LPS como mo<strong>de</strong>lo.<br />

94


Dentre os pirogênios endógenos hoje reconhecidos, encontram-se as<br />

citocinas como interleucina (IL)-1β, IL-1α, fator <strong>de</strong> necrose tumoral-α (TNF-α),<br />

IL-6, IL-8, proteína inflamatória <strong>de</strong> macrófago (MIP) -1 α e β, interferon β e<br />

γ, CINC-1 (Zampronio et al., 1994; Minano et al., 1996; Soares et al., 2009).<br />

Exist<strong>em</strong> várias hipóteses que tentam explicar como estas citocinas,<br />

geradas perifericamente, modificam a ativida<strong>de</strong> neuronal <strong>de</strong>ntro do hipotálamo<br />

(mais precisamente e principalmente a área pré-optica do hipotálamo anterior -<br />

PO/HA), como, por ex<strong>em</strong>plo, a entrada por áreas <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> barreira<br />

h<strong>em</strong>atoencefálica, a participação <strong>de</strong> transportadores e neurônios aferentes.<br />

Qualquer que seja a via <strong>de</strong> comunicação com a área PO/HA, os eventos<br />

levariam a síntese e liberação <strong>de</strong> mediadores centrais, entre eles:<br />

prostaglandinas E2 e F2α e D2 (PGE2, PGF2α e PGD2) (Milton, 1989; Coelho et<br />

al., 1993; Gao et al., 2009), hormônio liberador <strong>de</strong> corticotrofina (CRH)<br />

(Rothwell, 1989), opiói<strong>de</strong>s endógenos (Fraga et al.,2008), substância P (Reis,<br />

2007) e endotelina-1 (ET-1) (Fabricio et al.,1998) resultando <strong>em</strong> um reajuste do<br />

termostato hipotalâmico, que passaria a controlar a t<strong>em</strong>peratura corporal a<br />

níveis acima <strong>de</strong> 36,5-37°C.<br />

A figura 1 representa um esqu<strong>em</strong>a simplificado da resposta febril, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o pirogênio exógeno, que quando administrado ou proveniente <strong>de</strong> material<br />

infeccioso ou inflamatório, leva à produção <strong>de</strong> citocinas (pirogênios endógenos)<br />

que, por sua vez, aumentam os níveis <strong>de</strong> mediadores centrais, responsáveis<br />

pela alteração hipotalâmica.<br />

95


Figura 1 – Representação esqu<strong>em</strong>ática da resposta febril.<br />

Todas as vias <strong>de</strong> indução <strong>de</strong> febre são bastante complexas. A<br />

compreensão dos <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> sua indução, interação com diversos sist<strong>em</strong>as,<br />

novas moléculas pirogênicas e <strong>de</strong> como estas moléculas interag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ntro do<br />

sist<strong>em</strong>a, b<strong>em</strong> como novas maneiras <strong>de</strong> bloquear o sist<strong>em</strong>a, são úteis não<br />

somente para se enten<strong>de</strong>r a febre per se (e consequent<strong>em</strong>ente como controlá-<br />

la mais a<strong>de</strong>quadamente durante processos inflamatórios e infecciosos), mas<br />

também para se enten<strong>de</strong>r como se processa a comunicação entre o sist<strong>em</strong>a<br />

imune e o sist<strong>em</strong>a nervoso central.<br />

Referências<br />

A<strong>de</strong>r<strong>em</strong> A, Ulevitch RJ (2000) Toll-like receptors in the induction of the innate<br />

immune response. Nature 406:782-787.<br />

Coelho MM, Pela IR, Rothwell NJ (1993) Dexamethasone inhibits the pyrogenic<br />

activity of prostaglandin F2 alpha, but not prostaglandin E2. Eur J Pharmacol<br />

238:391-394.<br />

Fabricio AS, Silva CA, Rae GA, D'Orleans-Juste P, Souza GE (1998) Essential<br />

role for endothelin ET(B) receptors in fever induced by LPS (E. coli) in rats. Br J<br />

Pharmacol 125:542-548.<br />

Fraga D, Machado RR, Fernan<strong>de</strong>s LC, Souza GE, Zampronio AR (2008)<br />

Endogenous opioids: role in prostaglandin-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt and -in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt fever.<br />

Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 294:R411-420<br />

Gao W, Schmidtko A, Wobst I, Lu R, Angioni C, Geisslinger G (2009)<br />

Prostaglandin D2 produced by h<strong>em</strong>atopoietic prostaglandin D synthase<br />

contributes to LPS-induced fever. J Physiol Pharmacol 60:145-150<br />

Kluger MJ (1991) Fever: role of pyrogens and cryogens. Physiol Rev 71:93-127.<br />

Milton AS (1989) Thermoregulatory actions of eicosanoids in the central<br />

nervous syst<strong>em</strong> with particular regard to the pathogenesis of fever. Ann N Y<br />

Acad Sci 559:392-410.<br />

Minano FJ, Fernan<strong>de</strong>z-Alonso A, Myers RD, Sancibrian M (1996) Hypothalamic<br />

interaction between macrophage inflammatory protein-1 alpha (MIP-1 alpha)<br />

and MIP-1 beta in rats: a new level for fever control? J Physiol 491 ( Pt 1):209-<br />

217.<br />

Reis RCd (2007) Participação <strong>de</strong> receptores NK1 na resposta febril induzida<br />

por endotoxina bacteriana. In: Departamento <strong>de</strong> Farmacologia, p 90. Curitiba:<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<br />

96


Roth J, De Souza GE (2001) Fever induction pathways: evi<strong>de</strong>nce from<br />

responses to syst<strong>em</strong>ic or local cytokine formation. Braz J Med Biol Res 34:301-<br />

314.<br />

Rothwell NJ (1989) CRF is involved in the pyrogenic and thermogenic effects of<br />

interleukin 1 beta in the rat. Am J Physiol 256:E111-115.<br />

Soares DM, Figueiredo MJ, Martins JM, Machado RR, Kanashiro A, Malvar Ddo<br />

C, Pessini AC, Roth J, Souza GE (2009) CCL3/MIP-1 alpha is not involved in<br />

the LPS-induced fever and its pyrogenic activity <strong>de</strong>pends on CRF. Brain Res<br />

1269:54-60.<br />

Zampronio AR, Souza GE, Silva CA, Cunha FQ, Ferreira SH (1994) Interleukin-<br />

8 induces fever by a prostaglandin-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt mechanism. Am J Physiol<br />

266:R1670-1674.<br />

AULA PRÁTICA<br />

Efeito da resposta febril induzida por lps<br />

Objetivo: Verificar o efeito do lipopolissacarí<strong>de</strong>o (LPS) na resposta febril <strong>em</strong><br />

ratos.<br />

Animais: ratos (Rattus novergicus) – machos, peso entre 170 - 250 g<br />

Drogas: solução salina e LPS na dose <strong>de</strong> 50 µg/kg, ip<br />

Procedimento: Para a avaliação da resposta febril, utilizar<strong>em</strong>os um<br />

termômetro retal para medição da t<strong>em</strong>peratura corporal dos animais. Esse<br />

termômetro será inserido a 4 cm do reto do animal, s<strong>em</strong> retirá-lo <strong>de</strong> suas<br />

gaiolas, por 1 minuto, <strong>em</strong> intervalos <strong>de</strong> 30 minutos, durante um período <strong>de</strong> 6<br />

horas. Os animais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser manuseados gentilmente e segurados<br />

manualmente durante as medidas <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peratura. Esse procedimento é feito<br />

no dia anterior ao experimento, no mínimo, duas vezes ao dia, para habituar os<br />

animais e evitar medidas discrepantes <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peratura. Geralmente, essas<br />

medições são realizadas antes do tratamento (t<strong>em</strong>peratura basal) e até 6 horas<br />

após o tratamento. Após as medições, os dados serão analisados e os<br />

resultados serão discutidos.<br />

Resultados:<br />

Grupos/Medidas 1ª Medida 2ª Medida 3ª Medida<br />

Salina<br />

97


LPS 50µg/kg<br />

98


Definição<br />

TOXICOLOGIA<br />

INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA<br />

Aline Stolf<br />

Fabíola Nihi<br />

Stéfani Rossi<br />

Ana Carolina Lourenço<br />

João Luiz Coelho Ribas<br />

Izonete Cristina Guiloski<br />

Samanta Luiza <strong>de</strong> Araújo<br />

Francislaine Lívero Vieira<br />

Samanta L. Araújo<br />

A toxicologia po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida como o ramo da ciência que se ocupa com<br />

venenos. O veneno po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como qualquer substância que causa<br />

efeitos <strong>de</strong>letérios quando administrada tanto aci<strong>de</strong>ntal como intencional, para<br />

um organismo vivo (HODGSON, 2003).<br />

A toxicida<strong>de</strong> raramente po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como um evento molecular<br />

único; ao invés disso, é uma cascata <strong>de</strong> eventos que começa durante a<br />

exposição, prosseguindo para a distribuição, o metabolismo, e termina com a<br />

interação com macromoléculas da célula (geralmente DNA ou/e proteína) e a<br />

expressão <strong>de</strong> uma variável tóxica. A toxicida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser reduzida pela<br />

excreção e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> reparo celular (HODGSON, 2003).<br />

O estudo da toxicologia serve a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes maneiras, para<br />

proteger os humanos e a natureza dos efeitos <strong>de</strong>letérios dos toxicantes,<br />

estabelecer limites seguros para os agentes químicos, para facilitar o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesticidas e fármacos mais seletivos e para prevenir,<br />

diagnosticar e tratar as intoxicações <strong>de</strong> maneira mais eficiente (GALLO, 2001;<br />

HODGSON, 2003).<br />

99


Terminologia:<br />

Agente tóxico: Agente causador <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong>letérios <strong>em</strong> organismos vivos.<br />

Bioindicador: animal mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong>pregado na pesquisa.<br />

Biomarcador: variável anotada no bioindicador (variável).<br />

CL50: Concentração letal para 50% <strong>de</strong> uma amostra <strong>de</strong> animais experimentais<br />

expostos ao ar ou a água contaminada.<br />

DL50: Dose letal para 50% <strong>de</strong> uma amostra <strong>de</strong> animais experimentais expostos<br />

pela via parenteral e/ou enteral.<br />

Exposições crônicas: São as que duram 10% a 100% da expectativa <strong>de</strong> vida<br />

do ser. Para os seres humanos entre 7 e 70 anos.<br />

Exposições subcrônicas: São aquelas <strong>de</strong> curta duração, menores do que<br />

10% do período vital.<br />

Exposições agudas: São exposições <strong>de</strong> um dia ou menos e que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

um único evento ou divididas <strong>em</strong> 24 horas.<br />

Homeostase: palavra grega (homeo – similar; stasis – estático) para <strong>de</strong>notar<br />

uma condição <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> orgânica. Envolve o equilíbrio dinâmico entre os<br />

mecanismos <strong>de</strong> regulação interrelacionados.<br />

Toxina: Substância natural com efeitos tóxicos. Possui orig<strong>em</strong> biológica.<br />

Toxicante: substância sintética (síntese <strong>em</strong> laboratório).<br />

Toxicida<strong>de</strong>: Acumulação <strong>de</strong> danos <strong>em</strong> períodos curtos ou longos que torna um<br />

organismo incapaz <strong>de</strong> funcionar <strong>de</strong>ntro dos limites da adaptação ou <strong>de</strong> outras<br />

formas <strong>de</strong> recuperação.<br />

Toxida<strong>de</strong> Aguda: é avaliada pela Dose Letal (DL50) ou pela Concentração<br />

Letal (CL50), após a exposição aguda a um agente.<br />

Toxida<strong>de</strong> Crônica e Sub-Crônica: é avaliada pela maior dose <strong>em</strong>pregada na<br />

exposição, que não <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ie efeitos adversos; e pela menor dose que<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ie efeitos adversos no bioindicador <strong>em</strong>pregado.<br />

Variável: medida ou qualida<strong>de</strong> avaliada <strong>em</strong> um sujeito.<br />

Veneno: Agente tóxico causador e efeitos graves, por vezes mortais.<br />

Xenobionte: Substância estranha ao organismo.<br />

100


Aspectos históricos<br />

A história da toxicologia confun<strong>de</strong>-se com a história das civilizações<br />

humanas. Primeiramente o ser humano observava o efeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

plantas e animais ingeridos por outros animais e seres humanos. Através da<br />

observação <strong>de</strong> efeitos tóxicos causados pela substância no organismo era<br />

<strong>de</strong>saconselhado o uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas plantas e animais.<br />

As civilizações antigas, grega e romana, foram as primeiras a instituir o<br />

uso <strong>de</strong> substâncias químicas para eliminar <strong>de</strong>safetos e para controlar outros<br />

povos (SCHOU E HODEL, 2003). Relatos que datam <strong>de</strong> 1500 a.C. reportam o uso<br />

do ópio, venenos utilizados <strong>em</strong> pontas <strong>de</strong> flechas e alguns metais (LANGMAN E<br />

KAPUR, 2006). Alguns representantes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância histórica para a<br />

ciência foram vítimas <strong>de</strong> intoxicações, como Sócrates pela cicuta e Cleópatra<br />

por uma naja. A partir <strong>de</strong> 1453, no período renascentista, a toxicologia começa<br />

a ser moldada, surge uma <strong>de</strong>finição clássica da toxicologia como a ciência dos<br />

envenenamentos. Neste período há a preocupação com as proprieda<strong>de</strong>s físico-<br />

químicas dos tóxicos (estudo dos tóxicos), com os efeitos que interfer<strong>em</strong> na<br />

fisiologia e no comportamento dos seres vivos (efeito tóxico), métodos para a<br />

análise quantitativa e qualitativa <strong>de</strong> matérias biológicas e não biológicas<br />

(diagnóstico da intoxicação) e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> procedimentos que<br />

permitam o tratamento dos intoxicados.<br />

Um agente tóxico, também conhecido por toxicante ou poison é <strong>de</strong>finido<br />

como qualquer substância que <strong>em</strong> dose suficiente provoque doenças e a morte<br />

(LANGMAN E KAPUR, 2006). Paracelso (1493-1541), um médico do século 16<br />

observou que “todas as substâncias são tóxicas; não exist<strong>em</strong> substâncias que<br />

não sejam tóxicas. A dose certa é que diferencia o r<strong>em</strong>édio do tóxico”. Esta<br />

observação permitiu que muito t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois fosse introduzido o termo índice<br />

terapêutico para fármacos. O índice terapêutico é obtido a partir <strong>de</strong><br />

experimentos simples e <strong>de</strong> curta duração (LANGMAN E KAPUR, 2006). A<br />

afirmação <strong>de</strong> Paracelso é corroborada pela observação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

alimentos com baixas concentrações <strong>de</strong> agentes tóxicos (como o arsênio, o<br />

chumbo, o diclorodifeniltricloroetano [DDT] e o ácido cianídrico) e não causam<br />

sinais <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> aguda, ao passo que gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água<br />

101


causam um <strong>de</strong>sequilíbrio na concentração <strong>de</strong> íons no organismo e po<strong>de</strong>m até<br />

<strong>de</strong>terminar a morte. Contudo, o conceito <strong>de</strong> que qualquer substância po<strong>de</strong> ser<br />

tóxica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da dose nos permite a falsa idéia <strong>de</strong> que doses maiores são<br />

mais <strong>de</strong>letérias, quando na verda<strong>de</strong> t<strong>em</strong>os substância que <strong>em</strong> exposições<br />

prolongadas a baixas doses provocam efeitos consi<strong>de</strong>rados extr<strong>em</strong>amente<br />

severos como neurotoxicida<strong>de</strong>, infertilida<strong>de</strong>, câncer, alterações imunológicas e<br />

alterações anatômicas (ARAÚJO, 2005).<br />

No século 18 o médico espanhol Matthieu Joseph Bonaventure Orfila<br />

obteve as primeiras correlações entre <strong>de</strong>terminada substância química e o<br />

efeito observado no organismo exposto através <strong>de</strong> avaliação dos danos<br />

produzidos <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados órgãos durante a necropsia. Ele foi o primeiro a<br />

propor a separação da toxicologia como uma ciência separada e que a análise<br />

química <strong>de</strong>veria ser à base <strong>de</strong> toda a toxicologia. Este pensamento permanece<br />

até hoje com a avaliação da exposição dos organismos aos tóxicos utilizando<br />

metodologias <strong>de</strong> investigação científica sofisticada (LANGMAN E KAPUR, 2006).<br />

Matthieu Orfila foi o primeiro pesquisador a publicar um livro específico sobre<br />

toxicologia no ano <strong>de</strong> 1814, intitulado Traité <strong>de</strong>s Regnes Minéral Vegetal et<br />

Animal, ou Toxicologie Générale Considérée Sous lês Rapports <strong>de</strong> la<br />

Pathologie et <strong>de</strong> Médicine Légale (LANGMAN E KAPUR, 2006).<br />

O século 20 foi marcado por avanços significativo que permitiram a<br />

compreensão da toxicologia. Foram feitas <strong>de</strong>scobertas no ramo da biologia<br />

celular e molecular que proporcionaram não só um avanço no conhecimento do<br />

funcionamento da célula e dos organismos, mas também como vários grupos<br />

celulares conviv<strong>em</strong> e interag<strong>em</strong>. O século 20 também foi marcado pela<br />

utilização da síntese química na formulação <strong>de</strong> uma vasta gama <strong>de</strong><br />

substâncias (fármacos, pesticidas e armas). Hoje po<strong>de</strong>mos reconhecer que as<br />

substâncias interfer<strong>em</strong> nos processos biológicos da célula para produzir seus<br />

efeitos tóxicos. Essa característica faz da toxicologia uma ciência<br />

multidisciplinar que requer ciências <strong>de</strong> base (anatomia, biologia celular,<br />

química, bioquímica, patologia e farmacologia), nas quais se apóia para<br />

<strong>de</strong>terminar qual a substância responsável pela intoxicação, como ocorre a ação<br />

tóxica da uma substância (toxicodinâmica) e qual abordag<strong>em</strong> terapêutica <strong>de</strong>ve<br />

ser utilizada.<br />

102


Alguns casos <strong>de</strong> intoxicação com repercussão mundial estimularam a<br />

realização <strong>de</strong> congressos internacionais e a formação <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s<br />

internacionais para discussão <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as <strong>em</strong> toxicologia e para propor<br />

metodologias a ser<strong>em</strong> <strong>em</strong>pregadas na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> ações tóxicas <strong>de</strong><br />

substâncias. O primeiro acontecimento foi a intoxicação <strong>de</strong> crianças por uma<br />

solução a base <strong>de</strong> sulfanilamina <strong>em</strong> 1935. As intoxicações foram <strong>de</strong>correntes<br />

do diluente utilizado, o dietileno glicol, um agente nefrotóxico. Já era sabido<br />

que o dietileno glicol apresenta ação tóxica, mas por falta <strong>de</strong> diss<strong>em</strong>inação da<br />

informação o fármaco foi liberado para uso (GEILING E CANNON, 1938). O<br />

segundo acontecimento foi a catástrofe provocada pela talidomida <strong>em</strong> 1961 e<br />

1962, quando uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crianças nasceu com sérios<br />

probl<strong>em</strong>as anatômicos resultantes da ação teratogênica da substância<br />

(MCBRIDE, 1961; LENZ E KNAPP, 1962). A primeira socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> toxicologia foi<br />

fundada <strong>em</strong> 1961 nos Estados Unidos (Society of Toxicology – SOT) e na<br />

seqüência foi fundada a Socieda<strong>de</strong> Européia para Estudos da Toxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Drogas (European Society for the Study of Drug Toxicity – ESSDT), <strong>em</strong> 1962<br />

(SCHOU E HODEL, 2003).<br />

A toxicologia mo<strong>de</strong>rna apresenta como enfoque a prevenção e predição<br />

das intoxicações. Com base neste enfoque po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar três gran<strong>de</strong>s<br />

áreas <strong>de</strong> atuação para a toxicologia; a TOXICOLOGIA AMBIENTAL, que<br />

estuda os efeitos tóxicos <strong>de</strong> substâncias encontradas na atmosfera, na ca<strong>de</strong>ia<br />

alimentar, no ambiente <strong>de</strong> trabalho e no ambiente recreativo; a TOXICOLOGIA<br />

CLÍNICA, que estuda os efeitos adversos e tóxicos <strong>de</strong> substâncias (fármacos)<br />

utilizadas intencionalmente com fins terapêuticos; e a TOXICOLOGIA<br />

FORENSE, que estuda os aspectos médico-legais das intoxicações (LANGMAN<br />

E KAPUR, 2006).<br />

1.4 Áreas da toxicologia:<br />

As ativida<strong>de</strong>s do profissional <strong>em</strong> toxicologia ca<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma das três<br />

maiores categorias, <strong>de</strong>scritiva, mecânica e regulatória. Apesar das diferenças,<br />

todas contribu<strong>em</strong> para a <strong>de</strong>terminação do risco (FAUSTMAN E OMENN, 2001).<br />

a. Toxicologia dos Alimentos – <strong>de</strong>termina a Ingestão Diária Aceitável<br />

(IDA) para resíduos <strong>de</strong> pesticidas e aditivos alimentares, com base na Menor<br />

103


Dose que causa efeitos adversos nos animais experimentais e nos fatores <strong>de</strong><br />

extrapolação intra-espécies e inter-espécie.<br />

b. Toxicologia Ambiental – avalia o impacto ambiental das ativida<strong>de</strong>s<br />

ligadas ao trabalho nos diferentes setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

c. Toxicologia Ocupacional – possui a atenção voltada para a segurança<br />

no trabalho. Faz o reconhecimento <strong>de</strong> pontos críticos <strong>de</strong> controle nas<br />

<strong>em</strong>presas. Seu foco é a saú<strong>de</strong> do trabalhador no ambiente <strong>de</strong> trabalho.<br />

d. Toxicologia dos Medicamentos – com a atenção voltada para<br />

segurança dos fármacos distribuídos para a comercialização<br />

(farmacovigilância) e para fins experimentais.<br />

e. Toxicologia Social – associada ao <strong>de</strong>svio no <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> fármacos e<br />

outras substâncias consi<strong>de</strong>radas drogas <strong>de</strong> abuso.<br />

f. Toxinologia – ciência que estuda as toxinas dos microorganismos,<br />

plantas e animais, suas características, formação, função e metabolismo.<br />

Rotas <strong>de</strong> exposição<br />

a. Oral – a principal forma <strong>de</strong> absorção é a difusão simples <strong>de</strong> moléculas<br />

não ionizadas solúveis <strong>em</strong> lipídios (BRODEUR E TARDIF, 2005). A ionização das<br />

moléculas do tóxico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do pH do local, do pKa do tóxico e do órgão<br />

exposto. O principal local <strong>de</strong> absorção das substâncias tóxicas, quando a rota<br />

<strong>de</strong> exposição é a oral, é o intestino <strong>de</strong>lgado, com características anatômicas<br />

que o favorec<strong>em</strong> (BRODEUR E TARDIF, 2005).<br />

b. Dermal – a pele representa uma barreira efetiva, mas imperfeita<br />

contra xenobiontes. A maior barreira para a entrada <strong>de</strong> substâncias é dada pela<br />

queratina (estrato córneo). Ela atrasa a difusão passiva das moléculas. A<br />

difusão simples é muito mais rápida no estrato granuloso, no espinhoso e no<br />

germinativo (BRODEUR E TARDIF, 2005). Além das características da barreira, a<br />

vasodilatação, a gran<strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> contato e a hidratação da pele permit<strong>em</strong><br />

a absorção ainda mais rápida <strong>de</strong> xenobiontes.<br />

c. Inalatória – O pulmão humano é exposto a 10000 litros <strong>de</strong> ar, mais ou<br />

menos contaminado, a cada dia, ao exercer sua função fisiológica. A via<br />

inalatória é importante na absorção <strong>de</strong> gases, ou vapores e partículas líquidas<br />

ou sólidas <strong>de</strong> massa diminuta. Fragmentos maiores ficam <strong>de</strong>positados <strong>em</strong><br />

104


diferentes regiões do trato respiratório ou são eliminados através da tosse e do<br />

espirro. A absorção dos tóxicos inalados ocorre principalmente nos alvéolos. A<br />

região alveolar apresenta uma gran<strong>de</strong> superfície <strong>de</strong> absorção (80 m 2 <strong>em</strong> um<br />

ser humano adulto) e uma barreira formada por uma camada fina <strong>de</strong> células<br />

alveolares. Partículas com 0,1 a 1,0 µm <strong>de</strong> diâmetro alcançam a região<br />

alveolar. As partículas com menos <strong>de</strong> 0,1 µm <strong>de</strong> diâmetro entram e sa<strong>em</strong> com<br />

o ar durante a inspiração e a expiração (BRODEUR E TARDIF, 2005).<br />

Principais efeitos <strong>de</strong>letérios:<br />

ou tardio)<br />

a. Alterações cardiovasculares e respiratórias;<br />

b. Alterações do sist<strong>em</strong>a nervoso;<br />

c. Lesões orgânicas: ototoxicida<strong>de</strong>, hepatotoxicida<strong>de</strong> e nefrotoxicida<strong>de</strong>;<br />

d. Lesões carcinogênicas/tumorigênicas;<br />

e. Lesões teratogênicas (malformações do feto);<br />

f. Alterações genéticas: mutagênese<br />

g. Infertilida<strong>de</strong>: masculina, f<strong>em</strong>inina ou mista;<br />

h. Alterações da capacida<strong>de</strong> reprodutora: teratogênese; aborto (precoce<br />

Alguns ex<strong>em</strong>plos: Vitamina A – Atraso mental; cérebro e coração.<br />

Talidomida - Coração e m<strong>em</strong>bros.<br />

Fenobarbital - Palato; coração; atraso mental.<br />

Álcool - Defeitos faciais; atraso mental.<br />

Cloranfenicol - Aplasia medular<br />

Classificação dos efeitos toxicológicos:<br />

a. Locais x Sistêmicos – a manifestação tóxica será consi<strong>de</strong>rada local<br />

quando for próxima ao órgão exposto (corrosão, inflamação, neoformação) e<br />

sistêmica quando for <strong>em</strong> um local/órgão distante do local exposto (lesão<br />

gástrica que não envolva substâncias cáusticas, lesão hepática,<br />

neurotoxicida<strong>de</strong>).<br />

b. Imediatos x Tardios – O efeito imediato é aquele que aparece após a<br />

exposição única ou repetida próximo ao período <strong>de</strong> exposição. O efeito tardio<br />

105


é aquele que aparece após um lapso <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. Os efeitos carcinogênicos são<br />

consi<strong>de</strong>rados tardios, pois só irão surgir 10 a 20 anos após a exposição ter<br />

cessado. A mutação neoplásica das células também po<strong>de</strong> ser associada a<br />

exposição crônica.<br />

c. Reversíveis x Irreversíveis, <strong>de</strong> acordo com o t<strong>em</strong>po necessário para o<br />

retorno do paciente a homeostase.<br />

Referências<br />

Araújo, S.L. Ratos wistar expostos aos inseticidas lambda-cialotrina, carbaril e<br />

metamidofós <strong>em</strong> testes reprodutivos <strong>de</strong> curta e longa duração. 2005. f. 74.<br />

Dissertação (Mestrado <strong>em</strong> farmacologia – área <strong>de</strong> concentração <strong>em</strong><br />

Toxicologia) – curso <strong>de</strong> pós-graduação <strong>em</strong> farmacologia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

do Paraná, Curitiba.<br />

Bro<strong>de</strong>ur, J.; Tardif, R. Absorption. Em: Wexler, P. Encyclopedia of Toxicology.<br />

2 a .ed., Elsevier, 2005.<br />

Faustman, E.M.; Omenn, G.S. Risk assessment Em: Klassen, C.D. Casarett e<br />

Douls’s toxicology: The Basic Science of Poisons. 6ª ed., New York: Mc Graw-<br />

Hill, 2001.<br />

Gallo, M.A. History and scope of toxicology. Em: Klassen, C.D. Casarett e<br />

Douls’s toxicology: The Basic Science of Poisons. 6ª ed., New York: Mc Graw-<br />

Hill, 2001.<br />

Geiling, E.M.K., Cannon, P.R. Pathological effects of elixir of sulfanilami<strong>de</strong><br />

(diethylene glycol) poisoning. Journal of the American Medical Association, v.<br />

111, p. 919-926. 1938.<br />

Hodgson, E. Introduction to toxicology. Em: Hodgson, E. Mo<strong>de</strong>rn toxicology. 3 a<br />

ed., John Wiley & Sons. 2004.<br />

Langman, L.J., Kapur, B.M. Toxicology: Then and now. Clinical Bioch<strong>em</strong>istry, v.<br />

39, p. 498-510. 2006.<br />

Lenz, W., Knapp, K. Die thalidomid-<strong>em</strong>bryopathie. Dtsch. Med. Wschr, v. 87, p.<br />

992. 1962.<br />

McBri<strong>de</strong>, W.G. Thalidomi<strong>de</strong> and congenital abnormalities. Lancet, v. 2, p. 1358.<br />

1961.<br />

Schou, J.S., Ro<strong>de</strong>l, C.M. The International Union of Toxicology (IUTOX) history<br />

and its role in information on toxicology. Toxicology, v. 190, p. 117-124. 2003.<br />

106


TOXICOLOGIA REPRODUTIVA<br />

Fabíola Nihi<br />

Ana Carolina Lourenço<br />

A Toxicologia Reprodutiva é o estudo da ocorrência dos efeitos adversos<br />

sobre o sist<strong>em</strong>a reprodutor <strong>de</strong> machos ou fêmeas, que po<strong>de</strong> resultar da<br />

exposição a agentes químicos ou físicos.<br />

Distúrbios reprodutivos t<strong>em</strong> se tornado um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública.<br />

Uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores está associada aos mesmos, como a nutrição do<br />

individuo, o meio ambiente, o nível sócio econômico, o estilo <strong>de</strong> vida e o<br />

estresse. Os distúrbios que afetam o sist<strong>em</strong>a reprodutor inclu<strong>em</strong> redução na<br />

fertilida<strong>de</strong>, impotência, distúrbios menstruais, abortos espontâneos, menor<br />

peso no nascimento e outros <strong>de</strong>feitos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (US EPA, 1996).<br />

Dentro da Toxicologia Reprodutiva encontram-se duas outras áreas, a<br />

Teratologia e a Toxicologia do Desenvolvimento. A Teratologia estuda as<br />

causas, os mecanismos e os padrões do <strong>de</strong>senvolvimento anormal induzido<br />

durante o período compreendido entre a concepção e o nascimento. A<br />

Toxicologia do Desenvolvimento se <strong>de</strong>senvolveu a partir da Teratologia, trata-<br />

se <strong>de</strong> uma ciência recente e estuda os efeitos adversos sobre o organismo <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, ocorrendo <strong>em</strong> qualquer momento do ciclo <strong>de</strong> vida do<br />

organismo, que po<strong>de</strong> resultar da exposição a agentes químicos ou físicos,<br />

antes da concepção (através do comprometimento <strong>de</strong> gametas dos pais),<br />

durante o <strong>de</strong>senvolvimento pré-natal, ou no período pós-natal até o período <strong>de</strong><br />

puberda<strong>de</strong>.<br />

Portanto, o objetivo da Toxicologia Reprodutiva é investigar os possíveis<br />

efeitos adversos sobre o sist<strong>em</strong>a reprodutor após exposição a diferentes<br />

substâncias químicas durante períodos críticos do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O sist<strong>em</strong>a reprodutor se forma muito cedo durante o período<br />

gestacional, mas sua maturação estrutural e funcional só ocorre na puberda<strong>de</strong>.<br />

A exposição a tóxicos durante o <strong>de</strong>senvolvimento inicial po<strong>de</strong> levar a alterações<br />

que possivelmente afetarão a função ou o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho reprodutivo adulto.<br />

107


Ex<strong>em</strong>plos disso são as substancias consi<strong>de</strong>radas estrógenos ou anti-<br />

andrógenos que interfer<strong>em</strong> na diferenciação sexual masculina. Efeitos<br />

adversos como a redução da fertilida<strong>de</strong> da prole são conseqüências tardias da<br />

exposição a tóxicos durante o período gestacional. Alterações <strong>em</strong> outros<br />

parâmetros como comportamento sexual, normalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> ciclo reprodutivo, ou<br />

função gonadal também po<strong>de</strong>m afetar a fertilida<strong>de</strong> (US EPA, 1996).<br />

Os hormônios têm importante papel regulatório na gestação a partir do<br />

momento da ovulação e fertilização até a parturição. Eles também participam<br />

da diferenciação sexual do sist<strong>em</strong>a nervoso central do feto e no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das características sexuais secundárias formadas durante a<br />

gestação até a maturação do sist<strong>em</strong>a reprodutor que se completa na<br />

puberda<strong>de</strong>. Alterações reprodutivas no <strong>de</strong>senvolvimento e diferenciação<br />

po<strong>de</strong>m ser produzidas por <strong>de</strong>sreguladores endócrinos (substâncias químicas<br />

naturais ou sintéticas, que são capazes <strong>de</strong> modular ou <strong>de</strong>sregular o sist<strong>em</strong>a<br />

endócrino por mimetizar ou inibir as ações dos hormônios endógenos) e po<strong>de</strong>m<br />

resultar <strong>em</strong> infertilida<strong>de</strong>, distúrbios na gestação e lactação das progenitoras,<br />

alterações morfológicas e funcionais do sist<strong>em</strong>a reprodutor, alterações do início<br />

da puberda<strong>de</strong> ou senescência, comportamento sexual e câncer. Exposições<br />

pré ou pós-natal a toxicantes po<strong>de</strong>m produzir mudanças que não po<strong>de</strong>m ser<br />

preditas até a observação dos efeitos na fase adulta, e estes efeitos são<br />

freqüent<strong>em</strong>ente irreversíveis (US EPA, 1996).<br />

Os efeitos dos <strong>de</strong>sreguladores endócrinos sobre a reprodução e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong>m ser induzidos diretamente ou indiretamente. O efeito<br />

po<strong>de</strong> resultar da interação direta da substância com componentes ou reações<br />

do sist<strong>em</strong>a reprodutor (efeitos tóxicos sobre órgãos endócrinos ou toxicida<strong>de</strong><br />

sistêmica) ou por interferência indireta através <strong>de</strong> alterações na regulação<br />

hormonal (Neubert e Chahoud, 1995). Há vários caminhos pelo qual uma<br />

substância po<strong>de</strong> interferir com a regulação hormonal, modificando, por<br />

ex<strong>em</strong>plo: o número <strong>de</strong> receptores, a interação do hormônio com o receptor<br />

(reconhecimento do hormônio pelo receptor ou na resposta pós-receptor),<br />

interferindo com a síntese, armazenamento, liberação, metabolismo (inativando<br />

108


enzimas que <strong>de</strong>gradam hormônios), eliminação, etc (US EPA, 1996; Baker,<br />

2001).<br />

Numerosos agentes são alvos <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> toxicologia reprodutiva por<br />

ser<strong>em</strong> possíveis tóxicos ao sist<strong>em</strong>a reprodutor, como agentes físicos, toxinas,<br />

poluentes (do ar e da água), aditivos alimentares, pesticidas, metais pesados,<br />

resíduos industriais e outros.<br />

Para a realização <strong>de</strong> triag<strong>em</strong> e programas <strong>de</strong> testes para <strong>de</strong>tectar<br />

agentes capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregular o sist<strong>em</strong>a endócrino, a Agência <strong>de</strong> Proteção<br />

Ambiental dos Estados Unidos (US EPA – United States - Environmental<br />

Protection Agency) instituiu, no ano <strong>de</strong> 1998, o Comitê Consultivo <strong>de</strong> Testes e<br />

Triag<strong>em</strong> dos Desreguladores Endócrinos (EDSTAC – Endocrine Disrupters<br />

Screening and Testing Advisor Committe) que propõe e valida testes que<br />

caracteriz<strong>em</strong> o potencial dos <strong>de</strong>sreguladores endócrinos. De maneira<br />

s<strong>em</strong>elhante, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento<br />

Econômico (OECD – Organization for Economic Cooperation and<br />

Development) está trabalhando <strong>em</strong> validação <strong>de</strong> métodos para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sreguladores endócrinos (EDSTAC, 1998; Gray et al., 2002; Clo<strong>de</strong>, 2006).<br />

Além disso, a Anvisa disponibiliza um guia <strong>de</strong> estudos não clínicos on<strong>de</strong><br />

estão <strong>de</strong>terminados estudos <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> reprodutiva que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>plar<br />

avaliações nas seguintes fases:<br />

A. Fertilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong>brionário inicial (Avaliações:<br />

maturação <strong>de</strong> gametas, comportamento no acasalamento, fertilida<strong>de</strong>, estágio<br />

<strong>de</strong> préimplantação <strong>em</strong>brionária, implantação),<br />

B. Desenvolvimento pré e pós-natal, incluindo função materna<br />

(Avaliações: Aumento da toxicida<strong>de</strong> relativa a fêmeas não grávidas,<br />

mortalida<strong>de</strong> pré e pós-natal dos filhotes, crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

alterados, alterações funcionais dos filhotes, incluindo comportamento,<br />

maturida<strong>de</strong> (puberda<strong>de</strong>) e reprodução),<br />

C. Desenvolvimento <strong>em</strong>brio-fetal (Avaliação <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s fetais).<br />

Teste uterotrófico<br />

Este teste in vivo t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong> avaliar a ligação <strong>de</strong> compostos<br />

estrogênicos ao receptor do estrógeno. Este teste é utilizado para <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong><br />

109


compostos com proprieda<strong>de</strong>s estrogênicas ou antiestrogênicas. Os estrógenos<br />

são compostos que induz<strong>em</strong> hipertrofia uterina <strong>em</strong> ratas imaturas e fêmeas<br />

maduras ovariectomizadas. O teste t<strong>em</strong> curta duração (três dias consecutivos),<br />

servindo com indicador <strong>de</strong> ação estrogênica <strong>de</strong> uma substância, pela<br />

<strong>de</strong>terminação do crescimento uterino <strong>em</strong> ratas imaturas (Odum et al., 1997). O<br />

bloqueio do efeito uterotrófico do estradiol serve como indicador <strong>de</strong><br />

antiestrogenicida<strong>de</strong> (Andra<strong>de</strong> et al., 2002).<br />

Teste <strong>de</strong> Heshberger<br />

O teste <strong>de</strong> Heshberger (Hershberger, 1953) é um teste in vivo,<br />

recomendado pelo EDSTAC (1998), utilizado na triag<strong>em</strong> <strong>de</strong> substâncias com<br />

proprieda<strong>de</strong>s androgêncicas ou antiandrogênicas. T<strong>em</strong> por como objetivo<br />

avaliar a capacida<strong>de</strong> dos compostos suspeitos <strong>em</strong> recuperar o peso da<br />

próstata e vesícula s<strong>em</strong>inal <strong>de</strong> roedores machos castrados. O teste baseia-se<br />

no crescimento <strong>de</strong> tecidos andrógenos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (próstata e vesícula<br />

s<strong>em</strong>inal) <strong>em</strong> ratos machos castrados, e no bloqueio da ação da testosterona<br />

sobre os tecidos (antiandrogenicida<strong>de</strong>).<br />

Protocolo <strong>de</strong> puberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> fêmeas<br />

Este protocolo t<strong>em</strong> por objetivo avaliar os efeitos dos <strong>de</strong>sreguladores<br />

endócrinos sobre a tireói<strong>de</strong>, eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, e níveis<br />

hormonais <strong>de</strong> estrógenos, <strong>de</strong>tectáveis pela administração via oral do composto<br />

suspeito, após certo período <strong>de</strong> dosag<strong>em</strong>. Os animais serão expostos por via<br />

oral á substância suspeita, do 21º ao 42º dia <strong>de</strong> vida. No <strong>de</strong>correr do<br />

experimento, vários parâmetros reprodutivos são analisados para investigação<br />

do potencial toxicológico da substância sobre este período crítico <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Protocolo <strong>de</strong> puberda<strong>de</strong> <strong>em</strong> machos<br />

Este protocolo t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar compostos com ativida<strong>de</strong><br />

androgênica ou antiandrogêncica, <strong>em</strong> um único teste realizado in vivo. Os<br />

animais serão expostos por via oral, á susbstância suspeita, do 21º ao 70º dia<br />

<strong>de</strong> vida. No <strong>de</strong>correr do experimento, vários parâmetros reprodutivos são<br />

110


avaliados para investigação do potencial toxicológico da susbstância, sobre<br />

este período crítico <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Protocolo <strong>de</strong> exposição in útero e lactação<br />

Neste protocolo, os roedores são expostos durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pré e pós natal, a compostos suspeitos <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>sreguladores endócrinos,<br />

para <strong>de</strong>tectar efeitos tóxicos mediados por alterações nos níveis <strong>de</strong> estrógeno,<br />

andrógeno e hormônios da tireói<strong>de</strong>. O protocolo permite avaliar os efeitos do<br />

composto sobre a organogênese, diferenciação sexual e puberda<strong>de</strong>. A<br />

utilização <strong>de</strong> um organismo <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para realização do protocolo<br />

permite avaliar os mecanismos <strong>de</strong> ação mediados por hormônios, envolvidos<br />

na indução <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> do composto (Gray et al., 2002).<br />

Referências<br />

ANVISA (Agência Nacional d Vigilância Sanitária). Guia para a condução <strong>de</strong><br />

estudos não clínicos <strong>de</strong> segurança necessários ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

medicamentos, Brasília, 2010.<br />

Baker, V. A. Endocrine disrupters – testing strategies to assess human hazard.<br />

Toxicology in Vitro, v. 15, p. 413 – 419, 2001.<br />

Clo<strong>de</strong>, S. A. Assessment of in vivo assays for endocrine disruption. Best Pratice<br />

& Research Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 20, n. 1, p. 35 – 43, 2006.<br />

EDSTAC. Screening and testing. Final Report, Aug. p. 489 – 591, 1998.<br />

Gray Jr. L. E. e col. Xenoendocrine disrupters-tiered screening and testing<br />

Filling key data gaps. Toxicology, v. 181 - 182, p. 371 – 382, 2002.<br />

OECD (Organization for Economic Cooperation and Development). Series on<br />

testing and assessment nº. 38. Detailed background review of the uterotrophic<br />

bioassay ENV/JM/MONO, 2003.<br />

US EPA. Gui<strong>de</strong>lines for reproductive toxicity risk assessment. EPA/630/R-<br />

96/009, Washington, 1996.<br />

AULA PRÁTICA<br />

Teste Uterotrófico<br />

111


As funções do sist<strong>em</strong>a reprodutivo das fêmeas estão sob o controle<br />

endócrino, estando <strong>de</strong>sta forma, sujeito a <strong>de</strong>sregulação por qualquer alteração<br />

que possa ocorrer no eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. O estradiol é um<br />

hormônio estrogênio sintetizado pelos ovários e secretado pelas células<br />

granulosas dos folículos maduros e também pela placenta durante a gestação.<br />

Esse hormônio é secretado na circulação sistêmica, on<strong>de</strong> irá atuar <strong>em</strong><br />

receptores estrogênicos (ER). Ambas as células, epiteliais e do estroma<br />

uterino, expressam ER tanto no início do <strong>de</strong>senvolvimento quanto <strong>em</strong> animais<br />

adultos, assim, ambos tecidos são sujeitos aos efeitos dos estrogênios durante<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento e na vida adulta (BROWN, 1999; CATT, 1999; LINDZEY e<br />

KORACH, 1999).<br />

O teste uterotrófico é um ensaio in vivo <strong>de</strong> curta duração recomendado<br />

pelo EDSTAC - US EPA na triag<strong>em</strong> <strong>de</strong> substâncias estrogênicas e<br />

antiestrogênicas (DORFMAN e DORFMAN, 1954; BAKER, 2001; CLODE,<br />

2006). Estrogênios ou compostos estrogenicamente ativos po<strong>de</strong>m induzir<br />

hipertrofia do útero <strong>de</strong> ratas fêmeas imaturas (do 17º ao 26º dia pós-natal o<br />

útero está quiescente) (KANG e col., 2000; EARTMANS e col., 2003; OECD,<br />

2003; CLODE, 2006). Este ensaio é utilizado como teste padrão para a triag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> substâncias com efeitos (anti)estrogênicos, porque avalia tanto o potencial<br />

como os efeitos diretos <strong>de</strong>ssas substâncias (avaliando ligação e efeito nos<br />

receptores estrogênicos).<br />

A B<br />

Figura 1 - Úteros <strong>de</strong> ratas imaturas que receberam durante o teste uterotrófico: (A) estradiol;<br />

(B) veículo.<br />

Protocolo experimental<br />

A aula prática será realizada apenas para fins <strong>de</strong>monstrativos do<br />

protocolo experimental do teste uterotrófico. Portanto, será utilizado o menor<br />

112


número <strong>de</strong> animais possível. No teste, serão utilizadas três ratas Wistar (Rattus<br />

novergicus albinus) fêmeas imaturas (21 ± 1 dia pós-natal), que serão tratadas<br />

com a substância a ser investigada por três dias consecutivos (do 22º ao 24º<br />

dia pós-natal). O tratamento das substâncias estrogênicas e antiestrogênicas<br />

será feito pela via oral e subcutânea.<br />

Os grupos experimentais compreen<strong>de</strong>m:<br />

• Um grupo controle negativo - administração <strong>de</strong> veículo<br />

(água <strong>de</strong>stilada)<br />

• Um grupo controle positivo para estrogenicida<strong>de</strong> – para<br />

avaliar ativida<strong>de</strong> estrogênica (ex. 17β-estradiol, 17β-etinilestradiol ou<br />

dietilstilbestrol)<br />

• Um controle positivo para antiestrogenicida<strong>de</strong> – para<br />

avaliar ativida<strong>de</strong> anti-estrogênica (ex. 17β-estradiol + tamoxifeno).<br />

Após 24 horas do último tratamento, os animais serão pesados e<br />

eutanasiados, seguida pela imediata r<strong>em</strong>oção e pesag<strong>em</strong> do útero<br />

(EARTMANS e col., 2003; GRAY e col., 2004; CLODE, 2006). Este ensaio<br />

geralmente t<strong>em</strong> boa reprodutibilida<strong>de</strong>, mas <strong>de</strong>ve ser avaliado com cautela, pois<br />

falso-positivos po<strong>de</strong>m ocorr<strong>em</strong> quando há pequeno aumento do peso uterino<br />

(GRAY e col., 2004). Há evidências <strong>de</strong> que doses relativamente elevadas <strong>de</strong><br />

substâncias s<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> estrogênica, por ex<strong>em</strong>plo, progesterona e<br />

testosterona po<strong>de</strong>m estimular uma resposta estrogênica (JONES e EDGREN,<br />

1973).<br />

Grupos experimentais:<br />

Grupo Dose/Veículo Via N<br />

Controle veículo 5 mL/kg água <strong>de</strong>stilada v.o. 1<br />

Estradiol 0,4 mg/kg/5 mL óleo <strong>de</strong> canola v.o. 1<br />

Estradiol/Tamoxifeno 0,4 mg/kg/ 5 mL/1 mg/kg/5 mL água<br />

<strong>de</strong>stilada<br />

v.o./i.p. 1<br />

113


No 25º dia pós-natal os animais terão as massas corporais aferidas e <strong>em</strong><br />

seguida serão eutanasiados por <strong>de</strong>slocamento cervical. O útero <strong>de</strong>verá ser<br />

imediatamente retirado (seccionado logo abaixo da sua junção com a cérvix e<br />

na junção dos cornos uterinos com os ovários) e dissecado cuidadosamente<br />

para retirar o tecido conectivo adjacente. Em seguida o útero <strong>de</strong>ve ser<br />

perfurado com uma agulha e colocado entre duas folhas <strong>de</strong> papel filtro para<br />

retirada do líquido retido. A massa absoluta do útero aferida <strong>em</strong> balança<br />

analítica Gehaka BG 440 e a massa relativa do útero <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>terminada e<br />

registrada percentualmente <strong>em</strong> relação ao peso corporal.<br />

Controle<br />

(veículo)<br />

Estradiol<br />

Estradiol +<br />

Tamoxifeno<br />

Referências<br />

Grupos<br />

Rato 1<br />

Rato 2<br />

Rato 3<br />

Rato 1<br />

Rato 2<br />

Rato 3<br />

Rato 1<br />

Rato 2<br />

Rato 3<br />

Massa<br />

Corporal<br />

Massa<br />

absoluta do<br />

útero<br />

Massa<br />

relativa do<br />

útero<br />

BAKER, V. A. Endocrine disrupters – testing strategies to assess human<br />

hazard. Toxicology in Vitro, v. 15, p. 413 – 419, 2001.<br />

BROWN, T. R. Steroids Hormones, Overvieew. In: KNOBIL, E.; NEILL, J. D.<br />

Encyclopedia of Reproduction. San Diego: Aca<strong>de</strong>mic Press, 1999. v. 4, p. 634 -<br />

644.<br />

CATT, K. J. Receptors for Hormones. In: KNOBIL, E.; NEILL, J. D.<br />

Encyclopedia of Reproduction. San Diego: Aca<strong>de</strong>mic Press, 1999. v. 4, p. 195 -<br />

205.<br />

114


CLODE, S. A. Assessment of in vivo assays for endocrine disruption. Best<br />

Pratice & Research Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 20, n. 1, p. 35 – 43,<br />

2006.<br />

DORFMAN, R. I.; DORFMAN, A. S. Estrogen assays using the rat uterus.<br />

Endocrinology, v. 55, p. 65 – 69, 1954.<br />

EARTMANS, F. e col. Endocrine disruptors: effects on male fertility and<br />

screening tools for their assessment. Toxicology in Vitro, v. 17, p. 515 – 524,<br />

2003.<br />

GRAY. L. E. e col. Use of the Laboratory Rat as a Mo<strong>de</strong>l in Endócrine Disruptor<br />

Screening and Testing. ILAR Journal, v. 45, n. 4, p. 425 – 437, 2004.<br />

JONES, R. C.; EDGREN, R. A. The effects of various steroids on the vaginal<br />

histology in the rat. Fertility and Sterility, v. 24, p. 284 – 291, 1973.<br />

KANG, K. S. e col. Immature uterotrophic assay is more sensitive than<br />

ovariectomized uterotrophic assay for the <strong>de</strong>tection of estrogenicity of pnonylphenol<br />

in Sprague-Dawley rats. Toxicology letters, v. 118, n. 1-2, p. 109 –<br />

115, 2000.<br />

LINDZEY, J. KORACH, K. S. Estrogen Action on the F<strong>em</strong>ale Reproductive<br />

Tract. In: KNOBIL, E.; NEILL, J. D. Encyclopedia of Reproduction. San Diego:<br />

Aca<strong>de</strong>mic Press, 1999. v. 2, p. 79 - 86.<br />

OECD (Organization for Economic Cooperation and Development). (2003).<br />

Series on testing and assessment nº. 38. Detailed background review of the<br />

uterotrophic bioassay ENV/JM/MONO.<br />

115


TOXICOLOGIA AMBIENTAL<br />

Stéfani Rossi<br />

João Luiz Coelho Ribas<br />

Izonete Cristina Guiloski<br />

Toxicologia Ambiental e Ecotoxicologia são termos <strong>em</strong>pregados para<br />

<strong>de</strong>screver o estudo científico dos efeitos adversos causados sobre os<br />

organismos vivos pelas substâncias químicas liberadas no ambiente. Em geral,<br />

a primeira expressão é usada nos estudos <strong>em</strong> que se abordam os efeitos <strong>de</strong><br />

substâncias sobre os seres humanos e o segundo, para os estudos dos efeitos<br />

dos mesmos compostos sobre os ecossist<strong>em</strong>as e seus componentes não-<br />

humanos.<br />

À medida que a humanida<strong>de</strong> aumenta sua capacida<strong>de</strong> tecnológica <strong>de</strong><br />

intervir na natureza, para satisfazer suas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos crescentes,<br />

surg<strong>em</strong> os conflitos quanto ao uso do espaço, recursos e da disposição dos<br />

resíduos no ambiente. Nos dois últimos séculos, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> civilização que se<br />

impôs traz a industrialização como forma <strong>de</strong> produção e organização <strong>de</strong><br />

trabalho. Como conseqüência <strong>de</strong> sua produção, t<strong>em</strong>-se a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma quantida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> produtos químicos altamente tóxicos e a geração<br />

<strong>de</strong> resíduos <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong> significativamente prejudicial ao ambiente.<br />

Os sinais <strong>de</strong> poluição tornam-se mais evi<strong>de</strong>ntes com o aumento<br />

populacional, <strong>de</strong>ntre eles as doenças <strong>de</strong> veiculação hídrica, fort<strong>em</strong>ente<br />

associadas à falta <strong>de</strong> saneamento básico. Somente a partir <strong>de</strong> 1960 a poluição<br />

se torna um fato reconhecido internacionalmente, pela constatação dos<br />

probl<strong>em</strong>as causados ao hom<strong>em</strong> e ao seu próprio ambiente (CHASIN e<br />

AZEVEDO, 2003)<br />

O interesse do hom<strong>em</strong> pelas questões ambientais v<strong>em</strong> aumentando<br />

nestas últimas décadas. A explicação para tal interesse se encontra nas<br />

ocorrências <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com produtos químicos, com repercussão mundial.<br />

Diversos ex<strong>em</strong>plos po<strong>de</strong>m ser citados: o uso indiscriminado <strong>de</strong> DDT nos anos<br />

40, agrotóxico cujo uso foi proibido <strong>em</strong> diversos países e que apresenta alta<br />

persistência ambiental e é inda encontrado <strong>em</strong> águas <strong>em</strong> regiões distantes do<br />

116


planeta; no Japão as contaminações por mercúrio, cádmio, e bifenilas poli-<br />

cloradas (PCBs); o isocianato <strong>de</strong> metila na Índia e as dioxinas na Itália são<br />

também ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> sérios probl<strong>em</strong>as ambientais, todos responsáveis pela<br />

morte <strong>de</strong> muitos seres humanos e outros organismos.<br />

A partir <strong>de</strong>sses acontecimentos, vários países <strong>de</strong>ram início ao<br />

monitoramento ambiental e pesquisas para avaliação do nível <strong>de</strong> contaminação<br />

<strong>em</strong> efluentes <strong>de</strong> vários ramos industriais <strong>de</strong> compostos utilizados <strong>em</strong> lavouras.<br />

Com isso, é possível perceber que o ambiente aquático não é um<br />

compartimento <strong>de</strong> diluição infinita da poluição gerada e que a superfície da<br />

Terra e seus ambientes são compartimentos frágeis <strong>de</strong> matéria viva dos quais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a existência humana.<br />

As proprieda<strong>de</strong>s inerentes dos agentes químicos, tais como<br />

transformação no ambiente, potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bioacumulação, persistência e<br />

concentração ambiental ou dose administrada, assim como os processos<br />

metabólicos dos organismos (absorção, distribuição, excreção e mecanismos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>toxificação) <strong>de</strong>terminam o efeito específico <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado alvo<br />

(órgão, indivíduo, população, comunida<strong>de</strong>). Os efeitos adversos dos poluentes<br />

sobre os organismos vivos po<strong>de</strong>m seres quantificados por uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

critérios, como: número <strong>de</strong> organismos mortos ou vivos, taxa <strong>de</strong> reprodução,<br />

comprimento e massa corpórea, número <strong>de</strong> anomalias ou incidência <strong>de</strong><br />

tumores, alterações fisiológicas e, ainda, a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

espécies numa <strong>de</strong>terminada comunida<strong>de</strong> biológica, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Praticamente toda ativida<strong>de</strong> humana constitui uma fonte potencial <strong>de</strong><br />

contaminantes aos ecossist<strong>em</strong>as. Dentre elas, os esgotos domésticos urbanos<br />

e industriais, cujo lançamento nos cursos d´água causa sérios probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> da água <strong>de</strong> mananciais, são importantes representantes. A<br />

atmosfera é também meio <strong>de</strong> dispersão <strong>de</strong> poluentes, como os antrópicos <strong>de</strong><br />

orig<strong>em</strong> industrial e compostos gasosos (produtos <strong>de</strong> combustão e outros<br />

volatilizáveis), que igualmente vão alcançar a superfície dos corpos d´água ou<br />

<strong>de</strong>positar-se nos solos e sobre a cobertura vegetal.<br />

Há várias <strong>de</strong>finições importantes nos estudos <strong>de</strong> Ecotoxicologia:<br />

resíduos corporais (quantida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> um contaminante químico no organismo<br />

individual), bioconcentração (a razão entre a concentração <strong>de</strong> um resíduo<br />

117


químico no tecido animal e na água), biomagnificação (aumento da<br />

concentração <strong>de</strong> resíduos químicos <strong>de</strong> organismos na parte mais alta da<br />

ca<strong>de</strong>ia alimentar, como resultado da acumulação <strong>em</strong> função da dieta dos<br />

mesmos) e bioacumulação (razão do resíduo químico no tecido animal pela<br />

concentração <strong>em</strong> uma fase ambiental externa, ou seja, água, sedimentos ou<br />

alimentos, e é medido <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> estado estacionário <strong>em</strong> que<br />

organismos e alimentos são expostos).<br />

Outra questão importante e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> é a dos efeitos<br />

provocados por interações sinérgicas, antagônicas, <strong>de</strong> potenciação e <strong>de</strong> adição<br />

<strong>de</strong> contaminantes orgânicos e inorgânicos sobre muitas comunida<strong>de</strong>s da biota.<br />

Sabe-se que a exposição da biota a misturas <strong>de</strong> contaminantes po<strong>de</strong> levar a<br />

interações toxicológicas, o que resulta <strong>em</strong> uma resposta quanti e<br />

qualitativamente diferente da esperada pela ação dos contaminantes sozinhos.<br />

(ZAGATTO e BERTOLETTI, 2008).<br />

A necessida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>tecção dos efeitos subletais dos tóxicos sobre os<br />

organismos levou ao <strong>de</strong>senvolvimento dos biomarcadores, os quais são<br />

alterações biológicas que expressam a exposição e/ou o efeito tóxico <strong>de</strong><br />

poluentes presentes no ambiente (WALKER; THOMPSON, 1996). Exist<strong>em</strong><br />

assim biomarcadores moleculares, celulares ou sistêmicos, sendo alguns <strong>de</strong>les<br />

específicos para <strong>de</strong>terminados poluentes. Biomarcadores são <strong>de</strong>finidos como<br />

alterações a respostas biológicas, que passam <strong>de</strong> respostas moleculares,<br />

celulares, fisiológicas até mudanças comportamentais, e que po<strong>de</strong>m ser<br />

relacionadas à exposição ou efeitos tóxicos <strong>de</strong> agentes químicos ambientais<br />

(PEAKALL, 1994). Po<strong>de</strong>m ser usados para avaliar a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> organismos e<br />

obter sinais com antecedência <strong>de</strong> riscos ambientais. Como muitos dos<br />

biomarcadores são indicadores <strong>de</strong> curto prazo, porém <strong>de</strong> efeitos adversos <strong>de</strong><br />

longa duração, seus dados po<strong>de</strong>m permitir intervenção antes que efeitos<br />

maléficos irreversíveis se torn<strong>em</strong> inevitáveis. (VAN DER OOST, 2003).<br />

Exist<strong>em</strong> biomarcadores <strong>de</strong> exposição e <strong>de</strong> dano, que indicam exposição<br />

a <strong>de</strong>terminados poluentes e <strong>em</strong> segunda instância se esta exposição causou<br />

algum dano. A inibição da acetilcolinesterase (AChE) é um bom ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />

biomarcador <strong>de</strong> exposição . Essa enzima hidrolisa a acetilcolina e impe<strong>de</strong><br />

assim sua ação contínua sobre as sinapses. Alguns pesticidas como<br />

118


organofosforados e carbamatos inib<strong>em</strong> a ação da enzima e causam<br />

hiperestimulação dos receptores e impe<strong>de</strong>m a contração muscular normal,<br />

<strong>de</strong>ntre outras respostas. (ZAGATTO e BERTOLETTI, 2008). A inibição da<br />

ativida<strong>de</strong> da AChE t<strong>em</strong> sido utilizada <strong>em</strong> organismos aquáticos para<br />

diagnosticar exposição a agentes anticolinesterásicos como pesticidas<br />

organofosforados e carbamatos. Estudos recentes <strong>de</strong>monstram que as<br />

acetilcolinesterases são também sensíveis a outros tipos <strong>de</strong> contaminantes<br />

ambientais como metais, <strong>de</strong>tergentes e misturas complexas <strong>de</strong> poluentes<br />

(PENÃ-LLOPIS et al., 2003; FERRARI et al., 2004; MONTEIRO et al., 2004;<br />

SHAONAN et al., 2004).<br />

Figura 1 – Síntese e <strong>de</strong>gradação da acetilcolina.ACE= Acetilcolinesterase; ACh= Acetilcolina;<br />

CAT= Colina acetil-transferase.<br />

Fonte: http: //www.medicinainformacion.com/rudimentos_ace.htm<br />

Material Biológico<br />

AULA PRÁTICA<br />

Laboratório <strong>de</strong> Toxicologia Ambiental<br />

Foram utilizados para este experimento peixes da espécie Astyanax sp.<br />

Os animais foram expostos à concentração <strong>de</strong> 1 mg/mL <strong>de</strong> Paration, por um<br />

período <strong>de</strong> 48 horas. Assim, trabalhar<strong>em</strong>os com dois grupos: Paration 1 mg/mL<br />

(n=3) e grupo controle (n=3). De cada animal foram coletados cérebro e<br />

músculo, que serão analisados separadamente.<br />

119


Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Acetilcolinesterase: (baseado <strong>em</strong> ELLMAN et al. (1961)<br />

modificado para microplaca por SILVA DE ASSIS (1998).<br />

Princípio do método: exposição <strong>de</strong> um homogeneizado <strong>de</strong> tecido muscular ou<br />

cerebral e do reagente DTNB ao substrato acetiltiocolina. Este substrato é<br />

hidrolisado pela AChE <strong>em</strong> tiocolina e acetato. A tiocolina resultante reage com<br />

o DTNB gerando o ânion 5-Tio-2-nitrobenzoato responsável pelo aparecimento<br />

<strong>de</strong> coloração amarela que po<strong>de</strong> ser monitorado pelo aumento <strong>de</strong> absorbância a<br />

405 nm.<br />

1. Homogeneizar as amostras <strong>de</strong> cérebro e músculo com o uso <strong>de</strong><br />

microhomogeneizador, <strong>em</strong> tampão fosfato 0,1 M, pH 7,5, na proporção <strong>de</strong> 1:10<br />

(0,100 g <strong>de</strong> tecido para 1000 µL <strong>de</strong> tampão).<br />

2. Centrifugar a 10000 x g, por 20 minutos, a 4ºC.<br />

3. Diluir as amostras <strong>em</strong> tampão fosfato 0,1M, pH 7,5, na proporção <strong>de</strong> 1:10.<br />

4. Em microplaca:<br />

multicanal)<br />

Adicionar 50 µl da amostra diluída <strong>em</strong> quadruplicata<br />

Acrescentar 200 µl <strong>de</strong> DTNB 0,75 mM.<br />

Acrescentar 50 µl ATC na concentração padronizada(com micropipeta<br />

120


Referências<br />

Medir absorbância a 405 nm durante 3 min a cada 30 s<br />

BRADFORD, M. A rapid and sensitive method for the quantification of<br />

microgram quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding.<br />

Analytical Bioch<strong>em</strong>istry, v. 72, p. 248-254, 1976.<br />

CHASIN, A. A. M. ; AZEVEDO, F.A. . As Bases Toxicológicas da<br />

Ecotoxicologia. São Carlos: Rima, 2003. 322 p.<br />

ELLMAN, G.L.; COUTNEY, K.O; ANDRES,V.; FEATHERSTONE, R.M. A new<br />

and rapid colorimetric <strong>de</strong>termination of acetylcholinesterase activity.<br />

Bioch<strong>em</strong>ical Pharmacology, v.7, p. 88-95, 1961.<br />

FERRARI, A.; VENTURINO, A.; D`ANGELO, A. M. P. Time course of brain<br />

cholinesterase inhibition and recovery following acute and subacute<br />

azinphosmethyl, parathion and carbaryl exposure in the goldfish (Carassius<br />

auratus). Ecotoxicology and Environmental Safety 57:420-425, 2004.<br />

MONTEIRO, M.; QUINTANEIRO, C.; MORGADO, F.; SOARES, A. M. V. M.;<br />

GUILHERMINO, L. Characterization of the cholinesterases present in the head<br />

tissues of the estuarine fish Pomatoschistus microps: Application to<br />

biomonitoring. Ecotoxicology and Environmental Safety 1-7, 2004.<br />

PEAKALL, D. B. The role of biomarkers in environmental assesment (1)<br />

Introduction. Ecotoxicology, 3: 157 – 160. 1994.<br />

PEÑA-LLOPIS, S.; FERRANDO, M. D.; PEÑA, J. B. Fish tolerance to<br />

organophosphate-induced oxidative stress is <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on the glutathione<br />

metabolism and enhanced by N-acetylcysteine. Aquatic Toxicology 65:337-360,<br />

2003.<br />

SHAONAN, L.; XIANCHUAN, X.; GUONIAN, Z.; YAJUN, T. Kinetic characters<br />

and resistance to inhibition of cru<strong>de</strong> and purified brain acetylcholinesterase of<br />

three freshwater fishes by organophosphates. Aquatic Toxicology 68:293-299,<br />

2004.<br />

SILVA DE ASSIS, H.C. Der Einsatz von Biomarkern zur Summarischen<br />

Erfassung von Gewässerverschmutzungen. 99 p. Tese <strong>de</strong> Doutorado.<br />

Universida<strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Berlim, Al<strong>em</strong>anha, 1998.<br />

VAN DER OOST, R.; BEYER, J.; VERMEULEN, N. P. E. Fish bioaccumulation<br />

and biomarkers in environmental risk assessment. Environmental Toxicology<br />

and Pharmacology. v. 13, p. 57-149, 2002.<br />

WALKER, C.H.; THOMPSON, H.M., 1991. Phylogenetic distribution of<br />

cholinesterases and related esterases. In: Mineau, P. (Ed.), Cholinesterase-<br />

121


inhibiting Insectici<strong>de</strong>s, Ch<strong>em</strong>icals in Agriculture, vol. 2. Elsevier, Amsterdam,<br />

pp. 1-17.<br />

ZAGATTO, P.A.; BERTOLETTI, E. (Ed.). Ecotoxicologia Aquática – Princípios e<br />

Aplicações. São Carlos, SP RIMA Editora, 2006. 478 p.<br />

122


TOXICOLOGIA, TOXINOLOGIA E METABOLISMO<br />

Metabolismo <strong>de</strong> drogas<br />

Aline Stolf<br />

Francislaine Lívero Vieira<br />

O metabolismo <strong>de</strong> fármacos compreen<strong>de</strong> o conjunto <strong>de</strong> reações<br />

enzimáticas que biotransformam fármacos e outros compostos estranhos<br />

(xenobióticos) <strong>em</strong> metabólitos <strong>de</strong> polarida<strong>de</strong> crescente, para que sejam<br />

excretados pela urina. O metabolismo <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha, assim, um importante<br />

papel na eliminação <strong>de</strong> fármacos, e impe<strong>de</strong> que estes compostos permaneçam<br />

por t<strong>em</strong>po in<strong>de</strong>finido no nosso organismo.<br />

As reações <strong>de</strong> metabolismo ocorr<strong>em</strong> principalmente no fígado <strong>em</strong>bora<br />

algumas drogas sejam metabolizadas no plasma, no pulmão ou o intestino.<br />

Muitas enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo <strong>de</strong> drogas encontram-se<br />

no retículo endoplasmático liso e, para atingir essas enzimas metabolizadoras<br />

a droga <strong>de</strong>ve atravessar a m<strong>em</strong>brana plasmática do hepatócito.<br />

O hepatócito é, provavelmente, a célula mais versátil do organismo, pois<br />

possui funções endócrinas e exócrinas, e t<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acumular,<br />

<strong>de</strong>toxificar e transportar diversas substâncias. Essas células estão organizadas<br />

<strong>em</strong> placas e <strong>em</strong> cordões celulares interligados, com espaços preenchidos <strong>de</strong><br />

sangue chamados sinusói<strong>de</strong>s. São células epiteliais relativamente<br />

homogêneas, com aproximadamente 30 µm <strong>de</strong> maior dimensão. Os<br />

hepatócitos viv<strong>em</strong> um ano ou mais e são renovados lentamente, sendo que os<br />

mecanismos homeostáticos funcionam para ajustar a taxa <strong>de</strong> proliferação<br />

celular e ou a taxa <strong>de</strong> morte celular, <strong>de</strong> modo a manter o órgão <strong>em</strong> seu<br />

tamanho normal. Frente a um agente tóxico, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da quantida<strong>de</strong> e<br />

toxicida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ocorrer lesão nos hepatócitos e, <strong>de</strong>sta forma, o<br />

extravasamento do conteúdo celular, liberando as enzimas armazenadas nos<br />

peroxissomos hepáticos. Ainda, o agente tóxico po<strong>de</strong> apenas promover<br />

alterações inespecíficas, como aumento da permeabilida<strong>de</strong> celular. Por<br />

conjugação com taurina, glicina, ácido glucurônico ou glutationa os hepatócitos<br />

123


criam compostos mais hidrossolúveis que po<strong>de</strong>m ser excretados na bile ou na<br />

urina.<br />

O metabolismo <strong>de</strong> drogas envolve dois tipos <strong>de</strong> reações bioquímicas,<br />

conhecidas como reações <strong>de</strong> fase I (oxidação, redução ou hidrólise,<br />

geralmente realizadas pelo Citocromo P450) e <strong>de</strong> fase II (conjugação). Os<br />

produtos da <strong>de</strong>gradação (metabólitos) po<strong>de</strong>m ser inativos ou ativos. Em<br />

relação ao fármaco <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, os metabólitos ativos po<strong>de</strong>m agir por<br />

mecanismos <strong>de</strong> ação similares ou diferentes, ou até mesmo por antagonismo.<br />

O conhecimento da cinética da formação dos metabólitos ativos é importante<br />

não apenas para previsão do resultado terapêutico, mas também para explicar<br />

a toxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um dado fármaco. Como o fígado é o principal órgão<br />

metabolizador (incluindo a geração <strong>de</strong> metabólitos ativos ou tóxicos,<br />

<strong>de</strong>puração, interações farmacológicas e variabilida<strong>de</strong> individual), a <strong>de</strong>puração<br />

hepática é o principal alvo da otimização da farmacocinética <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

compostos. O bloqueio, ou mesmo a promoção do metabolismo, po<strong>de</strong>m ser<br />

manipulados no sentido <strong>de</strong> obter fármacos com perfis farmacológicos mais<br />

favoráveis. A redução do número <strong>de</strong> metabólitos ativos, por ex<strong>em</strong>plo, favorece<br />

uma cinética mais previsível e reduz a variabilida<strong>de</strong> individual.<br />

As enzimas que metabolizam as drogas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>toxificar compostos<br />

endógenos e exógenos e po<strong>de</strong>m gerar, potencialmente, componentes tóxicos<br />

ou carcinogênicos e a inibição ou indução <strong>de</strong> sua ativida<strong>de</strong> é um mecanismo<br />

chave para a interação entre drogas. A modulação da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas<br />

enzimas po<strong>de</strong> ocorrer por uma vasta quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substâncias (incluindo<br />

drogas, alimentos, fatores inflamatórios, <strong>de</strong>ntre outros), o que influencia suas<br />

medidas toxicológicas ou farmacológicas da mesma forma que os xenobióticos<br />

ou outras drogas faz<strong>em</strong>.<br />

O principal sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> metabolização hepático é o sist<strong>em</strong>a citocromo<br />

P450. Tal sist<strong>em</strong>a é constituído por um conjunto <strong>de</strong> proteínas contendo um<br />

grupo h<strong>em</strong>e que se localiza na pare<strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a reticular endoplasmático,<br />

responsável pela fase final da oxidação, transferindo elétrons do oxigênio<br />

molecular para os fármacos oxidados. Compreen<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> família <strong>de</strong><br />

enzimas relacionadas, porém distintas, que difer<strong>em</strong> umas das outras na sua<br />

seqüência <strong>de</strong> aminoácidos, na regulação por inibidores e agentes indutores e<br />

124


na especificida<strong>de</strong> das reações que catalisam. Até o momento foram <strong>de</strong>scritas<br />

diversas famílias <strong>de</strong> genes CYP, das quais as três principais (CYP 1, 2 e 3)<br />

estão envolvidas no metabolismo <strong>de</strong> drogas no fígado humano.<br />

Muitas substâncias exógenas ou endógenas po<strong>de</strong>m ser substratos <strong>de</strong><br />

isoenzimas P450, ou seja, ser metabolizadas por elas. Há também substâncias<br />

capazes <strong>de</strong> inibir a sua síntese ou a sua transformação. Do ponto <strong>de</strong> vista<br />

clínico é <strong>de</strong> particular importância o estudo das associações medicamentosas<br />

que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam a inibição da metabolização <strong>de</strong> um dos fármacos, assim<br />

resultando <strong>em</strong> maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substância <strong>em</strong> circulação com eventuais<br />

probl<strong>em</strong>as tóxicos. Tal mecanismo <strong>de</strong> inibição po<strong>de</strong> surgir por especificida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fármacos para a região catalítica <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada enzima, por três tipos<br />

<strong>de</strong> situações: a) inibição competitiva <strong>em</strong> que há ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dois fármacos<br />

para o mesmo local da enzima (ex: diltiaz<strong>em</strong>/ciclosporina – CYP3A4); b)<br />

inibição não competitiva <strong>em</strong> que um metabólito <strong>de</strong>smetilado forma um<br />

composto com o CYP (ex: eritromicina com midazolan, ciclosporina e<br />

carbamazepina por lesão no CYP3A induzida pela eritromicina); e, c) inibição<br />

não competitiva por ligação ao h<strong>em</strong>e do CYP <strong>de</strong> uma substância, assim<br />

afetando a metabolização <strong>de</strong> outros fármacos que continuam a fixar-se<br />

normalmente a sua região catalítica (ex: cimetidina e estradiol).<br />

Igualmente, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> induzir a síntese <strong>de</strong> uma isoforma,<br />

aumentando assim a metabolização <strong>de</strong> um fármaco, po<strong>de</strong> levar à ineficácia<br />

terapêutica. De particular importância nesse aspecto são as condições ligadas<br />

à alimentação, como o álcool e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos<br />

existentes nas carnes grelhadas muito b<strong>em</strong> passadas, b<strong>em</strong> como o tabaco.<br />

Todos eles po<strong>de</strong>m induzir a síntese <strong>de</strong> CYP1A2, que interfer<strong>em</strong> na<br />

metabolização <strong>de</strong> teofilina e muitos beta-bloqueadores. A rifampicina está<br />

implicada na indução <strong>de</strong> CYP3A4 e <strong>de</strong> CYP2C, reduzindo o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> meia-<br />

vida do fenobarbital, carbamazepina e fenitoína.<br />

Estresse oxidativo<br />

Nosso organismo possui uma fantástica habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar-se a<br />

estresses variados, internos e externos, aos quais é submetido. Quando o<br />

organismo é habitualmente exposto a um agente estressor, sofre adaptações<br />

125


para ajudar a recuperar a homeostase. Assim, qualquer estímulo que culmine<br />

com produção excessiva <strong>de</strong> radicais livres e/ou <strong>de</strong>pleção <strong>de</strong> antioxidantes<br />

conduz a uma alteração significativa do balanço entre produção e r<strong>em</strong>oção <strong>de</strong><br />

radicais livres, ou seja, conduz a um <strong>de</strong>sequilíbrio entre os sist<strong>em</strong>as oxidante e<br />

antioxidante, com predomínio dos oxidantes causando dano, o que <strong>de</strong>fine o<br />

estresse oxidativo. O efeito <strong>de</strong>letério do estresse oxidativo varia<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente <strong>de</strong> um indivíduo para outro <strong>de</strong> acordo com a ida<strong>de</strong>, o estado<br />

fisiológico e a dieta. O que, entretanto, estes indivíduos têm <strong>em</strong> comum é o fato<br />

<strong>de</strong> o fígado participar intensamente <strong>de</strong> reações <strong>de</strong> estresse oxidativo, pois os<br />

hepatócitos possu<strong>em</strong> várias enzimas reguladoras da homeostase entre<br />

geração e eliminação <strong>de</strong> radicais livres.<br />

O termo radical livre <strong>de</strong>signa qualquer átomo ou molécula que exista<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente e que contenha um ou mais elétrons não pareados nos<br />

orbitais externos. O elétron não pareado ocupa um orbital atômico ou molecular<br />

isoladamente. A presença <strong>de</strong> um ou mais elétrons não pareados <strong>de</strong>termina<br />

atração para um campo magnético e, algumas vezes, torna a substância<br />

altamente reativa. A gran<strong>de</strong> maioria dos radicais livres possui t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> meia-<br />

vida muito curto, indo <strong>de</strong> segundos a nanosegundos, sendo capazes <strong>de</strong> reagir<br />

rapidamente com vários compostos ou atingir alvos, como as m<strong>em</strong>branas<br />

celulares. Entre os vários tipos <strong>de</strong> radicais livres estão aqueles <strong>de</strong>rivados do<br />

oxigênio e do óxido nítrico.<br />

O radical superóxido é o radical mais comum e abundante da célula e<br />

t<strong>em</strong> importância vital para células <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, uma vez que é formado no<br />

organismo pela ação <strong>de</strong> fagócitos ou linfócitos durante o processo inflamatório,<br />

sendo utilizado para a <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> bactérias fagocitadas. Além disso, o<br />

radical superóxido promove a liberação do íon ferroso, <strong>de</strong> forma que gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ferro está disponível para catalisar a conversão <strong>de</strong> peróxido <strong>de</strong><br />

hidrogênio <strong>em</strong> radicais hidroxila.<br />

O radical hidroxila é o mais reativo dos radicais livres do sist<strong>em</strong>a<br />

biológico e é provavelmente o responsável pela maioria das lesões celulares<br />

observadas. Ele inicia a peroxidação lipídica, causa modificações no DNA,<br />

proteínas, lipídios e m<strong>em</strong>branas celulares do núcleo e da mitocôndria.<br />

126


Todos os componentes celulares são suscetíveis à ação das Espécies<br />

Reativas do oxigênio (ERO), porém, a m<strong>em</strong>brana celular, que é composta <strong>de</strong><br />

fosfolipídios e ácidos graxos insaturados, é um dos mais atingidos <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>corrência da peroxidação lipídica, que resulta <strong>em</strong> alterações na estrutura e<br />

na permeabilida<strong>de</strong> das m<strong>em</strong>branas. A peroxidação lipídica é o processo<br />

através do qual as ERO agri<strong>de</strong>m as m<strong>em</strong>branas das células, <strong>de</strong>sintegrando-as<br />

e permitindo a entrada <strong>de</strong>ssas espécies nas estruturas intracelulares,<br />

culminando com a morte celular. N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre os processos <strong>de</strong> lipoperoxidação<br />

são prejudiciais, pois seus produtos são importantes na reação <strong>em</strong> cascata a<br />

partir do ácido aracdônico (formação <strong>de</strong> prostaglandinas, tromboxanos e<br />

leucotrienos) e, portanto, na resposta inflamatória.<br />

O estresse oxidativo t<strong>em</strong> como indutores externos: hábitos <strong>de</strong> vida<br />

inapropriados (tais como ingestão <strong>de</strong> álcool, consumo <strong>de</strong> cigarro e dieta),<br />

condições ambientais impróprias (como a exposição à radiação não ionizante,<br />

raios ultravioletas, poluição, alta umida<strong>de</strong> relativa e t<strong>em</strong>peratura elevada),<br />

estados psicológicos que provocam estresse <strong>em</strong>ocional, o envelhecimento e o<br />

exercício realizado <strong>de</strong> forma extr<strong>em</strong>a. Entre os indutores internos indica-se a<br />

ca<strong>de</strong>ia respiratória mitocondrial, oxidases <strong>de</strong> função mista do citocromo P450,<br />

xantina oxidase, macrófagos e neutrófilos, monoaminoxidase, prostaglandina<br />

sintase, lipoxigenase, auto-oxidação <strong>de</strong> h<strong>em</strong>oglobina, riboflavina,<br />

catecolaminas, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Para proteger-se dos efeitos <strong>de</strong>letérios <strong>de</strong>sses radicais livres, os seres<br />

vivos possu<strong>em</strong> diversos mecanismos endógenos. Esses mecanismos são<br />

conhecidos como sist<strong>em</strong>as antioxidantes <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, na proteção ou reparação<br />

<strong>de</strong> moléculas agredidas pela oxidação. Dentre os sist<strong>em</strong>as antioxidantes<br />

<strong>de</strong>staca-se:<br />

1) Superóxido dismutase (SOD): uma metaloenzima endógena que<br />

catalisa a reação <strong>de</strong> dismutação do radical superóxido. Suas principais formas<br />

são a CuZnSOD (presente no citosol, núcleo e mitocôndria) e a MnSOD<br />

presente na mitocôndria;<br />

2) Catalase (CAT): uma h<strong>em</strong>eproteína, presente <strong>em</strong> quase todos os<br />

organismos aeróbicos e <strong>em</strong> algumas células anaeróbicas. Catalisa a reação do<br />

127


peróxido <strong>de</strong> hidrogênio <strong>em</strong> água e oxigênio e é responsável pela<br />

<strong>de</strong>sintoxicação celular e pela oxidação <strong>de</strong> ácidos graxos;<br />

3) Glutationa (GSH): principal antioxidante produzido pelas células.<br />

Participa diretamente da neutralização das espécies reativas <strong>de</strong> oxigênio b<strong>em</strong><br />

como da manutenção <strong>de</strong> antioxidantes exógenos, como vitaminas C e E na sua<br />

forma reduzida. Atua como co-fator <strong>de</strong> várias enzimas antioxidantes, como a<br />

Glutationa-S-transferase (GST) e a Glutationa Peroxidase (GPx);<br />

4) Glutationa Peroxidase e Glutationa Redutase: atuam neutralizando<br />

os radicais hidroperóxidos intracelulares <strong>em</strong> água;<br />

5) Glutationa S-tranferase (GST): presente <strong>em</strong> elevada concentração<br />

no fígado; catalisa reações <strong>de</strong> conjugação entre GSH e compostos<br />

xenobióticos, tornando os produtos da reação menos tóxica e mais solúvel <strong>em</strong><br />

água, facilitando a excreção. Os produtos reativos <strong>de</strong> processos como a LPO e<br />

os xenobióticos atuam como substrato para a GST.<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tais enzimas, b<strong>em</strong> como o nível <strong>de</strong> peroxidação, po<strong>de</strong>m<br />

ser mensurados <strong>em</strong> amostras <strong>de</strong> fígado diante <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s, fármacos ou<br />

agentes tóxicos, a fim <strong>de</strong> avaliar o comprometimento do órgão, que reflete o<br />

estado redox do organismo.<br />

Perfusão monovascular <strong>de</strong> fígado<br />

Os experimentos <strong>de</strong> perfusão monovascular do fígado têm o objetivo <strong>de</strong><br />

avaliar diversas vias metabólicas, tais como: glicólise, neoglicogênese,<br />

glicogenólise, ureagênese, amoniogênese, consumo <strong>de</strong> oxigênio e<br />

biotransformação <strong>de</strong> drogas, diante <strong>de</strong> tratamentos farmacológicos ou<br />

enf<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s.<br />

Nessa técnica, o vaso eferente (veia porta) e o vaso aferente (veia cava)<br />

do órgão são canulados, <strong>de</strong> tal maneira que o experimentador po<strong>de</strong> controlar a<br />

qualida<strong>de</strong> do líquido arterial e colher, para posteriores análises, o líquido<br />

venoso.<br />

Os componentes básicos do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> perfusão são a bomba<br />

peristáltica, o oxigenador <strong>de</strong> m<strong>em</strong>brana e a câmara do fígado. A este sist<strong>em</strong>a<br />

está ainda acoplado um microeletrodo <strong>de</strong> platina com polarógrafo, um<br />

128


egistrador potenciométrico, um banho-maria com bomba <strong>de</strong> circulação externa<br />

do líquido e um cilindro contendo a mistura carbogênica. A câmara do fígado,<br />

<strong>de</strong> acrílico transparente, contém um capta-bolhas (dispositivo que impe<strong>de</strong> a<br />

entrada <strong>de</strong> bolhas <strong>de</strong> ar no fígado), uma câmara para a coleta <strong>de</strong> amostras e<br />

um dispositivo <strong>de</strong> inserção e fixação do eletrodo <strong>de</strong> platina. O líquido <strong>de</strong><br />

perfusão é impulsionado pela bomba peristáltica <strong>em</strong> direção ao oxigenador.<br />

Neste local ocorr<strong>em</strong>, simultaneamente, a oxigenação e o aquecimento para<br />

37°C. O líquido segue para a câmara do fígado, entr a no órgão pela veia porta<br />

e <strong>de</strong>ixa-o pela veia hepática, sendo colhido, para posterior análises, pela<br />

cânula inserida na veia cava.<br />

Para manutenção da viabilida<strong>de</strong> do fígado ex-vivo o método <strong>em</strong>prega<br />

líquido <strong>de</strong> perfusão livre <strong>de</strong> h<strong>em</strong>oglobina, tampão Krebs/Henseleit-bicarbonato,<br />

cujo pH é igual a 7,4 quando saturado com uma mistura <strong>de</strong> oxigênio e dióxido<br />

<strong>de</strong> carbono nas proporções 95:5, através do oxigenador <strong>de</strong> m<strong>em</strong>brana, sendo o<br />

fluxo <strong>de</strong> perfusão mantido entre 29-30mL/min. Com este líquido oxigenado o<br />

fígado fica viável por um longo t<strong>em</strong>po, sendo que a maioria dos experimentos<br />

para avaliar alterações metabólicas t<strong>em</strong> duração <strong>de</strong> 60 a 120 minutos.<br />

Referências<br />

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BRACHT, A.; ISHII- IWAMOTO, E.L.; KELMER-BRACHT, A.M. O Estudo do<br />

metabolismo no fígado <strong>em</strong> perfusão. In: BRACHT, A.; ISHII-IWAMOTO, E.L. M.<br />

Métodos <strong>de</strong> laboratório <strong>em</strong> Bioquímica. São Paulo: Manole, 2003. pp.275-<br />

289.<br />

FILHO, G.B. Bogliolo Patologia, 7˚ ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan,<br />

2006.<br />

129


GARTNER, L.P.; HIATT, J.L. Color Textbook of Histology. Phila<strong>de</strong>lphia:<br />

W.B.Saun<strong>de</strong>rs Company, 1997.<br />

MIRANDA, L.E.; VIARO, F.; CENEVIVA, R.; EVORA, P.R. As bases<br />

experimentais da lesão por isqu<strong>em</strong>ia e reperfusão do fígado. Acta Cirúrgica<br />

Brasileira, v. 19 (1), p. 3-11, 2004.<br />

PEREIRA, D.G., Importância do metabolismo no planejamento <strong>de</strong> fármacos.<br />

Química Nova, v. 30, p. 171-177, 2007.<br />

RANG, H.P.; DALE, M.M.; RITTER, J.M.; MOORE, P.K. Farmacologia. 5° ed.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Elsevier, 2003.<br />

SANTIAGO, L.M.; A metabolização no sist<strong>em</strong>a do citocromo P450 e sua<br />

importância <strong>em</strong> Clínica Geral. Revista Portuguesa <strong>de</strong> Clínica Geral, v. 19, p.<br />

121-129, 2003.<br />

AULA PRÁTICA<br />

Método <strong>de</strong> BRADFORD para quantificação <strong>de</strong> proteínas <strong>em</strong> amostras<br />

biológicas<br />

O Método <strong>de</strong> BRADFORD é um método rápido e preciso para estimar a<br />

concentração <strong>de</strong> proteínas <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>terminada amostra. O ensaio baseia-se<br />

na ligação do corante Coomassie azul à proteína. A leitura é feita pela<br />

mensuração da absorbância <strong>em</strong> 440nm.<br />

A curva-padrão é construída a partir <strong>de</strong> concentrações conhecidas <strong>de</strong><br />

albumina sérica bovina.<br />

A quantificação <strong>de</strong> proteína é um ensaio utilizado com diversos<br />

propósitos. Em nosso laboratório a quantificação <strong>de</strong> proteína é necessária para<br />

posteriores análises <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> enzimática, pois os resultados relativos à<br />

catalase, SOD (superóxido-dismutase) e glutationa S-transferase (GST) são<br />

expressos <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s por mg <strong>de</strong> proteína .<br />

Material: microplaca, folha para i<strong>de</strong>ntificação da microplaca, pipetas<br />

(100÷1000, 10÷100), ponteiras, pote para <strong>de</strong>scarte, estante, leitor <strong>de</strong> Placas,<br />

becker, papel alumínio.<br />

130


Sais e drogas: reagente <strong>de</strong> Bradford, tampão fosfato, BSA (almumina sérica<br />

bovina)<br />

Amostra: Fígado<br />

Procedimento:<br />

Preparo da Curva-Padrão<br />

Na placa colocar:<br />

- Curva: 10 µL <strong>de</strong> cada concentração <strong>de</strong> BSA + 250 µL <strong>de</strong> Bradford<br />

- Branco: 10 µL <strong>de</strong> Tampão Fosfato/metanol + 250 µL <strong>de</strong> Bradford<br />

- Amostras: 10 µL + 250 µL <strong>de</strong> Bradford;<br />

Fazer o esboço da placa na folha;<br />

Envolver a placa com papel alumínio;<br />

No Leitor <strong>de</strong> Placas - Comprimento <strong>de</strong> onda para leitura 440 nm.<br />

Referências:<br />

WALKER, J.M. The protein protocols handbook. 2ª edição. Totowa, New<br />

Jersey: Humana press, 2002.<br />

131

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