TCC - CE na perspectiva da Ação Comunicativa de ... - UFSCar
TCC - CE na perspectiva da Ação Comunicativa de ... - UFSCar
TCC - CE na perspectiva da Ação Comunicativa de ... - UFSCar
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – <strong>UFSCar</strong><br />
Centro <strong>de</strong> Educação e Ciências Huma<strong>na</strong>s – <strong>CE</strong>CH<br />
Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia<br />
CONSELHOS ESCOLARES NA PERSPECTIVA DA<br />
AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS<br />
São Carlos<br />
2010<br />
Julia Pires Pasetto
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – <strong>UFSCar</strong><br />
Centro <strong>de</strong> Educação e Ciências Huma<strong>na</strong>s – <strong>CE</strong>CH<br />
Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia<br />
CONSELHOS ESCOLARES NA PERSPECTIVA DA<br />
AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS<br />
Julia Pires Pasetto – RA: 290050<br />
São Carlos<br />
2010<br />
Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong><br />
Curso (<strong>TCC</strong>) apresentado como<br />
exigência para a obtenção do<br />
título <strong>de</strong> licencia<strong>da</strong> em<br />
Pe<strong>da</strong>gogia do Curso <strong>de</strong><br />
Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />
<strong>UFSCar</strong>, sob a orientação <strong>da</strong><br />
Profª Drª Maria Cecília Luiz.
Dedico este trabalho...<br />
Às pessoas que consi<strong>de</strong>ro muito importantes em minha<br />
vi<strong>da</strong>, sem as quais esta jor<strong>na</strong><strong>da</strong> não seria possível e tão menos<br />
prazerosa, e pu<strong>de</strong> contar sempre com o apoio, carinho e<br />
compreensão: Deus, minha mãe Elisabete (Bete), meu pai<br />
Percival (Percy) e meu irmão Ta<strong>de</strong>u (Tato).
Agra<strong>de</strong>cimentos<br />
caminha<strong>da</strong>:<br />
Agra<strong>de</strong>ço a todos que, direta ou indiretamente, me auxiliaram nesta longa<br />
A Deus, por ser minha base espiritual, um exemplo <strong>de</strong> força e coragem, com<br />
quem sei que sempre pu<strong>de</strong> (e posso) me apegar, e, também, por ter possibilitado que<br />
encontrasse uma profissão, pela qual me apaixonei, e pessoas sem as quais o dia a dia<br />
seria mais difícil.<br />
Aos amores <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>, meus pais e meu irmão, que, ca<strong>da</strong> qual à sua<br />
maneira, me proporcio<strong>na</strong>ram carinho, amor, alegria, fazendo-me acreditar em minha<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong>ndo-me, sempre, apoio e ótimos conselhos, além <strong>de</strong> me incentivarem e<br />
compreen<strong>de</strong>rem nos momentos difíceis e, claro, comemorarem a ca<strong>da</strong> vitória e<br />
conquista que tive ao logo <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> e, principalmente, nestes 4 anos <strong>de</strong> curso.<br />
Às minhas colegas, que passaram a ser gran<strong>de</strong>s amigas, Suellen (uma <strong>da</strong>s<br />
responsáveis por eu estu<strong>da</strong>r Gestão Democrática), Débora, Danielle e Bru<strong>na</strong>, pelas quais<br />
tenho um carinho mais que especial e que, em meio a brinca<strong>de</strong>iras e zoações, me<br />
aju<strong>da</strong>ram a <strong>de</strong>scobrir muitas coisas novas.<br />
À minha estima<strong>da</strong> orientadora, Profª Drª Maria Cecília Luiz, que muito me<br />
ensinou no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sses 2 anos <strong>de</strong> estudo sobre Gestão, pela paciência e<br />
disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em nortear minhas aprendizagens.<br />
Ao Prof. Dr. Celso Luiz Aparecido Conti, por aceitar participar <strong>da</strong> minha banca<br />
exami<strong>na</strong>dora <strong>de</strong> <strong>TCC</strong> e, com certeza, contribuir, ain<strong>da</strong> mais, para minha formação.
“A adversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sperta em nós<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s que, em<br />
circunstâncias favoráveis, teriam<br />
ficado adormeci<strong>da</strong>s” (Horácio)
Resumo<br />
O presente documento refere-se ao Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso (<strong>TCC</strong>) <strong>de</strong><br />
Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos (<strong>UFSCar</strong>). Este<br />
estudo pauta-se <strong>na</strong> reflexão acerca <strong>da</strong> Gestão Democrática, pontuando a relevância <strong>da</strong><br />
participação, tanto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar como local, nos diversos colegiados <strong>da</strong>s<br />
instituições escolares (APM, Grêmio Estu<strong>da</strong>ntil, etc.), principalmente no Conselho <strong>de</strong><br />
Escola (<strong>CE</strong>), como um modo <strong>de</strong> revitalizar a aprendizagem e restabelecer as ações<br />
autônomas <strong>de</strong>sses sujeitos, consi<strong>de</strong>rando, sempre, o que é melhor para o coletivo,<br />
buscando, assim, um entendimento/consenso e valorizando o mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Com isso,<br />
através do levantamento bibliográfico e documental, fez-se uma expla<strong>na</strong>ção sobre a<br />
gestão, abor<strong>da</strong>ndo-a nos âmbitos macro e micro, <strong>de</strong>stacando seu cunho <strong>de</strong>mocrático,<br />
chegando ao <strong>CE</strong> (seu papel e sua importância <strong>na</strong> instituição e a participação dos<br />
diversos segmentos, bem como um panorama no que diz respeito às leis fe<strong>de</strong>ral,<br />
estadual e do município <strong>de</strong> São Carlos/SP). Este cenário <strong>de</strong> acontecimentos, tanto<br />
<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l como municipal, revela que o <strong>CE</strong> existe no campo educacio<strong>na</strong>l já há bastante<br />
tempo, mas o que intriga é a forma como ele acontece <strong>na</strong> prática, ou seja, como se dá o<br />
seu potencial <strong>de</strong>mocrático. Para tanto, visando alcançar o objetivo <strong>de</strong> entendimento<br />
sobre o <strong>CE</strong>, sua melhoria e o foco no coletivo, é que utilizou-se a Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong><br />
<strong>Comunicativa</strong> (TAC), elabora<strong>da</strong> por Jürgen Habermas – cabe ressaltar que este autor<br />
não <strong>de</strong>senvolveu uma teoria diretamente volta<strong>da</strong> à educação, contudo, seu referencial<br />
tem sido apropriado para a construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los a<strong>na</strong>líticos, através <strong>da</strong> TAC, que<br />
auxiliam <strong>na</strong> reflexão <strong>de</strong>sta esfera –, relacio<strong>na</strong>ndo-a a esse espaço participativo<br />
<strong>de</strong>mocrático, uma vez que todo este processo <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ve<br />
se <strong>da</strong>r por meio <strong>da</strong> integração, do diálogo e <strong>da</strong> argumentação entre os diversos<br />
segmentos que pertencem a <strong>da</strong><strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar. Nesse sentido, é possível enten<strong>de</strong>r o<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola como um importante instrumento para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia forte e atuante, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s suas características com que a legislação o<br />
estabeleceu, já que ocupa um espaço estratégico <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar. To<strong>da</strong>via, ain<strong>da</strong> não<br />
é tido como a alma <strong>da</strong> escola que é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente comprometi<strong>da</strong> com o público ao<br />
qual existe para servir, sendo que hoje, <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes, preserva um cotidiano<br />
rotineiro e pouco envolvido. Mas acreditamos que po<strong>de</strong> vir a ser um dos instrumentos<br />
para a formação <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos conscientes e participantes.<br />
Palavras-chave: Gestão Democrática; participação; Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>); Teoria<br />
<strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC).
Sumário<br />
Introdução.............................................................................................................8<br />
Capítulo 1 – Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC) <strong>de</strong> Habermas.................10<br />
1.1. Teoria Crítica: Habermas, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> .............................. 10<br />
1.2. Ações sociais, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação e os processos <strong>de</strong> aprendizagem ........... 12<br />
1.3. Conceito <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> ........................................................................ 14<br />
1.4. <strong>Ação</strong> comunicativa proporcio<strong>na</strong>ndo uma educação emancipadora.................... 17<br />
Capítulo 2 – Gestão Democrática e a participação..........................................20<br />
2.1. Gestão Educacio<strong>na</strong>l e mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is ................................................. 20<br />
2.2. Políticas Públicas <strong>da</strong> Educação e a administração <strong>na</strong> escola .............................. 26<br />
2.3. A hierarquização e a cultura escolar ................................................................... 32<br />
2.4. Cultura organizacio<strong>na</strong>l e participação................................................................. 36<br />
2.5. Espaços <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> escola ...................................................................... 41<br />
Capítulo 3 – Conselho <strong>de</strong> Escola como locus <strong>da</strong> Gestão Democrática...........43<br />
3.1. O papel do <strong>CE</strong> <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares................................................................ 43<br />
3.2. Panorama histórico no Brasil.............................................................................. 44<br />
3.2.1. As Legislações no âmbito Fe<strong>de</strong>ral................................................................ 46<br />
3.2.2. As Legislações <strong>na</strong> esfera Estadual................................................................ 48<br />
3.2.3. O Panorama histórico dos Decretos em São Carlos/SP................................ 49<br />
3.3. Como funcio<strong>na</strong> o <strong>CE</strong> no município em questão ................................................. 53<br />
Algumas consi<strong>de</strong>rações.......................................................................................56<br />
Referências Bibliográficas..................................................................................60<br />
Anexo A................................................................................................................66
Introdução<br />
Este documento refere-se ao Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso (<strong>TCC</strong>), realizado<br />
no período <strong>de</strong> março a outubro <strong>de</strong> 2010, no curso <strong>de</strong> Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos (<strong>UFSCar</strong>), tendo como orientadora a Profª. Drª.<br />
Maria Cecília Luiz, professora adjunta do Departamento <strong>de</strong> Educação (DEd), e visa<br />
apresentar os estudos realizados, no <strong>de</strong>correr do curso, sobre “Conselhos Escolares <strong>na</strong><br />
<strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> <strong>de</strong> Habermas”, bem como seus resultados/reflexões.<br />
Sob uma <strong>perspectiva</strong> teórica, por meio <strong>de</strong> estudos e levantamentos<br />
bibliográficos, a pesquisa objetivou refletir, a partir <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong><br />
(TAC) <strong>de</strong> Jürgen Habermas, o potencial <strong>de</strong>mocrático do Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>), e<br />
compreen<strong>de</strong>r a construção teórica do autor, assim como suas relações com a gestão<br />
<strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong> escola, principalmente no que se refere ao agir comunicativo, <strong>na</strong><br />
participação em diferentes espaços escolares. Para tanto, partindo do pressuposto <strong>de</strong> que<br />
tal investigação auxiliará a melhoria do funcio<strong>na</strong>mento dos <strong>CE</strong>, a seguinte questão <strong>de</strong><br />
pesquisa foi elabora<strong>da</strong>: Como as contribuições <strong>de</strong> Habermas, mais especificamente a<br />
sua Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong>, nos auxiliam a enten<strong>de</strong>r o potencial <strong>de</strong>mocrático do<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola, e consequentemente, a buscar uma prática pe<strong>da</strong>gógica<br />
politicamente comprometi<strong>da</strong> com uma gestão <strong>de</strong>mocrática?<br />
A escolha pelo tema surgiu com o intuito <strong>de</strong> <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> aos estudos <strong>de</strong><br />
Iniciação Científica, concretiza<strong>da</strong> no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2009 a julho <strong>de</strong> 2010, que<br />
pautava-se, entre outros aspectos, <strong>na</strong> compreensão <strong>da</strong> TAC. Com isso, nesse trabalho<br />
optamos por utilizar essa mesma teoria, direcio<strong>na</strong>ndo-a para a Gestão Democrática –<br />
principalmente a participação nos <strong>CE</strong> –, ao consi<strong>de</strong>rar que tal ação comunicativa entre<br />
os sujeitos é um recurso <strong>de</strong> emancipação, através do qual se revitaliza a aprendizagem,<br />
restabelece a ação autônoma dos mesmos, buscando um entendimento do que é melhor<br />
para o coletivo e, assim, valorizando o mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (PASETTO, 2009).<br />
A <strong>de</strong>mocratização dos sistemas <strong>de</strong> ensino e <strong>da</strong> escola implica no aprendizado e<br />
<strong>na</strong> vivência do exercício <strong>de</strong> participação e toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Trata-se <strong>de</strong> um processo<br />
a ser construído coletivamente, que consi<strong>de</strong>ra a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
histórica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sistema <strong>de</strong> ensino (municipal, estadual ou fe<strong>de</strong>ral), <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola. É<br />
importante compreen<strong>de</strong>r que esse não se efetiva por <strong>de</strong>cretos, portarias ou resoluções,<br />
8
mas é resultante, sobretudo, <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> participação que temos<br />
(PINTO, 1994).<br />
capítulos.<br />
Partindo <strong>de</strong>sta <strong>perspectiva</strong>, este trabalho encontra-se estruturado em três<br />
O primeiro abor<strong>da</strong> o referencial teórico adotado, pon<strong>de</strong>rando alguns elementos<br />
<strong>da</strong> complexa TAC. Vale ressaltar que Habermas nunca <strong>de</strong>senvolveu uma teoria volta<strong>da</strong><br />
diretamente para o campo <strong>da</strong> educação, mas esse referencial tem sido apropriado por<br />
muitos autores, que fazem tal reflexão, a exemplo <strong>de</strong> Pinto (1994), que, através <strong>de</strong>ste,<br />
construiu um mo<strong>de</strong>lo a<strong>na</strong>lítico para utilizá-lo no estudo <strong>de</strong> fenômenos organizacio<strong>na</strong>is<br />
escolares.<br />
No capítulo dois discutimos a educação, tanto em seu âmbito macro como no<br />
micro (políticas públicas e escola, respectivamente), além <strong>de</strong> refletirmos sobre a<br />
<strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> participação, <strong>de</strong>stacando a relevância <strong>da</strong> Gestão Democrática,<br />
pon<strong>de</strong>rando, também, a existência <strong>da</strong> cultura e dos mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is, assim<br />
como os espaços <strong>de</strong> participação.<br />
A partir <strong>de</strong>ssas colocações, no terceiro expla<strong>na</strong>mos a respeito do papel do <strong>CE</strong>,<br />
sua importância <strong>na</strong> instituição, bem como a participação <strong>de</strong> diferentes segmentos.<br />
A<strong>de</strong>mais, relatamo-lo no âmbito do Sistema <strong>de</strong> Ensino do Município <strong>de</strong> São Carlos, por<br />
meio <strong>de</strong> um breve panorama <strong>de</strong>sse colegiado.<br />
Baseando-nos <strong>na</strong>s discussões apresenta<strong>da</strong>s, concluímos esse <strong>TCC</strong> refletindo, <strong>na</strong><br />
<strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> TAC, o potencial <strong>de</strong>mocrático do <strong>CE</strong>, objetivando contribuir para o<br />
entendimento e melhoria <strong>de</strong>sse espaço participativo <strong>de</strong>mocrático, já que acreditamos<br />
que a ação comunicativa, que ocorre entre os sujeitos, é um recurso <strong>de</strong> emancipação.<br />
9
Capítulo 1 – Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC) <strong>de</strong> Habermas<br />
Neste capítulo apresentamos alguns conceitos referentes ao pensamento do<br />
sociólogo e filósofo alemão Jürgen Habermas, principalmente no que tange a sua Teoria<br />
<strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC) 1 , <strong>na</strong> qual prioriza/valoriza a comunicação (que ocorre por<br />
meio <strong>da</strong> linguagem) através <strong>da</strong>s inter-relações – sendo que esta <strong>de</strong>ve acontecer <strong>de</strong> modo<br />
igualitário, isto é, to<strong>da</strong>s as pessoas envolvi<strong>da</strong>s têm o mesmo direito <strong>de</strong> se expressar, sem<br />
sofrer repressões (PINENT, 2004) – para, com isso, chegar a um entendimento sobre o<br />
que é melhor para o coletivo, frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> existente, objetivando a melhoria <strong>da</strong><br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacio<strong>na</strong>l, bem como a emancipação.<br />
Com isso, é possível apontar quatro elementos centrais em sua teoria: a<br />
racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, o agir comunicativo, a interação social (media<strong>da</strong> pela linguagem) e o<br />
entendimento (que leva à emancipação). Para tanto, é válido fazer uma breve<br />
contextualização <strong>da</strong>s influências histórico-filosóficas que levaram-no à reflexão,<br />
origi<strong>na</strong>ndo essa nova teoria.<br />
Antes, faz-se necessário salientar que este autor não pensou uma teoria<br />
direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> à área educacio<strong>na</strong>l. To<strong>da</strong>via, muitos autores têm feito tal a<strong>na</strong>logia, <strong>de</strong> modo<br />
que suas referências, principalmente a partir <strong>da</strong> TAC, possibilitaram reflexões sobre os<br />
fenômenos <strong>da</strong> educação, por meio <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los a<strong>na</strong>líticos, e, também,<br />
organizacio<strong>na</strong>is (PINTO, 1994).<br />
1.1. Teoria Crítica: Habermas, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Alguns autores 2 , durante a primeira meta<strong>de</strong> do século XX, criaram uma nova<br />
teoria <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> – a Teoria Crítica –, partindo <strong>de</strong> reflexões e contraposições acerca<br />
<strong>da</strong> representação <strong>da</strong> ciência <strong>na</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> 3 , consi<strong>de</strong>rando que o homem <strong>de</strong>ste “...<br />
tempo per<strong>de</strong>u a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> objetivar criticamente o mundo em que vive”<br />
(BOUFLEUER, 1998, p. 12). De forma que, conforme aponta Morgado (s/d, p. 2),<br />
1 Em alemão, Theorie <strong>de</strong>s kommunikativen Han<strong>de</strong>lns (TkH).<br />
2 Dentre os quais Horkheimer, Marcuse, Adorno, Benjamin, que são membros <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “Escola <strong>de</strong><br />
Frankfurt” – <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção essa que, <strong>de</strong> acordo com Matos (1993:12 apud ANTUNES; RAMOS, 2000, p.<br />
2), “só viria a ser adota<strong>da</strong>, e com reservas, por Horckheimer <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50”. Já Habermas é<br />
consi<strong>de</strong>rado <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> fase <strong>de</strong>sta Escola.<br />
3 A qual, para Habermas, “... criou uma lacu<strong>na</strong> entre o Sistema e o Mundo Vivido” (ANTUNES;<br />
RAMOS, 2000, p. 16), sendo que “O indivíduo não possui existência própria, ele só existe <strong>na</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong>”<br />
(PINTO, 1994, p. 72).<br />
10
“procuraram intervir com as suas teorias sobre a prática social, buscando uma nova<br />
or<strong>de</strong>m para as relações sociais a partir <strong>da</strong> critica à or<strong>de</strong>m presente”.<br />
A Teoria Crítica apresenta, segundo Antunes e Ramos (2000), <strong>perspectiva</strong><br />
humanística e emancipatória, tendo como objetivo o fim <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s e injustiça<br />
social. To<strong>da</strong>via, “os representantes origi<strong>na</strong>is <strong>da</strong> Teoria Crítica nunca <strong>de</strong>senvolveram<br />
uma concepção clara e alter<strong>na</strong>tiva <strong>de</strong> razão que contrapusesse a razão instrumental”<br />
(BANNELL, 2006, p. 21), <strong>de</strong> forma que a mesma possui “... uma concepção <strong>da</strong> razão e<br />
<strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sprovi<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma justificação fun<strong>da</strong>mental, ao mesmo tempo exterior e<br />
enraiza<strong>da</strong> <strong>na</strong>s condições sociais” (JAY, 1973, p. 60-65 apud ibi<strong>de</strong>m, p. 22).<br />
Já Habermas 4 “propõe um salto paradigmático [do conceito <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>],<br />
no qual abando<strong>na</strong>-se o paradigma <strong>da</strong> consciência a que estes autores [Weber, Adorno e<br />
Horkheimer] encontram-se presos em prol <strong>de</strong> um paradigma <strong>da</strong> comunicação” (PINTO,<br />
1994, p. 66 – grifos meus), isto é, “busca superar o conceito <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
instrumental 5 ” (GONÇALVES, 1999, p. 3), revitalizando a “noção kantia<strong>na</strong> do fato <strong>da</strong><br />
razão” (HABERMAS, 1968/1978, p. 380 apud BANNELL, 2006, p. 33), mas, ao<br />
contrário <strong>de</strong> Kant, enten<strong>de</strong> que o indivíduo não constrói o conhecimento sozinho. Sendo<br />
assim, apresenta uma relação entre a história e a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, “... conce<strong>de</strong>ndo-lhe uma<br />
fun<strong>da</strong>mentação <strong>na</strong>s condições sociais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” (BANNELL, 2006, p. 22), indo além<br />
<strong>da</strong>quela concepção <strong>de</strong> razão, colocando “uma concepção <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> incorpora<strong>da</strong><br />
em processos <strong>de</strong> interação media<strong>da</strong> pela linguagem” (ibi<strong>de</strong>m, p. 38 – grifos meus) – a<br />
racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa. Dessa forma, ele apresenta aspectos <strong>da</strong>s ciências<br />
hermenêutica (que tem por base a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> huma<strong>na</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como os<br />
homens se relacio<strong>na</strong>m, a exemplo <strong>da</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> 6 ) e, também, <strong>da</strong> crítica (que<br />
pensa uma libertação/emancipação do ser humano).<br />
4 Que não é Pós-Mo<strong>de</strong>rno, mas trabalha com a Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>na</strong>caba<strong>da</strong> (fala do Prof. Dr. João Virgílio<br />
Tagliavini durante uma discipli<strong>na</strong> ministra<strong>da</strong> no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – PPGE/<strong>UFSCar</strong> – 2º semestre <strong>de</strong> 2010), isso porque não nega o<br />
conhecimento, ao consi<strong>de</strong>rá-lo um ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>.<br />
5 Tal racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> prevaleceu <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s industriais <strong>de</strong>vido ao processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização.<br />
Caracteriza-se “pela organização <strong>de</strong> meios a<strong>de</strong>quados para atingir <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos fins ou pela escolha entre<br />
alter<strong>na</strong>tivas estratégicas com vistas à consecução <strong>de</strong> objetivos” (GONÇALVES, 1999, p. 3), assim, é<br />
formal e neutra, <strong>de</strong> modo que gerou no indivíduo formas <strong>de</strong> pensar, sentir e agir fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s <strong>na</strong><br />
competição, no isolamento e individualismo, fazendo com que este per<strong>de</strong>sse, ca<strong>da</strong> vez mais, sua<br />
autonomia (ibi<strong>de</strong>m).<br />
6 O conceito <strong>de</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> refere-se à relação <strong>de</strong> um sujeito com outro(s) media<strong>da</strong> pela linguagem,<br />
<strong>de</strong>senvolvendo uma interação reflexiva, por meio <strong>da</strong> qual adquirem consciência, <strong>de</strong> si e do(s) outro(s),<br />
possibilitando a emancipação dos mesmos. Deste modo, tal conceito “quebra” a filosofia <strong>da</strong> consciência<br />
ao enten<strong>de</strong>r a relevância do outro no processo.<br />
11
O autor “propõe em sua teoria crítica que se compreen<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong> constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> sistema e mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, contemplando ao mesmo tempo os<br />
domínios <strong>da</strong> razão instrumental e <strong>da</strong> razão comunicativa” (BOUFLEUER, 1998, p. 16),<br />
buscando, então, superar as patologias <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Com base nisso é que<br />
Habermas elabora a TAC, cuja i<strong>de</strong>ia central é que<br />
12<br />
é possível atribuir as patologias <strong>da</strong> Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sem nenhuma exceção, à<br />
invasão <strong>da</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e burocrática em esferas do mundo <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>, às quais essas formas <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> não são a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s e, por isso,<br />
levam a per<strong>da</strong>s <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> sentido. O agir comunicativo é concebido<br />
por Habermas <strong>de</strong> modo a abrir as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para um entendimento em<br />
sentido abrangente, não restritivo (REESE-SCHÄFER, 2009, p. 46).<br />
Enten<strong>de</strong>ndo que o conhecimento é construído <strong>na</strong> interação, ele conceitua<br />
quatro categorias acerca <strong>da</strong>s ações sociais, relacio<strong>na</strong>ndo a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e as<br />
aprendizagens presentes em ca<strong>da</strong> uma.<br />
1.2. Ações sociais, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação e os processos <strong>de</strong> aprendizagem<br />
Na teoria do agir comunicativo, para Habermas, a ação social é o principal<br />
aspecto <strong>de</strong> análise, sendo que essas ações “po<strong>de</strong>m ser avalia<strong>da</strong>s em termos <strong>de</strong> sua<br />
racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>” (HABERMAS, 1976/1979b; 1981/1984, p. 75ff apud BANNELL, 2006,<br />
p. 42), e consi<strong>de</strong>ra que “a idéia <strong>de</strong> razão [...] está necessariamente embuti<strong>da</strong> <strong>na</strong> maneira<br />
pela qual a espécie <strong>de</strong> animais falantes se reproduz...” (HABERMAS, 1971/2001, p. 85-<br />
86 apud ibi<strong>de</strong>m).<br />
Quanto às ações, essas po<strong>de</strong>m ser conceitua<strong>da</strong>s em quatro categorias:<br />
teleológica 7 , normativa, dramatúrgica e comunicativa (REESE-SCHÄFER, 2009).<br />
Agir teleológico: “visa à realização <strong>de</strong> um objetivo” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46), referindo-<br />
se ao mundo objetivo 8 ; a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta ação po<strong>de</strong> ser avalia<strong>da</strong> com base em<br />
critérios <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e eficácia, e no que diz respeito à aprendizagem, abre a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, “no plano cognitivo, <strong>de</strong> percepções e crenças mais alinha<strong>da</strong>s com a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (BANNELL, 2006, p. 43); função <strong>da</strong> linguagem como entendimento indireto<br />
(REESE-SCHÄFER, 2009).<br />
Agir normativo: “refere-se a grupos que orientam sua ação em valores comuns.<br />
A obediência à norma é espera<strong>da</strong> <strong>de</strong> todos os membros” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46); reporta-se ao<br />
7 Ou também <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong><strong>da</strong> “estratégica”.<br />
8 Relacio<strong>na</strong>do à cultura – os fatos são ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s (FIEDLER, 2006); também po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> mundo<br />
<strong>na</strong>tural ou cultural.
mundo social 9 e, também (em menor escala), ao objetivo; a avaliação <strong>de</strong> sua<br />
racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> se <strong>da</strong>r <strong>de</strong> dois modos (BANNELL, 2006): “se os motivos e ações <strong>de</strong><br />
um agente estão em conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com as normas existentes” e “se o contexto<br />
normativo po<strong>de</strong> ser justificado e, portanto, consi<strong>de</strong>rado legítimo” (p. 44), isto é, pela<br />
correção; quanto à aprendizagem, tem-se inter<strong>na</strong>lização <strong>de</strong> valores e “formação <strong>de</strong> um<br />
‘complexo motivacio<strong>na</strong>l’ a<strong>de</strong>quado ao contexto normativo existente” (ibi<strong>de</strong>m),<br />
estabelecimento <strong>de</strong> relações interpessoais <strong>de</strong> acordo com tal contexto, bem como ações<br />
direcio<strong>na</strong><strong>da</strong>s às normas e valores prescritos; já a linguagem coloca-se como forma <strong>de</strong><br />
manifestar uma concordância às normas (REESE-SCHÄFER, 2009).<br />
Agir dramatúrgico: “reporta-se à autorrepresentação expressiva diante <strong>de</strong> um<br />
público” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46), logo, tem relação com o mundo subjetivo 10 ; a coerência, a<br />
autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> (veraci<strong>da</strong><strong>de</strong>) sobre os sentimentos compartilhados são coloca<strong>da</strong>s como<br />
critério para avaliar a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta ação, já a aprendizagem acontece por meio <strong>de</strong><br />
ajustes entre: “nossos <strong>de</strong>sejos e sentimentos aos padrões <strong>de</strong> valor <strong>da</strong> nossa cultura”, “as<br />
maneiras <strong>de</strong> expressar esses aspectos <strong>de</strong> nossa <strong>na</strong>tureza interior e as experiências<br />
inter<strong>na</strong>s que temos <strong>de</strong> fato”, e “nossas ações com os <strong>de</strong>sejos e sentimentos que<br />
expressamos” (BANNELL, 2006, p. 46); a linguagem assume um papel <strong>de</strong><br />
autorrepresentação (REESE-SCHÄFER, 2009).<br />
Agir comunicativo: “refere-se ao entendimento discursivo entre sujeitos<br />
capazes <strong>de</strong> falar e <strong>de</strong> agir” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46), <strong>de</strong> forma que possui relação reflexiva com os<br />
três mundos (objetivo, social e subjetivo); com isso, os “processos <strong>de</strong> aprendizagem<br />
po<strong>de</strong>m resultar <strong>na</strong> transformação <strong>de</strong>sses mundos” (BANNELL, 2006, p. 46), já que a<br />
comunicação neste mo<strong>de</strong>lo inclui to<strong>da</strong>s as funções <strong>de</strong> linguagem anteriores – “O que<br />
marca a principal diferença no agir comunicativo é o fato <strong>de</strong> que o mecanismo <strong>de</strong><br />
coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>da</strong> ação é um processo discursivo para se alcançar um entendimento<br />
mútuo” (ibi<strong>de</strong>m, p. 48), mas cabe ressaltar que<br />
13<br />
É possível perceber claramente que o tipo <strong>de</strong> agir orientado ao entendimento,<br />
cuja estrutura racio<strong>na</strong>l interior nós esboçamos <strong>de</strong> forma totalmente<br />
provisória, <strong>de</strong> modo algum é encontrável, sempre e em todo lugar, como o<br />
caso normal <strong>da</strong> práxis comunicativa do dia a dia (TkH I, p. 198 apud REESE-<br />
SCHÄFER, 2009, p. 49).<br />
9 Diretamente ligado à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> – suas regras e normas (FIEDLER, 2006).<br />
10 Refere-se à pessoa – seus sentimentos, emoções e percepções estéticas (ibi<strong>de</strong>m).
Consi<strong>de</strong>rando que esta última ação é fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> Teoria apresenta<strong>da</strong> por<br />
Habermas, será tratado a seguir seu conceito central e os <strong>de</strong>mais elementos atrelados ao<br />
mesmo.<br />
1.3. Conceito <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong><br />
Conforme já indicado, a TAC, elabora<strong>da</strong> por Habermas, possui muitos<br />
conceitos relacio<strong>na</strong>dos, os quais são abor<strong>da</strong>dos para melhor entendimento do leitor.<br />
Retomando, como Habermas consi<strong>de</strong>ra a relação entre história e racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
compreen<strong>de</strong>ndo que o indivíduo constrói seu conhecimento <strong>na</strong>s relações, é que organiza<br />
“um conceito <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> que encontra seus fun<strong>da</strong>mentos nos processos <strong>de</strong><br />
comunicação intersubjetiva com vistas a alcançar o entendimento” (MCCARTHY, 1984<br />
apud PINTO, 1994, p. 67), a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa, a qual apoia-se <strong>na</strong><br />
14<br />
... relação intersubjetiva, que sujeitos que falam e atuam, assumem quando<br />
buscam o entendimento entre si, sobre algo. Ao fazer isto, os atores<br />
comunicativos movem-se por meio <strong>de</strong> uma linguagem <strong>na</strong>tural, valendo-se <strong>de</strong><br />
interpretações culturalmente transmiti<strong>da</strong>s e referem-se a algo<br />
simultaneamente em um mundo objetivo, em seu mundo social comum e em<br />
seu próprio mundo subjetivo (HABERMAS, 1984, p. 392 apud ibi<strong>de</strong>m).<br />
Assim sendo, é possível perceber a gran<strong>de</strong> relação entre razão e linguagem.<br />
Esta, <strong>de</strong> acordo com Habermas (1999/2003, p. 54 apud BANNELL, 2006, p. 60), é “o<br />
órgão formativo do pensamento: a interpretação <strong>de</strong> linguagem e reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é tanta que<br />
não há nenhum acesso imediato a uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> não interpreta<strong>da</strong> para o sujeito<br />
cognoscente”, <strong>de</strong>ste modo, to<strong>da</strong>s as pessoas são capazes <strong>de</strong> linguagem e, conforme o<br />
mesmo (1990c, p. 65ss apud PINENT, 2004, p. 51 – grifos do autor), “O ‘modo<br />
origi<strong>na</strong>l’ <strong>da</strong> linguagem é seu uso em atos <strong>de</strong> fala ilocucionários, em ações volta<strong>da</strong>s para<br />
alcançar o entendimento”, com isso, a comunicação assume um caráter intersubjetivo.<br />
A<strong>de</strong>mais, num ato <strong>de</strong> fala comunicativo, a linguagem possui uma tripla função<br />
(que <strong>de</strong>ve acontecer simultaneamente): “<strong>da</strong>r expressão <strong>de</strong> aquilo que se tem em mente<br />
(função expressiva), sobre algo no mundo (função representativa), para comunicar-se<br />
com outro (função interativa)” (HABERMAS, 1990a, p. 78 apud BOUFLEUER, 1998,<br />
p. 39 – grifos do autor). Mas vale pon<strong>de</strong>rar, também, que caso este ato <strong>de</strong> fala não<br />
busque o objetivo <strong>da</strong>quele coletivo como um todo, priorizando, somente, o <strong>de</strong> alguns<br />
indivíduos (por meio do po<strong>de</strong>r, possivelmente <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> sanções) (BANNELL, 2006),<br />
terá um propósito perlocucionário, logo, caracteriza-se por uma ação estratégica, por<br />
meio <strong>de</strong> uma comunicação subjetiva (PINENT, 2004).
Com isso, po<strong>de</strong>mos pontuar que tal razão <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Habermas prece<strong>de</strong> a<br />
ação comunicativa. To<strong>da</strong>via, antes <strong>de</strong> aprofun<strong>da</strong>rmo-nos neste conceito, vale ressaltar<br />
que para o autor há dois “mundos”/esferas existentes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e sistêmico.<br />
O mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é o “não <strong>de</strong>clarado”, o pano <strong>de</strong> fundo que dá sustentação à<br />
lógica <strong>da</strong>s pessoas, já que<br />
15<br />
falantes e ouvintes po<strong>de</strong>m “[...] reciprocamente colocar a pretensão <strong>de</strong> que<br />
suas <strong>de</strong>clarações se adéqüem ao mundo (objetivo, social ou subjetivo), on<strong>de</strong><br />
eles po<strong>de</strong>m criticar e confirmar a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus intentos, solucio<strong>na</strong>r seus<br />
<strong>de</strong>sacordos e chegar a um acordo” (HABERMAS, 1981/1987, p. 126 apud<br />
BANNELL, 2006, p. 27).<br />
Contudo, ao contrário <strong>de</strong>sta esfera – que baseia-se <strong>na</strong>s relações/interações<br />
sociais por meio do diálogo, <strong>da</strong> comunicação –, tem-se o mundo sistêmico, que é o<br />
“<strong>de</strong>clarado”, sendo composto por dois subsistemas, político/administrativo (po<strong>de</strong>r) e<br />
econômico (dinheiro), tor<strong>na</strong>ndo suas relações burocráticas, por isso, fun<strong>da</strong>menta-se<br />
numa razão instrumental/ação estratégica. Vale ressaltar que o mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> tem sido<br />
colonizado pelo sistêmico, isso porque os “meios <strong>de</strong>slinguistificados” (como o po<strong>de</strong>r e o<br />
dinheiro) vem, ca<strong>da</strong> vez mais, coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ndo as ações, preterindo os processos<br />
comunicativos pautados <strong>na</strong> linguagem, sendo responsável pelo surgimento <strong>de</strong> patologias<br />
<strong>na</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s capitalistas contemporâneas (PINTO, 1994) 11 .<br />
Enfim,<br />
Para Habermas existe uma correlação direta entre ação comunicativa e<br />
mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, já que cabe à primeira a reprodução <strong>da</strong>s estruturas simbólicas<br />
do segundo (cultura, socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pessoa). Assim, sob o aspecto do<br />
entendimento mútuo, a ação comunicativa serve para transmitir e renovar o<br />
saber cultural, sob o aspecto <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r a ação, ela propicia a integração<br />
social e, sob o aspecto <strong>da</strong> socialização ela serve à formação <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
individual (PINTO, 1994, p. 71 – grifos do autor).<br />
Na TAC, um conceito central criado por Habermas é o agir comunicativo, que<br />
“estabelece uma relação reflexiva com o mundo, <strong>na</strong> qual a pretensão <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
levanta<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> enunciado <strong>de</strong>ve ser reconheci<strong>da</strong> intersubjetivamente; para isso<br />
acontecer, o falante <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> cooperação dos outros” (BANNELL, 2006, p. 53). A<br />
comunicação parte, ao seu ver (1984 apud PINTO, 1994) <strong>de</strong> três pretensões <strong>de</strong><br />
vali<strong>da</strong><strong>de</strong>: veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> (faz referência ao mundo objetivo, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser verifica<strong>da</strong> a<br />
totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos fatos existentes); correção normativa (diz respeito ao mundo social dos<br />
participantes, sendo que as relações entre os mesmos são regula<strong>da</strong>s legitimamente);<br />
autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e sinceri<strong>da</strong><strong>de</strong> (relação com o mundo subjetivo, isto é, as experiências do<br />
11 Habermas compreen<strong>de</strong> que o direito – conceito que foi aprofun<strong>da</strong>do pelo mesmo <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 –<br />
(através <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação) é o modo <strong>de</strong> articular esses dois mundos.
falante, sendo que só ele tem acesso privilegiado a elas <strong>na</strong>s diferentes situações) 12 . De<br />
acordo com Reese-Schäfer (2009, p. 47), há mais uma, a inteligibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
enunciações, “... entendi<strong>da</strong> não como pretensão específica, mas como pressuposto <strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong>mais”, ele acrescenta que “Habermas <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong> racio<strong>na</strong>is as três pretensões <strong>de</strong><br />
vali<strong>da</strong><strong>de</strong> [...], pois elas exigem atribuir a qualquer parceiro do diálogo, ao menos até sua<br />
verificação, que ele age racio<strong>na</strong>lmente” (ibi<strong>de</strong>m, p. 48 – grifo do autor).<br />
Deste modo, num ato <strong>de</strong> fala comunicativo, consi<strong>de</strong>rando a cooperação entre<br />
todos, enten<strong>de</strong>-se que os participantes possuem o mesmo direito a falar, ouvir e aceitar<br />
ou contestar/criticar, mas sem serem coagidos (PINENT, 2004), “Isso constitui sua<br />
superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação a outras formas <strong>de</strong> ação” (REESE-SCHÄFER, 2009, p. 47).<br />
Nesse sentido é que Gomes (2007) aponta para uma Teoria Consensual <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
existente <strong>na</strong> ação comunicativa, que busca explicar “o processo não coativo que exerce<br />
o melhor argumento, através <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s formais do discurso” (p. 110). Assim, o<br />
discurso argumentativo serve para instaurar um processo <strong>de</strong> contestar ou <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as<br />
pretensões <strong>de</strong> vali<strong>de</strong>z (BOUFLEUER, 1998).<br />
Vale ressaltar que a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> ação comunicativa é fortalecer a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
argumentativa <strong>da</strong>s pessoas, <strong>de</strong> forma que os<br />
16<br />
Argumentos são os meios pelos quais o reconhecimento intersubjetivo <strong>de</strong><br />
uma pretensão <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um proponente (proponent), levanta<strong>da</strong><br />
hipoteticamente, po<strong>de</strong> ser realizado e, portanto, a opinião po<strong>de</strong> ser<br />
transforma<strong>da</strong> em conhecimento (BANNELL, 2006, p. 57 – grifos do autor).<br />
Assim sendo, é a partir <strong>de</strong>sses argumentos, pautados <strong>na</strong>s pretensões, que os<br />
sujeitos buscam chegar ao entendimento mútuo/consenso sobre o que é melhor para<br />
eles, enquanto um coletivo. Gomes (2007) diz que esta busca pelo consenso é<br />
cooperativa, já que tem um “porquê”: o bem comum. Contudo, Habermas chama-nos a<br />
atenção <strong>de</strong> que não se trata <strong>de</strong> um acordo por meio <strong>de</strong> votação, isso porque as pessoas<br />
têm, com base <strong>na</strong>s argumentações e pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que pensar no bem/melhoria<br />
do coletivo. Nesse sentido, envolve um processo <strong>de</strong> reflexão e emancipação, e, para<br />
isso, elas precisam “abrir mão” <strong>de</strong> seus interesses individuais em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong>s<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s coletivas. Por este motivo é que o consenso apresenta um caráter<br />
provisório, já que, com o tempo, tais reflexões po<strong>de</strong>m levar o coletivo a perceber uma<br />
nova necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>/priori<strong>da</strong><strong>de</strong>, não os impedindo <strong>de</strong> chegar a um novo entendimento<br />
(ibi<strong>de</strong>m).<br />
12 Depen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> interpretação do autor, a <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção <strong>de</strong>stas pretensões po<strong>de</strong> variar, mas as i<strong>de</strong>ias<br />
centrais são as mesmas.
Essa busca pelo consenso trata-se, segundo Gomes (ibi<strong>de</strong>m), <strong>de</strong> um processo<br />
<strong>de</strong> “<strong>de</strong>sbarbarização”/<strong>de</strong>scolonização do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, isto é, o resgate <strong>de</strong> valores,<br />
culturas e princípios, objetivando racio<strong>na</strong>lizar tal mundo (pela via <strong>da</strong> ação<br />
comunicativa), o que possibilita a emancipação 13 do sujeito (BANNELL, 2006).<br />
Percebe-se, então, que<br />
17<br />
A i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do grupo é reproduzi<strong>da</strong> <strong>na</strong> estrutura <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
indivíduo, em uma forma <strong>de</strong> integração social em que a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />
aplicação <strong>de</strong> normas se fun<strong>da</strong>mentam em razões e, portanto, <strong>na</strong> qual o<br />
processo <strong>de</strong> socialização é, ao mesmo tempo, um processo <strong>de</strong> individuação<br />
em direção a uma maior autonomia (ibi<strong>de</strong>m, p. 101 – grifo do autor).<br />
Entretanto, vale consi<strong>de</strong>rar que uma ação só será comunicativa se todos<br />
estiverem dispostos ao entendimento (e, para isso, faz-se necessário os pressupostos),<br />
assim, não é todo diálogo que é uma interação (GOMES, 2007). O consenso é tanto<br />
ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> como <strong>de</strong> chega<strong>da</strong>. Com isso, mesmo que não se chegue a um consenso,<br />
po<strong>de</strong>-se dizer que houve uma ação comunicativa, se estiver pauta<strong>da</strong> no processo <strong>de</strong><br />
argumentação, <strong>na</strong>s pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>na</strong> real disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sujeitos para tal,<br />
bem como <strong>na</strong>s condições não-coercitivas (ibi<strong>de</strong>m).<br />
Resumindo,<br />
para Habermas, a ação comunicativa surge como uma interação <strong>de</strong>, no<br />
mínimo, dois sujeitos, capazes <strong>de</strong> falar e agir, que estabelecem relações<br />
interpessoais com o objetivo <strong>de</strong> alcançar uma compreensão sobre a situação<br />
em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos <strong>de</strong> ação com vistas a<br />
coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r suas ações pela via do entendimento (PINTO, 1994, p. 69 – grifos<br />
do autor).<br />
Enfim, todo esse processo <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e ação comunicativa tor<strong>na</strong>-se um<br />
potencial para a emancipação huma<strong>na</strong>, a qual <strong>de</strong>ve ser trabalha<strong>da</strong> <strong>na</strong> instituição escolar,<br />
por meio <strong>da</strong> educação.<br />
1.4. <strong>Ação</strong> comunicativa proporcio<strong>na</strong>ndo uma educação emancipadora<br />
A escola é um espaço que apresenta “... três gran<strong>de</strong>s tarefas educativas: a<br />
formação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais (educação dos filhos), a reprodução cultural<br />
(apropriação <strong>de</strong> saberes) e a integração social (cooperação)” (BOUFLEUER, 1998, p.<br />
54), isto é, “... reprodução <strong>da</strong>s estruturas simbólicas do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>...” (PINTO,<br />
1996, p. 152 apud ibi<strong>de</strong>m). Com isso, promove o “entrelaçamento <strong>de</strong> planos particulares<br />
<strong>de</strong> ação” (BOUFLEUER, 1998, p. 22) através <strong>da</strong>s interações que acontecem no <strong>de</strong>correr<br />
13 Habermas preocupa-se com a emancipação, a qual advém <strong>de</strong> uma comunicação. Ele coloca a<br />
importância <strong>da</strong> interação, que po<strong>de</strong> gerar uma outra linguagem (GOMES, 2007).
dos processos pe<strong>da</strong>gógicos, ou seja, <strong>na</strong> educação, a qual se constitui numa ação social.<br />
Sendo assim,<br />
18<br />
... quanto à possível fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reflexão habermasia<strong>na</strong> para a educação<br />
se <strong>de</strong>ve à constatação <strong>de</strong> que os objetivos gerais <strong>da</strong> educação se colocam <strong>na</strong><br />
<strong>perspectiva</strong> <strong>de</strong> uma integração social em que se buscam reproduzir e renovar<br />
as tradições culturais, estabelecer as soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os padrões <strong>de</strong><br />
convivência e socializar as novas gerações, permitindo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais. Nesse sentido queremos propor o espaço <strong>da</strong> educação<br />
como um espaço privilegiado do agir comunicativo (BOUFLEUER, 1998, p.<br />
17).<br />
Deste modo, Pinto (1994), consi<strong>de</strong>ra que a instituição escolar sofre uma<br />
colonização muito forte do seu mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> excessiva burocratização e<br />
formali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (apresenta<strong>da</strong>s no mundo sistêmico), <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando patologias graves.<br />
Visando sa<strong>na</strong>r tais problemas, Habermas propõe uma <strong>de</strong>scolonização do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
(ibi<strong>de</strong>m), a qual advém <strong>da</strong> educação, entendi<strong>da</strong> como uma interação social media<strong>da</strong> pela<br />
linguagem, já que, para ele, o que se apren<strong>de</strong> precisa ser compartilhado, promovendo<br />
emancipação e novas aprendizagens (BANNELL, 2006).<br />
Neste sentido, “Só o conceito <strong>de</strong> uma racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa, centra<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />
intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s múltiplas dimensões que fazem parte dos<br />
processos educativos” (BOUFLEUER, 1998, p. 31), logo, para que tenha bom<br />
funcio<strong>na</strong>mento, a escola <strong>de</strong>ve privilegiar processos <strong>de</strong> ação comunicativa, objetivando,<br />
sempre, alcançar o entendimento (PINTO, 1996, p. 152 apud ibi<strong>de</strong>m, p. 54-55).<br />
Entretanto, no ambiente escolar ain<strong>da</strong> há dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> frente à existência <strong>da</strong><br />
linguagem comunicativa, pois a tríplice (querer, dizer, fazer) <strong>de</strong>ve estar em acordo, o<br />
que muitas vezes não ocorre. Além disso, os mecanismos sistêmicos <strong>de</strong> controle levam<br />
à falha <strong>na</strong> comunicação e entendimento, gerando ca<strong>da</strong> vez mais conflitos. Por este<br />
motivo é que precisa-se, conforme indica Boufleuer (1998), mu<strong>da</strong>r o paradigma,<br />
passando a enten<strong>de</strong>r e usar a “linguagem como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para a abor<strong>da</strong>gem do<br />
tema do conhecimento” (p. 60), construído dia-a-dia (possuindo, assim, um caráter<br />
provisório), <strong>de</strong>senvolvendo uma prática social argumentativa, proporcio<strong>na</strong><strong>da</strong> pelo<br />
exercício <strong>de</strong> reflexão e auto-reflexão (BANNELL, 2006).<br />
Enfim, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste capítulo foi possível perceber, por meio <strong>da</strong> teoria<br />
habermasia<strong>na</strong>, a relevância <strong>de</strong> uma ação emancipatória por acreditar que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
está, sempre, em reconstrução <strong>de</strong> valores e princípios, e esta acontece a partir <strong>de</strong> uma<br />
ação comunicativa, por meio <strong>da</strong> linguagem e argumentação, buscando um<br />
entendimento/consenso do que é melhor para o coletivo. Para isso, as pessoas precisam<br />
ser o máximo possível <strong>de</strong>scoloniza<strong>da</strong>s, e a escola é um dos espaços que po<strong>de</strong> propiciar
essa ocorrência, possibilitando, através <strong>da</strong> educação e interação social, a emancipação,<br />
isto é, que os indivíduos consigam pensar por si próprios, tendo autonomia sobre seus<br />
atos (GOMES, 2007).<br />
Um importante modo <strong>de</strong> incentivar esse processo <strong>de</strong> ação comunicativa é<br />
fomentar a participação política <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tanto escolar como local, <strong>na</strong>s <strong>de</strong>cisões<br />
<strong>da</strong> escola. Para tanto, a gestão <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ve privilegiar uma <strong>de</strong>mocracia participativa, isto<br />
é, “abrir suas portas” para que todos possam refletir e opi<strong>na</strong>r, sem sofrerem qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> coação, consi<strong>de</strong>rando, sempre, as pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
19
Capítulo 2 – Gestão Democrática e a participação<br />
Compreen<strong>de</strong>ndo a relevância <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a educação nos seus âmbitos macro<br />
(políticas públicas) e micro (escola), além <strong>de</strong> refletir sobre a <strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> participação,<br />
é que neste capítulo <strong>de</strong>stacamos a Gestão Democrática, pon<strong>de</strong>rando, também, a cultura<br />
e os mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is, assim como os espaços <strong>de</strong> participação.<br />
2.1. Gestão Educacio<strong>na</strong>l e mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is<br />
A uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar (UE) é estrutura<strong>da</strong> com base em pessoas que ocupam<br />
diferentes cargos. Porém, além do corpo <strong>de</strong> funcionários há um modo pelo qual ela se<br />
organiza, <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>do, por Lima (2003), <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> administração.<br />
O termo aparece no plural, uma vez que mesmo os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>finidos formalmente, ao<br />
serem colocados <strong>na</strong> prática, sofrem mu<strong>da</strong>nças, já que a instituição faz a<strong>de</strong>quações <strong>de</strong><br />
acordo com suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Nesse sentido é que<br />
20<br />
impõe-se um renovado esforço para <strong>de</strong>finir os critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />
adotados <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong> educação, visando possibilitar sua utilização correta<br />
como instrumentos a<strong>na</strong>líticos e praxiológicos. Este esforço é particularmente<br />
necessário para caracterizar a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> atuação dos administradores<br />
educacio<strong>na</strong>is e gestores escolares <strong>na</strong> sua prática cotidia<strong>na</strong> (SANDER, 2007,<br />
p. 75).<br />
Sendo assim, <strong>na</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 80 e 90, muitos educadores brasileiros realizaram<br />
estudos a fim <strong>de</strong> elaborar conceitos para se conseguir uma administração mais<br />
apropria<strong>da</strong> para o âmbito do ensino. Entre eles está Benno San<strong>de</strong>r (ibi<strong>de</strong>m), que constrói<br />
conceitualmente quatro mo<strong>de</strong>los 14 <strong>de</strong> gestão escolar com base <strong>na</strong> análise <strong>da</strong>s quatro<br />
fases <strong>da</strong> trajetória <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> educação:<br />
• Administração para a eficiência econômica: eficiência relacio<strong>na</strong>-se com a<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> produção/produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, com menor custo e tempo, portanto, um<br />
critério econômico, com dimensão extrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase organizacio<strong>na</strong>l. Com<br />
isso, percebe-se a gran<strong>de</strong> relação com a Teoria Geral <strong>da</strong> Administração (Taylor, Fayol e<br />
Weber) quanto à questão <strong>de</strong> funções, cargos, tempos, etc.<br />
14 Tais mo<strong>de</strong>los específicos: eficiência, eficácia, efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e relevância são facilmente confundidos,<br />
tanto que “Reconhecidos dicionários afirmam que eficaz é sinônimo <strong>de</strong> eficiente, ao mesmo tempo em<br />
que asseguram que efetivo equivale a eficaz” (SANDER, 2007, p. 74).
• Administração para a eficácia pe<strong>da</strong>gógica: eficácia relacio<strong>na</strong>-se com a<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> administrativa <strong>de</strong> se obter os objetivos propostos, sendo um critério<br />
institucio<strong>na</strong>l, pois preocupa-se com os aspectos pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> escola (seu processo),<br />
bem como consi<strong>de</strong>ra as relações huma<strong>na</strong>s, logo, é coletivo, e possui dimensão<br />
intrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase comportamental.<br />
• Administração para a efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> política: efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>-se com a<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> administrativa <strong>de</strong> satisfazer as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, portanto um<br />
critério político com dimensão extrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase <strong>de</strong>senvolvimentista.<br />
Desse modo, consi<strong>de</strong>ra a participação (coletiva e solidária) <strong>de</strong>ssa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, visando<br />
aten<strong>de</strong>r aos interesses particulares (enquanto grupos – professores, alunos, funcionários,<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc.), mas não individual. Assim, os gestores <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo<br />
21<br />
que pautam seus esforços a<strong>na</strong>líticos e suas práticas <strong>de</strong> intervenção (...),<br />
incentivam a eficiência econômica e a eficácia pe<strong>da</strong>gógica <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que<br />
elas contribuem para a satisfação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s políticas e exigências sociais<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (SANDER, 2007, p. 81-82).<br />
• Administração para a relevância cultural: relevância relacio<strong>na</strong>-se com o<br />
<strong>de</strong>sempenho administrativo em conseguir <strong>de</strong>senvolver uma administração educacio<strong>na</strong>l<br />
preocupando-se, valorizando e respeitando a cultura, a história, bem como ressaltando a<br />
diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> presente <strong>na</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo, portanto, um critério cultural com<br />
dimensão intrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase sociocultural. Com isso, pon<strong>de</strong>ra “a<br />
importância primordial <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> educação para os ci<strong>da</strong>dãos em seu<br />
contexto cultural”, concebendo “a relevância <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong> educação como alter<strong>na</strong>tiva<br />
superor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora dos conceitos <strong>de</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, eficácia e eficiência” (ibi<strong>de</strong>m, p. 85).<br />
Consi<strong>de</strong>rando a relevância <strong>de</strong> se pensar uma teoria administrativa e<br />
organizacio<strong>na</strong>l para a área <strong>da</strong> educação, alia<strong>da</strong> à crescente expansão dos sistemas<br />
educacio<strong>na</strong>is (os quais trazem novos <strong>de</strong>safios/preocupações e, consequentemente,<br />
requerendo novos esforços para li<strong>da</strong>r com a situação), é que se tem o Paradigma<br />
multidimensio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> administração <strong>da</strong> educação, o qual<br />
alicerçado <strong>na</strong> <strong>de</strong>sconstrução e reconstrução <strong>de</strong> conhecimentos acumulados<br />
historicamente, constitui uma tentativa <strong>de</strong> síntese teórica <strong>da</strong> experiência<br />
brasileira <strong>de</strong> administração <strong>da</strong> educação, no contexto inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
(SANDER, 2007, p. 88).<br />
Tal paradigma busca respon<strong>de</strong>r organizacio<strong>na</strong>l e administrativamente <strong>de</strong><br />
maneira eficiente, eficaz, efetiva e relevante às atuais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s instituições<br />
educacio<strong>na</strong>is (ou seja, tenta utilizar-se/juntar os quatro mo<strong>de</strong>los), para tanto, cria
políticas, projetos e programas para <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong>sse objetivo. Segundo San<strong>de</strong>r (ibi<strong>de</strong>m),<br />
a bibliografia referente a essa questão aponta que há sistemas e escolas que pensam<br />
diferentes mo<strong>de</strong>los administrativos, <strong>de</strong> forma que os que privilegiam um padrão,<br />
baseando-se <strong>na</strong> eficiência (e, possivelmente, numa suposta eficácia), são <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza<br />
empresarial; já os que preocupam-se com o papel político <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>/comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
tem o critério <strong>de</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> política; há os que se orientam pela eficácia <strong>na</strong> obtenção <strong>de</strong><br />
seus objetivos pe<strong>da</strong>gógicos; e, por fim, aqueles que pautam-se no ser humano como um<br />
autor social e individual, tendo como norte a relevância cultural para a sua atuação.<br />
Contudo, o autor (2007) salienta que a utilização <strong>de</strong>sses quatro mo<strong>de</strong>los (em<br />
sua forma “pura”) resulta/reflete numa administração educacio<strong>na</strong>l, bem como em suas<br />
concepções, reducionista e fragmenta<strong>da</strong>. Com o intuito <strong>de</strong> que essas visões sobre a<br />
gestão <strong>da</strong> educação sejam modifica<strong>da</strong>s, faz-se necessário o emprego <strong>de</strong> um novo<br />
tratamento teórico e metodológico. Para tanto, seguindo esse raciocínio tem-se duas<br />
propostas: o enfoque multiparadigmático e o paradigma multidimensio<strong>na</strong>l, sendo que o<br />
primeiro<br />
22<br />
explora as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s heurísticas e praxiológicas, extraí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> distintos<br />
mo<strong>de</strong>los, para estu<strong>da</strong>r e resolver problemas específicos <strong>de</strong> organização e<br />
gestão <strong>da</strong> educação. Essa alter<strong>na</strong>tiva apóia-se <strong>na</strong> idéia <strong>de</strong> que muitos<br />
conceitos dos diferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão não são necessariamente<br />
exclu<strong>de</strong>ntes ou incomensuráveis, mas que po<strong>de</strong>m ser utilizados seletivamente<br />
<strong>na</strong> teoria e <strong>na</strong> prática <strong>da</strong> educação e <strong>de</strong> sua administração (SANDER, p. 90).<br />
Já o segundo “é uma construção histórico-estrutural que toma a forma <strong>de</strong> um<br />
paradigma global e multirreferencial, baseado <strong>na</strong> análise <strong>da</strong>s confluências e<br />
contradições simultâneas entre as quatro construções históricas <strong>de</strong> administração <strong>da</strong><br />
educação” (ibi<strong>de</strong>m, p. 91). A<strong>de</strong>mais, San<strong>de</strong>r (2007) compreen<strong>de</strong> que além <strong>de</strong>sse<br />
enfoque multirreferencial há, também, um <strong>de</strong>bate a respeito <strong>da</strong> formação<br />
transdiscipli<strong>na</strong>r dos educadores e gestores, a qual é o meio para que seja preserva<strong>da</strong> a<br />
visão <strong>de</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos mesmos (ibi<strong>de</strong>m, p. 114). Essa formação <strong>de</strong>ve<br />
ter como aspecto central as quatro qualificações básicas: econômica (eficiência para<br />
coor<strong>de</strong><strong>na</strong>rem os recursos econômicos – sua captação e utilização); pe<strong>da</strong>gógica (eficácia<br />
para coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r o processo <strong>de</strong> formulação dos objetivos educacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
consi<strong>de</strong>rando os meios pe<strong>da</strong>gógicos para a sua realização); política (talento para<br />
compreen<strong>de</strong>r o ambiente externo à sua instituição, bem como as influências sofri<strong>da</strong>s<br />
pela mesma, interpretando essas situações e buscando estratégias <strong>de</strong> ação); cultural<br />
(capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e li<strong>de</strong>rança para pensar soluções administrativas e
educacio<strong>na</strong>is e implantá-las, buscando, a todo momento, quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> coletiva no<br />
interior e fora <strong>da</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong>) (SANDER, 2007, p. 112-113).<br />
A partir <strong>de</strong> San<strong>de</strong>r (2007), Fonseca e Oliveira (2009), percebe-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> elaboração <strong>de</strong> uma nova síntese teórica <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> educação 15 ,<br />
baseando-se <strong>na</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>/articulação dos atos e fatos administrativos, uma vez que<br />
essa visão <strong>de</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> é relevante, sem contar que fica a cargo do gestor o papel <strong>de</strong><br />
mediador frente às diversas dimensões, bem como seus conflitos, confluências e<br />
contradições, que dão características aos fenômenos educacio<strong>na</strong>is tão complexos em<br />
nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Lima (2003) é outro autor que abor<strong>da</strong> os mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is, enten<strong>de</strong>ndo-<br />
os como construção teórica e apresentando-os sob duas <strong>perspectiva</strong>s:<br />
a<strong>na</strong>líticos/interpretativos e normativistas/pragmáticos. A primeira refere-se a i<strong>de</strong>ias<br />
para a<strong>na</strong>lisar e interpretar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (se esta for empresarial, pauta-se numa Gestão <strong>de</strong><br />
competências) – o autor não nega-a, mas diz que este mo<strong>de</strong>lo não dá conta <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a<br />
escola. Já a segun<strong>da</strong>, está relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> a normas <strong>da</strong> prática (a chama<strong>da</strong> Gestão <strong>de</strong><br />
resultados, <strong>na</strong> qual estes são produzidos, por exemplo: não ter evasão, bem como<br />
repetências) e a escola baseia-se em função <strong>de</strong> metas, sem, contudo, viver em função<br />
disso.<br />
Outros dois enfoques <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los como configurações socialmente<br />
construí<strong>da</strong>s/em construção são consi<strong>de</strong>rados: <strong>de</strong> orientação para ação e os praticados<br />
ou em ação. O primeiro engloba questões como: mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>cretados (que é o que está<br />
posto, estipulado – leis, estruturas, regras, relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r), interpretados (modo<br />
como as leis são interpreta<strong>da</strong>s por ca<strong>da</strong> um, sendo que é <strong>de</strong>vido a essa interpretação que<br />
as escolas têm suas i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, já que são reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes) e recriados (on<strong>de</strong> está<br />
a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escola, seu regimento, o PPP, etc.), <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong>ve-se pensar o<br />
motivo pelo qual alguns <strong>de</strong>cretos dão certo em ação e outros não. Quanto ao segundo<br />
enfoque, é muito próximo ao anterior, uma vez que olhando o regimento <strong>da</strong> escola, é<br />
possível perceber que ela não é estática, ou seja, “ela não é, ela está”, com base nisso, ao<br />
notar que esta não está boa, po<strong>de</strong>-se pensar no que ela po<strong>de</strong> melhorar (LIMA, 2003).<br />
A<strong>de</strong>mais, o autor (ibi<strong>de</strong>m) coloca a importância <strong>da</strong> instituição educacio<strong>na</strong>l ter,<br />
também, um “olhar mesoa<strong>na</strong>lítico”, pois assim conseguirá integrar as contribuições<br />
15 A qual, “Nos termos do paradigma multidimensio<strong>na</strong>l, (...) orienta-se por conteúdos substantivos e<br />
valores éticos construídos coletivamente, como a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> que, por sua vez, outorgam a<br />
moldura organizacio<strong>na</strong>l para a participação ci<strong>da</strong>dã <strong>na</strong> promoção <strong>de</strong> uma forma qualitativa <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> huma<strong>na</strong><br />
coletiva, tanto <strong>na</strong> escola como <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (SANDER, 2007, p. 94-95).<br />
23
apresenta<strong>da</strong>s no âmbito macro (políticas-públicas) e micro (relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>la, o dia-a-dia). Dessa forma, o autor parte do princípio <strong>de</strong> que há <strong>de</strong>cretos e leis<br />
(administração com teoria) que influenciam a escola, e, com isso, esta passa a ter uma<br />
autonomia (<strong>de</strong> acordo com as leis), só que relativa.<br />
Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, propôs-se uma re<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> escola, objetivando<br />
uma nova forma <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas instituições, e, consequentemente,<br />
visando a “quebra” do tradicio<strong>na</strong>lismo presente <strong>na</strong>s relações, consi<strong>de</strong>rando que o<br />
taylorismo (princípios utilizados até então) não era tão “humano” (LIMA, 2003). Sendo<br />
assim, com a mo<strong>de</strong>rnização surge o neo-taylorismo, cuja base é o mesmo discurso do<br />
anterior, só que se apresenta com uma “cara nova”, porém a essência não se altera,<br />
pautando-se, ain<strong>da</strong>, no slogan “ser mo<strong>de</strong>rno é ser eficaz”.<br />
A partir <strong>de</strong> 1990, no contexto <strong>de</strong> reestruturação produtiva capitalista, foram<br />
cria<strong>da</strong>s novas propostas com relação à gestão <strong>da</strong> educação básica visando à reforma do<br />
Estado brasileiro a fim <strong>de</strong> inovar <strong>na</strong> formação dos trabalhadores, <strong>de</strong> modo que “A<br />
administração pública adquiriu um formato gerencial, mais ágil e flexível, com o<br />
objetivo <strong>de</strong> imprimir eficiência ao <strong>de</strong>sempenho do Estado” (FONSECA; OLIVEIRA,<br />
2009, p. 234), a<strong>de</strong>quando-o ao momento competitivo do capitalismo global.<br />
Esse novo mo<strong>de</strong>lo apresentou alguns conceitos que caracterizariam essa nova<br />
forma <strong>de</strong> organização (que são as palavras-chave para a Gestão Democrática):<br />
autonomia (elemento importante para construir um espírito e cultura <strong>de</strong> organização-<br />
empresa), <strong>de</strong>scentralização (garante a eficiência econômica e respeita a liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
individual) e participação (que é uma técnica <strong>de</strong> gestão, sendo fator <strong>de</strong> coesão e<br />
consenso). Segundo Lima (2003), tais conceitos são voltados para a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
técnica, portanto, é “a política do não político” – é a escolha <strong>da</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica, <strong>da</strong><br />
política <strong>de</strong> solução, <strong>na</strong> qual não se discute e não há participação –, visando resultados e,<br />
consequentemente, eficiência, tor<strong>na</strong>ndo, então, uma política sem escolha, logo, nos<br />
remete ao mo<strong>de</strong>lo anterior.<br />
Enten<strong>de</strong>ndo a gestão escolar como organização e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo sua efetivação,<br />
Libâneo (2001) apresenta termos como: organização, administração, gestão e<br />
participação. Consi<strong>de</strong>ra que a administração (atribuição <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s: garantia<br />
<strong>de</strong> eficiência/coesão do trabalho) está embuti<strong>da</strong> <strong>na</strong> organização (dispor <strong>de</strong> coisas e<br />
pessoas), uma vez que ao organizar, já se está administrando. Seguindo este raciocínio,<br />
aponta como central para ambos os processos a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, e,<br />
consequentemente, a gestão, sendo que cabe à direção colocá-la em ação.<br />
24
Esta gestão po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntre duas concepções: técnico-científica<br />
(visão burocrática <strong>da</strong> escola, pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong> hierarquia, on<strong>de</strong> o indivíduo é centralizador, e<br />
visa alcançar altos índices <strong>de</strong> eficiência); sociocrítica (visão coletiva, opondo-se a<br />
formas <strong>de</strong> subordi<strong>na</strong>ção e domi<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> indivíduos, tanto a organização escolar como<br />
as <strong>de</strong>cisões são construí<strong>da</strong>s e toma<strong>da</strong>s coletivamente, consi<strong>de</strong>rando, assim, a<br />
participação <strong>da</strong> equipe escolar, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pais e alunos). Esta última concepção<br />
subdivi<strong>de</strong>-se em: autogestionária (ênfase <strong>na</strong>s relações inter-pessoais, buscando toma<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões coletivas e alternância para exercer as funções), interpretativa (consi<strong>de</strong>ra as<br />
intenções, a interação <strong>da</strong>s pessoas, e os significados subjetivos, já as práticas<br />
organizativas são uma construção social) ou <strong>de</strong>mocrático-participativa (visão <strong>de</strong>ste<br />
autor, que pauta-se no coletivo, como: setor técnico-administrativo, setor pe<strong>da</strong>gógico,<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola, <strong>de</strong> Série e Classe, Associação <strong>de</strong> Pais e Mestres – APM –, Grêmio<br />
Estu<strong>da</strong>ntil, etc.) (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2009).<br />
Para tanto, enten<strong>de</strong>-se que a participação é o modo <strong>de</strong> garantir esta gestão<br />
<strong>de</strong>mocrática, já que proporcio<strong>na</strong>rá maior aproximação entre escola e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que<br />
implicará num processo coletivo <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, bem como <strong>na</strong> construção <strong>de</strong><br />
objetivos compartilhados, principalmente através do diálogo e do consenso (LIBÂNEO,<br />
2001).<br />
Cabe ressaltar que este autor enten<strong>de</strong> a “cultura organizacio<strong>na</strong>l”, como a<br />
instituição tendo uma vi<strong>da</strong> escolar própria, subjetiva que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> experienciação,<br />
logo, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Libâneo (ibi<strong>de</strong>m) também <strong>de</strong>monstra a questão <strong>da</strong> estrutura<br />
organizacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> escola, dizendo que to<strong>da</strong> instituição escolar necessita <strong>de</strong> uma<br />
estrutura (ou seja, <strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento, disposição <strong>da</strong>s funções que garantam seu<br />
funcio<strong>na</strong>mento) <strong>de</strong> organização inter<strong>na</strong>.<br />
Entretanto, mesmo com todo esse processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> escola,<br />
tentando revitalizar os órgãos internos <strong>de</strong> participação coletiva, esta ain<strong>da</strong> está longe <strong>de</strong><br />
ser a i<strong>de</strong>al, uma vez que as APMs, por exemplo, têm servido para arreca<strong>da</strong>r dinheiro, e<br />
não efetivamente para promover a participação dos pais; os Conselhos <strong>de</strong> Classe têm<br />
sido utilizados para reprovar ou não os alunos, e não como um espaço <strong>de</strong> participação e<br />
opinião dos pais; os Grêmios Estu<strong>da</strong>ntis, que são locais em que os alunos po<strong>de</strong>m<br />
participar, muitas vezes são ignorados pela direção <strong>da</strong> escola, que vê seus integrantes<br />
como “ba<strong>de</strong>rneiros” (PARO, 2008).<br />
Paro (ibi<strong>de</strong>m), faz uma consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> 6 pontos para que haja, <strong>de</strong> fato, uma<br />
efetiva <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s relações no interior <strong>da</strong> escola pública, os quais: direção<br />
25
colegia<strong>da</strong>, estrutura didática, currículo, trabalho docente, autonomia do educando,<br />
integração <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ressalta a importância <strong>da</strong> consonância entre os âmbitos<br />
administrativos, que são as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s meio (dá condições para que o ensino-<br />
aprendizagem ocorra), e pe<strong>da</strong>gógico, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fim (função <strong>da</strong> escola – promover<br />
ensino-aprendizagem).<br />
Uma gestão <strong>de</strong>mocrática, que não coloca à parte a questão do processo, dos<br />
resultados e <strong>da</strong> eficiência – características <strong>da</strong> escola clássica –, para ser efetiva no<br />
ambiente escolar, pensa sua estrutura como fruto <strong>de</strong> relações huma<strong>na</strong>s. Este mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a presença <strong>de</strong> comportamentos, como: diálogo, cooperação, respeito,<br />
participação <strong>na</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, etc., e atribui ao gestor mais uma função, a <strong>de</strong><br />
propiciar e conservar uma relação harmônica entre os envolvidos, garantindo, com isso,<br />
a efetivação <strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s propostas.<br />
Enfim, <strong>de</strong>vemos sempre ter em mente que<br />
26<br />
A escola <strong>de</strong>mocrática, participativa e <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> socialmente referencia<strong>da</strong>,<br />
requer profissio<strong>na</strong>is do magistério engajados e comprometidos com a sua<br />
transformação cotidia<strong>na</strong>, mesmo consi<strong>de</strong>rando as condições objetivas em<br />
que se estabelece o processo ensino-aprendizagem, o que implica <strong>na</strong><br />
discussão, proposição e materialização <strong>de</strong> um projeto político-pe<strong>da</strong>gógico<br />
específico, <strong>de</strong>finindo princípios, diretrizes e metas coletivamente pactua<strong>da</strong>s<br />
(FONSECA; OLIVEIRA, 2009, p. 245 – grifos meus).<br />
2.2. Políticas Públicas <strong>da</strong> Educação e a administração <strong>na</strong> escola<br />
A escola é pensa<strong>da</strong> com base em mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is pautados nos<br />
princípios e métodos <strong>de</strong> experiência administrativa, mas possui características diferentes<br />
<strong>da</strong>s empresas industriais, já que é volta<strong>da</strong> para a formação <strong>de</strong> pessoas, estabelece<br />
relações interpessoais, baseia-se em práticas educativas e leva em consi<strong>de</strong>ração (ou<br />
<strong>de</strong>veria levar) a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo educativo ao invés <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>/resultados 16<br />
(LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2009, p. 315).<br />
Nesse sentido, mesmo pensa<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los formais (característica<br />
instituí<strong>da</strong>: normas, estrutura organizacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, currículo, horários, etc.), as<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares, por possuírem características e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que lhes são próprias<br />
(como os relacio<strong>na</strong>mentos entre seus membros e, com isso, a junção <strong>de</strong> diferentes<br />
vivências e bagagens culturais – característica instituinte), reapropriam e reinterpretam<br />
16 To<strong>da</strong>via, muitas escolas têm em sua política – relação <strong>da</strong> implementação <strong>de</strong> reformas educacio<strong>na</strong>is no<br />
planejamento <strong>da</strong> instituição (OYAFUSO; MAIA, 2004) – a busca por resultados, como, por exemplo,<br />
altos índices <strong>na</strong>s provas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, o que acaba resultando em aumento <strong>de</strong> verbas para as instituições.
o saber e a cultura, fazendo o mesmo com as Políticas Públicas Educacio<strong>na</strong>is, para que<br />
assim possam, <strong>da</strong> melhor maneira possível, atingir seus objetivos <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r<br />
aprendizagem escolar, formar para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, bem como os valores e atitu<strong>de</strong>s<br />
(LIBÂNEO, 2001; LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2009).<br />
Enfim, essa apropriação, interpretação e a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s leis feita pelas<br />
instituições <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> acordo com suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, referem-se à<br />
relação <strong>de</strong> Gestão 17 Educacio<strong>na</strong>l e Escolar, já que a escola, mesmo sendo um espaço<br />
micro, está muito liga<strong>da</strong> às políticas educacio<strong>na</strong>is (que são macro), ou seja, parte-se do<br />
geral para o particular no que tange à(s) sua(s) política(s), consi<strong>de</strong>rando que ca<strong>da</strong> nível<br />
tem uma própria (VIEIRA, 2007).<br />
Des<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, com o fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> ditadura militar e com a força dos<br />
movimentos sociais, se pensava uma educação e, também, uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nos mol<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> uma gestão 18 <strong>de</strong>mocrática. Esta mu<strong>da</strong>nça, tendo a <strong>de</strong>mocracia como forma <strong>de</strong><br />
governo, fica explícita <strong>na</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, conforme artigo 206, inciso VI<br />
27<br />
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:<br />
VI – gestão <strong>de</strong>mocrática do ensino público <strong>na</strong> forma <strong>da</strong> lei (BRASIL,<br />
1988).<br />
Segundo Mendonça (2000):<br />
A Carta Constitucio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> 1988 trouxe uma inovação para o capítulo sobre<br />
educação ao incorporar a Gestão Democrática como um princípio do ensino<br />
público <strong>na</strong> forma <strong>da</strong> lei (...). A promulgação <strong>da</strong> Constituição, em 1988,<br />
tornou obrigatória a a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s Constituições Estaduais e <strong>da</strong>s Leis<br />
Orgânicas do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e dos municípios às novas <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções,<br />
<strong>de</strong>ntre elas a do princípio <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática do ensino público (p. 1).<br />
Em consonância com a Constituição Fe<strong>de</strong>ral, outras leis e <strong>de</strong>cretos foram se<br />
regularizando para a implantação <strong>de</strong>sta gestão, como, por exemplo, a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e<br />
Bases <strong>da</strong> Educação Nacio<strong>na</strong>l (LDBEN) aprova<strong>da</strong> sob o número 9.394/96, que <strong>de</strong>ixa a<br />
cargo dos sistemas <strong>de</strong> ensino Fe<strong>de</strong>ral, Estadual, Municipal e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, suas<br />
normas:<br />
17 Segundo Vieira (2007), gestão é a materialização <strong>da</strong>s práticas, ou seja, transformação <strong>da</strong>s políticas que<br />
traduzem as intenções do Po<strong>de</strong>r Público – a gestão pública integra-se por três dimensões: valor público,<br />
condições <strong>de</strong> implementação e condições políticas (p. 58).<br />
18 Ocorreu uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> termo: <strong>de</strong> “administração” para “gestão”, isso para incorporar ares <strong>de</strong><br />
“mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>” – consi<strong>de</strong>rando que o primeiro referia-se a ares burocráticos (remetendo-nos a Taylor e<br />
Fayol), já o segundo versa sobre gerir junto, é mais <strong>de</strong>mocrático por abranger a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong><br />
forma que trata-se <strong>de</strong> interação direta com o outro e, por isso, mu<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas ao envolvê-las<br />
(VIEIRA, 2007). Mas cabe salientar que esta mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> paradigma não necessariamente ocorre <strong>na</strong><br />
prática.
28<br />
Art. 14º. Os sistemas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>finirão as normas <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática do<br />
ensino público <strong>na</strong> educação básica, <strong>de</strong> acordo com as suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />
conforme os seguintes princípios:<br />
I – participação dos profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> educação <strong>na</strong> elaboração do projeto<br />
pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola;<br />
II – participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolar e local em conselhos escolares ou<br />
equivalentes (BRASIL, 1996).<br />
Observando os princípios expostos acima, vemos que há um gran<strong>de</strong> progresso<br />
em relação à gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong>s escolas, pois, respeitando as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />
sistema <strong>de</strong> ensino, a LDB amplia a disposição constitucio<strong>na</strong>l e progri<strong>de</strong> quanto à<br />
participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local em Conselhos <strong>de</strong> Escola e equivalentes. Nesse<br />
sentido, buscou-se substituir o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> centralização pelo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização,<br />
acreditando que o primeiro era sinônimo <strong>de</strong> autoritarismo, enquanto o segundo seria <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>mocratização, mas não o é necessariamente, uma vez que o contrário po<strong>de</strong> ocorrer<br />
(AZEVEDO, 2009, p. 214).<br />
Aqui <strong>de</strong>vemos ressaltar que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança exercido, <strong>de</strong> acordo com<br />
ca<strong>da</strong> gestor escolar, faz to<strong>da</strong> diferença <strong>na</strong> hora em que o processo <strong>de</strong>cisório é colocado<br />
em prática, <strong>de</strong> modo que os diretores autoritários e fechados para a discussão acabam<br />
<strong>de</strong>sencorajando a todos no processo <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> soluções dos<br />
problemas. Logo, a partir do momento que há uma integração <strong>de</strong> todos os atores <strong>da</strong><br />
escola, os projetos tor<strong>na</strong>m-se consistentes, sólidos e <strong>de</strong> melhor aplicação e êxito (LÜCK<br />
et. al., 2007).<br />
Buscando melhorias <strong>na</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação é que são propostas reformas e<br />
reestruturações do ensino no que tange a organização escolar, re<strong>de</strong>finição dos<br />
currículos, avaliação, gestão, fi<strong>na</strong>nciamento. Como consequências po<strong>de</strong>mos obter:<br />
<strong>de</strong>scentralização administrativa, fi<strong>na</strong>nceira e pe<strong>da</strong>gógica; crescimento <strong>da</strong> autonomia<br />
institucio<strong>na</strong>l; “performativi<strong>da</strong><strong>de</strong>”; diretor como o principal representante <strong>da</strong> escola;<br />
regime <strong>de</strong> empresa; novas formas <strong>de</strong> controle e vigilância; surgimento <strong>de</strong> consultores e<br />
especialistas: caminhos para a realização <strong>da</strong> “autogestão escolar” (OLIVEIRA 19 , 2009).<br />
Com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar a Gestão Educacio<strong>na</strong>l e tentando melhorar a<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino no Brasil, criam-se planos, índices e metas, como: Programa<br />
Dinheiro Direto <strong>na</strong> Escola (PDDE) – o dinheiro <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do a ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar é<br />
gerido por enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s “priva<strong>da</strong>s” (Caixa Escolar, Associação <strong>de</strong> Apoio à Escola, APM,<br />
por exemplo). Também implantou-se iniciativas que tiveram fi<strong>na</strong>nciamento do Banco<br />
19 A autora faz uma breve retrospectiva do governo FHC no que tange às Políticas Educacio<strong>na</strong>is,<br />
consi<strong>de</strong>rando, no <strong>de</strong>correr do texto, as permanências e rupturas ocorri<strong>da</strong>s no governo Lula.
Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial/Bird) e outros<br />
órgãos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, através <strong>de</strong> acordos realizados com o Ministério <strong>da</strong> Educação<br />
(MEC) ou com os estados (FONSECA; OLIVEIRA, 2009) 20 . Outros índices, planos e<br />
metas criados objetivando a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino no Brasil, foram: Fundo<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Escola (Fun<strong>de</strong>scola); Programa <strong>de</strong> Gerência <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Total <strong>na</strong> Educação (GQTE); Projeto <strong>de</strong> Melhoria <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> Educação Básica<br />
(Pró-Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>) – formado por: Programa <strong>de</strong> Apoio às Inovações Educacio<strong>na</strong>is (Paie),<br />
Projeto <strong>de</strong> Desenvolvimento e Enriquecimento Curricular (Pro<strong>de</strong>c), Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação (PDE); Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação Básica<br />
(IDEB); Plano <strong>de</strong> Ações Articula<strong>da</strong>s (PAR); Plano <strong>de</strong> Metas “Compromisso Todos pela<br />
Educação” (disponibilizando ações e programas <strong>de</strong> assistência fi<strong>na</strong>nceira e técnica)<br />
(FONSECA; OLIVEIRA, 2009; OLIVEIRA, 2009).<br />
Ain<strong>da</strong> com o mesmo objetivo, mas voltados para os espaços locais (os<br />
municípios), foram criados, no governo Lula, outros Programas Fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> Gestão<br />
Educacio<strong>na</strong>l, que procuram ampliar os níveis <strong>de</strong> participação 21 .<br />
Assim, originou-se, em 2003, o Pró-Conselho (Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
Capacitação <strong>de</strong> Conselheiros Municipais <strong>de</strong> Educação); em 2004, o Programa Nacio<strong>na</strong>l<br />
<strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares (PNF<strong>CE</strong>), que busca fortalecer os <strong>CE</strong>,<br />
capacitando seus membros a fim <strong>de</strong> obter melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino e garantir a<br />
efetiva participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s local e escolar (Ca<strong>de</strong>rno 1 do PNF<strong>CE</strong> apud<br />
AZEVEDO, 2009), entre outros.<br />
Tais políticas (feitas por organizações como Secretaria <strong>de</strong> Educação, órgãos<br />
normativos dos diferentes níveis do Po<strong>de</strong>r Público) – entendi<strong>da</strong>s por Gestão<br />
Educacio<strong>na</strong>l, pelo fato <strong>de</strong> tratar do âmbito macro <strong>da</strong> educação, abrangendo as esferas<br />
fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, as quais pensam as políticas educacio<strong>na</strong>is (tanto em<br />
termos <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s compartilha<strong>da</strong>s <strong>na</strong> oferta <strong>de</strong> ensino, quanto em outras ações<br />
que <strong>de</strong>senvolvem em suas áreas específicas <strong>de</strong> atuação), traçando orientações e<br />
<strong>de</strong>finições gerais que sustentam as políticas educativas, bem como o planejamento,<br />
acompanhamento e avaliação (VIEIRA, 2007) – influenciam, direta ou indiretamente,<br />
no cotidiano <strong>de</strong> uma UE, uma vez que<br />
20 Nesse sentido, os autores realizaram uma pesquisa para enten<strong>de</strong>r e a<strong>na</strong>lisar o impacto <strong>de</strong> dois<br />
programas <strong>na</strong> gestão escolar: Pró-Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e Fun<strong>de</strong>scola.<br />
21 No governo FHC, um <strong>de</strong> seus méritos no âmbito educacio<strong>na</strong>l foi ter estabelecido, legalmente, os<br />
mecanismos <strong>de</strong> participação <strong>da</strong> população (AZEVEDO, 2009).<br />
29
30<br />
(...) vão expressar uma <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong>finição social a respeito <strong>da</strong><br />
‘<strong>de</strong>mocracia’ que vai encontrar articulação com o referencial normativo<br />
global: o projeto <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que está se tentando implantar (MULLER,<br />
1995 apud AZEVEDO, 2009, p. 213).<br />
Contudo, cabe salientar que a escola “não se reduz ‘a um mero reverso <strong>da</strong>s<br />
políticas’, mas antes se configura como um espaço <strong>de</strong> reconstrução e <strong>de</strong> inovação,<br />
oferecendo elementos para a formulação <strong>de</strong> novas políticas” (VIEIRA, 2007, p. 58),<br />
com isso, as políticas educacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>vem atentar e compreen<strong>de</strong>r “se” e “como” as<br />
i<strong>de</strong>ias que propõem são coloca<strong>da</strong>s em prática, isto é, se são traduzi<strong>da</strong>s, ou não, <strong>na</strong> gestão<br />
educacio<strong>na</strong>l escolar.<br />
A instituição escolar é uma organização com interação intencio<strong>na</strong>l entre<br />
pessoas “a fim <strong>de</strong> alcançar objetivos educacio<strong>na</strong>is” (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI,<br />
2009, p. 316-317). Portanto, sua organização<br />
(...) refere-se aos princípios e procedimentos relacio<strong>na</strong>dos à ação <strong>de</strong><br />
planejar 22 o trabalho <strong>da</strong> escola, racio<strong>na</strong>lizar o uso <strong>de</strong> recursos (materiais,<br />
fi<strong>na</strong>nceiros, intelectuais) e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r e avaliar o trabalho <strong>da</strong>s pessoas, tendo<br />
em vista a consecução <strong>de</strong> objetivos (ibi<strong>de</strong>m, p. 316).<br />
Apresenta sub-divisões, em relação à uni<strong>da</strong><strong>de</strong> social e sua função<br />
administrativa (CHIAVENATO, 1989 apud ibi<strong>de</strong>m).<br />
Para Vieira (2007), a Gestão Escolar 23 é uma esfera micro, pois abrange os<br />
estabelecimentos <strong>de</strong> ensino, logo, pensa a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> sua UE e diz respeito<br />
às tarefas que abrange, assegurando suas funções (<strong>de</strong> promover o processo <strong>de</strong> ensino e<br />
aprendizagem, viabilizando a educação como um direito <strong>de</strong> todos) através <strong>de</strong> seus<br />
agentes, que são os professores, alunos e <strong>de</strong>mais membros <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolar e<br />
local.<br />
Libâneo, Oliveira, Toschi (2009, p. 332-338) apresentam os princípios e<br />
características <strong>da</strong> gestão escolar participativa: “Autonomia <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
educativa”, “Relação orgânica entre a direção e a participação dos membros <strong>da</strong> equipe<br />
22 Planejar “é caminhar para o <strong>de</strong>sejável, mas construir uma nova escola vai além do voluntarismo,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> política, <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> competência para a ação” (OYAFUSO; MAIA, 2004,<br />
p. 18), sendo assim, “significa projetar, programar, elaborar roteiros para atingir <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos<br />
objetivos, <strong>de</strong> forma a evitar improvisação”, ou seja, o plano escolar <strong>de</strong>ve ser uma tarefa coletiva e<br />
dinâmica, pois envolve a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> UE (<strong>na</strong> qual adota uma política, não partidária, própria) e suas<br />
relações, e, portanto, <strong>de</strong>ve propor ações que visem “a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação dos alunos em todos os<br />
níveis” (ibi<strong>de</strong>m, p. 26 – grifos dos autores).<br />
23 Para Oyafuso e Maia (2004) a Gestão escolar diz respeito ao conjunto <strong>de</strong> ações que envolvem o<br />
planejamento, promove a integração e articulação entre atores e entre projetos e programas, bem como<br />
experiências (p. 25). Sendo que o planejamento é a “alma” <strong>da</strong> instituição, além <strong>de</strong> ser um dos<br />
instrumentos que permite aos educadores <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> forma competente a proposta educacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> sua<br />
escola, mas concreto, flexível e a<strong>de</strong>quado à situação <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola.
escolar”, “Envolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no processo escolar”, “Planejamento <strong>da</strong>s<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s”, “Formação continua<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e profissio<strong>na</strong>l dos<br />
integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar”, “Utilização <strong>de</strong> informações concretas e análise <strong>de</strong><br />
ca<strong>da</strong> problema em seus múltiplos aspectos, com ampla <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s<br />
informações”, “Avaliação compartilha<strong>da</strong>”, “Relações huma<strong>na</strong>s produtivas e criativas,<br />
assenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> busca <strong>de</strong> objetivos comuns”.<br />
Desse modo,<br />
Por isso,<br />
31<br />
Sendo a escola um espaço próprio à difusão do saber, todo o esforço nela<br />
realizado <strong>de</strong>ve convergir para a aprendizagem <strong>da</strong>queles para quem foi cria<strong>da</strong><br />
– sejam crianças <strong>da</strong> mais tenra i<strong>da</strong><strong>de</strong>, jovens ou adultos. Tantos são os<br />
problemas <strong>da</strong> prática, que a gestão corre o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar-se <strong>de</strong>sta fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
aparentemente tão simples. (...) E isto, bem se sabe, não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve<br />
ocorrer. O sucesso <strong>de</strong> uma gestão escolar, em última instância, só se<br />
concretiza mediante o sucesso <strong>de</strong> todos os alunos. Daí porque é preciso<br />
manter como norte a ‘gestão para uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizes’ (VIEIRA,<br />
2005 apud) (VIEIRA, 2007, p. 67).<br />
Nessa <strong>perspectiva</strong>, cabem aos formuladores <strong>de</strong> política e aos gestores<br />
concentrarem esforços <strong>na</strong> tarefa <strong>de</strong> fazer chegar às escolas os instrumentos<br />
para operacio<strong>na</strong>lizarem o <strong>de</strong>safio do sucesso do ensino e <strong>da</strong> aprendizagem.<br />
Esta tarefa sem trégua está posta para todos. A ela não po<strong>de</strong>m se furtar a(s)<br />
política(s) e a gestão <strong>da</strong> educação básica (ibi<strong>de</strong>m, p. 68).<br />
É possível consi<strong>de</strong>rar que a relação entre os âmbitos micro (escola) e macro<br />
(políticas públicas) é muito complexa, afi<strong>na</strong>l, ambos envolvem relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. No<br />
que tange aos formuladores <strong>de</strong> políticas públicas, cabe colocar que para conquistar a<br />
a<strong>de</strong>são e o convencimento dos professores, precisam se aproximar <strong>da</strong> instituição<br />
educacio<strong>na</strong>l. Já a escola, muitas vezes não a<strong>de</strong>re às i<strong>de</strong>ias e tampouco transforma e<br />
qualifica a prática docente (OYAFUSO; MAIA, 2004).<br />
A partir disso, obtém-se duas situações opostas: primeiro, uma<br />
<strong>de</strong>scentralização-centraliza<strong>da</strong> – “projetos 24 são elaborados em nível central sem que haja<br />
a discussão e participação dos atores escolares” (ibi<strong>de</strong>m, p. 10); e segundo,<br />
(...) é conveniente que, em nome <strong>da</strong> autonomia dos professores e <strong>da</strong> escola,<br />
não se apresente qualquer projeto ou programa educacio<strong>na</strong>l, pois esses,<br />
<strong>de</strong>verão emergir <strong>da</strong> prática profissio<strong>na</strong>l orientadora <strong>da</strong>s ‘<strong>de</strong>cisões que dão<br />
certo’, como se a prática <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> com bons resultados não estivesse<br />
apoia<strong>da</strong> em teorias que <strong>de</strong>veriam ser explicita<strong>da</strong>s (OYAFUSO; MAIA, 2004,<br />
p. 10).<br />
24 Para Dagnino, Olvera e Panfichi (2006, p. 38 apud AZEVEDO, 2009, p. 213), o conceito <strong>de</strong> projetos<br />
políticos refere-se ao “conjunto <strong>de</strong> crenças, interesses, concepções <strong>de</strong> mundo, representações do que <strong>de</strong>ve<br />
ser a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que orientam a ação política dos diferentes sujeitos”.
Enfim, nessa intensa (e tensa) relação entre Gestão Escolar e Educacio<strong>na</strong>l, uma<br />
gran<strong>de</strong> questão que está posta é o fato <strong>da</strong>s políticas públicas não terem proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />
a instituição escolar, pensando-a, muitas vezes, fora <strong>de</strong> seus contextos.<br />
Essa situação interfere <strong>na</strong>s práticas docentes, bem como <strong>na</strong> autonomia <strong>da</strong><br />
escola, a qual está relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> à construção <strong>de</strong> sua própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> (por meio <strong>da</strong> qual<br />
adota uma política, não partidária, própria), já que ca<strong>da</strong> UE é única quanto à sua história<br />
e características, e <strong>na</strong> sua relação com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Alguns professores e diretores<br />
(que estão, <strong>de</strong> fato, envolvidos com suas práticas) ficam angustiados, pois pensam e<br />
buscam seus próprios currículos, mas acabam sendo subestimados pelas políticas<br />
educacio<strong>na</strong>is que impõem “soluções”/currículos unificados, diminuindo a autonomia<br />
<strong>de</strong>sses profissio<strong>na</strong>is.<br />
2.3. A hierarquização e a cultura escolar<br />
Apesar <strong>de</strong> possuírem uma estrutura padrão, as instituições escolares têm suas<br />
particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s/i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s próprias, com caráter autônomo, ou seja, uma dinâmica e<br />
cultura inter<strong>na</strong> que as diferenciam, a qual varia <strong>de</strong> acordo com as negociações que se<br />
<strong>de</strong>senvolvem entre normas <strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelo sistema e percepções,<br />
valores, crenças, i<strong>de</strong>ologias e interesses <strong>de</strong> sua equipe, dos alunos, pais e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(CANDIDO, 1977 apud TEIXEIRA, 2002).<br />
Para tanto, cabe salientar que cultura, <strong>de</strong> acordo com Teixeira (2002), é o elo<br />
que une sistemas simbólicos, códigos, normas e as práticas simbólicas cotidia<strong>na</strong>s, que<br />
interagem pela reapropriação e reinterpretação <strong>da</strong>quilo que constitui a memória social.<br />
Dessa forma, a instituição escolar é, socialmente, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>da</strong> a criar e reproduzir saber e<br />
cultura, <strong>de</strong> modo que tornou-se um espaço <strong>de</strong> reapropriação e reinterpretação <strong>de</strong>ssa e,<br />
consequentemente, <strong>da</strong>s normas, estatutos e regras dita<strong>da</strong>s pelo sistema educacio<strong>na</strong>l, as<br />
quais são a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola (TEIXEIRA e PORTO, 1996 apud<br />
TEIXEIRA, 2002).<br />
Outro aspecto relacio<strong>na</strong>do às particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> UE é sua organização,<br />
que é um processo em construção, no qual os membros são atores <strong>da</strong>s realizações e<br />
mu<strong>da</strong>nças que ocorrem. Nóvoa (1995 apud TEIXEIRA, 2002) enten<strong>de</strong> que o<br />
funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> uma organização escolar é fruto do compromisso entre a estrutura<br />
formal e as interações que se produzem em seu meio, relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s aos grupos <strong>de</strong><br />
interesses distintos.<br />
32
A cultura organizacio<strong>na</strong>l escolar, bem como <strong>de</strong> qualquer outra organização,<br />
compõe-se por variados elementos que condicio<strong>na</strong>m sua dinâmica inter<strong>na</strong> e integram<br />
aspectos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m histórica, i<strong>de</strong>ológica, sociológica e psicológica. Tal conceito, pautado<br />
<strong>na</strong> participação ativa e efetiva dos indivíduos e <strong>na</strong> análise do simbólico, permite a<br />
compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar como um processo <strong>de</strong> construção social e<br />
opõe-se à tradição estrutural funcio<strong>na</strong>lista (TEIXEIRA, 2002).<br />
Assim como a instituição educacio<strong>na</strong>l, ca<strong>da</strong> país possui sua cultura própria.<br />
Motta (1997) – que não faz uma reflexão direta com a escola, mas com o mundo do<br />
trabalho – diz que essa variação cultural (crenças, valores, atitu<strong>de</strong>s, etc.) é<br />
extremamente importante para a organização, uma vez que tanto essa variação como as<br />
relações alteram-se conforme a economia do país, a qual tem gran<strong>de</strong> influência no<br />
sistema educacio<strong>na</strong>l. Com isso, o autor (ibi<strong>de</strong>m) coloca que quanto mais baixa for a<br />
distância do po<strong>de</strong>r, mais próximo se está <strong>de</strong> quem man<strong>da</strong>, logo, menos hierarquia e mais<br />
participação.<br />
No caso do Brasil, tem-se uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> coletivista, ou seja, sabe-se trabalhar<br />
no coletivo, porém não se coloca entre os mais, já que tem gran<strong>de</strong> distância do po<strong>de</strong>r,<br />
sendo a questão hierárquica muito <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> (quem man<strong>da</strong> e quem obe<strong>de</strong>ce) (MOTTA,<br />
1997). Portanto, por possuir um passado escravocrata e conservar o legado cultural <strong>de</strong><br />
distância do po<strong>de</strong>r, ain<strong>da</strong> há uma diferença muito gran<strong>de</strong> <strong>na</strong>s classes sociais, bem como<br />
os valores <strong>de</strong>mocráticos tor<strong>na</strong>ram-se enfraquecidos, o que ocorre pelo “jeitinho<br />
brasileiro” (ibi<strong>de</strong>m, p. 33).<br />
Segundo Motta (ibi<strong>de</strong>m), há uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r a questão <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>mocracia, não somente pelo fato <strong>da</strong> escola “não abrir suas portas” para a participação,<br />
mas também, e principalmente, pela variação cultural. Assim, não adianta somente <strong>da</strong>r<br />
condição para que ela ocorra, são necessárias pessoas que queiram-<strong>na</strong>.<br />
Santos Filho (1998) coloca a questão <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scentralizações política e<br />
organizacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s escolas. Esta última refere-se à <strong>de</strong>scentralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório<br />
que acontece no interior <strong>da</strong> organização, flexibilizando-a para atitu<strong>de</strong>s com mais<br />
<strong>de</strong>strezas e eficácia, cujos propósitos educacio<strong>na</strong>is são fornecer a criação <strong>de</strong> novas<br />
estruturas, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mu<strong>da</strong>nça. Já a primeira é representa<strong>da</strong><br />
por uma postura que visa um controle semi-autônomo.<br />
Vale salientar que, muitas vezes, o que encontramos é um falso discurso <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização, no qual ao invés <strong>de</strong> não centralizar o po<strong>de</strong>r em uma pessoa/órgão, o<br />
lí<strong>de</strong>r (geralmente diretores/gestores) distribui tarefas, mas não o po<strong>de</strong>r, fazendo com que<br />
33
qualquer trabalho ou ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> tenha que, necessariamente, passar pelo seu<br />
consentimento, além <strong>de</strong> <strong>da</strong>r “sugestões” para serem <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong>s no Conselho, porém, <strong>na</strong><br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, esse só precisa efetivá-las, ou seja, contrariamente à <strong>de</strong>scentralização, o que<br />
ocorre é a <strong>de</strong>sconcentração.<br />
Ao pensarmos <strong>na</strong> lógica <strong>da</strong> autonomia escolar, que permite aos alunos uma<br />
conscientização e <strong>de</strong>salie<strong>na</strong>ção imposta pelo sistema, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que a educação é <strong>de</strong><br />
extrema importância no processo <strong>de</strong> passagem <strong>da</strong> anomia para a heteronomia, e por sua<br />
vez para a autonomia <strong>de</strong>stes, sendo essa formação possível a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia<br />
institucio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> escola, a qual não evita a presença hierárquica em suas estruturas<br />
organizacio<strong>na</strong>is. Porém, po<strong>de</strong>-se buscar as alter<strong>na</strong>tivas <strong>de</strong>mocráticas, como participação<br />
<strong>na</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para que essa hierarquia não prevaleça negativamente<br />
(SANTOS FILHO, 1998).<br />
Michels (1958 apud SANTOS FILHO, 1998), porém, acredita que a<br />
<strong>de</strong>mocracia é utópica e irrealizável <strong>de</strong>vido à “lei <strong>de</strong> ferro <strong>da</strong> oligarquia”, ou seja, a<br />
presença <strong>de</strong> uma minoria que possui a li<strong>de</strong>rança (um fenômeno presente em to<strong>da</strong> forma<br />
<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> social), necessária para manter a organização. A partir disso, cria dois<br />
argumentos para efetivar seu pensamento: “<strong>da</strong> eficiência” – toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão não po<strong>de</strong><br />
ser coletiva, pois terá confusão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e não chegam a uma solução, uma vez que as<br />
pessoas não têm “competência” – e “<strong>da</strong> apatia <strong>da</strong>s massas” – as pessoas são<br />
politicamente apáticas, gostam que uma minoria li<strong>de</strong>re e tome <strong>de</strong>cisões em seu nome, <strong>de</strong><br />
modo que a <strong>de</strong>mocracia refere-se, somente, à escolha <strong>de</strong>sses lí<strong>de</strong>res, os quais, apesar <strong>de</strong><br />
agirem em nome do coletivo, negam os interesses <strong>de</strong>ste.<br />
Contra-argumentando este autor, Santos Filho (ibi<strong>de</strong>m) diz que essa apatia é<br />
algo imposto pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e não é psicológico, logo, resulta <strong>da</strong> alie<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s<br />
estruturas sociais e políticas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como <strong>da</strong> centralização, do autoritarismo,<br />
burocratização, hierarquização do po<strong>de</strong>r, relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência/domi<strong>na</strong>ção e ausência<br />
<strong>de</strong> autonomia, acreditando que o objetivo educacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>veria ser a maximização <strong>da</strong><br />
participação efetiva (<strong>de</strong> alunos e pais), ensi<strong>na</strong>ndo-os a (con)viver com valores<br />
<strong>de</strong>mocráticos, liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e justiça. Ele também consi<strong>de</strong>ra que a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é um<br />
processo dinâmico, por isso permite a participação <strong>de</strong> muitas pessoas com iniciativa e<br />
objetivos comuns, logo, promove a eficiência e o compromisso com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Então, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia organizacio<strong>na</strong>l, apesar <strong>de</strong> ser ti<strong>da</strong> como<br />
inexistente, não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> utópica ou impossível, <strong>de</strong> forma que a<br />
proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual entre participação <strong>de</strong>mocrática e educação <strong>de</strong>ve ser trabalha<strong>da</strong><br />
34
como um dos instrumentos para o <strong>de</strong>senvolvimento do senso crítico (MAXCY, 1985<br />
apud SANTOS FILHO, 1998).<br />
Lima (2002), baseando-se em Paulo Freire, abor<strong>da</strong> a questão <strong>da</strong><br />
conscientização como algo muito importante, assim como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> politici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia, uma política <strong>da</strong>s relações. Assim como<br />
Santos Filho (1998), Freire não ignora as domi<strong>na</strong>ções existentes nos aparelhos<br />
organizativos, pois enten<strong>de</strong> que existe a produção e reprodução <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, mesmo<br />
assim, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a concepção <strong>de</strong>mocrática e participativa e acredita que esta seja possível<br />
com a prática <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, isto é, você não apren<strong>de</strong> a ser ci<strong>da</strong>dão se não vivenciar tal<br />
situação, porém esta prática é muito trabalhosa.<br />
Portanto, não dá para pensar a <strong>de</strong>mocracia em uma única <strong>perspectiva</strong>, por isso<br />
<strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>mocratizar o micro, o macro (organizações, currículo, etc.) e o meso<br />
(ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fim e meio), ou seja, ela tem que ter uma prática educativa, caso ao<br />
contrário, não ocorre (LIMA, 2002).<br />
O autor (2002), ain<strong>da</strong> nos indica que não acontece a <strong>de</strong>mocracia sem<br />
autonomia, tanto do professor como do aluno, <strong>da</strong> escola, etc., e esta inci<strong>de</strong> em vários<br />
graus, estando, sempre, em processo (uma vez que <strong>de</strong>ve se criar uma relação <strong>de</strong><br />
confiança). Então, para haver autonomia tem-se que ter a conscientização, com isso, o<br />
professor po<strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>r seu aluno a “pensar certo”, e não somente os conteúdos, isso<br />
<strong>de</strong>ve ser realizado através <strong>de</strong> diálogo. Desse modo, segundo Conti e Silva (2009),<br />
sonhando com uma escola <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com um compromisso com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> é que<br />
tem-se o “trinômio: <strong>de</strong>mocratização supõe participação e esta, por sua vez, supõe<br />
autonomia” (p. 4 – grifos dos autores) e conforme colocado por Lima (2002), a<br />
<strong>de</strong>mocratização <strong>na</strong> escola pressupõe uma “transformação <strong>da</strong>s práticas” (CONTI;<br />
SILVA, 2009, p. 7), a qual <strong>de</strong>ve ser efetiva.<br />
Entretanto, o que encontramos <strong>na</strong>s escolas geralmente é que a participação só<br />
se dá quando os alunos, os pais, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e a própria equipe vêem resultados<br />
(ibi<strong>de</strong>m), <strong>de</strong> modo que se estes não os vêem, não querem nem participação, nem<br />
autonomia, pois é mais fácil ser “coman<strong>da</strong>do”.<br />
Enfim, ca<strong>da</strong> instituição escolar possui sua própria cultura organizacio<strong>na</strong>l e<br />
dinâmica inter<strong>na</strong>, sendo esses aspectos que as diferenciam, já que mesmo as normas<br />
sendo padroniza<strong>da</strong>s, ca<strong>da</strong> uma possui uma interpretação, bem como uma relação com<br />
sua equipe e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que ao se apropriar e interpretar as políticas<br />
públicas, a escola se ajusta à sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é específica.<br />
35
Desse modo, conforme Freire (apud LIMA, 2002), para enten<strong>de</strong>rmos a<br />
presença <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nessas organizações, e acreditarmos numa gestão <strong>de</strong>mocrática e<br />
participativa, precisamos <strong>de</strong>senvolver o diálogo, a consciência e autonomia nos alunos<br />
para que esses participem e façam parte <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, <strong>de</strong> fato e efetivamente, <strong>de</strong> modo<br />
que po<strong>de</strong> (e <strong>de</strong>ve) haver um lí<strong>de</strong>r, mas este precisa estar aberto à participação <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />
equipe e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para que, juntos, encontrem as melhores soluções para sua<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
2.4. Cultura organizacio<strong>na</strong>l e participação<br />
De acordo com o que já foi apresentado em outros momentos, é possível<br />
pon<strong>de</strong>rar que há uma forte relação entre as políticas públicas e a gestão (seja ela escolar<br />
ou educacio<strong>na</strong>l). Com isso, o fato <strong>da</strong>s políticas educacio<strong>na</strong>is serem, muito, relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />
às políticas partidárias (o que, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não <strong>de</strong>veria ocorrer), dificulta uma<br />
continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong>s ações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma instituição escolar, já que ao mu<strong>da</strong>r o partido,<br />
mu<strong>da</strong>m as concepções e, consequentemente, as políticas que norteiam tais atuações.<br />
Neste sentido, Barroso (2003) – autor português –, diz que<br />
36<br />
Não há sector social que tenha estado mais sujeito à pressão <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça do<br />
que o sistema educativo, em particular <strong>na</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s. Contudo, neste<br />
domínio, houve uma evolução interessante: passou-se <strong>de</strong> uma “lógica <strong>de</strong><br />
reforma” (mu<strong>da</strong>nça global, estruturante, com objectivos <strong>de</strong>finidos e<br />
<strong>de</strong>limitados no tempo, imposta, a partir do centro para a periferia), a uma<br />
“tirania <strong>da</strong> transformação” (CLARKE e NEWMAN, 1997), <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça pela<br />
mu<strong>da</strong>nça, <strong>de</strong> busca <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação contínua. A mu<strong>da</strong>nça tornou-se<br />
“imperativa”, “<strong>na</strong>tural”, “permanente”, sendo consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> o único meio para<br />
“mo<strong>de</strong>rnizar a escola”, “aumentar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a eficácia”, “lutar contra as<br />
forças adversas”, “vencer os <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>”, “gerir <strong>na</strong> incerteza<br />
e turbulência” (p. 117).<br />
Ele constata que “a pe<strong>da</strong>gogia e a organização são sobre<strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pela<br />
interacção do meio educativo com o meio social mais geral e, evi<strong>de</strong>ntemente, com as<br />
opções políticas que regulam essa interacção”, ou seja, “a ‘crise <strong>da</strong> escola’ é, acima <strong>de</strong><br />
tudo, pe<strong>da</strong>gógica e organizacio<strong>na</strong>l” (BARROSO, 2003, p. 118). Indo ao encontro <strong>de</strong>ste<br />
autor, Quaglio (2009) coloca que “as práticas <strong>de</strong> organização e gestão <strong>da</strong>s instituições<br />
escolares refletem a domi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> dimensão política do tradicio<strong>na</strong>l mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
administração tecnoburocrática” (p. 139).<br />
Sendo assim, no fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 “se assiste, no domínio <strong>da</strong>s políticas<br />
educativas, ao esforço <strong>da</strong> representação <strong>da</strong> escola (<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola) como uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça do sistema <strong>de</strong> ensino” (BARROSO, 2003, p. 127). Tal situação
tem, segundo o autor, relação com três fatores – os quais influenciam <strong>na</strong> formação e<br />
trabalho dos professores:<br />
37<br />
– Insucesso <strong>da</strong>s “reformas globais” e <strong>de</strong> sua estratégia normativa <strong>de</strong><br />
mu<strong>da</strong>nça, com a sua substituição por processos aparentemente menos rígidos<br />
e centralizados, assentes no “controlo remoto” e no “auto-controlo”, bem<br />
como <strong>na</strong> imposição <strong>de</strong> uma “tirania <strong>da</strong> transformação permanente”.<br />
– Transformação dos modos <strong>de</strong> regulação <strong>da</strong>s políticas públicas com recurso<br />
a estratégias e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s do mercado e <strong>da</strong> gestão empresarial e<br />
com a substituição <strong>de</strong> uma regulação pelos meios por uma regulação pelos<br />
resultados, com o consequente reforço dos dispositivos <strong>de</strong> avaliação.<br />
– Desenvolvimento <strong>de</strong> formas “pós-burocráticas” <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> gestão<br />
com a substituição do controlo hierárquico pela gestão participa<strong>da</strong>, e <strong>da</strong>s<br />
organizações pirami<strong>da</strong>is pelas organizações em re<strong>de</strong>, com a flexibilização <strong>da</strong>s<br />
estruturas, com a não separação entre organização formal e informal e<br />
importância que é <strong>da</strong><strong>da</strong> à afectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, às relações pessoais e à vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>.<br />
(BARROSO, 2003, p. 127-128).<br />
Seguindo, no que tange ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> educação, tem-se, como<br />
ferramenta fun<strong>da</strong>mental para sua concretização, a institucio<strong>na</strong>lização do “serviço<br />
público” (que se refere ao conjunto <strong>de</strong> códigos <strong>de</strong> comportamentos e práticas, valores e,<br />
também, estruturação do Estado) por meio <strong>de</strong> dois tipos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção: administrativa<br />
burocrática (burocracia) e o profissio<strong>na</strong>lismo (CLARKE e NEWMAN, 1997, p. 8 apud<br />
BARROSO, 2003), os quais possibilitam ao Estado que “se organize em torno do<br />
‘interesse público’ (em nome do qual actua a burocracia) e do ‘bem público’ (ao serviço<br />
do qual está o profissio<strong>na</strong>lismo)” (BARROSO, 2003, p. 128). Com isso, a gestão<br />
escolar<br />
exige um forte compromisso entre o Estado e os profissio<strong>na</strong>is que permita<br />
preservar uma ética do serviço público, no quadro <strong>de</strong> uma relação<br />
profissio<strong>na</strong>l face-a-face, em que o prestador <strong>de</strong>sse serviço (o professor)<br />
<strong>de</strong>senvolve sua acção como agente dos interesses do segundo (o alunoci<strong>da</strong>dão<br />
e suas famílias), <strong>de</strong>vido à confiança que nele <strong>de</strong>positam e ao capital<br />
<strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong> informação que possui (ibi<strong>de</strong>m, p. 131).<br />
Para tanto, vale ressaltar que a organização é essencial, porém, não po<strong>de</strong>mos<br />
ser só burocráticos. Dessa forma, outra transformação que repercutiu <strong>na</strong> formação e<br />
trabalho docente diz respeito às “organizações pós-burocráticas”, organização essa que<br />
origi<strong>na</strong>-se a partir <strong>da</strong> ruptura com o mo<strong>de</strong>lo administrativo burocrático, tendo como<br />
marco três gran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças: o auto-controle substituindo o hierárquico; organização<br />
em re<strong>de</strong>s em substituição <strong>da</strong>s organizações pirami<strong>da</strong>is, gerando flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong>s<br />
estruturas; e, “o fim <strong>da</strong> separação entre organização formal e informal, com a<br />
importância que é <strong>da</strong><strong>da</strong> à afectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, às relações pessoais e à vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>” (ibi<strong>de</strong>m).<br />
Heckscher (1994 apud BARROSO, 2003) prefere <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>r este mo<strong>de</strong>lo<br />
(“organização pós-burocrática”) <strong>de</strong> “organizações interativas”, as quais consi<strong>de</strong>ram que
a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto ao sucesso <strong>da</strong> organização, em seu todo, <strong>de</strong>ve ser assumi<strong>da</strong><br />
por todos os membros envolvidos no processo, <strong>de</strong> modo que visa a criação <strong>de</strong> um<br />
sistema em que o controle se dê pela gestão <strong>da</strong>s relações (e não pela <strong>da</strong>s tarefas), tendo<br />
como base os problemas e não a estrutura. O autor ressalta que a diferença entre esse<br />
mo<strong>de</strong>lo e o burocrático é, principalmente, a função <strong>da</strong> li<strong>de</strong>rança – respectivamente,<br />
colaborativa e restritiva (quem está no topo é que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>).<br />
Outros aspectos que caracterizam essa organização, que busca substituir a<br />
burocracia, são: o diálogo, visando o consenso 25 , influência, confiança mútua,<br />
inter<strong>de</strong>pendência, princípios e missão partilha<strong>da</strong> (BARROSO, 2003). Essa proposta <strong>de</strong><br />
“uma nova gestão <strong>da</strong>s escolas públicas”, que reforça a autonomia <strong>da</strong>s instituições<br />
escolares, tem por base a ação conjunta <strong>de</strong> cinco mu<strong>da</strong>nças importantes: projeto – trata-<br />
se <strong>da</strong> forma política no sentido <strong>de</strong> planejamento, isto é, apresenta o princípio que<br />
justifica e legitima a ação coletiva pensa<strong>da</strong>; contrato – possui duas formas: a <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> administração pública (redistribui os po<strong>de</strong>res, reforçando a<br />
<strong>de</strong>mocracia, objetivando a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus serviços) ou a <strong>de</strong> regular as<br />
relações no interior <strong>da</strong>s escolas (dimensão social, já que introduz práticas <strong>de</strong><br />
participação, bem como <strong>de</strong> negociação <strong>na</strong> gestão <strong>de</strong> interesses, buscando acordo e<br />
compromissos para realizar os projetos pensados); li<strong>de</strong>rança – <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que esta <strong>de</strong>ve<br />
ser, sempre, coletiva; participação – assim como a li<strong>de</strong>rança (coletiva e individual), a<br />
participação (<strong>de</strong> pessoas exter<strong>na</strong>s e inter<strong>na</strong>s) é essencial para regular os interesses,<br />
buscando uma gestão participativa e cultura <strong>de</strong>mocrática; e, re<strong>de</strong>s – <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um<br />
trabalho em conjunto, ao contrário <strong>da</strong> visão burocrática e estruturalista, privilegiando a<br />
visão multidiscipli<strong>na</strong>r 26 , interpessoal (ibi<strong>de</strong>m). Nesse sentido, salienta-se que o sistema<br />
organizacio<strong>na</strong>l po<strong>de</strong> “fechar” a atuação do professor, e cabe ao coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor atuar <strong>na</strong><br />
contramão disso, valorizando as re<strong>de</strong>s, os trabalhos coletivos.<br />
Assim, ao discorrer sobre a organização, principalmente a que visa uma gestão<br />
<strong>de</strong>mocrática, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a relevância <strong>da</strong> participação para que tal administração<br />
seja efetiva<strong>da</strong>.<br />
“A <strong>de</strong>scentralização e a participação foram o pano <strong>de</strong> fundo dos discursos<br />
oficiais sobre esse processo <strong>de</strong> reformulação [<strong>da</strong>s estruturas organizacio<strong>na</strong>is dos<br />
órgãos públicos responsáveis pela área educacio<strong>na</strong>l no Estado <strong>de</strong> São Paulo]”<br />
25 Ou entendimento mútuo, para Habermas.<br />
26 A multidiscipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong><strong>de</strong> tem como foco os projetos, que pautam-se em várias discipli<strong>na</strong>s trabalhando o<br />
mesmo assunto.<br />
38
(QUAGLIO, 2009, p. 140 – grifos meus). To<strong>da</strong>via, no que tange ao processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scentralização, o que aconteceu foi, somente, uma transferência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, ou para o<br />
âmbito municipal ou para outros órgãos. Portanto, “A participação dos executores <strong>da</strong><br />
política educacio<strong>na</strong>l, isto é, supervisores <strong>de</strong> ensino, diretores <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas,<br />
professores coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dores e docentes constituiu-se num ‘faz <strong>de</strong> conta’” (ibi<strong>de</strong>m).<br />
De acordo com Quaglio (2009), <strong>de</strong>ve existir uma “gover<strong>na</strong>ção <strong>de</strong>mocrática”,<br />
<strong>na</strong> qual os alunos e seus familiares, bem como a equipe escolar <strong>de</strong>vem, efetivamente<br />
participar <strong>de</strong> modo criativo, crítico e reflexivo no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> todo o processo educativo<br />
para que não se tenha, novamente, os mol<strong>de</strong>s tecnicista <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia (separação entre o<br />
planejamento e a execução). Para tanto, o autor salienta que as estratégias <strong>de</strong><br />
participação necessitam, além <strong>de</strong> promover o envolvimento <strong>de</strong> todos <strong>na</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisões, oportunizar articulação entre as <strong>de</strong>mais uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, envolvendo suas<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, valorizando a seleção <strong>de</strong> conhecimentos a serem trabalhados – já que,<br />
atualmente, “Chega-se (...) ao absurdo <strong>de</strong> exigir do pessoal <strong>da</strong>s escolas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />
<strong>na</strong><strong>da</strong> mais são do que formas <strong>de</strong> justificar a existência <strong>de</strong> grupos dos sistemas<br />
educativos” (ibi<strong>de</strong>m, p. 142).<br />
Nesse sentido, o que muitas vezes acontece, como já citado, é uma participação<br />
“faz <strong>de</strong> conta”, <strong>na</strong> qual <strong>de</strong>senvolve-se uma invasão cultural 27 , ou seja, uma<br />
domesticação/trei<strong>na</strong>mento para aquilo que se quer, pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong> relação entre invasores<br />
(gestores – diretor, supervisor e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor pe<strong>da</strong>gógico) e invadidos (docentes), on<strong>de</strong><br />
estes são “mol<strong>da</strong>dos”, trei<strong>na</strong>dos, sendo que aqueles somente transmitem o que já está<br />
estipulado, <strong>de</strong> modo que eles têm a (falsa) impressão <strong>de</strong> que praticam o que acreditam,<br />
mas, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, os gestores baseiam-se <strong>na</strong> fala e pensamentos dos professores para<br />
“moldá-los” mais facilmente. Assim, os docentes são reduzidos a objetos <strong>de</strong> ação, por se<br />
tratar <strong>de</strong> uma relação autoritária, vertical e antidialógica e não problematizadora,<br />
tor<strong>na</strong>ndo-se um processo alie<strong>na</strong>nte, uma vez que eles não têm a visão do todo, nem<br />
apresentam significado pensante, somente executam a ação (por esse motivo é um<br />
proletário 28 ) (QUAGLIO, 2009).<br />
27 Freire (1985, p. 178 apud QUAGLIO, 2009, p. 145) diz que “A ‘invasão cultural’ tem uma dupla face.<br />
De um lado, é já domi<strong>na</strong>ção; <strong>de</strong> outro, é tática <strong>de</strong> domi<strong>na</strong>ção e, por isso mesmo, po<strong>de</strong> ser altamente<br />
perigosa. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, to<strong>da</strong> domi<strong>na</strong>ção implica numa invasão não ape<strong>na</strong>s física, visível, mas às vezes<br />
camufla<strong>da</strong>, em que o invasor se apresenta como se fosse o amigo que aju<strong>da</strong>. No fundo, a invasão é uma<br />
forma <strong>de</strong> domi<strong>na</strong>r econômica e culturalmente o invadido [...] Como manifestação <strong>da</strong> conquista, a invasão<br />
cultural conduz à i<strong>na</strong>utentici<strong>da</strong><strong>de</strong> do ser invadido. O seu programa respon<strong>de</strong> ao quadro valorativo <strong>de</strong> seus<br />
atores. A seus padrões, as suas fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s”.<br />
28 Consi<strong>de</strong>ramos relevante discorrer, nesse ponto, sobre a diferença entre proletarização e profissão<br />
docente: proletário – diz respeito àquele que não tem domínio do todo, é quem “faz/executa”; profissão –<br />
39
Ao colocar essa imagem <strong>de</strong> proletário, é interessante fazer uma retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
imagens (atribuí<strong>da</strong>s) do professor no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s. Inicialmente, numa<br />
<strong>perspectiva</strong> sociológica, o docente era visto como “missionário” (voltava-se para um<br />
dom/vocação), <strong>de</strong>pois “funcionário do ensino”, mais tar<strong>de</strong> como “mestre” – com o<br />
tempo, segundo Barroso (2003), foram-se formando imagens mais positivas, como:<br />
profissio<strong>na</strong>l – “se valoriza, habitualmente, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma perícia técnica,<br />
sem compromisso político”; e militante – “se põe a tónica <strong>na</strong> dimensão re<strong>de</strong>ntora do<br />
trabalho do educador, como agente <strong>de</strong> transformação social, relativisando a sua<br />
competência <strong>de</strong> especialista” (p. 122). No <strong>de</strong>correr dos anos, apareceram novas imagens<br />
40<br />
como as do proletário, do altruísta, do mercenário, do fura-vi<strong>da</strong>s, do superherói<br />
etc., num multifacetado caleidoscópio que faz com que, ca<strong>da</strong> vez mais,<br />
se tenha <strong>de</strong> falar em “professores” ou “professoras” <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos e, menos,<br />
em “classe docente”, como grupo profissio<strong>na</strong>l homogéneo (BARROSO,<br />
2003, p. 122 – grifos do autor).<br />
Atualmente, muito tem-se perdido <strong>da</strong> imagem do professor. Contudo, ele é,<br />
ain<strong>da</strong>, uma peça fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> escola, sendo que ao verem-no como super-herói<br />
“<strong>de</strong>positam to<strong>da</strong>s as esperanças <strong>de</strong> resolução dos múltiplos problemas que afectam as<br />
escolas e a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças e dos jovens” (ibi<strong>de</strong>m, p. 123-124) 29 .<br />
Com isso, precisamos “<strong>de</strong>smistificar a visão funcio<strong>na</strong>lista <strong>da</strong> formação <strong>de</strong><br />
professores enquanto instrumento <strong>de</strong> aplicação <strong>da</strong> reforma (...), valorizando antes a<br />
aquisição <strong>de</strong> competências” (BARROSO, 2003, p. 140), objetivando autonomia. Da<br />
mesma forma, é possível perceber, ca<strong>da</strong> vez mais, “uma integração entre o campo <strong>de</strong><br />
formação e o campo <strong>da</strong> organização” (ibi<strong>de</strong>m, p. 138), o que possibilita a busca por um<br />
ensino melhor.<br />
Justamente pensando <strong>na</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação, bem como <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />
dos educandos é que Schon (1990 apud BARROSO, 2003. p. 136) enten<strong>de</strong> que<br />
é preciso que se <strong>de</strong>senvolvam processos <strong>de</strong> participação colectiva através dos<br />
quais grupos <strong>de</strong> indivíduos (...) <strong>de</strong>senvolvem novos esquemas <strong>de</strong> trabalho,<br />
novas <strong>perspectiva</strong>s <strong>de</strong> carreira, capazes <strong>de</strong> melhor articular a sua vi<strong>da</strong> familiar<br />
e a sua vi<strong>da</strong> profissio<strong>na</strong>l.<br />
Indo ao encontro <strong>de</strong>le, Quaglio (2009) aponta para a<br />
necessária participação nos trabalhos educacio<strong>na</strong>is (...) [sendo que] o diálogo<br />
e a problematização vêm favorecer o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do processo <strong>de</strong><br />
relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> a um conhecimento/saber fazer específico; profissio<strong>na</strong>l – é o que tem domínio sobre todo o<br />
processo, é o que “pensa”. O professor <strong>de</strong>ve ser aquele que pensa e que faz, apesar <strong>da</strong>s políticas públicas.<br />
29 De acordo com Barroso (2003), essa “crise do pessoal docente” se manifesta, principalmente, por três<br />
aspectos, os quais fazem parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do professor: <strong>de</strong>sencanto, receio e culpa.
mu<strong>da</strong>nças em educação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para a ação seja<br />
escolhido em conjunto (p. 141 – grifo meu).<br />
Dessa forma, é possível notar a relevância do diálogo problematizador (i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
Paulo Freire) para fazer mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>mocrático (o que é muito difícil),<br />
inserindo os professores <strong>na</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-os ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros sujeitos <strong>da</strong>s<br />
transformações. Para tanto, precisa-se mu<strong>da</strong>r o entendimento e o conceito <strong>de</strong> educação,<br />
sendo que os profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>sta área passam a ser sujeitos do conhecimento e não<br />
ape<strong>na</strong>s recebedores dos que lhes são prescritos (QUAGLIO, 2009).<br />
Para que tal situação ocorra, os gestores <strong>de</strong>vem se colocar como construtores<br />
<strong>da</strong> política educacio<strong>na</strong>l, inovadores, assim, ocupando-se com os aspectos institucio<strong>na</strong>is,<br />
bem como com a situação geral do ensino, logo, <strong>de</strong>vem promover uma supervisão<br />
problematizadora, <strong>na</strong> qual coloca as mu<strong>da</strong>nças como problemas para serem resolvidos<br />
criticamente, sendo que to<strong>da</strong> a equipe escolar passa a ser, também, sujeito <strong>de</strong>sse mesmo<br />
processo, uma vez que rompem-se os esquemas hierárquicos <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> (ibi<strong>de</strong>m).<br />
Enfim, no <strong>de</strong>correr do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste tópico, buscamos relacio<strong>na</strong>r a<br />
participação <strong>na</strong> organização e gestão <strong>de</strong>mocrática, consi<strong>de</strong>rando que<br />
41<br />
o importante para a gestão em educação, isto é, administração, supervisão e<br />
coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção pe<strong>da</strong>gógica existentes <strong>na</strong> organização e funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong><br />
educação, que se utiliza <strong>da</strong> dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong> problematizadora, é assegurar, <strong>na</strong><br />
implantação <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças propostas em reformas educacio<strong>na</strong>is, que os<br />
educadores se sintam sujeitos <strong>de</strong> seu pensar, discutindo sua própria visão <strong>de</strong><br />
educação, manifesta<strong>da</strong> implícita ou explicitamente <strong>na</strong>s suas sugestões<br />
(QUAGLIO, 2009, p. 151).<br />
Portanto, o diálogo é <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importância, sendo que para este ocorrer<br />
<strong>de</strong> forma problematizadora, faz-se necessário uma relação próxima entre os sujeitos,<br />
para que ambos sintam-se à vonta<strong>de</strong> para levantar, discutir e pensar questões <strong>de</strong> acordo<br />
com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> existente, buscando, sempre, um entendimento<br />
mútuo/consenso do que é melhor para o coletivo e, consequentemente, para a educação<br />
<strong>de</strong> seus estu<strong>da</strong>ntes.<br />
2.5. Espaços <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> escola<br />
Conforme já discutido no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste capítulo, é relevante que a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (tanto escolar quanto local) sinta-se parte <strong>da</strong> UE a ponto <strong>de</strong> dialogar <strong>na</strong>s<br />
mais diferentes toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.
Nesse sentido, faz-se necessária a adoção <strong>de</strong> três medi<strong>da</strong>s para que as pessoas<br />
motivem-se a participar e se envolver com os assuntos <strong>da</strong> instituição (PARO, 2008, p.<br />
11). A primeira é a escolha <strong>de</strong>mocrática dos dirigentes, a qual <strong>de</strong>ve ocorrer por meio <strong>de</strong><br />
uma eleição, para que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> eleja o candi<strong>da</strong>to que mais se assemelha à<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> em que se encontra, e não por meio <strong>de</strong> indicações político-partidárias (SEB,<br />
2004f). A adoção <strong>de</strong> tal medi<strong>da</strong> mostraria à equipe escolar, aos alunos e seus familiares,<br />
que a opinião <strong>de</strong>stes é muito importante para a construção <strong>de</strong> uma educação que busque<br />
trabalhar suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
A segun<strong>da</strong>, diz respeito à utilização <strong>de</strong> iniciativas que estimulem e facilitem o<br />
envolvimento <strong>de</strong> alunos, professores e pais <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares, através <strong>de</strong> relações<br />
pe<strong>da</strong>gógicas mais dialógicas (e menos autoritárias), melhores condições para os<br />
docentes <strong>de</strong>senvolverem seus trabalhos, bem como a abertura do espaço escolar em<br />
horários alter<strong>na</strong>tivos, como fi<strong>na</strong>is <strong>de</strong> sema<strong>na</strong>, para a realização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com to<strong>da</strong> a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local (possibilitando, também, a aproximação e participação dos pais)<br />
(PARO, 2008).<br />
Fi<strong>na</strong>lizando, o autor (ibi<strong>de</strong>m) coloca a existência <strong>de</strong> mecanismos coletivos <strong>de</strong><br />
participação, a exemplo do Grêmio Estu<strong>da</strong>ntil (formado por um grupo <strong>de</strong> alunos, os<br />
quais representam seus pares frente a <strong>de</strong>cisões que lhes dizem respeito <strong>na</strong> UE); <strong>da</strong><br />
Associação <strong>de</strong> Pais e Mestres – APM (arreca<strong>da</strong> recursos fi<strong>na</strong>nceiros para a escola, com<br />
o intuito <strong>de</strong> melhor equipá-la ou reparar <strong>da</strong>nos quando o Estado não po<strong>de</strong> fazê-lo); dos<br />
Conselhos <strong>de</strong> Classe (pensa e busca estratégias <strong>de</strong> verificação e melhoria dos<br />
<strong>de</strong>sempenhos <strong>de</strong> docentes e discentes para que se alcance a função social <strong>da</strong> educação) e<br />
<strong>de</strong> Escola (é um dos principais meios <strong>de</strong> efetivar a gestão <strong>de</strong>mocrática em uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
já que possibilita a efetiva participação <strong>de</strong> todos os segmentos relacio<strong>na</strong>dos a ela para<br />
refletir, discutir e <strong>de</strong>liberar sobre os mais diferentes assuntos que dizem respeito à<br />
mesma, como político-pe<strong>da</strong>gógico, fi<strong>na</strong>nceiro e administrativo).<br />
Então, consi<strong>de</strong>rando a relevância <strong>de</strong>stes mecanismos <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> busca<br />
pelo entendimento mútuo acerca <strong>de</strong> uma questão, através <strong>de</strong> uma interação social<br />
media<strong>da</strong> pela linguagem, pon<strong>de</strong>rando o que é melhor para o coletivo, é que refletir-se-á,<br />
no próximo capítulo, sobre o órgão máximo <strong>de</strong> uma instituição escolar para a efetivação<br />
<strong>de</strong> uma gestão <strong>de</strong>mocrática, o Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>).<br />
42
Capítulo 3 – Conselho <strong>de</strong> Escola como locus <strong>da</strong> Gestão Democrática<br />
O Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>) po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como o locus <strong>da</strong> Gestão<br />
Democrática. Neste capítulo, fazemos uma expla<strong>na</strong>ção a respeito <strong>de</strong>sse colegiado,<br />
abor<strong>da</strong>ndo seu panorama nos âmbitos fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal (sua história no<br />
município <strong>de</strong> São Carlos antes e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> reformulação dos Conselhos <strong>na</strong> re<strong>de</strong><br />
municipal <strong>de</strong> ensino) e, também, seu funcio<strong>na</strong>mento.<br />
3.1. O papel do <strong>CE</strong> <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares<br />
Conforme já apontado no capítulo anterior, o <strong>CE</strong><br />
43<br />
É um órgão colegiado constituído por representantes <strong>de</strong> todos os segmentos<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e local, atuando em sintonia com a administração <strong>da</strong><br />
escola e <strong>de</strong>finindo caminhos para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões administrativas,<br />
fi<strong>na</strong>nceiras e político-pe<strong>da</strong>gógicas condizentes com as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as<br />
potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> escola (SÃO CARLOS, 2010a).<br />
Logo, este colegiado não distingue-se <strong>da</strong> instituição escolar, pelo contrário, “insere-se<br />
<strong>na</strong> institucio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>na</strong> própria estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> escola” (LUIZ; CONTI, 2007, p.<br />
3), atuando <strong>de</strong> modo complementar.<br />
Com isso, ele “se situa no espaço <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa dos interesses coletivos, enquanto<br />
reúne diferentes segmentos [...] para discutir, <strong>de</strong>finir e acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola” (ibi<strong>de</strong>m), tendo por objetivo, <strong>de</strong> acordo com<br />
Silva (2005), “promover a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar nos processos <strong>de</strong><br />
administração e gestão <strong>da</strong> escola, buscando assegurar uma maior quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho<br />
escolar” (p. 1), sendo que “Para atingir tal propósito <strong>de</strong>sempenha funções normativas,<br />
<strong>de</strong>liberativas e <strong>de</strong> fiscalização <strong>da</strong>s ações globais <strong>da</strong> escola” (ibi<strong>de</strong>m) no sentido <strong>de</strong><br />
auxiliar a direção <strong>da</strong> instituição a encontrar meios a<strong>de</strong>quados aos fins <strong>de</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(LUIZ; CONTI, 2007).<br />
Outra característica importante é que “Suas atribuições <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong>s<br />
diretrizes do sistema <strong>de</strong> ensino e <strong>da</strong>s <strong>de</strong>finições <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> usuária (pais ou<br />
responsáveis pelos alunos e alunos maiores <strong>de</strong> 16 anos) e equipe escolar...” (ibi<strong>de</strong>m, p.<br />
3-4).<br />
Assim, conforme pontua Silva (2005) um dos elementos essenciais para<br />
efetivar uma gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong> escola é a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, já que tal processo<br />
envolve os segmentos afetados diretamente por ela, <strong>de</strong> modo que partilha com o <strong>CE</strong> tal
po<strong>de</strong>r (antes centralizado <strong>na</strong> figura do diretor), possibilitando a construção <strong>de</strong> uma<br />
educação volta<strong>da</strong> para a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, “Ou seja, significa tirar dos gover<strong>na</strong>ntes e dos<br />
técnicos <strong>da</strong> área o monopólio <strong>de</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r os rumos <strong>da</strong> educação no município”<br />
(LUIZ; CONTI, 2007, p. 4).<br />
De acordo com Fonseca (1998 apud SILVA, 2005, p. 6), este processo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão precisa ser <strong>de</strong>limitado com base em três princípios gerais:<br />
44<br />
As <strong>de</strong>cisões inter<strong>na</strong>s <strong>da</strong> escola <strong>de</strong>vem ser toma<strong>da</strong>s por quem é<br />
diretamente afetado por ela;<br />
As <strong>de</strong>cisões só <strong>de</strong>vem ser toma<strong>da</strong>s após uma discussão exaustiva e livre;<br />
Todos os que participam <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>vem aceitá-las,<br />
assegurar sua realização prática mediante a a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ação<br />
administrativa.<br />
Infere-se <strong>de</strong>stes princípios que os atores têm direito <strong>de</strong> participar <strong>na</strong>s <strong>de</strong>cisões<br />
que os afetam diretamente, significando esta participação muito mais do que<br />
o direito e o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> consulta.<br />
Mas vale ressaltar que esse exercício <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />
trata-se <strong>de</strong> um processo, cuja construção <strong>de</strong>ve ser coletiva, <strong>de</strong> modo que a atuação do<br />
<strong>CE</strong> <strong>de</strong>ve estar articula<strong>da</strong> com os <strong>de</strong>mais espaços coletivos <strong>de</strong> participação, como<br />
Conselho <strong>de</strong> Classe, APM, reunião <strong>de</strong> pais, etc. (ibi<strong>de</strong>m).<br />
Contudo, salientamos que para chegar a tal <strong>de</strong>finição acerca do papel <strong>de</strong>ste<br />
importante colegiado <strong>na</strong>s UE, teve-se uma luta pela <strong>de</strong>mocratização e pela abertura para<br />
a participação (<strong>de</strong> acordo com o que dissertamos no capítulo 2) e, a partir disso, houve<br />
uma re<strong>de</strong>finição do olhar com relação à educação e, consequentemente, sobre a<br />
autonomia <strong>da</strong>s escolas, viabilizando uma melhor articulação entre elas e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>quele coletivo, tomando por base a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
única, em que se inserem.<br />
Dessa forma, traremos, <strong>na</strong> sequência, um panorama sobre as principais<br />
legislações que influenciaram neste contexto <strong>de</strong> transformações, tanto em nível fe<strong>de</strong>ral,<br />
como estadual e municipal, uma vez que “A criação dos conselhos é <strong>de</strong> origem<br />
diferencia<strong>da</strong>. Algumas vezes estes foram criados por leis municipais ou estaduais,<br />
outras vezes emergiram <strong>da</strong> história específica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (LUIZ; CONTI,<br />
2007, p. 3).<br />
3.2. Panorama histórico no Brasil<br />
Conti e Silva (2009) refletem sobre as interferências sofri<strong>da</strong>s pela gestão<br />
escolar, bem como sua <strong>de</strong>mocratização e outros aspectos a ela relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>, colocando
que nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> passou, e passa, por diversas transformações, inclusive a relação,<br />
que antes era homem-homem, está alterando, <strong>de</strong>ixando que a máqui<strong>na</strong> faça o papel <strong>de</strong><br />
mediadora <strong>na</strong> mesma.<br />
Dentre essas mu<strong>da</strong>nças, a abertura política, que aconteceu após a Ditadura<br />
Militar, “restabeleceu a participação popular frente às <strong>de</strong>cisões políticas, como forma <strong>de</strong><br />
relação entre o po<strong>de</strong>r público e a população” (CONTI; SILVA, 2009, p. 5) e, com isso,<br />
estabeleceu-se, nesse novo contexto,<br />
porém, tem sido muito difícil consolidá-los.<br />
45<br />
novas formas <strong>de</strong> atuação e <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>na</strong> qual antigas ban<strong>de</strong>iras<br />
<strong>da</strong>s lutas mais significativas do passado, tais como, participação, autonomia,<br />
<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s instituições, entre outros, ganham novos significados<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 3),<br />
Enten<strong>de</strong>ndo a educação como uma <strong>da</strong>s mais significativas formas <strong>de</strong> luta pela<br />
re<strong>de</strong>mocratização é que surgem os Conselhos Escolares, “um importante espaço <strong>de</strong><br />
atuação <strong>da</strong>queles que <strong>de</strong>sejam a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação e o alargamento <strong>da</strong>s<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emancipação <strong>da</strong>s pessoas” (CONTI; SILVA, 2009, p. 6), sendo<br />
carregado <strong>de</strong> tensões e conflitos, uma vez que há a presença <strong>de</strong> diferentes indivíduos e,<br />
consequentemente, pensamentos. Assim, os <strong>CE</strong> buscam tanto uma escola como uma<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que seja mais justa, <strong>de</strong>mocrática e, com isso, que aten<strong>da</strong> os interesses <strong>da</strong><br />
maioria. “A implantação dos Conselhos <strong>de</strong> Escola é uma conquista ao nível <strong>da</strong><br />
legislação e <strong>da</strong>s práticas cotidia<strong>na</strong>s que se dão no interior <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacio<strong>na</strong>is<br />
públicas” (ibi<strong>de</strong>m, p. 9).<br />
Para tanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a elaboração do calendário, dos planos <strong>de</strong> aula, as reuniões<br />
pe<strong>da</strong>gógicas e as toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, enfim, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as instâncias<br />
escolares <strong>de</strong>vem ser feitas do modo mais <strong>de</strong>mocrático possível, e a transformação<br />
também <strong>de</strong>ve ser pensa<strong>da</strong> no âmbito do currículo, o qual ain<strong>da</strong> é fetichizado (SILVA,<br />
1999 apud CONTI; SILVA, 2009, p. 8).<br />
Outro aspecto relevante <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>mocratização escolar é a relação <strong>de</strong>sta, e <strong>de</strong><br />
seus agentes educacio<strong>na</strong>is, com as outras escolas e, principalmente, com as instituições<br />
que lhe são superiores (re<strong>de</strong>s municipais, diretorias <strong>de</strong> ensino, secretarias <strong>de</strong> educação,<br />
etc.), pois estas nem sempre (quase nunca) possibilitam a participação dos profissio<strong>na</strong>is<br />
que executarão os projetos que <strong>de</strong>senvolveram, o que dificulta, e muito, o trabalho<br />
<strong>de</strong>stes, já que os “superiores” geralmente não consi<strong>de</strong>ram as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s/reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar.
3.2.1. As Legislações no âmbito Fe<strong>de</strong>ral<br />
De acordo com o que foi pon<strong>de</strong>rado anteriormente, no Brasil, por meio <strong>de</strong><br />
significativas mobilizações sociais, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, há o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma nova<br />
conjuntura política, com características fortes <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
modo que, em 1988, teve-se a Constituição Fe<strong>de</strong>ral (CF), que foi feita visando à<br />
<strong>de</strong>mocratização.<br />
Nesta nova legislação, o discurso <strong>da</strong> participação se coloca em outra<br />
<strong>perspectiva</strong>, e passa-se a enten<strong>de</strong>r educação como direito fun<strong>da</strong>mental, do qual po<strong>de</strong>-se<br />
superar as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e a exclusão, conforme o Art. 205, contando com a<br />
colaboração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para sua promoção e incentivo. Legalmente, há a garantia <strong>de</strong><br />
acesso e permanência à educação escolar básica, on<strong>de</strong> é fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
Outra colocação feita em tal documento é o Art. 206, inciso VI, o qual traz que o ensino<br />
público será baseado no princípio <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática (BRASIL, 1988).<br />
A fim <strong>de</strong> enfrentar esses <strong>de</strong>safios do “novo século”, é que em 1996 a Comissão<br />
Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sobre Educação para o século XXI, no relatório para a UNESCO, coloca<br />
quatro pilares, entendidos como novos “objetivos” a serem propostos para as escolas, os<br />
quais nos possibilitam pensar numa educação transformadora. São eles, segundo Delors<br />
(2000), apren<strong>de</strong>r a: conhecer, fazer, viver junto e ser.<br />
A partir e paralelamente a este relatório é que, no Brasil, foi promulga<strong>da</strong> a<br />
LDB nº 9394/96 para aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e acontecimentos do atual contexto.<br />
Essa Lei traz algumas consi<strong>de</strong>rações importantes, <strong>de</strong>ntre as quais: ensino<br />
baseado no princípio <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática (Art. 3º); <strong>de</strong>ver do Estado <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r o<br />
ensino fun<strong>da</strong>mental, obrigatório e gratuito (Art. 4º); as instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem<br />
elaborar e executar sua proposta pe<strong>da</strong>gógica (Art. 12); os docentes <strong>de</strong>vem realizar<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para articular escola-família-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (Art. 13); os sistemas <strong>de</strong> ensino<br />
<strong>de</strong>vem pautar-se em suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s para <strong>de</strong>finir as normas <strong>de</strong> sua gestão<br />
<strong>de</strong>mocrática, consi<strong>de</strong>rando princípios como: a participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s local e<br />
escolar nos Conselhos Escolares ou outros órgãos que tenham a mesma fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> (Art.<br />
14, inciso II); retrata a autonomia <strong>da</strong> escola no que tange aos aspectos pe<strong>da</strong>gógicos,<br />
administrativos e <strong>de</strong> gestão fi<strong>na</strong>nceira (Art. 15); os currículos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem pautar-se<br />
numa base <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e comum, complementando <strong>de</strong> acordo com as características <strong>de</strong> sua<br />
clientela (Art. 26) (BRASIL, 1996).<br />
46
Há ain<strong>da</strong> outros princípios norteadores <strong>da</strong> educação escolar que aparecem em<br />
documentos como o Plano Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação (PNE) – Lei 10.172 <strong>de</strong> 09/01/01,<br />
sendo que <strong>na</strong>s três mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino a implantação <strong>de</strong> Conselhos Escolares é ti<strong>da</strong><br />
como um dos modos <strong>de</strong> incentivar a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, objetivando uma<br />
gestão <strong>de</strong>mocrática:<br />
47<br />
Educação Infantil, um dos objetivos e metas é:<br />
16. Implantar conselhos escolares e outras formas <strong>de</strong> participação <strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e local <strong>na</strong> melhoria do funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s instituições <strong>de</strong><br />
educação infantil e no enriquecimento <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas e dos<br />
recursos pe<strong>da</strong>gógicos.<br />
[...]<br />
Ensino Fun<strong>da</strong>mental, um dos objetivos e metas é:<br />
9. Promover a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong>s escolas,<br />
universalizando, em dois anos, a instituição <strong>de</strong> conselhos escolares ou órgãos<br />
equivalentes.<br />
[...]<br />
Ensino Médio, um dos objetivos e metas é:<br />
13. Criar mecanismos, como conselhos ou equivalentes, para incentivar a<br />
participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> gestão, manutenção e melhoria <strong>da</strong>s condições<br />
<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s escolas (BRASIL, 2001 – grifos meus).<br />
– e o Plano <strong>de</strong> Metas Compromissos Todos pela Educação – Decreto nº 6.094 <strong>de</strong><br />
24/04/2007, que traz no Art. 2º, incisos XXII e XXV essa mesma questão.<br />
Art. 2º A participação <strong>da</strong> União no Compromisso será pauta<strong>da</strong> pela<br />
realização direta, quando couber, ou, nos <strong>de</strong>mais casos, pelo incentivo e<br />
apoio à implementação, por Municípios, Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Estados e<br />
respectivos sistemas <strong>de</strong> ensino, <strong>da</strong>s seguintes diretrizes:<br />
XXII – promover a gestão participativa <strong>na</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino;<br />
XXV – fomentar e apoiar os conselhos escolares, envolvendo as<br />
famílias dos educandos, com as atribuições, <strong>de</strong>ntre outras, <strong>de</strong> zelar pela<br />
manutenção <strong>da</strong> escola e pelo monitoramento <strong>da</strong>s ações e consecução <strong>da</strong>s<br />
metas do compromisso (BRASIL, 2007 – grifos meus).<br />
Vemos que no cenário brasileiro é possível associar os Conselhos aos<br />
movimentos sociais, principalmente <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. Com base em Gohn (2001, p.<br />
70 apud SILVA, 2005, p. 40), no século XX, havia três diversificados tipos <strong>de</strong> conselho:<br />
primeiro, “os criados pelo próprio po<strong>de</strong>r público Executivo, para mediar suas relações<br />
com os movimentos e com as organizações populares”; segundo, “os populares<br />
construídos por movimentos popular ou setores organizados <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil em suas<br />
relações <strong>de</strong> negociações com o po<strong>de</strong>r público”; terceiro, “os institucio<strong>na</strong>lizados, com<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>da</strong> gestão dos negócios públicos criados por leis originárias<br />
do po<strong>de</strong>r Legislativo, surgidos após pressões e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil”. Já <strong>na</strong><br />
déca<strong>da</strong> posterior, com o fim <strong>da</strong> ditadura militar, Gohn (ibi<strong>de</strong>m, p. 75 apud ibi<strong>de</strong>m)<br />
aponta para duas novas propostas <strong>de</strong> enfoque, enten<strong>de</strong>ndo-o tanto “como estratégia <strong>de</strong>
governo, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s políticas <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia participativa” – a qual, para Silva (2005), é<br />
a dos <strong>CE</strong> implantados <strong>na</strong> re<strong>de</strong> pública do Estado <strong>de</strong> São Paulo – como “... <strong>de</strong><br />
organização <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r popular autônomo, estruturado a partir <strong>de</strong> movimentos sociais<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil”.<br />
Sendo assim, é possível notar que a composição e estrutura dos conselhos nem<br />
sempre foram as mesmas, alterando-se segundo as diversas conquistas (dos movimentos<br />
sociais e, principalmente, dos educadores) (LUIZ; CONTI, 2007).<br />
3.2.2. As Legislações <strong>na</strong> esfera Estadual<br />
No que tange ao Conselho <strong>de</strong> Escola <strong>na</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino do Estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />
pon<strong>de</strong>ramos que este, conforme a <strong>de</strong>finição dos Decretos 10.623/77 e 11.625/78<br />
(aprovam o Regimento Comum <strong>da</strong>s escolas estaduais <strong>de</strong> primeiro e segundo graus),<br />
possuía, simplesmente, um caráter consultivo, isto é, os membros apresentam sugestões,<br />
mas não têm po<strong>de</strong>r para <strong>de</strong>cidir, o que continua <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos diretores, que<br />
centralizam-no, assim como a gestão <strong>da</strong> escola.<br />
To<strong>da</strong>via, em 1984, no governo <strong>de</strong> Franco Montoro, institui-se a lei<br />
complementar 375/84, a qual atribui ao <strong>CE</strong> um caráter <strong>de</strong>liberativo, sendo que no ano<br />
seguinte, promulga-se a Lei Complementar Estadual nº 444 <strong>de</strong> 27/12/85, <strong>de</strong>finindo, no<br />
art. 95 do Estatuto do Magistério Paulista, a competência e composição <strong>de</strong>sse órgão<br />
<strong>de</strong>liberativo, atribuindo-lhe maior representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e as <strong>de</strong>mais características que<br />
conhecemos atualmente (PINTO, 1994; SILVA, 2005), conforme a seguir.<br />
48<br />
Art. 95. O Conselho <strong>de</strong> Escola, <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza <strong>de</strong>liberativa, eleito anualmente<br />
durante o primeiro mês letivo, presidido pelo Diretor <strong>da</strong> Escola, terá um total<br />
mínimo <strong>de</strong> 20 (vinte) e máximo <strong>de</strong> 40 (quarenta) componentes, fixado<br />
sempre proporcio<strong>na</strong>lmente ao número <strong>de</strong> classes do estabelecimento <strong>de</strong><br />
ensino.<br />
§ 1º - A composição a que se refere o “caput” obe<strong>de</strong>cerá à seguinte<br />
proporcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
I - 40% (quarenta por cento) <strong>de</strong> docentes;<br />
II - 5% (cinco por cento) <strong>de</strong> especialistas <strong>de</strong> educação excetuando-se o<br />
Diretor <strong>de</strong> Escola;<br />
III - 5% (cinco por cento) dos <strong>de</strong>mais funcionários;<br />
IV - 25% (vinte e cinco por cento) <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> alunos;<br />
V - 25% (vinte e cinco por cento) <strong>de</strong> alunos;<br />
§ 2º - Os componentes do Conselho <strong>de</strong> Escola serão escolhidos entre os<br />
seus pares, mediante processo eletivo.<br />
§ 3º - Ca<strong>da</strong> segmento representado no Conselho <strong>de</strong> Escola elegerá também<br />
2 (dois) suplentes, que substituirão os membros efetivos em suas ausências e<br />
impedimentos.
49<br />
§ 4º - Os representantes dos alunos terão sempre direito a voz e voto, salvo<br />
nos assuntos que, por força legal, sejam restritos aos que estiverem no gozo<br />
<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> civil.<br />
§ 5º - São atribuições do Conselho <strong>de</strong> Escola:<br />
I - Deliberar sobre:<br />
a) diretrizes e metas <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar;<br />
b) alter<strong>na</strong>tivas <strong>de</strong> solução para os problemas <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza administrativa e<br />
pe<strong>da</strong>gógica;<br />
c) projetos <strong>de</strong> atendimento psico-pe<strong>da</strong>gógico e material ao aluno;<br />
d) programas especiais visando à integração escola-família-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />
e) criação e regulamentação <strong>da</strong>s instituições auxiliares <strong>da</strong> escola;<br />
f) priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s para aplicação <strong>de</strong> recursos <strong>da</strong> Escola e <strong>da</strong>s instituições<br />
auxiliares;<br />
g) a <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>ção ou a dispensa do Vice-Diretor <strong>de</strong> Escola 30 ;<br />
h) as pe<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s discipli<strong>na</strong>res a que estiverem sujeitos os funcionários,<br />
servidores e alunos <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar;<br />
II - Elaborar o calendário e o regimento escolar, observa<strong>da</strong>s as normas<br />
do Conselho Estadual <strong>de</strong> Educação e a legislação pertinente;<br />
III - Apreciar os relatórios anuais <strong>da</strong> escola, a<strong>na</strong>lisando seu <strong>de</strong>sempenho<br />
em face <strong>da</strong>s diretrizes e metas estabeleci<strong>da</strong>s.<br />
§ 6º - Nenhum dos membros do Conselho <strong>de</strong> Escola po<strong>de</strong>rá acumular<br />
votos, não sendo também permitidos os votos por procuração.<br />
§ 7º - O Conselho <strong>de</strong> Escola <strong>de</strong>verá reunir-se, ordi<strong>na</strong>riamente, 2 (duas)<br />
vezes por semestre e, extraordi<strong>na</strong>riamente, por convocação do Diretor <strong>da</strong><br />
Escola ou por proposta <strong>de</strong>, no mínimo, 1/3 (um terço) <strong>de</strong> seus membros.<br />
§ 8º - As <strong>de</strong>liberações do Conselho constarão <strong>de</strong> ata, serão sempre tor<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />
públicas e adota<strong>da</strong>s por maioria simples, presentes a maioria absoluta <strong>de</strong> seus<br />
membros (SÃO PAULO, 1985).<br />
Nesse sentido, Silva (2005) pon<strong>de</strong>ra a inovação trazi<strong>da</strong> pela nova lei, já que dá<br />
ao Conselho o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, a qual passa a ser coletiva, abrindo espaço para a<br />
participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e, consequentemente, possibilitando a prática <strong>de</strong>mocrática,<br />
tor<strong>na</strong>ndo o <strong>CE</strong> um colegiado que auxilia <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong> escola, por meio <strong>da</strong><br />
representativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. De acordo com Pinto (1994), a Lei Complementar Estadual é<br />
utiliza<strong>da</strong>, também, por municípios que não possuem, ain<strong>da</strong>, uma norma própria a<br />
respeito do funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>sse órgão. Entretanto, este não é o caso do município <strong>de</strong><br />
São Carlos, situado no interior do estado, a aproxima<strong>da</strong>mente 235 km <strong>da</strong> Capital, como<br />
veremos adiante.<br />
3.2.3. O Panorama histórico dos Decretos em São Carlos/SP<br />
O município <strong>de</strong> São Carlos encontra-se <strong>na</strong> área central do estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />
tendo mais <strong>de</strong> 220 mil habitantes, caracterizando-se, assim, como ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> médio<br />
30 Escrita origi<strong>na</strong>l: “a indicação, a ser feita pelo respectivo Diretor <strong>de</strong> Escola, do Assistente <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong><br />
Escola, quando este for oriundo <strong>de</strong> outra uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar”. (A alínea “g” do inciso I do § 5º está com a<br />
re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><strong>da</strong> pela Lei Complementar nº 725/93, que foi revoga<strong>da</strong> pela Lei Complementar nº 836/97. Vi<strong>de</strong><br />
Comunicado SE <strong>de</strong> 31.3.86 sobre Conselho <strong>de</strong> Escola.) – retirado:<br />
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ccs/pebI/peb12005_166-236.pdf.
porte. Sua economia baseia-se, principalmente, <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial, tendo empresas<br />
volta<strong>da</strong>s para diversos setores, como têxteis, motores, compressores, eletrodomésticos,<br />
máqui<strong>na</strong>s, lápis, embalagens, tintas, equipamentos ópticos, entre outros. Conheci<strong>da</strong><br />
como a capital <strong>da</strong> tecnologia, possui duas renoma<strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas<br />
(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – <strong>UFSCar</strong> – e Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – USP –,<br />
esta com dois campi) e outras duas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s particulares, além <strong>de</strong> dois centros <strong>de</strong><br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Embrapa (Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária) e, também, a<br />
Fun<strong>da</strong>ção ParqTec, cujo objetivo é promover e gerenciar o <strong>de</strong>senvolvimento do pólo<br />
tecnológico no município, aliando, e transferindo, a tecnologia <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />
centros <strong>de</strong> pesquisa para as empresas (SÃO CARLOS, 2010b).<br />
São Carlos, <strong>de</strong> acordo com Conti e Luiz (2007b), consi<strong>de</strong>rando as orientações<br />
apresenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> legislação fe<strong>de</strong>ral, como a CF <strong>de</strong> 1988 e a LDB <strong>de</strong> 1996, através <strong>da</strong><br />
Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação e Cultura (SMEC – atualmente SME, Secretaria<br />
Municipal <strong>de</strong> Educação), incentivou e originou “a criação e mobilização dos conselhos<br />
<strong>de</strong> escola como parte <strong>da</strong> política <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> gestão pública” (p. 34). Mas para<br />
chegar, <strong>de</strong> fato, a tal <strong>de</strong>cisão, houve um processo.<br />
No ano <strong>de</strong> 1991 é cria<strong>da</strong>, no município, a primeira Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino<br />
Fun<strong>da</strong>mental (iniciando o atendimento aos alunos <strong>de</strong> 1ª a 4ª série, mais tar<strong>de</strong> aos <strong>de</strong> 5ª a<br />
8ª, agregando, recentemente, a Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos – EJA). Atualmente,<br />
possui 8 Escolas Municipais <strong>de</strong> Educação Básica (EMEB). Vale ressaltar que, embora<br />
previsto <strong>na</strong> Lei Orgânica Municipal, São Carlos nesta época não tinha implantado um<br />
Sistema Municipal <strong>de</strong> Ensino – o que ocorre em 2006 por meio <strong>da</strong> Lei nº 13.795 <strong>de</strong><br />
04/05/06 –, sendo subordi<strong>na</strong>do ao Sistema Estadual <strong>de</strong> Ensino no tangente às re<strong>de</strong>s<br />
municipal, estadual e particular, isto é, as <strong>de</strong>cisões burocrático-educacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>pendiam<br />
<strong>da</strong> aprovação <strong>da</strong> Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação (SEE), através <strong>da</strong> sua Diretoria <strong>de</strong><br />
Ensino.<br />
Da mesma forma, os <strong>CE</strong> <strong>da</strong> re<strong>de</strong> municipal norteavam-se pelas orientações<br />
estaduais, uma vez que não havia criado, ain<strong>da</strong>, uma legislação volta<strong>da</strong>,<br />
necessariamente, para o Conselho. Assim,<br />
50<br />
A primeira norma a regulamentar o funcio<strong>na</strong>mento do conselho <strong>de</strong> escola em<br />
São Carlos é <strong>de</strong> 1998, quando foi elaborado o Regimento Escolar Municipal,<br />
que atribuía aos conselhos as funções consultiva e <strong>de</strong>liberativa. Tal regimento<br />
baseava-se <strong>na</strong> Lei Complementar nº 444, <strong>de</strong> 27/12/85 (conheci<strong>da</strong> como<br />
Estatuto do Magistério) (CONTI; LUIZ, 2007a, p. 7).
Entretanto, São Carlos<br />
51<br />
coloca-se nesse período à parte do movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> gestão<br />
<strong>da</strong> escola, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que observamos nos Conselhos <strong>de</strong> Escola a ausência<br />
<strong>de</strong> uma participação ativa dos componentes do Conselho no processo<br />
<strong>de</strong>cisório voltado aos interesses <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e local (SILVA,<br />
2005, p. 46-47).<br />
To<strong>da</strong>via, o <strong>CE</strong> passou por uma reformulação, que “começa” em 2000 com a<br />
eleição <strong>de</strong> Newton Lima Neto (2001-2008) do Partido dos Trabalhadores (PT). Isso<br />
porque a nova administração entendia este colegiado como um meio <strong>de</strong> promover a<br />
<strong>de</strong>mocratização do espaço escolar e <strong>de</strong> sua gestão – concepção contrária <strong>da</strong> gestão<br />
municipal anterior –, <strong>de</strong> modo que, através <strong>de</strong> sua política educacio<strong>na</strong>l, “<strong>de</strong>cidiu<br />
ressuscitar os Conselhos, criados há tempos por outras administrações, porém nunca<br />
efetivamente implementados” (ibi<strong>de</strong>m, p. 47).<br />
Partindo <strong>de</strong>sta proposta mais <strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong> gestão escolar é que a Secretaria<br />
<strong>da</strong> Educação publica, em 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2001, a Portaria X, a qual, pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong> CF<br />
1988, <strong>na</strong> LDB/96, bem como no Estatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente (ECA), busca<br />
normatizar a organização e o funcio<strong>na</strong>mento do <strong>CE</strong> <strong>na</strong> re<strong>de</strong> municipal (LUIZ; CONTI,<br />
2007; SILVA, 2005), pon<strong>de</strong>rando em seu artigo 2º que<br />
Art. 2º A gestão <strong>da</strong> escola será <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> modo coletivo, envolvendo<br />
to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, sendo o Conselho <strong>de</strong> Escola a instância <strong>de</strong><br />
elaboração, <strong>de</strong>liberação, acompanhamento e avaliação do planejamento e do<br />
funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar (CONTI; LUIZ, 2007b, p. 41).<br />
Percebemos, então, a criação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> participação, através <strong>de</strong> “conselhos,<br />
em várias esferas e níveis” (ibi<strong>de</strong>m, 2007a, p. 5). Contudo, Silva (2005) aponta que<br />
mesmo com este processo <strong>de</strong> reformulação, a implementação dos Conselhos só<br />
aconteceria em 2003 com o funcio<strong>na</strong>mento efetivo <strong>de</strong>ste, <strong>de</strong>vido à mobilização <strong>da</strong><br />
SMEC para restaurar a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no <strong>CE</strong>, por meio <strong>da</strong> campanha<br />
“Aceita um Conselho?”, permea<strong>da</strong> por encontros <strong>de</strong> conselheiros, confecção <strong>de</strong> fol<strong>de</strong>r e<br />
<strong>de</strong> palestra com o Professor Dr. José Marcelino <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Pinto, no dia 20 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 2002, intitula<strong>da</strong> “Você aceita um conselho?” (CONTI; LUIZ, 2007a, 2007b; LUIZ;<br />
CONTI, 2007; SILVA, 2005).<br />
Dessa forma, tal esforço culminou no Decreto nº 11, <strong>de</strong> 05/02/03, que altera “a<br />
forma <strong>de</strong> representação nos conselhos, como também sua atuação, com o propósito <strong>de</strong><br />
aprimorar o processo <strong>de</strong>mocrático e participativo <strong>na</strong>s escolas municipais” (LUIZ;<br />
CONTI, 2007, p. 5). Silva (2005) coloca que este <strong>de</strong>creto
52<br />
... alterou o parágrafo único do Capítulo II do Conselho mencio<strong>na</strong>do<br />
inicialmente pela Portaria X <strong>de</strong> 20-02-2001, prevendo que a atuação e<br />
representação <strong>de</strong> qualquer dos integrantes do Conselho <strong>de</strong> Escola visará ao<br />
interesse dos educandos, inspira<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s e objetivos <strong>da</strong> educação<br />
pública <strong>de</strong> forma a garantir o processo <strong>de</strong>mocrático e participativo no interior<br />
<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares <strong>de</strong> São Carlos (p. 54-55).<br />
Luiz e Conti (2007) ressaltam que a composição <strong>de</strong>ste colegiado varia <strong>de</strong><br />
escola para escola, <strong>de</strong> acordo com o nível <strong>de</strong> ensino oferecido – <strong>na</strong> creche/educação<br />
infantil ele é formado por, no mínimo, quatro conselheiros; já nos outros níveis o<br />
máximo é vinte membros. Outro aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é que os diretores, indicados pelo<br />
prefeito, são membros <strong>na</strong>tos, mas não po<strong>de</strong>m ser presi<strong>de</strong>ntes (ao contrário dos <strong>CE</strong> <strong>da</strong>s<br />
escolas estaduais), to<strong>da</strong>via, lhes é conferido autori<strong>da</strong><strong>de</strong> e centralização <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
(CONTI; LUIZ, 2007b).<br />
Em 18/10/2006, criou-se a Lei nº 13.889 que serve como um Estatuto <strong>da</strong><br />
Educação, o qual trata <strong>da</strong> Gestão Democrática em São Carlos (Art. 9º), e no seu art. 10<br />
<strong>de</strong>fine que<br />
Art. 10. O Conselho <strong>de</strong> Escola, órgão consultivo e <strong>de</strong>liberativo, será<br />
instalado em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares manti<strong>da</strong>s pelo Município,<br />
conforme regulamentação específica.<br />
Parágrafo único. Os Conselhos <strong>de</strong> Escola <strong>de</strong>verão contar com a<br />
representação <strong>de</strong> pais ou responsáveis pelos alunos, <strong>de</strong> docentes e <strong>de</strong> outros<br />
profissio<strong>na</strong>is que atuam <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar (SÃO CARLOS, 2006, p. 3).<br />
Cabe pon<strong>de</strong>rar que o Decreto 203 <strong>de</strong> 13/06/2007 substitui o anteriormente<br />
citado (ibi<strong>de</strong>m, 2007b), além <strong>de</strong> regulamentar o artigo 10 <strong>da</strong> Lei Municipal nº 13.889.<br />
Tal <strong>de</strong>creto trata do <strong>CE</strong> <strong>de</strong> um modo geral, colocando suas atribuições, sua composição,<br />
eleição e funcio<strong>na</strong>mento (SÃO CARLOS, 2007). A<strong>de</strong>mais, aponta, em seu Art. 2º que<br />
Art. 2º O Conselho <strong>de</strong> Escola será um centro permanente <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e <strong>de</strong><br />
articulação entre os vários setores <strong>da</strong> escola, tendo em vista o atendimento<br />
<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s comuns e a solução dos conflitos que possam interferir no<br />
funcio<strong>na</strong>mento do estabelecimento <strong>de</strong> ensino e nos problemas<br />
administrativos, fi<strong>na</strong>nceiros e pe<strong>da</strong>gógicos (ibi<strong>de</strong>m, p. 1).<br />
O importante é “compreen<strong>de</strong>r que esse processo [<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do espaço<br />
escolar] não se efetiva [somente] por <strong>de</strong>cretos, portarias ou resoluções, mas é<br />
resultante, sobretudo, <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> participação” (LUIZ; CONTI, 2007,<br />
p, 4 – grifos meus) e, consequentemente, dos espaços que criamos para que esta ocorra<br />
<strong>de</strong> fato nesse ambiente.
3.3. Como funcio<strong>na</strong> o <strong>CE</strong> no município em questão<br />
Conforme pu<strong>de</strong>mos notar no panorama <strong>da</strong> legislação municipal, São Carlos<br />
vem buscando, ca<strong>da</strong> vez mais, instaurar a participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em seus<br />
Conselhos <strong>de</strong> Escola, visando a melhoria <strong>da</strong> educação pública, tanto que proporcionou<br />
uma reformulação neste colegiado, fazendo com que ele assumisse <strong>de</strong> fato seu caráter<br />
<strong>de</strong>liberativo, ao invés <strong>de</strong>, somente, ter funções consultivas, o que significou um avanço<br />
(SILVA, 2005).<br />
Nesse sentido, enten<strong>de</strong>ndo que<br />
53<br />
o Conselho é um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> dos que estão <strong>na</strong> escola, que chamam<br />
assembléias dos segmentos; animam candi<strong>da</strong>turas; fazem funcio<strong>na</strong>r<br />
regularmente o Conselho, levando até ele não ape<strong>na</strong>s as questões fi<strong>na</strong>nceiras;<br />
divulgam para todos os segmentos <strong>da</strong> escola as <strong>de</strong>cisões toma<strong>da</strong>s porque<br />
chegou o recurso do trimestre; que o reconhecem como legítimo espaço <strong>de</strong><br />
discussão e <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, envolvendo questões administrativas,<br />
pe<strong>da</strong>gógicas e fi<strong>na</strong>nceiras (WERLE, 2003, p. 60 apud SILVA, 2005, p. 61).<br />
é que a Secretaria <strong>da</strong> Educação tem feito parcerias com a <strong>UFSCar</strong>, objetivando a<br />
capacitação dos membros do <strong>CE</strong>. Para tanto, segundo Luiz e Conti (2007), foram<br />
oferecidos cursos <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong>, o primeiro em 2006, intitulado “A gestão <strong>da</strong><br />
escola pública e o conselho escolar”, voltado, principalmente, a “capacitar diretores,<br />
professores, funcionários, pais e alunos para as funções <strong>de</strong> conselheiros, com o intuito<br />
<strong>de</strong> revigorar e fortalecer os conselhos escolares <strong>da</strong>s escolas municipais” (p. 5-6), o qual<br />
baseou-se <strong>na</strong> discussão <strong>de</strong> algumas temáticas, além <strong>de</strong> “privilegiar a ‘fala’ dos<br />
conselheiros” (p. 6).<br />
Já no ano <strong>de</strong> 2007, elaborou-se “uma nova proposta <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong><br />
com os conselheiros recém eleitos” (ibi<strong>de</strong>m) e ao contrário do curso anterior,<br />
direcionou-se, somente, aos presi<strong>de</strong>ntes e vice-presi<strong>de</strong>ntes dos <strong>CE</strong>, mas contou com a<br />
participação <strong>de</strong> alguns diretores e supervisores <strong>de</strong> ensino, fazendo reflexões a partir <strong>de</strong><br />
temáticas que surgiram <strong>na</strong>s falas dos cursistas em 2006.<br />
Contudo, como em muitos municípios, os Conselhos <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong> São Carlos<br />
ain<strong>da</strong> encontram certa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para se manter atuante. Isso se dá pelo fato <strong>de</strong> que<br />
ain<strong>da</strong> vivemos em uma cultura <strong>da</strong> “não participação”, sendo que isto acontece pelos<br />
mais diferentes motivos: por não querer, não ver sentido, não se sentir parte (tanto <strong>da</strong><br />
escola como do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão) ou não se sentir capacitado e, também, por não ter<br />
espaço – já que há casos em que ocorre uma “falsa” <strong>de</strong>mocracia, <strong>na</strong> qual o diretor <strong>de</strong>tém<br />
o po<strong>de</strong>r e a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão.
Vale salientar que as relações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (pais/responsáveis e alunos) com<br />
a escola foi mu<strong>da</strong>ndo com o tempo, per<strong>de</strong>ndo-se a confiabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> fala <strong>da</strong><br />
escola, o que gera um afastamento entre elas. Para tanto, <strong>de</strong>ve-se, inicialmente, resgatar<br />
o sentimento <strong>de</strong> pertencimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto à escola, restabelecendo tal<br />
relação, já que “Isso resultaria no compromisso, por parte <strong>de</strong> todos, com o projeto<br />
educacio<strong>na</strong>l coletivo <strong>da</strong> escola, pois as pessoas se comprometem com aquilo que tem a<br />
ver com elas e com o que acreditam” (LUIZ; CONTI, 2007, p. 2).<br />
A SME vem trabalhando nesse sentido, <strong>de</strong> fortalecer seus <strong>CE</strong> para que as<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s vejam, enfim, a importância <strong>de</strong> sua participação. Tanto que, mais uma<br />
vez, possibilitou, por meio <strong>da</strong> parceria <strong>UFSCar</strong>/MEC (Ministério <strong>da</strong> Educação), que<br />
técnicos <strong>da</strong> Secretaria realizassem um Curso <strong>de</strong> “Formação continua<strong>da</strong> a distância em<br />
Conselhos Escolares” 31 , cujo ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para as reflexões são os ca<strong>de</strong>rnos do<br />
Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares (PNF<strong>CE</strong>) 32 , que articula<br />
este colegiado às mais varia<strong>da</strong>s temáticas (SEB, 2004a,b,c,d,e,f; 2006a,b,c,d,e; 2008).<br />
Este curso aconteceu no 2º semestre <strong>de</strong> 2009 e no 1º <strong>de</strong> 2010, tendo como princípio que<br />
os cursistas tornem-se multiplicadores <strong>de</strong>sses aprendizados.<br />
Paralelamente a tal processo, e com o intuito <strong>de</strong> melhor divulgar e estimular a<br />
participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em suas escolas, nos diversos espaços que estas<br />
proporcio<strong>na</strong>m e, principalmente, nos Conselhos, enten<strong>de</strong>ndo que tal ação “é<br />
indispensável para garantir a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação” (SÃO CARLOS, 2010a, p. 1),<br />
bem como auxilia <strong>na</strong> construção <strong>de</strong> uma escola mais ci<strong>da</strong>dã, é que a SME <strong>de</strong> São Carlos<br />
distribuiu <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares um fol<strong>de</strong>r explicativo intitulado “Saiba mais sobre o<br />
Conselho <strong>de</strong> Escola” 33 , objetivando explicar e incentivar os pais e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />
geral a se candi<strong>da</strong>tarem a membros do <strong>CE</strong> <strong>na</strong> escola que pertencem.<br />
Enfim, pu<strong>de</strong>mos perceber que o município <strong>de</strong> São Carlos, por meio <strong>de</strong> sua<br />
Secretaria <strong>da</strong> Educação, preocupa-se com, e busca, uma educação <strong>de</strong> boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
uma gestão escolar <strong>de</strong>mocrática e participativa, <strong>de</strong> modo que fomenta, <strong>da</strong>s mais diversas<br />
formas, este processo, compreen<strong>de</strong>ndo que “um conselho não existe ape<strong>na</strong>s por<br />
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções legais, mas <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que pessoas se dispõem a contribuir para o<br />
31 Esta formação continua<strong>da</strong> trata-se <strong>de</strong> uma parceria entre o MEC e diversas Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais, <strong>de</strong><br />
modo que gerou um Banco <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Conselhos Escolares com relatos – disponível em:<br />
http://banco<strong>de</strong>experienciasce.mec.gov.br/.<br />
32 O PNF<strong>CE</strong> encontra-se <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente apresentado no site do MEC – disponível em:<br />
http://portal.mec.gov.br/in<strong>de</strong>x.php?option=com_content&view=article&id=12384:conselhos-escolaresapresentacao&catid=316:conselhos-escolares&Itemid=655.<br />
33 Ver anexo A <strong>de</strong>ste <strong>TCC</strong>.<br />
54
grupo, a (re) construir a proposta <strong>da</strong> escola pública” (WERLE, 2003, p. 60 apud SILVA,<br />
2005, p. 61). Assim, pautando-nos nesta colocação é que faremos algumas<br />
consi<strong>de</strong>rações acerca do potencial <strong>de</strong>mocrático do <strong>CE</strong>, por entendê-lo como um<br />
momento <strong>de</strong> ação comunicativa.<br />
55
Algumas consi<strong>de</strong>rações...<br />
A partir <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as discussões e reflexões apresenta<strong>da</strong>s no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste<br />
trabalho, que refere-se aos conhecimentos adquiridos ao longo dos 4 anos <strong>da</strong> graduação,<br />
é que apresentamos algumas consi<strong>de</strong>rações acerca do potencial <strong>de</strong>mocrático dos<br />
Conselhos <strong>de</strong> Escola <strong>na</strong> <strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> <strong>de</strong> Jürgen Habermas, com o<br />
intuito <strong>de</strong> auxiliá-los para melhorias. Para tanto, retomamos o que foi tratado ao longo<br />
<strong>de</strong>ste <strong>TCC</strong>.<br />
No primeiro capítulo abor<strong>da</strong>mos a TAC, <strong>de</strong>stacando, principalmente, quatro<br />
conceitos centrais em seu pensamento: racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, agir comunicativo, interação<br />
social (através <strong>da</strong> linguagem, entendi<strong>da</strong> pelo autor como um meio para efetivar a<br />
comunicação, pois forma pensamentos) e o entendimento (que possibilita a<br />
emancipação), os quais nos aju<strong>da</strong>m a refletir sobre a educação, mais especificamente <strong>na</strong><br />
busca por uma gestão, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>mocrática, por meio <strong>de</strong> colegiados, como o <strong>CE</strong>.<br />
Quanto ao segundo, retratamos as políticas públicas e a relação com a<br />
instituição escolar, salientando as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> possui (cultura<br />
organizacio<strong>na</strong>l) e a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em seus diversos espaços, que dão base<br />
para a garantia <strong>de</strong> uma gestão <strong>de</strong>mocrática.<br />
Conceitualizamos, no terceiro, o órgão consi<strong>de</strong>rado como locus <strong>de</strong> uma gestão<br />
<strong>de</strong>mocrática, o <strong>CE</strong>, <strong>de</strong> modo que apresentamos o panorama para a concretização <strong>de</strong>ste<br />
nos âmbitos fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal – tomando por base a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do município<br />
<strong>de</strong> São Carlos/SP no <strong>de</strong>correr do processo <strong>de</strong> reformulação <strong>de</strong>ste espaço participativo<br />
<strong>de</strong>mocrático.<br />
que<br />
A fim <strong>de</strong> atingir nosso objetivo, ressaltamos, com base em Tuppy (1997, p. 28),<br />
56<br />
A principal contribuição <strong>da</strong> Teoria Crítica à Administração Escolar,<br />
especificamente, é a orientação que dá sentido <strong>de</strong> preparar os indivíduos para<br />
a crítica e para a participação numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, <strong>na</strong> qual as ações<br />
individuais <strong>de</strong>vem ser soma<strong>da</strong>s como meio <strong>de</strong> alcançar transformações<br />
sociais pretendi<strong>da</strong>s. A partir do consenso, talvez seja possível resgatar o<br />
sentido humanitário <strong>da</strong>s relações, perdido <strong>na</strong> diminuição <strong>da</strong>s ações<br />
comunicativas.<br />
A gestão escolar, no nosso enten<strong>de</strong>r e concor<strong>da</strong>ndo com Boufleuer (1998) e<br />
Tuppy (1997), <strong>de</strong>ve coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r as <strong>de</strong>cisões (as quais têm que basear-se <strong>na</strong> vonta<strong>de</strong><br />
coletiva) e não tomá-las solitariamente, apesar <strong>de</strong> assumir uma “tarefa eminentemente
política” (p. 91), logo, <strong>de</strong>ve pautar-se, necessariamente, <strong>na</strong> <strong>de</strong>mocracia, que Habermas<br />
(apud PINTO, 1994) sugere como processual.<br />
Para se conseguir uma gestão <strong>de</strong>mocrática é preciso haver uma participação<br />
efetiva dos envolvidos com a instituição, <strong>de</strong>scentralizando o po<strong>de</strong>r e as toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong>senvolvendo um processo <strong>de</strong> ação comunicativa baseado em diálogos<br />
igualitários e argumentações (levando em conta as pretensões e não a posição social dos<br />
sujeitos), visando, sempre, o que é melhor para o coletivo em questão (frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
em que se encontram) através do entendimento/consenso.<br />
Boufleuer (1998) enten<strong>de</strong> que<br />
57<br />
À luz <strong>da</strong> teoria habermasia<strong>na</strong> é possível a<strong>na</strong>lisar a escola, no que diz respeito<br />
à sua dimensão institucio<strong>na</strong>l e administrativa, sob o ponto <strong>de</strong> vista dos<br />
componentes do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do sistema que a atravessam e condicio<strong>na</strong>m<br />
o seu funcio<strong>na</strong>mento (p. 87).<br />
Dessa maneira, po<strong>de</strong>mos perceber que <strong>na</strong> esfera educacio<strong>na</strong>l/escolar, <strong>de</strong> um<br />
modo geral, e consequentemente <strong>na</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong>sta, coexistem as duas<br />
integrações apresenta<strong>da</strong>s por Habermas: a social (que diz respeito ao mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> – a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> UE) e a sistêmica (normas, políticas educacio<strong>na</strong>is).<br />
Habermas (apud PINTO, 1994) enten<strong>de</strong> que a escola, <strong>de</strong>vido às suas<br />
características, “<strong>de</strong>man<strong>da</strong> mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que levem em conta a participação <strong>de</strong><br />
todos aqueles envolvidos no processo educativo” (p. ix), isso porque tal instituição sofre<br />
uma colonização do seu mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pelo sistema, e em contraposição a ela Pinto<br />
(ibi<strong>de</strong>m) aponta os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, como o <strong>CE</strong>, que “po<strong>de</strong>m então ser<br />
entendidos [...] como uma tentativa do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> resgatar seus domínios que<br />
foram tomados pela burocratização <strong>da</strong> escola” (p. 4). Assim, é válido “... fortalecer o<br />
papel do Conselho <strong>de</strong> Escola enquanto agente <strong>de</strong> fomento à autonomia <strong>da</strong> escola”<br />
(ibi<strong>de</strong>m, p. 9), complementando, Luiz e Conti (2007, p. 4) pontuam que<br />
O incremento dos mecanismos <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> escola, em especial do<br />
conselho <strong>de</strong> escola, po<strong>de</strong>-se apresentar como uma alter<strong>na</strong>tiva criativa para<br />
envolver os diferentes segmentos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s local e escolar <strong>na</strong>s<br />
questões e problemas vivenciados pela escola. Esse processo, certamente,<br />
possibilitaria um aprendizado coletivo, cujo resultado po<strong>de</strong>ria ser o<br />
fortalecimento <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática...<br />
Silva (2005) compreen<strong>de</strong> que<br />
O Conselho <strong>de</strong> Escola como um dos mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia participativa<br />
propicia ao indivíduo que <strong>de</strong>le faz parte passar <strong>de</strong> mero espectador <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
escolar para influir <strong>de</strong>cisivamente nos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, não<br />
esgotando sua participação no mero voto, mas como elo <strong>de</strong> uma corrente <strong>de</strong><br />
vonta<strong>de</strong>s que pren<strong>da</strong> a gestão <strong>da</strong> escola à execução <strong>da</strong>s diretrizes
<strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelas próprias vonta<strong>de</strong>s <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar junto aos outros<br />
po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>senvolvido <strong>na</strong> escola (p. 16).<br />
Nesse sentido, a autora pon<strong>de</strong>ra que<br />
58<br />
A toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pela via do consenso ocorre tendo como pano <strong>de</strong> fundo<br />
o amplo <strong>de</strong>bate <strong>da</strong>s idéias expostas pelos conselheiros e a discussão dos<br />
assuntos colocados ao Conselho para serem solucio<strong>na</strong>dos, privilegiando-se o<br />
ouvir o que o outro tem a dizer. Isto porque, no diálogo, rompe-se com<br />
esquemas verticais <strong>de</strong> relações, com relações <strong>de</strong> cima para baixo, com<br />
relações autoritárias. Assim, ambos os sujeitos do processo crescem juntos e<br />
os argumentos <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> já não valem mais (SILVA, 2005, p. 99).<br />
Diante disso, percebemos que há, através do diálogo igualitário/<strong>da</strong> ação<br />
comunicativa, possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos indivíduos participarem efetivamente nos contextos<br />
escolares, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> posição social que ocupam, já que o que interessa é a<br />
força do argumento. E este processo privilegia a autonomia e emancipação <strong>de</strong>sses<br />
sujeitos, permitindo-lhes, além <strong>de</strong> terem um ganho riquíssimo <strong>na</strong> aprendizagem,<br />
modificarem sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (PASETTO; LUIZ, 2010).<br />
Contudo, sabemos que, em muitos casos, a gestão <strong>de</strong> uma escola apo<strong>de</strong>ra-se do<br />
direito e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar as <strong>de</strong>cisões que abrangem a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar<br />
como um todo, <strong>de</strong> modo que o fazem <strong>de</strong> acordo com o que acham ser melhor, além <strong>de</strong><br />
não “abrir as portas” para que os interessados possam participar e <strong>de</strong>cidir, enquanto<br />
coletivo, o que consi<strong>de</strong>ram mais importante e necessário frente ao seu contexto<br />
(ibi<strong>de</strong>m).<br />
Pinto (1996 apud BOUFLEUER, 1998, p. 87-88)<br />
conclui que esse Conselho contribui significativamente para a ampliação <strong>da</strong><br />
dinâmica comunicativa no âmbito <strong>da</strong> escola, mesmo que por vezes sofra<br />
interferências sistêmicas dos processos <strong>de</strong> mercantilização e <strong>de</strong><br />
burocratização <strong>da</strong> administração escolar.<br />
To<strong>da</strong>via, vale refletir que, no caso do <strong>CE</strong>, há momentos em que o mundo<br />
sistêmico prevalece, <strong>de</strong> forma que, segundo Gomes (2007), <strong>na</strong> ação comunicativa<br />
chega-se ao êxito, e não ao consenso, isso porque, ao contrário do que Habermas<br />
propõe, muitas vezes encontramos situações em que atinge-se o entendimento por meio<br />
<strong>de</strong> votação, falseando tal processo, o que o caracteriza como uma ação dramatúrgica e<br />
não comunicativa (PINENT, 2004), sendo que, teoricamente, se chegassem a um<br />
consenso, não seria necessário votar – o voto serve para “vali<strong>da</strong>r” uma discussão<br />
(PINTO, 1994).<br />
Enfim, “O confiar no outro, ouvir o que tem a dizer implica envolver a<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar no processo <strong>de</strong>cisório também” (SILVA, 2005, p. 99), por meio <strong>de</strong><br />
uma ação comunicativa.
Portanto, notamos que o Conselho <strong>de</strong> Escola, enquanto um espaço <strong>de</strong><br />
participação e <strong>de</strong> concretização <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática, é propício para a realização <strong>de</strong><br />
uma ação comunicativa, uma vez que busca a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do coletivo,<br />
utilizando-se do diálogo, <strong>da</strong> argumentação, pautados <strong>na</strong>s pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />
chegar a um consenso/entendimento do que é prioritário.<br />
Desse modo, acreditamos que a partir do momento que as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolar<br />
e local se sentem parte/se envolvem com as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> sua UE, comprometem-se com<br />
a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacio<strong>na</strong>l, bem como <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, possibilitando, a<br />
todos, uma formação crítica, emancipatória e autônoma, ao valorizar seus mundos <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>.<br />
59
Referências Bibliográficas<br />
ANTUNES, M. do N. V.; RAMOS, L. M. A. Conhecendo os caminhos <strong>da</strong> Teoria<br />
Crítica. Revista online Biblioteca Prof. Joel Martins, Campi<strong>na</strong>s, v.2, n.1, out. 2000.<br />
Disponível em<br />
. Acesso em:<br />
13 abr. 2010.<br />
AZEVEDO, J. M. L. <strong>de</strong>. Programas fe<strong>de</strong>rais para a gestão <strong>da</strong> educação: continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
mu<strong>da</strong>nças. Revista Brasileira <strong>de</strong> Política e Administração <strong>da</strong> Educação (RBPAE),<br />
Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 211-231, maio/ago. 2009.<br />
BANNELL, R. I. Habermas & a Educação. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2006.<br />
Coleção Pensadores & Educação.<br />
BARROSO, J. A formação dos professores e a mu<strong>da</strong>nça organizacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s escolas. In:<br />
FERREIRA, N. S. C. (Org.). Formação continua<strong>da</strong> e gestão <strong>da</strong> educação. São Paulo:<br />
Cortez, 2003. p. 117-144.<br />
BOUFLEUER, J. P. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> ação comunicativa: uma leitura <strong>de</strong> Habermas. 2.ed.<br />
Ijuí, RS: UNIJUÍ, 1998.<br />
BRASIL. Constituição Fe<strong>de</strong>ral – Carta <strong>de</strong> 1988. 1988. Disponível em:<br />
. Acesso<br />
em: 05 jun. 2009.<br />
______. Decreto nº 6.094 <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2007: dispõe sofre a implementação do<br />
Plano <strong>de</strong> Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Fe<strong>de</strong>ral, em regime <strong>de</strong><br />
colaboração com Municípios, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Estados, e a participação <strong>da</strong>s famílias e<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, mediante programas e ações <strong>de</strong> assistência técnica e fi<strong>na</strong>nceira, visando<br />
a mobilização social pela melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação básica. Brasília. 2007.<br />
Disponível em: . Acesso em: 14 out. 2010.<br />
______. Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacio<strong>na</strong>l: Lei 9394/96. Brasília 20 <strong>de</strong><br />
Dezembro <strong>de</strong> 1996. Disponível em:<br />
. Acesso em: 06 jun. 2009.<br />
______. Lei nº 10.172 <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2001: aprova o Plano Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação<br />
e dá outras providências. Brasília. 2001. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14 out.<br />
2010.<br />
CONTI, C.; LUIZ, M. C. O papel dos conselhos <strong>de</strong> escola no sistema municipal <strong>de</strong><br />
ensino. 30ª Reunião Anual <strong>da</strong> ANPEd, 2007, Caxambú – GT 05: Estado e Política<br />
Educacio<strong>na</strong>l. A<strong>na</strong>is... Caxambú, MG: A<strong>na</strong>is <strong>da</strong> ANPEd, 2007a. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14<br />
out. 2010.<br />
60
______. Políticas Públicas e Gestão Democrática: o funcio<strong>na</strong>mento do conselho escolar<br />
no sistema municipal <strong>de</strong> ensino. Educação: Teoria e Prática, Rio Claro, v. 17, n. 29, p.<br />
33-50, jul./<strong>de</strong>z. 2007b. Disponível em:<br />
. Acesso em: 15 abr. 2010.<br />
CONTI, C. L. A.; SILVA, F. C. <strong>da</strong>. Gestão Democrática <strong>da</strong> Educação e Conselhos <strong>de</strong><br />
Escola. XXIII Congresso Brasileiro e III Simpósio Interamericano <strong>de</strong> Políticas e<br />
Administração <strong>da</strong> Educação – Direitos Humanos e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia: <strong>de</strong>safios para as políticas<br />
públicas e a gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>da</strong> educação, ago./2009, Vitória – ES. A<strong>na</strong>is... Vitória:<br />
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> ANPAE, v. 8, 2009.<br />
DELORS, J. Educação: um tesouro a <strong>de</strong>scobrir – Relatório para a UNESCO <strong>da</strong><br />
Comissão Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília,<br />
DF: MEC/UNESCO, 2006.<br />
FIEDLER, R. C. do P. A teoria <strong>da</strong> ação comunicativa <strong>de</strong> habermas e uma nova proposta<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentos e emancipação do humano. Revista Educação, Guarulhos (UnG),<br />
v. 1, n. 1, p. 93-100, 2006. Disponível em:<br />
.<br />
FONSECA, M.; OLIVEIRA, J. F. <strong>de</strong>. A gestão escolar no contexto <strong>da</strong>s recentes<br />
reformas educacio<strong>na</strong>is brasileiras. Revista Brasileira <strong>de</strong> Política e Administração <strong>da</strong><br />
Educação (RBPAE), Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 233-246, maio/ago. 2009.<br />
GOMES, L. R. Educação e consenso em Habermas. Campi<strong>na</strong>s: Alínea, 2007.<br />
GONÇALVES, M. A. S. Teoria <strong>da</strong> ação comunicativa <strong>de</strong> Habermas: possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
uma ação educativa <strong>de</strong> cunho interdiscipli<strong>na</strong>r <strong>na</strong> escola. Educação & Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
Campi<strong>na</strong>s, a. 20, n. 66, p. 125-140, abr. 1999. Disponível em:<br />
.<br />
LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão <strong>da</strong> Escola: teoria e prática. Goiânia:<br />
Alter<strong>na</strong>tiva, 2001. p. 75-107.<br />
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. O sistema <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong><br />
gestão <strong>da</strong> escola: teoria e prática. In: ______. Educação Escolar: políticas, estrutura e<br />
organização. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009. (Col. Docência em Formação).<br />
LIMA, L. A escola como organização educativa. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. p.<br />
93-135.<br />
______. Organização escolar e <strong>de</strong>mocracia radical: Paulo Freire e a gover<strong>na</strong>ção<br />
<strong>de</strong>mocrática <strong>da</strong> escola pública. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002.<br />
LÜCK, H. A gestão Participativa <strong>na</strong> escola. 3. ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008. Série<br />
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Gestão – vol. III.<br />
61
LÜCK, H. et. al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 4. ed. Petrópolis,<br />
RJ: Vozes, 2007. p. 55-101.<br />
LUIZ, M. C.; CONTI, C. Políticas Públicas Municipais: os conselhos escolares como<br />
instrumento <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática e formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. 16º Congresso <strong>de</strong> Leitura<br />
do Brasil (COLE), 2007, Campi<strong>na</strong>s – VI Seminário “Educação, Políticas Públicas<br />
e Pessoas com Deficiência”. A<strong>na</strong>is... Campi<strong>na</strong>s, SP: Brasil Dream Tour, <strong>CE</strong>L UNICAMP<br />
(Centro <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Línguas), Editora <strong>da</strong> UNICAMP, 2007. Disponível em:<br />
. Acesso em: 15 abr.<br />
2010.<br />
MENDONÇA, E. F. A Gestão Democrática nos Sistemas <strong>de</strong> Ensino Brasileiros: a<br />
intenção e o gesto. Disponível em<br />
. Acesso em: 27 abr. 2010.<br />
MORGADO, I. S. Teoria Crítica. In: Dicionário <strong>de</strong> Filosofia Moral e Política.<br />
Instituto <strong>de</strong> Filosofia <strong>da</strong> Linguagem. Lisboa (Pt). s/d. Disponível em<br />
. Acesso em: 13 abr. 2010.<br />
MOTTA, F. C. P. Cultura e Organizações no Brasil. In: MOTTA, F. C. P., CALDAS,<br />
M. P. (Org.). Cultura Organizacio<strong>na</strong>l e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997.<br />
OLIVEIRA, D. A. As políticas públicas educacio<strong>na</strong>is no governo Lula: rupturas e<br />
permanências. Revista Brasileira <strong>de</strong> Política e Administração <strong>da</strong> Educação<br />
(RBPAE), Porto Alegre, v. 25, n. 2, p. 197-209, maio/ago. 2009.<br />
OYAFUSO, A.; MAIA, E. Plano Escolar: caminho para a autonomia. São Paulo:<br />
Editora Biruta, 2004.<br />
PARO, V. H. Estrutura <strong>da</strong> escola e educação como prática <strong>de</strong>mocrática. In: CORREA,<br />
B. C.; GARCIA, T. O. (Org.). Políticas Educacio<strong>na</strong>is e organização do trabalho <strong>na</strong><br />
escola. São Paulo: Xamã, 2008. p. 11-37.<br />
PASETTO, J. P. A participação <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes em escolas Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Aprendizagem: formação para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e emancipação por meio <strong>da</strong> valorização do<br />
mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. XXIII Congresso Brasileiro e III Simpósio Interamericano <strong>de</strong> Políticas e<br />
Administração <strong>da</strong> Educação – Direitos Humanos e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia: <strong>de</strong>safios para as políticas<br />
públicas e a gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>da</strong> educação, ago./2009, Vitória – ES. A<strong>na</strong>is... Vitória:<br />
Ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> ANPAE, v. 8, 2009.<br />
PASETTO, J. P.; LUIZ, M. C. Escolas Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Aprendizagem: a <strong>Ação</strong><br />
<strong>Comunicativa</strong> <strong>de</strong> Habermas e o Conceito <strong>de</strong> Aprendizagem Dialógica. VII Congresso<br />
Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Teoria Crítica: Natureza, socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: crises – Eixo: Teoria Crítica e<br />
Educação, set./2010, Campi<strong>na</strong>s – SP. A<strong>na</strong>is... Campi<strong>na</strong>s: IEL/UNICAMP, 2010.<br />
PINENT, C. E. <strong>da</strong> C. Sobre os mundos <strong>de</strong> Habermas e sua ação comunicativa. Revista<br />
<strong>da</strong> ADPPUCRS, Porto Alegre, n. 5, p. 49-56, <strong>de</strong>z. 2004. Disponível em:<br />
.<br />
62
PINTO, J. M. <strong>de</strong> R. Administração e Liber<strong>da</strong><strong>de</strong>: um estudo do Conselho <strong>de</strong> Escola à luz<br />
<strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> ação comunicativa <strong>de</strong> Jürgen Habermas. Tese (Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação).<br />
Campi<strong>na</strong>s, SP: UNICAMP, 1994, 171 p.<br />
QUAGLIO, P. Gestão <strong>da</strong> educação e dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong> problematizadora. Revista<br />
Brasileira <strong>de</strong> Política e Administração <strong>da</strong> Educação (RBPAE), Porto Alegre, v. 25,<br />
n. 1, p. 139-153, jan/abr. 2009.<br />
REESE-SCHÄFER, W. Compreen<strong>de</strong>r Habermas. Tradução <strong>de</strong>: Vilmar Schnei<strong>de</strong>r.<br />
2.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 44-63, 83-105. Série Compreen<strong>de</strong>r.<br />
SÃO CARLOS (Estado <strong>de</strong> São Paulo). Decreto-Lei nº 11 <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2003:<br />
institui o Conselho <strong>de</strong> Escola <strong>na</strong> re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> São Carlos e dá outras<br />
providências. São Carlos: Prefeitura Municipal. 2003.<br />
______. Decreto nº 203 <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2007: regulamenta o artigo 10 <strong>da</strong> Lei<br />
Municipal nº 13.889 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006. São Carlos: Prefeitura Municipal. 2007.<br />
Disponível em:<br />
. Acesso em: 14 out. 2010.<br />
______. Lei Municipal nº 13.889 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2006: Estatuto <strong>da</strong> Educação.<br />
São Carlos: Prefeitura Municipal. 2006. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14 out. 2010.<br />
______. Saiba mais sobre o Conselho <strong>de</strong> Escola (FOLDER). São Carlos: Prefeitura<br />
Municipal. 2010a. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14 out. 2010.<br />
______. Site <strong>da</strong> Prefeitura Municipal <strong>de</strong> São Carlos – Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>: conheça São Carlos.<br />
São Carlos: Prefeitura Municipal. 2010b. Disponível em:<br />
.<br />
SÃO PAULO (Estado). Lei Complementar nº 444 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1985:<br />
dispõe sobre o Estatuto do Magistério Paulista e dá providências correlatas. São Paulo.<br />
1985. Disponível em:<br />
. Acesso em: 14 out. 2010.<br />
SANDER, B. (Org.). Construindo quatro mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> administração <strong>da</strong> educação. In:<br />
______. Administração <strong>da</strong> Educação no Brasil: genealogia do conhecimento. Brasília<br />
– DF: Líber Livro, 2007. p. 73-135.<br />
SANTOS FILHO, J. C. dos. Democracia Institucio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> escola: discussão teórica. Rev.<br />
<strong>de</strong> Administração Educacio<strong>na</strong>l, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Per<strong>na</strong>mbuco, Recife, v.1,<br />
n.2, 1-36, jan./jun. 1998.<br />
63
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Conselho Escolar: uma estratégia <strong>de</strong> gestão<br />
<strong>de</strong>mocrática <strong>da</strong> educação pública (Introdução). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2004a.<br />
Disponível em: .<br />
______. Conselhos Escolares: Democratização <strong>da</strong> escola e construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
(Ca<strong>de</strong>rno 1). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos<br />
Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2004b. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar e a aprendizagem <strong>na</strong> escola (Ca<strong>de</strong>rno 2). In: ______.<br />
Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília – DF:<br />
MEC/SEB, 2004c. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e <strong>da</strong> cultura do estu<strong>da</strong>nte<br />
e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (Ca<strong>de</strong>rno 3). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos<br />
Conselhos Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2004d. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar e o aproveitamento significativo do tempo pe<strong>da</strong>gógico<br />
(Ca<strong>de</strong>rno 4). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos<br />
Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2004e. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar, gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>da</strong> educação e escolha do diretor<br />
(Ca<strong>de</strong>rno 5). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos<br />
Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2004f. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar como Espaço <strong>de</strong> Formação Huma<strong>na</strong>: círculo <strong>de</strong> cultura e<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação (Ca<strong>de</strong>rno 6). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />
Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2006a.<br />
Disponível em: .<br />
______. Conselho Escolar e o fi<strong>na</strong>nciamento <strong>da</strong> educação no Brasil (Ca<strong>de</strong>rno 7). In:<br />
______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília –<br />
DF: MEC/SEB, 2006b. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar e a valorização dos trabalhadores em educação (Ca<strong>de</strong>rno 8).<br />
In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília<br />
– DF: MEC/SEB, 2006c. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar e a educação do campo (Ca<strong>de</strong>rno 9). In: ______. Programa<br />
Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB,<br />
2006d. Disponível em:<br />
.<br />
64
______. Conselho Escolar e a relação entre a escola e o <strong>de</strong>senvolvimento com igual<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
social (Ca<strong>de</strong>rno 10). In: ______. Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos<br />
Conselhos Escolares. Brasília – DF: MEC/SEB, 2006e. Disponível em:<br />
.<br />
______. Conselho Escolar e Direitos Humanos (Ca<strong>de</strong>rno 11). In: ______. Programa<br />
Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília – DF:<br />
SEDH/MEC/SEB, 2008. Disponível em:<br />
.<br />
SILVA, G. R. <strong>da</strong>. O Conselho <strong>de</strong> escola em ação. Dissertação (em Educação). São<br />
Carlos, SP: <strong>UFSCar</strong>/PPGE, 2005. 107 p.<br />
TEIXEIRA, L. H. G. A organização escolar percebi<strong>da</strong> em sua dimensão cultural. In:<br />
______. Cultura organizacio<strong>na</strong>l e projeto <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça em escolas públicas.<br />
Campi<strong>na</strong>s, SP: Autores Associados, 2002. p. 39-63.<br />
TUPPY, M. I. N. Teoria Crítica e Administração Escolar. Educação: Teoria e Prática,<br />
Rio Claro, v. 5, n. 8/9, p. 23-28, jan.-jun.e jul.-<strong>de</strong>z./1997. Disponível em:<br />
.<br />
VIEIRA, S. L. Política(s) e Gestão <strong>da</strong> Educação Básica: revisitando conceitos simples.<br />
Revista Brasileira <strong>de</strong> Política e Administração <strong>da</strong> Educação (RBPAE), Porto<br />
Alegre, v. 23, n. 1, p. 53-69, jan./abr. 2007.<br />
65
ANEXO A –<br />
Fol<strong>de</strong>r:<br />
“Saiba mais sobre o Conselho <strong>de</strong> Escola”<br />
66