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A NATO no Afeganistão - Jornal de Defesa e Relações Internacionais

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JDRI • <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Defesa</strong> e <strong>Relações</strong> <strong>Internacionais</strong> • www.jornal<strong>de</strong>fesa.pt<br />

Para Smith, rotular as guerras <strong>de</strong> «assimétricas» é um eufemismo para não<br />

ter que reconhecer que o adversário não faz o seu jogo e que não está a ganhar.<br />

Neste caso, em vez do <strong>no</strong>me da guerra, talvez o mo<strong>de</strong>lo já não seja relevante: o<br />

paradigma mudou. Para Rupert Smith, a guerra entre o povo caracteriza-se por<br />

seis gran<strong>de</strong>s tendências: 73<br />

• Os objectivos pelos quais combatemos estão a mudar, dos objectivos<br />

concretos e absolutos da guerra industrial entre Estados para objectivos<br />

mais flexíveis, relacionados com o indivíduo e socieda<strong>de</strong>s que não são<br />

Estados;<br />

• Combatemos entre o povo, um facto literal e simbolicamente amplificado<br />

pelo papel central dos media: quando combatemos nas ruas e campos <strong>de</strong><br />

uma zona <strong>de</strong> conflito, estamos também a combater nas casas das pessoas<br />

que <strong>no</strong>s vêem pela televisão;<br />

• Os <strong>no</strong>ssos conflitos ten<strong>de</strong>m a ser intemporais, pois procuramos uma<br />

condição que <strong>de</strong>ve ser mantida até se chegar a acordo sobre um <strong>de</strong>sfecho<br />

<strong>de</strong>cisivo, algo que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>morar a<strong>no</strong>s ou décadas;<br />

• Combatemos <strong>de</strong> modo a não per<strong>de</strong>rmos as forças militares, não<br />

empregando as forças militares a qualquer custo para atingirmos o<br />

objectivo;<br />

• A cada ocasião, <strong>de</strong>scobrem-se <strong>no</strong>vas utilizações para armas antigas: as<br />

armas especificamente fabricadas para utilização <strong>no</strong> campo <strong>de</strong> batalha<br />

contra soldados e armamento pesado estão a ser adaptadas para os <strong>no</strong>ssos<br />

conflitos actuais, dado que os instrumentos da guerra industrial são<br />

frequentemente irrelevantes para a guerra entre o povo;<br />

• O inimigo é maioritariamente não estatal, pois ten<strong>de</strong>mos a travar os <strong>no</strong>ssos<br />

conflitos e confrontos sob a forma <strong>de</strong> agrupamentos multinacionais, em<br />

aliança ou coligação, e contra um adversário ou adversários que não são<br />

Estados.<br />

Para este autor, estas seis tendências reflectem a realida<strong>de</strong> da <strong>no</strong>ssa <strong>no</strong>va<br />

forma <strong>de</strong> guerra: já não se trata <strong>de</strong> um único evento momentoso e militarmente<br />

<strong>de</strong>cisivo que garante um resultado político conclusivo. E isto verifica-se porque<br />

também se alterou profundamente a relação entre os factores políticos e militares.<br />

Embora os quatro níveis da guerra permaneçam inalterados 74 , e continue a ser a<br />

li<strong>de</strong>rança política que toma a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> empregar a força, o <strong>no</strong>sso mundo <strong>de</strong><br />

confronto e conflito significa que as activida<strong>de</strong>s políticas e militares estão<br />

constantemente misturadas. 75<br />

Por conseguinte, para se compreen<strong>de</strong>r qualquer conflito mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, ambos os<br />

tipos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser examinados em paralelo, pois evoluirão e mudarão<br />

em conjunto, influenciando-se mutuamente. O emprego da força só terá utilida<strong>de</strong><br />

quando for analisado <strong>de</strong>ste modo. 76<br />

Nesta forma <strong>de</strong> guerra com que a <strong>NATO</strong> se confronta <strong>no</strong> <strong>Afeganistão</strong> o<br />

objectivo é influenciar o oponente, alterar ou formar uma intenção, estabelecer<br />

uma condição e, acima <strong>de</strong> tudo, vencer o choque <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s. 77<br />

Assim, neste domínio, os meios não cinéticos são <strong>de</strong>terminantes e mais<br />

eficazes do que os cinéticos, aos quais se associa o uso da força. No que é crítico<br />

73 Id., pp. 36-37.<br />

74 As guerras e os conflitos são travados a quatro níveis – político, estratégico, táctico e operacional –,<br />

com cada nível enquadrando o seguinte, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, a partir do político; é isto que confere<br />

contexto a todas as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos os níveis na prossecução dos mesmos objectivos, e lhes<br />

permite serem coerentes entre si. O primeiro nível, o político, é a fonte do po<strong>de</strong>r e da <strong>de</strong>cisão. No<br />

conflito mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, os militares são controlados pela li<strong>de</strong>rança política — e é aqui que se <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> a entrada<br />

<strong>no</strong> conflito. Esta <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ve ser tomada em função da ameaça ao que se preza — território, soberania,<br />

comércio, recursos, honra, justiça, religião, etc. Tal como qualquer outra gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, tanto na vida<br />

como na guerra, só po<strong>de</strong> ser tomada após uma avaliação do risco <strong>de</strong> concretização da ameaça, e do que<br />

estará em risco caso a ameaça surta efeito. SMITH, Rupert, op. cit., pp. 29-30.<br />

75 SMITH, Rupert, op. cit, p. 16.<br />

76 Id., pp. 36-37.<br />

77 BRANCO, Carlos Martins, op. cit., p. 16.<br />

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