A NATO no Afeganistão - Jornal de Defesa e Relações Internacionais
A NATO no Afeganistão - Jornal de Defesa e Relações Internacionais
A NATO no Afeganistão - Jornal de Defesa e Relações Internacionais
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
JDRI • <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Defesa</strong> e <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong> • www.jornal<strong>de</strong>fesa.pt<br />
sequência do 11 <strong>de</strong> Setembro. Obviamente, esta interpretação terá que ficar<br />
expressa <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo conceito estratégico, mesmo sob o entendimento flexível que o<br />
grupo propõe. 40<br />
Ainda relativamente ao artigo 5º, o documento insiste em fazê-lo reassumir<br />
a importância central que teve durante a Guerra Fria, <strong>no</strong> contexto da <strong>de</strong>fesa<br />
colectiva. Vai ser necessário, <strong>no</strong> entanto, esten<strong>de</strong>r este <strong>de</strong>bate ao próprio conceito<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa colectiva, <strong>no</strong>meadamente sob a perspectiva adiantada pelo anterior<br />
secretário-geral da OTAN quando em Julho <strong>de</strong> 2009, afirmou «que tanto po<strong>de</strong> ser<br />
aplicado <strong>de</strong>ntro como fora do território OTAN». Esta questão, que alguns <strong>de</strong>signam<br />
como a “<strong>de</strong>sterritorialização do artigo 5º” terá necessariamente que ser <strong>de</strong>batida e<br />
contemplada <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo conceito estratégico. 41<br />
Carlos Gaspar e Teresa <strong>de</strong> Sousa, consi<strong>de</strong>ram que a discussão do <strong>no</strong>vo<br />
Conceito Estratégico, constitui uma oportunida<strong>de</strong> para a organização respon<strong>de</strong>r às<br />
mudanças internacionais e aos dilemas da aliança, se pu<strong>de</strong>r equacionar oito pontos<br />
fundamentais: 42<br />
1. A OTAN é uma aliança militar que garante a <strong>de</strong>fesa colectiva dos seus<br />
membros e <strong>no</strong>s termos do art.º 5 do Tratado <strong>de</strong> Washington, os aliados<br />
consi<strong>de</strong>ram uma agressão contra um como uma agressão contra todos.<br />
Essa garantia da segurança e da in<strong>de</strong>pendência política das <strong>de</strong>mocracias<br />
oci<strong>de</strong>ntais assenta, sobretudo, na credibilida<strong>de</strong> da dissuasão nuclear<br />
<strong>no</strong>rte-americana. As armas nucleares da Grã-Bretanha estão, <strong>no</strong> seu<br />
conjunto, ao serviço da aliança e, por certo, com o regresso da França, a<br />
Force <strong>de</strong> Frappe vai subordinar-se à mesma regra;<br />
2. É uma aliança regional com responsabilida<strong>de</strong>s globais. A razão <strong>de</strong> ser da<br />
aliança não se alterou, mas a sua missão mudou com o fim da URSS. No<br />
pós-Guerra Fria, os inimigos da comunida<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal passaram a ser os<br />
perturbadores do status quo e a coligação dos vencedores tor<strong>no</strong>u-se o<br />
garante da estabilida<strong>de</strong> internacional. O centro estratégico da OTAN é o<br />
espaço euro-atlântico e a aliança oci<strong>de</strong>ntal está <strong>no</strong> centro do sistema<br />
internacional. A permanência do vínculo estratégico entre os EUA e os<br />
aliados exige que a Aliança Atlântica, sem por isso se tornar numa “OTAN<br />
Global”, assuma responsabilida<strong>de</strong>s internacionais;<br />
3. A OTAN tem <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r não só às ameaças convencionais, mas<br />
também a <strong>no</strong>vas ameaças. O terrorismo, as tiranias e as tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição maciça são ameaças permanentes, que<br />
po<strong>de</strong>m ter origem <strong>no</strong>s Estados ou em entida<strong>de</strong>s não-estatais. A<br />
penetração hostil do espaço cibernético ou do espaço extra-atmosférico<br />
po<strong>de</strong> ser feita a partir <strong>de</strong> qualquer parte do mundo. A segurança<br />
energética ten<strong>de</strong> a ser cada vez mais importante;<br />
4. A UE é o principal parceiro estratégico da Aliança Atlântica. Nos termos do<br />
Tratado <strong>de</strong> Lisboa, a UE está preparada para assumir <strong>no</strong>vas<br />
responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> segurança. A OTAN e a UE são os dois pilares da<br />
comunida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>mocracias oci<strong>de</strong>ntais, mas ainda não conseguiram<br />
<strong>de</strong>finir um quadro <strong>de</strong> articulação das suas estratégias. A UE reconhece a<br />
OTAN como o garante da <strong>de</strong>fesa colectiva e da sua própria integrida<strong>de</strong><br />
territorial, mas <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ter uma intervenção forte na segurança<br />
regional e <strong>de</strong>monstrar a sua capacida<strong>de</strong> para realizar missões militares<br />
nas crises on<strong>de</strong> a OTAN não <strong>de</strong>va intervir. A UE tem <strong>de</strong> recusar uma<br />
“divisão do trabalho” entre o “hard power” da aliança e o “soft power” da<br />
União, que confirma a percepção <strong>no</strong>rte-americana sobre a<br />
“<strong>de</strong>smilitarização” da Europa;<br />
40 Ibid.<br />
41 Ibid.<br />
42 Carlos Gaspar e Teresa <strong>de</strong> Sousa, “Uma Oportunida<strong>de</strong> para a Mudança na <strong>NATO</strong>”, Público, 31 <strong>de</strong><br />
Março <strong>de</strong> 2010, p. 33.<br />
Página 9 <strong>de</strong> 30