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TCC - CE na perspectiva da Ação Comunicativa de ... - UFSCar

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Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – <strong>UFSCar</strong><br />

Centro <strong>de</strong> Educação e Ciências Huma<strong>na</strong>s – <strong>CE</strong>CH<br />

Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia<br />

CONSELHOS ESCOLARES NA PERSPECTIVA DA<br />

AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS<br />

São Carlos<br />

2010<br />

Julia Pires Pasetto


Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – <strong>UFSCar</strong><br />

Centro <strong>de</strong> Educação e Ciências Huma<strong>na</strong>s – <strong>CE</strong>CH<br />

Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia<br />

CONSELHOS ESCOLARES NA PERSPECTIVA DA<br />

AÇÃO COMUNICATIVA DE HABERMAS<br />

Julia Pires Pasetto – RA: 290050<br />

São Carlos<br />

2010<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong><br />

Curso (<strong>TCC</strong>) apresentado como<br />

exigência para a obtenção do<br />

título <strong>de</strong> licencia<strong>da</strong> em<br />

Pe<strong>da</strong>gogia do Curso <strong>de</strong><br />

Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />

<strong>UFSCar</strong>, sob a orientação <strong>da</strong><br />

Profª Drª Maria Cecília Luiz.


Dedico este trabalho...<br />

Às pessoas que consi<strong>de</strong>ro muito importantes em minha<br />

vi<strong>da</strong>, sem as quais esta jor<strong>na</strong><strong>da</strong> não seria possível e tão menos<br />

prazerosa, e pu<strong>de</strong> contar sempre com o apoio, carinho e<br />

compreensão: Deus, minha mãe Elisabete (Bete), meu pai<br />

Percival (Percy) e meu irmão Ta<strong>de</strong>u (Tato).


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

caminha<strong>da</strong>:<br />

Agra<strong>de</strong>ço a todos que, direta ou indiretamente, me auxiliaram nesta longa<br />

A Deus, por ser minha base espiritual, um exemplo <strong>de</strong> força e coragem, com<br />

quem sei que sempre pu<strong>de</strong> (e posso) me apegar, e, também, por ter possibilitado que<br />

encontrasse uma profissão, pela qual me apaixonei, e pessoas sem as quais o dia a dia<br />

seria mais difícil.<br />

Aos amores <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>, meus pais e meu irmão, que, ca<strong>da</strong> qual à sua<br />

maneira, me proporcio<strong>na</strong>ram carinho, amor, alegria, fazendo-me acreditar em minha<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong>ndo-me, sempre, apoio e ótimos conselhos, além <strong>de</strong> me incentivarem e<br />

compreen<strong>de</strong>rem nos momentos difíceis e, claro, comemorarem a ca<strong>da</strong> vitória e<br />

conquista que tive ao logo <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> e, principalmente, nestes 4 anos <strong>de</strong> curso.<br />

Às minhas colegas, que passaram a ser gran<strong>de</strong>s amigas, Suellen (uma <strong>da</strong>s<br />

responsáveis por eu estu<strong>da</strong>r Gestão Democrática), Débora, Danielle e Bru<strong>na</strong>, pelas quais<br />

tenho um carinho mais que especial e que, em meio a brinca<strong>de</strong>iras e zoações, me<br />

aju<strong>da</strong>ram a <strong>de</strong>scobrir muitas coisas novas.<br />

À minha estima<strong>da</strong> orientadora, Profª Drª Maria Cecília Luiz, que muito me<br />

ensinou no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sses 2 anos <strong>de</strong> estudo sobre Gestão, pela paciência e<br />

disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em nortear minhas aprendizagens.<br />

Ao Prof. Dr. Celso Luiz Aparecido Conti, por aceitar participar <strong>da</strong> minha banca<br />

exami<strong>na</strong>dora <strong>de</strong> <strong>TCC</strong> e, com certeza, contribuir, ain<strong>da</strong> mais, para minha formação.


“A adversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sperta em nós<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s que, em<br />

circunstâncias favoráveis, teriam<br />

ficado adormeci<strong>da</strong>s” (Horácio)


Resumo<br />

O presente documento refere-se ao Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso (<strong>TCC</strong>) <strong>de</strong><br />

Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos (<strong>UFSCar</strong>). Este<br />

estudo pauta-se <strong>na</strong> reflexão acerca <strong>da</strong> Gestão Democrática, pontuando a relevância <strong>da</strong><br />

participação, tanto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar como local, nos diversos colegiados <strong>da</strong>s<br />

instituições escolares (APM, Grêmio Estu<strong>da</strong>ntil, etc.), principalmente no Conselho <strong>de</strong><br />

Escola (<strong>CE</strong>), como um modo <strong>de</strong> revitalizar a aprendizagem e restabelecer as ações<br />

autônomas <strong>de</strong>sses sujeitos, consi<strong>de</strong>rando, sempre, o que é melhor para o coletivo,<br />

buscando, assim, um entendimento/consenso e valorizando o mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Com isso,<br />

através do levantamento bibliográfico e documental, fez-se uma expla<strong>na</strong>ção sobre a<br />

gestão, abor<strong>da</strong>ndo-a nos âmbitos macro e micro, <strong>de</strong>stacando seu cunho <strong>de</strong>mocrático,<br />

chegando ao <strong>CE</strong> (seu papel e sua importância <strong>na</strong> instituição e a participação dos<br />

diversos segmentos, bem como um panorama no que diz respeito às leis fe<strong>de</strong>ral,<br />

estadual e do município <strong>de</strong> São Carlos/SP). Este cenário <strong>de</strong> acontecimentos, tanto<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l como municipal, revela que o <strong>CE</strong> existe no campo educacio<strong>na</strong>l já há bastante<br />

tempo, mas o que intriga é a forma como ele acontece <strong>na</strong> prática, ou seja, como se dá o<br />

seu potencial <strong>de</strong>mocrático. Para tanto, visando alcançar o objetivo <strong>de</strong> entendimento<br />

sobre o <strong>CE</strong>, sua melhoria e o foco no coletivo, é que utilizou-se a Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong><br />

<strong>Comunicativa</strong> (TAC), elabora<strong>da</strong> por Jürgen Habermas – cabe ressaltar que este autor<br />

não <strong>de</strong>senvolveu uma teoria diretamente volta<strong>da</strong> à educação, contudo, seu referencial<br />

tem sido apropriado para a construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los a<strong>na</strong>líticos, através <strong>da</strong> TAC, que<br />

auxiliam <strong>na</strong> reflexão <strong>de</strong>sta esfera –, relacio<strong>na</strong>ndo-a a esse espaço participativo<br />

<strong>de</strong>mocrático, uma vez que todo este processo <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ve<br />

se <strong>da</strong>r por meio <strong>da</strong> integração, do diálogo e <strong>da</strong> argumentação entre os diversos<br />

segmentos que pertencem a <strong>da</strong><strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar. Nesse sentido, é possível enten<strong>de</strong>r o<br />

Conselho <strong>de</strong> Escola como um importante instrumento para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia forte e atuante, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s suas características com que a legislação o<br />

estabeleceu, já que ocupa um espaço estratégico <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar. To<strong>da</strong>via, ain<strong>da</strong> não<br />

é tido como a alma <strong>da</strong> escola que é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente comprometi<strong>da</strong> com o público ao<br />

qual existe para servir, sendo que hoje, <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes, preserva um cotidiano<br />

rotineiro e pouco envolvido. Mas acreditamos que po<strong>de</strong> vir a ser um dos instrumentos<br />

para a formação <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos conscientes e participantes.<br />

Palavras-chave: Gestão Democrática; participação; Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>); Teoria<br />

<strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC).


Sumário<br />

Introdução.............................................................................................................8<br />

Capítulo 1 – Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC) <strong>de</strong> Habermas.................10<br />

1.1. Teoria Crítica: Habermas, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> .............................. 10<br />

1.2. Ações sociais, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação e os processos <strong>de</strong> aprendizagem ........... 12<br />

1.3. Conceito <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> ........................................................................ 14<br />

1.4. <strong>Ação</strong> comunicativa proporcio<strong>na</strong>ndo uma educação emancipadora.................... 17<br />

Capítulo 2 – Gestão Democrática e a participação..........................................20<br />

2.1. Gestão Educacio<strong>na</strong>l e mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is ................................................. 20<br />

2.2. Políticas Públicas <strong>da</strong> Educação e a administração <strong>na</strong> escola .............................. 26<br />

2.3. A hierarquização e a cultura escolar ................................................................... 32<br />

2.4. Cultura organizacio<strong>na</strong>l e participação................................................................. 36<br />

2.5. Espaços <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> escola ...................................................................... 41<br />

Capítulo 3 – Conselho <strong>de</strong> Escola como locus <strong>da</strong> Gestão Democrática...........43<br />

3.1. O papel do <strong>CE</strong> <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares................................................................ 43<br />

3.2. Panorama histórico no Brasil.............................................................................. 44<br />

3.2.1. As Legislações no âmbito Fe<strong>de</strong>ral................................................................ 46<br />

3.2.2. As Legislações <strong>na</strong> esfera Estadual................................................................ 48<br />

3.2.3. O Panorama histórico dos Decretos em São Carlos/SP................................ 49<br />

3.3. Como funcio<strong>na</strong> o <strong>CE</strong> no município em questão ................................................. 53<br />

Algumas consi<strong>de</strong>rações.......................................................................................56<br />

Referências Bibliográficas..................................................................................60<br />

Anexo A................................................................................................................66


Introdução<br />

Este documento refere-se ao Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso (<strong>TCC</strong>), realizado<br />

no período <strong>de</strong> março a outubro <strong>de</strong> 2010, no curso <strong>de</strong> Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos (<strong>UFSCar</strong>), tendo como orientadora a Profª. Drª.<br />

Maria Cecília Luiz, professora adjunta do Departamento <strong>de</strong> Educação (DEd), e visa<br />

apresentar os estudos realizados, no <strong>de</strong>correr do curso, sobre “Conselhos Escolares <strong>na</strong><br />

<strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> <strong>de</strong> Habermas”, bem como seus resultados/reflexões.<br />

Sob uma <strong>perspectiva</strong> teórica, por meio <strong>de</strong> estudos e levantamentos<br />

bibliográficos, a pesquisa objetivou refletir, a partir <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong><br />

(TAC) <strong>de</strong> Jürgen Habermas, o potencial <strong>de</strong>mocrático do Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>), e<br />

compreen<strong>de</strong>r a construção teórica do autor, assim como suas relações com a gestão<br />

<strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong> escola, principalmente no que se refere ao agir comunicativo, <strong>na</strong><br />

participação em diferentes espaços escolares. Para tanto, partindo do pressuposto <strong>de</strong> que<br />

tal investigação auxiliará a melhoria do funcio<strong>na</strong>mento dos <strong>CE</strong>, a seguinte questão <strong>de</strong><br />

pesquisa foi elabora<strong>da</strong>: Como as contribuições <strong>de</strong> Habermas, mais especificamente a<br />

sua Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong>, nos auxiliam a enten<strong>de</strong>r o potencial <strong>de</strong>mocrático do<br />

Conselho <strong>de</strong> Escola, e consequentemente, a buscar uma prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

politicamente comprometi<strong>da</strong> com uma gestão <strong>de</strong>mocrática?<br />

A escolha pelo tema surgiu com o intuito <strong>de</strong> <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> aos estudos <strong>de</strong><br />

Iniciação Científica, concretiza<strong>da</strong> no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2009 a julho <strong>de</strong> 2010, que<br />

pautava-se, entre outros aspectos, <strong>na</strong> compreensão <strong>da</strong> TAC. Com isso, nesse trabalho<br />

optamos por utilizar essa mesma teoria, direcio<strong>na</strong>ndo-a para a Gestão Democrática –<br />

principalmente a participação nos <strong>CE</strong> –, ao consi<strong>de</strong>rar que tal ação comunicativa entre<br />

os sujeitos é um recurso <strong>de</strong> emancipação, através do qual se revitaliza a aprendizagem,<br />

restabelece a ação autônoma dos mesmos, buscando um entendimento do que é melhor<br />

para o coletivo e, assim, valorizando o mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> (PASETTO, 2009).<br />

A <strong>de</strong>mocratização dos sistemas <strong>de</strong> ensino e <strong>da</strong> escola implica no aprendizado e<br />

<strong>na</strong> vivência do exercício <strong>de</strong> participação e toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Trata-se <strong>de</strong> um processo<br />

a ser construído coletivamente, que consi<strong>de</strong>ra a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

histórica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sistema <strong>de</strong> ensino (municipal, estadual ou fe<strong>de</strong>ral), <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola. É<br />

importante compreen<strong>de</strong>r que esse não se efetiva por <strong>de</strong>cretos, portarias ou resoluções,<br />

8


mas é resultante, sobretudo, <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> participação que temos<br />

(PINTO, 1994).<br />

capítulos.<br />

Partindo <strong>de</strong>sta <strong>perspectiva</strong>, este trabalho encontra-se estruturado em três<br />

O primeiro abor<strong>da</strong> o referencial teórico adotado, pon<strong>de</strong>rando alguns elementos<br />

<strong>da</strong> complexa TAC. Vale ressaltar que Habermas nunca <strong>de</strong>senvolveu uma teoria volta<strong>da</strong><br />

diretamente para o campo <strong>da</strong> educação, mas esse referencial tem sido apropriado por<br />

muitos autores, que fazem tal reflexão, a exemplo <strong>de</strong> Pinto (1994), que, através <strong>de</strong>ste,<br />

construiu um mo<strong>de</strong>lo a<strong>na</strong>lítico para utilizá-lo no estudo <strong>de</strong> fenômenos organizacio<strong>na</strong>is<br />

escolares.<br />

No capítulo dois discutimos a educação, tanto em seu âmbito macro como no<br />

micro (políticas públicas e escola, respectivamente), além <strong>de</strong> refletirmos sobre a<br />

<strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> participação, <strong>de</strong>stacando a relevância <strong>da</strong> Gestão Democrática,<br />

pon<strong>de</strong>rando, também, a existência <strong>da</strong> cultura e dos mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is, assim<br />

como os espaços <strong>de</strong> participação.<br />

A partir <strong>de</strong>ssas colocações, no terceiro expla<strong>na</strong>mos a respeito do papel do <strong>CE</strong>,<br />

sua importância <strong>na</strong> instituição, bem como a participação <strong>de</strong> diferentes segmentos.<br />

A<strong>de</strong>mais, relatamo-lo no âmbito do Sistema <strong>de</strong> Ensino do Município <strong>de</strong> São Carlos, por<br />

meio <strong>de</strong> um breve panorama <strong>de</strong>sse colegiado.<br />

Baseando-nos <strong>na</strong>s discussões apresenta<strong>da</strong>s, concluímos esse <strong>TCC</strong> refletindo, <strong>na</strong><br />

<strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> TAC, o potencial <strong>de</strong>mocrático do <strong>CE</strong>, objetivando contribuir para o<br />

entendimento e melhoria <strong>de</strong>sse espaço participativo <strong>de</strong>mocrático, já que acreditamos<br />

que a ação comunicativa, que ocorre entre os sujeitos, é um recurso <strong>de</strong> emancipação.<br />

9


Capítulo 1 – Teoria <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC) <strong>de</strong> Habermas<br />

Neste capítulo apresentamos alguns conceitos referentes ao pensamento do<br />

sociólogo e filósofo alemão Jürgen Habermas, principalmente no que tange a sua Teoria<br />

<strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> (TAC) 1 , <strong>na</strong> qual prioriza/valoriza a comunicação (que ocorre por<br />

meio <strong>da</strong> linguagem) através <strong>da</strong>s inter-relações – sendo que esta <strong>de</strong>ve acontecer <strong>de</strong> modo<br />

igualitário, isto é, to<strong>da</strong>s as pessoas envolvi<strong>da</strong>s têm o mesmo direito <strong>de</strong> se expressar, sem<br />

sofrer repressões (PINENT, 2004) – para, com isso, chegar a um entendimento sobre o<br />

que é melhor para o coletivo, frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> existente, objetivando a melhoria <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacio<strong>na</strong>l, bem como a emancipação.<br />

Com isso, é possível apontar quatro elementos centrais em sua teoria: a<br />

racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, o agir comunicativo, a interação social (media<strong>da</strong> pela linguagem) e o<br />

entendimento (que leva à emancipação). Para tanto, é válido fazer uma breve<br />

contextualização <strong>da</strong>s influências histórico-filosóficas que levaram-no à reflexão,<br />

origi<strong>na</strong>ndo essa nova teoria.<br />

Antes, faz-se necessário salientar que este autor não pensou uma teoria<br />

direcio<strong>na</strong><strong>da</strong> à área educacio<strong>na</strong>l. To<strong>da</strong>via, muitos autores têm feito tal a<strong>na</strong>logia, <strong>de</strong> modo<br />

que suas referências, principalmente a partir <strong>da</strong> TAC, possibilitaram reflexões sobre os<br />

fenômenos <strong>da</strong> educação, por meio <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los a<strong>na</strong>líticos, e, também,<br />

organizacio<strong>na</strong>is (PINTO, 1994).<br />

1.1. Teoria Crítica: Habermas, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Alguns autores 2 , durante a primeira meta<strong>de</strong> do século XX, criaram uma nova<br />

teoria <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> – a Teoria Crítica –, partindo <strong>de</strong> reflexões e contraposições acerca<br />

<strong>da</strong> representação <strong>da</strong> ciência <strong>na</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> 3 , consi<strong>de</strong>rando que o homem <strong>de</strong>ste “...<br />

tempo per<strong>de</strong>u a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> objetivar criticamente o mundo em que vive”<br />

(BOUFLEUER, 1998, p. 12). De forma que, conforme aponta Morgado (s/d, p. 2),<br />

1 Em alemão, Theorie <strong>de</strong>s kommunikativen Han<strong>de</strong>lns (TkH).<br />

2 Dentre os quais Horkheimer, Marcuse, Adorno, Benjamin, que são membros <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “Escola <strong>de</strong><br />

Frankfurt” – <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção essa que, <strong>de</strong> acordo com Matos (1993:12 apud ANTUNES; RAMOS, 2000, p.<br />

2), “só viria a ser adota<strong>da</strong>, e com reservas, por Horckheimer <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50”. Já Habermas é<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> fase <strong>de</strong>sta Escola.<br />

3 A qual, para Habermas, “... criou uma lacu<strong>na</strong> entre o Sistema e o Mundo Vivido” (ANTUNES;<br />

RAMOS, 2000, p. 16), sendo que “O indivíduo não possui existência própria, ele só existe <strong>na</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong>”<br />

(PINTO, 1994, p. 72).<br />

10


“procuraram intervir com as suas teorias sobre a prática social, buscando uma nova<br />

or<strong>de</strong>m para as relações sociais a partir <strong>da</strong> critica à or<strong>de</strong>m presente”.<br />

A Teoria Crítica apresenta, segundo Antunes e Ramos (2000), <strong>perspectiva</strong><br />

humanística e emancipatória, tendo como objetivo o fim <strong>da</strong>s <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s e injustiça<br />

social. To<strong>da</strong>via, “os representantes origi<strong>na</strong>is <strong>da</strong> Teoria Crítica nunca <strong>de</strong>senvolveram<br />

uma concepção clara e alter<strong>na</strong>tiva <strong>de</strong> razão que contrapusesse a razão instrumental”<br />

(BANNELL, 2006, p. 21), <strong>de</strong> forma que a mesma possui “... uma concepção <strong>da</strong> razão e<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sprovi<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma justificação fun<strong>da</strong>mental, ao mesmo tempo exterior e<br />

enraiza<strong>da</strong> <strong>na</strong>s condições sociais” (JAY, 1973, p. 60-65 apud ibi<strong>de</strong>m, p. 22).<br />

Já Habermas 4 “propõe um salto paradigmático [do conceito <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>],<br />

no qual abando<strong>na</strong>-se o paradigma <strong>da</strong> consciência a que estes autores [Weber, Adorno e<br />

Horkheimer] encontram-se presos em prol <strong>de</strong> um paradigma <strong>da</strong> comunicação” (PINTO,<br />

1994, p. 66 – grifos meus), isto é, “busca superar o conceito <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

instrumental 5 ” (GONÇALVES, 1999, p. 3), revitalizando a “noção kantia<strong>na</strong> do fato <strong>da</strong><br />

razão” (HABERMAS, 1968/1978, p. 380 apud BANNELL, 2006, p. 33), mas, ao<br />

contrário <strong>de</strong> Kant, enten<strong>de</strong> que o indivíduo não constrói o conhecimento sozinho. Sendo<br />

assim, apresenta uma relação entre a história e a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, “... conce<strong>de</strong>ndo-lhe uma<br />

fun<strong>da</strong>mentação <strong>na</strong>s condições sociais <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” (BANNELL, 2006, p. 22), indo além<br />

<strong>da</strong>quela concepção <strong>de</strong> razão, colocando “uma concepção <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> incorpora<strong>da</strong><br />

em processos <strong>de</strong> interação media<strong>da</strong> pela linguagem” (ibi<strong>de</strong>m, p. 38 – grifos meus) – a<br />

racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa. Dessa forma, ele apresenta aspectos <strong>da</strong>s ciências<br />

hermenêutica (que tem por base a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> huma<strong>na</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como os<br />

homens se relacio<strong>na</strong>m, a exemplo <strong>da</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> 6 ) e, também, <strong>da</strong> crítica (que<br />

pensa uma libertação/emancipação do ser humano).<br />

4 Que não é Pós-Mo<strong>de</strong>rno, mas trabalha com a Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>na</strong>caba<strong>da</strong> (fala do Prof. Dr. João Virgílio<br />

Tagliavini durante uma discipli<strong>na</strong> ministra<strong>da</strong> no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Educação <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – PPGE/<strong>UFSCar</strong> – 2º semestre <strong>de</strong> 2010), isso porque não nega o<br />

conhecimento, ao consi<strong>de</strong>rá-lo um ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>.<br />

5 Tal racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> prevaleceu <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s industriais <strong>de</strong>vido ao processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização.<br />

Caracteriza-se “pela organização <strong>de</strong> meios a<strong>de</strong>quados para atingir <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos fins ou pela escolha entre<br />

alter<strong>na</strong>tivas estratégicas com vistas à consecução <strong>de</strong> objetivos” (GONÇALVES, 1999, p. 3), assim, é<br />

formal e neutra, <strong>de</strong> modo que gerou no indivíduo formas <strong>de</strong> pensar, sentir e agir fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s <strong>na</strong><br />

competição, no isolamento e individualismo, fazendo com que este per<strong>de</strong>sse, ca<strong>da</strong> vez mais, sua<br />

autonomia (ibi<strong>de</strong>m).<br />

6 O conceito <strong>de</strong> intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> refere-se à relação <strong>de</strong> um sujeito com outro(s) media<strong>da</strong> pela linguagem,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo uma interação reflexiva, por meio <strong>da</strong> qual adquirem consciência, <strong>de</strong> si e do(s) outro(s),<br />

possibilitando a emancipação dos mesmos. Deste modo, tal conceito “quebra” a filosofia <strong>da</strong> consciência<br />

ao enten<strong>de</strong>r a relevância do outro no processo.<br />

11


O autor “propõe em sua teoria crítica que se compreen<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> como<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong> constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> sistema e mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, contemplando ao mesmo tempo os<br />

domínios <strong>da</strong> razão instrumental e <strong>da</strong> razão comunicativa” (BOUFLEUER, 1998, p. 16),<br />

buscando, então, superar as patologias <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Com base nisso é que<br />

Habermas elabora a TAC, cuja i<strong>de</strong>ia central é que<br />

12<br />

é possível atribuir as patologias <strong>da</strong> Mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sem nenhuma exceção, à<br />

invasão <strong>da</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica e burocrática em esferas do mundo <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, às quais essas formas <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> não são a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s e, por isso,<br />

levam a per<strong>da</strong>s <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> sentido. O agir comunicativo é concebido<br />

por Habermas <strong>de</strong> modo a abrir as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para um entendimento em<br />

sentido abrangente, não restritivo (REESE-SCHÄFER, 2009, p. 46).<br />

Enten<strong>de</strong>ndo que o conhecimento é construído <strong>na</strong> interação, ele conceitua<br />

quatro categorias acerca <strong>da</strong>s ações sociais, relacio<strong>na</strong>ndo a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e as<br />

aprendizagens presentes em ca<strong>da</strong> uma.<br />

1.2. Ações sociais, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação e os processos <strong>de</strong> aprendizagem<br />

Na teoria do agir comunicativo, para Habermas, a ação social é o principal<br />

aspecto <strong>de</strong> análise, sendo que essas ações “po<strong>de</strong>m ser avalia<strong>da</strong>s em termos <strong>de</strong> sua<br />

racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>” (HABERMAS, 1976/1979b; 1981/1984, p. 75ff apud BANNELL, 2006,<br />

p. 42), e consi<strong>de</strong>ra que “a idéia <strong>de</strong> razão [...] está necessariamente embuti<strong>da</strong> <strong>na</strong> maneira<br />

pela qual a espécie <strong>de</strong> animais falantes se reproduz...” (HABERMAS, 1971/2001, p. 85-<br />

86 apud ibi<strong>de</strong>m).<br />

Quanto às ações, essas po<strong>de</strong>m ser conceitua<strong>da</strong>s em quatro categorias:<br />

teleológica 7 , normativa, dramatúrgica e comunicativa (REESE-SCHÄFER, 2009).<br />

Agir teleológico: “visa à realização <strong>de</strong> um objetivo” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46), referindo-<br />

se ao mundo objetivo 8 ; a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta ação po<strong>de</strong> ser avalia<strong>da</strong> com base em<br />

critérios <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e eficácia, e no que diz respeito à aprendizagem, abre a<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, “no plano cognitivo, <strong>de</strong> percepções e crenças mais alinha<strong>da</strong>s com a<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (BANNELL, 2006, p. 43); função <strong>da</strong> linguagem como entendimento indireto<br />

(REESE-SCHÄFER, 2009).<br />

Agir normativo: “refere-se a grupos que orientam sua ação em valores comuns.<br />

A obediência à norma é espera<strong>da</strong> <strong>de</strong> todos os membros” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46); reporta-se ao<br />

7 Ou também <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong><strong>da</strong> “estratégica”.<br />

8 Relacio<strong>na</strong>do à cultura – os fatos são ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s (FIEDLER, 2006); também po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> mundo<br />

<strong>na</strong>tural ou cultural.


mundo social 9 e, também (em menor escala), ao objetivo; a avaliação <strong>de</strong> sua<br />

racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> se <strong>da</strong>r <strong>de</strong> dois modos (BANNELL, 2006): “se os motivos e ações <strong>de</strong><br />

um agente estão em conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com as normas existentes” e “se o contexto<br />

normativo po<strong>de</strong> ser justificado e, portanto, consi<strong>de</strong>rado legítimo” (p. 44), isto é, pela<br />

correção; quanto à aprendizagem, tem-se inter<strong>na</strong>lização <strong>de</strong> valores e “formação <strong>de</strong> um<br />

‘complexo motivacio<strong>na</strong>l’ a<strong>de</strong>quado ao contexto normativo existente” (ibi<strong>de</strong>m),<br />

estabelecimento <strong>de</strong> relações interpessoais <strong>de</strong> acordo com tal contexto, bem como ações<br />

direcio<strong>na</strong><strong>da</strong>s às normas e valores prescritos; já a linguagem coloca-se como forma <strong>de</strong><br />

manifestar uma concordância às normas (REESE-SCHÄFER, 2009).<br />

Agir dramatúrgico: “reporta-se à autorrepresentação expressiva diante <strong>de</strong> um<br />

público” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46), logo, tem relação com o mundo subjetivo 10 ; a coerência, a<br />

autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> (veraci<strong>da</strong><strong>de</strong>) sobre os sentimentos compartilhados são coloca<strong>da</strong>s como<br />

critério para avaliar a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta ação, já a aprendizagem acontece por meio <strong>de</strong><br />

ajustes entre: “nossos <strong>de</strong>sejos e sentimentos aos padrões <strong>de</strong> valor <strong>da</strong> nossa cultura”, “as<br />

maneiras <strong>de</strong> expressar esses aspectos <strong>de</strong> nossa <strong>na</strong>tureza interior e as experiências<br />

inter<strong>na</strong>s que temos <strong>de</strong> fato”, e “nossas ações com os <strong>de</strong>sejos e sentimentos que<br />

expressamos” (BANNELL, 2006, p. 46); a linguagem assume um papel <strong>de</strong><br />

autorrepresentação (REESE-SCHÄFER, 2009).<br />

Agir comunicativo: “refere-se ao entendimento discursivo entre sujeitos<br />

capazes <strong>de</strong> falar e <strong>de</strong> agir” (ibi<strong>de</strong>m, p. 46), <strong>de</strong> forma que possui relação reflexiva com os<br />

três mundos (objetivo, social e subjetivo); com isso, os “processos <strong>de</strong> aprendizagem<br />

po<strong>de</strong>m resultar <strong>na</strong> transformação <strong>de</strong>sses mundos” (BANNELL, 2006, p. 46), já que a<br />

comunicação neste mo<strong>de</strong>lo inclui to<strong>da</strong>s as funções <strong>de</strong> linguagem anteriores – “O que<br />

marca a principal diferença no agir comunicativo é o fato <strong>de</strong> que o mecanismo <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção <strong>da</strong> ação é um processo discursivo para se alcançar um entendimento<br />

mútuo” (ibi<strong>de</strong>m, p. 48), mas cabe ressaltar que<br />

13<br />

É possível perceber claramente que o tipo <strong>de</strong> agir orientado ao entendimento,<br />

cuja estrutura racio<strong>na</strong>l interior nós esboçamos <strong>de</strong> forma totalmente<br />

provisória, <strong>de</strong> modo algum é encontrável, sempre e em todo lugar, como o<br />

caso normal <strong>da</strong> práxis comunicativa do dia a dia (TkH I, p. 198 apud REESE-<br />

SCHÄFER, 2009, p. 49).<br />

9 Diretamente ligado à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> – suas regras e normas (FIEDLER, 2006).<br />

10 Refere-se à pessoa – seus sentimentos, emoções e percepções estéticas (ibi<strong>de</strong>m).


Consi<strong>de</strong>rando que esta última ação é fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> Teoria apresenta<strong>da</strong> por<br />

Habermas, será tratado a seguir seu conceito central e os <strong>de</strong>mais elementos atrelados ao<br />

mesmo.<br />

1.3. Conceito <strong>de</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong><br />

Conforme já indicado, a TAC, elabora<strong>da</strong> por Habermas, possui muitos<br />

conceitos relacio<strong>na</strong>dos, os quais são abor<strong>da</strong>dos para melhor entendimento do leitor.<br />

Retomando, como Habermas consi<strong>de</strong>ra a relação entre história e racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo que o indivíduo constrói seu conhecimento <strong>na</strong>s relações, é que organiza<br />

“um conceito <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> que encontra seus fun<strong>da</strong>mentos nos processos <strong>de</strong><br />

comunicação intersubjetiva com vistas a alcançar o entendimento” (MCCARTHY, 1984<br />

apud PINTO, 1994, p. 67), a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa, a qual apoia-se <strong>na</strong><br />

14<br />

... relação intersubjetiva, que sujeitos que falam e atuam, assumem quando<br />

buscam o entendimento entre si, sobre algo. Ao fazer isto, os atores<br />

comunicativos movem-se por meio <strong>de</strong> uma linguagem <strong>na</strong>tural, valendo-se <strong>de</strong><br />

interpretações culturalmente transmiti<strong>da</strong>s e referem-se a algo<br />

simultaneamente em um mundo objetivo, em seu mundo social comum e em<br />

seu próprio mundo subjetivo (HABERMAS, 1984, p. 392 apud ibi<strong>de</strong>m).<br />

Assim sendo, é possível perceber a gran<strong>de</strong> relação entre razão e linguagem.<br />

Esta, <strong>de</strong> acordo com Habermas (1999/2003, p. 54 apud BANNELL, 2006, p. 60), é “o<br />

órgão formativo do pensamento: a interpretação <strong>de</strong> linguagem e reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é tanta que<br />

não há nenhum acesso imediato a uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> não interpreta<strong>da</strong> para o sujeito<br />

cognoscente”, <strong>de</strong>ste modo, to<strong>da</strong>s as pessoas são capazes <strong>de</strong> linguagem e, conforme o<br />

mesmo (1990c, p. 65ss apud PINENT, 2004, p. 51 – grifos do autor), “O ‘modo<br />

origi<strong>na</strong>l’ <strong>da</strong> linguagem é seu uso em atos <strong>de</strong> fala ilocucionários, em ações volta<strong>da</strong>s para<br />

alcançar o entendimento”, com isso, a comunicação assume um caráter intersubjetivo.<br />

A<strong>de</strong>mais, num ato <strong>de</strong> fala comunicativo, a linguagem possui uma tripla função<br />

(que <strong>de</strong>ve acontecer simultaneamente): “<strong>da</strong>r expressão <strong>de</strong> aquilo que se tem em mente<br />

(função expressiva), sobre algo no mundo (função representativa), para comunicar-se<br />

com outro (função interativa)” (HABERMAS, 1990a, p. 78 apud BOUFLEUER, 1998,<br />

p. 39 – grifos do autor). Mas vale pon<strong>de</strong>rar, também, que caso este ato <strong>de</strong> fala não<br />

busque o objetivo <strong>da</strong>quele coletivo como um todo, priorizando, somente, o <strong>de</strong> alguns<br />

indivíduos (por meio do po<strong>de</strong>r, possivelmente <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> sanções) (BANNELL, 2006),<br />

terá um propósito perlocucionário, logo, caracteriza-se por uma ação estratégica, por<br />

meio <strong>de</strong> uma comunicação subjetiva (PINENT, 2004).


Com isso, po<strong>de</strong>mos pontuar que tal razão <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Habermas prece<strong>de</strong> a<br />

ação comunicativa. To<strong>da</strong>via, antes <strong>de</strong> aprofun<strong>da</strong>rmo-nos neste conceito, vale ressaltar<br />

que para o autor há dois “mundos”/esferas existentes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e sistêmico.<br />

O mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é o “não <strong>de</strong>clarado”, o pano <strong>de</strong> fundo que dá sustentação à<br />

lógica <strong>da</strong>s pessoas, já que<br />

15<br />

falantes e ouvintes po<strong>de</strong>m “[...] reciprocamente colocar a pretensão <strong>de</strong> que<br />

suas <strong>de</strong>clarações se adéqüem ao mundo (objetivo, social ou subjetivo), on<strong>de</strong><br />

eles po<strong>de</strong>m criticar e confirmar a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus intentos, solucio<strong>na</strong>r seus<br />

<strong>de</strong>sacordos e chegar a um acordo” (HABERMAS, 1981/1987, p. 126 apud<br />

BANNELL, 2006, p. 27).<br />

Contudo, ao contrário <strong>de</strong>sta esfera – que baseia-se <strong>na</strong>s relações/interações<br />

sociais por meio do diálogo, <strong>da</strong> comunicação –, tem-se o mundo sistêmico, que é o<br />

“<strong>de</strong>clarado”, sendo composto por dois subsistemas, político/administrativo (po<strong>de</strong>r) e<br />

econômico (dinheiro), tor<strong>na</strong>ndo suas relações burocráticas, por isso, fun<strong>da</strong>menta-se<br />

numa razão instrumental/ação estratégica. Vale ressaltar que o mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> tem sido<br />

colonizado pelo sistêmico, isso porque os “meios <strong>de</strong>slinguistificados” (como o po<strong>de</strong>r e o<br />

dinheiro) vem, ca<strong>da</strong> vez mais, coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ndo as ações, preterindo os processos<br />

comunicativos pautados <strong>na</strong> linguagem, sendo responsável pelo surgimento <strong>de</strong> patologias<br />

<strong>na</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s capitalistas contemporâneas (PINTO, 1994) 11 .<br />

Enfim,<br />

Para Habermas existe uma correlação direta entre ação comunicativa e<br />

mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, já que cabe à primeira a reprodução <strong>da</strong>s estruturas simbólicas<br />

do segundo (cultura, socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, pessoa). Assim, sob o aspecto do<br />

entendimento mútuo, a ação comunicativa serve para transmitir e renovar o<br />

saber cultural, sob o aspecto <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r a ação, ela propicia a integração<br />

social e, sob o aspecto <strong>da</strong> socialização ela serve à formação <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

individual (PINTO, 1994, p. 71 – grifos do autor).<br />

Na TAC, um conceito central criado por Habermas é o agir comunicativo, que<br />

“estabelece uma relação reflexiva com o mundo, <strong>na</strong> qual a pretensão <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

levanta<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> enunciado <strong>de</strong>ve ser reconheci<strong>da</strong> intersubjetivamente; para isso<br />

acontecer, o falante <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> cooperação dos outros” (BANNELL, 2006, p. 53). A<br />

comunicação parte, ao seu ver (1984 apud PINTO, 1994) <strong>de</strong> três pretensões <strong>de</strong><br />

vali<strong>da</strong><strong>de</strong>: veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> (faz referência ao mundo objetivo, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser verifica<strong>da</strong> a<br />

totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos fatos existentes); correção normativa (diz respeito ao mundo social dos<br />

participantes, sendo que as relações entre os mesmos são regula<strong>da</strong>s legitimamente);<br />

autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e sinceri<strong>da</strong><strong>de</strong> (relação com o mundo subjetivo, isto é, as experiências do<br />

11 Habermas compreen<strong>de</strong> que o direito – conceito que foi aprofun<strong>da</strong>do pelo mesmo <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990 –<br />

(através <strong>da</strong> <strong>de</strong>liberação) é o modo <strong>de</strong> articular esses dois mundos.


falante, sendo que só ele tem acesso privilegiado a elas <strong>na</strong>s diferentes situações) 12 . De<br />

acordo com Reese-Schäfer (2009, p. 47), há mais uma, a inteligibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />

enunciações, “... entendi<strong>da</strong> não como pretensão específica, mas como pressuposto <strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong>mais”, ele acrescenta que “Habermas <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong> racio<strong>na</strong>is as três pretensões <strong>de</strong><br />

vali<strong>da</strong><strong>de</strong> [...], pois elas exigem atribuir a qualquer parceiro do diálogo, ao menos até sua<br />

verificação, que ele age racio<strong>na</strong>lmente” (ibi<strong>de</strong>m, p. 48 – grifo do autor).<br />

Deste modo, num ato <strong>de</strong> fala comunicativo, consi<strong>de</strong>rando a cooperação entre<br />

todos, enten<strong>de</strong>-se que os participantes possuem o mesmo direito a falar, ouvir e aceitar<br />

ou contestar/criticar, mas sem serem coagidos (PINENT, 2004), “Isso constitui sua<br />

superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação a outras formas <strong>de</strong> ação” (REESE-SCHÄFER, 2009, p. 47).<br />

Nesse sentido é que Gomes (2007) aponta para uma Teoria Consensual <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

existente <strong>na</strong> ação comunicativa, que busca explicar “o processo não coativo que exerce<br />

o melhor argumento, através <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s formais do discurso” (p. 110). Assim, o<br />

discurso argumentativo serve para instaurar um processo <strong>de</strong> contestar ou <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as<br />

pretensões <strong>de</strong> vali<strong>de</strong>z (BOUFLEUER, 1998).<br />

Vale ressaltar que a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> ação comunicativa é fortalecer a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

argumentativa <strong>da</strong>s pessoas, <strong>de</strong> forma que os<br />

16<br />

Argumentos são os meios pelos quais o reconhecimento intersubjetivo <strong>de</strong><br />

uma pretensão <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um proponente (proponent), levanta<strong>da</strong><br />

hipoteticamente, po<strong>de</strong> ser realizado e, portanto, a opinião po<strong>de</strong> ser<br />

transforma<strong>da</strong> em conhecimento (BANNELL, 2006, p. 57 – grifos do autor).<br />

Assim sendo, é a partir <strong>de</strong>sses argumentos, pautados <strong>na</strong>s pretensões, que os<br />

sujeitos buscam chegar ao entendimento mútuo/consenso sobre o que é melhor para<br />

eles, enquanto um coletivo. Gomes (2007) diz que esta busca pelo consenso é<br />

cooperativa, já que tem um “porquê”: o bem comum. Contudo, Habermas chama-nos a<br />

atenção <strong>de</strong> que não se trata <strong>de</strong> um acordo por meio <strong>de</strong> votação, isso porque as pessoas<br />

têm, com base <strong>na</strong>s argumentações e pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que pensar no bem/melhoria<br />

do coletivo. Nesse sentido, envolve um processo <strong>de</strong> reflexão e emancipação, e, para<br />

isso, elas precisam “abrir mão” <strong>de</strong> seus interesses individuais em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong>s<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s coletivas. Por este motivo é que o consenso apresenta um caráter<br />

provisório, já que, com o tempo, tais reflexões po<strong>de</strong>m levar o coletivo a perceber uma<br />

nova necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>/priori<strong>da</strong><strong>de</strong>, não os impedindo <strong>de</strong> chegar a um novo entendimento<br />

(ibi<strong>de</strong>m).<br />

12 Depen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> interpretação do autor, a <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção <strong>de</strong>stas pretensões po<strong>de</strong> variar, mas as i<strong>de</strong>ias<br />

centrais são as mesmas.


Essa busca pelo consenso trata-se, segundo Gomes (ibi<strong>de</strong>m), <strong>de</strong> um processo<br />

<strong>de</strong> “<strong>de</strong>sbarbarização”/<strong>de</strong>scolonização do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, isto é, o resgate <strong>de</strong> valores,<br />

culturas e princípios, objetivando racio<strong>na</strong>lizar tal mundo (pela via <strong>da</strong> ação<br />

comunicativa), o que possibilita a emancipação 13 do sujeito (BANNELL, 2006).<br />

Percebe-se, então, que<br />

17<br />

A i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> do grupo é reproduzi<strong>da</strong> <strong>na</strong> estrutura <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

indivíduo, em uma forma <strong>de</strong> integração social em que a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a<br />

aplicação <strong>de</strong> normas se fun<strong>da</strong>mentam em razões e, portanto, <strong>na</strong> qual o<br />

processo <strong>de</strong> socialização é, ao mesmo tempo, um processo <strong>de</strong> individuação<br />

em direção a uma maior autonomia (ibi<strong>de</strong>m, p. 101 – grifo do autor).<br />

Entretanto, vale consi<strong>de</strong>rar que uma ação só será comunicativa se todos<br />

estiverem dispostos ao entendimento (e, para isso, faz-se necessário os pressupostos),<br />

assim, não é todo diálogo que é uma interação (GOMES, 2007). O consenso é tanto<br />

ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> como <strong>de</strong> chega<strong>da</strong>. Com isso, mesmo que não se chegue a um consenso,<br />

po<strong>de</strong>-se dizer que houve uma ação comunicativa, se estiver pauta<strong>da</strong> no processo <strong>de</strong><br />

argumentação, <strong>na</strong>s pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>na</strong> real disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos sujeitos para tal,<br />

bem como <strong>na</strong>s condições não-coercitivas (ibi<strong>de</strong>m).<br />

Resumindo,<br />

para Habermas, a ação comunicativa surge como uma interação <strong>de</strong>, no<br />

mínimo, dois sujeitos, capazes <strong>de</strong> falar e agir, que estabelecem relações<br />

interpessoais com o objetivo <strong>de</strong> alcançar uma compreensão sobre a situação<br />

em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos <strong>de</strong> ação com vistas a<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r suas ações pela via do entendimento (PINTO, 1994, p. 69 – grifos<br />

do autor).<br />

Enfim, todo esse processo <strong>de</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e ação comunicativa tor<strong>na</strong>-se um<br />

potencial para a emancipação huma<strong>na</strong>, a qual <strong>de</strong>ve ser trabalha<strong>da</strong> <strong>na</strong> instituição escolar,<br />

por meio <strong>da</strong> educação.<br />

1.4. <strong>Ação</strong> comunicativa proporcio<strong>na</strong>ndo uma educação emancipadora<br />

A escola é um espaço que apresenta “... três gran<strong>de</strong>s tarefas educativas: a<br />

formação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais (educação dos filhos), a reprodução cultural<br />

(apropriação <strong>de</strong> saberes) e a integração social (cooperação)” (BOUFLEUER, 1998, p.<br />

54), isto é, “... reprodução <strong>da</strong>s estruturas simbólicas do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>...” (PINTO,<br />

1996, p. 152 apud ibi<strong>de</strong>m). Com isso, promove o “entrelaçamento <strong>de</strong> planos particulares<br />

<strong>de</strong> ação” (BOUFLEUER, 1998, p. 22) através <strong>da</strong>s interações que acontecem no <strong>de</strong>correr<br />

13 Habermas preocupa-se com a emancipação, a qual advém <strong>de</strong> uma comunicação. Ele coloca a<br />

importância <strong>da</strong> interação, que po<strong>de</strong> gerar uma outra linguagem (GOMES, 2007).


dos processos pe<strong>da</strong>gógicos, ou seja, <strong>na</strong> educação, a qual se constitui numa ação social.<br />

Sendo assim,<br />

18<br />

... quanto à possível fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> reflexão habermasia<strong>na</strong> para a educação<br />

se <strong>de</strong>ve à constatação <strong>de</strong> que os objetivos gerais <strong>da</strong> educação se colocam <strong>na</strong><br />

<strong>perspectiva</strong> <strong>de</strong> uma integração social em que se buscam reproduzir e renovar<br />

as tradições culturais, estabelecer as soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os padrões <strong>de</strong><br />

convivência e socializar as novas gerações, permitindo o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s pessoais. Nesse sentido queremos propor o espaço <strong>da</strong> educação<br />

como um espaço privilegiado do agir comunicativo (BOUFLEUER, 1998, p.<br />

17).<br />

Deste modo, Pinto (1994), consi<strong>de</strong>ra que a instituição escolar sofre uma<br />

colonização muito forte do seu mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> excessiva burocratização e<br />

formali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (apresenta<strong>da</strong>s no mundo sistêmico), <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando patologias graves.<br />

Visando sa<strong>na</strong>r tais problemas, Habermas propõe uma <strong>de</strong>scolonização do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

(ibi<strong>de</strong>m), a qual advém <strong>da</strong> educação, entendi<strong>da</strong> como uma interação social media<strong>da</strong> pela<br />

linguagem, já que, para ele, o que se apren<strong>de</strong> precisa ser compartilhado, promovendo<br />

emancipação e novas aprendizagens (BANNELL, 2006).<br />

Neste sentido, “Só o conceito <strong>de</strong> uma racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa, centra<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s múltiplas dimensões que fazem parte dos<br />

processos educativos” (BOUFLEUER, 1998, p. 31), logo, para que tenha bom<br />

funcio<strong>na</strong>mento, a escola <strong>de</strong>ve privilegiar processos <strong>de</strong> ação comunicativa, objetivando,<br />

sempre, alcançar o entendimento (PINTO, 1996, p. 152 apud ibi<strong>de</strong>m, p. 54-55).<br />

Entretanto, no ambiente escolar ain<strong>da</strong> há dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> frente à existência <strong>da</strong><br />

linguagem comunicativa, pois a tríplice (querer, dizer, fazer) <strong>de</strong>ve estar em acordo, o<br />

que muitas vezes não ocorre. Além disso, os mecanismos sistêmicos <strong>de</strong> controle levam<br />

à falha <strong>na</strong> comunicação e entendimento, gerando ca<strong>da</strong> vez mais conflitos. Por este<br />

motivo é que precisa-se, conforme indica Boufleuer (1998), mu<strong>da</strong>r o paradigma,<br />

passando a enten<strong>de</strong>r e usar a “linguagem como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para a abor<strong>da</strong>gem do<br />

tema do conhecimento” (p. 60), construído dia-a-dia (possuindo, assim, um caráter<br />

provisório), <strong>de</strong>senvolvendo uma prática social argumentativa, proporcio<strong>na</strong><strong>da</strong> pelo<br />

exercício <strong>de</strong> reflexão e auto-reflexão (BANNELL, 2006).<br />

Enfim, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste capítulo foi possível perceber, por meio <strong>da</strong> teoria<br />

habermasia<strong>na</strong>, a relevância <strong>de</strong> uma ação emancipatória por acreditar que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

está, sempre, em reconstrução <strong>de</strong> valores e princípios, e esta acontece a partir <strong>de</strong> uma<br />

ação comunicativa, por meio <strong>da</strong> linguagem e argumentação, buscando um<br />

entendimento/consenso do que é melhor para o coletivo. Para isso, as pessoas precisam<br />

ser o máximo possível <strong>de</strong>scoloniza<strong>da</strong>s, e a escola é um dos espaços que po<strong>de</strong> propiciar


essa ocorrência, possibilitando, através <strong>da</strong> educação e interação social, a emancipação,<br />

isto é, que os indivíduos consigam pensar por si próprios, tendo autonomia sobre seus<br />

atos (GOMES, 2007).<br />

Um importante modo <strong>de</strong> incentivar esse processo <strong>de</strong> ação comunicativa é<br />

fomentar a participação política <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tanto escolar como local, <strong>na</strong>s <strong>de</strong>cisões<br />

<strong>da</strong> escola. Para tanto, a gestão <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>ve privilegiar uma <strong>de</strong>mocracia participativa, isto<br />

é, “abrir suas portas” para que todos possam refletir e opi<strong>na</strong>r, sem sofrerem qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> coação, consi<strong>de</strong>rando, sempre, as pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

19


Capítulo 2 – Gestão Democrática e a participação<br />

Compreen<strong>de</strong>ndo a relevância <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a educação nos seus âmbitos macro<br />

(políticas públicas) e micro (escola), além <strong>de</strong> refletir sobre a <strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> participação,<br />

é que neste capítulo <strong>de</strong>stacamos a Gestão Democrática, pon<strong>de</strong>rando, também, a cultura<br />

e os mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is, assim como os espaços <strong>de</strong> participação.<br />

2.1. Gestão Educacio<strong>na</strong>l e mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is<br />

A uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar (UE) é estrutura<strong>da</strong> com base em pessoas que ocupam<br />

diferentes cargos. Porém, além do corpo <strong>de</strong> funcionários há um modo pelo qual ela se<br />

organiza, <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>do, por Lima (2003), <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> administração.<br />

O termo aparece no plural, uma vez que mesmo os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>finidos formalmente, ao<br />

serem colocados <strong>na</strong> prática, sofrem mu<strong>da</strong>nças, já que a instituição faz a<strong>de</strong>quações <strong>de</strong><br />

acordo com suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido é que<br />

20<br />

impõe-se um renovado esforço para <strong>de</strong>finir os critérios <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />

adotados <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong> educação, visando possibilitar sua utilização correta<br />

como instrumentos a<strong>na</strong>líticos e praxiológicos. Este esforço é particularmente<br />

necessário para caracterizar a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> atuação dos administradores<br />

educacio<strong>na</strong>is e gestores escolares <strong>na</strong> sua prática cotidia<strong>na</strong> (SANDER, 2007,<br />

p. 75).<br />

Sendo assim, <strong>na</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 80 e 90, muitos educadores brasileiros realizaram<br />

estudos a fim <strong>de</strong> elaborar conceitos para se conseguir uma administração mais<br />

apropria<strong>da</strong> para o âmbito do ensino. Entre eles está Benno San<strong>de</strong>r (ibi<strong>de</strong>m), que constrói<br />

conceitualmente quatro mo<strong>de</strong>los 14 <strong>de</strong> gestão escolar com base <strong>na</strong> análise <strong>da</strong>s quatro<br />

fases <strong>da</strong> trajetória <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> educação:<br />

• Administração para a eficiência econômica: eficiência relacio<strong>na</strong>-se com a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> produção/produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, com menor custo e tempo, portanto, um<br />

critério econômico, com dimensão extrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase organizacio<strong>na</strong>l. Com<br />

isso, percebe-se a gran<strong>de</strong> relação com a Teoria Geral <strong>da</strong> Administração (Taylor, Fayol e<br />

Weber) quanto à questão <strong>de</strong> funções, cargos, tempos, etc.<br />

14 Tais mo<strong>de</strong>los específicos: eficiência, eficácia, efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e relevância são facilmente confundidos,<br />

tanto que “Reconhecidos dicionários afirmam que eficaz é sinônimo <strong>de</strong> eficiente, ao mesmo tempo em<br />

que asseguram que efetivo equivale a eficaz” (SANDER, 2007, p. 74).


• Administração para a eficácia pe<strong>da</strong>gógica: eficácia relacio<strong>na</strong>-se com a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> administrativa <strong>de</strong> se obter os objetivos propostos, sendo um critério<br />

institucio<strong>na</strong>l, pois preocupa-se com os aspectos pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> escola (seu processo),<br />

bem como consi<strong>de</strong>ra as relações huma<strong>na</strong>s, logo, é coletivo, e possui dimensão<br />

intrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase comportamental.<br />

• Administração para a efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> política: efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> relacio<strong>na</strong>-se com a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> administrativa <strong>de</strong> satisfazer as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, portanto um<br />

critério político com dimensão extrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase <strong>de</strong>senvolvimentista.<br />

Desse modo, consi<strong>de</strong>ra a participação (coletiva e solidária) <strong>de</strong>ssa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, visando<br />

aten<strong>de</strong>r aos interesses particulares (enquanto grupos – professores, alunos, funcionários,<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, etc.), mas não individual. Assim, os gestores <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo<br />

21<br />

que pautam seus esforços a<strong>na</strong>líticos e suas práticas <strong>de</strong> intervenção (...),<br />

incentivam a eficiência econômica e a eficácia pe<strong>da</strong>gógica <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que<br />

elas contribuem para a satisfação <strong>da</strong>s <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s políticas e exigências sociais<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (SANDER, 2007, p. 81-82).<br />

• Administração para a relevância cultural: relevância relacio<strong>na</strong>-se com o<br />

<strong>de</strong>sempenho administrativo em conseguir <strong>de</strong>senvolver uma administração educacio<strong>na</strong>l<br />

preocupando-se, valorizando e respeitando a cultura, a história, bem como ressaltando a<br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> presente <strong>na</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo, portanto, um critério cultural com<br />

dimensão intrínseca. É origi<strong>na</strong>do <strong>da</strong> fase sociocultural. Com isso, pon<strong>de</strong>ra “a<br />

importância primordial <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>de</strong> educação para os ci<strong>da</strong>dãos em seu<br />

contexto cultural”, concebendo “a relevância <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong> educação como alter<strong>na</strong>tiva<br />

superor<strong>de</strong><strong>na</strong>dora dos conceitos <strong>de</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, eficácia e eficiência” (ibi<strong>de</strong>m, p. 85).<br />

Consi<strong>de</strong>rando a relevância <strong>de</strong> se pensar uma teoria administrativa e<br />

organizacio<strong>na</strong>l para a área <strong>da</strong> educação, alia<strong>da</strong> à crescente expansão dos sistemas<br />

educacio<strong>na</strong>is (os quais trazem novos <strong>de</strong>safios/preocupações e, consequentemente,<br />

requerendo novos esforços para li<strong>da</strong>r com a situação), é que se tem o Paradigma<br />

multidimensio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> administração <strong>da</strong> educação, o qual<br />

alicerçado <strong>na</strong> <strong>de</strong>sconstrução e reconstrução <strong>de</strong> conhecimentos acumulados<br />

historicamente, constitui uma tentativa <strong>de</strong> síntese teórica <strong>da</strong> experiência<br />

brasileira <strong>de</strong> administração <strong>da</strong> educação, no contexto inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />

(SANDER, 2007, p. 88).<br />

Tal paradigma busca respon<strong>de</strong>r organizacio<strong>na</strong>l e administrativamente <strong>de</strong><br />

maneira eficiente, eficaz, efetiva e relevante às atuais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s instituições<br />

educacio<strong>na</strong>is (ou seja, tenta utilizar-se/juntar os quatro mo<strong>de</strong>los), para tanto, cria


políticas, projetos e programas para <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong>sse objetivo. Segundo San<strong>de</strong>r (ibi<strong>de</strong>m),<br />

a bibliografia referente a essa questão aponta que há sistemas e escolas que pensam<br />

diferentes mo<strong>de</strong>los administrativos, <strong>de</strong> forma que os que privilegiam um padrão,<br />

baseando-se <strong>na</strong> eficiência (e, possivelmente, numa suposta eficácia), são <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza<br />

empresarial; já os que preocupam-se com o papel político <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>/comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

tem o critério <strong>de</strong> efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> política; há os que se orientam pela eficácia <strong>na</strong> obtenção <strong>de</strong><br />

seus objetivos pe<strong>da</strong>gógicos; e, por fim, aqueles que pautam-se no ser humano como um<br />

autor social e individual, tendo como norte a relevância cultural para a sua atuação.<br />

Contudo, o autor (2007) salienta que a utilização <strong>de</strong>sses quatro mo<strong>de</strong>los (em<br />

sua forma “pura”) resulta/reflete numa administração educacio<strong>na</strong>l, bem como em suas<br />

concepções, reducionista e fragmenta<strong>da</strong>. Com o intuito <strong>de</strong> que essas visões sobre a<br />

gestão <strong>da</strong> educação sejam modifica<strong>da</strong>s, faz-se necessário o emprego <strong>de</strong> um novo<br />

tratamento teórico e metodológico. Para tanto, seguindo esse raciocínio tem-se duas<br />

propostas: o enfoque multiparadigmático e o paradigma multidimensio<strong>na</strong>l, sendo que o<br />

primeiro<br />

22<br />

explora as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s heurísticas e praxiológicas, extraí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> distintos<br />

mo<strong>de</strong>los, para estu<strong>da</strong>r e resolver problemas específicos <strong>de</strong> organização e<br />

gestão <strong>da</strong> educação. Essa alter<strong>na</strong>tiva apóia-se <strong>na</strong> idéia <strong>de</strong> que muitos<br />

conceitos dos diferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão não são necessariamente<br />

exclu<strong>de</strong>ntes ou incomensuráveis, mas que po<strong>de</strong>m ser utilizados seletivamente<br />

<strong>na</strong> teoria e <strong>na</strong> prática <strong>da</strong> educação e <strong>de</strong> sua administração (SANDER, p. 90).<br />

Já o segundo “é uma construção histórico-estrutural que toma a forma <strong>de</strong> um<br />

paradigma global e multirreferencial, baseado <strong>na</strong> análise <strong>da</strong>s confluências e<br />

contradições simultâneas entre as quatro construções históricas <strong>de</strong> administração <strong>da</strong><br />

educação” (ibi<strong>de</strong>m, p. 91). A<strong>de</strong>mais, San<strong>de</strong>r (2007) compreen<strong>de</strong> que além <strong>de</strong>sse<br />

enfoque multirreferencial há, também, um <strong>de</strong>bate a respeito <strong>da</strong> formação<br />

transdiscipli<strong>na</strong>r dos educadores e gestores, a qual é o meio para que seja preserva<strong>da</strong> a<br />

visão <strong>de</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos mesmos (ibi<strong>de</strong>m, p. 114). Essa formação <strong>de</strong>ve<br />

ter como aspecto central as quatro qualificações básicas: econômica (eficiência para<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>rem os recursos econômicos – sua captação e utilização); pe<strong>da</strong>gógica (eficácia<br />

para coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r o processo <strong>de</strong> formulação dos objetivos educacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

consi<strong>de</strong>rando os meios pe<strong>da</strong>gógicos para a sua realização); política (talento para<br />

compreen<strong>de</strong>r o ambiente externo à sua instituição, bem como as influências sofri<strong>da</strong>s<br />

pela mesma, interpretando essas situações e buscando estratégias <strong>de</strong> ação); cultural<br />

(capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e li<strong>de</strong>rança para pensar soluções administrativas e


educacio<strong>na</strong>is e implantá-las, buscando, a todo momento, quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> coletiva no<br />

interior e fora <strong>da</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong>) (SANDER, 2007, p. 112-113).<br />

A partir <strong>de</strong> San<strong>de</strong>r (2007), Fonseca e Oliveira (2009), percebe-se a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> elaboração <strong>de</strong> uma nova síntese teórica <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> educação 15 ,<br />

baseando-se <strong>na</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>/articulação dos atos e fatos administrativos, uma vez que<br />

essa visão <strong>de</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> é relevante, sem contar que fica a cargo do gestor o papel <strong>de</strong><br />

mediador frente às diversas dimensões, bem como seus conflitos, confluências e<br />

contradições, que dão características aos fenômenos educacio<strong>na</strong>is tão complexos em<br />

nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Lima (2003) é outro autor que abor<strong>da</strong> os mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is, enten<strong>de</strong>ndo-<br />

os como construção teórica e apresentando-os sob duas <strong>perspectiva</strong>s:<br />

a<strong>na</strong>líticos/interpretativos e normativistas/pragmáticos. A primeira refere-se a i<strong>de</strong>ias<br />

para a<strong>na</strong>lisar e interpretar a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (se esta for empresarial, pauta-se numa Gestão <strong>de</strong><br />

competências) – o autor não nega-a, mas diz que este mo<strong>de</strong>lo não dá conta <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a<br />

escola. Já a segun<strong>da</strong>, está relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> a normas <strong>da</strong> prática (a chama<strong>da</strong> Gestão <strong>de</strong><br />

resultados, <strong>na</strong> qual estes são produzidos, por exemplo: não ter evasão, bem como<br />

repetências) e a escola baseia-se em função <strong>de</strong> metas, sem, contudo, viver em função<br />

disso.<br />

Outros dois enfoques <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los como configurações socialmente<br />

construí<strong>da</strong>s/em construção são consi<strong>de</strong>rados: <strong>de</strong> orientação para ação e os praticados<br />

ou em ação. O primeiro engloba questões como: mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong>cretados (que é o que está<br />

posto, estipulado – leis, estruturas, regras, relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r), interpretados (modo<br />

como as leis são interpreta<strong>da</strong>s por ca<strong>da</strong> um, sendo que é <strong>de</strong>vido a essa interpretação que<br />

as escolas têm suas i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, já que são reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes) e recriados (on<strong>de</strong> está<br />

a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escola, seu regimento, o PPP, etc.), <strong>de</strong>ssa forma, <strong>de</strong>ve-se pensar o<br />

motivo pelo qual alguns <strong>de</strong>cretos dão certo em ação e outros não. Quanto ao segundo<br />

enfoque, é muito próximo ao anterior, uma vez que olhando o regimento <strong>da</strong> escola, é<br />

possível perceber que ela não é estática, ou seja, “ela não é, ela está”, com base nisso, ao<br />

notar que esta não está boa, po<strong>de</strong>-se pensar no que ela po<strong>de</strong> melhorar (LIMA, 2003).<br />

A<strong>de</strong>mais, o autor (ibi<strong>de</strong>m) coloca a importância <strong>da</strong> instituição educacio<strong>na</strong>l ter,<br />

também, um “olhar mesoa<strong>na</strong>lítico”, pois assim conseguirá integrar as contribuições<br />

15 A qual, “Nos termos do paradigma multidimensio<strong>na</strong>l, (...) orienta-se por conteúdos substantivos e<br />

valores éticos construídos coletivamente, como a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> que, por sua vez, outorgam a<br />

moldura organizacio<strong>na</strong>l para a participação ci<strong>da</strong>dã <strong>na</strong> promoção <strong>de</strong> uma forma qualitativa <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> huma<strong>na</strong><br />

coletiva, tanto <strong>na</strong> escola como <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>” (SANDER, 2007, p. 94-95).<br />

23


apresenta<strong>da</strong>s no âmbito macro (políticas-públicas) e micro (relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>la, o dia-a-dia). Dessa forma, o autor parte do princípio <strong>de</strong> que há <strong>de</strong>cretos e leis<br />

(administração com teoria) que influenciam a escola, e, com isso, esta passa a ter uma<br />

autonomia (<strong>de</strong> acordo com as leis), só que relativa.<br />

Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, propôs-se uma re<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> escola, objetivando<br />

uma nova forma <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssas instituições, e, consequentemente,<br />

visando a “quebra” do tradicio<strong>na</strong>lismo presente <strong>na</strong>s relações, consi<strong>de</strong>rando que o<br />

taylorismo (princípios utilizados até então) não era tão “humano” (LIMA, 2003). Sendo<br />

assim, com a mo<strong>de</strong>rnização surge o neo-taylorismo, cuja base é o mesmo discurso do<br />

anterior, só que se apresenta com uma “cara nova”, porém a essência não se altera,<br />

pautando-se, ain<strong>da</strong>, no slogan “ser mo<strong>de</strong>rno é ser eficaz”.<br />

A partir <strong>de</strong> 1990, no contexto <strong>de</strong> reestruturação produtiva capitalista, foram<br />

cria<strong>da</strong>s novas propostas com relação à gestão <strong>da</strong> educação básica visando à reforma do<br />

Estado brasileiro a fim <strong>de</strong> inovar <strong>na</strong> formação dos trabalhadores, <strong>de</strong> modo que “A<br />

administração pública adquiriu um formato gerencial, mais ágil e flexível, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> imprimir eficiência ao <strong>de</strong>sempenho do Estado” (FONSECA; OLIVEIRA,<br />

2009, p. 234), a<strong>de</strong>quando-o ao momento competitivo do capitalismo global.<br />

Esse novo mo<strong>de</strong>lo apresentou alguns conceitos que caracterizariam essa nova<br />

forma <strong>de</strong> organização (que são as palavras-chave para a Gestão Democrática):<br />

autonomia (elemento importante para construir um espírito e cultura <strong>de</strong> organização-<br />

empresa), <strong>de</strong>scentralização (garante a eficiência econômica e respeita a liber<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

individual) e participação (que é uma técnica <strong>de</strong> gestão, sendo fator <strong>de</strong> coesão e<br />

consenso). Segundo Lima (2003), tais conceitos são voltados para a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

técnica, portanto, é “a política do não político” – é a escolha <strong>da</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica, <strong>da</strong><br />

política <strong>de</strong> solução, <strong>na</strong> qual não se discute e não há participação –, visando resultados e,<br />

consequentemente, eficiência, tor<strong>na</strong>ndo, então, uma política sem escolha, logo, nos<br />

remete ao mo<strong>de</strong>lo anterior.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo a gestão escolar como organização e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo sua efetivação,<br />

Libâneo (2001) apresenta termos como: organização, administração, gestão e<br />

participação. Consi<strong>de</strong>ra que a administração (atribuição <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s: garantia<br />

<strong>de</strong> eficiência/coesão do trabalho) está embuti<strong>da</strong> <strong>na</strong> organização (dispor <strong>de</strong> coisas e<br />

pessoas), uma vez que ao organizar, já se está administrando. Seguindo este raciocínio,<br />

aponta como central para ambos os processos a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, e,<br />

consequentemente, a gestão, sendo que cabe à direção colocá-la em ação.<br />

24


Esta gestão po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntre duas concepções: técnico-científica<br />

(visão burocrática <strong>da</strong> escola, pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong> hierarquia, on<strong>de</strong> o indivíduo é centralizador, e<br />

visa alcançar altos índices <strong>de</strong> eficiência); sociocrítica (visão coletiva, opondo-se a<br />

formas <strong>de</strong> subordi<strong>na</strong>ção e domi<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> indivíduos, tanto a organização escolar como<br />

as <strong>de</strong>cisões são construí<strong>da</strong>s e toma<strong>da</strong>s coletivamente, consi<strong>de</strong>rando, assim, a<br />

participação <strong>da</strong> equipe escolar, comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pais e alunos). Esta última concepção<br />

subdivi<strong>de</strong>-se em: autogestionária (ênfase <strong>na</strong>s relações inter-pessoais, buscando toma<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões coletivas e alternância para exercer as funções), interpretativa (consi<strong>de</strong>ra as<br />

intenções, a interação <strong>da</strong>s pessoas, e os significados subjetivos, já as práticas<br />

organizativas são uma construção social) ou <strong>de</strong>mocrático-participativa (visão <strong>de</strong>ste<br />

autor, que pauta-se no coletivo, como: setor técnico-administrativo, setor pe<strong>da</strong>gógico,<br />

Conselho <strong>de</strong> Escola, <strong>de</strong> Série e Classe, Associação <strong>de</strong> Pais e Mestres – APM –, Grêmio<br />

Estu<strong>da</strong>ntil, etc.) (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2009).<br />

Para tanto, enten<strong>de</strong>-se que a participação é o modo <strong>de</strong> garantir esta gestão<br />

<strong>de</strong>mocrática, já que proporcio<strong>na</strong>rá maior aproximação entre escola e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que<br />

implicará num processo coletivo <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, bem como <strong>na</strong> construção <strong>de</strong><br />

objetivos compartilhados, principalmente através do diálogo e do consenso (LIBÂNEO,<br />

2001).<br />

Cabe ressaltar que este autor enten<strong>de</strong> a “cultura organizacio<strong>na</strong>l”, como a<br />

instituição tendo uma vi<strong>da</strong> escolar própria, subjetiva que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> experienciação,<br />

logo, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Libâneo (ibi<strong>de</strong>m) também <strong>de</strong>monstra a questão <strong>da</strong> estrutura<br />

organizacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> escola, dizendo que to<strong>da</strong> instituição escolar necessita <strong>de</strong> uma<br />

estrutura (ou seja, <strong>de</strong> or<strong>de</strong><strong>na</strong>mento, disposição <strong>da</strong>s funções que garantam seu<br />

funcio<strong>na</strong>mento) <strong>de</strong> organização inter<strong>na</strong>.<br />

Entretanto, mesmo com todo esse processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> escola,<br />

tentando revitalizar os órgãos internos <strong>de</strong> participação coletiva, esta ain<strong>da</strong> está longe <strong>de</strong><br />

ser a i<strong>de</strong>al, uma vez que as APMs, por exemplo, têm servido para arreca<strong>da</strong>r dinheiro, e<br />

não efetivamente para promover a participação dos pais; os Conselhos <strong>de</strong> Classe têm<br />

sido utilizados para reprovar ou não os alunos, e não como um espaço <strong>de</strong> participação e<br />

opinião dos pais; os Grêmios Estu<strong>da</strong>ntis, que são locais em que os alunos po<strong>de</strong>m<br />

participar, muitas vezes são ignorados pela direção <strong>da</strong> escola, que vê seus integrantes<br />

como “ba<strong>de</strong>rneiros” (PARO, 2008).<br />

Paro (ibi<strong>de</strong>m), faz uma consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> 6 pontos para que haja, <strong>de</strong> fato, uma<br />

efetiva <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s relações no interior <strong>da</strong> escola pública, os quais: direção<br />

25


colegia<strong>da</strong>, estrutura didática, currículo, trabalho docente, autonomia do educando,<br />

integração <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ressalta a importância <strong>da</strong> consonância entre os âmbitos<br />

administrativos, que são as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s meio (dá condições para que o ensino-<br />

aprendizagem ocorra), e pe<strong>da</strong>gógico, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fim (função <strong>da</strong> escola – promover<br />

ensino-aprendizagem).<br />

Uma gestão <strong>de</strong>mocrática, que não coloca à parte a questão do processo, dos<br />

resultados e <strong>da</strong> eficiência – características <strong>da</strong> escola clássica –, para ser efetiva no<br />

ambiente escolar, pensa sua estrutura como fruto <strong>de</strong> relações huma<strong>na</strong>s. Este mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a presença <strong>de</strong> comportamentos, como: diálogo, cooperação, respeito,<br />

participação <strong>na</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, etc., e atribui ao gestor mais uma função, a <strong>de</strong><br />

propiciar e conservar uma relação harmônica entre os envolvidos, garantindo, com isso,<br />

a efetivação <strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s propostas.<br />

Enfim, <strong>de</strong>vemos sempre ter em mente que<br />

26<br />

A escola <strong>de</strong>mocrática, participativa e <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> socialmente referencia<strong>da</strong>,<br />

requer profissio<strong>na</strong>is do magistério engajados e comprometidos com a sua<br />

transformação cotidia<strong>na</strong>, mesmo consi<strong>de</strong>rando as condições objetivas em<br />

que se estabelece o processo ensino-aprendizagem, o que implica <strong>na</strong><br />

discussão, proposição e materialização <strong>de</strong> um projeto político-pe<strong>da</strong>gógico<br />

específico, <strong>de</strong>finindo princípios, diretrizes e metas coletivamente pactua<strong>da</strong>s<br />

(FONSECA; OLIVEIRA, 2009, p. 245 – grifos meus).<br />

2.2. Políticas Públicas <strong>da</strong> Educação e a administração <strong>na</strong> escola<br />

A escola é pensa<strong>da</strong> com base em mo<strong>de</strong>los organizacio<strong>na</strong>is pautados nos<br />

princípios e métodos <strong>de</strong> experiência administrativa, mas possui características diferentes<br />

<strong>da</strong>s empresas industriais, já que é volta<strong>da</strong> para a formação <strong>de</strong> pessoas, estabelece<br />

relações interpessoais, baseia-se em práticas educativas e leva em consi<strong>de</strong>ração (ou<br />

<strong>de</strong>veria levar) a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo educativo ao invés <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>/resultados 16<br />

(LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2009, p. 315).<br />

Nesse sentido, mesmo pensa<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los formais (característica<br />

instituí<strong>da</strong>: normas, estrutura organizacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, currículo, horários, etc.), as<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares, por possuírem características e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que lhes são próprias<br />

(como os relacio<strong>na</strong>mentos entre seus membros e, com isso, a junção <strong>de</strong> diferentes<br />

vivências e bagagens culturais – característica instituinte), reapropriam e reinterpretam<br />

16 To<strong>da</strong>via, muitas escolas têm em sua política – relação <strong>da</strong> implementação <strong>de</strong> reformas educacio<strong>na</strong>is no<br />

planejamento <strong>da</strong> instituição (OYAFUSO; MAIA, 2004) – a busca por resultados, como, por exemplo,<br />

altos índices <strong>na</strong>s provas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, o que acaba resultando em aumento <strong>de</strong> verbas para as instituições.


o saber e a cultura, fazendo o mesmo com as Políticas Públicas Educacio<strong>na</strong>is, para que<br />

assim possam, <strong>da</strong> melhor maneira possível, atingir seus objetivos <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r<br />

aprendizagem escolar, formar para a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, bem como os valores e atitu<strong>de</strong>s<br />

(LIBÂNEO, 2001; LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2009).<br />

Enfim, essa apropriação, interpretação e a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s leis feita pelas<br />

instituições <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> acordo com suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, referem-se à<br />

relação <strong>de</strong> Gestão 17 Educacio<strong>na</strong>l e Escolar, já que a escola, mesmo sendo um espaço<br />

micro, está muito liga<strong>da</strong> às políticas educacio<strong>na</strong>is (que são macro), ou seja, parte-se do<br />

geral para o particular no que tange à(s) sua(s) política(s), consi<strong>de</strong>rando que ca<strong>da</strong> nível<br />

tem uma própria (VIEIRA, 2007).<br />

Des<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, com o fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> ditadura militar e com a força dos<br />

movimentos sociais, se pensava uma educação e, também, uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> nos mol<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> uma gestão 18 <strong>de</strong>mocrática. Esta mu<strong>da</strong>nça, tendo a <strong>de</strong>mocracia como forma <strong>de</strong><br />

governo, fica explícita <strong>na</strong> Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, conforme artigo 206, inciso VI<br />

27<br />

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:<br />

VI – gestão <strong>de</strong>mocrática do ensino público <strong>na</strong> forma <strong>da</strong> lei (BRASIL,<br />

1988).<br />

Segundo Mendonça (2000):<br />

A Carta Constitucio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> 1988 trouxe uma inovação para o capítulo sobre<br />

educação ao incorporar a Gestão Democrática como um princípio do ensino<br />

público <strong>na</strong> forma <strong>da</strong> lei (...). A promulgação <strong>da</strong> Constituição, em 1988,<br />

tornou obrigatória a a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s Constituições Estaduais e <strong>da</strong>s Leis<br />

Orgânicas do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e dos municípios às novas <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções,<br />

<strong>de</strong>ntre elas a do princípio <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática do ensino público (p. 1).<br />

Em consonância com a Constituição Fe<strong>de</strong>ral, outras leis e <strong>de</strong>cretos foram se<br />

regularizando para a implantação <strong>de</strong>sta gestão, como, por exemplo, a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e<br />

Bases <strong>da</strong> Educação Nacio<strong>na</strong>l (LDBEN) aprova<strong>da</strong> sob o número 9.394/96, que <strong>de</strong>ixa a<br />

cargo dos sistemas <strong>de</strong> ensino Fe<strong>de</strong>ral, Estadual, Municipal e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, suas<br />

normas:<br />

17 Segundo Vieira (2007), gestão é a materialização <strong>da</strong>s práticas, ou seja, transformação <strong>da</strong>s políticas que<br />

traduzem as intenções do Po<strong>de</strong>r Público – a gestão pública integra-se por três dimensões: valor público,<br />

condições <strong>de</strong> implementação e condições políticas (p. 58).<br />

18 Ocorreu uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> termo: <strong>de</strong> “administração” para “gestão”, isso para incorporar ares <strong>de</strong><br />

“mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>” – consi<strong>de</strong>rando que o primeiro referia-se a ares burocráticos (remetendo-nos a Taylor e<br />

Fayol), já o segundo versa sobre gerir junto, é mais <strong>de</strong>mocrático por abranger a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong><br />

forma que trata-se <strong>de</strong> interação direta com o outro e, por isso, mu<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas ao envolvê-las<br />

(VIEIRA, 2007). Mas cabe salientar que esta mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> paradigma não necessariamente ocorre <strong>na</strong><br />

prática.


28<br />

Art. 14º. Os sistemas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>finirão as normas <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática do<br />

ensino público <strong>na</strong> educação básica, <strong>de</strong> acordo com as suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

conforme os seguintes princípios:<br />

I – participação dos profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> educação <strong>na</strong> elaboração do projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola;<br />

II – participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolar e local em conselhos escolares ou<br />

equivalentes (BRASIL, 1996).<br />

Observando os princípios expostos acima, vemos que há um gran<strong>de</strong> progresso<br />

em relação à gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong>s escolas, pois, respeitando as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

sistema <strong>de</strong> ensino, a LDB amplia a disposição constitucio<strong>na</strong>l e progri<strong>de</strong> quanto à<br />

participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local em Conselhos <strong>de</strong> Escola e equivalentes. Nesse<br />

sentido, buscou-se substituir o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> centralização pelo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização,<br />

acreditando que o primeiro era sinônimo <strong>de</strong> autoritarismo, enquanto o segundo seria <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratização, mas não o é necessariamente, uma vez que o contrário po<strong>de</strong> ocorrer<br />

(AZEVEDO, 2009, p. 214).<br />

Aqui <strong>de</strong>vemos ressaltar que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança exercido, <strong>de</strong> acordo com<br />

ca<strong>da</strong> gestor escolar, faz to<strong>da</strong> diferença <strong>na</strong> hora em que o processo <strong>de</strong>cisório é colocado<br />

em prática, <strong>de</strong> modo que os diretores autoritários e fechados para a discussão acabam<br />

<strong>de</strong>sencorajando a todos no processo <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> soluções dos<br />

problemas. Logo, a partir do momento que há uma integração <strong>de</strong> todos os atores <strong>da</strong><br />

escola, os projetos tor<strong>na</strong>m-se consistentes, sólidos e <strong>de</strong> melhor aplicação e êxito (LÜCK<br />

et. al., 2007).<br />

Buscando melhorias <strong>na</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação é que são propostas reformas e<br />

reestruturações do ensino no que tange a organização escolar, re<strong>de</strong>finição dos<br />

currículos, avaliação, gestão, fi<strong>na</strong>nciamento. Como consequências po<strong>de</strong>mos obter:<br />

<strong>de</strong>scentralização administrativa, fi<strong>na</strong>nceira e pe<strong>da</strong>gógica; crescimento <strong>da</strong> autonomia<br />

institucio<strong>na</strong>l; “performativi<strong>da</strong><strong>de</strong>”; diretor como o principal representante <strong>da</strong> escola;<br />

regime <strong>de</strong> empresa; novas formas <strong>de</strong> controle e vigilância; surgimento <strong>de</strong> consultores e<br />

especialistas: caminhos para a realização <strong>da</strong> “autogestão escolar” (OLIVEIRA 19 , 2009).<br />

Com o intuito <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralizar a Gestão Educacio<strong>na</strong>l e tentando melhorar a<br />

quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino no Brasil, criam-se planos, índices e metas, como: Programa<br />

Dinheiro Direto <strong>na</strong> Escola (PDDE) – o dinheiro <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>do a ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar é<br />

gerido por enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s “priva<strong>da</strong>s” (Caixa Escolar, Associação <strong>de</strong> Apoio à Escola, APM,<br />

por exemplo). Também implantou-se iniciativas que tiveram fi<strong>na</strong>nciamento do Banco<br />

19 A autora faz uma breve retrospectiva do governo FHC no que tange às Políticas Educacio<strong>na</strong>is,<br />

consi<strong>de</strong>rando, no <strong>de</strong>correr do texto, as permanências e rupturas ocorri<strong>da</strong>s no governo Lula.


Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial/Bird) e outros<br />

órgãos inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, através <strong>de</strong> acordos realizados com o Ministério <strong>da</strong> Educação<br />

(MEC) ou com os estados (FONSECA; OLIVEIRA, 2009) 20 . Outros índices, planos e<br />

metas criados objetivando a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino no Brasil, foram: Fundo<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Escola (Fun<strong>de</strong>scola); Programa <strong>de</strong> Gerência <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Total <strong>na</strong> Educação (GQTE); Projeto <strong>de</strong> Melhoria <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> Educação Básica<br />

(Pró-Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>) – formado por: Programa <strong>de</strong> Apoio às Inovações Educacio<strong>na</strong>is (Paie),<br />

Projeto <strong>de</strong> Desenvolvimento e Enriquecimento Curricular (Pro<strong>de</strong>c), Plano <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação (PDE); Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação Básica<br />

(IDEB); Plano <strong>de</strong> Ações Articula<strong>da</strong>s (PAR); Plano <strong>de</strong> Metas “Compromisso Todos pela<br />

Educação” (disponibilizando ações e programas <strong>de</strong> assistência fi<strong>na</strong>nceira e técnica)<br />

(FONSECA; OLIVEIRA, 2009; OLIVEIRA, 2009).<br />

Ain<strong>da</strong> com o mesmo objetivo, mas voltados para os espaços locais (os<br />

municípios), foram criados, no governo Lula, outros Programas Fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> Gestão<br />

Educacio<strong>na</strong>l, que procuram ampliar os níveis <strong>de</strong> participação 21 .<br />

Assim, originou-se, em 2003, o Pró-Conselho (Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong><br />

Capacitação <strong>de</strong> Conselheiros Municipais <strong>de</strong> Educação); em 2004, o Programa Nacio<strong>na</strong>l<br />

<strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares (PNF<strong>CE</strong>), que busca fortalecer os <strong>CE</strong>,<br />

capacitando seus membros a fim <strong>de</strong> obter melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino e garantir a<br />

efetiva participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s local e escolar (Ca<strong>de</strong>rno 1 do PNF<strong>CE</strong> apud<br />

AZEVEDO, 2009), entre outros.<br />

Tais políticas (feitas por organizações como Secretaria <strong>de</strong> Educação, órgãos<br />

normativos dos diferentes níveis do Po<strong>de</strong>r Público) – entendi<strong>da</strong>s por Gestão<br />

Educacio<strong>na</strong>l, pelo fato <strong>de</strong> tratar do âmbito macro <strong>da</strong> educação, abrangendo as esferas<br />

fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal, as quais pensam as políticas educacio<strong>na</strong>is (tanto em<br />

termos <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s compartilha<strong>da</strong>s <strong>na</strong> oferta <strong>de</strong> ensino, quanto em outras ações<br />

que <strong>de</strong>senvolvem em suas áreas específicas <strong>de</strong> atuação), traçando orientações e<br />

<strong>de</strong>finições gerais que sustentam as políticas educativas, bem como o planejamento,<br />

acompanhamento e avaliação (VIEIRA, 2007) – influenciam, direta ou indiretamente,<br />

no cotidiano <strong>de</strong> uma UE, uma vez que<br />

20 Nesse sentido, os autores realizaram uma pesquisa para enten<strong>de</strong>r e a<strong>na</strong>lisar o impacto <strong>de</strong> dois<br />

programas <strong>na</strong> gestão escolar: Pró-Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e Fun<strong>de</strong>scola.<br />

21 No governo FHC, um <strong>de</strong> seus méritos no âmbito educacio<strong>na</strong>l foi ter estabelecido, legalmente, os<br />

mecanismos <strong>de</strong> participação <strong>da</strong> população (AZEVEDO, 2009).<br />

29


30<br />

(...) vão expressar uma <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong>finição social a respeito <strong>da</strong><br />

‘<strong>de</strong>mocracia’ que vai encontrar articulação com o referencial normativo<br />

global: o projeto <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que está se tentando implantar (MULLER,<br />

1995 apud AZEVEDO, 2009, p. 213).<br />

Contudo, cabe salientar que a escola “não se reduz ‘a um mero reverso <strong>da</strong>s<br />

políticas’, mas antes se configura como um espaço <strong>de</strong> reconstrução e <strong>de</strong> inovação,<br />

oferecendo elementos para a formulação <strong>de</strong> novas políticas” (VIEIRA, 2007, p. 58),<br />

com isso, as políticas educacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>vem atentar e compreen<strong>de</strong>r “se” e “como” as<br />

i<strong>de</strong>ias que propõem são coloca<strong>da</strong>s em prática, isto é, se são traduzi<strong>da</strong>s, ou não, <strong>na</strong> gestão<br />

educacio<strong>na</strong>l escolar.<br />

A instituição escolar é uma organização com interação intencio<strong>na</strong>l entre<br />

pessoas “a fim <strong>de</strong> alcançar objetivos educacio<strong>na</strong>is” (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI,<br />

2009, p. 316-317). Portanto, sua organização<br />

(...) refere-se aos princípios e procedimentos relacio<strong>na</strong>dos à ação <strong>de</strong><br />

planejar 22 o trabalho <strong>da</strong> escola, racio<strong>na</strong>lizar o uso <strong>de</strong> recursos (materiais,<br />

fi<strong>na</strong>nceiros, intelectuais) e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r e avaliar o trabalho <strong>da</strong>s pessoas, tendo<br />

em vista a consecução <strong>de</strong> objetivos (ibi<strong>de</strong>m, p. 316).<br />

Apresenta sub-divisões, em relação à uni<strong>da</strong><strong>de</strong> social e sua função<br />

administrativa (CHIAVENATO, 1989 apud ibi<strong>de</strong>m).<br />

Para Vieira (2007), a Gestão Escolar 23 é uma esfera micro, pois abrange os<br />

estabelecimentos <strong>de</strong> ensino, logo, pensa a Proposta Pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> sua UE e diz respeito<br />

às tarefas que abrange, assegurando suas funções (<strong>de</strong> promover o processo <strong>de</strong> ensino e<br />

aprendizagem, viabilizando a educação como um direito <strong>de</strong> todos) através <strong>de</strong> seus<br />

agentes, que são os professores, alunos e <strong>de</strong>mais membros <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolar e<br />

local.<br />

Libâneo, Oliveira, Toschi (2009, p. 332-338) apresentam os princípios e<br />

características <strong>da</strong> gestão escolar participativa: “Autonomia <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

educativa”, “Relação orgânica entre a direção e a participação dos membros <strong>da</strong> equipe<br />

22 Planejar “é caminhar para o <strong>de</strong>sejável, mas construir uma nova escola vai além do voluntarismo,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> política, <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> competência para a ação” (OYAFUSO; MAIA, 2004,<br />

p. 18), sendo assim, “significa projetar, programar, elaborar roteiros para atingir <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos<br />

objetivos, <strong>de</strong> forma a evitar improvisação”, ou seja, o plano escolar <strong>de</strong>ve ser uma tarefa coletiva e<br />

dinâmica, pois envolve a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> UE (<strong>na</strong> qual adota uma política, não partidária, própria) e suas<br />

relações, e, portanto, <strong>de</strong>ve propor ações que visem “a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formação dos alunos em todos os<br />

níveis” (ibi<strong>de</strong>m, p. 26 – grifos dos autores).<br />

23 Para Oyafuso e Maia (2004) a Gestão escolar diz respeito ao conjunto <strong>de</strong> ações que envolvem o<br />

planejamento, promove a integração e articulação entre atores e entre projetos e programas, bem como<br />

experiências (p. 25). Sendo que o planejamento é a “alma” <strong>da</strong> instituição, além <strong>de</strong> ser um dos<br />

instrumentos que permite aos educadores <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> forma competente a proposta educacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> sua<br />

escola, mas concreto, flexível e a<strong>de</strong>quado à situação <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola.


escolar”, “Envolvimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no processo escolar”, “Planejamento <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s”, “Formação continua<strong>da</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal e profissio<strong>na</strong>l dos<br />

integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar”, “Utilização <strong>de</strong> informações concretas e análise <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> problema em seus múltiplos aspectos, com ampla <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s<br />

informações”, “Avaliação compartilha<strong>da</strong>”, “Relações huma<strong>na</strong>s produtivas e criativas,<br />

assenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> busca <strong>de</strong> objetivos comuns”.<br />

Desse modo,<br />

Por isso,<br />

31<br />

Sendo a escola um espaço próprio à difusão do saber, todo o esforço nela<br />

realizado <strong>de</strong>ve convergir para a aprendizagem <strong>da</strong>queles para quem foi cria<strong>da</strong><br />

– sejam crianças <strong>da</strong> mais tenra i<strong>da</strong><strong>de</strong>, jovens ou adultos. Tantos são os<br />

problemas <strong>da</strong> prática, que a gestão corre o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar-se <strong>de</strong>sta fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

aparentemente tão simples. (...) E isto, bem se sabe, não po<strong>de</strong> nem <strong>de</strong>ve<br />

ocorrer. O sucesso <strong>de</strong> uma gestão escolar, em última instância, só se<br />

concretiza mediante o sucesso <strong>de</strong> todos os alunos. Daí porque é preciso<br />

manter como norte a ‘gestão para uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizes’ (VIEIRA,<br />

2005 apud) (VIEIRA, 2007, p. 67).<br />

Nessa <strong>perspectiva</strong>, cabem aos formuladores <strong>de</strong> política e aos gestores<br />

concentrarem esforços <strong>na</strong> tarefa <strong>de</strong> fazer chegar às escolas os instrumentos<br />

para operacio<strong>na</strong>lizarem o <strong>de</strong>safio do sucesso do ensino e <strong>da</strong> aprendizagem.<br />

Esta tarefa sem trégua está posta para todos. A ela não po<strong>de</strong>m se furtar a(s)<br />

política(s) e a gestão <strong>da</strong> educação básica (ibi<strong>de</strong>m, p. 68).<br />

É possível consi<strong>de</strong>rar que a relação entre os âmbitos micro (escola) e macro<br />

(políticas públicas) é muito complexa, afi<strong>na</strong>l, ambos envolvem relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. No<br />

que tange aos formuladores <strong>de</strong> políticas públicas, cabe colocar que para conquistar a<br />

a<strong>de</strong>são e o convencimento dos professores, precisam se aproximar <strong>da</strong> instituição<br />

educacio<strong>na</strong>l. Já a escola, muitas vezes não a<strong>de</strong>re às i<strong>de</strong>ias e tampouco transforma e<br />

qualifica a prática docente (OYAFUSO; MAIA, 2004).<br />

A partir disso, obtém-se duas situações opostas: primeiro, uma<br />

<strong>de</strong>scentralização-centraliza<strong>da</strong> – “projetos 24 são elaborados em nível central sem que haja<br />

a discussão e participação dos atores escolares” (ibi<strong>de</strong>m, p. 10); e segundo,<br />

(...) é conveniente que, em nome <strong>da</strong> autonomia dos professores e <strong>da</strong> escola,<br />

não se apresente qualquer projeto ou programa educacio<strong>na</strong>l, pois esses,<br />

<strong>de</strong>verão emergir <strong>da</strong> prática profissio<strong>na</strong>l orientadora <strong>da</strong>s ‘<strong>de</strong>cisões que dão<br />

certo’, como se a prática <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> com bons resultados não estivesse<br />

apoia<strong>da</strong> em teorias que <strong>de</strong>veriam ser explicita<strong>da</strong>s (OYAFUSO; MAIA, 2004,<br />

p. 10).<br />

24 Para Dagnino, Olvera e Panfichi (2006, p. 38 apud AZEVEDO, 2009, p. 213), o conceito <strong>de</strong> projetos<br />

políticos refere-se ao “conjunto <strong>de</strong> crenças, interesses, concepções <strong>de</strong> mundo, representações do que <strong>de</strong>ve<br />

ser a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, que orientam a ação política dos diferentes sujeitos”.


Enfim, nessa intensa (e tensa) relação entre Gestão Escolar e Educacio<strong>na</strong>l, uma<br />

gran<strong>de</strong> questão que está posta é o fato <strong>da</strong>s políticas públicas não terem proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />

a instituição escolar, pensando-a, muitas vezes, fora <strong>de</strong> seus contextos.<br />

Essa situação interfere <strong>na</strong>s práticas docentes, bem como <strong>na</strong> autonomia <strong>da</strong><br />

escola, a qual está relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> à construção <strong>de</strong> sua própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> (por meio <strong>da</strong> qual<br />

adota uma política, não partidária, própria), já que ca<strong>da</strong> UE é única quanto à sua história<br />

e características, e <strong>na</strong> sua relação com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Alguns professores e diretores<br />

(que estão, <strong>de</strong> fato, envolvidos com suas práticas) ficam angustiados, pois pensam e<br />

buscam seus próprios currículos, mas acabam sendo subestimados pelas políticas<br />

educacio<strong>na</strong>is que impõem “soluções”/currículos unificados, diminuindo a autonomia<br />

<strong>de</strong>sses profissio<strong>na</strong>is.<br />

2.3. A hierarquização e a cultura escolar<br />

Apesar <strong>de</strong> possuírem uma estrutura padrão, as instituições escolares têm suas<br />

particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s/i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s próprias, com caráter autônomo, ou seja, uma dinâmica e<br />

cultura inter<strong>na</strong> que as diferenciam, a qual varia <strong>de</strong> acordo com as negociações que se<br />

<strong>de</strong>senvolvem entre normas <strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelo sistema e percepções,<br />

valores, crenças, i<strong>de</strong>ologias e interesses <strong>de</strong> sua equipe, dos alunos, pais e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(CANDIDO, 1977 apud TEIXEIRA, 2002).<br />

Para tanto, cabe salientar que cultura, <strong>de</strong> acordo com Teixeira (2002), é o elo<br />

que une sistemas simbólicos, códigos, normas e as práticas simbólicas cotidia<strong>na</strong>s, que<br />

interagem pela reapropriação e reinterpretação <strong>da</strong>quilo que constitui a memória social.<br />

Dessa forma, a instituição escolar é, socialmente, <strong>de</strong>sti<strong>na</strong><strong>da</strong> a criar e reproduzir saber e<br />

cultura, <strong>de</strong> modo que tornou-se um espaço <strong>de</strong> reapropriação e reinterpretação <strong>de</strong>ssa e,<br />

consequentemente, <strong>da</strong>s normas, estatutos e regras dita<strong>da</strong>s pelo sistema educacio<strong>na</strong>l, as<br />

quais são a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola (TEIXEIRA e PORTO, 1996 apud<br />

TEIXEIRA, 2002).<br />

Outro aspecto relacio<strong>na</strong>do às particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> UE é sua organização,<br />

que é um processo em construção, no qual os membros são atores <strong>da</strong>s realizações e<br />

mu<strong>da</strong>nças que ocorrem. Nóvoa (1995 apud TEIXEIRA, 2002) enten<strong>de</strong> que o<br />

funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong> uma organização escolar é fruto do compromisso entre a estrutura<br />

formal e as interações que se produzem em seu meio, relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s aos grupos <strong>de</strong><br />

interesses distintos.<br />

32


A cultura organizacio<strong>na</strong>l escolar, bem como <strong>de</strong> qualquer outra organização,<br />

compõe-se por variados elementos que condicio<strong>na</strong>m sua dinâmica inter<strong>na</strong> e integram<br />

aspectos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m histórica, i<strong>de</strong>ológica, sociológica e psicológica. Tal conceito, pautado<br />

<strong>na</strong> participação ativa e efetiva dos indivíduos e <strong>na</strong> análise do simbólico, permite a<br />

compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar como um processo <strong>de</strong> construção social e<br />

opõe-se à tradição estrutural funcio<strong>na</strong>lista (TEIXEIRA, 2002).<br />

Assim como a instituição educacio<strong>na</strong>l, ca<strong>da</strong> país possui sua cultura própria.<br />

Motta (1997) – que não faz uma reflexão direta com a escola, mas com o mundo do<br />

trabalho – diz que essa variação cultural (crenças, valores, atitu<strong>de</strong>s, etc.) é<br />

extremamente importante para a organização, uma vez que tanto essa variação como as<br />

relações alteram-se conforme a economia do país, a qual tem gran<strong>de</strong> influência no<br />

sistema educacio<strong>na</strong>l. Com isso, o autor (ibi<strong>de</strong>m) coloca que quanto mais baixa for a<br />

distância do po<strong>de</strong>r, mais próximo se está <strong>de</strong> quem man<strong>da</strong>, logo, menos hierarquia e mais<br />

participação.<br />

No caso do Brasil, tem-se uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> coletivista, ou seja, sabe-se trabalhar<br />

no coletivo, porém não se coloca entre os mais, já que tem gran<strong>de</strong> distância do po<strong>de</strong>r,<br />

sendo a questão hierárquica muito <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> (quem man<strong>da</strong> e quem obe<strong>de</strong>ce) (MOTTA,<br />

1997). Portanto, por possuir um passado escravocrata e conservar o legado cultural <strong>de</strong><br />

distância do po<strong>de</strong>r, ain<strong>da</strong> há uma diferença muito gran<strong>de</strong> <strong>na</strong>s classes sociais, bem como<br />

os valores <strong>de</strong>mocráticos tor<strong>na</strong>ram-se enfraquecidos, o que ocorre pelo “jeitinho<br />

brasileiro” (ibi<strong>de</strong>m, p. 33).<br />

Segundo Motta (ibi<strong>de</strong>m), há uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r a questão <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>mocracia, não somente pelo fato <strong>da</strong> escola “não abrir suas portas” para a participação,<br />

mas também, e principalmente, pela variação cultural. Assim, não adianta somente <strong>da</strong>r<br />

condição para que ela ocorra, são necessárias pessoas que queiram-<strong>na</strong>.<br />

Santos Filho (1998) coloca a questão <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scentralizações política e<br />

organizacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s escolas. Esta última refere-se à <strong>de</strong>scentralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório<br />

que acontece no interior <strong>da</strong> organização, flexibilizando-a para atitu<strong>de</strong>s com mais<br />

<strong>de</strong>strezas e eficácia, cujos propósitos educacio<strong>na</strong>is são fornecer a criação <strong>de</strong> novas<br />

estruturas, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a mu<strong>da</strong>nça. Já a primeira é representa<strong>da</strong><br />

por uma postura que visa um controle semi-autônomo.<br />

Vale salientar que, muitas vezes, o que encontramos é um falso discurso <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scentralização, no qual ao invés <strong>de</strong> não centralizar o po<strong>de</strong>r em uma pessoa/órgão, o<br />

lí<strong>de</strong>r (geralmente diretores/gestores) distribui tarefas, mas não o po<strong>de</strong>r, fazendo com que<br />

33


qualquer trabalho ou ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> tenha que, necessariamente, passar pelo seu<br />

consentimento, além <strong>de</strong> <strong>da</strong>r “sugestões” para serem <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong>s no Conselho, porém, <strong>na</strong><br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, esse só precisa efetivá-las, ou seja, contrariamente à <strong>de</strong>scentralização, o que<br />

ocorre é a <strong>de</strong>sconcentração.<br />

Ao pensarmos <strong>na</strong> lógica <strong>da</strong> autonomia escolar, que permite aos alunos uma<br />

conscientização e <strong>de</strong>salie<strong>na</strong>ção imposta pelo sistema, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que a educação é <strong>de</strong><br />

extrema importância no processo <strong>de</strong> passagem <strong>da</strong> anomia para a heteronomia, e por sua<br />

vez para a autonomia <strong>de</strong>stes, sendo essa formação possível a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia<br />

institucio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> escola, a qual não evita a presença hierárquica em suas estruturas<br />

organizacio<strong>na</strong>is. Porém, po<strong>de</strong>-se buscar as alter<strong>na</strong>tivas <strong>de</strong>mocráticas, como participação<br />

<strong>na</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão para que essa hierarquia não prevaleça negativamente<br />

(SANTOS FILHO, 1998).<br />

Michels (1958 apud SANTOS FILHO, 1998), porém, acredita que a<br />

<strong>de</strong>mocracia é utópica e irrealizável <strong>de</strong>vido à “lei <strong>de</strong> ferro <strong>da</strong> oligarquia”, ou seja, a<br />

presença <strong>de</strong> uma minoria que possui a li<strong>de</strong>rança (um fenômeno presente em to<strong>da</strong> forma<br />

<strong>de</strong> vi<strong>da</strong> social), necessária para manter a organização. A partir disso, cria dois<br />

argumentos para efetivar seu pensamento: “<strong>da</strong> eficiência” – toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão não po<strong>de</strong><br />

ser coletiva, pois terá confusão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e não chegam a uma solução, uma vez que as<br />

pessoas não têm “competência” – e “<strong>da</strong> apatia <strong>da</strong>s massas” – as pessoas são<br />

politicamente apáticas, gostam que uma minoria li<strong>de</strong>re e tome <strong>de</strong>cisões em seu nome, <strong>de</strong><br />

modo que a <strong>de</strong>mocracia refere-se, somente, à escolha <strong>de</strong>sses lí<strong>de</strong>res, os quais, apesar <strong>de</strong><br />

agirem em nome do coletivo, negam os interesses <strong>de</strong>ste.<br />

Contra-argumentando este autor, Santos Filho (ibi<strong>de</strong>m) diz que essa apatia é<br />

algo imposto pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e não é psicológico, logo, resulta <strong>da</strong> alie<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s<br />

estruturas sociais e políticas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como <strong>da</strong> centralização, do autoritarismo,<br />

burocratização, hierarquização do po<strong>de</strong>r, relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência/domi<strong>na</strong>ção e ausência<br />

<strong>de</strong> autonomia, acreditando que o objetivo educacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>veria ser a maximização <strong>da</strong><br />

participação efetiva (<strong>de</strong> alunos e pais), ensi<strong>na</strong>ndo-os a (con)viver com valores<br />

<strong>de</strong>mocráticos, liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e justiça. Ele também consi<strong>de</strong>ra que a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é um<br />

processo dinâmico, por isso permite a participação <strong>de</strong> muitas pessoas com iniciativa e<br />

objetivos comuns, logo, promove a eficiência e o compromisso com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Então, o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia organizacio<strong>na</strong>l, apesar <strong>de</strong> ser ti<strong>da</strong> como<br />

inexistente, não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> utópica ou impossível, <strong>de</strong> forma que a<br />

proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual entre participação <strong>de</strong>mocrática e educação <strong>de</strong>ve ser trabalha<strong>da</strong><br />

34


como um dos instrumentos para o <strong>de</strong>senvolvimento do senso crítico (MAXCY, 1985<br />

apud SANTOS FILHO, 1998).<br />

Lima (2002), baseando-se em Paulo Freire, abor<strong>da</strong> a questão <strong>da</strong><br />

conscientização como algo muito importante, assim como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> politici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia, uma política <strong>da</strong>s relações. Assim como<br />

Santos Filho (1998), Freire não ignora as domi<strong>na</strong>ções existentes nos aparelhos<br />

organizativos, pois enten<strong>de</strong> que existe a produção e reprodução <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, mesmo<br />

assim, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a concepção <strong>de</strong>mocrática e participativa e acredita que esta seja possível<br />

com a prática <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, isto é, você não apren<strong>de</strong> a ser ci<strong>da</strong>dão se não vivenciar tal<br />

situação, porém esta prática é muito trabalhosa.<br />

Portanto, não dá para pensar a <strong>de</strong>mocracia em uma única <strong>perspectiva</strong>, por isso<br />

<strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>mocratizar o micro, o macro (organizações, currículo, etc.) e o meso<br />

(ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fim e meio), ou seja, ela tem que ter uma prática educativa, caso ao<br />

contrário, não ocorre (LIMA, 2002).<br />

O autor (2002), ain<strong>da</strong> nos indica que não acontece a <strong>de</strong>mocracia sem<br />

autonomia, tanto do professor como do aluno, <strong>da</strong> escola, etc., e esta inci<strong>de</strong> em vários<br />

graus, estando, sempre, em processo (uma vez que <strong>de</strong>ve se criar uma relação <strong>de</strong><br />

confiança). Então, para haver autonomia tem-se que ter a conscientização, com isso, o<br />

professor po<strong>de</strong> ensi<strong>na</strong>r seu aluno a “pensar certo”, e não somente os conteúdos, isso<br />

<strong>de</strong>ve ser realizado através <strong>de</strong> diálogo. Desse modo, segundo Conti e Silva (2009),<br />

sonhando com uma escola <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, com um compromisso com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> é que<br />

tem-se o “trinômio: <strong>de</strong>mocratização supõe participação e esta, por sua vez, supõe<br />

autonomia” (p. 4 – grifos dos autores) e conforme colocado por Lima (2002), a<br />

<strong>de</strong>mocratização <strong>na</strong> escola pressupõe uma “transformação <strong>da</strong>s práticas” (CONTI;<br />

SILVA, 2009, p. 7), a qual <strong>de</strong>ve ser efetiva.<br />

Entretanto, o que encontramos <strong>na</strong>s escolas geralmente é que a participação só<br />

se dá quando os alunos, os pais, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e a própria equipe vêem resultados<br />

(ibi<strong>de</strong>m), <strong>de</strong> modo que se estes não os vêem, não querem nem participação, nem<br />

autonomia, pois é mais fácil ser “coman<strong>da</strong>do”.<br />

Enfim, ca<strong>da</strong> instituição escolar possui sua própria cultura organizacio<strong>na</strong>l e<br />

dinâmica inter<strong>na</strong>, sendo esses aspectos que as diferenciam, já que mesmo as normas<br />

sendo padroniza<strong>da</strong>s, ca<strong>da</strong> uma possui uma interpretação, bem como uma relação com<br />

sua equipe e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que ao se apropriar e interpretar as políticas<br />

públicas, a escola se ajusta à sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é específica.<br />

35


Desse modo, conforme Freire (apud LIMA, 2002), para enten<strong>de</strong>rmos a<br />

presença <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nessas organizações, e acreditarmos numa gestão <strong>de</strong>mocrática e<br />

participativa, precisamos <strong>de</strong>senvolver o diálogo, a consciência e autonomia nos alunos<br />

para que esses participem e façam parte <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia, <strong>de</strong> fato e efetivamente, <strong>de</strong> modo<br />

que po<strong>de</strong> (e <strong>de</strong>ve) haver um lí<strong>de</strong>r, mas este precisa estar aberto à participação <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />

equipe e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para que, juntos, encontrem as melhores soluções para sua<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

2.4. Cultura organizacio<strong>na</strong>l e participação<br />

De acordo com o que já foi apresentado em outros momentos, é possível<br />

pon<strong>de</strong>rar que há uma forte relação entre as políticas públicas e a gestão (seja ela escolar<br />

ou educacio<strong>na</strong>l). Com isso, o fato <strong>da</strong>s políticas educacio<strong>na</strong>is serem, muito, relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

às políticas partidárias (o que, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não <strong>de</strong>veria ocorrer), dificulta uma<br />

continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong>s ações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma instituição escolar, já que ao mu<strong>da</strong>r o partido,<br />

mu<strong>da</strong>m as concepções e, consequentemente, as políticas que norteiam tais atuações.<br />

Neste sentido, Barroso (2003) – autor português –, diz que<br />

36<br />

Não há sector social que tenha estado mais sujeito à pressão <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça do<br />

que o sistema educativo, em particular <strong>na</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s. Contudo, neste<br />

domínio, houve uma evolução interessante: passou-se <strong>de</strong> uma “lógica <strong>de</strong><br />

reforma” (mu<strong>da</strong>nça global, estruturante, com objectivos <strong>de</strong>finidos e<br />

<strong>de</strong>limitados no tempo, imposta, a partir do centro para a periferia), a uma<br />

“tirania <strong>da</strong> transformação” (CLARKE e NEWMAN, 1997), <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça pela<br />

mu<strong>da</strong>nça, <strong>de</strong> busca <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação contínua. A mu<strong>da</strong>nça tornou-se<br />

“imperativa”, “<strong>na</strong>tural”, “permanente”, sendo consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> o único meio para<br />

“mo<strong>de</strong>rnizar a escola”, “aumentar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a eficácia”, “lutar contra as<br />

forças adversas”, “vencer os <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>”, “gerir <strong>na</strong> incerteza<br />

e turbulência” (p. 117).<br />

Ele constata que “a pe<strong>da</strong>gogia e a organização são sobre<strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pela<br />

interacção do meio educativo com o meio social mais geral e, evi<strong>de</strong>ntemente, com as<br />

opções políticas que regulam essa interacção”, ou seja, “a ‘crise <strong>da</strong> escola’ é, acima <strong>de</strong><br />

tudo, pe<strong>da</strong>gógica e organizacio<strong>na</strong>l” (BARROSO, 2003, p. 118). Indo ao encontro <strong>de</strong>ste<br />

autor, Quaglio (2009) coloca que “as práticas <strong>de</strong> organização e gestão <strong>da</strong>s instituições<br />

escolares refletem a domi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> dimensão política do tradicio<strong>na</strong>l mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

administração tecnoburocrática” (p. 139).<br />

Sendo assim, no fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 “se assiste, no domínio <strong>da</strong>s políticas<br />

educativas, ao esforço <strong>da</strong> representação <strong>da</strong> escola (<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> escola) como uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça do sistema <strong>de</strong> ensino” (BARROSO, 2003, p. 127). Tal situação


tem, segundo o autor, relação com três fatores – os quais influenciam <strong>na</strong> formação e<br />

trabalho dos professores:<br />

37<br />

– Insucesso <strong>da</strong>s “reformas globais” e <strong>de</strong> sua estratégia normativa <strong>de</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça, com a sua substituição por processos aparentemente menos rígidos<br />

e centralizados, assentes no “controlo remoto” e no “auto-controlo”, bem<br />

como <strong>na</strong> imposição <strong>de</strong> uma “tirania <strong>da</strong> transformação permanente”.<br />

– Transformação dos modos <strong>de</strong> regulação <strong>da</strong>s políticas públicas com recurso<br />

a estratégias e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s do mercado e <strong>da</strong> gestão empresarial e<br />

com a substituição <strong>de</strong> uma regulação pelos meios por uma regulação pelos<br />

resultados, com o consequente reforço dos dispositivos <strong>de</strong> avaliação.<br />

– Desenvolvimento <strong>de</strong> formas “pós-burocráticas” <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> gestão<br />

com a substituição do controlo hierárquico pela gestão participa<strong>da</strong>, e <strong>da</strong>s<br />

organizações pirami<strong>da</strong>is pelas organizações em re<strong>de</strong>, com a flexibilização <strong>da</strong>s<br />

estruturas, com a não separação entre organização formal e informal e<br />

importância que é <strong>da</strong><strong>da</strong> à afectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, às relações pessoais e à vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>.<br />

(BARROSO, 2003, p. 127-128).<br />

Seguindo, no que tange ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> educação, tem-se, como<br />

ferramenta fun<strong>da</strong>mental para sua concretização, a institucio<strong>na</strong>lização do “serviço<br />

público” (que se refere ao conjunto <strong>de</strong> códigos <strong>de</strong> comportamentos e práticas, valores e,<br />

também, estruturação do Estado) por meio <strong>de</strong> dois tipos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção: administrativa<br />

burocrática (burocracia) e o profissio<strong>na</strong>lismo (CLARKE e NEWMAN, 1997, p. 8 apud<br />

BARROSO, 2003), os quais possibilitam ao Estado que “se organize em torno do<br />

‘interesse público’ (em nome do qual actua a burocracia) e do ‘bem público’ (ao serviço<br />

do qual está o profissio<strong>na</strong>lismo)” (BARROSO, 2003, p. 128). Com isso, a gestão<br />

escolar<br />

exige um forte compromisso entre o Estado e os profissio<strong>na</strong>is que permita<br />

preservar uma ética do serviço público, no quadro <strong>de</strong> uma relação<br />

profissio<strong>na</strong>l face-a-face, em que o prestador <strong>de</strong>sse serviço (o professor)<br />

<strong>de</strong>senvolve sua acção como agente dos interesses do segundo (o alunoci<strong>da</strong>dão<br />

e suas famílias), <strong>de</strong>vido à confiança que nele <strong>de</strong>positam e ao capital<br />

<strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong> informação que possui (ibi<strong>de</strong>m, p. 131).<br />

Para tanto, vale ressaltar que a organização é essencial, porém, não po<strong>de</strong>mos<br />

ser só burocráticos. Dessa forma, outra transformação que repercutiu <strong>na</strong> formação e<br />

trabalho docente diz respeito às “organizações pós-burocráticas”, organização essa que<br />

origi<strong>na</strong>-se a partir <strong>da</strong> ruptura com o mo<strong>de</strong>lo administrativo burocrático, tendo como<br />

marco três gran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças: o auto-controle substituindo o hierárquico; organização<br />

em re<strong>de</strong>s em substituição <strong>da</strong>s organizações pirami<strong>da</strong>is, gerando flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong>s<br />

estruturas; e, “o fim <strong>da</strong> separação entre organização formal e informal, com a<br />

importância que é <strong>da</strong><strong>da</strong> à afectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, às relações pessoais e à vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>” (ibi<strong>de</strong>m).<br />

Heckscher (1994 apud BARROSO, 2003) prefere <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>r este mo<strong>de</strong>lo<br />

(“organização pós-burocrática”) <strong>de</strong> “organizações interativas”, as quais consi<strong>de</strong>ram que


a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto ao sucesso <strong>da</strong> organização, em seu todo, <strong>de</strong>ve ser assumi<strong>da</strong><br />

por todos os membros envolvidos no processo, <strong>de</strong> modo que visa a criação <strong>de</strong> um<br />

sistema em que o controle se dê pela gestão <strong>da</strong>s relações (e não pela <strong>da</strong>s tarefas), tendo<br />

como base os problemas e não a estrutura. O autor ressalta que a diferença entre esse<br />

mo<strong>de</strong>lo e o burocrático é, principalmente, a função <strong>da</strong> li<strong>de</strong>rança – respectivamente,<br />

colaborativa e restritiva (quem está no topo é que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>).<br />

Outros aspectos que caracterizam essa organização, que busca substituir a<br />

burocracia, são: o diálogo, visando o consenso 25 , influência, confiança mútua,<br />

inter<strong>de</strong>pendência, princípios e missão partilha<strong>da</strong> (BARROSO, 2003). Essa proposta <strong>de</strong><br />

“uma nova gestão <strong>da</strong>s escolas públicas”, que reforça a autonomia <strong>da</strong>s instituições<br />

escolares, tem por base a ação conjunta <strong>de</strong> cinco mu<strong>da</strong>nças importantes: projeto – trata-<br />

se <strong>da</strong> forma política no sentido <strong>de</strong> planejamento, isto é, apresenta o princípio que<br />

justifica e legitima a ação coletiva pensa<strong>da</strong>; contrato – possui duas formas: a <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> administração pública (redistribui os po<strong>de</strong>res, reforçando a<br />

<strong>de</strong>mocracia, objetivando a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus serviços) ou a <strong>de</strong> regular as<br />

relações no interior <strong>da</strong>s escolas (dimensão social, já que introduz práticas <strong>de</strong><br />

participação, bem como <strong>de</strong> negociação <strong>na</strong> gestão <strong>de</strong> interesses, buscando acordo e<br />

compromissos para realizar os projetos pensados); li<strong>de</strong>rança – <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que esta <strong>de</strong>ve<br />

ser, sempre, coletiva; participação – assim como a li<strong>de</strong>rança (coletiva e individual), a<br />

participação (<strong>de</strong> pessoas exter<strong>na</strong>s e inter<strong>na</strong>s) é essencial para regular os interesses,<br />

buscando uma gestão participativa e cultura <strong>de</strong>mocrática; e, re<strong>de</strong>s – <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um<br />

trabalho em conjunto, ao contrário <strong>da</strong> visão burocrática e estruturalista, privilegiando a<br />

visão multidiscipli<strong>na</strong>r 26 , interpessoal (ibi<strong>de</strong>m). Nesse sentido, salienta-se que o sistema<br />

organizacio<strong>na</strong>l po<strong>de</strong> “fechar” a atuação do professor, e cabe ao coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor atuar <strong>na</strong><br />

contramão disso, valorizando as re<strong>de</strong>s, os trabalhos coletivos.<br />

Assim, ao discorrer sobre a organização, principalmente a que visa uma gestão<br />

<strong>de</strong>mocrática, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a relevância <strong>da</strong> participação para que tal administração<br />

seja efetiva<strong>da</strong>.<br />

“A <strong>de</strong>scentralização e a participação foram o pano <strong>de</strong> fundo dos discursos<br />

oficiais sobre esse processo <strong>de</strong> reformulação [<strong>da</strong>s estruturas organizacio<strong>na</strong>is dos<br />

órgãos públicos responsáveis pela área educacio<strong>na</strong>l no Estado <strong>de</strong> São Paulo]”<br />

25 Ou entendimento mútuo, para Habermas.<br />

26 A multidiscipli<strong>na</strong>ri<strong>da</strong><strong>de</strong> tem como foco os projetos, que pautam-se em várias discipli<strong>na</strong>s trabalhando o<br />

mesmo assunto.<br />

38


(QUAGLIO, 2009, p. 140 – grifos meus). To<strong>da</strong>via, no que tange ao processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scentralização, o que aconteceu foi, somente, uma transferência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, ou para o<br />

âmbito municipal ou para outros órgãos. Portanto, “A participação dos executores <strong>da</strong><br />

política educacio<strong>na</strong>l, isto é, supervisores <strong>de</strong> ensino, diretores <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas,<br />

professores coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dores e docentes constituiu-se num ‘faz <strong>de</strong> conta’” (ibi<strong>de</strong>m).<br />

De acordo com Quaglio (2009), <strong>de</strong>ve existir uma “gover<strong>na</strong>ção <strong>de</strong>mocrática”,<br />

<strong>na</strong> qual os alunos e seus familiares, bem como a equipe escolar <strong>de</strong>vem, efetivamente<br />

participar <strong>de</strong> modo criativo, crítico e reflexivo no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> todo o processo educativo<br />

para que não se tenha, novamente, os mol<strong>de</strong>s tecnicista <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>gogia (separação entre o<br />

planejamento e a execução). Para tanto, o autor salienta que as estratégias <strong>de</strong><br />

participação necessitam, além <strong>de</strong> promover o envolvimento <strong>de</strong> todos <strong>na</strong>s toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões, oportunizar articulação entre as <strong>de</strong>mais uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, envolvendo suas<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, valorizando a seleção <strong>de</strong> conhecimentos a serem trabalhados – já que,<br />

atualmente, “Chega-se (...) ao absurdo <strong>de</strong> exigir do pessoal <strong>da</strong>s escolas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que<br />

<strong>na</strong><strong>da</strong> mais são do que formas <strong>de</strong> justificar a existência <strong>de</strong> grupos dos sistemas<br />

educativos” (ibi<strong>de</strong>m, p. 142).<br />

Nesse sentido, o que muitas vezes acontece, como já citado, é uma participação<br />

“faz <strong>de</strong> conta”, <strong>na</strong> qual <strong>de</strong>senvolve-se uma invasão cultural 27 , ou seja, uma<br />

domesticação/trei<strong>na</strong>mento para aquilo que se quer, pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong> relação entre invasores<br />

(gestores – diretor, supervisor e coor<strong>de</strong><strong>na</strong>dor pe<strong>da</strong>gógico) e invadidos (docentes), on<strong>de</strong><br />

estes são “mol<strong>da</strong>dos”, trei<strong>na</strong>dos, sendo que aqueles somente transmitem o que já está<br />

estipulado, <strong>de</strong> modo que eles têm a (falsa) impressão <strong>de</strong> que praticam o que acreditam,<br />

mas, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, os gestores baseiam-se <strong>na</strong> fala e pensamentos dos professores para<br />

“moldá-los” mais facilmente. Assim, os docentes são reduzidos a objetos <strong>de</strong> ação, por se<br />

tratar <strong>de</strong> uma relação autoritária, vertical e antidialógica e não problematizadora,<br />

tor<strong>na</strong>ndo-se um processo alie<strong>na</strong>nte, uma vez que eles não têm a visão do todo, nem<br />

apresentam significado pensante, somente executam a ação (por esse motivo é um<br />

proletário 28 ) (QUAGLIO, 2009).<br />

27 Freire (1985, p. 178 apud QUAGLIO, 2009, p. 145) diz que “A ‘invasão cultural’ tem uma dupla face.<br />

De um lado, é já domi<strong>na</strong>ção; <strong>de</strong> outro, é tática <strong>de</strong> domi<strong>na</strong>ção e, por isso mesmo, po<strong>de</strong> ser altamente<br />

perigosa. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, to<strong>da</strong> domi<strong>na</strong>ção implica numa invasão não ape<strong>na</strong>s física, visível, mas às vezes<br />

camufla<strong>da</strong>, em que o invasor se apresenta como se fosse o amigo que aju<strong>da</strong>. No fundo, a invasão é uma<br />

forma <strong>de</strong> domi<strong>na</strong>r econômica e culturalmente o invadido [...] Como manifestação <strong>da</strong> conquista, a invasão<br />

cultural conduz à i<strong>na</strong>utentici<strong>da</strong><strong>de</strong> do ser invadido. O seu programa respon<strong>de</strong> ao quadro valorativo <strong>de</strong> seus<br />

atores. A seus padrões, as suas fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s”.<br />

28 Consi<strong>de</strong>ramos relevante discorrer, nesse ponto, sobre a diferença entre proletarização e profissão<br />

docente: proletário – diz respeito àquele que não tem domínio do todo, é quem “faz/executa”; profissão –<br />

39


Ao colocar essa imagem <strong>de</strong> proletário, é interessante fazer uma retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

imagens (atribuí<strong>da</strong>s) do professor no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s. Inicialmente, numa<br />

<strong>perspectiva</strong> sociológica, o docente era visto como “missionário” (voltava-se para um<br />

dom/vocação), <strong>de</strong>pois “funcionário do ensino”, mais tar<strong>de</strong> como “mestre” – com o<br />

tempo, segundo Barroso (2003), foram-se formando imagens mais positivas, como:<br />

profissio<strong>na</strong>l – “se valoriza, habitualmente, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma perícia técnica,<br />

sem compromisso político”; e militante – “se põe a tónica <strong>na</strong> dimensão re<strong>de</strong>ntora do<br />

trabalho do educador, como agente <strong>de</strong> transformação social, relativisando a sua<br />

competência <strong>de</strong> especialista” (p. 122). No <strong>de</strong>correr dos anos, apareceram novas imagens<br />

40<br />

como as do proletário, do altruísta, do mercenário, do fura-vi<strong>da</strong>s, do superherói<br />

etc., num multifacetado caleidoscópio que faz com que, ca<strong>da</strong> vez mais,<br />

se tenha <strong>de</strong> falar em “professores” ou “professoras” <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos e, menos,<br />

em “classe docente”, como grupo profissio<strong>na</strong>l homogéneo (BARROSO,<br />

2003, p. 122 – grifos do autor).<br />

Atualmente, muito tem-se perdido <strong>da</strong> imagem do professor. Contudo, ele é,<br />

ain<strong>da</strong>, uma peça fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> escola, sendo que ao verem-no como super-herói<br />

“<strong>de</strong>positam to<strong>da</strong>s as esperanças <strong>de</strong> resolução dos múltiplos problemas que afectam as<br />

escolas e a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças e dos jovens” (ibi<strong>de</strong>m, p. 123-124) 29 .<br />

Com isso, precisamos “<strong>de</strong>smistificar a visão funcio<strong>na</strong>lista <strong>da</strong> formação <strong>de</strong><br />

professores enquanto instrumento <strong>de</strong> aplicação <strong>da</strong> reforma (...), valorizando antes a<br />

aquisição <strong>de</strong> competências” (BARROSO, 2003, p. 140), objetivando autonomia. Da<br />

mesma forma, é possível perceber, ca<strong>da</strong> vez mais, “uma integração entre o campo <strong>de</strong><br />

formação e o campo <strong>da</strong> organização” (ibi<strong>de</strong>m, p. 138), o que possibilita a busca por um<br />

ensino melhor.<br />

Justamente pensando <strong>na</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação, bem como <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

dos educandos é que Schon (1990 apud BARROSO, 2003. p. 136) enten<strong>de</strong> que<br />

é preciso que se <strong>de</strong>senvolvam processos <strong>de</strong> participação colectiva através dos<br />

quais grupos <strong>de</strong> indivíduos (...) <strong>de</strong>senvolvem novos esquemas <strong>de</strong> trabalho,<br />

novas <strong>perspectiva</strong>s <strong>de</strong> carreira, capazes <strong>de</strong> melhor articular a sua vi<strong>da</strong> familiar<br />

e a sua vi<strong>da</strong> profissio<strong>na</strong>l.<br />

Indo ao encontro <strong>de</strong>le, Quaglio (2009) aponta para a<br />

necessária participação nos trabalhos educacio<strong>na</strong>is (...) [sendo que] o diálogo<br />

e a problematização vêm favorecer o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do processo <strong>de</strong><br />

relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> a um conhecimento/saber fazer específico; profissio<strong>na</strong>l – é o que tem domínio sobre todo o<br />

processo, é o que “pensa”. O professor <strong>de</strong>ve ser aquele que pensa e que faz, apesar <strong>da</strong>s políticas públicas.<br />

29 De acordo com Barroso (2003), essa “crise do pessoal docente” se manifesta, principalmente, por três<br />

aspectos, os quais fazem parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do professor: <strong>de</strong>sencanto, receio e culpa.


mu<strong>da</strong>nças em educação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para a ação seja<br />

escolhido em conjunto (p. 141 – grifo meu).<br />

Dessa forma, é possível notar a relevância do diálogo problematizador (i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

Paulo Freire) para fazer mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>mocrático (o que é muito difícil),<br />

inserindo os professores <strong>na</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-os ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros sujeitos <strong>da</strong>s<br />

transformações. Para tanto, precisa-se mu<strong>da</strong>r o entendimento e o conceito <strong>de</strong> educação,<br />

sendo que os profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>sta área passam a ser sujeitos do conhecimento e não<br />

ape<strong>na</strong>s recebedores dos que lhes são prescritos (QUAGLIO, 2009).<br />

Para que tal situação ocorra, os gestores <strong>de</strong>vem se colocar como construtores<br />

<strong>da</strong> política educacio<strong>na</strong>l, inovadores, assim, ocupando-se com os aspectos institucio<strong>na</strong>is,<br />

bem como com a situação geral do ensino, logo, <strong>de</strong>vem promover uma supervisão<br />

problematizadora, <strong>na</strong> qual coloca as mu<strong>da</strong>nças como problemas para serem resolvidos<br />

criticamente, sendo que to<strong>da</strong> a equipe escolar passa a ser, também, sujeito <strong>de</strong>sse mesmo<br />

processo, uma vez que rompem-se os esquemas hierárquicos <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> (ibi<strong>de</strong>m).<br />

Enfim, no <strong>de</strong>correr do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste tópico, buscamos relacio<strong>na</strong>r a<br />

participação <strong>na</strong> organização e gestão <strong>de</strong>mocrática, consi<strong>de</strong>rando que<br />

41<br />

o importante para a gestão em educação, isto é, administração, supervisão e<br />

coor<strong>de</strong><strong>na</strong>ção pe<strong>da</strong>gógica existentes <strong>na</strong> organização e funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong><br />

educação, que se utiliza <strong>da</strong> dialogici<strong>da</strong><strong>de</strong> problematizadora, é assegurar, <strong>na</strong><br />

implantação <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças propostas em reformas educacio<strong>na</strong>is, que os<br />

educadores se sintam sujeitos <strong>de</strong> seu pensar, discutindo sua própria visão <strong>de</strong><br />

educação, manifesta<strong>da</strong> implícita ou explicitamente <strong>na</strong>s suas sugestões<br />

(QUAGLIO, 2009, p. 151).<br />

Portanto, o diálogo é <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental importância, sendo que para este ocorrer<br />

<strong>de</strong> forma problematizadora, faz-se necessário uma relação próxima entre os sujeitos,<br />

para que ambos sintam-se à vonta<strong>de</strong> para levantar, discutir e pensar questões <strong>de</strong> acordo<br />

com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> existente, buscando, sempre, um entendimento<br />

mútuo/consenso do que é melhor para o coletivo e, consequentemente, para a educação<br />

<strong>de</strong> seus estu<strong>da</strong>ntes.<br />

2.5. Espaços <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> escola<br />

Conforme já discutido no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste capítulo, é relevante que a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (tanto escolar quanto local) sinta-se parte <strong>da</strong> UE a ponto <strong>de</strong> dialogar <strong>na</strong>s<br />

mais diferentes toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões.


Nesse sentido, faz-se necessária a adoção <strong>de</strong> três medi<strong>da</strong>s para que as pessoas<br />

motivem-se a participar e se envolver com os assuntos <strong>da</strong> instituição (PARO, 2008, p.<br />

11). A primeira é a escolha <strong>de</strong>mocrática dos dirigentes, a qual <strong>de</strong>ve ocorrer por meio <strong>de</strong><br />

uma eleição, para que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> eleja o candi<strong>da</strong>to que mais se assemelha à<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> em que se encontra, e não por meio <strong>de</strong> indicações político-partidárias (SEB,<br />

2004f). A adoção <strong>de</strong> tal medi<strong>da</strong> mostraria à equipe escolar, aos alunos e seus familiares,<br />

que a opinião <strong>de</strong>stes é muito importante para a construção <strong>de</strong> uma educação que busque<br />

trabalhar suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

A segun<strong>da</strong>, diz respeito à utilização <strong>de</strong> iniciativas que estimulem e facilitem o<br />

envolvimento <strong>de</strong> alunos, professores e pais <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares, através <strong>de</strong> relações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas mais dialógicas (e menos autoritárias), melhores condições para os<br />

docentes <strong>de</strong>senvolverem seus trabalhos, bem como a abertura do espaço escolar em<br />

horários alter<strong>na</strong>tivos, como fi<strong>na</strong>is <strong>de</strong> sema<strong>na</strong>, para a realização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com to<strong>da</strong> a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local (possibilitando, também, a aproximação e participação dos pais)<br />

(PARO, 2008).<br />

Fi<strong>na</strong>lizando, o autor (ibi<strong>de</strong>m) coloca a existência <strong>de</strong> mecanismos coletivos <strong>de</strong><br />

participação, a exemplo do Grêmio Estu<strong>da</strong>ntil (formado por um grupo <strong>de</strong> alunos, os<br />

quais representam seus pares frente a <strong>de</strong>cisões que lhes dizem respeito <strong>na</strong> UE); <strong>da</strong><br />

Associação <strong>de</strong> Pais e Mestres – APM (arreca<strong>da</strong> recursos fi<strong>na</strong>nceiros para a escola, com<br />

o intuito <strong>de</strong> melhor equipá-la ou reparar <strong>da</strong>nos quando o Estado não po<strong>de</strong> fazê-lo); dos<br />

Conselhos <strong>de</strong> Classe (pensa e busca estratégias <strong>de</strong> verificação e melhoria dos<br />

<strong>de</strong>sempenhos <strong>de</strong> docentes e discentes para que se alcance a função social <strong>da</strong> educação) e<br />

<strong>de</strong> Escola (é um dos principais meios <strong>de</strong> efetivar a gestão <strong>de</strong>mocrática em uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

já que possibilita a efetiva participação <strong>de</strong> todos os segmentos relacio<strong>na</strong>dos a ela para<br />

refletir, discutir e <strong>de</strong>liberar sobre os mais diferentes assuntos que dizem respeito à<br />

mesma, como político-pe<strong>da</strong>gógico, fi<strong>na</strong>nceiro e administrativo).<br />

Então, consi<strong>de</strong>rando a relevância <strong>de</strong>stes mecanismos <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> busca<br />

pelo entendimento mútuo acerca <strong>de</strong> uma questão, através <strong>de</strong> uma interação social<br />

media<strong>da</strong> pela linguagem, pon<strong>de</strong>rando o que é melhor para o coletivo, é que refletir-se-á,<br />

no próximo capítulo, sobre o órgão máximo <strong>de</strong> uma instituição escolar para a efetivação<br />

<strong>de</strong> uma gestão <strong>de</strong>mocrática, o Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>).<br />

42


Capítulo 3 – Conselho <strong>de</strong> Escola como locus <strong>da</strong> Gestão Democrática<br />

O Conselho <strong>de</strong> Escola (<strong>CE</strong>) po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como o locus <strong>da</strong> Gestão<br />

Democrática. Neste capítulo, fazemos uma expla<strong>na</strong>ção a respeito <strong>de</strong>sse colegiado,<br />

abor<strong>da</strong>ndo seu panorama nos âmbitos fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal (sua história no<br />

município <strong>de</strong> São Carlos antes e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> reformulação dos Conselhos <strong>na</strong> re<strong>de</strong><br />

municipal <strong>de</strong> ensino) e, também, seu funcio<strong>na</strong>mento.<br />

3.1. O papel do <strong>CE</strong> <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares<br />

Conforme já apontado no capítulo anterior, o <strong>CE</strong><br />

43<br />

É um órgão colegiado constituído por representantes <strong>de</strong> todos os segmentos<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e local, atuando em sintonia com a administração <strong>da</strong><br />

escola e <strong>de</strong>finindo caminhos para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões administrativas,<br />

fi<strong>na</strong>nceiras e político-pe<strong>da</strong>gógicas condizentes com as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as<br />

potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> escola (SÃO CARLOS, 2010a).<br />

Logo, este colegiado não distingue-se <strong>da</strong> instituição escolar, pelo contrário, “insere-se<br />

<strong>na</strong> institucio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>na</strong> própria estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> escola” (LUIZ; CONTI, 2007, p.<br />

3), atuando <strong>de</strong> modo complementar.<br />

Com isso, ele “se situa no espaço <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa dos interesses coletivos, enquanto<br />

reúne diferentes segmentos [...] para discutir, <strong>de</strong>finir e acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola” (ibi<strong>de</strong>m), tendo por objetivo, <strong>de</strong> acordo com<br />

Silva (2005), “promover a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar nos processos <strong>de</strong><br />

administração e gestão <strong>da</strong> escola, buscando assegurar uma maior quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho<br />

escolar” (p. 1), sendo que “Para atingir tal propósito <strong>de</strong>sempenha funções normativas,<br />

<strong>de</strong>liberativas e <strong>de</strong> fiscalização <strong>da</strong>s ações globais <strong>da</strong> escola” (ibi<strong>de</strong>m) no sentido <strong>de</strong><br />

auxiliar a direção <strong>da</strong> instituição a encontrar meios a<strong>de</strong>quados aos fins <strong>de</strong> sua uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

(LUIZ; CONTI, 2007).<br />

Outra característica importante é que “Suas atribuições <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong>s<br />

diretrizes do sistema <strong>de</strong> ensino e <strong>da</strong>s <strong>de</strong>finições <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> usuária (pais ou<br />

responsáveis pelos alunos e alunos maiores <strong>de</strong> 16 anos) e equipe escolar...” (ibi<strong>de</strong>m, p.<br />

3-4).<br />

Assim, conforme pontua Silva (2005) um dos elementos essenciais para<br />

efetivar uma gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong> escola é a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, já que tal processo<br />

envolve os segmentos afetados diretamente por ela, <strong>de</strong> modo que partilha com o <strong>CE</strong> tal


po<strong>de</strong>r (antes centralizado <strong>na</strong> figura do diretor), possibilitando a construção <strong>de</strong> uma<br />

educação volta<strong>da</strong> para a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, “Ou seja, significa tirar dos gover<strong>na</strong>ntes e dos<br />

técnicos <strong>da</strong> área o monopólio <strong>de</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>r os rumos <strong>da</strong> educação no município”<br />

(LUIZ; CONTI, 2007, p. 4).<br />

De acordo com Fonseca (1998 apud SILVA, 2005, p. 6), este processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão precisa ser <strong>de</strong>limitado com base em três princípios gerais:<br />

44<br />

As <strong>de</strong>cisões inter<strong>na</strong>s <strong>da</strong> escola <strong>de</strong>vem ser toma<strong>da</strong>s por quem é<br />

diretamente afetado por ela;<br />

As <strong>de</strong>cisões só <strong>de</strong>vem ser toma<strong>da</strong>s após uma discussão exaustiva e livre;<br />

Todos os que participam <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>vem aceitá-las,<br />

assegurar sua realização prática mediante a a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ação<br />

administrativa.<br />

Infere-se <strong>de</strong>stes princípios que os atores têm direito <strong>de</strong> participar <strong>na</strong>s <strong>de</strong>cisões<br />

que os afetam diretamente, significando esta participação muito mais do que<br />

o direito e o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> consulta.<br />

Mas vale ressaltar que esse exercício <strong>de</strong> participação e <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

trata-se <strong>de</strong> um processo, cuja construção <strong>de</strong>ve ser coletiva, <strong>de</strong> modo que a atuação do<br />

<strong>CE</strong> <strong>de</strong>ve estar articula<strong>da</strong> com os <strong>de</strong>mais espaços coletivos <strong>de</strong> participação, como<br />

Conselho <strong>de</strong> Classe, APM, reunião <strong>de</strong> pais, etc. (ibi<strong>de</strong>m).<br />

Contudo, salientamos que para chegar a tal <strong>de</strong>finição acerca do papel <strong>de</strong>ste<br />

importante colegiado <strong>na</strong>s UE, teve-se uma luta pela <strong>de</strong>mocratização e pela abertura para<br />

a participação (<strong>de</strong> acordo com o que dissertamos no capítulo 2) e, a partir disso, houve<br />

uma re<strong>de</strong>finição do olhar com relação à educação e, consequentemente, sobre a<br />

autonomia <strong>da</strong>s escolas, viabilizando uma melhor articulação entre elas e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>quele coletivo, tomando por base a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

única, em que se inserem.<br />

Dessa forma, traremos, <strong>na</strong> sequência, um panorama sobre as principais<br />

legislações que influenciaram neste contexto <strong>de</strong> transformações, tanto em nível fe<strong>de</strong>ral,<br />

como estadual e municipal, uma vez que “A criação dos conselhos é <strong>de</strong> origem<br />

diferencia<strong>da</strong>. Algumas vezes estes foram criados por leis municipais ou estaduais,<br />

outras vezes emergiram <strong>da</strong> história específica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (LUIZ; CONTI,<br />

2007, p. 3).<br />

3.2. Panorama histórico no Brasil<br />

Conti e Silva (2009) refletem sobre as interferências sofri<strong>da</strong>s pela gestão<br />

escolar, bem como sua <strong>de</strong>mocratização e outros aspectos a ela relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>, colocando


que nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> passou, e passa, por diversas transformações, inclusive a relação,<br />

que antes era homem-homem, está alterando, <strong>de</strong>ixando que a máqui<strong>na</strong> faça o papel <strong>de</strong><br />

mediadora <strong>na</strong> mesma.<br />

Dentre essas mu<strong>da</strong>nças, a abertura política, que aconteceu após a Ditadura<br />

Militar, “restabeleceu a participação popular frente às <strong>de</strong>cisões políticas, como forma <strong>de</strong><br />

relação entre o po<strong>de</strong>r público e a população” (CONTI; SILVA, 2009, p. 5) e, com isso,<br />

estabeleceu-se, nesse novo contexto,<br />

porém, tem sido muito difícil consolidá-los.<br />

45<br />

novas formas <strong>de</strong> atuação e <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>na</strong> qual antigas ban<strong>de</strong>iras<br />

<strong>da</strong>s lutas mais significativas do passado, tais como, participação, autonomia,<br />

<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong>s instituições, entre outros, ganham novos significados<br />

(ibi<strong>de</strong>m, p. 3),<br />

Enten<strong>de</strong>ndo a educação como uma <strong>da</strong>s mais significativas formas <strong>de</strong> luta pela<br />

re<strong>de</strong>mocratização é que surgem os Conselhos Escolares, “um importante espaço <strong>de</strong><br />

atuação <strong>da</strong>queles que <strong>de</strong>sejam a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação e o alargamento <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> emancipação <strong>da</strong>s pessoas” (CONTI; SILVA, 2009, p. 6), sendo<br />

carregado <strong>de</strong> tensões e conflitos, uma vez que há a presença <strong>de</strong> diferentes indivíduos e,<br />

consequentemente, pensamentos. Assim, os <strong>CE</strong> buscam tanto uma escola como uma<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que seja mais justa, <strong>de</strong>mocrática e, com isso, que aten<strong>da</strong> os interesses <strong>da</strong><br />

maioria. “A implantação dos Conselhos <strong>de</strong> Escola é uma conquista ao nível <strong>da</strong><br />

legislação e <strong>da</strong>s práticas cotidia<strong>na</strong>s que se dão no interior <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educacio<strong>na</strong>is<br />

públicas” (ibi<strong>de</strong>m, p. 9).<br />

Para tanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a elaboração do calendário, dos planos <strong>de</strong> aula, as reuniões<br />

pe<strong>da</strong>gógicas e as toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, enfim, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as instâncias<br />

escolares <strong>de</strong>vem ser feitas do modo mais <strong>de</strong>mocrático possível, e a transformação<br />

também <strong>de</strong>ve ser pensa<strong>da</strong> no âmbito do currículo, o qual ain<strong>da</strong> é fetichizado (SILVA,<br />

1999 apud CONTI; SILVA, 2009, p. 8).<br />

Outro aspecto relevante <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>mocratização escolar é a relação <strong>de</strong>sta, e <strong>de</strong><br />

seus agentes educacio<strong>na</strong>is, com as outras escolas e, principalmente, com as instituições<br />

que lhe são superiores (re<strong>de</strong>s municipais, diretorias <strong>de</strong> ensino, secretarias <strong>de</strong> educação,<br />

etc.), pois estas nem sempre (quase nunca) possibilitam a participação dos profissio<strong>na</strong>is<br />

que executarão os projetos que <strong>de</strong>senvolveram, o que dificulta, e muito, o trabalho<br />

<strong>de</strong>stes, já que os “superiores” geralmente não consi<strong>de</strong>ram as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s/reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar.


3.2.1. As Legislações no âmbito Fe<strong>de</strong>ral<br />

De acordo com o que foi pon<strong>de</strong>rado anteriormente, no Brasil, por meio <strong>de</strong><br />

significativas mobilizações sociais, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, há o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> uma nova<br />

conjuntura política, com características fortes <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

modo que, em 1988, teve-se a Constituição Fe<strong>de</strong>ral (CF), que foi feita visando à<br />

<strong>de</strong>mocratização.<br />

Nesta nova legislação, o discurso <strong>da</strong> participação se coloca em outra<br />

<strong>perspectiva</strong>, e passa-se a enten<strong>de</strong>r educação como direito fun<strong>da</strong>mental, do qual po<strong>de</strong>-se<br />

superar as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais e a exclusão, conforme o Art. 205, contando com a<br />

colaboração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para sua promoção e incentivo. Legalmente, há a garantia <strong>de</strong><br />

acesso e permanência à educação escolar básica, on<strong>de</strong> é fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Outra colocação feita em tal documento é o Art. 206, inciso VI, o qual traz que o ensino<br />

público será baseado no princípio <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática (BRASIL, 1988).<br />

A fim <strong>de</strong> enfrentar esses <strong>de</strong>safios do “novo século”, é que em 1996 a Comissão<br />

Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l sobre Educação para o século XXI, no relatório para a UNESCO, coloca<br />

quatro pilares, entendidos como novos “objetivos” a serem propostos para as escolas, os<br />

quais nos possibilitam pensar numa educação transformadora. São eles, segundo Delors<br />

(2000), apren<strong>de</strong>r a: conhecer, fazer, viver junto e ser.<br />

A partir e paralelamente a este relatório é que, no Brasil, foi promulga<strong>da</strong> a<br />

LDB nº 9394/96 para aten<strong>de</strong>r às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e acontecimentos do atual contexto.<br />

Essa Lei traz algumas consi<strong>de</strong>rações importantes, <strong>de</strong>ntre as quais: ensino<br />

baseado no princípio <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática (Art. 3º); <strong>de</strong>ver do Estado <strong>de</strong> proporcio<strong>na</strong>r o<br />

ensino fun<strong>da</strong>mental, obrigatório e gratuito (Art. 4º); as instituições <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem<br />

elaborar e executar sua proposta pe<strong>da</strong>gógica (Art. 12); os docentes <strong>de</strong>vem realizar<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para articular escola-família-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (Art. 13); os sistemas <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>de</strong>vem pautar-se em suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s para <strong>de</strong>finir as normas <strong>de</strong> sua gestão<br />

<strong>de</strong>mocrática, consi<strong>de</strong>rando princípios como: a participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s local e<br />

escolar nos Conselhos Escolares ou outros órgãos que tenham a mesma fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> (Art.<br />

14, inciso II); retrata a autonomia <strong>da</strong> escola no que tange aos aspectos pe<strong>da</strong>gógicos,<br />

administrativos e <strong>de</strong> gestão fi<strong>na</strong>nceira (Art. 15); os currículos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem pautar-se<br />

numa base <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e comum, complementando <strong>de</strong> acordo com as características <strong>de</strong> sua<br />

clientela (Art. 26) (BRASIL, 1996).<br />

46


Há ain<strong>da</strong> outros princípios norteadores <strong>da</strong> educação escolar que aparecem em<br />

documentos como o Plano Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Educação (PNE) – Lei 10.172 <strong>de</strong> 09/01/01,<br />

sendo que <strong>na</strong>s três mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino a implantação <strong>de</strong> Conselhos Escolares é ti<strong>da</strong><br />

como um dos modos <strong>de</strong> incentivar a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, objetivando uma<br />

gestão <strong>de</strong>mocrática:<br />

47<br />

Educação Infantil, um dos objetivos e metas é:<br />

16. Implantar conselhos escolares e outras formas <strong>de</strong> participação <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e local <strong>na</strong> melhoria do funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s instituições <strong>de</strong><br />

educação infantil e no enriquecimento <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas e dos<br />

recursos pe<strong>da</strong>gógicos.<br />

[...]<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental, um dos objetivos e metas é:<br />

9. Promover a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong>s escolas,<br />

universalizando, em dois anos, a instituição <strong>de</strong> conselhos escolares ou órgãos<br />

equivalentes.<br />

[...]<br />

Ensino Médio, um dos objetivos e metas é:<br />

13. Criar mecanismos, como conselhos ou equivalentes, para incentivar a<br />

participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>na</strong> gestão, manutenção e melhoria <strong>da</strong>s condições<br />

<strong>de</strong> funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong>s escolas (BRASIL, 2001 – grifos meus).<br />

– e o Plano <strong>de</strong> Metas Compromissos Todos pela Educação – Decreto nº 6.094 <strong>de</strong><br />

24/04/2007, que traz no Art. 2º, incisos XXII e XXV essa mesma questão.<br />

Art. 2º A participação <strong>da</strong> União no Compromisso será pauta<strong>da</strong> pela<br />

realização direta, quando couber, ou, nos <strong>de</strong>mais casos, pelo incentivo e<br />

apoio à implementação, por Municípios, Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Estados e<br />

respectivos sistemas <strong>de</strong> ensino, <strong>da</strong>s seguintes diretrizes:<br />

XXII – promover a gestão participativa <strong>na</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino;<br />

XXV – fomentar e apoiar os conselhos escolares, envolvendo as<br />

famílias dos educandos, com as atribuições, <strong>de</strong>ntre outras, <strong>de</strong> zelar pela<br />

manutenção <strong>da</strong> escola e pelo monitoramento <strong>da</strong>s ações e consecução <strong>da</strong>s<br />

metas do compromisso (BRASIL, 2007 – grifos meus).<br />

Vemos que no cenário brasileiro é possível associar os Conselhos aos<br />

movimentos sociais, principalmente <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970. Com base em Gohn (2001, p.<br />

70 apud SILVA, 2005, p. 40), no século XX, havia três diversificados tipos <strong>de</strong> conselho:<br />

primeiro, “os criados pelo próprio po<strong>de</strong>r público Executivo, para mediar suas relações<br />

com os movimentos e com as organizações populares”; segundo, “os populares<br />

construídos por movimentos popular ou setores organizados <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil em suas<br />

relações <strong>de</strong> negociações com o po<strong>de</strong>r público”; terceiro, “os institucio<strong>na</strong>lizados, com<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>da</strong> gestão dos negócios públicos criados por leis originárias<br />

do po<strong>de</strong>r Legislativo, surgidos após pressões e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil”. Já <strong>na</strong><br />

déca<strong>da</strong> posterior, com o fim <strong>da</strong> ditadura militar, Gohn (ibi<strong>de</strong>m, p. 75 apud ibi<strong>de</strong>m)<br />

aponta para duas novas propostas <strong>de</strong> enfoque, enten<strong>de</strong>ndo-o tanto “como estratégia <strong>de</strong>


governo, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s políticas <strong>da</strong> <strong>de</strong>mocracia participativa” – a qual, para Silva (2005), é<br />

a dos <strong>CE</strong> implantados <strong>na</strong> re<strong>de</strong> pública do Estado <strong>de</strong> São Paulo – como “... <strong>de</strong><br />

organização <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r popular autônomo, estruturado a partir <strong>de</strong> movimentos sociais<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil”.<br />

Sendo assim, é possível notar que a composição e estrutura dos conselhos nem<br />

sempre foram as mesmas, alterando-se segundo as diversas conquistas (dos movimentos<br />

sociais e, principalmente, dos educadores) (LUIZ; CONTI, 2007).<br />

3.2.2. As Legislações <strong>na</strong> esfera Estadual<br />

No que tange ao Conselho <strong>de</strong> Escola <strong>na</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino do Estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

pon<strong>de</strong>ramos que este, conforme a <strong>de</strong>finição dos Decretos 10.623/77 e 11.625/78<br />

(aprovam o Regimento Comum <strong>da</strong>s escolas estaduais <strong>de</strong> primeiro e segundo graus),<br />

possuía, simplesmente, um caráter consultivo, isto é, os membros apresentam sugestões,<br />

mas não têm po<strong>de</strong>r para <strong>de</strong>cidir, o que continua <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos diretores, que<br />

centralizam-no, assim como a gestão <strong>da</strong> escola.<br />

To<strong>da</strong>via, em 1984, no governo <strong>de</strong> Franco Montoro, institui-se a lei<br />

complementar 375/84, a qual atribui ao <strong>CE</strong> um caráter <strong>de</strong>liberativo, sendo que no ano<br />

seguinte, promulga-se a Lei Complementar Estadual nº 444 <strong>de</strong> 27/12/85, <strong>de</strong>finindo, no<br />

art. 95 do Estatuto do Magistério Paulista, a competência e composição <strong>de</strong>sse órgão<br />

<strong>de</strong>liberativo, atribuindo-lhe maior representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e as <strong>de</strong>mais características que<br />

conhecemos atualmente (PINTO, 1994; SILVA, 2005), conforme a seguir.<br />

48<br />

Art. 95. O Conselho <strong>de</strong> Escola, <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza <strong>de</strong>liberativa, eleito anualmente<br />

durante o primeiro mês letivo, presidido pelo Diretor <strong>da</strong> Escola, terá um total<br />

mínimo <strong>de</strong> 20 (vinte) e máximo <strong>de</strong> 40 (quarenta) componentes, fixado<br />

sempre proporcio<strong>na</strong>lmente ao número <strong>de</strong> classes do estabelecimento <strong>de</strong><br />

ensino.<br />

§ 1º - A composição a que se refere o “caput” obe<strong>de</strong>cerá à seguinte<br />

proporcio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />

I - 40% (quarenta por cento) <strong>de</strong> docentes;<br />

II - 5% (cinco por cento) <strong>de</strong> especialistas <strong>de</strong> educação excetuando-se o<br />

Diretor <strong>de</strong> Escola;<br />

III - 5% (cinco por cento) dos <strong>de</strong>mais funcionários;<br />

IV - 25% (vinte e cinco por cento) <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> alunos;<br />

V - 25% (vinte e cinco por cento) <strong>de</strong> alunos;<br />

§ 2º - Os componentes do Conselho <strong>de</strong> Escola serão escolhidos entre os<br />

seus pares, mediante processo eletivo.<br />

§ 3º - Ca<strong>da</strong> segmento representado no Conselho <strong>de</strong> Escola elegerá também<br />

2 (dois) suplentes, que substituirão os membros efetivos em suas ausências e<br />

impedimentos.


49<br />

§ 4º - Os representantes dos alunos terão sempre direito a voz e voto, salvo<br />

nos assuntos que, por força legal, sejam restritos aos que estiverem no gozo<br />

<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> civil.<br />

§ 5º - São atribuições do Conselho <strong>de</strong> Escola:<br />

I - Deliberar sobre:<br />

a) diretrizes e metas <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar;<br />

b) alter<strong>na</strong>tivas <strong>de</strong> solução para os problemas <strong>de</strong> <strong>na</strong>tureza administrativa e<br />

pe<strong>da</strong>gógica;<br />

c) projetos <strong>de</strong> atendimento psico-pe<strong>da</strong>gógico e material ao aluno;<br />

d) programas especiais visando à integração escola-família-comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>;<br />

e) criação e regulamentação <strong>da</strong>s instituições auxiliares <strong>da</strong> escola;<br />

f) priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s para aplicação <strong>de</strong> recursos <strong>da</strong> Escola e <strong>da</strong>s instituições<br />

auxiliares;<br />

g) a <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>ção ou a dispensa do Vice-Diretor <strong>de</strong> Escola 30 ;<br />

h) as pe<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s discipli<strong>na</strong>res a que estiverem sujeitos os funcionários,<br />

servidores e alunos <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar;<br />

II - Elaborar o calendário e o regimento escolar, observa<strong>da</strong>s as normas<br />

do Conselho Estadual <strong>de</strong> Educação e a legislação pertinente;<br />

III - Apreciar os relatórios anuais <strong>da</strong> escola, a<strong>na</strong>lisando seu <strong>de</strong>sempenho<br />

em face <strong>da</strong>s diretrizes e metas estabeleci<strong>da</strong>s.<br />

§ 6º - Nenhum dos membros do Conselho <strong>de</strong> Escola po<strong>de</strong>rá acumular<br />

votos, não sendo também permitidos os votos por procuração.<br />

§ 7º - O Conselho <strong>de</strong> Escola <strong>de</strong>verá reunir-se, ordi<strong>na</strong>riamente, 2 (duas)<br />

vezes por semestre e, extraordi<strong>na</strong>riamente, por convocação do Diretor <strong>da</strong><br />

Escola ou por proposta <strong>de</strong>, no mínimo, 1/3 (um terço) <strong>de</strong> seus membros.<br />

§ 8º - As <strong>de</strong>liberações do Conselho constarão <strong>de</strong> ata, serão sempre tor<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />

públicas e adota<strong>da</strong>s por maioria simples, presentes a maioria absoluta <strong>de</strong> seus<br />

membros (SÃO PAULO, 1985).<br />

Nesse sentido, Silva (2005) pon<strong>de</strong>ra a inovação trazi<strong>da</strong> pela nova lei, já que dá<br />

ao Conselho o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, a qual passa a ser coletiva, abrindo espaço para a<br />

participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e, consequentemente, possibilitando a prática <strong>de</strong>mocrática,<br />

tor<strong>na</strong>ndo o <strong>CE</strong> um colegiado que auxilia <strong>na</strong> gestão <strong>da</strong> escola, por meio <strong>da</strong><br />

representativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. De acordo com Pinto (1994), a Lei Complementar Estadual é<br />

utiliza<strong>da</strong>, também, por municípios que não possuem, ain<strong>da</strong>, uma norma própria a<br />

respeito do funcio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>sse órgão. Entretanto, este não é o caso do município <strong>de</strong><br />

São Carlos, situado no interior do estado, a aproxima<strong>da</strong>mente 235 km <strong>da</strong> Capital, como<br />

veremos adiante.<br />

3.2.3. O Panorama histórico dos Decretos em São Carlos/SP<br />

O município <strong>de</strong> São Carlos encontra-se <strong>na</strong> área central do estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />

tendo mais <strong>de</strong> 220 mil habitantes, caracterizando-se, assim, como ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> médio<br />

30 Escrita origi<strong>na</strong>l: “a indicação, a ser feita pelo respectivo Diretor <strong>de</strong> Escola, do Assistente <strong>de</strong> Diretor <strong>de</strong><br />

Escola, quando este for oriundo <strong>de</strong> outra uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar”. (A alínea “g” do inciso I do § 5º está com a<br />

re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><strong>da</strong> pela Lei Complementar nº 725/93, que foi revoga<strong>da</strong> pela Lei Complementar nº 836/97. Vi<strong>de</strong><br />

Comunicado SE <strong>de</strong> 31.3.86 sobre Conselho <strong>de</strong> Escola.) – retirado:<br />

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ccs/pebI/peb12005_166-236.pdf.


porte. Sua economia baseia-se, principalmente, <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial, tendo empresas<br />

volta<strong>da</strong>s para diversos setores, como têxteis, motores, compressores, eletrodomésticos,<br />

máqui<strong>na</strong>s, lápis, embalagens, tintas, equipamentos ópticos, entre outros. Conheci<strong>da</strong><br />

como a capital <strong>da</strong> tecnologia, possui duas renoma<strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas<br />

(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos – <strong>UFSCar</strong> – e Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – USP –,<br />

esta com dois campi) e outras duas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s particulares, além <strong>de</strong> dois centros <strong>de</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Embrapa (Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária) e, também, a<br />

Fun<strong>da</strong>ção ParqTec, cujo objetivo é promover e gerenciar o <strong>de</strong>senvolvimento do pólo<br />

tecnológico no município, aliando, e transferindo, a tecnologia <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

centros <strong>de</strong> pesquisa para as empresas (SÃO CARLOS, 2010b).<br />

São Carlos, <strong>de</strong> acordo com Conti e Luiz (2007b), consi<strong>de</strong>rando as orientações<br />

apresenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> legislação fe<strong>de</strong>ral, como a CF <strong>de</strong> 1988 e a LDB <strong>de</strong> 1996, através <strong>da</strong><br />

Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação e Cultura (SMEC – atualmente SME, Secretaria<br />

Municipal <strong>de</strong> Educação), incentivou e originou “a criação e mobilização dos conselhos<br />

<strong>de</strong> escola como parte <strong>da</strong> política <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> gestão pública” (p. 34). Mas para<br />

chegar, <strong>de</strong> fato, a tal <strong>de</strong>cisão, houve um processo.<br />

No ano <strong>de</strong> 1991 é cria<strong>da</strong>, no município, a primeira Escola Municipal <strong>de</strong> Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental (iniciando o atendimento aos alunos <strong>de</strong> 1ª a 4ª série, mais tar<strong>de</strong> aos <strong>de</strong> 5ª a<br />

8ª, agregando, recentemente, a Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos – EJA). Atualmente,<br />

possui 8 Escolas Municipais <strong>de</strong> Educação Básica (EMEB). Vale ressaltar que, embora<br />

previsto <strong>na</strong> Lei Orgânica Municipal, São Carlos nesta época não tinha implantado um<br />

Sistema Municipal <strong>de</strong> Ensino – o que ocorre em 2006 por meio <strong>da</strong> Lei nº 13.795 <strong>de</strong><br />

04/05/06 –, sendo subordi<strong>na</strong>do ao Sistema Estadual <strong>de</strong> Ensino no tangente às re<strong>de</strong>s<br />

municipal, estadual e particular, isto é, as <strong>de</strong>cisões burocrático-educacio<strong>na</strong>is <strong>de</strong>pendiam<br />

<strong>da</strong> aprovação <strong>da</strong> Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação (SEE), através <strong>da</strong> sua Diretoria <strong>de</strong><br />

Ensino.<br />

Da mesma forma, os <strong>CE</strong> <strong>da</strong> re<strong>de</strong> municipal norteavam-se pelas orientações<br />

estaduais, uma vez que não havia criado, ain<strong>da</strong>, uma legislação volta<strong>da</strong>,<br />

necessariamente, para o Conselho. Assim,<br />

50<br />

A primeira norma a regulamentar o funcio<strong>na</strong>mento do conselho <strong>de</strong> escola em<br />

São Carlos é <strong>de</strong> 1998, quando foi elaborado o Regimento Escolar Municipal,<br />

que atribuía aos conselhos as funções consultiva e <strong>de</strong>liberativa. Tal regimento<br />

baseava-se <strong>na</strong> Lei Complementar nº 444, <strong>de</strong> 27/12/85 (conheci<strong>da</strong> como<br />

Estatuto do Magistério) (CONTI; LUIZ, 2007a, p. 7).


Entretanto, São Carlos<br />

51<br />

coloca-se nesse período à parte do movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização <strong>da</strong> gestão<br />

<strong>da</strong> escola, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que observamos nos Conselhos <strong>de</strong> Escola a ausência<br />

<strong>de</strong> uma participação ativa dos componentes do Conselho no processo<br />

<strong>de</strong>cisório voltado aos interesses <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar e local (SILVA,<br />

2005, p. 46-47).<br />

To<strong>da</strong>via, o <strong>CE</strong> passou por uma reformulação, que “começa” em 2000 com a<br />

eleição <strong>de</strong> Newton Lima Neto (2001-2008) do Partido dos Trabalhadores (PT). Isso<br />

porque a nova administração entendia este colegiado como um meio <strong>de</strong> promover a<br />

<strong>de</strong>mocratização do espaço escolar e <strong>de</strong> sua gestão – concepção contrária <strong>da</strong> gestão<br />

municipal anterior –, <strong>de</strong> modo que, através <strong>de</strong> sua política educacio<strong>na</strong>l, “<strong>de</strong>cidiu<br />

ressuscitar os Conselhos, criados há tempos por outras administrações, porém nunca<br />

efetivamente implementados” (ibi<strong>de</strong>m, p. 47).<br />

Partindo <strong>de</strong>sta proposta mais <strong>de</strong>mocrática <strong>na</strong> gestão escolar é que a Secretaria<br />

<strong>da</strong> Educação publica, em 20 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2001, a Portaria X, a qual, pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong> CF<br />

1988, <strong>na</strong> LDB/96, bem como no Estatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente (ECA), busca<br />

normatizar a organização e o funcio<strong>na</strong>mento do <strong>CE</strong> <strong>na</strong> re<strong>de</strong> municipal (LUIZ; CONTI,<br />

2007; SILVA, 2005), pon<strong>de</strong>rando em seu artigo 2º que<br />

Art. 2º A gestão <strong>da</strong> escola será <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> modo coletivo, envolvendo<br />

to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, sendo o Conselho <strong>de</strong> Escola a instância <strong>de</strong><br />

elaboração, <strong>de</strong>liberação, acompanhamento e avaliação do planejamento e do<br />

funcio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar (CONTI; LUIZ, 2007b, p. 41).<br />

Percebemos, então, a criação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> participação, através <strong>de</strong> “conselhos,<br />

em várias esferas e níveis” (ibi<strong>de</strong>m, 2007a, p. 5). Contudo, Silva (2005) aponta que<br />

mesmo com este processo <strong>de</strong> reformulação, a implementação dos Conselhos só<br />

aconteceria em 2003 com o funcio<strong>na</strong>mento efetivo <strong>de</strong>ste, <strong>de</strong>vido à mobilização <strong>da</strong><br />

SMEC para restaurar a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no <strong>CE</strong>, por meio <strong>da</strong> campanha<br />

“Aceita um Conselho?”, permea<strong>da</strong> por encontros <strong>de</strong> conselheiros, confecção <strong>de</strong> fol<strong>de</strong>r e<br />

<strong>de</strong> palestra com o Professor Dr. José Marcelino <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Pinto, no dia 20 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 2002, intitula<strong>da</strong> “Você aceita um conselho?” (CONTI; LUIZ, 2007a, 2007b; LUIZ;<br />

CONTI, 2007; SILVA, 2005).<br />

Dessa forma, tal esforço culminou no Decreto nº 11, <strong>de</strong> 05/02/03, que altera “a<br />

forma <strong>de</strong> representação nos conselhos, como também sua atuação, com o propósito <strong>de</strong><br />

aprimorar o processo <strong>de</strong>mocrático e participativo <strong>na</strong>s escolas municipais” (LUIZ;<br />

CONTI, 2007, p. 5). Silva (2005) coloca que este <strong>de</strong>creto


52<br />

... alterou o parágrafo único do Capítulo II do Conselho mencio<strong>na</strong>do<br />

inicialmente pela Portaria X <strong>de</strong> 20-02-2001, prevendo que a atuação e<br />

representação <strong>de</strong> qualquer dos integrantes do Conselho <strong>de</strong> Escola visará ao<br />

interesse dos educandos, inspira<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s e objetivos <strong>da</strong> educação<br />

pública <strong>de</strong> forma a garantir o processo <strong>de</strong>mocrático e participativo no interior<br />

<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares <strong>de</strong> São Carlos (p. 54-55).<br />

Luiz e Conti (2007) ressaltam que a composição <strong>de</strong>ste colegiado varia <strong>de</strong><br />

escola para escola, <strong>de</strong> acordo com o nível <strong>de</strong> ensino oferecido – <strong>na</strong> creche/educação<br />

infantil ele é formado por, no mínimo, quatro conselheiros; já nos outros níveis o<br />

máximo é vinte membros. Outro aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é que os diretores, indicados pelo<br />

prefeito, são membros <strong>na</strong>tos, mas não po<strong>de</strong>m ser presi<strong>de</strong>ntes (ao contrário dos <strong>CE</strong> <strong>da</strong>s<br />

escolas estaduais), to<strong>da</strong>via, lhes é conferido autori<strong>da</strong><strong>de</strong> e centralização <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

(CONTI; LUIZ, 2007b).<br />

Em 18/10/2006, criou-se a Lei nº 13.889 que serve como um Estatuto <strong>da</strong><br />

Educação, o qual trata <strong>da</strong> Gestão Democrática em São Carlos (Art. 9º), e no seu art. 10<br />

<strong>de</strong>fine que<br />

Art. 10. O Conselho <strong>de</strong> Escola, órgão consultivo e <strong>de</strong>liberativo, será<br />

instalado em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares manti<strong>da</strong>s pelo Município,<br />

conforme regulamentação específica.<br />

Parágrafo único. Os Conselhos <strong>de</strong> Escola <strong>de</strong>verão contar com a<br />

representação <strong>de</strong> pais ou responsáveis pelos alunos, <strong>de</strong> docentes e <strong>de</strong> outros<br />

profissio<strong>na</strong>is que atuam <strong>na</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar (SÃO CARLOS, 2006, p. 3).<br />

Cabe pon<strong>de</strong>rar que o Decreto 203 <strong>de</strong> 13/06/2007 substitui o anteriormente<br />

citado (ibi<strong>de</strong>m, 2007b), além <strong>de</strong> regulamentar o artigo 10 <strong>da</strong> Lei Municipal nº 13.889.<br />

Tal <strong>de</strong>creto trata do <strong>CE</strong> <strong>de</strong> um modo geral, colocando suas atribuições, sua composição,<br />

eleição e funcio<strong>na</strong>mento (SÃO CARLOS, 2007). A<strong>de</strong>mais, aponta, em seu Art. 2º que<br />

Art. 2º O Conselho <strong>de</strong> Escola será um centro permanente <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate e <strong>de</strong><br />

articulação entre os vários setores <strong>da</strong> escola, tendo em vista o atendimento<br />

<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s comuns e a solução dos conflitos que possam interferir no<br />

funcio<strong>na</strong>mento do estabelecimento <strong>de</strong> ensino e nos problemas<br />

administrativos, fi<strong>na</strong>nceiros e pe<strong>da</strong>gógicos (ibi<strong>de</strong>m, p. 1).<br />

O importante é “compreen<strong>de</strong>r que esse processo [<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização do espaço<br />

escolar] não se efetiva [somente] por <strong>de</strong>cretos, portarias ou resoluções, mas é<br />

resultante, sobretudo, <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> participação” (LUIZ; CONTI, 2007,<br />

p, 4 – grifos meus) e, consequentemente, dos espaços que criamos para que esta ocorra<br />

<strong>de</strong> fato nesse ambiente.


3.3. Como funcio<strong>na</strong> o <strong>CE</strong> no município em questão<br />

Conforme pu<strong>de</strong>mos notar no panorama <strong>da</strong> legislação municipal, São Carlos<br />

vem buscando, ca<strong>da</strong> vez mais, instaurar a participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em seus<br />

Conselhos <strong>de</strong> Escola, visando a melhoria <strong>da</strong> educação pública, tanto que proporcionou<br />

uma reformulação neste colegiado, fazendo com que ele assumisse <strong>de</strong> fato seu caráter<br />

<strong>de</strong>liberativo, ao invés <strong>de</strong>, somente, ter funções consultivas, o que significou um avanço<br />

(SILVA, 2005).<br />

Nesse sentido, enten<strong>de</strong>ndo que<br />

53<br />

o Conselho é um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> dos que estão <strong>na</strong> escola, que chamam<br />

assembléias dos segmentos; animam candi<strong>da</strong>turas; fazem funcio<strong>na</strong>r<br />

regularmente o Conselho, levando até ele não ape<strong>na</strong>s as questões fi<strong>na</strong>nceiras;<br />

divulgam para todos os segmentos <strong>da</strong> escola as <strong>de</strong>cisões toma<strong>da</strong>s porque<br />

chegou o recurso do trimestre; que o reconhecem como legítimo espaço <strong>de</strong><br />

discussão e <strong>de</strong> toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, envolvendo questões administrativas,<br />

pe<strong>da</strong>gógicas e fi<strong>na</strong>nceiras (WERLE, 2003, p. 60 apud SILVA, 2005, p. 61).<br />

é que a Secretaria <strong>da</strong> Educação tem feito parcerias com a <strong>UFSCar</strong>, objetivando a<br />

capacitação dos membros do <strong>CE</strong>. Para tanto, segundo Luiz e Conti (2007), foram<br />

oferecidos cursos <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong>, o primeiro em 2006, intitulado “A gestão <strong>da</strong><br />

escola pública e o conselho escolar”, voltado, principalmente, a “capacitar diretores,<br />

professores, funcionários, pais e alunos para as funções <strong>de</strong> conselheiros, com o intuito<br />

<strong>de</strong> revigorar e fortalecer os conselhos escolares <strong>da</strong>s escolas municipais” (p. 5-6), o qual<br />

baseou-se <strong>na</strong> discussão <strong>de</strong> algumas temáticas, além <strong>de</strong> “privilegiar a ‘fala’ dos<br />

conselheiros” (p. 6).<br />

Já no ano <strong>de</strong> 2007, elaborou-se “uma nova proposta <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong><br />

com os conselheiros recém eleitos” (ibi<strong>de</strong>m) e ao contrário do curso anterior,<br />

direcionou-se, somente, aos presi<strong>de</strong>ntes e vice-presi<strong>de</strong>ntes dos <strong>CE</strong>, mas contou com a<br />

participação <strong>de</strong> alguns diretores e supervisores <strong>de</strong> ensino, fazendo reflexões a partir <strong>de</strong><br />

temáticas que surgiram <strong>na</strong>s falas dos cursistas em 2006.<br />

Contudo, como em muitos municípios, os Conselhos <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong> São Carlos<br />

ain<strong>da</strong> encontram certa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para se manter atuante. Isso se dá pelo fato <strong>de</strong> que<br />

ain<strong>da</strong> vivemos em uma cultura <strong>da</strong> “não participação”, sendo que isto acontece pelos<br />

mais diferentes motivos: por não querer, não ver sentido, não se sentir parte (tanto <strong>da</strong><br />

escola como do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão) ou não se sentir capacitado e, também, por não ter<br />

espaço – já que há casos em que ocorre uma “falsa” <strong>de</strong>mocracia, <strong>na</strong> qual o diretor <strong>de</strong>tém<br />

o po<strong>de</strong>r e a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão.


Vale salientar que as relações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (pais/responsáveis e alunos) com<br />

a escola foi mu<strong>da</strong>ndo com o tempo, per<strong>de</strong>ndo-se a confiabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> fala <strong>da</strong><br />

escola, o que gera um afastamento entre elas. Para tanto, <strong>de</strong>ve-se, inicialmente, resgatar<br />

o sentimento <strong>de</strong> pertencimento <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> quanto à escola, restabelecendo tal<br />

relação, já que “Isso resultaria no compromisso, por parte <strong>de</strong> todos, com o projeto<br />

educacio<strong>na</strong>l coletivo <strong>da</strong> escola, pois as pessoas se comprometem com aquilo que tem a<br />

ver com elas e com o que acreditam” (LUIZ; CONTI, 2007, p. 2).<br />

A SME vem trabalhando nesse sentido, <strong>de</strong> fortalecer seus <strong>CE</strong> para que as<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s vejam, enfim, a importância <strong>de</strong> sua participação. Tanto que, mais uma<br />

vez, possibilitou, por meio <strong>da</strong> parceria <strong>UFSCar</strong>/MEC (Ministério <strong>da</strong> Educação), que<br />

técnicos <strong>da</strong> Secretaria realizassem um Curso <strong>de</strong> “Formação continua<strong>da</strong> a distância em<br />

Conselhos Escolares” 31 , cujo ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para as reflexões são os ca<strong>de</strong>rnos do<br />

Programa Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Fortalecimento dos Conselhos Escolares (PNF<strong>CE</strong>) 32 , que articula<br />

este colegiado às mais varia<strong>da</strong>s temáticas (SEB, 2004a,b,c,d,e,f; 2006a,b,c,d,e; 2008).<br />

Este curso aconteceu no 2º semestre <strong>de</strong> 2009 e no 1º <strong>de</strong> 2010, tendo como princípio que<br />

os cursistas tornem-se multiplicadores <strong>de</strong>sses aprendizados.<br />

Paralelamente a tal processo, e com o intuito <strong>de</strong> melhor divulgar e estimular a<br />

participação <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s em suas escolas, nos diversos espaços que estas<br />

proporcio<strong>na</strong>m e, principalmente, nos Conselhos, enten<strong>de</strong>ndo que tal ação “é<br />

indispensável para garantir a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> educação” (SÃO CARLOS, 2010a, p. 1),<br />

bem como auxilia <strong>na</strong> construção <strong>de</strong> uma escola mais ci<strong>da</strong>dã, é que a SME <strong>de</strong> São Carlos<br />

distribuiu <strong>na</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolares um fol<strong>de</strong>r explicativo intitulado “Saiba mais sobre o<br />

Conselho <strong>de</strong> Escola” 33 , objetivando explicar e incentivar os pais e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em<br />

geral a se candi<strong>da</strong>tarem a membros do <strong>CE</strong> <strong>na</strong> escola que pertencem.<br />

Enfim, pu<strong>de</strong>mos perceber que o município <strong>de</strong> São Carlos, por meio <strong>de</strong> sua<br />

Secretaria <strong>da</strong> Educação, preocupa-se com, e busca, uma educação <strong>de</strong> boa quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

uma gestão escolar <strong>de</strong>mocrática e participativa, <strong>de</strong> modo que fomenta, <strong>da</strong>s mais diversas<br />

formas, este processo, compreen<strong>de</strong>ndo que “um conselho não existe ape<strong>na</strong>s por<br />

<strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ções legais, mas <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que pessoas se dispõem a contribuir para o<br />

31 Esta formação continua<strong>da</strong> trata-se <strong>de</strong> uma parceria entre o MEC e diversas Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais, <strong>de</strong><br />

modo que gerou um Banco <strong>de</strong> Experiências <strong>de</strong> Conselhos Escolares com relatos – disponível em:<br />

http://banco<strong>de</strong>experienciasce.mec.gov.br/.<br />

32 O PNF<strong>CE</strong> encontra-se <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente apresentado no site do MEC – disponível em:<br />

http://portal.mec.gov.br/in<strong>de</strong>x.php?option=com_content&view=article&id=12384:conselhos-escolaresapresentacao&catid=316:conselhos-escolares&Itemid=655.<br />

33 Ver anexo A <strong>de</strong>ste <strong>TCC</strong>.<br />

54


grupo, a (re) construir a proposta <strong>da</strong> escola pública” (WERLE, 2003, p. 60 apud SILVA,<br />

2005, p. 61). Assim, pautando-nos nesta colocação é que faremos algumas<br />

consi<strong>de</strong>rações acerca do potencial <strong>de</strong>mocrático do <strong>CE</strong>, por entendê-lo como um<br />

momento <strong>de</strong> ação comunicativa.<br />

55


Algumas consi<strong>de</strong>rações...<br />

A partir <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as discussões e reflexões apresenta<strong>da</strong>s no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste<br />

trabalho, que refere-se aos conhecimentos adquiridos ao longo dos 4 anos <strong>da</strong> graduação,<br />

é que apresentamos algumas consi<strong>de</strong>rações acerca do potencial <strong>de</strong>mocrático dos<br />

Conselhos <strong>de</strong> Escola <strong>na</strong> <strong>perspectiva</strong> <strong>da</strong> <strong>Ação</strong> <strong>Comunicativa</strong> <strong>de</strong> Jürgen Habermas, com o<br />

intuito <strong>de</strong> auxiliá-los para melhorias. Para tanto, retomamos o que foi tratado ao longo<br />

<strong>de</strong>ste <strong>TCC</strong>.<br />

No primeiro capítulo abor<strong>da</strong>mos a TAC, <strong>de</strong>stacando, principalmente, quatro<br />

conceitos centrais em seu pensamento: racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, agir comunicativo, interação<br />

social (através <strong>da</strong> linguagem, entendi<strong>da</strong> pelo autor como um meio para efetivar a<br />

comunicação, pois forma pensamentos) e o entendimento (que possibilita a<br />

emancipação), os quais nos aju<strong>da</strong>m a refletir sobre a educação, mais especificamente <strong>na</strong><br />

busca por uma gestão, <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>mocrática, por meio <strong>de</strong> colegiados, como o <strong>CE</strong>.<br />

Quanto ao segundo, retratamos as políticas públicas e a relação com a<br />

instituição escolar, salientando as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s que ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> possui (cultura<br />

organizacio<strong>na</strong>l) e a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> em seus diversos espaços, que dão base<br />

para a garantia <strong>de</strong> uma gestão <strong>de</strong>mocrática.<br />

Conceitualizamos, no terceiro, o órgão consi<strong>de</strong>rado como locus <strong>de</strong> uma gestão<br />

<strong>de</strong>mocrática, o <strong>CE</strong>, <strong>de</strong> modo que apresentamos o panorama para a concretização <strong>de</strong>ste<br />

nos âmbitos fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal – tomando por base a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do município<br />

<strong>de</strong> São Carlos/SP no <strong>de</strong>correr do processo <strong>de</strong> reformulação <strong>de</strong>ste espaço participativo<br />

<strong>de</strong>mocrático.<br />

que<br />

A fim <strong>de</strong> atingir nosso objetivo, ressaltamos, com base em Tuppy (1997, p. 28),<br />

56<br />

A principal contribuição <strong>da</strong> Teoria Crítica à Administração Escolar,<br />

especificamente, é a orientação que dá sentido <strong>de</strong> preparar os indivíduos para<br />

a crítica e para a participação numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, <strong>na</strong> qual as ações<br />

individuais <strong>de</strong>vem ser soma<strong>da</strong>s como meio <strong>de</strong> alcançar transformações<br />

sociais pretendi<strong>da</strong>s. A partir do consenso, talvez seja possível resgatar o<br />

sentido humanitário <strong>da</strong>s relações, perdido <strong>na</strong> diminuição <strong>da</strong>s ações<br />

comunicativas.<br />

A gestão escolar, no nosso enten<strong>de</strong>r e concor<strong>da</strong>ndo com Boufleuer (1998) e<br />

Tuppy (1997), <strong>de</strong>ve coor<strong>de</strong><strong>na</strong>r as <strong>de</strong>cisões (as quais têm que basear-se <strong>na</strong> vonta<strong>de</strong><br />

coletiva) e não tomá-las solitariamente, apesar <strong>de</strong> assumir uma “tarefa eminentemente


política” (p. 91), logo, <strong>de</strong>ve pautar-se, necessariamente, <strong>na</strong> <strong>de</strong>mocracia, que Habermas<br />

(apud PINTO, 1994) sugere como processual.<br />

Para se conseguir uma gestão <strong>de</strong>mocrática é preciso haver uma participação<br />

efetiva dos envolvidos com a instituição, <strong>de</strong>scentralizando o po<strong>de</strong>r e as toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisões, <strong>de</strong>senvolvendo um processo <strong>de</strong> ação comunicativa baseado em diálogos<br />

igualitários e argumentações (levando em conta as pretensões e não a posição social dos<br />

sujeitos), visando, sempre, o que é melhor para o coletivo em questão (frente à reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

em que se encontram) através do entendimento/consenso.<br />

Boufleuer (1998) enten<strong>de</strong> que<br />

57<br />

À luz <strong>da</strong> teoria habermasia<strong>na</strong> é possível a<strong>na</strong>lisar a escola, no que diz respeito<br />

à sua dimensão institucio<strong>na</strong>l e administrativa, sob o ponto <strong>de</strong> vista dos<br />

componentes do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do sistema que a atravessam e condicio<strong>na</strong>m<br />

o seu funcio<strong>na</strong>mento (p. 87).<br />

Dessa maneira, po<strong>de</strong>mos perceber que <strong>na</strong> esfera educacio<strong>na</strong>l/escolar, <strong>de</strong> um<br />

modo geral, e consequentemente <strong>na</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong>sta, coexistem as duas<br />

integrações apresenta<strong>da</strong>s por Habermas: a social (que diz respeito ao mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> – a<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> UE) e a sistêmica (normas, políticas educacio<strong>na</strong>is).<br />

Habermas (apud PINTO, 1994) enten<strong>de</strong> que a escola, <strong>de</strong>vido às suas<br />

características, “<strong>de</strong>man<strong>da</strong> mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que levem em conta a participação <strong>de</strong><br />

todos aqueles envolvidos no processo educativo” (p. ix), isso porque tal instituição sofre<br />

uma colonização do seu mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pelo sistema, e em contraposição a ela Pinto<br />

(ibi<strong>de</strong>m) aponta os mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, como o <strong>CE</strong>, que “po<strong>de</strong>m então ser<br />

entendidos [...] como uma tentativa do mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> resgatar seus domínios que<br />

foram tomados pela burocratização <strong>da</strong> escola” (p. 4). Assim, é válido “... fortalecer o<br />

papel do Conselho <strong>de</strong> Escola enquanto agente <strong>de</strong> fomento à autonomia <strong>da</strong> escola”<br />

(ibi<strong>de</strong>m, p. 9), complementando, Luiz e Conti (2007, p. 4) pontuam que<br />

O incremento dos mecanismos <strong>de</strong> participação <strong>na</strong> escola, em especial do<br />

conselho <strong>de</strong> escola, po<strong>de</strong>-se apresentar como uma alter<strong>na</strong>tiva criativa para<br />

envolver os diferentes segmentos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s local e escolar <strong>na</strong>s<br />

questões e problemas vivenciados pela escola. Esse processo, certamente,<br />

possibilitaria um aprendizado coletivo, cujo resultado po<strong>de</strong>ria ser o<br />

fortalecimento <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática...<br />

Silva (2005) compreen<strong>de</strong> que<br />

O Conselho <strong>de</strong> Escola como um dos mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia participativa<br />

propicia ao indivíduo que <strong>de</strong>le faz parte passar <strong>de</strong> mero espectador <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

escolar para influir <strong>de</strong>cisivamente nos <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, não<br />

esgotando sua participação no mero voto, mas como elo <strong>de</strong> uma corrente <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong>s que pren<strong>da</strong> a gestão <strong>da</strong> escola à execução <strong>da</strong>s diretrizes


<strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelas próprias vonta<strong>de</strong>s <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar junto aos outros<br />

po<strong>de</strong>res <strong>de</strong>senvolvido <strong>na</strong> escola (p. 16).<br />

Nesse sentido, a autora pon<strong>de</strong>ra que<br />

58<br />

A toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pela via do consenso ocorre tendo como pano <strong>de</strong> fundo<br />

o amplo <strong>de</strong>bate <strong>da</strong>s idéias expostas pelos conselheiros e a discussão dos<br />

assuntos colocados ao Conselho para serem solucio<strong>na</strong>dos, privilegiando-se o<br />

ouvir o que o outro tem a dizer. Isto porque, no diálogo, rompe-se com<br />

esquemas verticais <strong>de</strong> relações, com relações <strong>de</strong> cima para baixo, com<br />

relações autoritárias. Assim, ambos os sujeitos do processo crescem juntos e<br />

os argumentos <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> já não valem mais (SILVA, 2005, p. 99).<br />

Diante disso, percebemos que há, através do diálogo igualitário/<strong>da</strong> ação<br />

comunicativa, possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos indivíduos participarem efetivamente nos contextos<br />

escolares, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> posição social que ocupam, já que o que interessa é a<br />

força do argumento. E este processo privilegia a autonomia e emancipação <strong>de</strong>sses<br />

sujeitos, permitindo-lhes, além <strong>de</strong> terem um ganho riquíssimo <strong>na</strong> aprendizagem,<br />

modificarem sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (PASETTO; LUIZ, 2010).<br />

Contudo, sabemos que, em muitos casos, a gestão <strong>de</strong> uma escola apo<strong>de</strong>ra-se do<br />

direito e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar as <strong>de</strong>cisões que abrangem a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar<br />

como um todo, <strong>de</strong> modo que o fazem <strong>de</strong> acordo com o que acham ser melhor, além <strong>de</strong><br />

não “abrir as portas” para que os interessados possam participar e <strong>de</strong>cidir, enquanto<br />

coletivo, o que consi<strong>de</strong>ram mais importante e necessário frente ao seu contexto<br />

(ibi<strong>de</strong>m).<br />

Pinto (1996 apud BOUFLEUER, 1998, p. 87-88)<br />

conclui que esse Conselho contribui significativamente para a ampliação <strong>da</strong><br />

dinâmica comunicativa no âmbito <strong>da</strong> escola, mesmo que por vezes sofra<br />

interferências sistêmicas dos processos <strong>de</strong> mercantilização e <strong>de</strong><br />

burocratização <strong>da</strong> administração escolar.<br />

To<strong>da</strong>via, vale refletir que, no caso do <strong>CE</strong>, há momentos em que o mundo<br />

sistêmico prevalece, <strong>de</strong> forma que, segundo Gomes (2007), <strong>na</strong> ação comunicativa<br />

chega-se ao êxito, e não ao consenso, isso porque, ao contrário do que Habermas<br />

propõe, muitas vezes encontramos situações em que atinge-se o entendimento por meio<br />

<strong>de</strong> votação, falseando tal processo, o que o caracteriza como uma ação dramatúrgica e<br />

não comunicativa (PINENT, 2004), sendo que, teoricamente, se chegassem a um<br />

consenso, não seria necessário votar – o voto serve para “vali<strong>da</strong>r” uma discussão<br />

(PINTO, 1994).<br />

Enfim, “O confiar no outro, ouvir o que tem a dizer implica envolver a<br />

comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar no processo <strong>de</strong>cisório também” (SILVA, 2005, p. 99), por meio <strong>de</strong><br />

uma ação comunicativa.


Portanto, notamos que o Conselho <strong>de</strong> Escola, enquanto um espaço <strong>de</strong><br />

participação e <strong>de</strong> concretização <strong>da</strong> gestão <strong>de</strong>mocrática, é propício para a realização <strong>de</strong><br />

uma ação comunicativa, uma vez que busca a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do coletivo,<br />

utilizando-se do diálogo, <strong>da</strong> argumentação, pautados <strong>na</strong>s pretensões <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> para<br />

chegar a um consenso/entendimento do que é prioritário.<br />

Desse modo, acreditamos que a partir do momento que as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s escolar<br />

e local se sentem parte/se envolvem com as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> sua UE, comprometem-se com<br />

a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacio<strong>na</strong>l, bem como <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, possibilitando, a<br />

todos, uma formação crítica, emancipatória e autônoma, ao valorizar seus mundos <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>.<br />

59


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65


ANEXO A –<br />

Fol<strong>de</strong>r:<br />

“Saiba mais sobre o Conselho <strong>de</strong> Escola”<br />

66

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