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A NATO no Afeganistão - Jornal de Defesa e Relações Internacionais

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JDRI • <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Defesa</strong> e <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong> • www.jornal<strong>de</strong>fesa.pt<br />

completamente esquecido. Nesta matéria, os insurgentes dominam com mestria os<br />

meios tradicionais <strong>de</strong> comunicação, combinando-os <strong>de</strong> uma forma criativa e<br />

inteligente com os meios tec<strong>no</strong>logicamente avançados, pois sabem perfeitamente,<br />

qual a importância comunicacional dos poetas e cantores. Não <strong>de</strong>scurando esta<br />

frente, recorrem à internet para lhes indicar qual o conteúdo dos temas e as<br />

mensagens que <strong>de</strong>vem incluir <strong>no</strong>s seus poemas e canções. 105<br />

As cartas <strong>no</strong>cturnas (shabnamah), tanto impressas como escritas à mão,<br />

distribuídas nas cida<strong>de</strong>s e vilas são outro meio <strong>de</strong> comunicação tradicional utilizado<br />

pelos insurgentes. Os DVD's e as cassetes áudio são meios que também utilizam,<br />

<strong>de</strong> um modo intensivo, <strong>de</strong>vido às vantagens óbvias sobre as publicações escritas.<br />

Os primeiros aparecem com mensagens orientadas para o recrutamento e o moral,<br />

enquanto os segundos contêm <strong>no</strong>rmalmente canções e poesia, em particular cantos<br />

religiosos e taranas, canções marciais, nacionalistas e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> carga emocional,<br />

sem acompanhamento musical. Inseridos neste contexto social e operacional, e não<br />

esquecendo as diversas doutrinas <strong>de</strong> contra-insurreição, os actores locais são os<br />

melhores meios <strong>de</strong> comunicação ao dispor da contra-subversão, <strong>de</strong>sfrutando <strong>de</strong><br />

vantagens óbvias sobre os actores internacionais. 106<br />

Neste capítulo, como entre outros, o exército e a polícia afegã po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>sempenhar um papel <strong>de</strong>cisivo na comunicação tradicional, se correctamente<br />

orientados e se essa acção se subordinar a uma estratégia previamente<br />

estabelecida, porquanto, a mobilização e principalmente a motivação <strong>de</strong>stes<br />

efectivos para participarem <strong>no</strong> processo da comunicação tradicional teria um<br />

impacto importante junto das populações. Medidas simples como a assistência aos<br />

sermões das sextas-feiras, em uniforme, especialmente após acusações <strong>de</strong> estes<br />

não serem islâmicos, ou auxiliar os camponeses em tarefas agrícolas, certamente<br />

que ajudaria a ultrapassar o vazio existente entre estas instituições e a população.<br />

Estas medidas aplicam-se em primeiro lugar à polícia, a qual <strong>de</strong>veria ter um<br />

comportamento próximo e amigável com a população, sendo a sua acção<br />

fundamental para criar uma ambiente <strong>de</strong> segurança e confiança e assim, separar os<br />

insurgentes da população. Contudo este <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato, infelizmente, não será<br />

alcançado com a celerida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vida, porquanto os próprios polícias são corruptos 107<br />

e extorquem a população, não se inserindo <strong>no</strong> esforço colectivo <strong>de</strong>sejado, assim<br />

como, muitos elementos da polícia e das forças armadas, são toxico<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. 108<br />

As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação da ISAF esten<strong>de</strong>m-se igualmente às<br />

audiências internacionais. São várias as dificulda<strong>de</strong>s, as quais estão relacionadas<br />

com o facto da OTAN ser uma organização internacional e o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

numa organização internacional, reflectir um compromisso baseado nas diferentes<br />

perspectivas nacionais sobre a resolução dos problemas, que <strong>no</strong>rmalmente<br />

dificultam a adopção <strong>de</strong> mensagens unificadas. Enquanto alguns gover<strong>no</strong>s<br />

consi<strong>de</strong>ram que as mensagens com um maior conteúdo cinético sabotam o apoio<br />

da opinião pública à missão, outros são mais receptivos a missões <strong>de</strong> combate, e<br />

neste sentido, as priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação diferem <strong>de</strong> nação para nação. Outro<br />

aspecto muito importante, são as discussões públicas sobre caveats e insuficiência<br />

<strong>de</strong> tropas transmitem uma <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> fraqueza e <strong>de</strong>sunião <strong>no</strong> seio da Aliança.<br />

Mensagens contraditórias também contribuem para criar e<strong>no</strong>rmes problemas a<br />

quem tenta transmitir uma imagem <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação, coesão e força. 109<br />

Ao invés, os insurgentes não têm as restrições comunicacionais da ISAF. A<br />

sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção é total e completa, operando com oportunida<strong>de</strong>, quando e<br />

on<strong>de</strong> querem. Isso fez com que se tenham conseguido tornar, tanto a nível regional<br />

como internacional, fontes <strong>de</strong> informação credíveis a par com a ISAF, tendo<br />

105 Ibid.<br />

106 Ibid.<br />

107 Cf. COPPEL Jr., Richard A., “Corruption Un<strong>de</strong>rcuts Hopes for Afghan Police”, The New York Times, 08<br />

<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 2009, (em http://www.nytimes.com/2009/04/09/world/asia/09ghazni.html?ref=world).<br />

108 Cf. O'DONNELL, Lynne, “Fifteen per cent of Afghan Army 'are Drug Addicts'”, The Telegraph, 23 <strong>de</strong><br />

Novembro <strong>de</strong> 2009, (em http://www.telegraph.co.uk/expat/expatnews/6635393/Fifteen-per-cent-of-<br />

Afghan-army-are-drug-addicts.html) e BRANCO, Carlos Martins, op. cit., p. 22.<br />

109 BRANCO, Carlos Martins, op. cit., p. 22.<br />

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